SOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA

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SOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA - SOBRATI
MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM TERAPIA INTENSIVA
MESTRANDA ENFERMEIRA KARIN BASTOS GEORGO
O ENFERMEIRO INTENSIVISTA NO GERENCIAMENTO DA UNIDADE
DE TERAPIA INTENSIVA
Orientador: Dr. Douglas Ferrari
Brasília, 15 de Maio de 2011
O enfermeiro intensivista no gerenciamento da Unidade de Terapia
Intensiva
Enfermeira. Especialista em Enfermagem em Terapia Intensiva e Docência do Ensino Superior.
Enfermeira Assistencial da Unidade de Terapia Intensiva Adulto do Hospital das Forças
Armadas de Brasília-DF e Enfermeira Responsável pelo Programa de Saúde da Mulher do
Centro de Saúde de Taguatinga da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal. E-mail:
[email protected]
Resumo
O interesse pelo estudo surgiu com a vivência da autora na prática profissional
em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), públicas e privadas, observando a
existência de inúmeros profissionais enfermeiros com bom desempenho na
assistência direta ao paciente e, com frágeis atuações na administração de
enfermagem, ou seja, nota-se uma grande dificuldade de articulação entre as
dimensões gerencial e assistencial da profissão, interferindo assim na
qualidade da assistência prestada. O enfermeiro que atua na administração
tende a valorizar esta ação como uma ação que subsidia a viabilização do
cuidado, por outro lado, quem está no cuidado tende a menosprezar a
atividade do gerenciamento, atribuindo-lhe apenas o cunho burocrático. Desta
forma coloco como problema de pesquisa: Qual é a importância do enfermeiro
no gerenciamento da Unidade de Terapia Intensiva?
Empregou-se o estudo exploratório bibliográfico, através de bibliografia
impressa ou virtual, com apreciação sistematizada qualitativa elaborada e
intrínseca ao tema em bases de dados virtuais em saúde e sites de procura
como – LILACS, MEDLINE, SCIELO, BDENF e Bireme. Após a seleção do
material, iniciou-se a leitura analítica das obras selecionadas e a organização
das idéias por ordem de importância e relevância para alcançar os objetivos
almejados inicialmente.
Palavras chaves: Enfermeiro, Unidade de Terapia Intensiva, Gerenciamento
Abstract
The interest in the subject of the present study resulted from the author’s
experience with professional practice in private and public Intensive Care Units
(ICU’s), where
one
can
recognize
professional
nurses showing good
performance when dealing directly with patients, but with otherwise fragile
execution regarding nursing administration, thus leading to great difficulty in
the attempt to articulate the managing and assisting dimensions and interfering
directly with the quality of assistance. When working with management, nurses
tend to value their acting as the one which supports the viability of care; the
ones dealing with care, on the other hand, tend to underrate managing,
accrediting only its bureaucratic significance. Having said that, we establish the
study query: What is the importance of the nurse in the management of the
Intensive Care Unit?
We worked with exploratory bibliographic study, researching print or virtual
sources, with elaborate systematic qualitative analysis regarding the subject
using research on health virtual database and search engine websites such as –
LILACS, MEDLINE, SCIELO, BDENF and Bireme. After selecting the material, we
performed an analytical reading of selected sources, which allowed the
organization of ideas according to importance and theme relevance, in order to
reach our primary goals.
Keywords: Nurse, Intensive Care Unit, Management.
Introdução:
O interesse pelo estudo surgiu da necessidade percebida pela autora em
reforçar aos enfermeiros que o trabalho do profissional de enfermagem vem
sofrendo grandes mudanças nas últimas décadas, com grande necessidade de
articulação da prática assistencial e gerencial do trabalho e foram essas
modificações do perfil do enfermeiro que suscitou a diversas inquietações e
questionamentos sobre a sua importância dentro da unidade de terapia
intensiva.
