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Trabalho 189
CAUSAS DE ABANDONO DO TRATAMENTO DA TUBERCULOSE EM UMA
UNIDADE DE SAÚDE DE ANANINDEUA-PA
NASCIMENTO, Denise Régia Silva do1; SÁ, Antonia Margareth Moita2; ALMEIDA, Marcandra
Nogueira de3; NASCIMENTO, Márcia Helena Machado4; TEIXEIRA, Elizabeth5; IMBIRIBA, Margareth
Maria Braun Guimarães6.
Esta pesquisa teve como objeto de estudo as causas do abandono do tratamento da tuberculose (TB). A
TB é uma doença infecto-contagiosa que apresenta características sociais e demográficas. É mais
encontrada nos grandes centros, onde a densidade populacional é alta, e está frequentemente associada a
indicadores sociais de pobreza, como exclusão social, baixo nível educacional e habitacional, desnutrição,
dificuldade de acesso aos serviços básicos de saúde, alcoolismo e também a doenças associadas, como a
infecção pelo HIV(1). Tão antiga quanto a humanidade, a tuberculose (TB) sempre esteve, e ainda está,
entre as mais importantes questões de saúde pública em todo o mundo. Seu controle é responsabilidade
dos serviços públicos de saúde, gestores das políticas e das ações permanentes de prevenção, diagnóstico
e tratamento da TB. No entanto esse papel não deve ser delegado exclusivamente ao Estado. O futuro da
tuberculose está nas mãos de toda a sociedade, que deve empreender esforços imediatos, reais e efetivos
para controlá-la. Caso contrário, a doença, que há mais de meio século é diagnosticada e tratada
eficazmente, pode voltar a ser incurável(2). O tratamento da tuberculose pode ser auto-administrado ou
supervisionado e requer ingestão regular diária de medicamentos durante seis meses, sendo o seu
abandono considerado um dos mais sérios problemas para o controle da doença em todo o mundo.
Existem vários níveis de abandono de tratamento, que vão desde a total recusa ou do uso irregular das
drogas até o não cumprimento da duração do tratamento. Geralmente os fatores associados ao abandono
estão relacionados ao doente, a modalidade do tratamento empregado e ao serviço de saúde (3). O
abandono do tratamento implica na persistência da fonte de infecção, no aumento dos custos do
tratamento e das taxas de mortalidade e de recidiva, além de facilitar o desenvolvimento de cepas de
bacilos resistentes aos tuberculostáticos. Pesquisas já realizadas revelaram estão associados ao abandono
fatores como a falta de informação, representações negativas relacionadas à doença e ao tratamento, o
etilistmo, o tabagismo, uso de drogas ilícitas, crença de obtenção de cura através da fé, a intolerância
medicamentosa, a regressão dos sintomas após início da terapêutica, o longo tempo de tratamento e
problemas relacionados ao trabalho desenvolvido por profissionais de saúde (4). A desistência do
tratamento contra a TB é freqüente, tornando-se um sério problema no Brasil. Estudos realizados no país
referem índices de abandono que variam de 38% a 42%, sendo estas taxas extremamente elevadas, uma
vez que o Ministério da Saúde preconiza como aceitável apenas 5% de abandono. Considera-se
abandono, o doente que, estando em tratamento auto-administrado, deixou de comparecer à Unidade de
Saúde por mais de 30 dias consecutivos, após a data aprazada para o seu retorno (5). Assim, o objetivo do
estudo foi identificar e analisar as causas do abandono do tratamento da tuberculose pelos usuários
assistidos em uma Unidade de Saúde do município de Ananindeua-PA. O enfoque utilizado na
metodologia foi o qualitativo do tipo descritivo, através do qual todos os sujeitos são igualmente dignos
Enfermeira pela Universidade do Estado do Pará- UEPA. 2Enfermeira, Doutora em Enfermagem pela Escola de Enfermagem
Ana Nery - RJ, Docente da Universidade do Estado do Pará-UEPA e do Mestrado Associado em Enfermagem UEPA-UFAM.
3
Enfermeira, Mestranda do Mestrado Associado em Enfermagem-UEPA/UFAM, Especialista em Gestão de Serviços de Saúde
e Administração Hospitalar. Contato: [email protected]. 4Enfermeira, Mestranda do Mestrado Associado em
Enfermagem-UEPA/UFAM, Especialista em Enfermagem Pediátrica –UEPA e Docência do Ensino Superior – UFPA. Docente
da Universidade do Estado do Pará UEPA. 5Enfermeira Doutora em Ciências Sócio-Ambientais – Docente da Universidade do
Estado do Pará – UEPA. Coordenadora do Mestrado Associado em Enfermagem UEPA/UFAM. 6Enfermeira, Especialista em
Epidemiologia para Gerencia do serviço em Saúde, Docente da Universidade do Estado do Pará-UEPA, Mestranda do Curso
de Mestrado Associado em Enfermagem-UEPA/UFAM.
