UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO - UERJ FACULDADE DE GEOLOGIA - FGEL PROGRAMA DE RECURSOS HUMANOS DA ANP PARA O SETOR PETRÓLEO E GÁS CONVÊNIO ANP/ MCT/ UERJ/ FGEL PRH-17 PETROGRAFIA DAS ROCHAS SILICICLÁSTICAS DA FORMAÇÃO URUCUTUCA, BACIA DE ALMADA / PORÇÃO EMERSA - BA CANDIDA MENEZES DE JESUS ORIENTADOR: Prof. PEDRO DE CESERO ii PETROGRAFIA DAS ROCHAS SILICICLÁSTICAS DA FORMAÇÃO URUCUTUCA, BACIA DE ALMADA / PORÇÃO EMERSA – BA CANDIDA MENEZES DE JESUS DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO PROGRAMA DE PÓSGRADUAÇÃO EM ANÁLISE DE BACIAS E FAIXAS MÓVEIS DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO COMO REQUISITO PARCIAL À OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS. ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: ANÁLISE DE BACIAS ORIENTADOR: Prof. Pedro De Cesero APROVADA POR: Prof. Luiz Carlos Bertolino Dr. Rogério Schiffer de Souza Prof. Dr. Sérgio Bergamaschi RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL AGOSTO - 2004 iii FICHA CATOLOGRÁFICA JESUS, CANDIDA MENEZES Petrografia das Rochas Siliciclásticas da Formação Urucutuca, Bacia de Almada / Porção Emersa - BA [Rio de Janeiro] 2004. XV, 134 p. 29,7 cm (Faculdade de Geologia - UERJ, Programa de PósGraduação em Análise de Bacias e Faixas Móveis, 2004). Dissertação de Mestrado - Universidade do Estado do Rio de Janeiro, realizada na Faculdade de Geologia. 1. Petrografia, Proveniência e Diagênese. I- FGEL/UERJ II - Título (série) iv AGRADECIMENTOS A autora agradece especialmente ao seu orientador, professor Pedro de Cesero por sua ajuda durante o desenvolvimento deste trabalho. Agradece também à Agência Nacional do Petróleo – ANP e à Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP – por meio do Programa de Recursos Humanos da ANP para o Setor Petróleo e Gás – PRH-ANP/MCT, por proverem os recursos necessários ao desenvolvimento desta pesquisa. DEDICATÓRIA Dedico esta dissertação de mestrado a Fábio Nunes Ferreira, por seu apoio e incentivo nos momentos mais difíceis. “Diversity of opinion about a work of art shows that the work is new, complex and vital. When critics disagree, the artist is in accord with himself. We can forgive a man for making a useful thing as long as he does not admire it. The only excuse for making a useless thing is that one admires it intensely. All art is quite useless.” Oscar Wilde – The Picture of Dorian Gray v RESUMO Este trabalho compreende o estudo petrográfico de proveniência e diagênese dos arenitos e conglomerados cretácicos da Formação Urucutuca, que ocorrem na porção emersa da Bacia de Almada. Estas rochas representam sedimentos de maré e fluxos turbidíticos depositados em um ambiente de estuário, no Cretáceo Superior. As amostras foram separadas em três classes granulométricas: conglomerados e arenitos grossos; arenitos médios; e arenitos finos a muito finos, e foram caracterizadas quanto a sua composição detrítica e evolução diagenética. Composicionalmente estas rochas são arcósicas, sendo os K-feldspatos, quartzo monocristalino, fragmentos de rochas plutônicas e gnáissicas os seus principais constituintes. A proveniência destas rochas corresponde ao ambiente de embasamento soerguido, na classificação de Dickinson (1985). Neste ambiente, uma das principais fontes de material sedimentar para as rochas da Formação Urucutuca foi a Suíte Intrusiva Itabuna, composta por rochas graníticas alcalinas, sem metamorfismo nem deformação. As demais áreas contribuíram principalmente com fragmentos de quartzo monocristalino e de rochas gnáissicas. A área-fonte provavelmente apresentava um relevo bastante elevado nas proximidades da bacia de deposição, o que possibilitou a preservação de alguns fragmentos bastante instáveis sob condições intempéricas. Os processos diagenéticos de substituição e dissolução modificaram a composição original das rochas da Formação Urucutuca. Os feldspatos, fragmentos líticos finos, minerais acessórios e bioclastos foram os mais afetados por estes processos. Entretanto, as modificações diagenéticas não foram suficientemente fortes para alterar significativamente a razão quartzo/feldspato e, conseqüentemente, a composição original arcósica. O principal evento de cimentação destas rochas ocorreu na eodiagênese, sendo que a partir da precipitação inicial de anidrita, dolomita ou calcita, os arenitos desenvolveram sete paragêneses distintas. A variação na composição das paragêneses foi controlada pela oscilação da maré dentro de um ambiente de estuário. A mesodiagênese está representada pela ocorrência restrita de feldspatos albitizados e pela compactação mecânica por soterramento. Posteriormente, houve um soerguimento da porção proximal da bacia, que expôs estas rochas a processos de telodiagênese continental, que geraram a dissolução parcial de alguns constituintes do arcabouço e a precipitação de caulinita nos poros. A cimentação precoce, aliada a um arcabouço de composição muito resistente, ajudou a evitar a perda total de porosidade por compactação durante o soterramento. A cimentação não fechou por completo os poros das rochas, e foi seguida por um evento importante de geração de porosidade secundária. Estes fatores combinados conferem aos depósitos siliciclásticos da Formação Urucutuca um bom potencial para reservatórios de petróleo. vi ABSTRACT This work involves a petrographic study with emphasis on provenance and diagenesis of the Cretaceous siliciclastic rocks of the Urucutuca Formation, which occur within the onshore potion of the Almada Basin. These rocks represent tidal sediments and turbiditic flows deposited on an estuarine environment during Late Cretaceous. The samples were divided in to three grain size classes: coarse grained sandstones and conglomerates; medium grained sandstones; and fine/very fine grained sandstones. They were characterized according to their detrital composition and diagenetic evolution. Sandstones and conglomerates are classified as arkoses, and K-feldspar, monocrystalline quartz and plutonic/gneissic rock fragments are their most important constituents. The provenance of these rocks is correlated with a uplifted basement environment according to Dickinson’s classification (1985). One of the major sources for the Urucutuca siliciclastic rocks were alkaline granitic rocks, of the Suite Intrusiva Itabuna. The other areas provided mainly monocrystalline quartz and gneissic rock fragments. This source areas probably presented a very high relief near to the deposition basin, what permitted the preservation of some fragments that are unstable under weathering conditions. Framework grain replacement and dissolution during diagenesis slightly changed the original composition of the Urucutuca siliciclastic rocks. Feldspars, finecrystalline lithic fragments, accessory minerals and carbonate bioclasts were the most affected constituents. However, the diagenetic processes were not strong enough to change substantially the quartz/feldspar rate and, consequentially, the original arkosic framework composition. The rock’s major cementation event occurred early, forming anhydrite, dolomite or calcite. After the initial precipitation, eodiagenesis controlled the following pathways, divided into seven distinct paragenesis. Variation in the paragenesis composition was mainly controlled by the tide oscillation in an estuarine environment. Mesodiagenesis is represented by local feldspar albitization and mechanical compaction during late burial. Afterwards, the proximal portion of Almada Basin was uplifted and its rocks were exposed to continental telodiagenetic processes that caused partial framework grain dissolution, and kaolinite precipitation in the pore space. Not only the early cementation but also the framework brittle composition helped to prevent total porosity loss during burial. Where the cementation processes was incomplete secondary porosity generation was an important diagenetic process. All these factors together played crucial control on the quality of the Urucutuca rocks as potential petroleum reservoirs. vii ÍNDICE Agradecimentos e Dedicatória iv Resumo v Abstract vi Índice vii Lista de tabelas viii Lista de Figuras ix 1. Introdução 01 2. Métodos 04 2.1 Petrologia Sedimentar 05 2.1.1. Componentes Detríticos 05 2.1.2. Composição, Proveniência e Ambientes Tectônicos dos Arenitos 13 2.1.3. Diagênese dos Arenitos 16 3. Contexto Geológico Regional 32 3.1. Geologia do Embasamento da Bacia de Almada 32 3.2. A Bacia de Almada e sua Evolução Tectono-Sedimentar 34 3.3. Estratigrafia da Bacia de Almada 39 4. Fácies Sedimentares e Ambientes Deposicionais 45 5. Aspectos Petrográficos dos Arenitos e Conglomerados 54 5. 1. Composição Detrítica 5. 1.1. Classificação dos Arenitos 5. 2. Minerais Diagenéticos 54 71 78 5. 2. 1. Sulfatos 79 5. 2. 2. Carbonatos 85 5. 2. 3. Outros Constituintes Diagenéticos 98 viii 5. 3. Macroporosidade 108 6. Discussão dos Resultados 115 7. Conclusões 128 8. Bibliografia 131 9. Anexos 134 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Classificação dos tipos de grãos de areia. (Dickinson, 1985) 14 Tabela 2. Fatores que favorecem (1) a preservação versus (2) a destruição da porosidade primária e (3) a formação de porosidade secundária (adaptado de Tucker, 1991). 30 Tabela 3: Valores percentuais médios e máximos do conjunto das amostras. 76 Tabela 4: Principais constituintes diagenéticos e seus percentuais médios e máximos. 77 Tabela 5: Percentuais médios e máximos dos diferentes tipos de macroporosidade. 108 Tabela 6: Valores percentuais estimados a partir das contagens modais para as substituições, porosidade secundária e volume intergranular primário. 108 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Localização geográfica da Bacia de Almada 01 Figura 2: Seção geológica esquemática da Bacia de Almada, a seta indica a Formação Urucutuca. 02 Figura3: principais minerais formadores de rocha em ordem crescente de estabilidade no ambiente sedimentar (Tucker, 1991). 05 Figura 4: Diagramas Qt x F x L e Qm x F x Lt, aplicados neste trabalho (modificado de Dickinson, 1985). 15 Figura 5: Distribuição dos estágios diagenéticos (modificado de Choquette & Pray, 1970 in Scholle & Schluger, 1979). 17 ix Figura 6: Mapa geológico de Itabuna, Facuri, 2003. 33 Figura 7: Mapa geológico da porção emersa da Bacia de Almada (Bruhn & Moraes, 1989). 34 Figura 8: Coluna estratigráfica da Bacia de Almada (Netto et al., 1994). 40 Figura 9: Localização dos poços estudados, adaptado de Bruhn & Moraes, 1989. 45 Figura 10: Esquerda: arenitos com mud coupplets e ripples. Direita: Arenito com lentes de lama gerando a estrutura flaser. 47 Figura 11: Esquerda: concentrações de opacos na porção anterior de ripple (4X- LN), Direita: concentração de intraclastos na porção frontal das ripples (4X- LN). 48 Figura 12: Esquerda: Arenito com lentes de lama gerando a estrutura wavy, e com mud coupplets no topo. Direita: arenito com estrutura wavy e bioturbação associada. 48 Figura 13: Esquerda: Detalhe de bioturbação do tipo ophiomorpha. Direita: Arenito com estrutura sedimentar destruída pela sobreposição da bioturbação. 49 Figura 14: Esquerda: Lamito com fissilidade e lentes de areia gerando estrutura do tipo linsen. Direita: lamito maciço. 50 Figura 15: Esquerda: arenito com estratificação plano-paralela. Direita: Arenito maciço. 51 Figura 16: Esquerda: conglomerado com baixo teor de matriz arenosa, com poros secundários gerados pela dissolução de alguns componentes (indicados por setas). 52 Figura 17:Esquerda: Lamito deformado, provavelmente devido a um processo de slump. Direita: Diamictito provavelmente resultante do deslizamento de depósitos de grãos de areia e lama dentro da bacia. 53 Figura 18: Esquerda: grãos de quartzo monocristalino (4X- LP), Direita: grãos de quartzo monocristalino e policristalino(4X- LP). 55 Figura 19: Esquerda: grão de quartzo policristalino (10X – LP), Direita: grão de quartzo plutônico(4X – LP). 55 Figura 20: Esquerda: grãos de ortoclásio (10X – LP), Direita: grão de pertita com sobrecrescimento (40 X – LP). Figura 21: Esquerda: grão de microclínio (10X – LP), Direita: grão de plagioclásio (20X – LP). 56 56 Figura 22: Esquerda: grão de feldspato plutônico (4X – LP), Direita: grão plutônico com pertita e quartzo (10X – LP). 57 Figura 23: Esquerda: fragmento de rocha gnáissica (4X – LP). Direita: fragmento de rocha metamórfica quartzo-micácea foliada (10X – LP). 57 Figura 24: Esquerda: fragmento metamórfico não foliado com clorita (20X – LP), Direita: grão metamórfico micáceo foliado (20X – LP). 57 Figura 25: Esquerda: grão vulcânico (?) com piroxênio e plagioclásio (10X – LP), Direita: fragmento de rocha vulcânica básica ( 10X – LP). 58 x Figura 26: A: grão de granada e mineral opaco (10X – LN), B: grão de anfibólio (10X – LP). C: grão de zircão (10X – LP), D: grão de epidoto (20X – LP). 58 Figura 27: Esquerda: Intraclasto lamoso (10X – LN), Direita: bioclasto carbonático (alga?) (10X – LN). 59 Figura 28: Esquerda: Arenito fino intercalado à fácies Arll (20X-LN). Direita: Fácies Csmi (4X- LP). 59 Figura 29: Esquerda: Grãos de ortoclásio monocristalino (20X – LP). Direita: grão de plagioclásio (10X- LP). 60 Figura 30: Esquerda: grão de microclínio (20X – LP). Direita: grão de pertita (20X – LP). 