UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE TRANSPORTES AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO OPERACIONAL DE TERMINAIS PORTUÁRIOS DE CARGA UNITIZADA: UMA APLICAÇÃO DAS REDES DE PETRI COLORIDAS BRUNO DE ATHAYDE PRATA ORIENTADOR: Prof. Dr. João Bosco Furtado Arruda CO-ORIENTADOR: Prof. Dr. Giovanni Cordeiro Barroso FORTALEZA - CE JANEIRO / 2006 UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE TRANSPORTES BRUNO DE ATHAYDE PRATA Monografia apresentada à disciplina Projeto de Graduação da Coordenação do Curso de Engenharia Civil da Universidade Federal do Ceará como requisito parcial para obtenção do grau de Engenheiro Civil. FORTALEZA - CE JANEIRO / 2006 AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO OPERACIONAL DE TERMINAIS PORTUÁRIOS DE CARGA UNITIZADA: UMA APLICAÇÃO DAS REDES DE PETRI COLORIDAS Bruno de Athayde Prata MONOGRAFIA SUMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ COMO REQUISITO PARCIAL PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL. Aprovada por: ________________________________________ Prof. João Bosco Furtado Arruda, PhD. ________________________________________ Prof. Giovanni Cordeiro Barroso, Pós - D. Sc. ________________________________________ Profa. Suelly Helena de Araújo Barroso, D. Eng. FORTALEZA, CE - BRASIL JANEIRO / 2006 i AGRADECIMENTOS Agradeço a Universidade Federal do Ceará, instituição que possibilitou minha formação como engenheiro e que, acima de tudo, me ensinou a enxergar um pouco mais a realidade. Sinto-me realizado por ter tido a oportunidade de estudar na Universidade supracitada e sempre levarei um pouco dela comigo pelo resto de minha vida. Agradeço a todos os servidores da UFC que nas coordenações, nos departamentos, nos laboratórios, nas pró-reitorias, nas bibliotecas, nos consultórios e nos restaurantes universitários, deram fundamental suporte às minhas atividades estudantis. Sem o apoio destas pessoas, minha vida acadêmica teria sido completamente inviável. Agradeço ao Núcleo de Pesquisa em Logística, Transporte e Desenvolvimento pelo acolhimento que me propiciou ingresso tão profundo nos ramos da Engenharia de Transportes, Pesquisa Operacional e Logística. Agradeço ao professor João Bosco Furtado Arruda por todos os ensinamentos concedidos e, sobretudo, pela visão humanista e sistêmica que ele sempre me passou nos momentos de orientação e nas horas de aula. Grande parte do que sei hoje, e do que estou continuamente aprendendo, se deve ao aprendizado concedido pelo professor Bosco, pessoa de minha mais intensa admiração, gratidão e estima. Sou grato ao professor Bosco também pela concessão do microcomputador e do espaço físico que possibilitaram a elaboração deste trabalho. Agradeço ao professor Giovanni Cordeiro Barroso pela consideração, pelo respeito, pela valiosa amizade e pela vasta gama de lições que com ele aprendi. Sua simplicidade e sua competência foram, e continuam a ser, inestimáveis modelos para minha formação como indivíduo. Agradeço também ao professor Giovanni pelo apoio, em termos de software, de hardware e de acervo bibliográfico, que viabilizaram o pleno desenvolvimento desta monografia. ii Agradeço ao professor Ernesto Ferreira Nobre Júnior, pessoa que, ao longo da minha carreira acadêmica, mais confiou em meu potencial e mais me estimulou a prosseguir com seu entusiasmo. Seu otimismo, sua atenção e sua amizade foram ingredientes imprescindíveis para minha formação técnica e acadêmica, portanto sintome orgulhoso de ter compartilhado de sua companhia. O aprendizado propiciado por ele nas diversas disciplinas ministradas, assim como nos momentos de orientação, consolidou minha formação como engenheiro de maneira singular. Agradeço ao professor Mário Ângelo pela atenção, pela imensa consideração que ele sempre teve para com a minha pessoa, pelo grande aprendizado que ele me propiciou nas disciplinas de Engenharia de Tráfego e de Transporte Urbano e, sobretudo, pela sua amizade. Agradeço ao professor Macário pelas inesquecíveis e, sobretudo, espetaculares aulas de Teoria das Estruturas e de Otimização, bem como pela consideração e pela amizade. O Professor Macário é um exemplo de docente e me orgulho de ter sido seu aluno. Agradeço ao professor Felipe Loureiro, pessoa pela qual nutro grande admiração e estima, primeiramente por ter proferido uma palestra no início de meu curso que me cativou a me especializar na área de Engenharia de Transportes e, principalmente, pela atenção, pela consideração e pelos fundamentais ensinamentos que ele me transmitiu na fabulosa disciplina de Planejamento dos Transportes. Agradeço à professora Suelly Barroso pela proeminente contribuição metodológica na concepção deste trabalho, pelos inúmeros conhecimentos concedidos em sala de aula e pela grande consideração que ela sempre teve para com a minha pessoa. Agradeço aos professores Ciro, Walmick e Mateus pelas formidáveis e memoráveis aulas de Cálculo, Física e Cálculo Numérico, pois estas aulas consolidaram de maneira singular o embasamento de minha formação como engenheiro. iii Agradeço a Fábio Abreu e a Márcio Carvalho, engenheiros da CEARÁPORTOS, pelo auxílio estratégico na coleta de dados no terminal portuário do Pecém. Sou muito grato aos amigos Diego e Nauri pelo fundamental apoio na coleta de dados. Ao meu grande amigo Ciro, pelo apoio inestimável logístico, um agradecimento especial. Agradeço aos colegas de NUPELTD Expedito, Venescau, Carlos André, Emílio, Inês, Eduardo Praça, Moésio, Alysson, Filipe, Thaís, Diego e Nauri pelo aprendizado e, principalmente, pelo convívio. Agradeço a todos os colegas de faculdade, especialmente aos meus grandes amigos (em ordem alfabética): Alexandre, Carlildson, Carlos Eduardo, Ciro, Crislayberg, David Hermann, Ednardo, Eloneide, Érico George, Gildemir, Héber, João César, Leonardo, Lindemberg, Luiz Alberto, Magno, Osvaldo, Paulo Igor e Teresa pelo convívio que tornou os cinco anos de graduação memoráveis. Agradeço e homenageio o amigo de faculdade Eglacízio que, subitamente, nos deixou. Agradeço aos meus grandes amigos Caio e Regis pelo apoio, pelo aprendizado e, principalmente, pela estima. Agradeço ao meu tio Archimedes Fortes Avelino pelo inestimável apoio, pelos conselhos e pelos inúmeros conhecimentos de matemática, física e engenharia concedidos nestes últimos cinco anos. Agradeço aos meus pais Benedito José Nogueira Prata e Helena Badaró de Athayde Prata por moldarem o meu caráter de maneira singular e por me apoiarem com tamanho afinco ao longo dos meus anos de vida. Agradeço a Nadja Paulino Pessoa, por tudo. iv “A mais bela de todas as coisas é quando os fracos e desencorajados levantam suas cabeças e deixam de crer na força de seus opressores”. Brecht v SUMÁRIO Lista de Figuras viii Lista de Tabelas ix Lista de Nomenclaturas e Abreviações x Resumo xi Abstract xii 1. INTRODUÇÃO 1 1.1 Considerações iniciais 1 1.2 Justificativa do tema abordado 1 1.3 Definição do problema 2 1.4 Objetivos 2 1.4.1 Objetivo geral 2 1.4.2 Objetivos específicos 3 1.5 Metodologia 3 1.6 Estrutura do trabalho 5 2. TERMINAIS PORTUÁRIOS DE CARGAS UNITIZADAS 2.1 Introdução 6 7 2.1.1 Definição de um porto 7 2.1.2 Histórico e evolução do conceito de porto 8 2.1.2.1 Portos de 1ª. geração 9 2.1.2.2 Portos de 2ª. geração 9 2.1.2.3 Portos de 3ª. geração 10 2.1.2.4 Portos de 4ª. geração 10 2.2.Portos voltados para o desenvolvimento 10 2.2.1 As dimensões em um porto enquanto equipamento-suporte do desenvolvimento econômico-regional 10 2.2.2 Como (re) definir o papel de um porto no mundo hodierno globalizado 12 2.3.Aspectos relacionados às cargas 14 2.3.1 Características da carga 14 2.3.1.1 Tipo da carga 15 2.3.1.2 Natureza da carga 15 vi 2.3.2 Embalagem e marcação 17 2.3.3 Unitização 18 2.3.3.1 Pallets 18 2.3.3.2 Contêineres 19 2.3.3.3 Outros tipos de unitização 21 2.4.A operação de terminais portuários de cargas unitizadas 21 2.4.1 Lógica da operação 21 2.4.2 Equipamentos 22 2.4.3 Multimodalidade e intermodalidade 24 2.4.4 Mão-de-obra portuária 25 2.5.A avaliação de desempenho de terminais portuários de cargas unitizadas 26 2.5.1 Indicadores de desempenho operacional 26 2.5.2 Modelagem matemática e desempenho operacional 29 3. REDES DE PETRI COLORIDAS 3.1 Conceitos básicos 31 32 3.1.1 Sistemas a eventos discretos 32 3.1.2 Apresentação das redes de Petri 34 3.1.3 Redes de Petri com restrições de tempo 37 3.2 Apresentação informal às redes de Petri coloridas 38 3.3 Apresentação formal às redes de Petri coloridas 46 3.4 Multi-conjuntos 47 4. MODELO DE AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO OPERACIONAL DE TERMINAIS PORTUÁRIOS DE CARGA UNITIZADA 48 4.1 Concepção do modelo 49 4.2 Descrição do Terminal Portuário do Pecém 49 4.2.1 Considerações gerais 49 4.2.2 Descrição da infra-estrutura 50 4.2.3 Descrição dos equipamentos 53 4.2.4 Lógica operacional 54 4.2.5 Descrição da operação 55 4.3 Sistema modelado 57 4.4 Validação do modelo 60 4.4.1 Discussão conceitual 60 vii 4.4.2 Avaliação do modelo 63 4.4.3 Análise das propriedades comportamentais da rede 64 4.5 Simulação de cenários, análise e discussão dos resultados obtidos 5. CONCLUSÕES 65 68 5.1 Introdução 68 5.2 Relevância, originalidade e resultados do modelo 68 5.2.1 Importância do modelo desenvolvido 68 5.2.2 Originalidade da modelagem apresentada 69 5.2.3 Resultados obtidos pelo modelo 69 5.3 Limitações do modelo proposto 70 5.4 Proposições para estudos futuros 71 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 73 Anexos ANEXO I – CÓDIGO FONTE DO MODELO DESENVOLVIDO 78 viii LISTA DE FIGURAS Figura 2.1 Dimensões envolvidas com um porto voltado para o desenvolvimento sócioeconômico 11 Figura 2.2 Ilustração de tipos de pallets 18 Figura 2.3 Estrutura operacional de um típico terminal de contêineres 22 Figura 2.4 Portêiner em operação 23 Figura 2.5 Trator de terminal (TT) 23 Figura 2.6 Empilhadeira içando contêiner vazio 24 Figura 3.1 Exemplo do disparo de uma transição 35 Figura 3.2 RdP descrevendo a alocação de recursos do sistema (marcação inicial M0) 40 Figura 3.3 RPC descrevendo a alocação de recursos do sistema (marcação inicial M0) 42 Figura 3.4 Visão esquemática do jantar dos filósofos 44 Figura 3.5 Modelo, do jantar dos filósofos, baseado em redes de Petri ordinárias 45 Figura 3.6 Modelo, do jantar dos filósofos, baseado em redes de Petri coloridas 45 Figura 4.1 Operação de contêineres do Terminal Portuário do Pecém modelada por uma Figura 4.2 rede de Petri colorida 57 Relação utilidade versus validade de um modelo 63 ix LISTA DE TABELAS Tabela 2.1 Classificação dos portos em gerações Tabela 2.2 Dimensões de alguns tipos de contêineres 19 Tabela 2.3 Tipos de contêineres e descrições 20 Tabela 3.1 Analogia entre redes de Petri e linguagens de programação 42 Tabela 4.1 Ponte de acesso aos píeres 51 Tabela 4.2 Píer de produtos siderúrgicos e carga geral 51 Tabela 4.3 Píer 2 – píer de granéis líquidos e gases liquefeitos 52 Tabela 4.4 Píer dos rebocadores 52 Tabela 4.5 Equipamentos utilizados no Terminal Portuário do Pecém 53 Tabela 4.6 Legenda dos lugares da rede apresentada na Figura 4.1 58 Tabela 4.7 Legenda das transições da rede apresentada na Figura 4.1 58 Tabela 4.8 Descrição das cores da rede apresentada na Figura 4.1 59 Tabela 4.9 Descrição das variáveis da rede apresentada na Figura 4.1 59 Tabela 4.10 Taxas de utilização dos equipamentos empregados no cenário 1 66 Tabela 4.11 Análise de sensibilidade da variável quantidade de caminhões no desempenho do sistema 8 67 x LISTA DE NOMENCLATURAS E ABREVIAÇÕES ANTAQ Agência Nacional de Transportes Aquaviários CEARÁPORTOS Companhia de Integração Portuária do Ceará CPNTools Editor de redes de Petri coloridas, de domínio público, desenvolvido e distribuído pela Universidade de Aarhus (Dinamarca). FCL Full container load FEU Forty Feet Equivalent Unit FLO/FLO Float-on/Float-off LCL Less than container load LO/LO Lift-on/Lift-off RA/RA Rail-on/Rail-off RA/RO Rail-Road RdP Redes de Petri RO/RO Roll-on/Roll-off RPAN Redes de Petri de Alto Nível RPC Redes de Petri Coloridas RPT Redes de Petri Temporais SED Sistemas a Eventos Discretos TEU Twenty Feet Equivalent Unit UNCTAD United Nations Conference on Trade and Development xi Resumo da monografia submetida ao Curso de Engenharia Civil/UFC como parte dos requisitos para obtenção do título de Engenheiro Civil. AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO OPERACIONAL DE TERMINAIS PORTUÁRIOS DE CARGA UNITIZADA: UMA APLICAÇÃO DAS REDES DE PETRI COLORIDAS Bruno de Athayde Prata Janeiro / 2006 Orientador: Prof. João Bosco Furtado Arruda, Ph.D. Co-Orientador: Prof. Giovanni Cordeiro Barroso, Pós – D.Sc. O presente trabalho decorre de uma pesquisa que buscou a proposição de um modelo matemático de avaliação de desempenho operacional de terminais portuários de carga unitizada, vistos como Sistemas a Eventos Discretos. Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi elaborar um modelo de avaliação de desempenho operacional em terminais portuários, baseado nas redes de Petri coloridas, tendo como principal variável de decisão o tempo total de deslocamento das cargas unitizadas em um porto e suas implicações no tamanho da frota dos equipamentos de transporte utilizados. Este modelo foi aplicado ao caso do Terminal Portuário do Pecém, Ceará. Realizaram-se levantamentos de campo com o intuito de caracterizar a lógica operacional do Porto do Pécem, assim como coletar informações inerentes aos tempos operacionais dos equipamentos do terminal em questão. Utilizou-se o programa CPNtools, editor e simulador de redes de Petri coloridas, para implementação, simulação e análise do modelo proposto. As análises realizadas permitiram observar que o modelo assemelhase à realidade modelada, sendo requeridos alguns aperfeiçoamentos para sua melhor representação. As simulações realizadas permitiram avaliar que o terminal supracitado está operando de forma ineficiente, no que tange à frota de caminhões alocada para a movimentação de contêineres. Como conclusões, pode-se destacar que as redes de Petri coloridas são uma técnica de grande valia para modelagem, simulação e análise de terminais de carga. Palavras chaves: Logística portuária, redes de Petri coloridas, Avaliação de desempenho portuário. xii Abstract monograph submitted to Civil Engineering Course as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Civil Engineer. ASSESSING PERFORMANCE OF CONTAINER TERMINALS: A COLORED PETRI NETS APPROACH Bruno de Athayde Prata 2006 / January Advisor: Prof. João Bosco Furtado Arruda, Ph.D. Co- Advisor: Prof. Giovanni Cordeiro Barroso, Pós – D.Sc. This work is a result of an under-graduate research with the aim to propose a mathematical model to assess performance of container terminals, based on Discrete Events Theory. The objective of this work was create a model, using colored Petri nets, where the principal decision variable was the goods transit time in the port and the implications of that variable in the fleet size of transportation equipments. This model was applied to the case of the Port of Pecém. In the accomplished surveys, the logic of the system operations was described and data were gathered about the transport operational times in the terminal. Software CPNtools, editor and simulator of colored Petri nets, was used for the implementation, simulation and analysis of the proposed model. The analysis made possible to observe that the model works, in an acceptable way, as a reflection of the reality modeled but also that it requires some adjustments for a real-world best representation. Simulations were made to evaluate the operational efficiency of the studied port. As conclusions, one can observe that the colored Petri nets are a feasible and useful technique for the modeling, simulation and analysis of port terminals, mainly those specialized in container operations. Key words: Port logistics, colored Petri nets, Port evaluation techniques. 1 CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO 1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS A princípio, pode-se imaginar que estudar a operação de um porto é uma atividade com foco pontual; no entanto, tal análise é muito mais abrangente do que inicialmente se imagina. Um porto que opera de forma eficiente e eficaz pode induzir o desenvolvimento na região onde está inserido, captando novos clientes e mantendo os já existentes, de modo a facilitar o escoamento da produção local. Segundo Souza (2002), os portos são elementos de entrada e saída de quase todo o comércio exterior, sendo considerados elos logísticos estratégicos para integração de uma nação à economia globalizada. A competitividade da economia depende, em grande medida, da eficiência e do baixo custo das atividades portuárias. O atraso na modernização do sistema portuário, portanto, compromete todo o esforço do país para melhorar a competitividade dos seus produtos e equilibrar a balança comercial. Logo, para atingir altos níveis de eficiência operacional, um planejamento rígido das atividades logísticas deve ser realizado nos terminais portuários de modo a reduzir ao máximo os custos logísticos e os tempos de permanência das embarcações. De acordo com Santos e Martins (1998) apud Souza (2002), em uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional dos Transportes, constatou-se que o Brasil perde cerca de US$ 5 bilhões anuais considerando-se todas as ineficiências de seus portos. Deste modo, a avaliação de desempenho mostra-se fundamental para a caracterização de um terminal portuário, bem como para o diagnóstico de possíveis problemas encontrados na sua operação. 