ID: 67832068 19-01-2017 Tiragem: 93360 Pág: 72 País: Portugal Cores: Cor Period.: Semanal Área: 18,00 x 27,00 cm² Âmbito: Interesse Geral Corte: 1 de 3 INVESTIMENTO Banco de Fomento ressuscita Nasceu quase morto, esteve ligado às máquinas, mas vingou. O Banco de Fomento dá agora os primeiros passos. Será através dele que entrarão, nos próximos anos, 2,8 mil milhões de euros na economia. Muito virado para a capitalização das empresas e para o crescimento das startups C E S A LT I N A P I N T O F oi um parto longo e difícil, mas a Instituição Financeira de Desenvolvimento (IFD) – vulgo Banco de Fomento – está, finalmente, a ganhar pernas para andar. Com dotações públicas, fundos estruturais ou financiamentos no Banco Europeu de Investimento (BEI), está preparada para potenciar a entrada, nos próximos anos, de 2,8 mil milhões de euros na economia portuguesa. Deste total, 1,1 mil milhões estavam já disponíveis no final do ano passado. 72 VISÃO 19 JANEIRO 2017 A IFD GERE VÁRIOS PRODUTOS FINANCEIROS DE APOIO À ATIVIDADE DAS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS “Considero que este é um número simpático para uma instituição que teve tantas dificuldades para conseguir as condições necessárias para arrancar”, disse à VISÃO o presidente executivo da IFD, José Figueiredo. Pensada e criada em 2014, quando o PSD/CDS governava o País – fez dois anos em dezembro que a administração assumiu funções –, acabou por ser no tempo da geringonça PS/BE/PCP que teve de mostrar o que valia. Não sem antes ter de passar uma série de obstáculos burocráticos e de funcionamento. ID: 67832068 19-01-2017 Foi também obrigado a otimizar recursos com a SPGM – Sociedade Gestora de Garantia Mútua, uma operação facilitada pelo facto de o presidente da comissão executiva da IFD, José Figueiredo, ser, simultaneamente, o presidente (agora não executivo) da SPGM. Mas, grão a grão, a IFD foi enchendo o papo para levar a cabo a sua missão: uma sociedade financeira pública que tem como objetivo conceber, estruturar e operacionalizar soluções de financiamento que permitam ajudar as pequenas e médias empresas (PME) a capitalizarem os balanços e a financiarem os investimentos para poderem desenvolver a sua atividade. A obtenção, em dezembro passado, da licença da Direção-Geral da Concorrência da União Europeia, que permite José Figueiredo obter financiamento diretamente no desafia o Governo Banco Europeu de Investimento (BEI), a dar seguimento à sustenta-lhe os horizontes e dá-lhe terceira fase da IFD. hipóteses para que possa, efetivamen- Caso contrário, sai da te, vir a ser “um banco promocional instituição do investimento”, expressão que José Figueiredo prefere. Neste momento, a IFD gere já vários produtos de financeiros e de dívida e Tiragem: 93360 Pág: 73 País: Portugal Cores: Cor Period.: Semanal Área: 18,00 x 13,18 cm² Âmbito: Interesse Geral Corte: 2 de 3 está a negociar a criação de outros que deverão entrar em funcionamento ao longo deste ano (ver caixa O que já está a gerir a IFD...). Para atingir a plenitude da sua atividade de financiamento à economia nacional, falta-lhe ainda uma autorização para conseguir emitir dívida. DAR LIQUIDEZ ÀS PME Aqui chegada, a IFD está apta a trabalhar num dos objetivos que pressupôs a sua criação: a capitalização das PME. Apesar de os bancos já não estarem (por enquanto) a braços com problemas de liquidez, estão, contudo, mais espartilhados no rigor com que têm de avaliar o risco de crédito concedido. E as PME viáveis economicamente estão a ser sufocadas pelos juros de crédito obtido. “Particularmente grave é que uma parte significativa do dinheiro gerado por estas empresas está a ser gasto a pagar juros e não a reinvestir na sua atividade”, alerta José Figueiredo. Esta é uma pressão enorme sobre as empresas que, embora viáveis, acabam por não gerar lucros. Uma pressão em Portugal tem ainda mais relevo, pois o ID: 67832068 19-01-2017 Tiragem: 93360 Pág: 74 País: Portugal Cores: Cor Period.: Semanal Área: 18,00 x 27,00 cm² Âmbito: Interesse Geral Corte: 3 de 3 INVESTIMENTO O QUE JÁ ESTÁ A GERIR A IFD... Estes são os principais veículos de financiamento do Banco de Fomento €1 000 €20 Milhões Linha de crédito com garantia mútua Destinada ao investimento e ao fundo de maneio das empresas. O máximo por operação de crédito pode