60 Figura 31: Esquerda: Grãos de quartzo monocristalino (amarelo) e feldspato (cinza) (10X – LP). Direita: Fragmento quartzo (e feldspato) em rocha gnáissica (4X – LP). 61 Figura 32: Esquerda: Fragmento de rocha plutônica com quartzo e K-feldspato (10X – LP). Direita: Fragmento de rocha plutônica com quartzo e K-feldspato (20X – LP). 62 Figura 33: Esquerda: Fragmento de rocha metamórfica quartzo-micácea foliada (20X – LP). Direita: Fragmento de rocha metamórfica micácea foliada (40X – LP). 62 Figura 34: Esquerda: Fragmento de rocha metamórfica micácea foliada (20X – LP). Direita: Fragmento de rocha vulcânica básica-intermediária (10X – LP). 62 Figura 35: Esquerda: Granada, opacos e anfibólio (10X – LN). Direita: Grãos de granadas e minerais opacos (20X – LN). 63 Figura 36: Esquerda: Grão de muscovita (10X – LP). Direita: grão de biotita (10X – LP). 63 Figura 37: Esquerda: Intraclasto lamoso piritizado (20X – LN). Direita: Intraclasto carbonático (10X – LN). 64 Figura 38: Esquerda: Grãos de glauconita com dolomita (20X – LN). Direita: bioclasto carbonático (20X – LP). 64 Figura 39: Esquerda: Bioclastos carbonáticos (20X – LP). Direita: Bioclasto fosfático (20X – 64 LN). Figura 40: Esquerda: grão de ortoclásio (40X – LP). Direita: grão de plagioclásio (20X – LP). 65 Figura 41: Esquerda: grão de pertita (20X – LP). Direita: grão de microclínio (20X – LP). 65 Figura 42: Esquerda: grão de quartzo monocristalino (10X – LP). Direita: quartzo em fragmento de rocha gnáissica (20X – LP). 66 Figura 43: Esquerda: fragmentos de rocha plutônica (10X – LP). Direita: fragmento de rocha metamórfica micácea, substituído por dolomita (20X – LP). 66 Figura 44: Esquerda: fragmento de rocha metamórfica micácea foliada (20X – LN). Direita: fragmento de rocha metamórfica quartzo-micácea foliada (40X – LP). 67 xi Figura 45: A: grão de pirita detrítica (40X – LR) B: mineral opaco não identificado (40X – LR). C e D: grão de epidoto em LN e LP (20X). 67 Figura 46: A: grão de granada (20X – LN) B: grão de anfibólio (20X – LP) C e D: grão de turmalina LN e LP (20X). 68 Figura 47: A: intraclasto lamoso (10X – LN). B: fragmentos de matéria orgânica (40X – LP). C: intraclasto carbonático (20X - LP). D: bioclasto (espinho de equinóide?) (20X - LN). 69 Figura 48: A: bioclasto carbonático (foraminífero – Quinqueloculina?) (20X – LN). B: bioclasto carbonático (foraminífero – Globigerina) (20X – LP). C: grão de glauconita com pirita framboidal (10X - LN). D: bioclasto fosfático (10X – LN). 70 Figura 49: Gráfico de classificação composicional dos arenitos e conglomerados. 71 Figura 50. Resultados totais de petrografia quantitativa plotados no diagrama Qt x F x L de Dickinson (1985). 72 Figura 51. Composição atual x composição original do conjunto das amostras plotados no diagrama de Folk (1980). 73 Figura 52. Composição original x composição atual dos arenitos grossos plotados no diagrama de Folk (1980). 73 Figura 53. Composição original x composição atual dos arenitos médios plotados no diagrama de Folk (1980). 74 Figura 54. Composição original x composição atual dos arenitos finos plotados no diagrama de Folk (1980). 75 Figura 55: Esquerda: mosaico de anidrita intergranular (20x – LP). Direita: mosaico de anidrita intergranular de microcristalina (20x – LP). 80 Figura 56: Esquerda: grão de K – feldspato parcialmente substituído por anidrita (20x – LP). Direita: grão de microclínio parcialmente substituído por anidrita (10x – LP). 80 Figura 57: Esquerda: grão de K – feldspato parcialmente substituído por anidrita (20x – LP). Direita: detalhe da substituído do feldspato por anidrita (20x – LP). 81 Figura 58: Esquerda: anidrita substituindo feldspatos por corrosão (20x – LP). Direita: anidrita substituindo fragmento metamórfico micáceo - clorita (20x – LP). 81 Figura 59: Esquerda: anidrita substituindo feldspato por corrosão das bordas (40x – LP). Direita: anidrita substituindo feldspato por corrosão das bordas (20x – LP). 81 Figura 60: Esquerda: cristais de anidrita em contato com feldspato (40x – LP). Direita: porosidade da rocha com cimento de dolomita (40x – LN). 82 Figura 61: Esquerda: mosaico de anidrita intergranular (20x – LP). Direita: cristais de anidrita com núcleo dissolvido (20x – LP). 83 Figura 62: Esquerda: cristais de anidrita com núcleo dissolvido, associados a cristais de barita (20x – LP). Direita: 20x – LN. 83 xii Figura 63: Esquerda: cristais de anidrita parcialmente dissolvidos (20x – LN). Direita: relação da anidrita com a dissolução dos feldspatos, obedecendo ao contorno dissolvido do grão. (40x – LP). 84 Figura 64: Esquerda: cristais de anidrita substituindo a matriz (10x – LP). Direita: mosaico de anidrita dentro de uma cavidade (10x – LP). 84 Figura 65: Esquerda: cristal de barita com núcleo dissolvido (20x – LP). Direita: cristais de barita associados a cristais de anidrita (20x – LP). 85 Figura 66: Esquerda: cristais de dolomita euédricos associados a pirita (20x – LP). Direita: cristais de dolomita zonados (20x – LP). 86 Figura 67: Esquerda: cristais de dolomita euédricos formados em torno de uma camada argilosa – icnofóssil (20x – LP). Direita: dolomita preenchendo os poros e fraturas dos grãos do arcabouço (10x – LP). 86 Figura 68: Esquerda: plagioclásio parcialmente substituído por dolomita – observar resquício de anidrita no lado inferior direito da foto (20x – LP). Direita: feldspatos quase completamente substituídos por dolomita (40x – LP). 87 Figura 69: Esquerda: grão de feldspato com bordas substituídas por dolomita (20x – LP). Direita: grão de pertita parcialmente substituído por dolomita (20x – LP). Figura 70: Esquerda: grão de quartzo policristalino com bordas corroídas por dolomita (10x – LP). Direita: grão de feldspato parcialmente dissolvido e substituído por dolomita (20x – LP). Figura 71: Esquerda: dolomita substituindo fragmento metamórfico micáceo (10x – LP). Direita: dolomita substituindo intraclasto lamoso (10x – LN). 87 87 88 Figura 72: Esquerda: (em cima) dolomita substituindo grão metamórfico, e (em baixo) resquícios de anidrita englobados por dolomita (40x – LP). Direita: pequenos cristais de anidrita englobados por dolomita (40x – LP). 88 Figura 73: Esquerda: resquícios de anidrita dissolvida e parcialmente substituída por dolomita (20x – LP). Direita: cristais de anidrita parcialmente substituídos por dolomita (40x – LP). 89 Figura 74: Esquerda: cristais de anidrita substituídos por dolomita (20x – LP). Direita: resquícios de anidrita entre os cristais de dolomita (20x – LP). 89 Figura 75: Esquerda: cristal de dolomita zonado com dissolução parcial. (20x – LP). Direita: cristal de dolomita dissolução parcial, concentrada no núcleo (20x – LP). 90 Figura 76: Esquerda: relação da dolomita com a dissolução do feldspato, obedecendo ao contorno dissolvido do grão (20x – LP). Direita: relação da dolomita com a dissolução do grão de feldspato (20x – LP). Figura 77: Esquerda: pirita framboidal preenchendo os interstícios dos cristais de dolomita (40x – LN). Direita: pirita framboidal englobada por dolomita (20x – LP). Figura 78: Esquerda: crescimento de feldspato limitado pela borda do cristal de dolomita (40x – LP). Direita: pseudomorfose de dolomita sobre cristal de anidrita (indicado pelas setas brancas) e a relação da dolomita com o crescimento de feldspato (indicada pelas setas amarelas) (40x – LP). 90 91 91 xiii Figura 79: Esquerda: calcita poiquilotópica (10x – LP). Direita: calcita euédrica com franjas (10x – LP). 92 Figura 80: Esquerda: detalhe de cristal de calcita (20x – LP). Direita: distribuição heterogênea dos cristais de calcita (40x – LN). 92 Figura 81: Esquerda: calcita substituindo feldspato (20x – LN). Direita: calcita precipitada dentro de uma fratura de um grão de plagioclásio (20x – LP). (20x – LP). 93 Figura 82: Esquerda: grão de quartzo com bordas corroídas por calcita poiquilotópica – a seta indica restos de anidrita (10x – LP). Direita: calcita substituindo anidrita e preenchendo fraturas de grão do arcabouço – as setas indicam restos de anidrita (20x – LP). Figura 83: Esquerda: calcita substituindo grão de biotita (10x – LP). Direita: fragmento de rocha vulcânica parcialmente substituído por calcita (10x – LP). Figura 84: Esquerda: mineral pesado totalmente substituído por calcita (possivelmente anfibólio) (10x – LP). Direita: turmalina detrítica parcialmente substituída por calcita (20x – LP). 94 94 95 Figura 85: Esquerda: restos de cristais de anidrita substituídos por calcita (20x – LP). Direita: calcita substituindo anidrita (20x – LP). 95 Figura 86: Esquerda: cimento de calcita englobando cristais de dolomita (10x – LP). Direita: detalhe de dolomita envolvida por calcita (20x – LN). 96 Figura 87: Esquerda: calcita preenchendo poro após a precipitação de dolomita (40x – LP). Direita: calcita substituindo feldspato (20x – LP). 96 Figura 88: Esquerda: calcita preenchendo poro intragranular em felsdspato (20x – LP). Direita: calcita preenchendo poro intragranular em feldspato (20x – LP). 97 Figura 89: Esquerda: grão de feldspato parcialmente dissolvido e parcialmente substituído por calcita (20x – LP). Direita: detalhe da substituição por calcita (40x – LP). 97 Figura 90: Esquerda: molde de grão de feldspato dissolvido e parcialmente substituído por calcita (10x – LP). Direita: detalhe do cimento de calcita e do crescimento de feldspato (20x – LP). 97 Figura 91: Esquerda: cristal de pirita euédrica intergranular (10x – LN). Direita: pirita framboidal em luz refletida ao lado de um grão opaco (40x – LR). 99 Figura 92: Esquerda: pirita framboidal associada a glauconita (40x – LN). Direita: pirita associada a glauconita e a fragmento metamórfico micáceo dolomitizado (10x – LN). 99 Figura 93: Esquerda: pirita framboidal gerada na alteração de intraclasto lamoso: (20x – LN). Direita: zonas de concentração de pirita framboidal (20x – LP). Figura 94: Esquerda: pirita framboidal gerada na alteração de fragmento micáceo: (20x – LP). Direita: pirita framboidal (seta vermelha) associada a calcita (seta amarela) e glauconitização (20x – LN). 100 100 xiv Figura 95: Esquerda: pirita framboidal (à direita, em cima) em luz refletida e alterando mineral opaco(à esquerda) (40x – LR). Direita: pirita depositada em torno dos grãos detríticos (20x – LN). 101 Figura 96: Esquerda: pirita framboidal intragranular em k-feldspato (40x – LP). Direita: pirita framboidal intragranular em pertita (20x – LN). 101 Figura 97: Esquerda: crescimento de feldspato sintaxial, note a borda do grão arredondada (20x – LP). Direita: crescimento de feldspato antitaxial (20x – LP). 102 Figura 98: Esquerda: crescimento de feldspato antitaxial em grão de pertita (20x – LP). Direita: plagioclásio albitizado (20x – LP). 102 Figura 99: Esquerda: feldspato albitizado (10x – LP). Direita: feldspato albitizado (20x – LP). 103 Figura 100: Esquerda: feldspato vacuolizado (10x – LN). Direita: feldspato sericitizado ao longo das clivagens (20x – LP). 104 Figura 101: Esquerda: feldspato sericitizado ao longo das clivagens (10x – LP). Direita: detalhe de inclusões de sericita em grão de feldspato (40x – LP). 104 Figura 102: Esquerda: caulinita preenchendo poro (40x – LP). Direita: (40x – LN). 105 Figura 103: Esquerda: caulinita pseudomórfica em feldspato (10x – LP). Direita: (10x – LN). 105 Figura 104: Esquerda: caulinita preenchendo poro e substituindo feldspato (20x – LP). Direita: (20x – LN). 106 Figura 105: Esquerda: caulinita substituindo feldspato (40x – LP). Direita: restos da estrutura do feldspato substituído por caulinita (40x – LN). 106 Figura 106: Esquerda: cimento de quartzo – observe os delicados limites do grão e do sobrecrescimento (20x – LP). Direita: Óxidos de TiO2 intergranulares (seta vermelha) envoltos por dolomita (seta amarela) (20x – LN). 107 Figura 107: Esquerda: (4x – LN). Direita: (4x – LN). Exemplos de amostras com alta porosidade – primária + secundária - (em azul) dos arenitos. Pode-se observar muitos poros primários preservados, apesar da cimentação, bem como poros secundários (setas). 109 Figura 108: Critérios petrográficos para o reconhecimento da porosidade secundária (Schmidt & McDonald; apud: Schole & Schluger, 1979). Figura 109: Esquerda: resquícios de grão de feldspato dissolvido e caminho de dissolução em amostra de arenito com matriz argilosa (10x – LN). Direita: grão de feldspato parcialmente dissolvido ligado a um caminho de dissolução (20x – LN). 111 112 Figura 110: Esquerda: dissolução intragranular em pertita (10x – LN). Direita: dissolução intragranular em plagioclásio (20x – LP). Ambos após a cimentação por calcita. 112 Figura 111: Esquerda: resquícios de grão de feldspato dissolvido (10x – LP). Direita: resquícios de grão de feldspato dissolvido (20x – LN). 113 Figura 112: Esquerda: porosidade intragranular em k-feldspato plutônico (10x – LN). Direita: porosidade intragranular em fragmento de gnaisse (10x – LN). 113 xv Figura 113: Esquerda: porosidade intragranular em mica (40x – LN). Direita: fragmento metamórfico parcialmente dissolvido e parcialmente substituído por dolomita e pirita (40x – LN). 113 Figura 114: Esquerda: resquícios de um grão dissolvido (possivelmente um mineral pesado) (10x – LN). Direita: resquícios de mineral pesado dissolvido (seta vermelha) e substituído por pirita (seta amarela) (20x – LN). 