1.2 JUSTIFICATIVA DO TEMA ABORDADO O desempenho de um sistema logístico impacta significativamente os custos logísticos associados a um produto ou serviço, refletindo o nível de serviço ofertado ao 2 cliente. Conforme Ballou (2001), um sistema logístico eficiente permite a uma região geográfica explorar suas vantagens competitivas pelo direcionamento de seus esforços produtivos àqueles produtos com ela mais compatíveis, implicando na maior exportação desses produtos para outras regiões. O atraso na modernização do sistema portuário, portanto, compromete todo o esforço do país para melhorar a competitividade dos seus produtos e equilibrar a balança comercial. Logo, para atingir altos níveis de eficiência operacional, um planejamento rígido das atividades logísticas deve ser realizado nos terminais portuários de modo a reduzir ao máximo os custos logísticos e os tempos de permanência das embarcações. O porto do Pecém é um equipamento logístico de importância estratégica para o Estado do Ceará, pois ele se constitui como uma das principais portas de escoamento, para o mercado externo, dos produtos locais, dentre os quais podem ser destacados os produtos agrícolas (ARRUDA e BASTOS, 2001a). Os portos brasileiros, em contraste com o que ocorre com os portos das nações desenvolvidas, ainda não se capacitaram para atingir elevados níveis de eficiência logística. Deste modo, tornam-se necessários os esforços que contribuam para a maximização da eficiência operacional dos terminais portuários do Brasil. 1.3 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA Dentro de tal conjuntura, temos o seguinte problema de pesquisa: como avaliar o desempenho operacional de um terminal portuário de cargas unitizadas, tendo em vista a quantidade de contêineres a ser movimentada e os equipamentos empregados no terminal, de modo a obter-se uma maior compreensão do sistema avaliado? 1.4 OBJETIVOS 1.4.1 Objetivo geral Elaborar um modelo de avaliação de desempenho operacional em pátios portuários, baseado nas redes de Petri coloridas, tendo como principal variável de decisão o tempo total de deslocamento das cargas unitizadas em um porto e suas 3 implicações no tamanho da frota dos equipamentos de transporte utilizados. Este modelo será aplicado ao caso do Terminal Portuário do Pecém, Ceará. 1.4.2 Objetivos específicos Como objetivos específicos do presente trabalho, podem ser ressaltados: i) Determinar a lógica da operação de cargas unitizadas no Terminal Portuário do Pecém, permitindo a avaliação de desempenho operacional do sistema com base no estado da arte tanto dos instrumentos de aferição daquele desempenho como da utilização das redes Petri coloridas; ii) Simular a aplicação do modelo de movimentação de contêineres, no âmbito do Terminal Portuário do Pecém; iii) Analisar as propriedades estruturais do modelo desenvolvido, permitindo uma maior compreensão da realidade modelada; iv) Mensurar, em termos da redução do tempo de ciclo, os benefícios resultantes da aplicação do modelo em vários cenários de simulação, comparativamente à infraestrutura operacional atualmente vigente no Terminal Portuário do Pecém; v) Determinar as taxas de ocupação dos equipamentos empregados nos cenários operacionais. 1.5 METODOLOGIA A metodologia foi composta de seis etapas, apresentadas a seguir. (i) Revisão bibliográfica A revisão de literatura da presente pesquisa consistiu no levantamento de obras que abordassem as redes de Petri e suas aplicações, traçando paralelos entre estas e o problema da operação de terminais portuários de cargas unitizadas. Também foi levantado o estado da arte sobre o planejamento e a operação de portos. (ii) Caracterização do sistema a modelar Foi levantada, junto à Autoridade Portuária CEARÁPORTOS, a lógica de operação do Terminal Portuário do Pecém, assim como as características operacionais 4 dos equipamentos empregados na movimentação de cargas unitizadas e dados acerca de situações reais de embarque e desembarque de mercadorias. (iii)Concepção do modelo Foram estabelecidos os eventos mais significativos a serem modelados no sistema de movimentação de cargas unitizadas do Terminal Portuário do Pecém, assim como a suas relações de causa e efeito. (iv) Aplicação e análise do modelo A aplicação e a análise do modelo idealizado consistiram nas seguintes atividades: a) Implementação computacional do modelo; b) Análise das propriedades do modelo; c) Simulação de cenários operacionais; d) Validação e calibração do modelo; e) Apresentação e discussão dos resultados. O modelo foi implementado no software CPNTools, editor de redes de Petri coloridas, de domínio público, desenvolvido e distribuído pela Universidade de Aarhus (Dinamarca). Após a fase de implementação, foram analisadas as propriedades do modelo. Foram simulados diversos cenários operacionais visando a avaliação de desempenho do Terminal Portuário do Pecém. A análise do modelo e a simulação de cenários permitiram a validação e a calibração do modelo proposto. Por fim, foram apresentados e discutidos os resultados obtidos. (v) Elaboração de Relatório Esta etapa da metodologia consistiu na redação da monografia propriamente dita. A fase de elaboração escrita foi realizada ao longo de todo trabalho, concomitantemente às demais atividades propostas. 5 (vi) Defesa do trabalho Por fim, a monografia foi apresentada, sendo avaliada por uma banca examinadora. 1.6 ESTRUTURA DO TRABALHO A monografia é composta por cinco capítulos, descritos a seguir. O primeiro capítulo constitui a introdução do trabalho. O segundo capítulo descreve o estado da arte sobre terminais portuários de cargas unitizadas, com foco na avaliação de desempenho operacional. No terceiro capítulo, são apresentadas as redes de Petri coloridas. O quarto capítulo apresenta o modelo de avaliação de desempenho operacional de terminais portuários de carga unitizada baseado em redes de Petri coloridas, assim como delineia e discute os resultados obtidos na análise do modelo e na simulação de cenários. Por fim, no quinto capítulo, são apresentadas as principais conclusões acerca do trabalho, bem como sugestões e recomendações para estudos futuros. 6 CAPÍTULO 2 TERMINAIS PORTUÁRIOS DE CARGAS UNITIZADAS Até as últimas décadas do século XX, os portos eram vistos como meros terminais de carga que interligavam dois ou mais modais de transporte. Contudo, dado o processo de globalização da atividade econômica, ocorrido a partir dos anos 80, os portos deixaram de ser vistos como simples instrumentos de transbordo e passaram a ser tratados como elementos estratégicos para a participação de países no mercado internacional. A excelência da operação portuária tornou-se imprescindível para o êxito das cadeias produtivas, contribuindo, ainda mais, para o desenvolvimento sócioeconômico regional. No estágio atual da economia globalizada, os países, tanto desenvolvidos quanto aqueles ainda em estágio de desenvolvimento, necessitam planejar o escoamento de importação/exportação de produtos agrícolas e industrializados de modo a obter uma balança comercial favorável. Dentro de tal conjuntura, os portos exercem papel fundamental na economia de uma nação, sendo um dos principais canais de acesso de uma região aos mercados nacionais e internacionais. Este capítulo apresenta o estado da arte acerca de terminais portuários, restringindo a análise à movimentação de cargas unitizadas e enfatizando questões inerentes ao planejamento e à operação de tais facilidades. A estrutura do capítulo será dividida em cinco seções, explicitadas a seguir. Na primeira seção é feita uma sucinta introdução ao tema abordado, sintetizando a evolução do conceito de porto. Na segunda seção, evidencia-se a importância dos terminais portuários no contexto econômico regional. A terceira seção apresenta as características de cargas movimentadas por portos e as formas de unitização correntes. Na quarta seção são discutidos os aspectos inerentes à operação do sistema portuário. Por fim, na quinta seção, aborda-se a avaliação de desempenho de terminais portuários. 7 2.1 2.1.1 INTRODUÇÃO Definição de um porto Um sistema de transportes é composto pelos indivíduos e bens transportados, pelos veículos que proporcionam estes deslocamentos e pelas redes onde ocorrem os fluxos de transporte. As redes onde ocorrem os fluxos de transportes são conjuntos de trechos interligados por nós. Os trechos de uma rede são as vias que propiciam o deslocamento de qualquer que seja o modo, ou seja, rodovias, dutovias, ferrovias, hidrovias, aerovias, dentre outras. Por nó, entende-se o encontro de duas ou mais vias em uma rede de transportes; os nós são compreendidos, basicamente, por interseções de vias e terminais de um ou mais modais de transporte. Os portos são terminais onde se encontram diversos segmentos de uma complexa rede de transportes. Na sua concepção mais simples, um porto é um nó compreendido pela interseção de hidrovias, rodovias, ferrovias, aerovias e dutovias que recebe tanto cargas quanto indivíduos. No entanto, neste texto, aborda-se apenas o transporte de cargas. A concepção, a construção e a operação de um porto podem implicar em um elevado custo de oportunidade para qualquer município, estado ou nação, se tais etapas não forem tecnicamente otimizadas. Por ser um investimento de grande porte e incluir a participação e interação de diversos modais de transporte, um terminal portuário deve movimentar uma grande quantidade de cargas para ter viabilidade financeira e econômica. Como conseqüência disto, um porto deve ser um terminal multimodal e intermodal. Um porto normalmente é um elemento de conexão entre o modal hidroviário com os demais modais. A existência do modal aeroviário na retroárea imediata de um porto é menos freqüente, mas há uma tendência atual de se construirem aeroportos especializados em cargas nas retroáreas portuárias, quando as restrições ambientais ou de outra natureza são removíveis. A interação física entre os modos hidroviário e dutoviário já é tão evidenciada quanto a interação entre o modal hidroviário e os modos 8 rodoviário e ferroviário. Neste trabalho, o conceito de intermodalidade em portos enfatizará os modais hidroviário, ferroviário e rodoviário. 2.1.2 Histórico e evolução do conceito de porto No início da década de 90, o UNCTAD (United Nations Conference on Trade and Development) agrupou os portos de acordo com sua estratégia de desenvolvimento, sua política comercial e sua organização gerencial e espacial, sendo então definidas três gerações de portos. Durante os anos seguintes, notou-se uma nova tendência na organização dos grandes portos de todo o mundo e constatou-se o surgimento de uma nova geração de portos, conhecida como portos de 4a. geração. Na Tabela 2.1 é apresentada uma definição geral de cada geração de terminais portuários, assim como algumas das suas características. Geração Tabela 2.1: Classificação dos portos em gerações Definição geral e algumas características Interface entre dois modos de transporte - Não existe desenvolvimento estratégico específico - Atividades tradicionais de manuseio e armazenagem não-organizadas - Atividades localizadas nas docas 1a. - Justaposição das transações dos portos - Supremacia do suprimento - Pouca atenção dada às necessidades dos usuários Centro de transporte, atividades industriais e comércio - Surgimento e expansão do desenvolvimento estratégico - Atividades de transformação (indústrias pesadas), serviços de navios a 2. - Ampliação da zona portuária - Início de uma comunidade portuária - Relacionamento ocasional entre o porto e sua cidade adjacente Centro de transporte integrado com plataforma logística para o comércio internacional - Desenvolvimento estratégico orientado ao mercado - Distribuição de mercadorias, atividades logísticas, centro de distribuição 3a. - Sistema de Informação (EDI) utilizado pelo porto - Racionalização do espaço do porto - Comunidade portuária unificada e ativa, coordenação das atividades - Forte relacionamento entre porto e cidade Portos em rede - Estratégia para tornar-se um membro da rede mundial, diversificação das atividades - Parceria com operadores na organização dos serviços logísticos - Uso das redes EDI integradas entre os portos 4a. - Participação em pesquisa de locais para portos visando possível desenvolvimento e integração - Cooperação entre as comunidades portuárias Fonte: ISEMAR (1997). 9 2.1.2.1 Portos de 1a geração Os portos de 1a geração são caracterizados, principalmente, pela sua função de mera interface entre o modal hidroviário e os modais terrestres. Nesta geração de terminais portuários, as operações eram focadas nas docas, realizadas de forma, muitas vezes, desprovida de qualquer planejamento, efetuada por mão-de-obra bruta. Os portos eram usualmente localizados dentro das grandes urbes, demonstrando total falta de planejamento estratégico por parte da gestão portuária. O crescimento urbano em torno da área portuária foi desenfreado e, muitas vezes, evidenciava-se a deterioração da atividade residencial nessas regiões. Dada suas desorganizações espacial e operacional, as autoridades gestoras dos portos de 1a geração pouco se importavam com a satisfação dos clientes, esperando que estes se adequassem às características do terminal. A carga predominante era a carga geral, evidenciando-se a supremacia do suprimento. 2.1.2.2 Portos de 2a geração A partir de 1945, diversas tendências importantes puderam ser discernidas no que tange à movimentação de carga nos portos mundiais. Conforme Oram e Backer (1971), a primeira e mais importante tendência pós-guerra foi a introdução de equipamentos mecânicos na movimentação de cargas. Este pode ser considerado o marco da 2a geração de portos: os navios não podem esperar, a movimentação de mercadorias deve ser a mais rápida possível. A mecanização foi imprescindível para aumentar a produtividade dos serviços portuários e, conseqüentemente, satisfazer à necessidade de redução de custos. A área do porto se expande e estes passam a se localizar mais afastados das atividades urbanas, fato que enfraqueceu o relacionamento dos portos com as cidades. No entanto, os portos de 2a geração se destacaram por fomentar o surgimento de atividades do setor industrial e de serviços atreladas ao espaço portuário, evidenciando o desenvolvimento estratégico da gestão dos portos. 10 2.1.2.3 Portos de 3a geração A principal característica dos terminais portuários de 3a geração é que estes deixam de ser encarados simplesmente como elementos de uma rede de transportes e passam a ser vistos como locais de excelência logística, consolidando-se como elementos de suma importância para a gestão da cadeia de suprimentos. O porto passa a ter uma visão orientada para o mercado, onde abordagens mercadológicas e de comércio exterior caracterizam o porto como um produto que deve estar apto a gerar benefícios para os seus clientes atuais e potenciais. As atividades portuárias passam a ser cada vez mais racionalizadas: os equipamentos tornam-se gradativamente mais eficientes, o leiaute passa a ser continuamente planejado e a gestão portuária evidencia-se como mais incisiva e permanente. Os portos de 3a geração são monitorados e controlados por robustos sistemas de informação logística que garantem uma operação cada vez mais otimizada. 2.1.2.4 Portos de 4a geração Dada a vital importância dos portos para as economias regionais, notou-se que estes não deviam competir entre si, mas sim formar coalizões de modo a estruturar uma rede mundial. Este é o conceito dos portos de 4a geração: terminais dotados de agilidade gerencial e operacional que, interligados por sistemas de informações, tornam-se plataformas logísticas integradas. O conceito de terminal portuário de 4a geração é recente, sendo uma realidade apenas em terminais extremamente organizados. O tema pode ser aprofundado em Paixão e Marlow (2003) e Marlow e Paixão Casaca (2003). 2.2 2.2.1 PORTOS VOLTADOS PARA O DESENVOLVIMENTO As dimensões em um porto enquanto equipamento-suporte do desenvolvimento econômico regional Segundo Oram e Baker (1971), nada causa um impacto mais direto nas despesas de um país dotado de costa marítima do que a velocidade de atendimento de navios em seus portos. 11 Diante do exposto, pode-se perceber que um porto tem como função receber e distribuir cargas, fazendo o melhor uso possível da intermodalidade para este devido fim. Pode-se dizer que, devido a um porto ser um elemento prestador de serviços, movimentar mercadorias é uma função em nível microeconômico; contudo, em nível macroeconômico, este desempenho é bem mais abrangente. Conforme Arruda e Bastos (2001a), um porto possui uma série de dimensões mais amplas que, se exploradas adequadamente, podem propiciar o desenvolvimento integrado na área de influência do terminal. Na Figura 2.1 são explicitadas as dimensões subjacentes a um terminal portuário de terceira geração. Figura 2.1: Dimensões envolvidas com um porto voltado para o desenvolvimento socioeconômico. Fonte: Arruda e Bastos (2001a). A dimensão social deve maximizar a qualidade de vida dos indivíduos residentes no entorno do porto. A dimensão tecnológica diz respeito à interação do terminal portuário com suas infra-estruturas e equipamentos. A dimensão econômica deve garantir o desenvolvimento regional, induzindo investimentos e o pleno emprego das potencialidades do porto. A dimensão financeira deve primar pela definição de políticas que gerem economias de escala na operação do terminal. A dimensão geopolítica diz respeito à concorrência regional ou continental entre portos. A dimensão comercial deve promover o terminal portuário como um produto, através de maciço emprego de marketing. Por fim, a dimensão organizacional deve primar pela harmonia entre as dimensões supracitadas, objetivando a eficiência do porto em nível operacional e macroeconômico. 