Um Estudo sobre o Conhecimento Gerardo Valdisio Rodrigues Viana Universidade Federal do Ceará - Universidade Estadual do Ceará Eliéser Sales Pereira Faculdade Lourenço Filho Resumo: Este artigo apresenta uma revisão sobre os conceitos de conhecimento. Descreve a teoria e discute a natureza e origem do conhecimento do ponto de vista das três doutrinas: o Racionalismo, o Empirismo e o Criticismo. Conclui que a ciência não é dependente de um sistema filosófico, podendo fazer a aplicação livre e integral de seu método de pesquisa e que as grandes realizações científicas não dependem das genialidades individuais, mas do trabalho da comunidade científica. Palavras-chave: Epistemologia, dogmatismo, empirismo, ceticismo, racionalismo. 1 INTRODUÇÃO Epistemologia (do grego, episteme, “conhecimento”; logos, “teoria”), é o ramo da filosofia que trata dos problemas filosóficos relacionados à teoria do conhecimento . O sentido da palavra episteme é melhor compreendido se comparado com seu oposto, doxa, ou “opinião” cujo significado é bem próximo a “senso-comum”; essa opinião tem a conotação de conhecimento falso, ou baseado em algo falso, mal-construído ou inconsistente; assim, doxa é aquele tipo de conhecimento que expressa não a verdade, mas sim determinado ponto de vista parcial, mais comprometido com a subjetividade de quem o emite do que com a verdade do assunto do qual trata. Contrário à doxa, a episteme é o conhecimento, ou um enunciado comprometido com o verdadeiro, e não com um ponto de vista subjetivo e parcial. Este termo foi introduzido por filósofos alemães dentro da denominada Erkenntnistheorie ou teoria do conhecimento. O ato de conhecer é a relação que se estabelece entre a consciência de quem conhece e o objeto a ser conhecido (ARANHA e MARTINS, 2003). O ponto de partida do conhecimento é a intuição que possibilita a invenção, a descoberta e os grandes “saltos” do saber humano. A intuição pode ser sensível (conhecimento imediato 94 Revista Científica da Faculdade Lourenço Filho - v.6, n.1, 2009 dado pelos órgãos dos sentidos), inventiva (proveniente dos sábios, dos artistas ou dos cientistas) e intelectual (esforço para captar diretamente a essência do objeto). Outra forma é o conhecimento discursivo que se dá por meio de conceitos organizados por etapas, encadeamento de idéias, juízos e raciocínios que levam à conclusão. Todo conhecimento coloca o problema da verdade quando se verifica se o que está sendo enunciado corresponde, ou não, à realidade. Os conceitos de “verdade” e “realidade” são distintos; quando nos referimos a um objeto dizemos que ele é “real” e não que ele é “verdadeiro” ou “falso”, pois estas denominações não estão no objeto e sim no juízo, ou no valor de verdade da afirmação. “Algo é verdadeiro, quando é o que parece ser” (ARANHA e MARTINS, 2003). Tradicionalmente, na história da filosofia, o critério da verdade é a evidência; os gregos a chamavam de aletheia, que significa “não-oculto”, ou o que é visto, ou ainda o que é evidente. Para os filósofos medievais “a verdade é a adequação do nosso pensamento às coisas”; nesse sentido o juízo é verdadeiro quando a representação é uma cópia fiel do objeto representado. Para René Descartes (1596–1650) “evidente” é toda idéia clara e distinta resultante da intuição intelectual. Para Friedrich Nietzsche (1844–1900) é verdadeiro o que contribui para fomentar a vida da espécie e falso tudo que é obstáculo ao seu desenvolvimento. No pensamento contemporâneo, os filósofos se voltam para os estudos da linguagem e da lógica, e buscam o critério da verdade na coerência interna dos argumentos, de modo que o raciocínio seria válido se não apresentasse contradições. O problema da possibilidade do conhecimento tornou-se fundamental para abordar o conhecimento, em geral, na medida em que antes de perguntarmos “como se conhece ?” e “o que se pode conhecer ?” devemos perguntar se “é ou não possível conhecer”. Os termos usados pela Filosofia para as respostas possíveis à esta questão são: Dogmatismo, Ceticismo e Pragmatismo . O Dogmatismo é a doutrina ou atitude segundo a qual é possível atingir a certeza; ou seja, dogma é a