Relação da síndrome da pelve cruzada com a força respiratória

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Relação da síndrome da pelve cruzada
com a força respiratória: relato de caso
The relationship between the pelvic cross syndrome
with respiratory force - a case report
Resumo Introdução: a má postura desencadeia desequilíbrios sobre a
coluna vertebral, provocando alterações lombares e pélvicas, dentre elas
a síndrome da pelve cruzada, interferindo na mecânica respiratória. Objetivo: mostrar a relação entre a síndrome da pelve cruzada e a função
respiratória. Metodologia: a amostra foi constituída por uma voluntária
com hiperlordose lombar. Para avaliação, foram aplicados a manovacuometria, cirtometria e testes de força muscular para coluna e quadril.
O tratamento foi composto por vinte sessões, constituído por exercícios
de alongamento e fortalecimento. Resultados: houve ganhos satisfatórios nas pressões respiratórias máximas, sendo que a PImáx evoluiu
de 65 para 90 e a PEmáx, de 45 para 80 cmH2O. Quanto ao ângulo de
inclinação anterior pélvica, houve uma redução de 4,3º da primeira para
a última avaliação. Conclusão: concluiu-se que há melhora da função
pulmonar com o tratamento da síndrome da pelve cruzada, havendo,
assim, possível relação entre o segmento lombar e a função respiratória.
Palavras-chave: síndrome da pelve cruzada, fisioterapia, manovacuometria.
Tiago Del Antonio
Universidade Estadual do Norte do
Paraná
Fabrício José Jassi
Universidade Estadual do Norte do
Paraná
LUCIANE MAYUmI MIYAJImA
NATAlIA TIEmI DA SIlVA SATO
Mestranda em Fisioterapia
Núcleo de Estudos em Neuropediatria
e Motricidade - NENEM
Universidade Federal de São Carlos
- UFSCar
Ana Carolina Ferreira Tsunoda
Sáude em Revista
Abstract Introduction: Poor posture triggers imbalances on the
spine, causing lumbar and pelvic changes, among them the cross syndrome pelvis, interfering in the respiratory mechanics. Objective: To
show the relationship between pelvic cross syndrome and respiratory
function. Methodology: The sample consisted of a volunteer with lumbar hyperlordosis. For evaluation purposes, we applied the manovacuometry, cirtometry, and muscle strength tests for spine and hip. The
treatment consisted of 20 sessions of stretching and strengthening exercises. Results: There were satisfactory gains in maximal respiratory
pressures; relative MIP evolved from 65 to 90 cm H2O and MEP evolved
from 45 to 80 cm H2O. As to the anterior pelvic-tilt angle, it decreased
by 4.3° from the first to the last assessment. Conclusion: We conclude
that there is improvement in lung function with the treatment of pelvic
cross syndrome, so there is a possible relationship between the lumbar
segment and the respiratory function.
Keywords: pelvic cross syndrome, physical therapy, manovacuometry.
Relação da síndrome da pelve cruzada com a força respiratória: relato de caso
3
Tiago Del Antonio et al.
Introdução
Postura é a posição assumida pelo corpo, quer seja por meio da ação integrada dos
músculos operando para atuar contra a força
da gravidade, ou quando mantida durante a
inatividade da musculatura dinâmica.1
A postura correta é aquela em que um
mínimo de estresse é aplicado a cada articulação, necessitando de mínima atividade
muscular para ser mantida, em contraposição a uma postura defeituosa em que existe
um aumento da sobrecarga articular.²
Contudo, possíveis fatores que contribuem para uma postura inadequada são:
atitude mental, fraqueza muscular geral,
fadiga prolongada, dor localizada, estresse
ocupacional e tensão localizada. Estes fatores reduzem a eficiência do sistema muscular, assim como uma noção errada sobre
uma postura correta pode contribuir para a
instalação de mal alinhamento estrutural.
Além disso, um fator danoso, exacerbado
pela má postura, é a alteração na mecânica
respiratória.3
Umas das alterações mais frequentes na
postura, que pode estar diretamente ligada
à mecânica respiratória, é a hiperlordose
lombar, que, no aspecto patológico, é caracterizada pelo exagero na curva normal
encontrada na região lombar, havendo uma
curva no plano sagital com vértice anterior.
De acordo com a Scoliosis Research Society, ela pode variar entre 31º e 79º.4 Segundo
Morvan et al.,5 que estipulam valores menos
amplos, para o gênero masculino o valor é
41º±11º e, para o gênero feminino, 46º±11º.