12 2.2.2 Como (re)definir o papel de um porto no mundo hodierno globalizado? A partir da década de 80, com a ascensão do neoliberalismo, cresce a interdependência econômica entre as nações, e este processo de inter-relação culmina com a globalização da economia mundial. Em uma economia globalizada, eleva-se a interação comercial entre os países e os produtos passam a vencer grandes distâncias com maior facilidade. Tanto um bem de consumo valioso, como um automóvel, quanto um produto de baixo valor, como uma caneta, cruzam continentes para se inserirem em mercados externos. No ambiente de uma economia globalizada, a competitividade é elevada, pois os custos têm de ser reduzidos ao extremo para que a comercialização de um produto logre êxito em mercados internos e externos. Esta competitividade tem suas vantagens e desvantagens. Como primordial vantagem da competitividade, pode-se citar a maior variedade de produtos disponíveis ao consumidor em geral, a um menor custo de aquisição. A grande desvantagem da competitividade é o desemprego gerado pela busca contínua de redução de custos, oriundo do intenso processo de modernização do maquinário industrial e da terceirização de serviços. Tendo em vista o contexto exposto acima e dada a função de um porto como interface primordial de uma região, tanto com os mercados ao seu entorno quanto com os mercados mais longínquos, como definir, ou redefinir, o papel de tal infra-estrutura de transportes no atual mundo globalizado? Pode-se dizer, em linhas gerais, que um porto deve buscar maximizar os benefícios sociais oriundos da globalização da atividade econômica e minimizar os impactos negativos (sociais, econômicos e ambientais) desta sobre os diversos atores de nossa sociedade. Um porto deve, então, procurar atingir a excelência operacional de modo a reduzir os custos de transporte e, conseqüentemente, os preços de venda dos produtos movimentados e, ao mesmo tempo, configurar-se como um instrumento de desenvolvimento, beneficiando não somente a produção industrial e a prestação de serviços, como também o setor primário. 13 Nos países em desenvolvimento, os terminais portuários ainda não se estruturaram de modo a atingir tais níveis de eficiência e, sobretudo, de abrangência. Tais portos apresentam, ainda, uma série de problemas que prejudicam sua produtividade e atração de novos clientes: carência de mão-de-obra especializada, controle insuficiente das operações portuárias, plataformas logísticas restritas e ineficiente de integração entre os terminais portuários com os diversos modais de transporte. Conforme Arruda e Bastos (2001b), partindo-se do princípio que os portos podem ser (re)estruturados, tal (re)estruturação deve ser compreendida pelos quesitos citados a seguir: (i) Inter-relação entre transportes e economia. Os portos não devem ser vistos, pelos olhos do poder público, apenas como pólos de movimentação de mercadorias, mas serem estruturados de tal forma que propiciem efetivamente o desenvolvimento econômico na sua área de influência. Partindo das diretrizes de um processo de planejamento regional, onde estejam definidos os objetivos mais gerais da economia da região onde o porto se insere, devem ser definidas as estratégias e linhas de ação para que os terminais portuários contribuam incisivamente para a consecução de tais objetivos. (ii) Integração horizontal e vertical da atividade econômica, a partir de empreendimentos âncoras. Conforme tendência já comentada na evolução histórica do conceito de porto, a partir dos portos de 2a geração, percebeu-se a importância de agregar às atividades básicas do terminal portuário, atividades do setor industrial ou de serviços, tais como a siderurgia e a indústria petroquímica. Deste modo, o porto dotado de um complexo industrial poderá exportar produtos de valor agregado, em quantidade e diversidade, e não meramente matérias primas. (iii) Autoridade pública com pessoal dinâmico e qualificado, e com ênfase na captação e manutenção de clientes dos três setores da economia; 14 A geração e a manutenção da eficiência portuária será possível somente se o porto for gerido por um corpo técnico altamente qualificado, que combine as novas tendências gerenciais com a experiência prática. O empirismo deve ser erradicado da gestão portuária, dando lugar a uma gestão calcada em critérios técnicos. Para a captação e a conservação de clientes é necessária a formulação de políticas que promovam o porto como um produto composto por um conjunto de serviços capaz de benefícios para os seus usuários atuais e potenciais. (iv) Organização espacial como indução das (e resposta às) atividades dos três setores da economia; O papel do porto, no território onde se insere, deve ser revisto. As infraestruturas e o uso do solo devem ser planejados de modo a propiciar não somente uma maior acessibilidade dos setores público e privado às atividades portuárias, como também minimizar as influências negativas do complexo portuário ao meio ambiente. (v) Conexões de transportes marítimos e terrestres de alto grau de acessibilidade ao Porto. A consonância entre o porto e as infra-estruturas de transporte no seu entorno, como, por exemplo, conexões marítimas, rodoviárias e ferroviárias, é de fundamental importância para a eficiência portuária, pois propicia uma redução nos tempos de operação e, conseqüentemente, dos custos de transporte. O incremento da acessibilidade do porto pode contribuir para a expansão da sua área de influência, possibilitando, inclusive, a captação de novos clientes. 2.3 ASPECTOS RELACIONADOS ÀS CARGAS Após a caracterização da macro-função dos terminais portuários, é necessário abordar suas características físicas e operacionais. O primeiro passo a ser dado nessa direção é apresentar os tipos de carga e as formas de unitização e embalagem, pois a operação do terminal será função das características das mercadorias a serem movimentadas. 2.3.1 Características da carga Segundo Handabaka (1994), as características da carga podem ser definidas de acordo com o seu tipo e sua natureza, conforme segue: 15 2.3.1.1 Tipo da carga O tipo da carga diz respeito às características físicas das mercadorias que influem predominantemente na definição da forma de acondicionamento (embalagem e armazenagem) destas e na escolha dos modos e equipamentos empregados no seu transporte e na sua movimentação. No que se refere ao tipo, as cargas podem ser classificadas em: (i) Carga geral. A carga geral, também conhecida como carga solta, consiste em itens avulsos, dotados ou não de embalagem, que são embarcados separadamente. Exemplos de carga geral são embrulhos, pacotes, fardos, sacos, caixas, tambores, peças, bobinas, toras de madeira e pedras de granito. (ii) Carga unitizada. A carga unitizada consiste no agrupamento de itens individuais tais como caixas, pacotes ou outras cargas avulsas em unidades como pallets e contêineres, que permitem o embarque de grandes quantidades de mercadoria simultaneamente. Devido ao enfoque dado, neste capítulo, às operações de cargas unitizadas, o conceito de unitização será discutido com maior profundidade em um outro ponto deste texto. (iii) Carga a granel. A carga a granel consiste no transporte de grandes quantidades de mercadorias mensuradas em unidades de massa ou de volume. As cargas a granel podem ser divididas em dois tipos: granéis sólidos e granéis líquidos. Como exemplos de granéis sólidos podem-se citar os cereais, as sementes e os minérios. Como exemplos de granéis líquidos, podem-se citar os óleos e gases combustíveis e as bebidas. 2.3.1.2 Natureza da carga A natureza da carga se refere às características físicas e químicas das mercadorias que, por suas peculiaridades, influem na definição da forma de acondicionamento (embalagem e armazenagem) destas e na escolha dos modos de 16 transportes e equipamentos empregados na sua movimentação. No que se refere à natureza, as cargas podem ser classificadas em: (i) Perecíveis. As cargas perecíveis consistem nas mercadorias que têm características tais como sabor, odor ou cor alteradas drasticamente quando manuseadas e transportadas sem condições especiais. As cargas perecíveis são, usualmente, produtos alimentícios, como, por exemplo, frutas, legumes, carnes, laticínios e flores. (ii) Frágeis As cargas frágeis consistem nas mercadorias que têm sua integridade física comprometida ao serem manuseadas e transportadas sem a devida proteção a choques mecânicos e a vibrações. Como exemplos de produtos frágeis, pode-se citar produtos eletrônicos, flores e instrumentos de precisão. (iii)Perigosas As cargas perigosas consistem nas mercadorias que, devido a serem explosivas, combustíveis, oxidantes, venenosas, radioativas ou corrosivas, põem em risco, quando são manuseadas e transportadas, a integridade de seres vivos ou de outras cargas, necessitando de cuidas especiais nessas operações. Como exemplos dessas cargas podese citar os fogos de artifício e o óleo diesel. (iv) Volumosas As cargas volumosas consistem nas mercadorias que, devido a apresentarem dimensões especiais ou elevado fator de estiva, necessitam de condições especiais para sua movimentação e transporte. (v) Pesadas As cargas pesadas consistem nas mercadorias que, devido a apresentarem pesos elevados, ou baixo fator de estiva, necessitam de condições especiais para sua movimentação e transporte. 17 2.3.2 Embalagem e marcação Conforme Handabaka (1994), as cargas, estejam elas armazenadas ou em trânsito, podem encontrar-se sujeitas aos seguintes inconvenientes: (i) Efeitos mecânicos do movimento dinâmico (impactos, quedas, choques, oscilações e vibrações); (ii) Tensão estática por meio da pressão (empilhamento); (iii)Fatores climáticos (calor, frio, umidade); (iv) Incêndio e água; (v) Furto; e (vi) Contaminação (roedores, odores, poluição de diferentes tipos). Pode-se perceber que manusear e transportar produtos sem qualquer tipo de proteção específica seria uma prática que prejudicaria a qualidade e a serventia dos bens de consumo, não atendendo às exigências do consumidor final. Como proteger as características da carga e preservar a qualidade das mercadorias nela contidas? A embalagem é a resposta para tal indagação. Por embalagem, entende-se o conjunto de elementos destinados a proteger a carga durante as atividades de manuseio, transporte e armazenagem, de modo a permitir que as mercadorias mantenham suas características iniciais a um nível satisfatório para o usuário. As embalagens, deste modo, caracterizam-se como elementos primordiais nas atividades logísticas. A marcação constitui a identificação de cada unidade de carga, visando fornecer, aos operadores logísticos, informações relacionadas ao conteúdo, ao peso, à origem, ao destino, à forma adequada de armazenagem, à forma adequada de manuseio e aos cuidados especiais requeridos pela carga marcada. Dentre os principais tipos de marca, pode-se ressaltar a marca de embarque padrão, a marca de informação e os símbolos pictóricos. Com a modernização das tecnologias de informação, os códigos de barras tornaram-se marcações de suma relevância para a agilidade das atividades logísticas. 18 2.3.3 Unitização O manuseio de carga geral possui a inconveniência de demandar muito tempo e mão-de-obra para sua realização, além de, em determinadas circunstâncias, não prover a carga de proteção adequada a intempéries, vibrações e choques mecânicos. O advento da unitização, no início do século XX, foi um marco na tecnologia dos transportes, permitindo a movimentação e o transporte de cargas de uma forma mais ágil e segura. Segundo Martins e Silva (2001), a unitização é o acondicionamento da carga geral em algum tipo de estrutura, de forma a permitir a movimentação das unidades de carga acopladas a equipamentos rodoviários, ferroviários ou hidroviários, podendo ser içadas a bordo sem as carretas, sendo empilhadas umas sobre as outras em células no navio, permitindo e facilitando a estivagem. No que se refere ao transporte marítimo, existem diversos tipos de unitização, dentre os quais podem ser destacados os pallets e os contêineres, abaixo descritos. 2.3.3.1 Pallets Conforme Martins e Silva (2001), o pallet é um estrado plano, construído principalmente de madeira, podendo ser também de alumínio, aço, plástico, fibra, polipropileno ou papelão, com características adequadas a facilitar a unitização, armazenagem e o transporte de pequenos volumes. Podem ser descartáveis, utilizados em apenas uma viagem (one way), ou para uso constante. A adoção de cada tipo depende da logística escolhida, que envolve um estudo sobre custos e o seu retorno. A altura dos pallets deve permitir a entrada de garfo de empilhadeira, mas não deve ser excessiva para não roubar espaço nos compartimentos de carga. A seguir, na Figura 2.2, são ilustrados dois tipos de pallets. Figura 2.2: Ilustração de tipos de pallets. Fonte: Martins e Silva (2001) 19 O pallet permite uma grande flexibilidade, no que se refere ao transporte porta a porta, sem a necessidade de desconsolidação da carga. É comum nos grandes supermercados a disposição de mercadorias diretamente sobre pallets. 2.3.3.2 Contêineres A primeira notícia que se tem de utilização de um tipo de contêiner em transporte de carga vem da revista National Geographic, no ano de 1911, através de uma foto de seu içamento para bordo. Os contêineres são modulados, sendo mais usados os cofres de 20’ x 8’ x 8’, que tem suas dimensões utilizadas como o módulo padrão adotado internacionalmente, o chamado Twenty Feet Equivalent Unit (TEU), ou Unidade Equivalente a 20 pés. Os contêineres de dimensões diferentes destas podem ser referidos a este módulo padrão, utilizando-se suas unidades em TEU. Outro módulo padrão bastante utilizado é o Forty Feet Equivalent Unit (FEU), ou Unidade Equivalente a 40 pés, célula com dimensões 40’ x 8’ x 8’. Na Tabela 2.2 são apresentadas dimensões típicas de contêineres, padronizadas pela ISO. Tabela 2.2: Dimensões de alguns tipos de contêineres Série do Comprimento Largura Altura contêiner Pés Metros Pés Metros Pés Metros 1A 40 12,19 8 2,44 8 2,44 1AA 40 12,19 8 2,44 8,5 2,59 1C 20 6,05 8 2,44 8 2,44 1CC 20 6,05 8 2,44 8,5 2,59 Fonte: Goebel, (1996). Os contêineres são identificados através de marcas, números, definição de espaço e peso que podem comportar, proprietário e informações do conteúdo da carga. Estas características de identificação dão aos contêineres vantagens como segurança, controle, inviolabilidade, rapidez e redução de custos no transporte. O advento das tecnologias de informação, como, por exemplo, scanner, código de barras e identificação por rádio freqüência, realçou ainda mais os benefícios do transporte de cargas via contêineres, permitindo um maior controle das operações logísticas de manuseio, transporte e armazenagem das células unitizadas. 20 No que se refere à utilização de sua capacidade, o contêiner pode ser classificado em: (i) Full container load (FCL): contêiner carregado com toda sua capacidade; e (ii) Less than container load (LCL): contêiner carregado com parte da sua capacidade. Muitos são os tipos de contêineres utilizados no transporte de cargas. A seguir, na Tabela 2.3, é apresentada uma síntese dos principais tipos de contêineres empregados na atualidade, bem como suas características. Tipo dry box ventilated reefer bulk conteiner open top half height open side flat rack plataform tank Tabela 2.3: Tipos de contêineres e descrições. Descrição Totalmente fechado, com portas nos fundos, sendo o mais utilizado e adequado para o transporte da maioria das cargas gerais secas existentes. Pode ter 20’ ou 40’. Semelhante ao dry box, porém com pequenas aberturas no alto das paredes laterais, podendo também tê-las na parte inferior das paredes, para permitir a entrada de ar, para transporte de cargas que requerem ventilação, como café e cacau. Também semelhante ao dry box, é totalmente fechado, com portas nos fundos, apropriado para embarque de cargas perecíveis congeladas ou refrigeradas, que precisam ter a sua temperatura controlada, como carnes, sorvetes, frutas e verduras. Pode ser integrado com motor próprio para refrigeração, cuja única desvantagem é a perda de espaço ocupado pelo motor. Também pode ser isolado (insulated), sem motor próprio, tendo na parede da frente duas aberturas (válvulas) para entrada e saída de ar, que é injetado por meio externo. O contêiner reefer tem para controle de temperatura um gráfico de registro (Partlow Chart) e pode atingir até -25º C. Similar ao dry box, totalmente fechado, tendo aberturas no teto (escotilhas) para o seu carregamento e uma escotilha na parede do fundo e na parte inferior para o descarregamento, sendo apropriado para transporte de granéis sólidos, como produtos agrícolas Contêiner sem teto, que é fechado com lonas para transporte de cargas que apresentam dificuldades para embarque pela porta dos fundos e necessitam de um acesso especial, embora também possua a porta normal nos fundos. Próprio para mercadorias que excedam a altura do contêiner, cujas cargas não poderiam ser estufadas num contêiner dry box tradicional. Contêiner open top, sem teto, porém de meia altura – 4’ ou 4’3”, fechado com lonas e cabeceira basculante, adequado para embarque de minérios, cuja carga é extremamente densa e se embarcada em um open top, este não poderia ser utilizado integralmente em seu volume, representando uma ocupação de espaço indevida no navio. Com apenas três paredes, sem uma parede lateral, este contêiner é apropriado para mercadorias que apresentam dificuldades de embarque pela porta dos fundos, ou que excedam um pouco a largura do equipamento ou ainda para agilização de sua estufagem. Contêiner plataforma, sendo uma combinação do open top e do open side, sem as paredes laterais e sem teto, com cabeceiras fixas, ou dobráveis, adequado para cargas pesadas e grandes, que excedam um pouco as suas dimensões. Contêiner plataforma sem paredes e sem teto, tendo apenas o piso apropriado para cargas de grandes dimensões ou muito pesadas. Contêiner tanque próprio para transporte de líquidos em geral, perigosos ou não. Fonte: Martins e Silva (2001). 