verdade absoluta e indiscutível de uma doutrina. Segundo Descartes “podemos Revista Científica da Faculdade Lourenço Filho - v.6, n.1, 2009 95 adquirir conhecimentos seguros e universais e ter absoluta certeza disso” (WIKIPEDIAEpistemologia, 2008). Na Religião, o dogmatismo corresponde ao conjunto de crenças que não admitem contestação; na Filosofia, pode ser entendido de três formas: “a possibilidade de se conhecer a verdade”, “a confiança nesse conhecimento” e a “submissão a essa verdade, sem questionamentos”. O dogmático, de posse da verdade, se fixa nela e abdica de continuar a busca de novos conhecimentos. Desde a antiguidade, existem filósofos dogmáticos, como Parménides (515–440 a.C), Platão (427–347 a.C) e Aristóteles (384–322 a.C). Para Immanuel Kant (1724–1804), o dogmatismo é “toda atitude de conhecimento que consiste em acreditar na posse da certeza ou da verdade antes de fazer a crítica da faculdade de conhecer”. O Ceticismo é a atitude filosófica oposta ao dogmatismo, defendida por Pirro de Elis (360–270 a.C), que duvida que seja possível um conhecimento firme e seguro. O termo significa “investigação” ou “procura”, de forma que, o saber não consiste em alcançar a verdade, mas somente procurá-la. O cético tanto “observa” e “considera” que conclui, nos casos mais radicais, na impossibilidade do conhecimento. David Hume (1711–1776) se diz cético, ao admitir que “estamos subjugados pelos sentidos e pelos hábitos, o que reduz as certezas à probabilidades”. Augusto Comte (1798–1857) diz que a vida humana existe em estado dogmático ou cético, refletindo o antagonismo entre ambos, e acrescenta “ceticismo nada mais é do que uma passagem de um dogmatismo anterior para um novo dogmatismo”. O Pragmatismo surgiu nos EUA com os norte-americanos William James (1842–1910), Charles Pierce (1839–1914) e John Dewey (1859–1952) quando afirmam que “a verdade de uma proposição se estabelece a partir dos efeitos dos resultados práticos”; ao subordinar o conhecimento a uma finalidade prática, eles mostram a utilidade e eficácia do conhecimento para o homem. Segundo Lakatos & Marconi (1990) os tipos de conhecimentos são: teológico que apoiase em doutrinas que contém proposições sagradas; filosófico que procura discernir entre o certo e o errado tendo como fundamentação a razão humana; popular que é o conhecimento 96 Revista Científica da Faculdade Lourenço Filho - v.6, n.1, 2009 acumulado de tradições e experiências vividas e científico que é o conhecimento sistemático, caracterizado pela capacidade de analisar, explicar, desdobrar, justificar, induzir e predizer. A disciplina filosófica que trata do problema da fundamentação do conhecimento é a Gnosiologia, ou Teoria do Conhecimento. Pode-se dizer que a Gnosiologia não produz conhecimentos, mas reflete sobre os conhecimentos produzidos pelo sr humano, colocando diversas questões e elaborando doutrinas acerca do modo como conhecemos, do que nos é possível conhecer, o que torna um conhecimento válido, o que significa falar do progresso do conhecimento e de suas aplicações práticas . 2 A ORIGEM DO CONHECIMENTO O ponto básico da discussão é este: “qual a origem do conhecimento: a razão ou a experiência?”. As respostas filosóficas a esta questão defendem três doutrinas: o Racionalismo, o Empirismo e o Criticismo (FONTES, 2008). O Racionalismo é a doutrina que afirma que tudo que existe tem uma causa inteligível, mesmo que não possa ser demonstrada de fato. Privilegia a razão (conhecimento a priori) em detrimento da experiência e considera a dedução como o método superior da investigação filosófica. Os racionalistas afirmam que “a razão é a fonte principal do conhecimento” e suas representações são as únicas que podem conduzir ao conhecimento logicamente necessário e universalmente válido. Relativo ao conhecimento a priori, surge o “apriorismo” que reflete a relação epistemologia básica em que todo a atividade do conhecimento é exclusiva do sujeito; o meio não participa dela. Aprioristas são, então, todos aqueles que pensam que as condições de possibilidades do conhecimento são dados hereditários, obtidos de forma inata ou predeterminados a