114 Figura 115: Esquerda: poros móldicos e grãos parcialmente dissolvidos (10x – LN). Direita: exemplo de porosidade móldica (20x – LN). Figura 116: Bloco diagrama mostrando a distribuição espacial da alteração eogenética nos sedimentos de uma plataforma progradante dominada por ondas e tempestades, e sua influência na evolução mesogenética destes sedimentos (adaptado de Morad et al., 2000). 114 119 Figura 117: Esquema ilustrativo dos processos que deram origem à formação das paragêneses A e B. 120 Figura 118: Esquema ilustrativo dos processos que deram origem à formação das paragêneses C e D 121 Figura 119: Esquema ilustrativo dos processos que deram origem à formação das paragêneses E, F e G. 122 Figura 120: Diagrama total mostrando a relação das paragêneses com os estágios diagenéticos. 125 Figura 121: Bloco diagrama ilustrando a situação da área-fonte e o provável ambiente deposicional dos arenitos da Formação Urucutuca. 130 1 1. INTRODUÇÃO Este trabalho tem por objetivo estudar a proveniência sedimentar e a evolução diagenética dos arenitos e conglomerados da Formação Urucutuca (Cretáceo Superior), amostrados em furos de sondagem na porção emersa da Bacia de Almada, BA (Fig. 1). Este tema está inserido no projeto “Estudo Geológico de Afloramentos Análogos aos Reservatórios Turbidíticos da Bacia de Campos” (desenvolvido em associação pela UENF, PETROBRAS e UERJ), e é de grande importância para futuros trabalhos de pesquisa e exploração de petróleo na Bacia de Almada. Figura 1: Localização geográfica da Bacia de Almada 2 A Bacia de Almada localiza-se na margem continental, ao sul do Estado da Bahia (Fig. 1). A bacia possui uma pequena porção emersa, com extensão aproximada de 300 km2 e espessura máxima de 1800 metros de sedimentos. Na plataforma continental, entretanto, sua área atinge maior expressão com cerca de 13.000 km2 até a cota batimétrica de 200 m, possuindo uma coluna sedimentar com espessuras superiores a 6.000 m (Fig. 2). A Bacia é delimitada a norte pelo Alto de Itacaré, que a separa da Bacia de Camamu; e a sul pelo Alto de Olivença, que a separa da Bacia do Jequitinhonha (Fig. 1). Estas bacias, em conjunto, são freqüentemente denominadas de “Bacia Bahia Sul”, e se estendem por estreitas e descontínuas faixas de terra no continente, e pela plataforma continental adjacente (Bruhn & Moraes, 1989). Figura 2: Seção geológica esquemática da Bacia de Almada. A seta indica a Formação Urucutuca. Os sedimentos aflorantes da Formação Urucutuca, estudados neste trabalho, são considerados como uma porção exumada de preenchimento do Cânion de Almada. Este Cânion foi identificado por Ferradaes & Souza (1972) ao mapearem a superfície de discordância pré – Urucutuca na porção marítima da Bacia de Almada e representa uma grande feição erosiva, pós–cenomaniana, preenchida por uma coluna de sedimentos campaniano-maastrichtianos e terciários da Formação Urucutuca, com espessura de até 600m. 3 A extensão estratigráfica do sistema petrolífero da Bacia de Almada está restrita às seqüências pré-rifte e rifte nas porções oeste e sul da bacia. O petróleo da bacia provém dos folhelhos lacustres da Formação Morro do Barro (Cretáceo Inferior – fase rifte), sendo que a maior parte das acumulações de petróleo encontradas estão restritas aos reservatórios associados à esta mesma Formação. A segunda ocorrência mais importante está relacionada aos reservatórios da Formação Sergi (pré-rifte) e da Formação Rio das Contas (rifte) (Gonçalves et al., 2000). Entretanto, as características do sistema petrolífero em águas profundas ainda são desconhecidas, o que torna de extrema importância as pesquisas que venham a caracterizar reservatórios também na seção pós-rifte, como os da Formação Urucutuca. Portanto, cabe a este projeto identificar a proveniência sedimentar dos arenitos e conglomerados da Formação Urucutuca, buscando a definição das relações entre as áreasfonte dos sedimentos e a Bacia de Almada na época da deposição destes sedimentos, bem como a caracterizar a evolução diagenética destas rochas e avaliar sua qualidade como reservatórios, através de análise petrográfica. 4 2. MÉTODOS Os estudos de petrografia das rochas siliciclásticas, da seção marinha cretácica do Cânion de Almada, foram efetuados em várias etapas de trabalho. A etapa inicial envolveu a revisão de trabalhos científicos publicados a fim de estabelecer uma base de conhecimentos geológicos acerca da Bacia de Almada e das rochas da Formação Urucutuca. A segunda etapa envolveu a descrição geológica dos testemunhos de sondagem dos poços F1, F2 e F3 a fim de estabelecer uma base para correlação litológica e, se possível, estratigráfica dos reservatórios. Nesta etapa foram também coletadas 38 amostras dos arenitos e conglomerados para a confecção de lâminas delgadas impregnadas por resinas coloridas, método desenvolvido por Cesero et al., 1989. As descrições sintéticas dos testemunhos dos poços F1, F2 e F3, bem como a localização das amostras coletadas e os seus principais constituintes diagenéticos, encontram-se apresentadas nos anexos I, II e II. A terceira etapa do trabalho compreendeu a análise petrográfica quantitativa das lâminas delgadas das rochas amostradas através de contagens modais dos constituintes detríticos, segundo o método Gazzi-Dickinson (Zuffa, 1985), com caracterização das modificações diagenéticas sobre a composição detrítica e suas implicações. Estas análises de composição modal detalhada têm por objetivo caracterizar a proveniência dos componentes detríticos dos sedimentos siliciclásticos, bem como identificar os processos diagenéticos ocorridos durante a história de soterramento destas rochas e seu potencial como reservatórios de petróleo. A seleção granulométrica dos arenitos e conglomerados (matriz arenosa) foi estimada através da utilização de tabelas de comparação (Beard & Weil, 1973). Os resultados da quantificação petrográfica foram analisados estatisticamente, visando o reconhecimento de tendências, correlações e padrões de distribuição dos dados 5 descritivos dos perfis com os dados petrográficos dos arenitos e conglomerados. 2.1 PETROLOGIA SEDIMENTAR 2.1.1. COMPONENTES DETRÍTICOS A composição mineralógica dos sedimentos siliciclásticos depende diretamente da composição das rochas da área fonte da bacia de deposição. Praticamente, qualquer espécie mineral ou fragmento de rocha presente na área fonte pode ser depositado como grão em um sedimento siliciclástico. Entretanto, algumas espécies minerais e alguns tipos de fragmentos de rochas são muito mais estáveis do que outros no ambiente sedimentar, razão pela qual o número de tipos de grãos mais freqüentes nos arenitos é relativamente pequeno. Olivina Plagioclásio (rico em Ca) Tempertatura de Formação Piroxênio (augita) Biotita (mica) Anfibólio (hornblenda) Plagioclásio (rico em Na) Ortoclásio Microclínio Muscovita (mica) Chert Quartzo Zircão Turmalina Estabilidade Sedimentar Figura 3: Principais minerais formadores de rocha em ordem crescente de estabilidade no ambiente sedimentar (Tucker, 1991). 6 Assim, não é apenas a disponibilidade do mineral na área – fonte que determina a sua presença em uma rocha sedimentar, mas também a sua estabilidade química e mecânica. Pode-se dizer que, em geral, a estabilidade física e química de um mineral é inversamente proporcional às condições em que ele foi gerado. Segundo Tucker (1991), os minerais formadores de rochas podem ser classificados, quanto à estabilidade química, em uma série desde o mais estável ao menos estável, conforme a figura 3. O processo de dissolução dos minerais começa na área fonte, e o clima predominante na região é um fator determinante, visto que a dissolução é mais efetiva em regiões de clima quente e úmido do que em regiões quentes e semi-áridas ou regiões polares. Além do clima, o relevo da área fonte é também muito importante, porque ele define o gradiente de erosão e, logo, a velocidade de transporte e deposição: -Quanto maior o relevo, maior a velocidade de erosão e deposição e menor o tempo de exposição do grão aos agentes intempéricos. -Quanto menor o relevo, menor a velocidade de erosão e deposição e maior o tempo de exposição do grão aos agentes intempéricos. Assim, com baixo relevo e intemperismo em clima quente e úmido, os processos de erosão e transporte destroem a maioria dos minerais mecânica e quimicamente instáveis, tendo como produto depósitos de areias principalmente quartzosas. Se o intemperismo for muito intenso, até mesmo o quartzo é destruído e formam-se depósitos residuais de bauxita e laterita. Entretanto, em regiões de alto relevo, alguns grãos mais instáveis serão sempre liberados para erosão e deposição, mesmo que o intemperismo seja intenso, pois o tempo de exposição aos agentes intempéricos é curto e a velocidade de soterramento é alta. A estabilidade mecânica de um mineral depende da presença de clivagem e da dureza do mineral. O quartzo, sendo relativamente duro e sem clivagens, é mecanicamente muito estável e pode resistir a considerável atrito durante o transporte. Por outro lado, os feldspatos, com sua forte clivagem, e os fragmentos de rocha, com suas fracas ligações intercristalinas ou intergranulares, são mais facilmente quebrados durante o transporte. 7 Segundo Tucker (1991), os componentes detríticos de rochas siliciclásticas podem ser divididos em seis categorias: (a) quartzo, (b) feldspatos, (c) micas e argila, (d) minerais pesados, (e) fragmentos de rochas e (f) outros. Com base nos componentes minerais, os sedimentos podem ser classificados em termos de sua maturidade composicional. A) Quartzo É o mineral mais comum em arenitos, o mais estável de todos os minerais sob condições sedimentares. A maioria dos grãos de quartzo são derivados de rochas plutônicas graníticas, gnaisses e xistos. Dois tipos principais de grãos de quartzo podem ser distintos: monocristalinos (Qm), compostos de um único cristal, e policristalinos (Qp), compostos de dois ou mais cristais. No cálculo percentual do arcabouço, Qp é usualmente incluído nos fragmentos líticos (L). Maiores subdivisões de quartzo monocristalino podem ser feitas em função do número de cristais, da extinção e das inclusões. Os cristais de quartzo em fragmentos de rochas de textura grossa são também separados na contagem e classificados de acordo com o tipo de rocha: plutônica ou gnáissica. B) Feldspatos O teor médio de feldpatos em arenitos está entre 10 e 15%, mas nos arcósicos comumente alcança 50%. A estabilidade mecânica do feldspato é menor que o quartzo, visto que os feldspatos são menos duros e têm clivagens, o que favorece a desintegração dos cristais durante o transporte. Assim, sedimentos fluviais contém mais feldspatos do que sedimentos de praia, marinhos e eólicos (Tucker 1991). A estabilidade química dos feldspatos é também menor por causa da facilidade com que eles são hidrolisados. A alteração química tipicamente envolve substituições por argilominerais como a sericita (variedade de muscovita), caulinita e ilita. A alteração incipiente dá aos feldspatos uma aparência suja (vacuolização) e a substituição completa produz pseudomorfos de argilominerais. 8 A alteração dos feldspatos começa no local de intemperismo, se este for dominantemente químico, e continua durante a diagênese, tanto no soterramento quanto no soerguimento subseqüente. A substituição diagenética de feldspato por carbonato, por exemplo, é muito comum. Os feldspatos estão também sujeitos à dissolução, que pode ser parcial e até total durante a diagênese. Arenitos próximos à superfície ou a discordâncias podem ter poros móldicos, onde o feldspato é dissolvido pelo contato com água meteórica. Dos diferentes tipos de feldspatos, os potássicos (K-f), ortoclásio e microclínio, são mais comuns em arenitos do que os plagioclásios (P). Existem duas razões para isso. Os Kfeldspatos possuem maior estabilidade química que os plagioclásios, assim, este último sofre maior alteração na área fonte. Adicionalmente, os K-feldspatos são mais comuns em rochas do embasamento continental (granitos e gnaisses ácidos), que são as áreas mais comuns de proveniência. O plagioclásio é mais comum em arenitos derivados de terrenos oceânicos e arcos de ilha soerguidos, que são áreas-fonte incomuns. O microclínio é facilmente identificado em lâmina por sua macla xadrez, mas já o ortoclásio é mais difícil de reconhecer. Os cristais geralmente quebram ao longo dos planos de geminação, e assim a macla de Carlsbad é raramente vista nos grãos de ortoclásio. Fora os testes ópticos, o ortoclásio pode ser usualmente reconhecido por sua aparência suja e parcialmente alterada (para caulinita ou sericita), especialmente em relação aos grãos límpidos de quartzo, e pela clivagem que é visível no feldspato. Mesmo assim, o teor de ortoclásio é normalmente subestimado em análises modais de arenitos, pois podem ser confundidos com quartzo em análises de microscopia óptica devido a sua birrefringência de primeira ordem. O plagioclásio pode ser identificado pela macla polissindética. Os grãos de feldspato são derivados das mesmas rochas que o quartzo. As texturas dos grãos de feldspato podem identificar sua origem. Zoneamentos são mais comuns em feldspatos de origem vulcânica. Grãos de origem piroclástica tendem a ser anédricos e freqüentemente são quebrados. As pertitas são o resultado da exsolução durante o lento resfriamento no magma granítico, logo, são típicas de rochas plutônicas. 