Durante muitos anos, o tipo de organização dos serviços de saúde,
associado a modelos de gestão tradicionais, baseou-se em contradições
geradas por uma estrutura rígida, excessivamente especializada, com funções
rotineiras e pouco desafiadoras. Entretanto, o avanço tecnológico e as
mudanças, tanto no processo produtivo quanto nas relações sociais, geraram
um campo minado entre as organizações e instituições sociais existentes, e
para que as mesmas continuassem competitivas, elas necessitaram de maior
planejamento e controle de suas ações.
Muitas organizações ainda adotam o modelo tradicional de gestão e
permanecem usufruindo a sua glória do passado, enquanto o mundo avança
na velocidade da luz fora de seus muros. Na busca de se manter a
competitividade ou de alcançá-la, algumas organizações estão refletindo sobre
as suas estratégias e a posição no mercado que atuam. Se no século XIX
havia ênfase na gestão das tarefas, a gestão atual está orientada para a
performance e competitividade das organizações.
A busca pela qualidade nos diversos níveis de atenção dos serviços de
saúde deixou de ser uma atitude isolada e tornou-se um imperativo técnico. A
sociedade está exigindo cada vez mais a qualidade dos serviços a ela
prestados, através de um preparo profissional apurado e, conseqüentemente, o
melhor desenvolvimento técnico que busca a satisfação do paciente mediante
atenção sistemática, planejada, avaliada e gerenciada pelo enfermeiro.
Dentre os diversos campos de trabalho desse profissional, o de maior
destaque é a unidade hospitalar, que é um estabelecimento de saúde que
garante um atendimento básico de diagnóstico e tratamento, com equipe
clínica organizada e com atendimento terapêutico direto ao paciente, durante
24 horas. Esse local apresenta serviços de laboratório, radiologia, cirurgia e
internação e tem como objetivos: oferecer assistência médica continuada e
integrada, concentrar grande capacidade de recursos de diagnósticos e
tratamento para, no menor tempo possível reintegrar o paciente ao seu meio,
constituir um nível intermediário dentro de uma rede de serviços de
complexidade crescente, promover a saúde e prevenir doenças. A UTI assume
atualmente um grande valor dentro a área hospitalar, porque recebe pacientes
graves ou de risco, potencialmente recuperáveis, que apresentam instabilidade
de algum de seus sistemas orgânicos, devido a alterações agudas ou
agudizadas, alterações essas que necessitam de uma assistência permanente
da equipe multiprofissional além de um local com equipamentos específicos
destinados ao diagnóstico e tratamento.
O enfermeiro, ao assumir um trabalho, independente da sua formação
acadêmica, se depara indiscutivelmente com situações diversas que lhe
exigem conhecimentos, habilidades, atitudes coerentes, precisas e imparciais
para uma tomada de decisões que venha ao encontro de seus valores
pessoais e éticos e que, ao mesmo tempo, atenda aos objetivos e metas da
organização.
Atualmente, além de voltar sua atenção para a assistência e cuidados
com o paciente – o trabalho de enfermagem propriamente dito – o enfermeiro
deve ainda direcionar esforços para o gerenciamento do seu ambiente de
trabalho. Para atender às novas demandas sociais, legais e científicas,
desenvolvendo grandes melhorias com base no conhecimento e na
competência gerencial. Hoje, mais do que nunca, a gestão tem sido a força
impulsionadora e vital para essa demanda, e para que isso ocorra, ela precisa
ser avaliada e fortalecida continuamente.
Desta forma coloco como problema de pesquisa:
Qual é a importância do enfermeiro intensivista no gerenciamento
da Unidade de Terapia Intensiva?
Objetivo:
Discorrer sobre a atuação e contribuições do enfermeiro intensivista no
gerenciamento da Unidade de Terapia Intensiva e definir como isso pode
interferir diretamente na qualidade do cuidado prestado.
Metodologia
Empregou-se o estudo analítico e exploratório, de natureza bibliográfica,
impressa ou virtual, com abordagem do tipo qualitativa, possibilitando um olhar
descritivo sobre o fenômeno estudado e apreciação intrínseca ao tema em
foco, através de pesquisas em bases de dados da Biblioteca Virtual de Saúde:
Bireme, LILACS, MEDLINE, SCIELO, BDENF; livros e periódicos. Após a
seleção do material, iniciou-se a leitura analítica, das obras selecionadas, o que
possibilitou a organizando as idéias por ordem de importância e relevância ao
tema para alcançar os objetivos almejados inicialmente e a elaboração do
presente estudo.