Esta acentuação pode ser causada por
malformação óssea, posturas viciadas negligentes, falta de exercício físico, desgastes
4
do tecido, mecanismo de compensação, reações de defesa antálgica, rigidez e contratilidade, como a dos músculos extensores por
paralisia dos espinhais lombares, insuficiência dos músculos flexores, particularmente dos retos abdominais, insuficiência dos
músculos do glúteo, retração do iliopsoas e
peso das vísceras.6
A hiperlordose é criada por abdominais
fracos e obliquidade pélvica e, se for superior a 20º, haverá um aumento de lordose
e, consequentemente, deslocamento do centro de gravidade e realinhamento de todas
as curvas para uma compensação. Não há
hiperlordose lombar sem anteroversão pélvica, e não há anteroversão pélvica sem postura hiperlordótica.7
A literatura aponta que as curvaturas
anormais da coluna vertebral interferem
no sistema respiratório, pois estes desvios
proporcionam deficiência na expansibilidade torácica, interferindo negativamente na
complacência tóraco-pulmonar e na ventilação dos pulmões com diminuição da capacidade vital.8
A ventilação pulmonar depende da elasticidade pulmonar e da amplitude dos movimentos torácicos. O aumento do volume
da caixa torácica deve-se, em grande parte,
ao movimento do diafragma, que promove
expansão do tórax em todos os sentidos.
Essa expansibilidade, que é mensurada por
meio da cirtometria torácica dinâmica, é
proporcional à amplitude do movimento de
elevação das costelas, e essa amplitude, por
sua vez, depende da posição da coluna vertebral. A melhor expansão é obtida quando
a costela atinge o mesmo plano da vértebra
na qual está articulada, o que não acontece
nas alterações posturais.9
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Tiago Del Antonio et al.
Os testes de função pulmonar são bastante precisos para verificar a eficácia de
técnicas, servindo como métodos auxiliares
na avaliação respiratória, além de fornecerem medidas quantitativas que constituem,
também, indicadores da função neuromuscular. As medidas de pressão inspiratória
máxima (PImáx) e pressão expiratória máxima (PEmáx) permitem quantificar a força
dos músculos respiratórios de forma prática
e não invasiva.10
Quando o encurtamento do diafragma
ocorre em sua porção esternal, provoca encurtamento de seu pilar, o que leva o tórax à
posição expiratória; o encurtamento da porção costal leva as últimas costelas a adotarem
uma posição inspiratória, e o encurtamento
da porção lombar acentua a lordose lombar.9
Portanto, o encurtamento da cadeia respiratória pode levar ao aumento da lordose
lombar e como a ventilação pulmonar está
diretamente relacionada com as curvaturas
da coluna vertebral, pode-se concluir que a
respiração exerce um papel fundamental na
postura, uma vez que os músculos respiratórios estão ligados à coluna vertebral e às
costelas.9 O objetivo do estudo foi analisar se
existe relação entre a síndrome da pelve cruzada e a função respiratória em um indivíduo
do sexo feminino com hiperlordose lombar.
Metodologia
A presente pesquisa caracteriza-se por
ser um estudo de caso, submetido e aprovado pela Plataforma Brasil, sob o número de
protocolo 19079713.2.0000.0108, obedecendo à resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Desenvolveu-se, primeiramente, com uma triagem de indivíduos com
Sáude em Revista
diagnóstico fisioterapêutico de hiperlordose
lombar em virtude de fraqueza abdominal e
diafragmática.
Esses voluntários passaram por uma
avaliação inicial, na qual foram incluídos
ou excluídos do tratamento, respeitando os
critérios de inclusão (hiperlordose lombar,
ausência de dor lombar, fraqueza abdominal, diminuição da força diafragmática, gênero feminino, sedentarismo, ter entre 17 e
25 anos, apresentar índice de massa corpórea
(IMC) até 24,9 kg/m2) e exclusão (osteossíntese, presença ou suspeita de processos inflamatórios, presença ou suspeita de doenças
degenerativas, alterações nos hábitos de vida
e presença de doença pulmonar). Seguindo
esses critérios, foi selecionado para o estudo
um paciente que apresentava 21 anos, gênero
feminino, estudante, com IMC normal de 23
kg/m2, adequando-se ao projeto.