9 Além das rochas-fonte disponíveis, o teor de feldspato de um sedimento é largamente controlado pela taxa de erosão e pelo clima. Um clima úmido na área fonte promove a destruição do feldspato devido ao intemperismo químico predominante, enquanto que em regiões áridas, os feldspatos resistem ao intemperismo físico predominante. Entretanto, uma erosão rápida, conforme ocorre em áreas de relevo elevado, devido ao tectonismo ativo, poderá produzir grãos de feldspato, apesar de um clima úmido. C) Micas e argilominerais Os filossilicatos são particularmente comuns na matriz dos arenitos e conglomerados e são os principais componentes dos lamitos. Biotita e muscovita ocorrem como lâminas, as quais podem estar concentradas ao longo de lentes e planos de acamamento. Devido a sua natureza laminar, as micas são facilmente retiradas de sedimentos grossos e tendem a acumular em arenitos e siltitos finos; elas são também facilmente removidas de sedimentos eólicos. Muscovita e biotita são derivadas de várias rochas ígneas, mas provém principalmente de rochas metamórficas como filitos e xistos. Embora a biotita seja mais comum na área fonte do que a muscovita, esta última é mais estável quimicamente e, logo, mais comum. Biotita e muscovita são facilmente identificáveis por sua natureza laminar e extinção paralela. A biotita tem pleocroísmo marrom-esverdeado, o qual mascara as cores de interferência, e a muscovita é incolor em LN (luz natural) e possui cores de segunda ordem em LP (luz polarizada). Os argilominerais raramente são identificáveis ao microscópio petrográfico, sendo necessárias técnicas analíticas mais avançadas para a correta identificação. As argilas podem ser tanto detríticas quanto autigênicas nos arenitos. Todos os principais grupos minerais estão presentes: caulinita, illita, clorita, esmectita e argilominerais de camadas mistas. Argilominerais detríticos refletem a geologia da área fonte, clima e processos de intemperismo. Durante a diagênese, os argilominerais podem ser alterados para outras argilas, ou elas podem se formar às custas de outros grãos, especialmente dos feldspatos. 10 Em alguns arenitos, a maior parte da matriz argilosa é formada pela compactação e alteração de grãos instáveis. Este tipo de matriz é chamada pseudomatriz, pois pode ser confundida com a matriz deposicional. D) Minerais pesados Os minerais pesados são principalmente silicatos e óxidos, muitos dos quais são bastante resistentes ao intemperismo químico e à abrasão. Os minerais pesados, não opacos, mais comuns são a apatita, o epidoto, a granada, o rutilo, a estaurolita, a turmalina e o zircão. Ilmenita e magnetita detríticos são os minerais opacos mais comuns. A densidade dos minerais pesados, maior que 2,9, é maior que a do quartzo e do feldspato (2,6), o que os torna mais “difíceis” de serem transportados pela água e favorece a concentração em camadas e lâminas pelo processo de seleção hidráulica. O estudo dos minerais pesados pode fornecer indicações de proveniência e de eventos geológicos na área fonte. Certos minerais pesados, como a granada, epidoto e estaurolita são derivados de terrenos metamórficos, enquanto outros, rutilo, apatita e turmalina, indicam fontes ígneas. Os minerais pesados são afetados pelo intemperismo da mesma forma que outros minerais. Muitos podem ser dissolvidos devido ao intemperismo intenso, mas enquanto o relevo for elevado, com uma taxa suficiente de erosão, alguns grãos menos estáveis acabam entrando na bacia sedimentar. Além disto, a maioria dos minerais pesados são mecanicamente fortes o suficiente para resistir às perdas por abrasão durante o transporte. Os minerais pesados podem ser dissolvidos também durante a diagênese por dissolução intraestratal. A ordem geral crescente de resistência à dissolução é dada a seguir, mas esta depende do pH da água de formação, Eh e outros fatores: olivina→ silimanita→ piroxênio→ esfeno→ andalusita→ anfibólio→ epidoto→ cianita→ estaurolita→ apatita→ granada→ zircão→ turmalina→ rutilo. 11 E) Fragmentos de Rocha (FR): Os fragmentos de rocha predominam em conglomerados e brechas e nos arenitos tendem a ser partículas mais grossas que as demais. Ao passo que os fragmentos sofrem abrasão eles tendem a quebrar em partículas monominerálicas. A composição dos fragmentos de rocha depende basicamente da geologia da área fonte e da durabilidade das partículas durante o transporte. Em arenitos os fragmentos mais comuns são: (a) rochas sedimentares de tamanho de grão fino (Ls), e metassedimentares (Lm) como lamitos, siltitos e folhelhos e ardósia, pelito e micaxisto, respectivamente; (b) rochas sedimentares silicosas como o chert (qz policristalino) (Qp); (c) rochas ígneas vulcânicas (Lv). Os fragmentos plutônicos tendem a ser mais grossos e a se fragmentar em grãos monominerálicos, portanto são mais raros que os demais. Os fragmentos vulcânicos podem ser reconhecidos pela presença de feldspatos euédricos em uma massa microlítica de texturas microgranular ou vítrea. Rochas vulcânicas ácidas podem ser difíceis de distinguir de fragmentos de chert (rocha silicosa precipitada em ambiente sedimentar), exceto pela presença de fenocristais de feldspato, que indica a origem vulcânica. Fragmentos de rocha podem ser muito úteis no estudo de proveniência, mas fragmentos líticos intrabaciais, comumente grãos de lama e carbonato, são usualmente excluídos quando é calculado o percentual de grãos. Em estudos de proveniência, é muito importante estudar arenitos de tamanho de grão similar. O percentual de FR aumenta com o aumento do tamanho de grão, e pode se cometer erros se este fator não for considerado. No método Gazzy-Dickinson, cristais e grãos de tamanho areia dentro de um FR maior são contados na categoria de cristal ou grão, em vez de na classe de fragmento de rocha. Este método é melhor para relacionar a composição com o ambiente tectônico, bem como amenizar o problema do tamanho de grão. 12 A compactação e a alteração diagenética podem tornar fragmentos de folhelho, ardósia e rochas ígneas difíceis de distinguir de uma matriz lamosa, e os fragmentos de rocha ígneas podem ser substituídos por clorita e zeolita. Em conglomerados e brechas ocorrem dois tipos de clastos: os extraformacionais (extraclastos) e intraformacionais (intraclastos). Clastos intraformacionais são principalmente pedaços de lama, derivados de retrabalhamento erosivo de lamas previamente depositadas. Clastos extraformacionais são derivados de quase todos os tipos de rochas, até as variedades mais instáveis, caso o percurso de transporte seja curto. Conglomerados e brechas que contém uma grande variedade de clastos são chamados polimíticos e ocorrem principalmente quando a distância de transporte é grande. Conglomerados contendo um único tipo de clasto são chamados monomíticos e implicam uma fonte muito próxima. Os fragmentos de rocha em arenitos dão informações muito específicas sobre a proveniência de um depósito se eles puderem ser relacionadas a uma formação-fonte. Fragmentos de rocha são geralmente derivados de rochas supracrustais que sofreram rápido soerguimento e erosão. Os cinturões montanhosos e áreas vulcânicas fornecem grande quantidade em comparação com áreas continentais graníticas. Assim, os tipos de fragmentos líticos relacionam-se ao ambiente tectônico da área fonte e da bacia adjacente. F) Outros componentes detríticos: Outros componentes comuns de arenitos e conglomerados são as partículas carbonáticas, que dividem-se em fragmentos de fósseis e não fósseis, como oóides, pelóides e intraclastos. Grãos detríticos de calcários e dolomitos são componentes de ocorrência restrita, a menos que essas rochas ocorram em abundância na área fonte. A importância de um fóssil em um arenito ou conglomerado está na informação estratigráfica e ambiental que ele pode fornecer. Outros grãos minerais em sedimentos siliciclásticos são esqueletos fosfáticos (fragmentos de ossos), glauconita, chamosita e fragmentos carbonosos de plantas. 13 G) Maturidade Composicional: Um arenito composicionalmente imaturo contém muitos fragmentos líticos finos, i.e., minerais e fragmentos de rocha instáveis, e altos teores de feldspato. Quando os fragmentos de rocha são de uma variedade mais estável e há algum feldspato e maior quantidade de quartzo, então o sedimento é chamado maturo. Para um arenito composto quase inteiramente por quartzo, aplica-se o termo supermaturo. A maturidade composicional reflete basicamente os processos de intemperismo na área fonte e o grau e extensão de retrabalhamento e transporte. Tipicamente, sedimentos composicionalmente imaturos estão localizados perto da sua área fonte. Entretanto, sedimentos imaturos podem também ser produto de um transporte rápido a partir de uma área-fonte com intemperismo químico e físico limitado, e de uma deposição com pouco retrabalhamento. Exemplos deste caso são sedimentos fluviais próximos da fonte, depósitos glaciais e flúvio-glaciais. No outro extremo, sedimentos supermaturos são o produto final de intenso intemperismo, ou de abrasão intensa e retrabalhamento. 2.1.2. COMPOSIÇÃO, PROVENIÊNCIA E AMBIENTE TECTÔNICO DOS ARENITOS A classificação quanto à composição de um arenito é baseada em estudos microscópicos e requer que sejam conhecidos os percentuais de cada um dos tipos de grãos presentes na rocha. Centenas de grãos (recomenda-se 400) são identificados por contagem de pontos em lâmina, e quando são comparados diferentes arenitos, deve-se usar amostras com o mesmo tamanho de grão. Existem muitos esquemas de classificação disponíveis, mas a maioria usa um diagrama triangular com quartzo (Q), feldspato (F) e fragmentos de rocha (L) nos extremos. O triângulo é dividido em vários campos onde as rochas analisadas podem ser plotadas e classificadas. Recentemente, o estudo de proveniência de arenitos tem evoluído bastante, assim, a composição de um arenito pode ser relacionada mais precisamente a sua área fonte e seu ambiente tectônico. Isto envolve a contagem de todos os diferentes tipos de 14 quartzo, feldspato e grãos líticos e a plotagem dos resultados de diferentes maneiras ou em vários diagramas triangulares. No trabalho de Dickinson (1985), com arenitos, foram distintos 4 terrenos principais de proveniência: Cráton Estável, Embasamento Soerguido, Arco Magmático e Reciclagem Orogênica. Crátons estáveis e Embasamentos soerguidos formam os blocos continentais, que são regiões tectonicamente consolidadas formadas por agrupamentos de antigos cinturões orogênicos que foram erodidos a grandes profundidades. Arcos magmáticos incluem arcos continentais e de ilhas associados a zonas de subducção, são áreas onde ocorrem rochas vulcânicas, plutônicas e metasedimentos. Zonas de reciclagem orogênica são formadas por rochas supracrustais soerguidas e deformadas, as quais formam cadeias de montanhas, que consistem principalmente de sedimentos quartzo-líticos com alguns fragmentos de rochas vulcânicas e metasedimentares. Detritos provenientes destes terrenos geralmente possuem uma composição específica e estes materiais são depositados na bacia sedimentar associada, que ocorre em um número limitado de ambientes tectônicos. Tabela 1. Classificação dos tipos de grãos de areia. (Dickinson, 1985) A: Grãos de Quartzo (Qt = Qm + Qp) Qt = total dos grãos de quartzo Qm = quartzo monocristalino Qp = quartzo policristalino B: Grãos de Feldspato ( F = P + K) F = total de grãos de feldspato P = grãos de plagioclásio K = grãos de feldspato potássico C: Fragmentos Líticos Instáveis ( L = Lv + Ls) L = total de fragmentos líticos instáveis Lv = fragmentos líticos vulcânicos e meta-vulcânicos Ls = fragmentos líticos sedimentares e meta-sedimentares D: Total de fragmentos Líticos ( Lt = L + Qp) 15 A partir de uma análise modal de um arenito, os percentuais das várias combinações de grãos são plotados em diagramas triangulares, que são usados para diferenciar os diferentes terrenos de proveniência. As categorias de grãos determinadas (Qt, Qm, Qp; F, Fp, Fk; L, Lv, Ls, Lt) estão definidas na tabela acima. Um diagrama triangular de Qt x F x L agrupa todos os tipos de grãos de quartzo (Qm + Qp) e, logo, enfatiza a maturidade do sedimento. Já o gráfico Qm x F x Lt inclui Qp nos grãos líticos e, logo, enfatiza a rocha fonte (Fig. 4). Qp x Lv x Ls apenas consideram os fragmentos de rocha e Qm x Fp x Fk apenas envolve os grãos monominerálicos. O uso destes diagramas permite a discriminação dos arenitos em um dos quatro principais terrenos de proveniência. Figura 4: Diagramas Qt x F x L e Qm x F x Lt, aplicados neste trabalho (modificado de Dickinson, 1985). Crátons estáveis de baixo relevo geralmente produzem areias quartzosas, a partir do embasamento granítico-gnáissico e da reciclagem dos estratos inferiores, que são depositadas sobre os crátons ou transportadas para as bacias de margem passiva. Regiões de soerguimento de embasamento são áreas de alto relevo, ao longo de riftes e zonas de transcorrência, e as areias dominantemente quartzo-feldspáticas, pobres em fragmentos líticos são depositadas em bacias extensionais e de pull-apart. 