priori. A Gestaltheorie (teoria da forma) trabalha sobre este pressuposto, dentro da tradição do racionalismo alemão (BECKER, 1993). Entre os filósofos que assumiram uma perspectiva racionalista do conhecimento, destacam-se René Descartes, Benedictus Spinoza (1632–1677) e Gottfried Leibniz (1770– 1831) que introduziram o racionalismo na filosofia moderna. Immanuel Kant (KANT, 1989) Revista Científica da Faculdade Lourenço Filho - v.6, n.1, 2009 97 revê essa tendência de associar o pensamento à análise pura e simples e inaugura o neoracionalismo que aceita os conceitos sustentados pela razão, mas identifica a necessidade de relacioná-lo aos dados da experiência, ou do que ele denomina de razão prática, como forma de ampliar o conhecimento. O Empirismo é a doutrina filosófica segundo a qual todo o conhecimento, com exceção do lógico e do matemático, deriva da experiência. Os empiristas negam a existência de idéias inatas, admitindo que a mente esteja vazia antes de receber qualquer tipo de informação; consideram que o conhecimento só é válido dentro dos limites da observação e rejeitam os enunciados metafísicos devido à impossibilidade de teste ou controle. Os ingleses Francis Bacon (1561–1626) e John Locke (1632–1704) são os precursores do empirismo moderno que alia teoria e experiência; o escocês David Hume (1711–1776) introduz o método experimental nas ciências morais, já Ludwig Wittgenstein (1889–1951) representa o empirismo contemporâneo quando afirma que a Filosofia deve limitar-se à análise da linguagem científica que expressa o conhecimento baseado na experiência. O debate histórico entre racionalistas e empiristas, no final do século XVIII, conduziu ao criticismo que procura superar as limitações de ambas correntes filosóficas. Segundo Kant,o criador do Criticismo, todo o conhecimento começa com a experiência mas é organizado pelas estruturas a priori do sujeito. Ele afirma que o conhecimento é a síntese do dado na nossa sensibilidade e daquilo que o nosso entendimento produz, ou seja, o sujeito conhece porque possui categorias e conceitos puros a priori, que se adequam a experiência e que permitem conhecer; e completa, “não é a experiência que possibilita e quem forma as categorias a priori; são antes estas que possibilitam a experiência” . Levado às suas últimas conseqüências, o criticismo pode ser encarado como uma atitude que nega a verdade de todo o conhecimento que tenha sido previamente submetido a uma crítica em seus fundamentos; o termo é empregado para denominar a filosofia kantiana que se propõe a investigar as categorias ou formas a priori do entendimento. Alguns filósofos contemporâneos defendem que o conhecimento resulta de uma interação entre o sujeito e a experiência; entre eles destaca-se Jean Piaget (1896–1980) que desenvolveu 98 Revista Científica da Faculdade Lourenço Filho - v.6, n.1, 2009 uma concepção construtivista quando diz que o conhecimento é um processo de construção de estruturas que permitem ao sujeito apreender e interpretar a realidade. 3 A NATUREZA DO CONHECIMENTO O problema da natureza do conhecimento consiste em saber se o que se conhece são os próprios objetos ou uma idéia ou representação dos mesmos. A discussão de como ocorre o conhecimento se dá essencialmente na questão de se saber de quem é a primazia na relação sujeito/objeto. Nesse sentido surgem as seguintes respostas filosóficas: Realismo e Idealismo. O Realismo defende que conhecer é apreender a realidade existente na experiência interna (consciência) ou externa (objetos). Os objetos existem independentemente dos sujeitos (FONTES, 2008). Em um sentido geral, o realismo é uma tese sobre o problema epistemológico dos limites do conhecimento contestado por doutrinas anti-realistas diversas, dependendo do tipo de conhecimento em questão. O realismo científico sustenta que aquilo que as teorias científicas afirmam acerca do mundo pode, de fato, representar conhecimento genuíno; o conhecimento humano seria passível de avançar além dos limites do que é diretamente observável (CHIBENI, 2008). O realismo científico recebeu formulações diferentes e, em geral, não equivalentes, por