A voluntária foi informada dos objetivos e da metodologia à qual seria submetida, esclarecendo-se o caráter não invasivo dos procedimentos. Posteriormente ela
assinou um termo de consentimento livre e
esclarecido, apresentado no primeiro dia do
estudo, abordando os benefícios e riscos do
procedimento a ser adotado.
A avaliação fisioterapêutica foi constituída por: identificação; sinais vitais, como
pressão arterial sistêmica (PAS) e frequência cardíaca (FC), por meio do equipamento
Omron® HEM-742; peso e altura, por meio
de balança antropométrica; e IMC, por meio
da relação entre a massa corporal expressa
em quilogramas e a estatura em metros determinando, assim, o estado nutricional do
indivíduo.
Durante a avaliação, foi realizada ausculta pulmonar, com o intuito de detectar
Relação da síndrome da pelve cruzada com a força respiratória: relato de caso
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Tiago Del Antonio et al.
sons normais e patológicos produzidos nos
pulmões e nas vias aéreas, excluindo possíveis alterações patológicas que poderiam
afetar os testes pulmonares. No que diz respeito à análise da expansão da caixa torácica,
foi realizada a cirtometria, na qual o examinador passa a fita métrica em torno do tórax
em três níveis diferentes: 1) sob as axilas,
para a expansão apical (axilar); 2) na linha
mamilar, para a expansão da região torácica
média (mamilar/esternal); e 3) no nível do
processo xifoide, para a expansão da região
torácica inferior, sendo as medições feitas
após a expiração e a inspiração máximas.2
Por meio do manovacuômetro (da marca
Comercial Médica®) foi avaliado o grau de
força muscular respiratória. A PImáx foi
medida durante esforço iniciado a partir do
volume residual (VR), enquanto que a PEmáx foi medida a partir da capacidade pulmonar total (CPT).11 Foram realizadas três
aferições para o indivíduo, com intervalo de
um minuto entre elas, considerando-se para
análise a melhor medida obtida.
Na avaliação postural, a voluntária foi
submetida a uma sessão de fotos nas vistas anterior e lateral esquerda, preconizando a visualização das curvaturas da coluna
em vista frontal e sagital. Foram utilizadas
pequenas bolas de isopor, preparadas previamente com fita adesiva dupla face, utilizadas como marcadores e colocadas em
pontos anatômicos específicos: espinha ilíaca anterossuperior (Eias), espinha ilíaca
posterossuperior (Eips) e trocânter maior,
como mostrado na Figura 1.
A participante foi fotografada vestindo
obrigatoriamente top e short, descalça, com
os pés unidos e paralelos entre si, e os cabelos foram presos. Foi orientada a manter os
6
Figura 1: Vista lateral
olhos abertos para o horizonte e não houve
interferência verbal para correção postural.
O fio de prumo de 1 m foi colocado ao lado
esquerdo, próximo à participante.
A fotografia foi realizada com a participante em posição ortostática, tendo como
fundo uma parede de cor branca com uma
demarcação colada a 2,38 metros de distância até o tripé e a paciente sempre posicionada na letra F. A câmera fotográfica Sony®
10.2 megapixels foi girada e travada a 90º
da posição horizontal, com a finalidade de
focar longitudinalmente o corpo do indivíduo. Tanto as marcações dos pontos anatômicos quanto o registro fotográfico foram
realizados por um avaliador.
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Para avaliação foi utilizado o Software para Análise Postural (Sapo). A análise
das fotos obedeceu à seguinte sequência:
abertura da foto, calibração da imagem a
partir do fio de prumo e marcação dos pontos anatômicos.
Para determinar a lordose lombar e a
posição pélvica, um ângulo foi formado a
partir de três pontos anatômicos: Eias, Eips
e trocânter maior.
Foram realizados testes de força muscular, sendo eles: resistência abdominal em 60
segundos,12 teste de Thomas,12 teste de Shober13 e teste de força de glúteo máximo.14
Após a avaliação, com a análise dos
critérios de inclusão e exclusão e com base
nos objetivos do estudo, foi aplicado o tratamento referente à síndrome da pelve cruzada, na qual há uma inclinação anterior da
pelve em razão do encurtamento de músculos, como os flexores do quadril (psoas, ilíaco, sartório, reto femoral, grácil, pectíneo),
iliopsoas, reto femoral, tensor da fáscia lata,
adutores curtos e grupo eretor da espinha do
tronco e o enfraquecimento dos músculos
abdominais e glúteos, o que promove a flexão da articulação dos quadris, provocando,
assim, a hiperlordose lombar.15
Os exercícios realizados durante as
sessões foram: alongamento de ativo de
paravertebrais e alongamento passivo de
quadríceps, sendo realizados em duas séries
de vinte segundos, com intervalo de repouso de dois a três minutos, fortalecimento de
isquiotibiais e glúteo, realizando três séries
de doze repetições com intervalo de repouso de dois a três minutos e com progressão
da carga, e estabilização segmentar, tendo
início com a conscientização abdominal e
pélvica, progredindo para ponte posterior,
Sáude em Revista
ponte posterior com elevação de membro
inferior, prancha anterior, prancha anterior
com elevação de membro inferior, ponte lateral e ponte lateral com elevação de
membro superior, sendo feitas cinco séries
de trinta segundos em cada posição, com intervalos de repouso de dois a três minutos.