16 Arcos magmáticos produzem areias com alto conteúdo de fragmentos de rochas vulcânicas, e ao passo que eles são dissecados até suas raízes plutônicas, depósitos quartzo-feldspáticos são produzidos. Assim, resultam em um trend vulcano-plutônico. As areias são depositas em bacias de forearc e intra-arco. Os grãos vulcânicos possuem composição andesítica e são geralmente microlíticos. Os fragmentos derivados de reciclagem orogênica são muito variados em composição, refletindo os diferentes tipos de orógenos (colisão continente-continente ou continente oceano). Sedimentos de reciclagem orogênica podem preencher bacias de foreland adjacentes ou bacias oceânicas remanescentes, ou ainda ser capturados por sistemas fluviais e ser transportados para bacias mais distantes, em ambientes tectônicos diferentes. Os fragmentos líticos predominam nestes sedimentos, entretanto, nos arenitos derivados de cadeias de montanhas de colisão continental, o quartzo e os fragmentos de rochas sedimentares são os principais constituintes, e são seguidos de seus equivalentes metamórficos, ao passo que avança a dissecação do orógeno. Estas areias tendem então a ser mais quartzo-líticas, com pouco feldspato e grãos vulcânicos. Já os sedimentos gerados pela dissecação de complexos de subducção continente-oceano, possuem um conteúdo elevado de fragmentos de rochas ígneas e sedimentares de tamanho de grão fina (chert), e abundância de feldspatos. Estudos de petrofácies de arenitos dentro de uma bacia podem ser usados para delinear a evolução geológica da área fonte. 2.1.3. DIAGÊNESE DOS ARENITOS Segundo Tucker (1991), os processos diagenéticos que afetam as rochas estão divididos em dois estágios principais: a diagênese precoce, que envolve os processos que ocorrem desde a deposição até o soterramento raso, e a diagênese tardia, que envolve os processos que afetam os sedimentos a grandes profundidades e no soerguimento. Os termos eodiagênese, mesodiagênese e telodiagênese têm sido usados para a diagênese precoce, a diagênese profunda e a diagênese no soerguimento, respectivamente (Fig. 5). 17 Os processos diagenéticos químicos incluem a precipitação de minerais, que leva à cimentação dos sedimentos, a dissolução de grãos instáveis, e a substituição de grãos por outros minerais. Estes processos químicos ocorrem em meio aquoso, portanto, a salinidade, o pH (concentração do íon hidrogênio), o Eh (potencial de oxidação) e a mobilidade da água através do sedimento (dependente da porosidade e permeabilidade) têm fundamental importância na diagênese. Figura 5: Distribuição dos estágios diagenéticos (modificado de Choquette & Pray, 1970 in Scholle & Schluger, 1979). Nos primeiros estágios de diagênese, que duram desde 1000 até 1 milhão de anos e afetam sedimentos em profundidades desde 1 até 100 metros. A composição das águas de formação está relacionada ao ambiente deposicional: água do mar, no ambiente marinho e água meteórica na maioria dos ambientes sedimentares continentais. Ela também pode ser de origem mista em ambientes costeiros. Em muitos casos essas águas de formação são rapidamente modificadas pela quebra da matéria orgânica e pela atividade bacteriana. Em muitos sedimentos marinhos, por exemplo, os estágios iniciais de diagênese começam em águas de formação oxidantes, as quais com o aumento da profundidade abaixo da interface 18 sedimento-água começam a sofrer redução, ao passo que o oxigênio é consumido pelas bactérias. Durante o soterramento profundo, as águas de formação são modificadas por reações com argilominerais, pela dissolução de grãos instáveis, pela precipitação de minerais autigênicos e pela mistura com águas de outras origens. A mesodiagênese ocorre quando os sedimentos são soterrados a profundidades que os isolem da livre circulação dos fluidos a partir da superfície. O limite com os processos de metamorfismo é gradacional, e é caracterizado por mudanças na composição e na textura do sedimento (Anquimetamorfismo). Em geral, as águas de formação de sedimentos soterrados profundamente são salinas, neutras e alcalinas. Em comparação com a água do mar, estas águas de formação têm menos Na+, Mg+, SO42- e K+, mas possuem mais Ca2+, Sr2+ e sílica (Hanor, 1987; apud: Tucker, 1991). Os processos que afetam as rochas sedimentares durante o soerguimento envolvem tipicamente águas meteóricas, com baixo Eh e pH ácido. A extensão dos processos telogenéticos depende muito da porosidade e permeabilidade, que podem ter sido altamente obstruídos durante a mesodiagênese. Existem muitos fatores que afetam a diagênese dos arenitos. De acordo com Tucker (1991), o ambiente deposicional, o clima, a composição e a textura do sedimento são os controles iniciais, e em segundo plano estão a migração da água de formação, a história de soterramento e outros fatores afetam o curso da diagênese. Alguns dos processos diagenéticos mais comuns citados por Tucker (1991) são a compactação e a dissolução por pressão, a cimentação por sílica e carbonatos e a autigênese de feldspatos e argilominerais. Compactação e dissolução por pressão: Nos estágios iniciais, a compactação envolve o fechamento da fábrica dos grãos. Logo que são depositados, sedimentos bem selecionados e arredondados, podem ter um empacotamento com mais de 50% de porosidade. A compactação rapidamente diminui a porosidade consideravelmente. A compactação posterior devida à pressão de soterramento resulta em fraturamento e dobramento dos grãos mais fracos. Grãos moles, como 19 fragmentos líticos finos, podem ser esmagados e deformados nesta fase. O volume dos grãos pode ser medido para se obter um indicativo da extensão da compactação. Próximo da superfície, ele é da ordem de 50 – 60%, mas aumenta para 90% ou mais em arenitos soterrados. Durante o soterramento a dissolução por pressão dos grãos produz contatos suturados entre os grãos de solubilidade e dureza similares, e contatos côncavo – convexos quando um grão dissolve preferencialmente. A dissolução por pressão nos contatos dos grãos é mínima quando o sedimento é cimentado precocemente, antes do soterramento profundo, ou quando há muita matriz. A dissolução por pressão pode ocorrer mesmo em uma rocha completamente cimentada, produzindo planos irregulares ou suturados, chamados estilolitos. A importância da dissolução por pressão é que ela pode ser o processo pelo qual são disponibilizados materiais para cimentação de outras porções de um mesmo sedimento. Cimentação por sílica: Um dos tipos mais comuns de cimentação por sílica é o crescimento de quartzo. O cimento silicoso comumente é precipitado em volta do grão de quartzo em continuidade óptica, ou sintaxial. Em muitos casos a forma do grão original é delineada por uma camada de óxidos de ferro ou argilas. Entretanto, uma camada grossa de argila impede a precipitação do sobrecrescimento. Em alguns casos o limite do grão e do sobrecrescimento não pode ser visualizado no microscópio e a rocha assume a aparência de um quartzito podendo apenas ser observado pela técnica de catodoluminescência. A origem da sílica para essa cimentação tem sido atribuída freqüentemente à dissolução por pressão. A água de formação torna-se enriquecida em sílica, a qual é então reprecipitada como sobrecrescimento quando é alcançada a supersaturação. Crescimentos de quartzo em rochas sem dissolução por pressão podem refletir migração de água de formação de fontes profundas enriquecidas em sílica por dissolução por pressão, ou indicam outra fonte. As dissoluções de outros silicatos, de pó de sílica ou de sílica biogênicas podem 20 ser fontes para a cimentação. O pó de sílica pode ser derivado de abrasão dos grãos, especialmente se o sedimento for eólico. A dissolução de anfibólios e piroxênios, a transformação de montmorilonita em ilita e de feldspato em caulinita podem também prover sílica. Em sedimentos marinhos, a água de formação freqüentemente contém concentrações significativas de sílica derivada da dissolução das diatomáceas, radiolários e espinhos de esponjas. Estes esqueletos silicosos são compostos por opalina amorfa, metaestável, que tem solubilidade maior que o quartzo. Devido a essa diferença de solubilidade e da crescente solubilidade da opalina com o aumento da profundidade de soterramento, a sílica biogênica pode ser uma fonte importante para cimentação. A água subterrânea é freqüentemente supersaturada com respeito a quartzo, e se essa água entrar em contato com areias quartzosas em volume suficiente, pode gerar cimentação por sobrecrescimento de quartzo. Além dos sobrecrescimentos de quartzo, a sílica ocorre como cimento na forma de microquartzo, megaquartzo, calcedônea e opala. Em alguns casos a presença de opala é relacionada a decomposição de partículas vulcânicas. A sílica pode também formar concreções chamadas silcretes, em solos com elevadas taxas de evaporação, sob climas áridos. A cimentação precoce de quartzo em arenitos torna as rochas mais capazes para suportar os efeitos da compactação e da dissolução por pressão durante o soterramento. Neste caso, uma porosidade moderada pode ser preservada e pode ser preenchida posteriormente por óleo ou gás. Cimentação carbonática: A calcita é um dos cimentos mais comuns em arenitos, mas outros cimentos carbonáticos de importância local são a dolomita e a siderita. O cimento pode estar bem distribuído na rocha ou apresentar zonas de concentração local ou concreções. Os dois tipos principais de cimento de calcita são os cristais poiquilotópicos e as drusas. Cristais 21 poiquilotópicos são grandes cristais, que envolvem vários grãos de areia. Já os mosaicos de calcita tipo drusa consistem em cristais equidimensionais que preenchem os poros entre os grãos, e tipicamente apresentam um aumento no tamanho dos cristais a partir do centro da cavidade original. Associado à precipitação de calcita ocorre freqüentemente um deslocamento dos grãos, que aparentam flutuar no cimento. Este deslocamento acontece como resultado da pressão de cristalização que os cristais de calcita exercem sobre o arcabouço durante sua formação. A calcita pode precipitar também em fraturas intragranulares ou clivagens dos grãos e forçá-las a se abrir devido também à pressão de cristalização. Isto é comum com micas, mas também ocorre com outros grãos. Além de preencher poros, a calcita e os outros carbonatos podem também substituir grãos. Grãos de quartzo cimentados por calcita são comumente corroídos nas bordas. É comum os feldspatos serem substituídos por corrosão insipiente ao longo dos planos de clivagens e maclas. A calcita é comumente o primeiro cimento a se formar. A precipitação precoce de calcita pode inibir a formação de crescimentos de quartzo e a alteração dos feldspatos para argila, e também pode resultar em perda total de porosidade e permeabilidade no sedimento. A precipitação de CaCO3, inicia quando é excedido o ponto de saturação, o que freqüentemente ocorre através de um aumento na atividade do íon carbonato. Em profundidades rasas isto pode ocorrer através de evaporação na zona vadosa ou do lençol freático. Em profundidade, a precipitação de carbonato é movida por um aumento no pH e/ou na temperatura. A fonte de CaCO3 pode ser a própria água de formação, mas em arenitos marinhos, a maior parte é provavelmente derivada da dissolução de esqueletos carbonáticos. A precipitação direta de dolomita é muito rara, sendo esta formada, na grande maioria dos casos, pela substituição do Ca2+ pelo Mg2+, chamada de dolomitização. Esta substituição se processa de forma ordenada, ou seja, camadas só de Mg intercaladas 22 regularmente com camadas de Ca. Este processo ocorre em todos os estágios da diagênese, principalmente nos estágios mais precoces (eodiagênese). Na eodiagênese marinha a dolomita pode ser gerada na zona de fermentação, onde as bactérias alteram a matéria orgânica, liberando CO2+, e favorecendo a precipitação de carbonatos ferrosos, como a Fe-dolomita, a Fe-calcita, a ankerita e a siderita. Esses carbonatos geralmente precipitam como nódulos, concreções e cimentos grossos (mosaico ou poiquilotópico), e são comumente zonados. A cimentação precoce de dolomita pode estar também relacionada à evaporação próxima da superfície, onde ocorrem grandes variações na salinidade e forte zonação. A percolação de água meteórica também favorece a formação de dolomita zonada. A dolomita também ocorre associada a evaporitos no ambiente continental. Normalmente, a dolomita se apresenta como romboedros euédricos, critério comumente usado para a diferenciá-la da calcita. Entretanto, a calcita pode aparecer, da mesma forma, como romboedros euédricos. Também, freqüentemente, ela ocorre como mosaicos e mesmo como espatos poiquilotópicos englobando dois ou mais grãos do arcabouço. Porém, esses dois carbonatos podem ser distintos facilmente quando aplicamos o método de coloração com Alizarina, um líquido que reage com o carbonato de cálcio produzindo um resíduo vermelho que tinge os cristais de calcita. A dolomita pode ser encontrada como produto de substituição de intraclastos carbonáticos. Nos cimentos calcíticos de certos arenitos, por vezes é possível se observar romboedros dolomitizados em espatos calcíticos. A dolomita ferrosa e a anquerita formam-se durante o soterramento e podem representar a cimentação carbonática dominante nas camadas profundas de algumas bacias. Também já foram encontradas dolomitas ferrosas dissolvidas devido a mudanças da composição das águas durante o soterramento. Na precipitação tardia de dolomita o magnésio pode ser derivado de argilas ou da dissolução