parte dos filósofos que dele se ocuparam. Para Bas van Fraassen (1980), o realismo científico é a tese segundo a qual "a ciência objetiva a nos fornecer, em suas teorias, uma estória literalmente verdadeira de como é o mundo; e a aceitação de uma teoria científica envolve a crença de que ela é verdadeira" Essa tese filosófica tem sido negada de vários modos, o que leva a três tipos diferentes de anti-realismo científico: a) Instrumentalismo – sustenta que as proposições da ciência que, quando interpretadas literalmente, referem-se a coisas e processos não-observáveis, sendo na verdade instrumentos de cálculo, predição, ou regras de inferência, que auxiliam a conexão e a estruturação das proposições sobre os processos observáveis; b) Redutivismo – as proposições teóricas da ciência são proposições legítimas, porém de fato referem-se indiretamente apenas ao Revista Científica da Faculdade Lourenço Filho - v.6, n.1, 2009 99 que é observável, sendo, na verdade, abreviações para proposições mais complexas sobre entidades e processos observáveis; não devem, portanto, ser interpretadas literalmente, mas "reduzidas" a proposições por meio de certas convenções lingüísticas (regras de correspondência) para que seu verdadeiro conteúdo empírico e significado se evidenciem; c) Empirismo construtivo – doutrina anti-realista proposta por van Fraassen, segundo a qual as proposições teóricas da ciência são proposições genuínas e devem ser interpretadas literalmente; porém a determinação de seu valor de verdade não constitui o objetivo da ciência. Observa-se que o instrumentalismo, o redutivismo e o empirismo construtivo são posições realistas quanto aos objetos materiais ordinários (CHIBENI, 2008). O Idealismo nega a existência do real. A realidade é reduzida a idéias; os objetos só existem enquanto representações, ou seja, não têm uma existência independente. O conhecimento resulta então da relação entre o sujeito e a representação que este faz do objeto; o sujeito não tem acesso direto à realidade, uma vez que dessa realidade ele conhece apenas representações. Ao contrário do realismo empírico do pensamento materialista que afirma que todo o conhecimento se fundamenta na própria natureza dos objetos, o idealismo defende a tese de que só há conhecimentos das idéias ou que a consciência é o fundamento do real. Apesar de o idealismo remontar ao pensamento platônico, é Kant na sua “Crítica da Razão Pura” que caracteriza o pensamento idealista que consiste na tese de que só há conhecimento ontológico (realista) daquilo que a razão coloca previamente nas coisas. Diz-se que o idealismo teve sua criação em Kant, seu apogeu em Johann Fichte (1762–1814), sua maturidade em Friedrich Schelling (1775–1854) e sua consumação em Wilhelm Hegel (1770– 1831). 4 A EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO A teoria do conhecimento investiga as condições do conhecimento verdadeiro. Na Antiguidade e na Idade Média, o conhecimento estava vinculado aos problemas metafísicos. Na Idade Moderna, o realismo metafísico dos gregos começa a ser criticado por filósofos como Descartes, Locke e Hume que se ocupam de forma explícita e sistemática com questionamentos 100 Revista Científica da Faculdade Lourenço Filho - v.6, n.1, 2009 sobre origem, essência e certeza do conhecimento humano, culminando com a “Crítica da Razão Pura” de Kant. A evolução do conhecimento pode ser resumida assim: a primeira parte (Antiguidade e Idade Média) trata da filosofia pré-socrática, da metafísica aristotélica, da filosofia medieval e da questão dos universais; na segunda parte (Idade Moderna) observa-se o paradigma da modernidade, o racionalismo cartesiano, o empirismo inglês e o criticismo kantiano; na terceira parte (Idade Contemporânea - Século XIX) tem-se o cientificismo, o idealismo hegeliano, o materialismo marxista e a ideologia e por último (quarta parte) debate-se a Crise da Razão, que envolve a crise da modernidade e a crítica ao racionalismo; além do pragmatismo, neopragmatismo e iluminismo (ARANHA e MARTINS, 2003). Atualmente, entretanto, os conceitos da razão e da crítica precisam ser examinados; quando se fala em razão não mais é possível acreditar ingenuamente que ser racional é apenas uma decorrência de ser humano. O paradigma da racionalidade moderna precisa ser contestado, mas não por meio do irracionalismo e, sim pela atividade crítica da razão. 