chegar aos 4 milhões e 125 mil euros €18 Milhões €100 Milhões Uma linha piloto de capital reversível só para o Norte Serve para capitalizar pequenas sociedades. A IFD pode entrar no capital das empresas e, ao fim de sete anos, a empresa tem a possibilidade de fazer a reversão do capital. Isto é, ou recompra o capital ou transforma-o em dívida Milhões Linha de financiamento a entidades veículo de business angels O IFD financia sociedades de business angels, portuguesas ou estrangeiras, para que estas invistam na capitalização de empresas com sede em Portugal. Mas estas terão de acrescentar mais €12 milhões ao investimento. Já foram selecionadas 40 sociedades, estando estas habilitadas a iniciar os seus investimentos Linha de capital de risco Em média, a IFD investiu €10 milhões por fundo, selecionando 10 em 20 candidatos. Estes terão de investir em negócios já consolidados, mas com necessidade de crescimento. Este veículo pressupõe a entrada de €130 milhões por privados ... E O QUE ARRANCA EM 2017 TRABALHO CONCLUÍDO Os projetos para o futuro €500 Milhões Montante de financiamento no Banco Europeu de Investimento Conseguida a aprovação formal da Direção-Geral da Concorrência no âmbito do alargamento da sua atividade, a IFD já deu entrada com um primeiro pedido de financiamento junto da instituição europeia. Nuno Ascenso Pires, chefe da divisão de operações em Portugal do BEI, adiantou à VISÃO que a proposta está a ser analisada e deverá ter uma resposta até março. Este dinheiro passará para os bancos, que lhe terão de acrescentar mais €500 milhões. Serão €1 000 milhões que podem chegar às empresas durante os próximos quatro a cinco anos 74 VISÃO 19 JANEIRO 2017 €10 €500 €18 Milhões Gestão de novo fundo Foi atribuída à IFD a gestão financeira de um fundo FITEC – Fundo de Inovação, Tecnologia e Economia Circular, que liga investigação nas escolas e empresas nestas áreas tecido económico nacional é dominado por microempresas e PME. Daí que José Figueiredo defenda outras soluções de financiamento que assumam a partilha de risco, como a dos bancos promocionais. Alavancada, agora, no BEI e mesmo no Plano Junker, a IFD diz-se pronta a ajudar as empresas a terem capital próprio. Mas nem todas terão acesso a estes fundos, como salienta o presidente do IFD: “Há que ter coragem para perceber as que vão ser ou não viáveis.” Cumpridas estão assim as duas primeiras fases do que era o projeto da IFD. Falta concretizar a terceira: a criação da holding IFD, uma superestrutura que agrupe, debaixo de um só chapéu, as várias entidades do Estado vocacionadas para o financiamento da economia e internacionalização das empresas, como a SPGM, a PME Investimentos, a Portugal Ventures e a SOFID (sociedade financeira que apoia a internacionalização das empresas em mercados emergentes ou em vias de desenvolvimento). “Não se pede o desaparecimento destas instituições, mas sim uma articulação supervisionada por uma entidade agregadora, dando coerência e coordenação estratégica à sua atividade e otimizando os recursos públicos”, assegura José Figueiredo. Milhões Linha de financiamento no âmbito do Plano Junker Este valor virá dos programas COSME e Horizonte 2020 e deverá ficar contratualizado até ao final do primeiro semestre Milhões Segundo concurso para business angels Com os €12 milhões dos privados, será um total de €30 milhões de capital que ficará disponível no decorrer deste ano “Estas instituições têm de trabalhar em articulação com a IFD. Se não, nada disto faz sentido. Andamos aqui a duplicar esforços. Se avançarmos para a holding, muito bem, caso contrário o meu trabalho na IFD está feito”, garante o gestor. Em julho de 2015, o economista Manuel Caldeira Cabral, a propósito do nascimento tortuoso da IFD, declarava à VISÃO: “O Banco de Fomento era suposto ser um salto em frente na articulação de fundos comunitários com outros vindos do BEI. E isso já se percebeu que não vai ser. Vai afinal ser uma sociedade gestora de fundos comunitários, o que é uma diferença muito substancial.” Hoje, a IFD já faz a gestão de fundos e pode financiar-se no BEI. E o economista Manuel Caldeira Cabral é agora ministro da Economia. Está nas mãos deste governo avançar ou não com mais uma etapa para que se cumpram os objetivos que levaram à criação desta instituição. [email protected]