A pesquisa bibliográfica abrange toda bibliografia pública relacionada ao
tema de estudo, desde publicações, boletins, jornais, monografias, livros, teses,
revistas, material cartográfico, além de meios de comunicação orais e áudios
visuais. A finalidade desse tipo de pesquisa é permitir ao pesquisador explorar
novas áreas, onde o problema não foi discutido suficientemente, assim sendo
os resultados das pesquisas assumem um caráter muito mais amplo e
significativo. É importante salientar que a pesquisa bibliográfica não é apenas a
repetição do que foi dito ou escrito sobre um determinado assunto, mas o
exame do tema com outra abordagem e/ou direcionamento, tornado-se um
excelente
meio
de
formação
científica
tanto
quando
realizada
independentemente quanto como parte de investigação empírica (LAKATOS;
MARCONI, 2005). Enquanto isso, a metodologia qualitativa preocupa-se em
analisar e interpretar aspectos mais profundos, descrevendo a complexidade
do comportamento humano. Fornecem análises mais detalhada sobre as
investigações, hábitos, atitudes e tendências de comportamento (LAKATOS;
MARCONI, 2009).
Discussão
Nos dias de hoje, as organizações, incluindo as de saúde, vivem uma
grande crise econômica, demandando uma gestão eficiente, que saiba
administrar a escassez de recursos e desenvolver os programas sociasi,
aumentando a articulação dos diferentes grupos. É nesse contexto que
devemos situar as novas perspectivas da enfermagem, das políticas de saúde
e do trabalho gerencial.
O Sistema Único de Saúde (SUS), devido suas fortes implicações sóciopolíticas, econômicas e culturais, compõe um cenário no qual a gerência no
trabalho do enfermeiro é uma característica essencial para o enfrentamento
dos desafios existentes. Estão surgindo novas abordagens que preconizam: a
descentralização das decisões e aproximação de todos os elementos da
equipe de trabalho, nesse modelo todos têm oportunidade de participar
efetivamente da discussão e realizar o aperfeiçoamento do processo de
trabalho. A fim de que isso ocorra, torna-se fundamental a busca de novas
competências para organizar e qualificar a assistência prestada em suas
diversas dimensões, abrangências e especificidade.
A inserção do Enfermeiro nesse contexto de mudanças, acompanhando
a evolução do mundo globalizado, faz-se necessária, para a busca do
progresso de seu conhecimento por meio da implantação da política do saber e
fazer crítico, tornando-o um profissional capaz de resolver desafios do
cotidiano, ele deixa de ser apenas assistencial para ser capaz de gerenciar o
cuidado prestado. Nessa perspectiva, a enfermagem passa por uma
redefinição de suas funções, assegurando seu papel e seu compromisso com a
sociedade que, nesse momento, aspira por maior qualidade na prestação da
assistência à sua saúde (SIMÔES & FÁVERO, 2000).
Profissionais de saúde melhor qualificados serão capazes de prestar
assistência de melhor qualidade buscando a resolutividade das necessidades
de saúde, gestores mais bem qualificados poderão, por meio de uma visão
sistêmica e abrangente, analisar melhor os cenários e planejar as ações locais,
ou regionais de forma mais adequada. Assim, ao considerar que o cuidado é a
marca e o núcleo do processo do trabalho de enfermagem, entende-se que a
cisão entre a dimensão assistencial e gerencial compromete a qualidade do
cuidado e gera conflitos no trabalho do enfermeiro, seja do profissional com a
sua própria prática, seja na sua relação com a equipe de enfermagem ou com
a equipe de saúde. Resumindo, gerenciar as Unidades de Terapia Intensiva é
prestar cuidado ao paciente, administrar a assistência e a equipe de saúde.
