Trabalho Submetido para Avaliação - 13/09/2012 13:44:38 ALGUMAS NOTAS ACERCA DA CONTROVÉRSIA DOS UNIVERSAIS WILLIAM SARAIVA BORGES ([email protected]) / Filosofia/UNIFRA, Santa Maria - RS ORIENTADOR: VALDEMAR ANTONIO MUNARO ([email protected]) / Filosofia/UNIFRA, Santa Maria - RS Palavras-Chave: Filosofia Medieval. Questão dos Universais. Conceitualismo. Nominalismo. Realismo Transcendente e Imanente. Em Platão e Aristóteles já se pode identificar “las raíces históricas del conflicto medieval de los universales” (VERWEYEN, 1957, p. 145), todavia, a questão como tal foi lançada na Introdução às Categorias de Aristóteles, isto é, na obra Isagoge, de Porfírio (III d. C.), na qual se levantou o seguinte problema acerca dos universais: (1) os gêneros e as espécies existem na realidade ou apenas no pensamento? (2) e admitindo sua existência real, são corpóreos ou incorpóreos? (3) e, ainda, são separados das coisas sensíveis ou estão no interior delas? (PORFÍRIO, 1994). Em suma, o problema dos universais diz respeito à existência dos gêneros e espécies: eles existem na realidade, existem no intelecto ou existem apenas nas palavras? Entretanto, foi no contexto medieval, que o problema dos universalia, protagonizou as disputas dos filósofos: “metafísicas adversárias mediram suas forças concorrendo para ver quem saberia resolvê-lo melhor” (GILSON, 1995, p. 163). Dessa maneira, o presente trabalho tem por objetivo empreender um estudo exploratório em torno do tema, visando compreender e descrever as principais soluções propostas no período medieval, a saber, realismo transcendente e imanente, conceitualismo e nominalismo. Tal pesquisa se justifica, uma vez que os bolsistas PIBID/UNIFRA trabalharão esse tema na Educação Básica e sendo o ensino inseparável da pesquisa, é fundamental que o docente possua um sólido conhecimento do conteúdo para que o mesmo possa ser eficazmente ensinado. O realismo transcendente, também chamado de “realismo exagerado” (REALE e ANTISERI, 2007, p. 168), defende que os universais (gêneros e espécies) existem realmente, sendo realidades em si (res), tendo, portanto, sua existência fora da mente do sujeito cognoscente e fora (antes) dos objetos sensíveis. Daí a expressão universalia ante rem, universais antes da coisa, sugerindo a pré-existência do universal em relação ao particular. Para essa corrente, “os universais seriam entes reais, subsistentes em si, Ideias eternas e transcendentes que tem função de arquétipo e paradigma em relação aos indivíduos concretos” (REALE e ANTISERI, 2007, p. 168). Em oposição a essa concepção está o nominalismo. Como já sugere a terminologia, o nominalismo apregoa que os universalia são simples nomina ou voces. Para essa posição, os universais seriam “meros ‘flatus vocis’ ou simples emissões de vocábulos, sem que os termos universais remetam a algo de objetivo” (REALE e ANTISERI, 2007, p. 169), isto é, “[...] a ideia geral não é mais que um nome [...]” (GILSON, 1995, p. 289) sem nenhum status ontológico e lógico. O conceitualismo de Pedro Abelardo, por outro lado, postula que os universais não são res nem voces, mas, sim, sermones, isto é, conceitos significativos, discursos mentais abstraídos dos indivíduos concretos através do processo cognoscitivo, revelando-lhes muito mais que seus nomes, mas seu status communis, ou seja, aquilo que possuem em comum (BOEHNER e GILSON, 1985). Todavia, esse status communis não possui características ontológicas de ousia ou de eidos, mas somente valor lógico, pois “indica apenas um modo de ser, uma condição de natureza comum aos indivíduos” (REALE e ANTISERI, 2007, p. 169). Portanto, os universais teriam existência post rem, ou seja, depois da coisa, pois não estão nos objetos, mas no intelecto do sujeito que os alcança pela atividade abstrativa. Por fim, o realismo imanente, proposto por Santo Tomás de Aquino, defende que os universais estão fora da mente do sujeito, assim como o realismo transcendente, todavia, difere deste, ao afirmar que os gêneros e as espécies não estão fora das coisas, mas dentro delas, propondo, assim, os universalia in re. Além do mais, essa solução é moderada, pois procura conciliar as posições anteriores, de modo que concebe os universais a partir de uma tríplice valência: transcendentais (ante rem) na mente de Deus, imanentes (in re) ontologicamente dentro das coisas e conceituais (post rem) logicamente dentro do intelecto dos seres racionais (VERWEYEN, 1957). Nesse trabalho, como em uma primeira aproximação, se expôs brevemente as quatro principais atitudes diante do problema dos universais encontradas na história da filosofia medieval as quais procuraram resolver a aporia apresentada por Porfírio no século III d. C. Ainda que limitado, esse resumo cumpre seu objetivo, pois permitiu aos bolsistas PIBID, licenciandos em filosofia, uma mínima apropriação com o conteúdo para que possam munitorar os alunos enquanto o mesmo é exposto pela professora supervisora. Em uma segunda etapa desse estudo, se empreenderá uma pesquisa mais extensa e profunda, na qual se versará mais detalhadamente sobre as origens, desenvolvimento e possíveis resoluções do problema dos universais. REFERÊNCIAS: BOEHNER, Philotheus; GILSON, Etienne.; História da Filosofia Cristã; Petrópolis; Vozes; 1985. GILSON, Etienne; A Filosofia na Idade Média; São Paulo; Martins Fontes; 1995. PORFÍRIO; Isagoge; Lisboa; Guimarães; 1994. REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario; História da Filosofia: Patrística e Escolástica; São Paulo; Paulus; 2007. VERWEYEN, Johannes María; Historia de la Filosofía Medieval; Buenos Aires; Nova; 1957.