O ATO LIVRE E A CRIAÇÃO ARTÍSTICA: RELAÇÕES ENTRE A FILOSOFIA DE BERGSON E A LITERATURA DE PROUST Luiz Ricardo Rech (Outros), Ernesto M. Giusti (Orientador, Dep. de Filosofia/UNICENTRO), e-mail: [email protected] Palavras-chave: tempo, duração, memória Resumo: A relação da filosofia bergsoniana com a arte é de grande proximidade. Sua tendência às questões psicológicas estabelece um diálogo constante com a produção artística, seja pelo uso de metáforas e imagens poéticas, seja pelas referências que se encontram em seus textos. Propõe-se, assim, um paralelo entre o ato livre pautado na duração e a produção artística como expressão da duração daquele que cria, tomando por base a interpretação bergsoniana destas questões. Introdução A relação da obra bergsoniana com a arte é muito próxima, seja pelo uso abundante de metáforas na explicação de conceitos de sua filosofia, seja pelas referências que se faz à arte em suas obras. A ligação entre a filosofia de Bergson e a literatura de Marcel Proust1 (1871-1922) também é forte e não se constitui como fato novo. O esforço criativo proposto por Bergson aproxima-o da arte de maneira intencional o que se percebe claramente em seu discurso a respeito da duração, no Ensaio sobre os dados imediatos da consciência (1888), onde lança mão de muitas metáforas ao explicar seus conceitos. Para Bergson a arte é uma manifestação original de quem a produz e se dá mediante uma profunda consulta dos estados internos. Bergson, defende o conceito de duração justamente como algo de que se compõe a plenitude da consciência: memórias, impressões e sentimentos articulados em algo que pode ser denominado como eu profundo ou fundamental. Na raíz das duas questões, a liberdade e o ato criativo para Bergson, encontra-se o conceito de duração. Materiais e Métodos Levantamento bibliográfico, leitura, análise sistemática das obras e reflexão sobre o pensamento bergsoniano a respeito do conceito de duração, criação artística e ato livre, a partir da obra Ensaio sobre os dados imediatos da consciência, de Bergson. Feito isso, procurou-se identificar em Proust2, traços característicos do pensamento 1 Não se pretende aqui realizar qualquer tipo de crítica literária, limitando-se esta análise a relacionar a obra proustiana como exemplo claro e evidente da duração bergsoniana. Os limites da literatura de Proust estendem-se para muito além desta breve abordagem. No entanto, essa é uma possível aproximação de sua literatura e serve perfeitamente ao propósito do presente artigo. 2 A obra utilizada para esta análise é o primeiro volume da série Em busca do tempo perdido, No caminho de Swann bergsoniano, especificamente os conceitos de duração, memória voluntária e involuntária. A partir disso propõe-se a aproximação entre o ato de criação artística com o ato livre mediante sua base comum, ou seja, a duração pura, segundo Bergson. Resultados e Discussão Percebe-se claramente na obra proustiana uma relação intensa com a filosofia de Bergson. Esta percepção é importante em dois sentidos: em primeiro lugar, a literatura de Proust apresenta aspectos que podem ser encarados como um claro exemplo do conceito de duração; além disso, observa-se a forte influência que o pensamento bergsoniano exerce em sua época. Conclusões Foi possível demonstrar a forte relação entre as obras de Proust e Bergson no tocante às questões da memória e da duração, com vistas a uma melhor compreensão do conceito de duração assim como da influência de Bergson sobre o pensamento de sua época. Referências BACHELARD, G. A poética do espaço. In: Pensadores, v. 38. Tradução: Antônio da Costa Leal e Lídia do Valle S. Leal. São Paulo: Abril Cultural, 1974. BERGSON, H. Cartas, conferências e outros escritos. Tradução: Franklin Leopoldo e Silva. 2.ed. São Paulo: Abril Cultural, 1984. . Ensaio sobre os dados imediatos da consciência. Tradução: João da Silva Gama. Lisboa: Edições 70, 1988. . Memória e vida: Textos escolhidos. Tradução: Claudia Berliner. São Paulo: Martins Fontes, 2006. LINS, A. A técnica do romance em Marcel Proust. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968. PROUST, M. No caminho de Swann. Tradução: Fernando Py. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006.