5 O CONHECIMENTO CIENTÍFICO O conhecimento científico é uma conquista recente da humanidade, tendo surgido no século XVII com a revolução de Galileu Galilei (1564–1642) (ARANHA e MARTINS, 2003). No pensamento grego, ciência e filosofia achavam-se vinculadas, e somente vieram se separar a partir da Idade Moderna. A ciência moderna nasce ao determinar seu objetivo específico de investigação e ao criar um método confiável pelo qual seria feito o controle desse conhecimento sistemático, preciso e objetivo, e que passou a ser chamado de método científico. Cada ciência se torna então, uma ciência particular, no sentido de delimitar um campo de pesquisa e procedimentos específicos (conceito de demarcação). Porém, a partir do século XX, surgem as ciências híbridas, tais como a bioquímica, a biofísica e a mecatrônica, Revista Científica da Faculdade Lourenço Filho - v.6, n.1, 2009 101 com o objetivo de resolver problemas que exigem ao mesmo tempo o conhecimento de mais de uma delas. Não é conveniente imaginar o método científico como um conjunto de regras fixas; há muito de engenhosidade no processo de descoberta e seleção das hipóteses. As ciências da natureza se tornaram, então, rigorosas por serem altamente “matematizáveis” e por utilizarem o método experimental, porém, no outro extremo encontram-se as ciências humanas, onde algumas delas, no caso da Psicanálise, não fazem uso da experimentação. David Hume (1711–1776) diz “não se pode inferir qualquer causa ou efeito sem auxílio da observação ou da experiência” e acrescenta “a inferência não é intuitiva, nem demonstrativa, e sim experimental”. A investigação científica envolve além da observação, a hipótese, os tipos de raciocínio usados pelos cientistas na sua proposição (indução, dedução ou analogia), o exame dos critérios para julgar seu valor ou aceitabilidade (relevância e possibilidade de ser submetida a testes), a compatibilidade com outras hipóteses já confirmadas, a experimentação e a generalização. Karl Popper (1902–1994) diz que o cientista deve estar mais preocupado não com a justificativa de sua teoria mas com o levantamento de possíveis maneiras de refutá-la pela experiência (POPPER, 1981), e acrescenta “se não podemos provar que uma teoria universal é verdade, podemos provar que ela é falsa” ou “o critério que define o status científico de uma teoria é sua capacidade de ser refutada ou testada”. Popper critica a psicanálise de Sigmund Freud (1856–1939), a teoria da história de Karl Marx (1818–1883) e a psicologia individual de Alfred Adler (1870–1937) cujos universos teóricos se restringem às explicações de seus idealizadores e não dão condições de refutabilidade empírica (POPPER, 1972), pois não seria possível um tipo de comportamento humano capaz de contradizê-los. Para Thomas Kuhn (1922–1996), a ciência progride pela tradição intelectual representada pelo paradigma (visão do mundo assumida pela comunidade científica) que fornece problemas e soluções exemplares para a pesquisa futura; e acrescenta que “ao se alcançar o consenso, na chamada ciência normal, o trabalho científico desenvolve-se a partir do paradigma adotado que 102 Revista Científica da Faculdade Lourenço Filho - v.6, n.1, 2009 dirige a resolução dos problemas e o acúmulo das descobertas”; no momento em que o paradigma é questionado leva-se a uma “revolução científica” (KUHN, 1970). Ao finalizar este capítulo, pode-se resumir e estabelecer as seguintes características do conhecimento científico (SERRÃO e GRÁCIO, p.202-208): (a) Objetividade – a ciência intenta afastar de seu domínio a subjetividade, no sentido de que o conhecimento deve ser válido para todos; (b) Positividade – deve haver uma plena aderência aos fatos e uma absoluta submissão à fiscalização da experiência; (c) Racionalidade – não obstante a oposição dos empiristas, a ciência moderna é essencialmente racional, isto é, não consta de meros elementos empíricos, mas de uma construção do intelecto; (d) Revisibilidade – não há posição definitiva e irreformável, como já foi citado, “toda verdade científica aparece em certo sentido como provisória, susceptível de revisão e de aperfeiçoamento”; (e) Autonomia – a ciência tem seu próprio campo de estudo, seu próprio método de pesquisa e uma fonte independente de informação que é a Natureza. 