de silicatos ricos em magnésio. Autigênese de sulfatos: 23 Gipsita, anidrita e barita são os três tipos mais comuns de sulfatos encontrados como cimento em arenitos. Em geral, em sedimentos antigos, a anidrita ocorre em profundidade, enquanto a gipsita ocorre em afloramentos e profundidades rasas (Murray, 1964). Temperatura, salinidade e pressão elevadas favorecem a precipitação de anidrita, a qual é de longe mais comum que a gipsita. A anidrita se forma, em ambientes de sabkha modernos, precipitando em sedimentos siliciclásticos situados sob regiões de supramaré, onde águas marinhas misturam-se às águas continentais e são evaporadas (Morad et al., 2000). Existem também casos de precipitação de anidrita a partir de fluidos que percolam através de falhas (Glennie et al. 1978). A anidrita ocorre comumente como cristais poiquilotópicos, ou como mosaicos (Mankiewicz & Steidtmann, 1979). A barita é também muito comum, mas geralmente ocorre subordinada a outros cimentos. Ela ocorre como grandes cristais de hábito euédrico, ou agregados radiais em evaporitos e como mosaicos na cimentação de arenitos. O Bário, necessário à geração de barita geralmente é proveniente dos feldspatos do arcabouço dos arenitos. Autigênese de feldspato: Embora, em muitos arenitos, os feldspatos sejam alterados para argilas ou substituídos por calcita, em alguns casos os grãos detríticos desenvolvem sobrecrescimentos de feldspato autigênico. Eles são mais comuns em feldspatos potássicos, mas também ocorrem em grãos detríticos de albita. Para formação de feldspato autigênico, é necessário que as águas de formação sejam alcalinas, ricas em Na+ ou K+, Al3+ e Si4+. Estes elementos são principalmente derivados da hidrólise e dissolução de grãos menos estáveis do sedimento. Crescimentos de feldspato desenvolvem-se comumente em ambiente eodiagenético continental. Em ambientes de soterramento profundo, ocorre albitização do plagioclásio e dos K-feldspatos detríticos, sendo que o Na+ necessário geralmente provém da transformação de esmectita em ilita (Boles, 1982; Saigal et al.., 1988 ; Milliken, 1989; apud: Tucker, 1991). 24 Autigênese de argilominerais: A precipitação de argilominerais em arenitos é muito importante, tendo em vista seu grande efeito na permeabilidade e porosidade, e isto pode diminuir significativamente o potencial do reservatório. IIita e caulinita são os argilominerais autigênicos mais comuns em arenitos, mas a montmorilonita, as argilas com camadas mistas de ilita – montmorilonita e montmorilonita – clorita também aparecem na diagênese dos arenitos. As argilas autigênicas ocorrem preenchendo poros e sob a forma de cutículas formadas em volta dos grãos. A atenuação ou ausência das cutículas nas proximidades e nos contatos dos grãos indica sua origem diagenética. A precipitação de cutículas de argila é comum na diagênese precoce, freqüentemente anterior a crescimentos de quartzo e cimentação por carbonato. Estas cutículas ficam impregnadas por hematita ou são alteradas por outras argilas durante a diagênese. Dentro dos poros, entre os grãos, a caulinita autigênica forma livros de lâminas paralelas pseudo-hexagonais. Em profundidade, fluidos alcalinos e altas temperaturas resultam na substituição de caulinita por ilita e a textura da caulinita pode ser preservada pela ilita. Para a formação de ilita são necessárias águas de formação alcalinas, com suficiente K+, Si4+ e Al3+. A caulinita requer águas mais ácidas e baixo K+. Estas podem ser produzidas por percolação de água meteórica no arenito, tanto durante os estágios iniciais de soterramento se os sedimentos são continentais, ou se marinhos, durante o soerguimento, após a fase de soterramento. A precipitação de caulinita em sedimentos marinhos podem também resultar da decomposição da matéria orgânica que libera ácidos orgânicos. Os íons para a precipitação de caulinita e ilita são derivados da alteração de grãos detríticos, em particular, dos feldspáticos. A caulinita preenchendo poros reduz a porosidade do arenito, mas tem baixa influência na permeabilidade, enquanto que a ilita afeta pouco a porosidade e, por outro lado, entope as saídas dos poros, diminuindo a permeabilidade. 25 Ambientes diagenéticos e seqüências Dentro de uma formação arenosa, a seqüência dos eventos diagenéticos pode ser simples, envolvendo apenas uma fase mineral, ou altamente complexa, envolvendo muitos estágios de precipitação, substituição e dissolução. Os fatores que controlam a evolução diagenética são, primeiro o ambiente deposicional, a composição e a textura, e em segundo plano, a química da água de formação, a profundidade de soterramento e o soerguimento. Os estágios da diagênese foram definidos em termos de ambientes, relativos a sua profundidade de soterramento no ambiente sedimentar (Scholle & Shluger, 1979). A Eodiagênese é o estágio que se segue logo após a deposição, normalmente à pequena profundidade. Sua evolução é influenciada pelo ambiente deposicional e/ou pela circulação de água vinda da superfície, pelas baixas pressões e baixas temperaturas. A Mesodiagênese ocorre após o soterramento efetivo, ou seja, o efetivo isolamento da superfície. Este ambiente é caracterizado por pressões e temperaturas crescentes. Os fluidos diagenéticos sofrem modificações composicionais devido às reações com os minerais do arcabouço. Este estágio pode evoluir para o anquimetamorfismo e para o metamorfismo através do soterramento crescente, ou para a telodiagênese. A Telodiagênese é a reexposição de rochas, que já estiveram soterradas, às condições superficiais. Este processo é causado pelo soerguimento e erosão de parte da seção sedimentar ou pela infiltração profunda de águas meteóricas. Existem três categorias principais de ambiente eodiagenético, cada um com diferentes condições químicas de água de formação e processos associados (Tucker, 1991): o ambiente marinho, o não marinho quente e úmido e o não marinho semi-árido / árido. No ambiente marinho, a maioria dos grãos de areia são estáveis, assim, as reações diagenéticas começam quando as águas de formação marinhas sofrem modificações e materiais menos estáveis começam a reagir. Quando existe matéria orgânica disponível a oxidação bacteriana libera o íon bicarbonato que pode levar a dissolução de grãos finos. Quando acaba o oxigênio, a ação das bactérias redutoras de sulfato produz mais íons bicarbonato e provocam a redução do pH pela liberação de H2S. Sob estas circunstâncias 26 pode precipitar pirita se houver Fe2+ disponível (nos fragmentos argilosos), e calcita e dolomita podem precipitar nos poros. A dissolução de silicatos metaestáveis pode levar à precipitação de argilominerais, e crescimentos de quartzo e feldspato a partir da água do mar modificada. Em muitos arenitos marinhos, a ordem típica dos eventos na eodiagênese é autigênese de argilominerais associada com crescimentos de quartzo e feldspato, seguidos pelo cimento carbonático. Ocorrem também os filossilicatos glauconita e bertierina (chamosita). No ambiente eodiagenético não marinho quente e úmido, perto da superfície, as águas de formação se tornam ácidas devido à quebra da matéria orgânica pelas bactérias. Entretanto, como existe pouco K+, Mg2+ e SO42- na água meteórica, a diagênese precoce gera, em areias quartzosas, crescimentos de quartzo, precipitação de caulinita e dissolução de feldspatos. O quartzo é pouco solúvel em pHs baixos, assim ocorre a formação de silcrete, precipitação de sílica, próximo à superfície. Em areias com grãos máficos, a dissolução libera Fe2+ e Mg2+, e se a água de poro for anóxica, precipita siderita e clorita. Se a areia contém fragmentos vulcânicos, então K+, Ca2+ e Mg2+ podem ser disponibilizados para a autigênese de esmectita e zeolita. No ambiente eodiagenético não marinho quente e seco, perto da superfície, as águas de formação são geralmente oxidantes e a lixiviação química é menos extrema. Os dois principais processos que operam em sedimentos sob estas condições são a formação de red beds e o desenvolvimento de calcretes. Red beds são típicas de regiões semi-áridas e formam-se através da liberação de ferro dos minerais máficos, durante o soterramento inicial, e sua precipitação em torno dos grãos como um óxido de ferro hidratado que se transforma em hematita. Calcretes são solos calcáreos que geram algumas feições diagnósticas. Outros processos são a dissolução de feldspatos e a precipitação como crescimentos, cimento de gipsita e alteração de grãos vulcânicos para zeolitas, como a clinoptilolita. No ambiente mesodiagenético, os arenitos estão sujeitos a soterramento e pressão progressiva e as águas de formação tornam-se mais salinas. Muitos grãos tornam-se 27 instáveis e começam a dissolver. Com o soterramento progressivo, ocorrem mudanças na mineralogia das argilas, sendo as esmectitas alteradas para ilita através de argilas de camadas mistas. Essa reação é importante para a cimentação dos arenitos visto que libera SiO2, Ca2+, Na2+, Fe2+ e Mg2+. cimentação e autigênese, A dissolução por pressão também fornece íons para a embora a eodiagênese possa impossibilitar isso. Sobrecrescimentos de quartzo, dolomita, ankerita e clorita podem precipitar e pode ocorrer albitização de plagioclásio. Grãos vulcânicos são alterados para zeolitas, especialmente laumontita. A geração de hidrocarbonetos também ocorre durante o soterramento profundo, e isso pode levar à de geração de águas formação ácidas, que dissolvem os grãos e os cimentos carbonáticos, produzindo porosidade secundária. Outro fator atuante em subsuperfície é o desenvolvimento de altas pressões de fluidos. Se existem sedimentos de baixa permeabilidade em uma seqüência (como lamitos), a pressão do fluido dos poros nos arenitos adjacentes pode ser substancialmente maior que a pressão hidrostática para aquela profundidade. O limite possível é a pressão litostática, quando o fluido do poro tem pressão igual ao peso das rochas acima. Quando os arenitos estão com pressão maior, as reações diagenéticas são retardadas e o stress grão-grão é reduzido, e assim, a porosidade primária pode ser preservada. Quando os arenitos são soerguidos para o ambiente telogenético, o clima torna-se novamente importante. Se for semi-árido, a oxidação dos sulfetos e dos carbonatos ferrosos levará à formação de óxidos de ferro hidratados (goethita – limonita), que podem transformar-se em hematita. Quando o clima é úmido, próximo da superfície, ocorre lixiviação dos feldspatos, carbonatos e minerais pesados e isso pode aumentar significativamente a porosidade. O momento de ocorrência dos processos diagenéticos nos arenitos é importante para a entrada de hidrocarbonetos. Se a porosidade do arenito for fechada por cimentação precoce, então ele não poderá tornar-se um reservatório de óleo. Os processos diagenéticos ocorrem em meio aquoso, e assim, o afluxo de óleo finaliza a diagênese, impedindo que ocorram novas reações. 28 Estudando a diagênese dos arenitos tenta-se reconstruir o padrão de movimento das águas de formação através do sedimento em escala de bacia. Existem dois processos principais: (a) a recarga de regiões continentais que permite a penetração de água meteórica a grandes profundidades em uma seqüência sedimentar; e (b) a expulsão da água para fora de lamitos compactados pode levar a movimentos laterais e verticais da água de formação. A diagênese precoce pode algumas vezes estar relacionada ao desenvolvimento de limites de seqüência, produzidos por mudanças do nível do mar de segunda ou terceira ordem, e a diagênese como um todo, de um arenito em uma bacia sedimentar, pode ser relacionada ao ambiente tectônico. Porosidade e Permeabilidade A porosidade e a permeabilidade são dois aspectos muito importantes das rochas sedimentares. A porosidade é a medida do espaço poroso e são definidos dois tipos: Porosidade absoluta = (volume total – volume sólido) x 100 Volume total Porosidade efetiva = (volume de poros interconectados) x 100 Volume total A porosidade absoluta representa o total de espaços vazios, mas já que alguns destes espaços podem ser intragranulares, a porosidade efetiva é mais importante, pois é ela que determina a capacidade de uma rocha reservatório, juntamente com a permeabilidade, a habilidade de um sedimento transmitir fluidos. A porosidade é uma característica básica de um sedimento ou rocha, enquanto a permeabilidade depende da porosidade efetiva, da forma, tamanho e interconexões dos poros, e das propriedades do próprio fluido, i.e., da capilaridade, viscosidade e gradiente de pressão. Na maioria dos arenitos, a permeabilidade aumenta enquanto a porosidade aumenta. Os dois principais tipos de porosidade são a primária e a secundária. A porosidade primária se desenvolve na deposição do sedimento e inclui os poros inter e intrapartículas. A 29 porosidade secundária se desenvolve durante a diagênese pela dissolução e pelo fraturamento da rocha, causado pelo tectonismo. A porosidade primária é representada nos arenitos principalmente pelos poros interpartículas, ela depende primeiramente da maturidade textural do sedimento, que é controlada primeiramente pelo processo e o ambiente deposicional, e, em segundo lugar, pela maturidade composicional. Em geral, a porosidade primária aumenta ao passo que o tamanho de grão aumenta, que a seleção é melhor e o empacotamento é