Foram realizadas vinte sessões de aproximadamente sessenta minutos, quatro vezes por semana, sendo feita a reavaliação
após 10ª e 20ª sessões, utilizando-se os
mesmos parâmetros da avaliação inicial.
Para a realização da postura, o terapeuta
utilizou comandos verbais e contatos manuais, solicitando a manutenção do alinhamento
e as correções posturais necessárias, com o
objetivo de otimizar o alongamento e o fortalecimento, impedindo as compensações. Todas as medidas foram coletadas pelo mesmo
pesquisador sob comando verbal homogêneo.
Os dados foram armazenados e tabulados no programa Microsoft™ Office™ Excel
2007™, verificando possível efetividade do
tratamento proposto.
Resultados
Em relação aos testes de força muscular, a paciente incluída no estudo apresentou resultados satisfatórios no final do tratamento, conforme a Tabela 1, havendo um
ganho significativo no teste de resistência
abdominal em sessenta segundos, obtendo
um ganho de nove abdominais comparadas
entre a primeira e a última avaliação. No
teste de Thomas foi verificado um acréscimo de 10º, apontando assim uma redução
do encurtamento de quadríceps. O teste de
Shober, inicialmente, foi de 20 cm na distância entre o terceiro dedo e o solo, fina-
Relação da síndrome da pelve cruzada com a força respiratória: relato de caso
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Tiago Del Antonio et al.
lizando com 13 cm, obtendo, assim, uma
diminuição de 7 cm. Por último, o teste de
força do glúteo máximo não apresentou al-
teração, pois a paciente conseguiu sustentar
o membro na posição por vinte segundos,
considerado normal.
Tabela 1: Resultados obtidos em relação à força e resistência muscular
Primeira
Avaliação
29
80
20
20
Resistência abdominal (repetições)
Teste de Thomas (graus)
Teste de Shober (cm)
Teste de glúteo máximo (segundos)
No teste de força respiratória, realizado por meio da manovacuometria, a PImáx
aumentou de 65 para 90 cmH2O, enquanto
Última Avaliação
38
90
13
20
na PEmáx, aumentou de 45 para 80 cmH2O,
mostrados no Gráfico 1.
2
cm/H O
Gráfico 1: Análise inicial e final da PImáx e PEmáx
A cirtometria inicial foi de 68 cm e a final, de 69 cm, obtendo uma diferença de 1
cm no nível esternal, enquanto na axilar e
mamilar não apresentou alteração, sendo de
82 cm e 83 cm, respectivamente.
8
Em relação à análise postural, avaliada
por meio do Sapo, verificou-se o ângulo de
inclinação anterior pélvica, obtendo-se os
seguintes valores: 61º na primeira avaliação, 60º na segunda avaliação e 56,7º na
avaliação final.