21 Para fins de dimensionamento de equipamentos, considera-se que a capacidade de carga de um TEU seja de 16 a 20 toneladas e, de um FEU, de 25 a 28 toneladas. Um FEU não possui o dobro da capacidade de um TEU, pois os materiais empregados atualmente na composição dos contêineres não conseguem resistir aos momentos fletores oriundos de grandes carregamentos. 2.3.3.3 Outros tipos de unitização Conforme Goebel (1996), existem dois outros tipos de unitização significativos no transporte marítimo: as marino-slings e os big-bags. As marino-slings são cintas de material sintético, que formam uma rede, com dimensões padronizadas, geralmente utilizadas para sacaria. Podem transportar até 1500kg de mercadoria e, dependendo do embarque, seguem com a carga até o destino ou apenas até o porão do navio, quando são retiradas. Os big-bags são sacos de material sintético dotados de fundo circular ou quadrado, geralmente utilizados, em substituição da sacaria, para o manuseio de produtos industrializados em grãos e pós. Permitem o reaproveitamento e a sua capacidade geralmente é superior à dos marino-slings, entretanto seu custo é superior ao destes e, por isso, em operações de comércio exterior, geralmente, não embarcam juntamente com a carga. 2.4 A OPERAÇÃO DE TERMINAIS PORTUÁRIOS DE CARGAS UNITIZADAS 2.4.1 Lógica da operação Conforme o exposto por Yun e Choi (1999), um Sistema Terminal de Contêineres (STC) é composto de três subsistemas: entradas, pátios de contêineres e berços. Os equipamentos de movimentação neste sistema são basicamente portêineres, transtêineres, tratores de terminal, empilhadeiras e carretas. As tarefas básicas na operação de um STC consistem no recebimento, entrega, carregamento e descarregamento de contêineres. simultaneamente e interativamente (Yun e Choi, 1999): Estas operações ocorrem 22 (i) Operação de recebimento: transportar contêineres para exportação, trazidos por caminhões vindos de fora do porto, até os equipamentos de movimentação vertical; (ii) Operação de entrega: erguer contêineres para importação através de equipamentos de movimentação vertical, colocando-os em caminhões ou trens estacionados no pátio de contêineres que levarão as cargas para fora do porto; (iii)Operação de carregamento: erguer contêineres para exportação através de equipamentos de movimentação vertical, colocando-os em tratores de terminal localizados no pátio de contêineres e transportando-os até o berço, onde serão embarcados através de equipamentos de embarque e desembarque; (iv) Operação de descarregamento: descer contêineres para importação do navio através de equipamentos de embarque e desembarque, colocando-os em tratores de terminal com a finalidade de transportar as cargas até o pátio de contêineres. 2.4.2 Equipamentos A estrutura operacional de um típico STC é ilustrada na Figura 2.3: B E R Ç O 1 2 3 P Á T I O Figura 2.3: Estrutura operacional de um típico terminal de contêineres. Conforme o apresentado na figura acima, existem três tipos de equipamentos empregados na movimentação de cargas entre o berço e o pátio ou armazém. São eles: 23 1. Equipamentos de Embarque e desembarque: Para retirada e colocação de cargas unitizadas nos navios, são necessários equipamentos de grande porte, como, por exemplo, portêineres, guindastes móveis sobre pneus, guindastes de bordo, dentre outros. Na Figura 2.4 é ilustrado um equipamento de embarque e desembarque. Figura 2.4: Portêiner em operação. Fonte: Magalhães (2003) 2. Equipamentos de manuseio: Os equipamentos de embarque e desembarque colocam as cargas unitizadas em veículos que as transportarão para o pátio. Estes veículos podem ser caminhões ou tratores de terminal. Na Figura 2.5 é ilustrado um equipamento de manuseio. Figura 2.5: Trator de terminal (TT). Fonte: Magalhães (2003) 3. Equipamentos de movimentação vertical: Os caminhões ou tratores de terminal transportam as células até o pátio, onde estes serão armazenados na forma de pilhas. Para realizar tal organização, são requeridos equipamentos de movimentação vertical ou empilhamento, dentre os quais podemos citar os transtêineres, as empilhadeiras e os reach stackers. Na Figura 2.6 é ilustrada a operação de uma empilhadeira. 24 Figura 2.6: Empilhadeira içando contêiner vazio. Fonte: Magalhães (2003) 2.4.3 Multimodalidade e intermodalidade Na operação de terminais portuários, dois conceitos são requeridos para a consecução de agilidade e flexibilidade nas atividades de manuseio e transporte: multimodalidade e intermodalidade. Por multimodalidade entende-se o emprego de múltiplos modos de transporte e o verbete intermodalidade remete à idéia de interseção de dois ou mais modos de transporte. Estes dois conceitos são comentados a seguir. No século XIX, predominava a filosofia da necessidade de competição entre os modos de transporte. Contudo, na atual conjuntura, é de notório conhecimento que a multimodalidade é condição indispensável para redução dos custos de transporte. Os modais não devem competir entre si, mas sim fazer uso da multimodalidade, isto é, combinar vantagens específicas em termos operacionais de modo a otimizar o transporte de mercadorias. De acordo com o Parlamento Europeu (2000), por intermodalidade entende-se um sistema de transportes com base no qual seja possível integrar pelo menos dois meios diferentes numa cadeia de transporte porta a porta (ferroviário-rodoviário-navalaéreo-dutoviário) de forma a garantir uma utilização mais racional das capacidades de transporte disponíveis e aumentar a qualidade e a eficiência dos serviços conexos. Dentre os principais tipos de interseções entre modos de transporte, podem ser destacados: 25 (i) RO/RO (Roll-on/Roll-off) ou autrotransbordo: tipo de transbordo no qual veículos do modal rodoviário são embarcados em navios, possibilitando maior flexibilidade nas operações de embarque e desembarque; (ii) RA/RA (Rail-on/Rail-off) ou ferrotransbordo: tipo de transbordo no qual vagões ferroviários são embarcados em navios, possibilitando maior flexibilidade nas operações de embarque e desembarque; (iii)RA/RO (Rail-Road) ou transbordo ferro-rodoviário: tipo de transbordo no qual veículos do modal rodoviário são embarcados em vagões ferroviários, possibilitando maior flexibilidade nas operações de embarque e desembarque; (iv) FLO/FLO (Float-on/Float-off), transbordo por flutuação ou transflutuação: transbordo característico do transporte marítimo no qual balsas são carregadas e descarregadas por embarcações de maior porte; (v) LO/LO (Lift-on/Lift-off) ou transbordo por suspensão: transbordo característico do transporte marítimo no qual veículos de outros modais de transportes são içados e carregados ou descarregados em embarcações. 2.4.4 Mão-de-obra portuária Apesar da drástica redução de mão-de-obra oriunda do intenso processo de mecanização ao qual o transporte marítimo foi submetido no século XX, os operários continuam sendo fator imprescindível na operação de um porto. A mão-de-obra bruta, constituída essencialmente por estivadores e práticos, está sendo gradativamente substituída por trabalhadores mais especializados, capazes de operar os equipamentos portuários e sistemas de informação. De nada adianta que um porto possua modernos equipamentos, se os seus operadores não souberem operar os equipamentos ou se não se sentirem estimulados a operá-los da maneira ideal. Não deve haver uma valorização excessiva da máquina e, por conseguinte, uma desvalorização do indivíduo, mas sim a busca contínua da consonância entre homem e máquina. 26 A modernização do processo de gestão portuária; característica das últimas décadas do século XX, demanda um corpo técnico cada vez mais especializado acompanhando as atividades portuárias. As atividades humanas em um porto, que outrora eram essencialmente físicas, estão sendo cada vez mais substituídas por atividades intelectuais. 2.5 A AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE TERMINAIS PORTUÁRIOS DE CARGAS UNITIZADAS 2.5.1 Indicadores de desempenho operacional Dado à acirrada competição oriunda da globalização da economia, a operação ineficiente e ineficaz de sistemas logísticos, tais como os terminais portuários de cargas unitizadas, não pode mais ser admitida. É necessário, portanto, que existam informações disponíveis acerca da operação do sistema portuário, permitindo a avaliação do seu desempenho e, conseqüentemente, o subsídio da tomada de decisão na gestão do terminal. As informações que permitem a avaliação operacional de sistemas logísticos são denominadas indicadores de desempenho ou indicadores operacionais. Conforme Bogossian (1983), é imprescindível conhecer os indicadores operacionais que permitam avaliar o nível de serviço prestado por um porto. Os indicadores operacionais se constituem no mais importante instrumento de avaliação dos serviços portuários, principalmente quando respaldados nas estruturas de custos de cada modalidade. Estes indicadores são gerados a partir de parâmetros de natureza: (i) Quantitativa: através do estabelecimento da produção a ser alcançada em determinado período de tempo; (ii) Qualitativa: através de acompanhamento e observação sistemática da eficiência operacional em face dos recursos utilizados; (iii)Econômica: através da determinação dos custos totais de transporte para cada conjunto de alternativas operacionais. 27 De acordo com Bogossian (1983), os indicadores podem ser classificados segundo o nível de abrangência, considerando as seguintes características: (i) Nível 1 – indicadores econômicos. São parâmetros estabelecidos em função da economia nacional, para a avaliação do seu desempenho, como, por exemplo, produção esperada e demanda futura. São importantes considerações devido aos seus possíveis impactos nas condições de operacionalidade do porto. (ii) Nível 2 – indicadores dos sistemas globais de transportes. São aqueles que abrangem o sistema de transportes como um todo, restringindose apenas aos resultados finais, sem considerações a respeito dos meios de transporte envolvidos, como, por exemplo, custo de distribuição do produto e tempo total de viagem (intermodal). (iii)Nível 3 – indicadores parciais dos sistemas de transportes. São aqueles que permitem a avaliação do desempenho de cada uma das modalidades de transporte que compõem o sistema, como, por exemplo, taxa de utilização do navio, tonelada-milha transportada por ano e taxa de ocupação do berço. (iv) Nível 4 – indicadores específicos dos componentes de cada modalidade. São aqueles que permitem avaliar o comportamento de cada elemento componente de determinada modalidade de transporte, como, por exemplo, número de ciclos de guindaste por hora e tempo de estadia de uma embarcação. É pertinente destacar que, no presente trabalho, a abrangência do modelo de avaliação proposto enquadra-se no Nível 4. Dentre as principais características dos indicadores de desempenho dos portos, podem ser destacadas (ANTAQ, 2003): (i) Estão expressos em unidades de medida significativas para aqueles que vão utilizálos, servindo para fins de avaliação de resultados ou para subsidiar a tomada de decisão; 28 (ii) São compostos de um número ou percentual para indicar a magnitude (quanto) e de uma unidade de medida que dá um significado ao número ou percentual (o quê); (iii)Servem para detectar causas e efeitos de ações operacionais e administrativas; (iv) Permitem qualificar os serviços em cada porto, fazer comparações evolutivas de desempenho de cada terminal ou conjunto de berços, a comparação entre terminais e conjuntos de berços de um mesmo porto, ou entre portos distintos, possibilitando monitorar a evolução do processo, com o estabelecimento de benchmarking. ANTAQ (2003) propõe e apresenta uma cartilha que orienta os gestores portuários a acompanhar o desempenho dos serviços dos portos brasileiros. Infelizmente, grande parte dos portos do Brasil não segue às recomendações da ANTAQ e tampouco fazem uso de outras metodologias de avaliação de desempenho. No que se refere às limitações dos indicadores de desempenho correntes, podese destacar: (i) Apesar de propiciarem uma visão geral do desempenho do porto, os indicadores operacionais não permitem uma compreensão da dinâmica operacional do sistema; (ii) Os indicadores operacionais apenas orientam os gestores do porto no que se refere à caracterização do serviço ofertado pelo terminal, não fornecendo sugestões para a melhoria do processo; (iii)Os indicadores operacionais não permitem que sejam idealizadas conjecturas formais (cenários) acerca do que pode vir a ocorrer em determinadas circunstâncias futuras. Deste modo, justifica-se a busca de outras metodologias que permitam a avaliação de desempenho de terminais portuários, visando uma complementaridade com os indicadores operacionais preconizados pela literatura. 29 2.5.2 Modelagem matemática e desempenho operacional Conforme reportam Paixão e Marlow (2003) e Marlow e Paixão Casaca (2003), os órgãos de administração portuária e as universidades de todo o mundo fazem uso de diversas metodologias para planejar e gerir as operações de um porto, dentre as quais podem ser salientadas: filosofia just-in-time, produção enxuta, gestão da qualidade total, programação matemática e simulação. Psaraftis (1998) apud Rios e Maçada (2000) enfatiza a importância do desenvolvimento de estudos com aplicação de técnicas de Pesquisa Operacional em problemas de movimentação de contêineres em pátios portuários. O uso de técnicas de simulação tem sido freqüentemente aplicado para planejar e gerenciar o sistema portuário e auxiliar os executivos no processo de tomada de decisão. Rios e Maçada (2000) apontam que vários estudos já foram realizados visando a elaboração e a validação de modelos que possam diminuir tempo de operação de equipamentos e, conseqüentemente, o custo operacional de um terminal portuário. Dentre eles, as técnicas de modelagem matemática mostram-se de grande valia para auxiliar a tomada de decisão na gestão de um porto. Um porto é um sistema complexo que muda de estados ao longo do tempo, ou seja, trata-se de um sistema dinâmico. Os estados dos subsistemas do porto são discretos e variam ao longo do tempo, condição que dificulta o estabelecimento de equações analíticas que possam representar o comportamento do porto em operação. Conforme Degano e Di Febbraro (2001), devido às suas características, um terminal intermodal de contêineres pode ser representado como um Sistema a Eventos Discretos (SED), o que permite o projeto e a implementação de estratégias de controle embutidas no próprio sistema. Os trabalhos de Yun e Choi (1999), Legato e Mazza (2001) e Fernandes (2001) apresentam modelos bastante atualizados de simulação em terminais portuários de contêineres. Estes modelos, além de considerarem a aleatoriedade da operação do 30 sistema portuário, fornecem parâmetros importantes para o gerenciamento do terminal, tais como as taxas de ocupação dos berços e dos equipamentos. Uma crítica a estes modelos é que eles, apesar de utilizarem programas de computador que permitem a visualização da simulação da operação do porto, não propiciam ao analista do sistema uma visão da estrutura operacional do terminal, bem como dos seus possíveis gargalos. Degano e Di Febbraro (2001) utilizam um modelo baseado em redes de Petri para diagnosticar falhas nas atividades de um terminal intermodal de contêineres, apresentando a técnica supracitada como uma metodologia bastante promissora para modelar a operação de terminais portuários. Segundo Palomino (1995), as redes de Petri são um modelo do tipo estadoevento, onde cada evento possui pré-condições que vão permitir sua ocorrência e póscondições, as quais são, por sua vez, pré-condições de outros eventos posteriores. As redes de Petri coloridas são uma evolução deste conceito, facilitando a adição de informações ao processo de modelagem. Costa (2002) apresenta as redes de Petri como uma metodologia para avaliação de desempenho de sistemas logísticos, destacando, inclusive, a potencialidade da metodologia supracitada na avaliação de desempenho de terminais portuários. Conforme Prata et al (2005), o emprego das redes de Petri coloridas permite uma modelagem mais compacta e abrangente das operações portuárias. 31 CAPÍTULO 3 REDES DE PETRI COLORIDAS No ano de 1962, Carl Adam Petri defendeu na Alemanha, na Faculdade de Matemática e Física da Technical University of Darmstaldt, sua tese de doutorado, sendo esta intitulada de Kommunikation mit Automaten (ou, em português, Comunicação com Autômatos). Anos depois, em um período situado entre o término da década de sessenta e início da década de setenta, Anatol W. Holt, fascinado pela originalidade do trabalho proposto por Petri, reuniu-se com um grupo de pesquisadores do renomado Massachussetts Institute of Tecnology – MIT, situado nos Estados Unidos da América. O resultado desta parceria foi a idealização das bases da teoria das redes de Petri como a conhecemos hoje. Desde então, a teoria das Redes de Petri não tem parado de se expandir. Pesquisadores do mundo todo têm trabalhado tanto com o desenvolvimento e aprimoramento desta técnica, como com sua vasta gama de aplicações. Modelos baseados nas redes de Petri são amplamente empregados em diversos campos de conhecimento, dentre os quais podemos destacar as telecomunicações, os sistemas de manufatura e os sistemas de transportes. Com a ampliação do desenvolvimento e da aplicação das redes de Petri na modelagem de sistemas, muitos foram os estudos realizados objetivando mitigar as limitações da metodologia supramencionada. A concepção das redes de Petri de alto nível, dentre as quais se podem destacar as redes de Petri coloridas (RPC), ilustra o grande progresso teórico nesta direção. As redes de Petri coloridas foram idealizadas por Kurt Jensen, pesquisador da Universidade de Aarhus, na Dinamarca. Seu artigo, datado do ano de 1981, intitulado Coloured Petri Nets and the Invariant Method foi um trabalho promissor, que induziu uma série de estudos sobre coloração das fichas. 