Unidade de Terapia Intensiva
Segundo a RDC nº 7, de 24 de fevereiro de 2010, umas das legislações
mais atuais sobre o assunto, define-se como Unidade de Terapia Intensiva
(UTI) a área crítica destinada à internação de pacientes graves, que requerem
atenção profissional especializada de forma contínua, materiais específicos e
tecnologias necessárias ao diagnóstico, monitorização e terapia. Essa unidade
concentra recursos materiais e humanos treinados, capacitados e diferenciados
para o atendimento de pacientes com risco iminente de morte e possibilidade
de recuperação. O cuidado tem foco individualizado relacionado às
necessidades humanas básicas afetadas e valoriza a família como fator
importante para a promoção, reabilitação e manutenção da saúde física, mental
e afetiva do paciente.
 Histórico
A preocupação com o paciente considerado grave iniciou-se com
Florence Nightingale, durante a guerra da Criméia no século XIX, com diversos
avanços na assistência ao paciente: técnicas de monitorização 24 horas,
separação de feridos conforme índice de gravidade, registros sobre as
condições dos pacientes, assistência planejada e contínua aos feridos graves
com maior vigilância e melhor atendimento, organização do ambiente, prática
da assistência de enfermagem de forma protocolada e científica.
Primeiro houve a separação dos doentes entre mais graves e menos
graves, depois se percebeu a necessidade de maiores cuidados ao paciente
durante o período pós-operatório imediato, fato que fez com que surgissem as
unidades especiais de terapia para que o cirurgião ou o anestesista
acompanhassem o paciente, posteriormente, foi atribuída a enfermeiros e à
equipe de enfermagem a responsabilidade direta pela observação e tratamento
clínico dos pacientes de risco.
O surgimento da prática em UTI marcou um dos maiores progressos
obtidos pelos hospitais de nosso século, visto que, antes dessa modificação, o
cuidado ao doente grave realizava-se nas próprias enfermarias, faltando,
assim, área física adequada, recursos materiais e recursos humanos para
melhor qualidade do cuidado prestado.
As unidades de terapia intensiva continuaram evoluindo, iniciou-se a
assistência a pacientes de neurocirurgia na década de 20, assistência intensiva
pós-operatória na década de 30 e as salas de recuperação cirúrgica na década
de 40. Nos anos 50, com a epidemia de poliomielite, houve grande sobrecarga
nos hospitais e a necessidade de criação de centros regionais para o
atendimento dos pacientes, com uso de tecnologia e de modernas técnicas de
ventilação mecânica. Aos poucos foram surgindo unidades especiais para
pacientes cirúrgicos, neurológicos, vítimas de queimaduras, portadores de
crises respiratórias, renais, metabólicas agudas e outras. Posteriormente
iniciou-se a terapia intensiva especializada nas áreas de obstetrícia, pediatria e
neonatologia.
A implantação das UTI’s no Brasil ocorreu na década de 70 e atualmente
essa é uma unidade presente dentro do contexto hospitalar.
 Paciente Crítico - Definição
Paciente grave ou de risco, potencialmente recuperáveis, que necessita
de vigilância contínua e cuidados de excelência dirigidos tanto para os
problemas fisiopatológicos, quanto para as questões psicossociais, ambientais
e familiares. Na definição universal, 'paciente grave' é aquele que apresenta
instabilidade de algum de seus sistemas orgânicos, devido a alterações
agudas.
Gerenciamento
Nos dias de hoje, a renovação nos modelos de gestão é uma
necessidade latente e por isso, a discussão dos modelos de Gestão dos
Sistemas e Serviços de Saúde tem ganhado grande espaço, força e
importância, busca-se alternativas organizacionais que contribuam para um
Sistema de Saúde que seja comprometido com a defesa da vida, individual ou
coletiva.
Constata-se que o modelo tradicional de gerência, apesar de possuir um
organograma detalhado, com ênfase na divisão do trabalho, planejar as
funções, descrever cargos, apresentar manuais de tarefas e procedimentos;
influi pouco na produtividade e é limitado, apenas gera estruturas fixas,
permanentes e rígidas.