6 CONCLUSÃO A origem do conhecimento é a razão, pois todas as idéias que culminam para as teorias científicas tiveram origem no raciocínio humano e em sua inteligência; portanto, os racionalistas “têm razão”. De acordo também com o neo-racionalismo de Kant, quando se refere à “razão prática”, ou seja, como racionalista, entende-se que além das idéias originais, os testes e observações em laboratório são necessários para obter a verdade de uma teoria, ou quando não for possível, podem ser refutá-las, conforme sugere Popper (1981). O enfoque relativo à evolução do conhecimento leva a concluir também que os empiristas têm um papel importante nessa evolução, pois com as experiências realizadas sobre as hipóteses originárias da razão as teorias são consolidadas. É fato que a Ciência está em constante evolução e que suas verdades são sempre provisórias. A “comunidade científica” que pode ser definida como um conjunto de indivíduos que se reconhecem e são reconhecidos como possuidores de conhecimentos específicos nas suas áreas Revista Científica da Faculdade Lourenço Filho - v.6, n.1, 2009 103 de investigação científica, contrapondo a até pouco tempo, em que as grandes realizações científicas originavam-se das genialidades individuais. Por fim, pode-se afirmar que em nenhum caso a ciência é dependente de um sistema filosófico ou poderá encontrar numa tese filosófica uma barreira que impeça a priori a aplicação livre e integral de seu método de pesquisa. A study on knowledge Abstract: This article presents a review on the concepts of knowledge. Describes the theory and discusses the nature and source of knowledge in terms of three doctrines: the Rationalism, Empiricism and the Criticism. Concludes that the science is not dependent on a philosophical system, it can make a free and full implementation of its research method and that the great scientific achievements do not depend of the individual genius, but the work of the scientific community. Keywords: Epistemology, pragmatism, empiricism, skepticism, rationalism. REFERÊNCIAS ARANHA, Maria Lúcia de A.; MARTINS, Maria Helena P. Filosofando, 3.ed. São Paulo: Moderna, 2003. BECKER, Fernando, A Epistemologia do Professor - O cotidiano da Escola, 6.ed. PetrópolisRJ: Vozes, 1993. FONTES, Carlos. Teoria Filosófica sobre o Conhecimento. Disponível <http://afilosofia.no.sapo.pt/11.Modelosexplicativos.1.htm>. Consultado em 24/02/2008. CHIBENI, Silvio Seno .A inferência abdutiva e o realismo científico. Disponível em: em: 104 Revista Científica da Faculdade Lourenço Filho - v.6, n.1, 2009 <http://www.unicamp.br/~chibeni/public/abdrea.htm>. Consultado em 24/02/2008. KANT, Immanuel, Crítica da Razão Pura, 2.ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1989. KUHN, Thomas S., A estrutura das Revoluções Científicas, 5.ed. São Paulo: Perspectiva, 1970. LAKATOS, Eva M.; MARCONI, Marina de A. Metodologia Científica, 2. ed. São Paulo: Atlas,1990. POPPER, Karl Raimund, A Lógica da Pesquisa Científica, São Paulo: Cultrix, 1972. _________. Conjecturas e Refutações, 3.ed. Brasília: Editora da UnB, 1981. SERRÃO, Joel ; GRÁCIO, Rui. Lógica e Teoria do Conhecimento, 2 ed. Lisboa: Livraria Sá da Costa Editora, 1962. WIKIPEDIA - Epistemologia. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Epistemologia>. Consultado em 24/02/2008. Gerardo Valdisio Rodrigues Viana Doutor em Ciência da Computação - UFC/USP Professor associado - UFC/UECE e-mail: [email protected] Eliéser Sales Pereira Mestre em Química Inorgânica, USP Professor de Metodologia Científica e Monografia da Faculdade Lourenço Filho. Especialista em Métodos e Técnicas de Ensino Superior, UFC. e-mail: [email protected]. Rua Barão do Rio Branco, 2101 – Centro – Fortaleza – Ce. CEP: 60025-062. Fone: 4009 6066.