menor, que os grãos são mais arredondados e que diminui o teor de argilas. As areias limpas, bem selecionadas, com empacotamento frouxo de sedimentos de dunas e de praias podem ter porosidades maiores que 48% e podem ter alta permeabilidade também. Em contraste com os arenitos, sedimentos finos, como os siltitos, tem alta porosidade efetiva, mas baixa permeabilidade. Após a deposição a maioria dos arenitos apresenta uma redução gradual da porosidade e permeabilidade com o aumento da profundidade. Entretanto, a composição do arenito é o fator dominante na evolução da porosidade. Arcabouços de diferentes composições evoluem de forma muito diferente durante a diagênese, e desenvolvem diferentes taxas de redução de porosidade com o soterramento. Os dois principais processos diagenéticos atuantes na redução da porosidade são a compactação e a cimentação. A compactação resulta em um empacotamento dos grãos mais apertado, e diminuindo os espaços entre os grãos. Grãos líticos são especialmente suscetíveis a deformação pelo soterramento. A cimentação, entretanto, é o principal processo de perda de porosidade nos arenitos. A sílica, a calcita e a argila podem ser precipitadas preenchendo os poros e diminuindo tanto a porosidade quanto a permeabilidade. A maioria dos reservatórios de petróleo não carbonáticos ocorrem em arenitos que foram apenas parcialmente cimentados e retém ainda muito de sua porosidade original. Os arenitos composicionalmente imaturos apresentam muita perda de porosidade devido à substituição dos grãos líticos por argila e zeolita. A formação destes minerais geralmente 30 envolve reações de hidratação de vidro e feldspato, resultando em novos minerais que ocupam mais espaço que os grãos originais, e logo, preenchem os poros também. Tabela 2. Fatores que favorecem (1) a preservação versus (2) a destruição da porosidade primária e (3) a formação de porosidade secundária (adaptado de Tucker, 1991). (1) Fatores que favorecem a (2) Fatores que contribuem na (3) Fatores que favorecem a preservação da porosidade redução da porosidade formação de porosidade Alta coesão primária dos grãos. Alto percentual de grãos dúcteis, i.e., Percolação precoce de água fragmentos de rochas vulcânicas e meteórica causando a lixiviação ígneas básicas. dos feldspatos e carbonatos. Alto conteúdo de grãos solúveis, i.e. Alto conteúdo de querogênio Precipitação precoce e limitada de vidro vulcânico, sílica biogênica e húmico em folhelhos adjacentes cimentos, fazendo a sustentação do minerais solúveis. (livres de carbonato) produzindo secundária Baixo teor de minerais de sílica amorfa altamente solúvel. grandes quantidades de CO2. arranjo dos grãos. Baixa pressão de poros (hidrostática) Precipitação precoce de cutículas, aumentando o efeito da pressão Transformação de caulinita, impedindo o desenvolvimento de litostática, a compactação mecânica e a esmectita e argilas de camadas crescimentos de quartzo. dissolução por pressão. mistas em ilita, o que pode causar também a lixiviação do feldspato. Em profundidade, alta pressão hidrostática, reduzindo o stress grão- Uma alta pressão de poro pode grão. gerar porosidade secundária por fraturamento hidráulico. Introdução precoce de hidrocarbonetos, reduzindo a precipitação a partir da água da formação. Segundo Schmidt & McDonald (in Schole & Schluger, 1979) a porosidade pode ser criada durante o soterramento pela dissolução dos grãos e cimentos. Águas de formação ácidas o suficiente para fazer isso podem ser produzidas pela descarboxilação da matéria orgânica dos lamitos adjacentes aos arenitos, e em alguns casos, esse processo está relacionado à geração e migração de hidrocarbonetos. Na telodiagênese também pode ocorrer geração de porosidade secundária pela infiltração de água meteórica através de falhas ou discordâncias. Tal processo favorece a dissolução incongruente dos feldspatos e a precipitação de caulinita. A dissolução de carbonatos é limitada devido à rápida neutralização do pH da água meteórica. 31 A porosidade secundária pode ser reconhecida por: (a) grãos parcialmente dissolvidos, (b) cutículas de argilas não dissolvidas em formato de grãos e, (c) poros agigantados: i. e. poros grandes no tamanho e forma de grãos. Para melhor observar estas feições, as amostras devem ser impregnadas com uma resina colorida antes da laminação. Os grãos que comumente sofrem dissolução são os feldspatos, minerais máficos, vulcânicos, bioclastos, e cimentos de carbonato, zeolita, argilas e sulfatos. Os fatores que favorecem a preservação e a destruição da porosidade estão resumidos na tabela2. Segundo Tucker (1991), a porosidade média observada em bons reservatórios de petróleo está entre 20 – 35%. 32 3. CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL 3.1. GEOLOGIA DO EMBASAMENTO DA BACIA DE ALMADA O embasamento da Bacia de Almada é formado pelas rochas do Cinturão Móvel Costeiro Atlântico, que é composto na região pela Associação Pré Espinhaço do Cráton São Francisco (Facuri, 2003). Este Cinturão compreende principalmente o Complexo Ibicaraí – Buerarema, o Complexo São José, o Complexo Ilhéus, os Granitóides São Geraldo e Suítes intrusivas Rio Paraíso e Água Sumida, e ainda a Suíte Itabuna. As direções de foliação principais deste embasamento são N-S sub-verticais, com sistemas de falhas de direções NE-SW e NNE-SSW (Fig. 6). As rochas do Cinturão Móvel Costeiro Atlântico foram geradas por um processo de subducção de leste para oeste, resultando na formação de arcos-de-ilhas e bacias pós-arco (Barbosa, 1989 in Facuri, 2003). Posteriormente, em torno de 2400 Ma, estas rochas teriam sido submetidas a processos colisionais com um proto-continente. O Complexo Ibicaraí-Buerarema possui idade de 2650 Ma (Rb/Sr), é formado por rochas gnáissicas granulitizadas, essencialmente plutônicas de composição metagabronorítica, metanorítica, metamonzonítica e metatonalítica, sendo esta última a mais freqüente entre os litotipos (Arcanjo, 1997 in Facuri, 2003). A unidade Rio Japú compreende uma faixa onde os ortognaisses estão metamorfisados em fácies anfibolito, gradando para os granulitos do Complexo IbicaraíBuerarema. As rochas desta unidade são biotita-gnaisses, honblenda gnaisses, granitos gnáissicos e corpos de granodioritos gnáissicos. Estas rochas provavelmente correspondem a um ambiente crustal mais raso que as do Complexo Ibicaraí-Buerarema, tendo resultado em um metamorfismo menos intenso. 33 Figura 6: Mapa geológico de Itabuna, Facuri, 2003. O Complexo São José representa um conjunto de rochas essencialmente ígneas e granulitizadas, que se apresentam fortemente bandadas e possuem composições calcialcalinas com baixo-K e normal. O complexo é constituído predominantemente por metatonalitos com porções de metagabro-noritos, metadioritos e metatrondjemitos, ocorrendo subordinadamente corpos individualizados de metagabro-noritos, metadioritos, metanoritos, metabasaltos e gnaisses quartzo-feldspáticos. Os Granitóides São Geraldo e as Suítes intrusivas Rio Paraíso e Água Sumida constituem um conjunto de rochas plutônicas sub-alcalinas, que intrudiram o Complexo Ibicaraí-Buerarema no Paleoproterozóico. São constituídos por ortognaissses de composição granítica, monzonítica e sienítica, metamorfisados em fácies anfibolito superior a granulito. Estas rochas possuem idade geocronológica (Rb/Sr – rocha total da Suíte Intrusiva Rio Paraíso) de 2325 M.A. 34 O Complexo Ilhéus aflora no extremo sul e é composto por rochas granulíticas fortemente bandadas de natureza vulcanogênica de composição dacítica a basáltica (Arcanjo, 1997). A Suíte Intrusiva Itabuna compreende os numerosos corpos de rochas alcalinas que não apresentam metamorfismo nem deformação, ocorrendo no sul da Bahia e encaixados principalmente nos terrenos granulíticos do Cinturão Móvel Costeiro Atlântico. São constituídos principalmente por sienitos, piroxênio sienitos, nefelina sienitos, dioritos, gabros e basaltos, cuja origem pode ser associada a um magmatismo alcalino pós-cinemático. 3.1. A BACIA DE ALMADA E SUA EVOLUÇÃO TECTONO-SEDIMENTAR A Bacia de Almada possui dois sistemas principais de falhas com direções NNE e NE (Bruhn & Moraes, 1989), que geram um padrão romboédrico na sua geometria (Fig. 7). Ela possui também um sistema secundário de falhas com direção NNW. Tais falhas afetam a Formação Urucutuca apenas no limite sul da Bacia, estando esta unidade suavemente basculada para leste. Figura 7: Mapa geológico da porção emersa da Bacia de Almada (Bruhn & Moraes, 1989). 35 A Bacia é delimitada pelas falhas NE-SW e NNE – SSW, a Falha Serra Pilheira ao norte (seta vermelha) e a Falha Marrom ao sul (seta azul) (Fig. 7). Estas falhas colocam o embasamento em bloco alto e a seção sedimentar em bloco baixo (Facuri, 2003). Estudos recentes, efetuados por Valeriano et al. (2003), com traços de fissão em rochas do embasamento cristalino, identificaram dois intervalos de tempo de forte atividade tectônica na Bacia de Almada, um situado no Cretáceo Inferior (entre 132 e 109 Ma), relacionado ao soerguimento flexural da litosfera na fase pré-rifte, e outro, no CampanianoMaastrichtiano (71 Ma), que coincide com a idade de deposição dos sedimentos da Formação Urucutuca. Assim, Valeriano et al. (2003), propõem que a sedimentação dos sedimentos da Formação Urucutuca esteve associada a um regime tectônico transtensivo sinistral, que reativou as falhas NE-SW em modo transcorrente sinistral. Segundo Chang et al. (1990), a história tectono-sedimentar da Bacia de Almada se inicia no Cretáceo (Neocomiano) com a separação dos continentes sul-americano e africano, caracterizando a fase rifte, sendo constituída por um espesso pacote de sedimentos continentais; passa por fase transicional Aptiana, quando se verificaram as primeiras ingressões marinhas; e se completa com a fase marinha franca, que se estende desde o Albiano até o presente, devido ao continuado espalhamento do fundo oceânico. A cada uma destas três fases tectônicas estão relacionadas as três respectivas megasseqüências de preenchimento sedimentar das bacias marginais do leste do Brasil, definidas por Ponte et al. (1978; in: Chang et al., 1990): continental (fase rifte), evaporítica transicional (proto-oceano) e marinha (subsidência termal). Esta última é ainda subdividida em plataforma carbonática rasa, transgressiva e regressiva. A Megasseqüência Continental – Fase Rifte: A fase extensional, relacionada à origem das bacias, ocorre com a ruptura do continente Gondwana, em resposta à atuação de esforços distensivos do Neocomiano ao início do Aptiano. Uma característica marcante desta fase é o desenvolvimento de um intrincado sistema de rift valleys alongado na direção SO-NE, onde se desenvolveram 36 horsts, grabens e meio-grabens, limitados por falhas sintéticas e antitéticas, preferencialmente orientados na mesma direção. Pacotes sedimentares sobrepostos, principalmente nas posições mais proximais, foram afetados pela atividade e reativações destas falhas. O tectonismo ativo associado ao ambiente deposicional fluvial e fluvio-lacustre propiciou a sedimentação de um amplo espectro de fácies, desde conglomerados junto às falhas até os pelitos mais distais. O limite superior da Seqüência é marcado por uma discordância de caráter regional (discordância pré-Alagoas) que teria peneplanizado o antigo relevo rifte. A base da Megasseqüência é composta pelas formações Sergi (Neojurássico), Itaipé (Berriasiano) e Morro do Barro (Berriasiano / Valanginiano), e a seção superior, pela Formação Rio de Contas (do Hauteriviano ao início do Aptiano). A Megasseqüência Transicional: Depositada durante o Aptiano (Andar Alagoas), em um período de relativa quiescência tectônica, sobre a discordância regional, esta Seqüência é composta, em sua base, por sedimentos predominantemente siliciclásticos grosseiros, provenientes de altos continentais adjacentes. Trata-se de uma cunha clástica relativamente delgada, constituída de conglomerados e arenitos, que, gradativamente, foi afogada por água salgada proveniente do oceano localizado ao sul, propiciando a sedimentação de material mais fino (clásticos finos e folhelhos ricos em matéria orgânica). Com a estreita passagem do mar formada ao longo das margens leste brasileira e oeste africana, quando se verifica grande restrição de circulação de água associada a uma maior aridez climática, depositou-se uma completa suíte de evaporitos, cuja espessura estimada é de cerca de dois mil metros junto ao depocentro do golfo salino (Chang et al., 1990). A flexurização crustal e o conseqüente basculamento das bacias para leste, somado à sobrecarga de sedimentos sobrepostos, causou o escorregamento de sais mais solúveis e de maior plasticidade (principalmente halita). 