Formas assistemáticas de gerenciar geralmente negligenciam problemas
para os quais não são oferecidas soluções adequadas tanto para bem atender
os clientes quanto para satisfazer a própria organização e os trabalhadores em
suas necessidades. Para isso é necessário buscar um perfil ou estilo gerencial
adequado e sistemático.
O objetivo da administração é interpretar os objetivos propostos pela
organização e transformá-los em ação através do planejamento, organização,
direção e controle. Porém, para alguns autores, o gerenciamento não é um
processo apenas científico e racional, mas também um processo de interação
humana, com dimensão psicológica, emocional e intuitiva, buscando a
satisfação das necessidades de saúde da população e a ampliação da
autonomia dos sujeitos envolvidos nos processos de cuidado – usuários e
trabalhadores.
Nos últimos anos, o termo – administração – tem sido substituído por
gerência devido a alguns fatores, tais como: desgaste, falhas na prática
administrativa, associação a sentimentos de descrença, insatisfação, inutilidade
e pessimismo. Essa mudança não modificou a necessidade de condução,
tomada de decisão, liderança e supervisão e assim foram surgindo e sendo
utilizados outros termos como gerência e gestão. O termo gestão surgiu e vem
sendo utilizado como qualificativo de formas participativas como co-gestão e
autogestão, sugere a idéia de decidir e dirigir.
Atualmente os modelos administrativos tradicionais não respondem às
exigências impostas por um mercado extremamente competitivo e susceptível
às mudanças decorrentes do aumento da complexidade das sociedades e das
organizações. Assim, a transformação nos paradigmas gerenciais passa a ser
considerada necessária à sobrevivência das organizações, uma vez que os
processos produtivos e as idéias se modificam em ritmo acelerado (BRITO,
2003). As organizações precisam ser capazes de responder em tempo real a
imprevisibilidade.
Os novos modelos de gerência, de acordo com Campos (1998) sugerem
modificações na estrutura da organização, extinguindo a departamentalização
e criando unidades de produção conforme a lógica de cada processo de
trabalho. Assim, todos os profissionais envolvidos com um determinado produto
constituirão
uma unidade de produção, ou
seja, as equipes serão
multiprofissionais, rompe a dicotomia estabelecida onde cada profissional faz
sua parte e possibilita uma visão integral da assistência.
Os modelos contemporâneos permitem a flexibilização nos processos de
produção, propiciam uma análise e um diagnóstico do ambiente, dando aos
gerentes condições para antecipar o futuro e reduzir riscos e incertezas na
tomada de decisão. Esse tipo de gestão valoriza a descentralização
administrativa, a comunicação informal, a flexibilidade nos processos de
produção, assim como estimula à iniciativa e criatividade dos indivíduos e
grupos.
Deseja-se do gestor contemporâneo, capacidade para assimilar, as
necessidades, complexidades e diversidades atuais, que ele recupere os
aspectos positivos do passado, gerencie o conhecimento e o desconhecido, o
objetivo e o subjetivo, o fácil e o difícil, com as pessoas e não para e sobre
elas. É preciso ter flexibilidade, ser líder, saber resolver os problemas sem
gerar ansiedade e desconfortos, saber motivar as pessoas sem criar
expectativas inatingíveis. É preciso ter habilidades de relacionamento e possuir
uma das artes mais difíceis, que é saber ouvir (MARX E MORITA, 2000).
Ser gerente é dirigir, coordenar, organizar, planejar, é controlar pessoas
ou grupos para o alcance de objetivos e metas comuns, é ter capacidade e
saber utilizar de maneira eficaz seus recursos humanos e materiais
disponíveis, de forma organizada e dinâmica, mantendo a motivação e a moral
elevada de sua equipe, alcançando a melhoria organizacional, ou seja,
gerenciar é a arte de pensar, de decidir e de agir, é a arte de fazer acontecer,
de obter resultados (previstos, analisados e avaliados).
 Planejamento
Em um mundo cada vez mais complexo e competitivo, com pressão de
todos os lados para que haja um bom desempenho no trabalho, as decisões
tomadas podem ser a chave do sucesso ou do fracasso profissional. Por isso
mesmo, não se pode simplesmente arriscar decisões pelo processo de acerto
ou erro. Planejamento, item que precede todas as outras funções
administrativas, é a arte de fazer escolhas e elaborar planos que favoreçam o
processo de mudança, requer flexibilidade, energia e fornece ao administrado
um meio de controlar e estimular o melhor uso dos recursos.