32 Este capítulo destina-se a fazer uma breve introdução sobre as redes de Petri coloridas, buscando enfatizar a aplicabilidade dos conceitos explicitados. A estrutura do capítulo será dividida em cinco seções, explicitadas a seguir. Na primeira seção são apresentados conceitos básicos para compreensão das redes de Petri coloridas, tais como a teoria de sistemas a eventos discretos e as redes de Petri ordinárias. Na segunda seção, as redes de Petri coloridas são apresentadas informalmente e, na terceira seção, elas são apresentadas formalmente. A quarta seção, por fim, introduz o conceito de multi-conjunto. 3.1 CONCEITOS BÁSICOS 3.1.1 Sistemas a eventos discretos Um sistema é um conjunto de partes, que interagem entre si, visando a consecução de um objetivo comum. De certo modo, este é um conceito bastante relativo, pois a delimitação de um sistema é uma atividade subjetiva e depende sempre de algum referencial. Por mais que se esforce em delinear um sistema, sempre existirão sistemas que o englobam e sistemas englobados por ele. De acordo com Palomino (1995), todo sistema apresenta os seguintes componentes listados a seguir. (i) Fronteiras: São os limites do sistema, que podem ter existência física ou apenas uma delimitação imaginaria para efeito de estudo. (ii) Subsistemas: São os elementos que compõem o sistema. (iii) Entradas (inputs): Representam os insumos ou variáveis independentes do sistema. (iv) Saídas (outputs): Representam os produtos ou variáveis dependentes do sistema. (v) Processamento: Engloba as atividades desenvolvidas pelos subsistemas que interagem entre si para converter as entradas em saídas. (vi) Retroação (feedback): É a influência que as saídas do sistema exercem sobre as suas entradas no sentido de ajustá-las ou regulá-las ao funcionamento do sistema. 33 Dada a complexidade de qualquer sistema, por menor que seja a delimitação dada a este por aquele que o analisa, o número de variáveis envolvidas no seu funcionamento é tão grande que realizar uma análise completa de tal conjunto de partes pode ser uma tarefa impossível. Sendo assim, cabe ao analista, após a delimitação e concepção do sistema, ponderar sobre quais variáveis são mais representativas do fenômeno que se pretende estudar. Tal conduta remete ao conceito de modelo, ou seja, o modelo é uma representação simplificada do sistema. Em engenharia, existe uma ampla gama de sistemas nos quais se pode estabelecer uma relação entre as taxas de variação das suas variáveis de estado, permitindo que tais sistemas sejam modelados por equações diferenciais. Entretanto, existem categorias de sistemas cuja complexidade limita ou impossibilita sua representação analítica. Conforme Ramadge e Wonham (1989) apud Deifan (1999), os Sistemas a Eventos Discretos (SED) são sistemas concebidos pelo homem (man made systems) e cuja dinâmica é dirigida pela concorrência de eventos discretos a intervalos irregulares e desconhecidos. Segundo Cardoso e Valette (1997), “sistemas a eventos discretos são sistemas modelados de tal sorte que as variáveis de estado variam bruscamente em instantes determinados e que os valores das variáveis nos estados seguintes podem ser calculados diretamente a partir dos valores precedentes sem ter que considerar o tempo entre estes dois instantes”. Neste caso, as equações diferenciais se mostram ineficientes para representar o comportamento do sistema, sendo requeridos outros métodos de análise. Exemplos de SED são sistemas de manufatura, redes de computadores, sistemas de telecomunicações e sistemas de transportes. Dentre as técnicas de modelagem de SED, podem ser destacadas as redes de Petri, os autômatos, a teoria das filas e as cadeias de Markov. Para um aprofundamento na teoria de Sistemas a Eventos Discretos, vide Cassandras e Lafortune (1999). 34 3.1.2 Apresentação das redes de Petri Segundo Palomino (1995), as redes de Petri (RdP) são um modelo do tipo estado-evento, onde cada evento possui pré-condições, que vão permitir sua ocorrência, e pós-condições, as quais são, por sua vez, pré-condições de outros eventos posteriores. A técnica em questão pode ser vista como uma evolução do conceito da Teoria dos Grafos, pois nas RdP existem dois tipos de nós, denominados respectivamente de Lugar – P, e Transição – T, e dois tipos de arcos (Pre e Post). Deve-se salientar que uma rede de Petri é um grafo bipartido, ou seja, só existem arcos ligando nós do tipo P a nós do tipo T e vice-versa. Formalmente, uma rede de Petri é uma quádrupla (Cardoso e Valette,1997): R = <P,T,Pre,Post> 3.1 em que: - P é um conjunto finito de lugares de dimensão n; - T é um conjunto finito de transições de dimensão m; - Pre: P x T → N é a aplicação de entrada (lugares precedentes ou incidência anterior), com N sendo o conjunto dos números naturais; - Post: P x T → N é a aplicação de saída (lugares seguintes ou incidência posterior). É importante ressaltar que, na literatura, a nomenclatura da rede de Petri apresentada na equação 3.1 pode ser explicitada por rede de Petri ordinária ou rede de Petri lugar-transição (RLT). Caso a RdP modele um sistema real, ou seja, possua um significado físico, a rede pode ser denotada rede de Petri interpretada e, caso contrário, pode ser chamada de rede de Petri não interpretada. Como este é um trabalho voltado para uma aplicação prática da metodologia em questão na operação de sistemas de transportes, assume-se, nesse momento, que todos os modelos constantes no texto se referem a redes interpretadas. Uma Rede de Petri marcada é uma dupla: N = <R,M> 3.2 35 em que: - R é uma rede de Petri; - M é uma marcação dada pela aplicação M : P → N. A marcação é um número inteiro não-negativo associado a cada lugar, sendo representada por um vetor n-dimensional: M = (m1, m2, ... mj)T 3.3 em que: mj = é o número de fichas do lugar pj. A rigor, a marcação é um vetor coluna, sendo o vetor transposto ao vetor linha apresentado na equação (3.3). Na prática, é usual ser omitida a denotação de vetor transposto. De acordo com Palomino (1995), a marcação num determinado instante representa o estado da rede de Petri ou, mais precisamente, o estado do sistema descrito pela RdP; assim, a evolução do estado do sistema corresponde a uma evolução da marcação, a qual é causada pelo disparo de transições como veremos posteriormente. Um exemplo de representação gráfica de uma rede de Petri é apresentado na Figura 3.1. (a) (b) Figura 3.1: Exemplo do disparo de uma transição Fonte: YAMADA et al, 2001. Os círculos representam os lugares, o retângulo representa a transição, as setas que saem dos lugares e chegam na transição representam Pre, as setas que saem da transição e chegam nos lugares representam Post e os discos negros representam as marcações. A estas marcações damos o nome de fichas. 36 Yamada et al (2001) afirmam que um lugar pode ser utilizado como indicação de um estado do sistema (conjunto dos valores atuais dos parâmetros que definem um dado sistema, num dado instante) a ser modelado. Um lugar possui os seguintes atributos: identificação, marcação e capacidade. A identificação diferencia um lugar dos demais, a marcação equivale ao número de fichas contidas em um lugar e capacidade é o número máximo de fichas que um lugar pode armazenar por um determinado tempo, não sendo denotada para lugares de capacidade infinita. As fichas simplesmente indicam que as condições associadas aos lugares são verdadeiras. As transições podem representar operações ou ações realizadas pelo sistema, possuindo os seguintes atributos: identificação e, para as redes de Petri com restrições de tempo, o tempo, que indica o tempo associado ao seu disparo. Um arco que sai de um lugar e chega a uma transição indica, juntamente com as fichas, as condições para que uma ação seja realizada. Um arco originado em uma transição que se destina a um lugar, representa as funções que geram os estados após a execução da ação. Um arco com peso k, em que k é um número inteiro positivo, pode ser interpretado como um conjunto k de arcos paralelos. Os arcos com peso um usualmente têm seu peso omitido na representação gráfica. Uma transição é considerada apta a disparar quando o número de fichas contidas em cada um de seus lugares de entrada é maior ou igual ao peso dos arcos de precedência. Quando isto ocorre, a transição ti é dita habilitada, estando pronta para o disparo. Como podemos verificar pela RdP apresentada na Figura 1, ao disparar t1, uma ficha é retirada do lugar p1, duas fichas são retiradas do lugar p2, uma ficha é adicionada ao lugar p3 e três fichas são adicionadas ao lugar p4. É comum encontrar na literatura a palavra “ferramenta” associada às redes de Petri, sendo que tal conexão, na opinião do autor, é equivocada. O verbete ferramenta remete à idéia de um utensílio, ou seja, de um objeto limitado, de recursos prédeterminados e de uso repetitivo. As redes de Petri não se enquadram em tal adjetivo, 37 pois permitem a modelagem, a análise e a simulação de uma vasta gama de sistemas, propiciando uma maior compreensão da realidade modelada por parte do analista. Um modelo idealizado pelas redes de Petri pode ser considerado uma ferramenta, mas a teoria por trás do modelo não pode ser considerada como tal. Para o autor, as redes de Petri são uma técnica capaz de suportar a geração de modelos e/ou ferramentas computacionais, não se caracterizando meramente como um utensílio. 3.1.3 Redes de Petri com restrições de tempo Como apontam Berthomieu e Diaz (1991), existem sistemas que se comportam baseados em parâmetros temporais explícitos. Utilizar e ampliar o conceito das redes de Petri clássicas, ou seja, adicionar características de tempo às transições, possibilita a aplicação desta técnica na modelagem de sistemas inerentes a diversos campos do conhecimento. A rede de Petri temporal (RPT) é obtida associando-se a cada transição um intervalo (θmín, θmáx), ou seja, a duração de sensibilização da transição deve ser maior do que θmín e menor do que θmáx. Segundo Cardoso e Valette (1997), pode-se associar um intervalo [a,a] a uma transição para representar uma duração a. Se a transição estiver sensibilizada no tempo τ, ela irá disparar no tempo τ + a, caso continue, nesta data, sensibilizada pela marcação. Formalmente, uma rede de Petri temporal é um par: NtI= <N,I> em que: 3.4 - N é uma rede Petri <P,T,Pre,Post> com uma marcação inicial M0; - I = θ (t)= [θmín(t), θmáx(t)] é uma função que, a cada transição t, associa um intervalo racional que descreve uma duração de sensibilização. As RPT’s são de grande valia para a avaliação de desempenho operacional de sistemas dinâmicos. A determinação dos tempos de ciclo da operação de um sistema, 38 variando-se os seus insumos e recursos de infra-estrutura através da simulação de cenários, pode subsidiar a tomada de decisão na gestão do sistema modelado. 3.2 Apresentação informal às redes de Petri coloridas Uma grande limitação das redes de Petri ordinárias é o fato de que esta demanda uma grande quantidade de lugares e de transições para representar sistemas complexos (também chamados pela literatura como sistemas reais). Na medida em que a rede se expande, a visão geral do sistema modelado, por parte do analista, começa a ser comprometida e a análise do sistema modelado, por parte do computador, começa a ser dificultada. Os sistemas reais, muitas vezes, apresentam processos semelhantes que ocorrem paralelamente ou concorrentemente, diferindo entre si apenas pelos seus insumos e produtos. As fichas, por expressarem basicamente se as condições associadas a um lugar são verdadeiras ou falsas, requerem uma grande quantidade de lugares e, conseqüentemente, de transições, para representar tais sistemas com processos similares. E se ao invés de aumentarmos a quantidade de lugares, diferenciarmos os processos, insumos ou produtos através das fichas? Se as fichas, ao invés de portarem uma função binária, portarem um vetor de informações, a quantidade de lugares e transições de uma rede que modela um sistema real pode ser sensivelmente reduzida. Esta é a filosofia das redes de Petri coloridas, conceito alvo do presente capítulo. A seguir, será realizada uma abordagem informal do tema em questão, evidenciando seus benefícios e desvantagens frente às redes de Petri lugar-transição. A seguir, será apresentado um exemplo, retirado de Jensen (1992), que ilustra bem a evolução do conceito das redes ordinárias para o conceito das RPC. Será assumido que existem dois tipos de processos em um sistema qualquer, denominados processos-p e processos-q, que compartilham três tipos de recursos, denotados por recursos-r, recursos-s e recursos-t. Tais processos ocorrem paralelamente e demandam os insumos supracitados simultaneamente. 39 Os processos-p podem ser divididos em quatro principais estados. O primeiro estado indica a quantidade de processos-p a serem operados. O segundo estado necessita da utilização de dois recursos-s para a operação do sistema. O terceiro estado requer a utilização de dois recursos-s e um recurso-t para a operação do sistema. Por fim, o quarto estado demanda a utilização de dois recursos-s e um recurso-t para a operação do sistema. No que tange às ações mais significativas dos processos-p, pode-se destacar a primeira ação, que utiliza dois recursos-s para que o sistema passe do estado inicial para o segundo estado, a segunda e a terceira ação, que buscam um recurso-t para o sistema avance do segundo para o terceiro estado e do terceiro para o quarto estado e, por fim, a quarta ação, que reinicia o processo-p. Os processos-q podem ser divididos em cinco principais estados. O primeiro estado indica a quantidade de processos-q a serem operados. O segundo estado necessita da utilização de um recurso-r e de um recurso-s para a operação do sistema. O terceiro estado requer a utilização de um recurso-r e de dois recursos-s para a operação do sistema. O quarto estado necessita da utilização de dois recursos-s para a operação do sistema. Por fim, o quinto estado demanda a utilização de dois recursos-s e um recurso-t para a operação do sistema. No que diz respeito às ações mais significativas dos processos-q, pode-se destacar a primeira ação, que utiliza um recurso-r e um recurso-s para que o sistema passe do estado inicial para o segundo estado, a segunda ação, que utiliza um recurso-s para o sistema avance do segundo para o terceiro estado, a terceira ação, que libera um recurso-r para que o sistema passe do terceiro para o quarto estado, a quarta ação, demanda um recurso-t para que o sistema passe do quarto para o quinto estado e, por fim, a quinta ação, que reinicia o processo-q. Na Figura 3.2 é apresentada a modelagem do sistema descrito acima. Os lugares Bp. Cp, Dp e Ep correspondem respectivamente aos estados 1, 2, 3 e 4 dos processos-p. As transições T2p, T3p, T4p e T5p correspondem respectivamente aos eventos 1, 2, 3 e 4 dos processos-p. Raciocínio análogo pode ser aplicado aos lugares e transições do 40 lado direito da rede ilustrada, que representam, correspondentemente, os estados e ações dos processos-q descritos anteriormente. Os lugares R, S e T correspondem aos recursos-r, recursos-s e recursos-t, respectivamente. Na RdP apresentada na Figura 3.2, foi necessário representar os dois tipos de processos por duas sub-redes separadas, ainda que os dois processos distintos compartilhassem os mesmos recursos, utilizando-os de uma forma semelhante. Aq T1q Bp Bq R T2p T2q 2 Cp Cq S T3p T3q Dq Dp T T4p 2 T4q 2 Eq Ep T5p 2 T5q Figura 3.2: RdP descrevendo a alocação de recursos do sistema (marcação inicial M0). Fonte: Jensen, 1992. No que diz respeito à visão do analista sobre o sistema modelado, a rede supramencionada propicia uma maior sensibilidade dos gargalos operacionais. Tal benefício, entretanto, diminui na medida que o sistema modelado se torna mais complexo. No que se refere à implementação do modelo, a utilização de sub-redes similares acarreta em ineficiência computacional, refletida pela entrada e pelo processamento dos 41 dados. Tal deficiência é aceitável para um sistema simples, como o representado na Figura 3.2. Contudo, para sistemas maiores, redundâncias desta natureza podem implicar em um custo computacional elevado. Sistemas de manufatura ou sistemas de telecomunicações, usualmente, apresentam diversos processos a serem efetuados paralelamente ou concorrentemente, compartilhando inúmeros recursos. Imagine que o sistema a ser modelado, ao invés de contar com dois tipos de processos e três insumos distintos, apresentasse dezenas de processos e recursos. A representação gráfica do sistema seria muito pouco inteligível e a implementação computacional do modelo, assim como sua análise, seria extremamente complexa. Uma estratégia para mitigar esse tipo de problema é aplicar o conceito das redes de Petri hierárquicas. Neste tipo de rede, considera-se a existência de sub-redes que se comportam como lugares ou como transições e, deste modo, uma RdP passa a incluir mais dois conjuntos de elementos: os macro-lugares, que representam uma sub-rede por um lugar, e as macro-transições, que representam uma sub-rede por uma transição. Embora teoricamente interessantes e potencialmente úteis, as redes de Petri hierárquicas não resolvem eficientemente o problema do crescimento excessivo do número de nós da rede, quando se pretende modelar um sistema não trivial (Barros, 2001). Essa é, portanto, uma das grandes limitações das redes de Petri lugar-transição na modelagem e análise de sistemas reais. Conforme Kernigham et al. (1988) apud Barros (2001), o salto que se dá ao passar das redes de Petri ordinárias para as redes de Petri coloridas é, mais do que em qualquer outro tipo de rede Petri de alto nível, extremamente semelhante ao salto que se dá ao passar da programação em linguagem Assembly para linguagens de alto-nível como PASCAL ou C. Comparando-se as redes de Petri com as linguagens de programação, conforme é ilustrado na Tabela 3.1, pode-se perceber que as redes de Petri ordinárias são análogas a uma linguagem de baixo nível. 