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Discussão
A atitude postural pode levar a uma
série de compensações na coluna torácica,
cintura escapular e pélvica em razão das
ligações músculo-aponeuróticas do diafragma com iliopsoas, transverso do abdômen
e quadrado lombar; o encurtamento desse
músculo altera a posição da pelve e da coluna lombar, gerando anteroversão pélvica
e hiperlordose.16
O aumento do ângulo de lordose lombar
é provocado pelo acréscimo da força e retração dos flexores de quadril (psoas-ilíaco)
e paravertebrais lombares (extensores da
coluna lombar), pela diminuição da força
dos extensores de quadril (grande glúteo)
e abdominais (flexores da coluna lombar) e
pela retração dos isquiotibiais.4
Tal desequilíbrio muscular leva a pelve
a um alinhamento postural bom ou defeituoso. Os músculos que mantêm bom alinhamento da pelve, tanto anteroposteriormente quanto lateralmente, são de importância
vital na manutenção de um bom alinhamento geral. Na ocorrência de um desequilíbrio entre os músculos que se opõem,
a posição em pé modifica o alinhamento
da pelve afetando a postura das partes do
corpo acima e abaixo.17
Contudo, os desequilíbrios nunca são
primários e, sim, consequência de uma causa localizada abaixo ou acima da cintura
pélvica. Se localizada acima, o desequilíbrio
pélvico compensa uma alteração lombar. Já
quando localizada abaixo, a desordem decorre de um dos membros inferiores.18
A pelve inclina-se para frente, diminuindo o ângulo entre a pelve e a coxa anteriormente, resultando em flexão da articulação
Sáude em Revista
do quadril; assim, haverá um aumento da
curvatura lombar, sendo que esta alteração
pode ser decorrente da fraqueza dos músculos abdominais (retos e oblíquos).17
Tal desequilíbrio na região pélvica resulta em um quadro clínico conhecido
como síndrome cruzada da pelve, na qual
ela inclina-se anteriormente, desencadeando uma acentuação da lordose lombar, em
que alguns músculos encontram-se encurtados/rígidos, enquanto outros estão fracos
e inibidos.12 De acordo com a literatura,
podem ocorrer três desvios pélvicos: síndrome cruzada da pelve anterior, posterior
ou mista, sendo a anterior a mais comum.
Nesse quadro clínico, os músculos psoas,
reto femoral e espinhais tendem ao encurtamento, apresentando condições que favorecem as forças compressivas e microtraumas
acumulativos sobre a região lombo-pélvica,
levando a uma desestabilização lombar e
consequente quadro álgico.18
Estudos norteiam que a função pulmonar
está diretamente relacionada com as curvaturas da coluna vertebral, levando a alterações respiratórias com a exagerada projeção
do abdome, decorrente ao deslocamento das
vísceras, retificação do diafragma e a diminuição da efetividade do mesmo, interferindo negativamente na complacência tóraco-pulmonar e alterando, consequentemente, a
ventilação dos pulmões.8
A principal contribuição às alterações
dos volumes pulmonares é atribuída à geometria da deformidade da caixa torácica, o
que leva também à diminuição da complacência da parede torácica e resulta em uma
má expansão do parênquima pulmonar, de
tal forma que há uma redução dos valores de
fluxo expiratório máximo, capacidade respi-
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Tiago Del Antonio et al.
ratória máxima e capacidade vital, representando aumento do trabalho respiratório.19
O movimento inspiratório proeminente do tórax superior influencia a mecânica
tóraco-abdominal, alterando o posicionamento do músculo diafragma e sua zona de
aposição em razão da redução da pressão
intra-abdominal. Este fato levaria, então, ao
desenvolvimento de deformidades torácicas, como a elevação das últimas costelas, o
deslocamento superior da caixa torácica e o
aumento da lordose lombar.20
A efetividade do diafragma depende da
estabilidade da parede abdominal, que promove a sustentação das vísceras durante a
inspiração, e depende também da estabilidade dos paravertebrais lombares, sendo o
local da inserção vertebral do diafragma.21
Os músculos respiratórios são fundamentais na manutenção da mecânica respiratória e, em condições fisiopatológicas,
a força muscular apresenta-se alterada,
refletida na diminuição das pressões respiratórias, assim como também relaciona os
valores baixos de PImáx e PEmáx com a deficiência da musculatura respiratória.22
A avaliação da força muscular é de extrema importância para que se torne conhecida a capacidade do músculo respiratório de
responder a uma efetiva contração, ou seja,
realizar um adequado trabalho muscular.23
As pressões respiratórias máximas têm
sido utilizadas para mensurar a força dos
músculos respiratórios, a velocidade de
contração por meio do fluxo aéreo alcançado e o encurtamento muscular pela variação
do volume pulmonar.24
A PEmáx é uma medida que indica a
força dos músculos abdominais e intercostais. Contudo, as alterações funcionais e
10
estruturais de tais estruturas levam ao prejuízo de tal pressão. Já a PImáx corresponde,
não só à força do músculo diafragma, mas
também ao conjunto de todos os músculos
respiratórios.25
A PImáx pode refletir a ocorrência de
fraqueza diafragmática, levando a uma redução dos volumes pulmonares e força muscular respiratória.26 Em nosso estudo, pudemos fazer a mesma observação, uma vez
que a pesquisada apresentava inicialmente
diminuição da PImáx e de força muscular.