37 Como conseqüência do fluxo de sais em direção ao centro da Bacia houve formação de domos e muralhas de sal nas porções mais distais, formação de vazios (janelas de sal) na retaguarda e desestabilização da cobertura carbonática albiana sobreposta, com deslocamento de blocos bacia adentro e o desenvolvimento de falhas lístricas que afetaram todo o pacote marinho sobreposto, seja formando extensos domos estruturais (roll-overs), seja determinando nova distribuição faciológica de sedimentos terrígenos e carbonáticos. Esta Seqüência é reconhecida em Almada como Formação Taipus-Mirim, sendo dividida em membros Serinhaém (clásticos) e Igrapiúna (evaporitos). A não observância de pacotes evaporíticos junto à área estudada se deve provavelmente à não deposição ou erosão destes, quando do soerguimento das áreas mais proximais e continentais. A Megasseqüência Marinha Carbonática Rasa: A partir do Albiano, a gradual abertura da estreita faixa marinha do proto-oceano Atlântico Sul devido ao continuado espalhamento do fundo oceânico, em uma fase caracteristicamente de subsidência térmica flexural, propiciou a deposição de espesso pacote de sedimentos marinhos. Em um primeiro estágio, implantou-se ampla plataforma carbonática marinha rasa (definida também como uma megasseqüência, de acordo com Ponte et al., (1978 in Chang et al., 1990), em ambiente nerítico (< 50 metros), constituída predominantemente de calcários de alta energia, sucedendo aos evaporitos aptianos. Ao longo da antiga linha de costa albiana, sistemas de leques deltaicos (fan-deltas) costeiros se desenvolveram e se intercalaram aos carbonatos. Para o centro das bacias passam a dominar as fácies mais finas, de lutitos a folhelhos e margas, estando de acordo com o modelo deposicional típico de rampa carbonática (Chang et al., 1990). Por outro lado, a halocinese teria condicionado, além da deformação estrutural desta rampa, a distribuição faciológica das fácies carbonáticas e a relação siliciclásticos / carbonatos. Baixos estruturais associados a roll-overs das falhas lístricas teriam propiciado o desenvolvimento de fácies carbonáticas de menor energia, enquanto as de maior energia 38 distribuir-se-iam preferencialmente sobre a projeção vertical das feições positivas originais da fase rifte. Ainda dentro do processo adiastrófico, arenitos turbidíticos se encaixariam junto a estes baixos estruturais (Chang et al., 1990). Em Almada esta seção é relativamente pouco espessa e responde por Formação Algodões. Os membros Germânia e Quiepe designam calcarenito / calcirruditos oolíticos e calcilutitos, respectivamente. Nas porções mais proximais, entre as quais a área do cânion, esta seção não está presente. Provavelmente não teria sido depositada ou teria sido erodida pela proeminente e importante discordância regional pré-Urucutuca (pré-Cenomaniana?). A Megasseqüência Marinha Transgressiva: Ao final do Albiano, estabeleceu-se o aumento de volume das águas oceânicas e, conseqüentemente, a plataforma carbonática foi afogada. Espessos pacotes de sedimentos caracteristicamente de ambiente marinho mais profundo, de nerítico profundo a batial raso, se depositaram. É durante o Cenomaniano – Turoniano que se observa um importante evento anóxico, de máximo afogamento, quando a profundidade teria alcançado cerca de 250 metros (Chang et al., 1990). Sismoestratigraficamente, o caráter transgressivo do pacote é determinado pelo padrão predominantemente de onlap sobre os sedimentos sotopostos. Intercalados aos pelitos encontram-se turbiditos arenosos ao longo de toda a margem, grande parte deles associadas a rebaixamentos do nível do mar. Todo o pacote de folhelhos e arenitos turbidíticos da seqüência transgressiva da Bacia de Almada são designados de Formação Urucutuca. A Megasseqüência Marinha Regressiva: A passagem da fase transgressiva para a regressiva varia em idade ao longo da margem continental, começando mais cedo nas bacias mais meridionais. Admite-se que o início desta fase na Bacia de Almada tenha ocorrido a partir do Eoceno Médio. Compõe a seqüência regressiva um conjunto de sistemas deposicionais sincrônicos onde estão presentes clásticos de fan-deltas, fluvio-deltaicos e de plataforma terrígena 39 (Formação Rio Doce), plataforma carbonática (Formação Caravelas) e sedimentos de bacia e talude (folhelhos e turbiditos arenosos da Formação Urucutuca). As designações das unidades litoestratigráficas são as mesmas para ambas as bacias. Na Bacia do Espírito Santo, a maior intensidade do vulcanismo de Abrolhos encontrase associada ao início da formação desta Megasseqüência. 3.2. ESTRATIGRAFIA DA BACIA DE ALMADA A Bacia de Almada tem muito em comum com a Bacia do Recôncavo, entretanto, a partir do início do Cretáceo, o preenchimento desta bacia difere do preenchimento do rifte do Recôncavo, justificando a definição de uma estratigrafia própria (Fig. 8) (Netto et al., 1994). A seção mais nova, neocretácea e terciária, assemelha-se à da Bacia do Espírito Santo, de onde foi adotada a litoestratigrafia formal da carta estratigráfica (Netto et al., 1994). Grupo Brotas – Fm Sergi: A Formação Sergi é composta essencialmente por arenitos médios, moderadamente selecionados, submaturos, com estratificações cruzadas tabulares, com membros conglomeráticos polimíticos, suportados pela matriz arenosa ou por clastos intraformacionais, e também folhelhos intercalados. Essas rochas integram uma seqüência coarsening-upward apresentando uma distribuição contínua e ocupando as porções mais elevadas nas bordas da Bacia. Esta formação está em desconformidade com as rochas granulíticas do embasamento. Um complexo sistema de falhas põe esta formação em contato com a Suíte Intrusiva Itabuna e com as demais formações da bacia. Os sedimentos do Sergi foram depositados por um sistema de leques aluviais, sob um clima predominantemente árido. A espessura estimada para essa formação é de 180 a 200 metros (Carvalho, 1965), aparentando um adelgaçamento na direção sul. 40 Figura 8: Coluna estratigráfica da Bacia de Almada (Netto et al., 1994). 41 A Formação Aliança, que também compõe o Grupo Brotas, não foi encontrada aflorando no mapeamento de Carvalho, mas ele admite que esta possa estar presente em subsuperfície e sugere a existência de uma discordância Sergi / Aliança (Carvalho, 1965). Formação Itaípe: Designa os sedimentos clásticos finos sobrepostos aos arenitos da Formação Sergi e sotopostos aos clásticos finos e grossos da Formação Morro do Barro. Essa Formação caracteriza-se por um conjunto de sedimentos, representados por folhelhos cinzentos na base, arenitos médios a finos, texturalmente submaturos em sua porção intermediária, e folhelhos cinzentos com intercalações de folhelhos castanhos no topo. O contato basal é transicional com a Formação Sergi, e o topo é discordante com a Formação Morro do Barro. A espessura máxima encontrada para esta formação é de 466 metros. Suas datações bioestratigráficas sugerem para esta Formação a idade Rio da Serra Inferior, representando uma transição da fase pré-rifte para rifte, caracterizando uma sedimentação flúvio-lacustre. A Formação Itaípe correlaciona-se com os folhelhos da Formação Itaparica, os arenitos da Formação Água Grande e o Membro Tauá, ambos da Bacia do Recôncavo e com a porção basal da Formação Barra de Itiúba da Bacia Sergipe – Alagoas (Netto et al., 1994). Formação Morro do Barro: Essa Formação é composta por dois membros, o Membro Tinharé, composto por sedimentos clásticos grossos, representados por arenitos granulosos, com seixos e grânulos pelíticos; e, o Membro Jiribatuba, composto por folhelhos cinza-esverdeados a castanhoescuros, calcífero, carbonoso, com intercalações de arenitos granulosos. Seu ambiente deposicional é interpretado como dominantemente subaquoso, dominado por fluxos gravitacionais em um lago tectônico (Barroso, 1984; apud: Netto et al., 1994), típico de um ambiente flúvio-lacustre. Esta Formação é correlacionável com parte dos 42 sedimentos da Formação Candeias da Bacia do Recôncavo, e parte dos sedimentos das formações Penedo e Barra de Itiúba, da Bacia de Sergipe-Alagoas (Netto et al., 1994). Formação Rio de Contas: Esta formação é representada por sedimentos clásticos e carbonáticos sobrepostos à Formação Morro do Barro e sotopostos aos evaporitos da Formação Taipus-Mirim, do Grupo Camamu. Ela possui dois Membros: O Membro Ilhéus, composto por folhelhos cinza esverdeados, cinza escuros e acastanhados, e por arenitos muito finos. E o Membro Mutá, composto por um arenito cinza claro, com tamanho de grão fino a grosso, até conglomerático, e dolomítico. Margas, calcarenitos e dolomitos ocorrem por toda a Formação, sendo mais contínuos na porção inferior. O contato inferior, com a Formação Morro do Barro é discordante, e o contato superior com o Grupo Camamu é parcialmente discordante. A variação de suas fácies deposicionais, em relação à sua sedimentação sugere uma seqüência lacustre de leques deltaicos, plataformais e de talude. Suas datações bioestratigráficas indicam idade Aratu e/ou Alagoas. Segundo Netto et al. (1994), esta formação correlaciona-se com parte da Formação Cricaré da Bacia do Espírito Santo, e com a Formação Coqueiro Seco e parte da Formação Penedo da Bacia de Sergipe/Alagoas. Grupo Camamu: Este Grupo é constituído pela Formação Taipús - Mirim e Algodões (Gama Jr., 1974; apud: Netto et al., 1994). A Formação Taipús-Mirim é representada por dois membros. O Membro Serinhaém, composto por intercalações de arenitos cinza claro a escuro, e folhelhos sílticos cinza escuro, castanho e preto, micáceo e carbonoso. E o Membro Igrapiúna, composto por calcáreos castanhos e amarelados, dolomitos, folhelhos castanhos e halita. Sobrepostos a esta Formação, e de contato concordante, tem-se a Formação Algodões, que é representada na Bacia de Almada pelo Membro Germânia, composto por calcarenitos, calcirruditos ooliíticos e pisolíticos, em parte dolomitizado; e pelo Membro 43 Quiepe, composto de calcilutitos com foraminíferos planctônicos (Della Fávera, 1973; apud: Netto et al., 1994). O contato com a Formação Rio de Contas é parcialmente discordante. O contato entre as formações Taipús-Mirim e Algodões é concordante. Seu contato com a Formação Urucutuca, do Grupo Espírito Santo, é marcado por uma discordância regional. A Formação Taipús –Mirim correlaciona-se com a Formação Mariricu nas Bacias do Espírito Santo e Jequitinhonha, com a Formação Marizal da Bacia do Recôncavo e com a Formação Muribeca da Bacia de Sergipe-Alagoas. A Formação Algodões é correlacionável com a Formação Macaé da Bacia de Campos, com a Formação Regência das bacias do Espírito Santo e Cumuruxatiba, e, com a Formação Riachuelo da Bacia de Sergipe-Alagoas (Netto et al., 1994). Grupo Espírito Santo: A definição do Grupo Espírito Santo na Bacia de Almada foi descrita por Netto et al., 1994, por analogia com os folhelhos da Formação Urucutuca, os carbonatos plataformais da Formação Caravelas e os arenitos neríticos da Formação Rio Doce, definidos na Bacia do Espírito Santo. Este Grupo distribui-se do coniaciano até o holoceno, formando um sistema transgressivo, e posteriormente regressivo, onde se reconhecem os ambientes nerítico, batial e abissal. Assim, os folhelhos, arenitos e conglomerados (definidos como turbiditos por Bruhn & Moraes, 1989) de idade campaniano/maastrichtiano que afloram na porção emersa da Bacia de Almada são denominados como Formação Urucutuca, definida por Carvalho (1965). Formação Barreiras: Formação de idade terciária (pliocênica), se encontra presente nas regiões nordeste e sudeste da porção emersa da Bacia de Almada. Esta Formação é caracterizada pela presença de conglomerados amarelados e avermelhados, arenitos maturos amarelados, resultantes de uma sedimentação de ambientes de leques aluviais em clima úmido (Mércio, 1996; apud: Netto et al., 1994). 44 O Paleocânion de Almada Carvalho (1965) já havia reconhecido o contato discordante (erosional e angular) entre a Formação Urucutuca e os sedimentos subjacentes, porém Ferradaes & Souza (1972; apud: Bruhn e Moraes 1989) ao mapearem a superfície de discordância pré – Urucutuca na porção marítima da Bacia de Almada, definiram pela primeira vez o atualmente denominado Cânion de Almada, uma grande feição erosiva, pós –cenomaniana, preenchida por uma coluna de sedimentos campano-maastrichtianos e terciários da Formação Urucutuca, com espessura de até 600 metros. Os sedimentos aflorantes da Formação Urucutuca são, portanto, considerados uma porção exumada de preenchimento do Cânion de Almada. Bruhn e Moraes (1989) estudaram os sedimentos da Formação Urucutuca e os definiram como complexos turbidíticos canalizados. Segundo Mendes (1998), o contexto deposicional das rochas da Formação Urucutuca apresenta-se mais raso na porção oeste do cânion, onde turbiditos conglomeráticos recortam depósitos plataformais, e a seção torna-se progressivamente mais profunda para leste, onde ocorrem turbiditos canalizados associados a depósitos de slumps e debris flows. Entretanto, conforme será exposto no capítulo 4, estudos recentes indicam que, além da formação de depósitos turbidíticos, no cânion de Almada ocorria também a deposição de sedimentos pela ação de marés e o ambiente sedimentar era mais raso do que se supunha. O paleocânion de Almada foi preenchido exclusivamente por sedimentos neocretácicos. Estes sedimentos estão sobrepostos a rochas de uma espessa seqüência rifte, que foi erodida por uma discordância pré-Cenomaniana, de extensão regional – o paleocânion de Almada. Na porção submersa da bacia, sedimentos terciários (Paleoceno principalmente) passam a recobrir o cânion, já totalmente assoreado. Dentro do cânion foram identificadas, sismoestratigraficamente, por Mendes (1998), duas seqüências deposicionais, geneticamente relacionadas às variações de 2a e 3a ordem do nível relativo do mar: uma seqüência cenomaniana-coniaciana e outra campanianamaastrichtiana.