42 Tabela 3.1: Analogia entre redes de Petri e linguagens de programação. Redes de Petri Linguagens de Programação RdP Ordinárias Linguagem Assembly RdP hierárquicas Linguagem Assembly com macros RdP de alto nível Linguagem de alto nível Fonte: Barros (2001). As redes de Petri de alto nível (RPAN), dentre as quais se pode ressaltar as redes de Petri coloridas, redes de Petri predicado - transição e redes de Petri a objetos, são modelos que foram desenvolvidos para facilitar a representação e análise de sistemas complexos. Neste trabalho, apenas as redes de Petri coloridas serão enfocadas. Para mais detalhes sobre as RPAN, consultar Cardoso e Valette (1997). De acordo com Jensen (1992), uma representação mais compacta de uma rede de Petri é obtida através da associação, a cada ficha, de um conjunto de dados, denominados cores da ficha. O conceito de cor é análogo ao conceito de tipo, comum nas linguagens de programação. Na Figura 3.3 é ilustrado o sistema apresentado na Figura 3.2, modelado por intermédio das redes de Petri coloridas. color U = with p | q; color I = int; color P = product U* i; color E = with e; var x : U; var i : I; P A e 1 1'e R E 3 3'e S E 2 2'e T E if x=q 3 3'(q,0) then 1' (q,i+1) else empty (x,i) [x=q] T1 case x of (x,i) p => 2'e 2 2'(p,0) e | q => 1'e P B if x=p (x,i) then 1' (p,i+1) T2 else empty (x,i) if x=q then 1'e P C else empty (x,i) T3 (x,i) if x=p then 1'e else empty P D e (x,i) T4 (x,i) 2'e P E case x of p => 2'e | q => 1'e (x,i) T5 Figura 3.3: RPC descrevendo a alocação de recursos do sistema (marcação inicial M0). Fonte: Jensen, 1992. 43 Para um determinado lugar, as fichas nele contidas devem possuir cores que correspondam a um determinado tipo. Este tipo é denotado conjunto de cores do lugar. Analisando a rede constante na Figura 3.3, no lugar R, todas as fichas nele contidas serão do tipo E. Deste modo pode-se perceber que o conceito de cores está para as redes de Petri coloridas assim como o conceito de tipo está para as linguagens de programação. Aos arcos são associadas variáveis, funções matemáticas ou expressões de uma linguagem de programação. Para que ocorra o disparo de uma transição, as estruturas de dados contidas nas fichas devem satisfazer as condições contidas nos arcos de uma rede de Petri colorida, assim como interagiam as fichas e os pesos dos arcos em uma rede de Petri ordinária. No canto superior esquerdo da Figura 3.3, pode-se perceber a existência de um retângulo composto por linhas tracejadas, contendo declarações de uma linguagem de programação. Qualquer linguagem pode ser utilizada em modelos de RPC, contudo, na atual conjuntura, é quase que uma regra empregar-se o padrão ML, que possui uma sintaxe similar à da linguagem C. Jensen, o criador das redes de Petri coloridas, alavancou pesquisas acerca desta técnica de modelagem. O Departamento de Ciência da Computação da Universidade de Aarhus tornou-se o maior expoente mundial no tema em questão e desenvolveu a ferramenta computacional mais robusta já desenvolvida, até o momento, para a edição e análise de RPC: o CPN Tools. O CPN Tools utiliza uma linguagem similar ao padrão ML, denotada CPN ML. A Expressão [x=q], associada à transição T1 da rede constante na Figura 3.3, é classificada como uma guarda. Uma guarda é uma regra que restringe o disparo de uma transição apenas a uma variável de um tipo especificado. No exemplo em questão, a guarda [x=q] especifica que a transição T1 só está habilitada para processos-q, não efetuando disparos para processos-p. 44 A seguir, será apresentado um dos problemas clássicos que traçam um paralelo entre as redes de Petri lugar-transição e as redes de Petri coloridas. O jantar dos filósofos é um exemplo introdutório do avanço da modelagem advinda da coloração das fichas. Cinco filósofos chineses estão sentados ao redor de uma mesa circular, na qual, em seu centro, existe uma deliciosa travessa com arroz e, entre cada par de filósofos, existe um garfo. Cada filósofo pode optar por duas ações: pensar ou comer. Para comer, um filósofo necessita de dois garfos, e ele só pode utilizar aqueles que estão na sua proximidade, ou seja, o garfo ao seu lado direito e o garfo ao seu lado esquerdo. O compartilhamento dos garfos impede que dois filósofos vizinhos comam simultaneamente. Na Figura 3.4 é apresentada uma visão esquemática do clássico problema do jantar dos filósofos. Figura 3.4: Visão esquemática do jantar dos filósofos. Fonte: Jensen (s/d). O leitor se habilita a tentar modelar esse sistema por intermédio de equações analíticas? Como se trata de um sistema a eventos discretos, modelar esse sistema por intermédio das redes de Petri, torna a tarefa bem mais simples. Na Figura 3.5 é ilustrado um modelo do jantar dos filósofos, baseado nas redes de Petri lugar-transição. 45 Figura 3.5: Modelo, do jantar dos filósofos, baseado em redes de Petri ordinárias. Fonte: Barros (2001). Os lugares de cor branca representam os estados “filósofo pensando”, os lugares de cor cinza escuro representam os estados “filósofo comendo”, e, por fim, os lugares de tonalidade cinza claro representam os garfos. É importante salientar que, na modelagem de redes de Petri coloridas, o sentido da palavra cores não está relacionado à idéia de pigmento ou tonalidade, mas sim à idéia de associação de estruturas complexas de dados às fichas, ao invés das estruturas binárias utilizadas na modelagem clássica. Este procedimento, dependendo do sistema modelado, pode reduzir sensivelmente a quantidade de lugares e transições de uma rede. Na Figura 3.6, é apresentado o problema do jantar dos filósofos modelado por intermédio de redes de Petri coloridas. Figura 3.6: Modelo, do jantar dos filósofos, baseado em redes de Petri coloridas. Fonte: Jensen (s/d). 46 3.3 Apresentação formal às redes de Petri coloridas Para a modelagem de um sistema, a compreensão, por parte do analista, da lógica matemática que rege uma RPC não é uma condição indispensável para a utilização da técnica em foco. Conforme Jensen (1992), qualquer rede poderá ser especificada apenas em termos da sua representação gráfica. A definição formal, contudo, propicia ao analista uma maior compreensão da técnica utilizada, bem como permite analisar propriedades do modelo. Para aqueles que desejam se aprofundar nos estudos acerca das redes de Petri coloridas, a compreensão da sua definição formal é tarefa imprescindível. Conforme Desrochers e Al-Jaar (1995), uma rede de Petri colorida é um grafo bipartido dirigido representado por uma quíntupla: CPN = <P,T,C,I,O> 3.5 em que: - P é um conjunto finito de lugares de dimensão n; - T é um conjunto finito de transições de dimensão m; - C são os conjuntos de cores associados com os lugares e com as transições de modo que: C(pi)= {ai1,..., aiui}, ui = | C(pi) |, i = 1, ..., n. C(tj) = {bj1,..., bjvj}, vi = | C(tj) | , j = 1, ..., m. Os símbolos a’s e b’s representam as cores associadas. - I é uma aplicação de entrada C(p) x C(t) → N (inteiros não-negativos) correspondendo ao conjunto de cores direcionadas dos arcos de P para T. - O é uma aplicação de saída C(t) x C(p) → N (inteiros não-negativos) correspondendo ao conjunto de cores direcionadas dos arcos de T para P. Note que O(p,t) = OT(t,p). A associação de dados às fichas torna o modelo mais compacto, mas, em contrapartida, paga-se um preço: a complexidade das funções de precedência. Nas RdP, são associados aos arcos Pre e Post valores inteiros, enquanto que, nas RPC, são associadas aos arcos funções complexas. 47 3.4 Multi-conjuntos Numa rede de Petri ordinária, a adição ou remoção de fichas de um determinado lugar implica na operação de soma ou subtração, pois as fichas não portam estruturas de dados. Nas redes de Petri coloridas, o jogo de fichas não é uma operação tão trivial. A marcação de cada lugar de uma RPC é um multi-conjunto do conjunto de cores associado ao lugar. A utilização de multi-conjuntos é necessária para que um lugar possa armazenar duas ou mais fichas da mesma cor. Os multi-conjuntos, também denominados bolsas, são um tipo de conjunto no qual podem ocorrer múltiplas ocorrências de um mesmo elemento. Admitindo um conjunto X com três elementos, tal que X = {x1,x2,x3}, ao adicionarmos ao conjunto X o elemento x2, o conjunto continua sendo X = {x1,x2,x3}. Em um multi-conjunto, a adição do elemento x2 implica no multi-conjunto X’ = {x1,x2,x2,x3}. A repetição do elemento x2 diferencia o conjunto X do multi-conjunto X’. O aprofundamento sobre o conceito de multi-conjuntos foge ao escopo deste texto, sendo cabível neste trabalho apenas uma sucinta introdução sobre o tema. Para uma discussão mais detalhada sobre tal questão, o leitor pode consultar Jensen (1992). 48 CAPÍTULO 4 MODELO DE AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO OPERACIONAL DE TERMINAIS PORTUÁRIOS DE CARGA UNITIZADA A avaliação de desempenho é uma atividade de suma importância para a manutenção da eficiência da operação de um sistema. Lima (2001) apud Costa (2002) identifica três objetivos distintos para a criação de uma sistemática de avaliação de desempenho: (a) a monitoração de variáveis e a antecipação de ações dentro de uma postura preventiva; (b) a resolução de problemas visando à eliminação de causas de insatisfações ou elevação do nível de satisfação, buscando um processo de melhoria contínua; e (c) a dissolução do sistema pela obsolescência de sua finalidade. Os ganhos oriundos da eliminação de deficiências operacionais em terminais portuários são substanciais devido às economias de escala, pois reduções nos tempos de movimentação de um contêiner resultam em uma grande redução de tempo, tendo em vista a quantidade total de cargas movimentadas por um porto em um dado intervalo de tempo como, por exemplo, meses ou anos. Este capítulo destina-se a apresentar o modelo proposto, baseado nas redes de Petri coloridas, para avaliação de desempenho operacional de terminais portuários de carga unitizada. São citadas, a seguir, as seções que compõem o presente capítulo. Na primeira seção são apresentadas as condições para a idealização de um modelo geral da avaliação de desempenho operacional de terminais de carga unitizada. Na segunda seção, é realizada uma descrição da área de estudo. A terceira seção destina-se a apresentar o modelo da operação do Terminal Portuário do Pecém. A quarta seção aborda a validação do modelo proposto. Por fim, a quinta seção tem como objetivo expor os resultados obtidos através das simulações do modelo, seguidos das devidas discussões. 49 4.1 CONCEPÇÃO DO MODELO A concepção geral do modelo de redes de Petri coloridas, a ser aplicada em qualquer terminal portuário de cargas unitizadas, consiste na definição dos estados, a serem representados por lugares, dos eventos, a serem representados por transições, e das informações adicionais do modelo, a serem representadas por cores (tipos de dados). Após a concepção e a validação do modelo, apresentam-se as recomendações propostas. É pertinente destacar que todo terminal possui suas peculiaridades, sendo necessária a adequação do modelo a cada caso analisado. No caso das operações portuárias, tem-se: (i) Lugares Os lugares de uma rede Petri colorida devem representar estados tais como: (a) contêineres armazenados no pátio; (b) equipamentos livres para uso, como empilhadeiras, reach satckers, stradle carriers, trantêineres, guindastes ou portêineres; (c) contêineres sendo movimentados por equipamentos; e (d) contêineres dispostos nas embarcações. (ii) Transições As transições de uma rede Petri colorida deverão representar eventos tais como: (a) ações de movimentação, remoção e transporte de contêineres; e (b) retorno dos equipamentos após cada operação. (iii)Cores As cores adicionadas às fichas deverão armazenar informações tais como: (a) identificação dos contêineres; e (b) localização dos contêineres no pátio e nas pilhas de células unitizadas. 4.2 DESCRIÇÃO DO TERMINAL PORTUÁRIO DO PECÉM 4.2.1 Considerações gerais O Estado do Ceará possuía, até a década de 90, apenas um grande porto para a movimentação de suas cargas: o Porto de Fortaleza, também denotado por Porto do 50 Mucuripe. Este terminal se constitui como um porto de 1ª. geração, estando incrustado no tecido urbano do município de Fortaleza. O aumento da movimentação de cargas no Porto de Fortaleza tem gerado grandes problemas para o terminal, pois: (i) o porto em questão não estava apto a receber grandes embarcações devido às restrições de equipamentos, de instalações e de calado; e (ii) o fluxo intenso de veículos rodoviários nas operações de entrada e saída do terminal causava grandes impactos na malha viária do seu entorno. Deve-se ressaltar, também, que se tornava praticamente impraticável a instalação de pólos industriais, tais como indústrias petroquímicas, siderúrgicas ou metalmecânicas, no entorno do Porto de Fortaleza. A implantação de equipamentos industriais de grande monta nas vizinhanças do porto em questão traria uma série de problemas, não apenas para a capital cearense, mas para o próprio funcionamento das indústrias. Tendo em vista a necessidade de expandir a capacidade das modalidades marítima e de cabotagem no Estado do Ceará, o Governo do Estado decidiu pela construção de um terminal portuário de grande porte, localizado numa posição estratégica, que não estivesse contido na cidade de Fortaleza nem demasiadamente afastado dela. O local escolhido foi Pecém, distrito do município de São Gonçalo do Amarante, distante cerca 56 km da capital do Estado. 4.2.2 Descrição da infra-estrutura No que se refere ao acesso marítimo, o Porto do Pecém trata-se de um Terminal off shore, pois o acesso marítimo às instalações se dá de forma direta não havendo canal de acesso nem bacia de evolução. A Companhia de Integração Portuária do Ceará CEARÁPORTOS, empresa responsável pela administração do terminal, possui sede na área do porto, instalando-se em uma edificação de cerca de 1.300 m² de área construída. Existem diversos órgãos públicos, pertencentes às esferas federal e estadual, instalados junto ao porto em questão. No que tange aos órgãos da Administração Pública Federal alojados no Terminal Portuário do Pecém, pode-se citar a Secretaria da 51 Receita Federal; o Ministério da Agricultura; o Ministério da Justiça, representado pela Polícia Federal; o Ministério do Meio-Ambiente, representado pelo Ibama; o Ministério da Saúde, representado pela Vigilância Sanitária e o Ministério da Marinha, representado pela Capitania dos Portos. No que diz respeito aos órgãos da Administração Pública Estadual pode-se relevar a Secretaria da Fazenda e a Secretaria da Agricultura. Conforme CEARÁPORTOS (2004), a concepção do terminal, de buscar águas profundas, bem como preservação das condições ambientais, faz com que as instalações para atracação de navios se localizem a certa distância da costa. Portanto, tornou-se necessária a construção de uma ponte de interligação entre os píeres de atracação e as instalações em terra, cujas características constam na Tabela 4.1. Tabela 4.1: Ponte de acesso aos píeres. Comprimento até o Píer 1 1.789,33 m. Comprimento até o Píer 2 2.142,61 m. Largura da faixa de rolamento 7,20 m. Passeio para pedestre 1,30 m. Suporte para tubulação 6,75 m. Suporte para correia transportadora 6,20 m. Canaleta de serviço para cabos elétricos e cabos óticos 1,10 m x 0,27 m de comunicação, sob o passeio para pedestre. Fonte: CEARÁPORTOS (2004). O Píer 1 foi projetado para operar com carga geral, carga unitizada, assim como produtos siderúrgicos. O Píer 2 foi projetado para operar com granéis líquidos e gases liquefeitos, devendo atender prioritariamente aos produtos derivados de petróleo, álcool anidro e hidratado e o óleo. Nas Tabelas 4.2 e 4.3 são apresentadas as características dos píeres 1 e 2, respectivamente. Tabela 4.2: Píer 1 – píer de produtos siderúrgicos e carga geral. Comprimento 350 m. Largura 45 m. Berços de atracação 02 (dois). Carga máxima admissível 10tf / m². Berço Interno 16 cabeços de 100 tf. Berço Externo 16 cabeços de 150 tf. Profundidade junto aos berços 15,5 m. Profundidade no canal de acesso Variando de 15m a 18m. Profundidade na bacia de evolução Variando de 15 a 16m. Fonte: CEARÁPORTOS (2004). 52 Tabela 4.3: Píer 2 – píer de granéis líquidos e gases liquefeitos. Comprimento 336,56 m. Plataforma de atracação 45m x 32m. Berços de atracação 02 (dois). Ponte de acesso à plataforma 145,96 m Suporte para tubulação 6,20 m. Profundidade junto aos berços Variando de 16m a 17m. Profundidade do canal de acesso Variando de 16m a 20m. Profundidade da bacia de evolução Variando de 16m a 18m 04 (quatro) dolfins de amarração 08 (oito) dolfins de atracação Fonte: CEARÁPORTOS (2004). Junto à ponte de acesso do píer 2, foi construído um píer para os rebocadores que deverão auxiliar os navios nas manobras de atracação, nos píeres 1 e 2. Na Tabela 4.4, são apresentadas as características do píer para rebocadores. Tabela 4.4: Píer de rebocadores. Comprimento Plataforma de operação Berços de atracação Capacidade dos rebocadores Fonte: CEARÁPORTOS (2004). 76,55 m 60,0 m x 12,5 m. 02 ( dois ) até 50 tf de bollard pull Como o porto do Pecém foi projetado para ser um terminal marítimo off shore artificialmente abrigado, foi construído um quebra-mar do tipo berma (rubble mound breakwater), em forma de "L", com comprimento total de 1.768 m. O quebra-mar possui uma forma trapezoidal, com uma parte central construída de argila e pedras fragmentadas de tamanhos variados, e nas laterais inclinadas, pedras de grandes dimensões, com o objetivo de absorver a energia das ondas. O pátio, cuja área é de 380.000 m², foi construído para armazenar bobinas e chapas planas para a usina siderúrgica. O leiaute do pátio permite a armazenagem de contêineres, sendo reservadas áreas especiais para contêineres refrigerados e contêineres vazios. Seu pavimento foi construído com Concreto de Alto Desempenho (CAD), de modo à estrutura resistir às solicitações das cargas gerais e unitizadas. O porto do Pecém possui dois armazéns: um com área coberta do armazém 6.250 m² e outro com área coberta do armazém 10.000 m². Tais instalações foram construídas para atender à movimentação de outras cargas soltas que não podem ficar 53 abrigadas a céu aberto, bem como para serem utilizados nas operações de ova e desova de contêineres. 