Após a intervenção, obteve, progressivamente, aumento de ambos, assim como da
PEmáx, diminuição de anteroversão pélvica
e expansibilidade torácica.
Acredita-se que o aumento na expansibilidade torácica deve-se ao fato de que,
quanto mais alongado estiver um músculo
dentro do limite de sua capacidade contrátil,
maior será sua competência de gerar tensão,
atingindo, assim, maiores volumes e capacidades respiratórias. Deve, também, ser
considerado que a contração dos músculos
abdominais aumenta o comprimento do diafragma, colocando-o fisiomecanicamente
em uma posição curva de tensão-comprimento que lhe trará maiores vantagens mecânicas, inclusive pelo aumento da zona de
aposição.27
Contrapondo-se a isto, o encurtamento
muscular pode ser decorrente de diversos
fatores, tais como alinhamento postural incorreto, imobilização, fraqueza muscular e
envelhecimento. Quando um músculo perde
sua flexibilidade normal, ocorre uma alteração na relação comprimento-tensão, incapacitando-o de produzir um pico de tensão
adequado, o que desenvolve fraqueza com
retração muscular, considerando que possí-
SAÚDE REV., Piracicaba, v. 14, n. 38, p. 3-13, set.-dez. 2014
Tiago Del Antonio et al.
veis mudanças no comprimento do músculo
refletirão em sua capacidade funcional.23
Quando o músculo é imobilizado, sua
capacidade contrátil é alterada em razão
das modificações proteicas e do metabolismo mitocondrial, resultando na diminuição do número de sarcômeros e aumento
na deposição de tecido conjuntivo, ocasionando encurtamento muscular, além de
limitação de mobilidade articular,23 o que
corrobora o presente estudo, sendo que,
anteriormente à intervenção, o indivíduo
apresentava encurtamento muscular apontado nos testes realizados e, após dela, obteve ganhos na mobilidade.
O alongamento muscular pode ser um
meio de evitar o encurtamento de tal estrutura, sendo que uma fibra muscular corretamente tensionada promove o aumento do
número de sarcômeros em série, além de
recuperar a extensibilidade dos ligamentos e tendões, melhorando a amplitude de
movimento. Nesse sentido, tais benefícios
devem-se, possivelmente, à melhor interação entre os filamentos de actina e miosina, em virtude do aumento do comprimento
funcional do músculo.28
O alongamento estático é o mais utilizado para obter aumento da flexibilidade e
relaxamento, utilizando exercícios que podem ser realizados de forma isolada ou de
maneira global, envolvendo diversos segmentos simultaneamente.23
Segundo Moreno et al.,22 a pressão máxima gerada por um músculo reflete sua
força. No estudo de Moreno, procurou-se
aplicar técnicas de alongamento para melhorar a relação comprimento-tensão das fibras musculares, favorecendo a capacidade
de expansão torácica.
Sáude em Revista
Uma alternativa coadjuvante ao tratamento e prevenção da instabilidade lombar é a estabilização segmentar vertebral
(ESV), sendo este um método de fortalecimento baseado na conscientização da
contração muscular, no treinamento resistido dos estabilizadores lombares e na
estimulação proprioceptiva, baseando-se
no recondicionamento dos músculos estabilizadores da coluna vertebral (transverso do abdômen e multífidos) em busca do
controle e da coordenação do movimento. Nessa técnica, a contração muscular é
treinada, permitindo a restauração do automatismo e da força dos estabilizadores
em busca da reabilitação da coluna que se
encontra instável.29
Assim, tais exercícios terapêuticos podem representar um importante papel na
prevenção da instabilidade lombar, promovendo um recondicionamento e a recuperação da força e resistência da musculatura
estabilizadora da coluna lombar, prevenindo o aparecimento de distúrbios posturais
nessa região.30
Conclusão
De acordo com a análise da produção
estudada, foi possível constatar um aumento da força abdominal, força muscular
inspiratória, expiratória e expansibilidade,
decorrentes do melhor alinhamento pélvico e diminuição da hiperlordose lombar,
sugerindo sua utilização como recurso fisioterapêutico para a melhora da função
pulmonar e postural, já que se pode constatar uma possível relação entre o segmento lombar e a ação muscular inspiratória e
expiratória.
Relação da síndrome da pelve cruzada com a força respiratória: relato de caso
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Tiago Del Antonio et al.
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