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de estudo, e todos os seus pontos de vista são relevantes. A pesquisa com enfoque qualitativo descritivo
“se preocupa em analisar e interpretar aspectos mais profundos, descrevendo a complexidade do
comportamento humano(6). O local de desenvolvimento da pesquisa foi a Unidade Municipal de Saúde da
Cidade Nova 4, localizada no município de Ananindeua, conjunto Cidade Nova 4, WE 41, na qual os
serviços funcionam de segunda a sexta-feira, nos horários das 08h às 12h e das 13:30h às 17h, sendo os
espaços compostos por consultórios médico e de enfermagem, laboratório, sala de imunização, sala de
curativos, dentre outros. Os sujeitos da pesquisa foram indivíduos portadores de TB que abandonaram o
tratamento e retornaram para iniciá-lo. Os critérios de inclusão foram ser maior de 18 anos, ter pelo
menos um abandono préveo de tratamento e aceitar participar do estudo. A abordagem aos sujeitos foi
realizada no dia da consulta de enfermagem, individualmente após esta. Na ocasião foram devidamente
esclarecidos os aspectos sobre a pesquisa, principalmente no que dizia respeito aos objetivos do estudo,
ao sigilo das informações construídas e a liberdade de optar por sua participação ou não. Por seguir as
recomendações da resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, a pesquisa recebeu aprovação do
Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Estado do Pará em 14 de outubro de 2010, sob o
protocolo de número 0057.0.321.000-10. Os dados foram coletados a partir de uma entrevista semiestruturada nos meses de setembro e outubro de 2010. A análise baseou-se na técnica de análise de
conteúdo descrita por Bardin e considerou três etapas: pré-análise, descrição analítica e interpretação
referencial. Os resultados evidenciaram três grandes categorias: O conhecimento dos pacientes sobre a
tuberculose e seu controle; Motivos que levaram o paciente a abandonar o tratamento e; A equipe de
saúde como estimuladora da adesão ao tratamento da TB. Na primeira categoria constatou-se que o
conhecimento dos pacientes sobre a doença e seu controle era incompleto ou inadequado, fato que
contribuiu enormemente para o abandono do tratamento. A segunda categoria mostrou que entre os
motivos que levam o paciente a abandonar o tratamento estão falta de informação relacionada à doença, o
tabagismo e alcoolismo, a crença da obtenção de cura através da fé, a intolerância aos medicamentos,
problemas socioeconômicos e regressão dos sintomas no início da terapêutica. Na terceira categoria foi
possível notar que, existiram aspectos relacionados à equipe de saúde e que contribuíram para o abandono
do tratamento pelos pacientes, como a ausência de informação e estímulo, a não promoção da privacidade
para o diálogo, a falta de empatia por parte do profissional e outros. Assim, as causas do abandono do
tratamento da TB são diversas, estando ligadas ao paciente, ao tratamento e à equipe de saúde. Este
evento abandono vem sendo combatido de forma enfática, principalmente nos países responsáveis pelas
maiores taxas de casos de TB. E como parte integrante desta luta, em 1993, a Organização Mundial de
Saúde (OMS) passou a recomendar o emprego da estratégia do Tratamento Diretamente Observado, que
visa à tomada regular e sistemática dos medicamentos através da supervisão direta de um observador (7).
Contudo, a implantação desta estratégia por si só não garantirá o sucesso do tratamento, visto que outros
fatores, como citados anteriormente, podem contribuir para a ineficácia do controle da doença. A
Enfermagem assumindo responsabilidades em conjunto com pacientes, autoridades políticas, serviços de
saúde de uma maneira geral, tem papel importantíssimo para o controle da doença, visto que na prática
atua diretamente sobre o diagnóstico e tratamento de casos. Contudo, atua não apenas para o processo de
intervenção terapêutica, mas interage com a realidade social dos doentes, com seus interesses, suas
relações familiares e suas necessidades, estabelecendo vínculos que por vezes tornam-se fragilizados quer
seja por fatores relacionados aos profissionais, ou aos pacientes, ou mesmo aos serviços de saúde. Assim,
é necessário que todos nós repensemos nossas posturas e atitudes frente a esta doença, que ainda
representa uma grande ameaça à saúde pública.
DESCRITORES: Tratamento; Tuberculose.
EIXO TEMÁTICO: Interfaces da ciência de enfermagem, em tempos de interdisciplinaridade, com a
transculturalidade e a cidadania.
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ÁREA TEMÁTICA: 1 – Processo de cuidar em Saúde e Enfermagem.
REFERÊNCIAS:
1.
Vieira, DEO; Gomes, M. Efeitos adversos no tratamento da tuberculose: experiência em serviço
ambulatorial de um hospital-escola na cidade de São Paulo. J. bras. Pneumol. 2008; 34(12): 1049-55.
2.
Pereira, JC. O processo saúde-doença e suas interpretações. Rev. Med. 1982; 15(1): 5-11.
3.
Ferreira, SMB; Silva, AMC; Botelho, C. Abandono do tratamento da tuberculose pulmonar em
Cuiabá-MT. J. bras. Pneumol. 2005; 31(5): 427-35.
4.
Sa, LD. Tratamento da tuberculose em unidades de saúde da família: histórias de abandono. Texto
contexto enferm. 2007; 16(4): 712-18.
5.
Rouquaryoul, M; Epidemiologia e Saúde. Rio de Janeiro (RJ): Guanabara Koogan; 2003.
6.
Marconi, L. Metodologia do trabalho científico. São Paulo (SP): Atlas; 2004.
7.
Vendramini, S; Villa, T; Palha, P. Tratamento supervisionado no controle da tuberculose em uma
unidade de saúde de Ribeirão Preto: a percepção do doente. Boletim Pneumol. Sanit. 2002; 10(1): 5-12.
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