4.2.3 Descrição dos equipamentos O porto do Pecém possui um conjunto de equipamentos que obedece à lógica apresentada no capítulo 2: equipamentos de embarque e desembarque (guindastes), equipamentos de manuseio (caminhões) e equipamentos de movimentação vertical (empilhadeiras e reach stackers). Na Tabela 4.5, são descritos os equipamentos de carga e descarga, bem como os equipamentos de movimentação vertical, pertencentes ao terminal analisado. Tabela 4.5: Equipamentos utilizados no Terminal Portuário do Pecém. Equipamentos PSO - CTO Tipo de equipamento Quantidade capacidade Vida útil Ano fabricação RS - 01 reach stacker Ferrari 269 1 70 ton 10 anos 2001 RS - 02 reach stacker Ferrari 269 1 70 ton 10 anos 2001 RS - 05 reach stacker Ferrari 269 1 70 ton 10 anos 2003 RS - 06 reach stacker Ferrari 269 1 70ton 10 anos 2003 Empilhadeira Hyster - h-50xm -gás 1 2,5 ton 10 anos 2003 Yale mod. gtp 050r gás 1 2,5 ton 10 anos 2003 Empilhadeira Hyster - h-50xm gás 1 2,5 ton 10 anos 2003 Guindaste Gottvald. mod. hmk 300e 2 100 ton 10 anos 2002 Equipamentos PSO - TERMACO Empilhadeira Milan 1 33 ton 10 anos 1987 Empilhadeira Milan 1 39 ton 10 anos 1987 Empilhadeira Milan 1 12 ton 10 anos 2002 Empilhadeira Milan 1 15 ton 10 anos 2002 Empilhadeira Hyster - mod. h55xm gás 1 2,5 ton 10 anos 1992 Empilhadeira Hyster - nº 03 1 2,5 ton 10 anos 1997 Empilhadeira Hyster - nº 03 1 4,0 ton 10 anos 1997 Empilhadeira Hyster - nº 04 1 4,0 ton 10 anos 1997 Empilhadeira Hyster - nº 05 1 4,0 ton 10 anos 1996 Empilhadeira Hyster - nº 06 1 4,0 ton 10 anos 1991 Equipamentos PSO - CTIL Empilhadeira Top Lander- Hyster ep 33 h1 33 ton 10 anos 1988 diesel Empilhadeira mod. lind nº 01-gás 1 2,5 ton 10 anos 2001 Empilhadeira mod. lind nº 02-gás 1 2,5 ton 10 anos 2001 Empilhadeira Hyster- gás - nº 01 1 2,5 ton 10 anos 1993 Empilhadeira Hyster- gás - nº 02 1 2,5 ton 10 anos 1993 Equipamentos CEARÁPORTOS Guindaste Zpmc mod. mpc 1 35 ton 10 anos 2000 Guindaste Zpmc gsu (descarregador de 1 30 ton 10 anos 2000 minério) 54 No que tange à eficiência operacional de seus equipamentos, o porto do Pecém possui aquilo que há de mais simples na atualidade em movimentação de carga em terminais portuários. Contudo, seu maquinário atende às suas necessidades, pois o volume de cargas movimentado pelo porto ainda é modesto, se comparado a outros terminais de grande porte. 4.2.4 Lógica operacional Com base em visitas de reconhecimento, pôde-se caracterizar a lógica operacional do sistema a ser modelado, que consiste no conjunto de procedimentos a serem realizados para as operações de manuseio. A lógica operacional do porto do Pecém, no que se refere às operações de embarque e desembarque de contêineres, será delineada a seguir. (i) Contêiner no pátio O pátio do terminal portuário do Pecém possui uma capacidade de 15.600 TEU’s, sendo que estes podem ser dispostos da seguinte forma: (a) contêineres cheios: pilha de quatro células; (b) contêineres refrigerados: pilha de duas células; e (c) contêineres vazios: pilhas de seis células. (ii) Colocação do contêiner no caminhão O equipamento do tipo reach stacker retira o contêiner da pilha e o coloca em um caminhão. Caso o contêiner a ser retirado não esteja no topo da pilha, deve haver a remoção das células acima da unidade escolhida, e, em seguida, recolocação dos contêineres na pilha. (iii)Contêiner em trânsito O contêiner colocado no caminhão é transportado do pátio, passando pela ponte e chegando ao píer, esperando pelo momento de embarque. (iv) Contêiner sendo embarcado O contêiner é retirado do caminhão pelo guindaste, sendo embarcado no navio. 55 (v) Contêiner sendo desembarcado Na operação de desembarque, a lógica é análoga à da operação de embarque, ocorrendo na ordem inversa. O guindaste remove uma célula unitizada do navio e a coloca no caminhão. (vi) Remoção A tarefa de remoção consiste na movimentação de contêineres na própria embarcação, ou, em outras palavras, trata-se da redisposição das células unitizadas no navio. Embarcações que farão escalas em terminais à jusante do porto do Pecém podem fazer uma readequação dos contêineres na embarcação, sendo estas movimentações computadas nas estatísticas do terminal. (vii) Contêiner em trânsito O contêiner desembarcado no píer é transportado pelo caminhão, passando pela ponte e chegando ao pátio. (viii) Retirada do contêiner do caminhão Um reach stacker retira o contêiner do caminhão e o coloca em uma pilha do pátio. (ix) Contêiner no pátio Por fim, o contêiner está armazenado no pátio, à espera de ser transportado, via modal rodoviário, para fora do terminal. 4.2.5 Descrição da operação A seguir, será descrita a operação corrente do Terminal do Pecém, no que se refere à movimentação de contêineres. As embarcações chegam ao terminal e, se o berço estiver livre, um prático efetua as manobras de atracação. Existe uma inspeção no navio, cuja duração é de cerca de uma hora, que objetiva verificar, essencialmente, as condições sanitárias da embarcação, a existência de cadáveres ou de tripulantes portadores de doenças contagiosas, assim como o porte de armas ou entorpecentes. 56 Após as inspeções, inicia-se a operação propriamente dita. Prioriza-se a operação de desembarque de contêineres, e, após sua conclusão, inicia-se a operação de embarque. Caminhões com características específicas para o recebimento de contêineres ficam em fila ao lado do guindaste do tipo MHC (Mobile Harbor Crane). O guindaste retira o contêiner da embarcação e, em seguida, o coloca no caminhão, que parte para o pátio para a operação de descarga. É pertinente ressaltar que a atividade de retirada do contêiner do navio é mais demorada do que a da sua colocação no caminhão. A disposição de contêineres em locais de difícil acesso (como, por exemplos, os porões da embarcação), e a trepidação do navio, advinda do movimento ondulatório do mar (efeito conhecido como swell), contribuem para esta diferença dos tempos. No pátio, os caminhões são descarregados pelo reach stacker, existindo uma variabilidade nos tempos desta operação. O tempo de descarregar o primeiro contêiner diretamente no pavimento do pátio é menor, pois o equipamento praticamente lança a célula unitizada a uma altura de trinta a quarenta centímetros do piso. Descarregar um contêiner em cima de outro exige maior cautela por parte do operador, pois choques mecânicos entre duas células podem danificar a integridade dos contêineres. No que se refere à operação de carregamentos de caminhões no pátio, os contêineres que estão no topo da pilha requerem um menor tempo de movimentação. Por exemplo, caso o contêiner que está na base da pilha tenha que ser embarcado, serão necessárias as remoções dos contêineres acima deste para que a célula possa ser colocada no caminhão. Os contêineres removidos, após o carregamento do caminhão, devem ser recolocados em suas posições iniciais do pátio. Os caminhões carregados ficam em fila para serem descarregados pelo guindaste, que retira o contêiner da carreta, colocando-o, em seguida, na embarcação. O tempo de descarga do caminhão é inferior ao tempo de carregamento do navio, pelos motivos já explicitados na operação de desembarque. É importante ressalvar que os 57 tempos de remoção do contêiner do navio para o caminhão e os tempos de remoção do contêiner do caminhão para a embarcação tendem para um mesmo valor, que é de, aproximadamente, três minutos e meio. Existem atividades que não consistem na movimentação de contêineres propriamente dita e que implicam em atrasos na operação. São elas: (a) remoção e recolocação das tampas dos porões da embarcação; e (b) movimentação do guindaste. 4.3 SISTEMA MODELADO Tendo em vista as recomendações constantes no item 4.1, assim como a descrição do funcionamento do terminal realizada no tópico 4.2, desenvolveu-se um modelo matemático, baseado em redes de Petri coloridas. Figura 4.1: Operação de contêineres do Terminal Portuário do Pecém modelada por uma rede de Petri colorida. 58 Nas Tabelas 4.6, 4.7, 4.8 e 4.9 são descritos, respectivamente, os lugares, as transições, as cores e as variáveis do modelo proposto. O código fonte utilizado na concepção do modelo, implementado na linguagem CPNML, consta no Anexo I. Tabela 4.6: Legenda dos lugares da rede apresentada na Figura 4.1. Lugar Descrição P1 Contêineres, no pátio, a serem embarcados. P2 Reach stacker disponível para manuseio de contêineres. P3 Contêineres, no pátio, a serem desembarcados. P4 Caminhão, no pátio, disponível para transporte de contêineres. P5 Contêiner a ser embarcado, em trânsito, no reach stacker. P6 Contêiner a ser desembarcado, em trânsito, no reach stacker. P7 Caminhão, no pátio, pronto para retornar ao píer. P8 Contêiner a ser embarcado, em trânsito, no caminhão. P9 Reach stacker pronto para manobra. P10 Contêiner a ser desembarcado, em trânsito, no caminhão. P11 Contêiner embarcado no navio. P12 Contêiner, no navio, a ser desembarcado. P13 Caminhão, no píer, carregando contêiner para embarque. P14 Guindaste disponível. P15 Caminhão, no píer, carregando contêiner para desembarque. P16 Caminhão, no píer, pronto para retornar ao pátio. P17 Guindaste, após carga ou descarga, pronto para manobra. P18 Caminhão, no píer, pronto para receber contêiner. P19 Contêiner, no navio, a ser removido. P20 Contêiner removido. Transição T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8 T9 T10 T11 T12 T13 Tabela 4.7: Legenda das transições da rede apresentada na Figura 4.1. Descrição TA (s) Reach stacker erguendo contêiner. 10 Reach stacker colocando contêiner no pátio. 27 Reach stacker retornando à posição de manuseio de contêineres. 8 Reach stacker colocando contêiner no caminhão. 27 Reach stacker retirando contêiner do caminhão. 27 Caminhão descarregando transitando do píer para o pátio. 153 Caminhão transportando contêiner do pátio para o píer. 143 Caminhão transportando contêiner do píer para o pátio. 153 Caminhão descarregando transitando do pátio para o píer. 143 Guindaste retirando contêiner do caminhão e colocando-o no navio. 179 Guindaste retornando à posição de manuseio de contêineres. 0 Guindaste retirando contêiner do navio e colocando-o no caminhão. 107 Remoção de contêineres. 183 Em que: TA – tempo mínimo de disparo da transição; e TB – tempo máximo de disparo da transição. TB (s) 36 92 57 92 92 181 176 181 176 260 0 356 370 59 Tabela 4.8: Descrição das cores da rede apresentada na Figura 4.1. Cor Descrição C1 Conjunto de cores relacionado ao contêiner. C2 Conjunto de cores relacionado ao reach stacker. C3 Conjunto de cores relacionado ao contêiner em trânsito no reach stacker. C4 Conjunto de cores relacionado ao caminhão. C5 Conjunto de cores relacionado contêiner em trânsito no caminhão. C6 Conjunto de cores relacionado ao guindaste. Tabela 4.9: Descrição das variáveis da rede apresentada na Figura 4.1. Variável Tipo Descrição Inteiro Identificação do contêiner. c l Inteiro Localização do container no pátio ou no navio. p Inteiro Posição do container na pilha do pátio ou do navio. rs Inteiro Identificação do reach stacker. Inteiro Identificação do caminhão. ca g Inteiro Identificação do guindaste. O modelo desenvolvido objetiva representar a dinâmica operacional da movimentação de contêineres no terminal portuário do Pecém. A adição de cores busca incrementar a verossimilhança do modelo como instrumento refletor da realidade portuária, pois facilita a diferenciação das cargas e dos equipamentos do terminal supracitado. Como se admitiu a dinâmica da operação do porto como condizente com a teoria dos Sistemas a Eventos Discretos (SED), os lugares representam os estados do sistema e as transições os eventos que implicam na mudança de estados. Os conjuntos de cores associados aos lugares especificam as variáveis que podem ser associadas a cada lugar. Por exemplo, no lugar P12, só podem ser armazenadas as variáveis “c”, “l” e “p”. A variável “c” caracteriza o contêiner. O número associado a essa variável pode ser relacionado com um banco de dados que descreva minuciosamente as peculiaridades mais significativas da célula unitizada como, por exemplo, tipo de carga, dono da carga, data de entrada do contêiner no terminal, data prevista de saída da carga do terminal. A variável “l” caracteriza a localização do contêiner no pátio. A carga a ser embarcada encontra-se numa quadra do pátio, assim como a carga a ser desembarcada 60 destina-se a uma determinada quadra do pátio. Pode-se associar cada quadra do pátio a um valor inteiro. A variável “p” caracteriza a posição do contêiner na pilha de armazenagem do pátio. Por exemplo, se p=1, o contêiner é o primeiro da pilha. A variável “rs” caracteriza cada reach stacker. O número associado a essa variável pode ser relacionado com um banco de dados que descreva minuciosamente as peculiaridades mais significativas do equipamento como, por exemplo, características, dono e operador do equipamento. A variável “ca” caracteriza cada caminhão e a variável “g” caracteriza o guindaste. Deve-se proceder analogamente ao que foi proposto para a variável “rs”. Essa diferenciação dos componentes do sistema traz os seguintes benefícios: (a) pode-se avaliar, individualmente, a eficiência de cada equipamento empregado na operação do terminal; e (b) pode-se mensurar o tempo em que cada contêiner foi manuseado. 4.4 VALIDAÇÃO DO MODELO 4.4.1 Discussão conceitual A fase de validação é uma das etapas mais relevantes no processo de modelagem de sistemas, pois ela qualifica um modelo como apto a ser implementado como instrumento de auxílio à tomada de decisões na realidade analisada. A validação é, também, um tema bastante polêmico no meio acadêmico, existindo diversas controvérsias e divergências entre as diversas correntes de pensamento. Deste modo, é oportuna uma discussão mais aprofundada sobre o tema. Shannon (1975) destaca os três principais paradigmas relacionados à validação de modelos: o paradigma racionalista, o paradigma empirista e o pragmatismo absoluto. O pensamento racionalista está estritamente relacionado com a matemática e a lógica. Os racionalistas, usualmente, buscam desenvolver uma hipótese expressa 61 matematicamente, ajustando os fatos observados através de aplicação regras de lógica formal, com o intuito de deduzir diversas conseqüências. Para os racionalistas, o modelo é válido quando se estabelecem equações ou formalismos que demonstram sua validade. O pensamento empirista está na outra extremidade do espectro filosófico. Os empiristas recusam-se a admitir que exista qualquer premissa ou consideração que não possa ser verificada a partir de experimentos ou da análise de dados empíricos. Para os empiristas, o modelo é validado através de comparação experimental entre os resultados do modelo e a realidade. O pragmatismo absoluto é uma corrente de pensamento mais radical. Se o modelo desenvolvido para um determinado objetivo ou uso atende à sua finalidade, então o modelo é válido. Os pragmáticos absolutos não se preocupam com o comportamento interno do modelo, eles vêem apenas as relações entre os dados de entrada e de saída do modelo. Neste trabalho, buscou-se mesclar essas três correntes de pensamento. O formalismo das redes de Petri permitiu a validação lógica do sistema; o resultado das simulações foi contrastado com a realidade através de experimentação; e, por fim, o modelo foi considerado válido por se constituir num instrumento de auxílio à tomada de decisão na gestão do porto do Pecém. Modelos de simulação têm como função ampliar o entendimento do analista sobre o atual funcionamento do sistema modelado e sobre como este se comportaria após intervenções em sua estrutura operacional. Essa compreensão pode ser obtida através da projeção de cenários e da análise de sensibilidade. Fishman e Kiviat (1967) apud Shannon (1975) dividem a avaliação de simulações em três categorias: (a) verificação: assegura que o modelo se comporta de acordo com o intuito do analista do sistema modelado; (b) validação: testa a concordância entre o comportamento do modelo e do sistema real; e (c) análise do problema: concebe inferências estatisticamente significativas geradas a partir de simulações. 62 De acordo com Moldt e Kordon (2003), o termo verificação é freqüentemente confundido com validação. De modo geral, a verificação é a tarefa de checagem do atendimento de um modelo a uma dada especificação. Um modelo é correto se ele preenche todas as propriedades contidas na especificação. A validação é a tarefa de checagem de que um modelo ou sistema satisfaz as expectativas do usuário ou cliente. Outro termo freqüentemente confundindo com validação é a palavra calibração. A calibração consiste no ajuste dos parâmetros de um modelo de modo que este se torne mais representativo da realidade analisada. A calibração é, na verdade, uma fase do processo de validação. Conforme Goldbarg e Luna (2000), a fase de validação do modelo destina-se a comparar seu comportamento com a realidade e, se necessário, atuar sobre seus componentes de modo a aproximar ao máximo o desempenho do modelo ao funcionamento do sistema real. De acordo com Shannon (1975), a validação é o processo de avaliação, para um nível aceitável de confiança do usuário, se qualquer inferência sobre o sistema, derivada de uma simulação, é correta. A relação entre a utilidade de um modelo e o seu grau de validade é ilustrada na Figura 4.2. Pode-se afirmar que a validade de um modelo varia em uma escala de 0 a 1. Na medida que se pretende incrementar a representatividade de um modelo, aumenta-se também o custo da modelagem. Figura 4.2: Relação utilidade versus validade de um modelo. Fonte: Shannon (1975). 63 Um modelo com validade igual a 1 seria uma abstração completamente válida da realidade; contudo, os custos para concepção de um modelo desta natureza, usualmente, não justificariam os benefícios obtidos. Logo, não é a maximização da validade do modelo que deve ser buscada, mas sim a maximização de sua razão benefício/custo. Dependendo da finalidade da modelagem e da natureza do sistema modelado, deve-se buscar um maior grau de validade. Por exemplo, o modelo do protótipo de um satélite deve ser altamente válido, já o modelo do atendimento de um supermercado não necessita ser tão preciso. Como especificações ou modelos podem ser validados? Segundo Moldt e Kordon (2003), existem diferentes soluções quando se usam redes de Petri: (a) observação e inspeção das propriedades estáticas da rede, no caso de redes não executadas; (b) simulação e observação, inspeção de cobertura, avaliação de desempenho, julgamento, teste, correção e diagnóstico; (c) animação; e (d) geração e execução de código. Sendo assim, pode-se ressaltar a potencialidade das redes de Petri como técnica de análise de sistemas, principalmente no que se refere à validação de modelos. 4.4.2 Avaliação do modelo O modelo constante no item 4.3 foi concebido gradualmente, passando por diversos ajustes até chegar à sua versão final. As visitas de reconhecimento ao porto do Pecém foram imprescindíveis para esse processo, principalmente no que se refere à adição e remoção de lugares na rede. Os tempos aferidos in loco trouxeram uma maior compreensão do processo de passagem de estados do sistema, isto é, das ocorrências de eventos. Ao longo dos estágios da modelagem, foram realizadas diversas simulações, sob a forma de animação, com o intuito de observar o funcionamento do modelo. Essas simulações possibilitaram a detecção de falhas e incoerências no modelo. 64 No item 4.5, onde são apresentados e analisados os resultados obtidos nas simulações, as saídas do modelo são avaliadas e comparadas com o sistema real. 4.4.3 Análise das propriedades comportamentais da rede A seguir, são analisadas as propriedades comportamentais da rede modelada. (i) Reiniciabilidade A rede não é reiniciável, pois não existe nenhuma marcação a ser alcançada que permita o retorno à marcação inicial. A não verificação desta propriedade corrobora com os princípios empregados na modelagem proposta. As fichas representam, em essência, equipamentos e contêineres. Se os contêineres vão sendo removidos da embarcação para o pátio ou vice-versa, não é desejável que o sistema volte ao seu estado inicial. Se isso ocorresse, todos os contêineres retornariam para seus lugares de origem (navio ou pátio), o que seria um absurdo. (ii) Vivacidade A rede não é viva, pois no término da operação de embarque e desembarque, o sistema entra em bloqueio. Como se partiu da premissa de que, a partir do momento que toda carga fosse manuseada, o sistema pararia de operar, a ausência da vivacidade é coerente com os princípios empregados no processo de modelagem. (iii)Limitação A limitação depende da marcação da rede. A verificação da limitação é de suma importância para a constatação da coerência do modelo, pois a partir da análise dessa propriedade pode-se avaliar se existe algum erro na rede que está produzindo ou excluindo fichas de modo não condizente com o modelo idealizado. 65 Verificou-se a limitabilidade na rede modelada no software CPNtools e viu-se que ela era coerente com as marcações utilizadas. 4.5 SIMULAÇÃO DE CENÁRIOS, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS OBTIDOS Com base nos dados da operação do navio Urca, que foi atendido no porto do Pecém no dia 12 de janeiro de 2006, foi realizada uma simulação computacional, denominada cenário 1, com o intuito de avaliar o desempenho do sistema. Foram considerados como dados de entrada do cenário inicial: (a) 47 contêineres a serem desembarcados; (b) 31 contêineres a serem embarcados; (c) 2 reach stackers; e (d) 10 caminhões. A operação do Porto do Pecém é de responsabilidade de empresas privadas, não tendo sido possível a obtenção de dados relativos aos planos de embarque e desembarque de contêineres. Deste modo, foram atribuídos valores unitários às variáveis “c”, “l” e “p”, já que estas não afetam na simulação propriamente dita. Admitiu-se que o tempo de ocorrência dos eventos fosse equivalente à média entre o tempo mínimo e o tempo máximo de disparo das transições. É oportuno relembrar que estes tempos estão ilustrados na Tabela 4.7. O sistema real movimentou, em média, treze contêineres por hora, enquanto, no modelo, o porto movimentou, em média, 15,2 contêineres por hora. O tempo de operação do Urca, na data supracitada, foi de 6 horas, e, em contrapartida, o tempo de operação obtido pelo modelo foi de 5,11 horas. Essa discrepância de 14,8%, entre o tempo real e o tempo simulado, pode ser justificada pelos seguintes fatores: (a) não foram consideradas as operações de retirada e recolocação das tampas dos porões da embarcação; (b) não foi modelada a atividade de movimentação do guindaste; não foram considerados outros tipos de paralisações. Os tempos de retirada e de recolocação da tampa de um porão do navio, somados, tendem ao valor de três minutos; já o tempo de movimentação do Mobile 66 Harbor Crane aproxima-se de oito minutos. Pode-se perceber que as interrupções consomem parcelas significativas do tempo de operação. O modelo representa uma operação ideal, em que não ocorrem interrupções. A movimentação de contêineres no terminal portuário do Pecém não é contínua, devido à ocorrência de paralisações. O modelo, portanto, não representa fielmente a realidade; contudo, a modelagem é válida no sentido de avaliar o desempenho do porto no que se refere à quantidade de contêineres a serem movimentados e às frotas de equipamentos alocadas. A seguir, apresenta-se um exemplo de como aplicar o modelo proposto na análise de eficiência do terminal, assim como no dimensionamento de frotas. Por taxa de utilização entende-se a razão entre o tempo em que um recurso passa sendo efetivamente usado e o tempo total de operação do sistema. Na Tabela 4.10, são ilustradas as taxas de utilização dos equipamentos no cenário 1. Tabela 4.10: Taxas de utilização dos equipamentos empregados para o cenário 1. Equipamento Tempo de operação (h) Taxa de utilização (%) Reach satcker 1 4,79 88,3 Reach satcker 2 4,78 85,8 Caminhão 1 3,58 61,4 Caminhão 2 4,50 79,1 Caminhão 3 4,70 89,1 Caminhão 4 5,00 82,9 Caminhão 5 4,69 88,7 Caminhão 6 4,89 88,0 Caminhão 7 5,13 95,1 Caminhão 8 5,08 94,7 Caminhão 9 4,84 96,4 Caminhão 10 4,63 79,3 Guindaste 1 5,30 97,0 Com base nas taxas de utilização apresentadas na Tabela 4.10, pode-se ressaltar que o guindaste é o equipamento que governa a operação do terminal. Esse resultado corrobora com o modelo proposto, pois condiz com a realidade observada nas visitas de reconhecimento. 67 Os caminhões, apesar de apresentarem altas taxas de utilização, possuem, neste cenário, ociosidade acentuada. Na animação do modelo, pode-se perceber que os caminhões passam a maior parte do tempo à espera de atendimento de outros equipamentos do que efetivamente em operação. Essa característica do modelo também condiz com a realidade observada nas visitas de campo. A frota de dez caminhões foi bastante elevada para a operação do Urca, implicando numa operação extremamente ineficiente. Cenários foram simulados reduzindo-se, paulatinamente, o número de caminhões alocados. Na Tabela 4.11 são ilustrados os resultados destas simulações. Tabela 4.11: Análise de sensibilidade da variável quantidade de caminhões no desempenho do sistema. Variação no tempo de Frota de caminhões Tempo de operação (h) total de operação (%) 10 5,14 0 8 5,14 0 6 5,14 0 4 5,14 0 2 6,83 32,8 Com base nos resultados obtidos pelo modelo, pode-se constatar que uma frota composta por apenas quatro caminhões seria suficiente para a operação analisada. É pertinente ressaltar que o tempo total de operação do sistema não varia utilizando-se dos quatro, seis oito ou dez caminhões. 68 CAPÍTULO 5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 5.1 INTRODUÇÃO A presente monografia derivou de uma pesquisa cuja finalidade era o desenvolvimento de um modelo de avaliação de desempenho operacional de terminais portuários de carga unitizada, enfocando as operações de embarque e desembarque de contêineres em navios. Tendo em vista que um porto pode ser considerado com um Sistema a Eventos Discretos, o modelo desenvolvido foi baseado em redes de Petri coloridas, sendo aplicado ao caso do Terminal Portuário do Pecém, situado no Estado do Ceará. Este capítulo tem por objetivo destacar a relevância e a originalidade do modelo proposto, assim como os benefícios obtidos com sua aplicação. O capítulo em questão também explicita as limitações da modelagem apresentada, tecendo recomendações para o aprimoramento do modelo. 5.2 RELEVÂNCIA, ORIGINALIDADE E RESULTADOS DO MODELO 5.2.1 Importância do modelo desenvolvido A metodologia, apresentada neste trabalho, para avaliação de desempenho operacional de terminais portuários de carga unitizada, mostrou-se de grande valia para a gestão de portos. Os sistemas portuários são, além de complexos, onerosos em sua operação. As economias de escala resultantes de um planejamento rígido das atividades portuárias justificam os esforços direcionados para uma maior compreensão e controle da dinâmica dos sistemas portuários. É oportuno destacar que a avaliação de desempenho deve ocorrer nos diversos níveis do planejamento portuário. Pouco adianta avaliar as operações de embarque e desembarque de contêineres sem, por exemplo, avaliar a eficiência de um terminal em sua totalidade. Deste modo, as avaliações de desempenho nos níveis operacional, tático e estratégico, não são concorrentes, mas sim complementares. 69 5.2.2 Originalidade da modelagem apresentada É imprescindível ressaltar que, na revisão bibliográfica que deu suporte a este trabalho, assim como em buscas feitas na internet, não foi encontrado nenhum trabalho que utilizasse as redes de Petri coloridas para a modelagem de terminais portuários. Sendo assim, pode-se constatar que o presente trabalho é original, constituindo-se como uma pequena contribuição científica para a área de Planejamento e Operação de Sistemas de Transportes. Enquanto as modelagens correntes de simulação consideram as variáveis do sistema de uma forma agregada, o emprego das redes de Petri coloridas permite o acompanhamento de diversas variáveis, tais como localização dos contêineres, tempo de movimentação de cada célula unitizada e diferenciação dos equipamentos, de uma forma concisa. O formalismo matemático característico à técnica supracitada, também é um diferencial no modelo desenvolvido neste trabalho, no tocante à utilização de outras metodologias de simulação. A análise de propriedades estruturais e comportamentais pode propiciar ao analista uma maior compreensão da realidade modelada. 5.2.3 Resultados obtidos pelo modelo A modelagem proposta apresenta diversos aspectos relevantes, dentre os quais podem ser destacados: (i) Através da modelagem efetuada obteve-se uma maior compreensão da dinâmica da operação de um terminal portuário de carga unitizada, em que a operação do sistema portuário pôde ser acompanhada a cada instante, ao contrário do que ocorre com outros modelos de simulação; (ii) A aplicação ao caso do Terminal Portuário do Pecém mostra que o modelo proposto pode ser empregado no dimensionamento e caracterização de frotas de equipamentos de movimentação e transporte, trazendo ganhos à produtividade portuária; 70 (iii) O modelo proposto não se restringe à operação de contêineres, podendo também ser empregado na simulação operacional do manuseio de outros tipos de carga unitizada; e (iv) A modelagem pode ser aplicada, após ajustes, a qualquer terminal portuário de carga unitizada. No que diz respeito à aplicabilidade do modelo proposto, podem ser feitos os seguintes comentários. Apesar da teoria das redes de Petri coloridas estar calcada em um arcabouço matemático complexo, exigindo um elevado grau de conhecimento do assunto, por parte do analista, para a tarefa de modelagem, manusear um modelo já estabelecido não se caracteriza como uma atividade difícil. O software CPNTools, editor de redes de Petri coloridas utilizado nesta monografia, possui uma interface orientada a objetos bastante amigável e de manuseio simples para usuários correntes de microcomputadores. Tal fato torna plenamente plausível o emprego do modelo proposto no planejamento da operação de terminais portuários. Para que tal utilização se concretize, basta a realização de um treinamento do corpo técnico do terminal para que este possa realizar, com autonomia, simulações de modo a subsidiar a tomada de decisão na gestão do porto. 5.3 LIMITAÇÕES DO MODELO PROPOSTO O modelo apresenta algumas limitações intrínsecas ou que decorreram de simplificações no escopo da pesquisa, dentre as quais pode-se ressaltar: (i) Não foram consideradas, no modelo, as atividades de manuseio das tampas dos porões das embarcações, as atividades de preparação dos guindastes, tampouco outros tipos de paralisações; (ii) O modelo proposto restringiu-se a modelar as operações entre o pátio e o píer, relativas ao embarque e desembarque de contêineres. Outros segmentos da atividade portuária, tais como entrada e saída de cargas no terminal via ramais rodoviários e ferroviários, inspeções alfandegárias, armazenagem de cargas em depósitos e movimentação de granéis sólidos e líquidos, não foram contemplados; 71 (iii) Não foi feita uma avaliação econômica dos cenários de operação, fator extremamente limitante para a escolha do melhor cenário operacional; e (iv) O modelo é determinístico, em que as incertezas não são consideradas. 5.4 PROPOSIÇÕES PARA FUTUROS ESTUDOS Tendo em vista os promissores resultados que podem advir da aplicação das redes de Petri em portos, sugere-se a aplicação desta técnica na modelagem de outros tipos de terminais de transportes, tanto de carga como de passageiros. Uma pesquisa complementar a esta monografia seria uma modelagem do Terminal Portuário do Pecém baseada nas redes de Petri estocásticas. O ajuste de funções de densidade de probabilidade às transições poderia ser um incremento substancial de verossimilhança da realidade representada. Um maior volume de dados é requerido para uma melhor compreensão da natureza probabilística das operações de um porto. O conhecimento acerca do processo de chegada de navios ao píer do porto é de suma relevância para o cálculo da taxa de ocupação; portanto, sugere-se agregar essa atividade ao modelo desenvolvido nesse trabalho. Devem ser adicionadas, ao modelo, as atividades de retirada e recolocação das tampas dos porões das embarcações e de movimentação dos guindastes, assim como de outros tipos de interrupções das atividades de manuseio de contêineres. Uma definição das composições de custos de operação dos equipamentos do Porto do Pecém é de suma importância para a aplicação de estudos de simulação voltados para a gestão contínua do terminal. Sendo assim, propõe-se um estudo que objetive a quantificação das composições de custos operacionais do terminal supramencionado. Partindo-se da premissa de que o comportamento do Porto do Pecém não é satisfatório, ele pode ser modificado através de controle. A modificação do comportamento de um sistema pode ser realizada pela restrição do seu funcionamento a 72 um subconjunto do conjunto de eventos passíveis de ocorrência no sistema não controlado. Os conceitos da Teoria do Controle Supervisório (TCS) podem ser aplicados no planejamento e no controle das atividades portuárias, evitando a ocorrência de situações indesejáveis como, por exemplo, acidentes, congestionamentos e elevados tempos de espera. Sugere-se, portanto, o emprego da TCS no âmbito do Terminal Portuário do Pecém. 73 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANTAQ (2003) Indicadores de desempenho portuário - sistema permanente de acompanhamento de preços e desempenho operacional dos serviços portuários: cartilha de orientação. Brasília. Arruda, J.B.F. e Bastos, M.M.M. (2001a) Instrumentos estratégicos para o Desenvolvimento Regional. Revista Econômica do Nordeste.V.32. Arruda, J.B.F. e Bastos, M.M.M. (2001b) Contribuição para a definição de uma política orientada para o desenvolvimento socioeconômico nacional em uma economia globalizada: o caso do subsetor portuário brasileiro. Transportes – experiências em rede, p. 35-57. FINEP. Ballou, R. H. (2001) Logística Empresarial, Editora Atlas, São Paulo. Barros, J.P.M.P (2001) Introdução à modelação de sistemas utilizando redes de Petri. Instituto Politécnico de Beja. Escola Superior de Tecnologia e Gestão. Portugal. Berthomieu, B. e Diaz, M. (1991), Modeling and Verification of Time Dependent Systems Using Time Petri Nets. IEEE Transactions on Software Enginering, Vol. 17, No. 3. Bogossian, M.P. (1983) Modelo de análise para a operação portuária de carga geral. PORTOBRÁS. Rio de Janeiro. Cardoso, J. e Valette, R. (1997), Redes de Petri. Ed. UFSC. Florianópolis. 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International Journal of Production Economics 59, 221-230. 77 ANEXOS 78 ANEXO I CÓDIGO FONTE DO MODELO DESENVOLVIDO Standard declarations colset INT = int; var c,l,p,rs,ca,g:INT; colset C1 = product INT*INT*INT timed; colset C2 = INT timed; colset C3 = product INT*INT*INT*INT timed; colset C4 = INT timed; colset C5 = product INT*INT*INT*INT timed; colset C6 = INT timed; colset C7 = INT;