O planejamento da assistência é um processo contínuo, que visa
possibilita uma postura ativa dos gestores de uma organização, envolve
raciocínio, reflexão e análise sobre a maneira de realizar determinadas tarefas.
Segundo Kurcgant (2005), o planejamento é iniciado quando se determinam os
objetivos que se quer atingir, quando se definem estratégias e políticas de ação
e se detalham planos para conseguir atingir a meta.
 Dimensionamento de Pessoal
Na prática tradicional de gerenciamento, ainda adotadas na maioria dos
hospitais,
os
pacientes
são
considerados
como
se
demandassem
indistintamente a mesma qualidade de cuidados, não se leva em conta que
cada paciente se comporta subjetivamente de maneira diferente, ou seja, exige
da enfermagem, uma assistência diferenciada em termos qualitativos e
quantitativos.
A insuficiência numérica e qualitativa dos recursos humanos para o
serviço de enfermagem tem sido questão preocupante para os enfermeiros que
ocupam cargos de gerência, uma vez que a inadequação desses recursos,
para atendimento das necessidades de assistência de enfermagem aos
pacientes, compromete grandemente a qualidade do cuidado e implica em
questões legais e de saúde do trabalhador.
Introduzir uma metodologia de dimensionamento constitui-se um
instrumento gerencial valioso para a alocação de recursos humanos, qualidade
da assistência, monitoramento da produtividade e processo orçamentário. A
operacionalização desse processo requer a mensuração de diversas variáveis:
adoção de um Sistema de Classificação de Pacientes, levantamento do tempo
de assistência de enfermagem em relação com a missão da instituição,
estrutura organizacional, planta física, complexidade dos serviços, política de
recursos humanos, materiais e financeiros, amparo legal e padrão de
assistência pretendido, tendo como referência a Resolução COFEN nº 189/96,
para as horas de assistência e a realidade encontrada.
 Conflitos Gerenciais e Negociação
O gerenciamento de conflitos é considerado tão ou mais importante que
planejamento, comunicação, motivação ou tomada de decisão. Para Marx e
Morita (2000), cabe ao gerente identificar o tipo de conflito, seus estágios e,
como líder, usar estratégias que possam administrar esses conflitos de âmbito
organizacional.
A análise de problemas é composta por um conjunto de processos que
ajudam os profissionais a tomar decisões de qualidade, de modo participativo,
ouvindo todos os envolvidos na situação e escolhendo ações que obtenham o
máximo sucesso na resolução do problema, com menor custo e com o mínimo
de desvantagens ou riscos para todos os envolvidos. O planejamento do
processo decisório é passo importante para o planejamento de conflitos e para
possíveis negociações entre os atores envolvidos em uma dada situação
(KURKGANT, 2005).
Os conflitos têm origens individuais ou grupais, se dão pela disputa dos
trabalhadores por reconhecimento, pela quantidade limitada de recursos
oferecidos pela instituição, pela diferenças de personalidade, metas e
percepção dos profissionais envolvidos. Podem ser resultantes de competição,
discordâncias, diferenças de idéias e crenças a equipe aumentam de acordo
com a complexidade das organizações. Contudo, há uma visão mais moderna
de conflito que vê como ponto positivo o fato de desenvolver/melhorar a
capacidade de negociação.
 Educação Permanente em Saúde
O serviço de enfermagem deve ter um setor ou serviço que agrupe,
organize e coordene as atividades educacionais, articulando e sistematizando
os setores da enfermagem no desenvolvimento do pessoal de enfermagem.
Atualmente, as instituições prezam não só por conhecimento e
capacitação, mas por profissionais flexíveis para incorporarem estratégias
capazes de atender o usuário. O gerente/líder tem a responsabilidade de
manter um corpo de funcionários competentes através de treinamento e
educação, o primeiro é imediato e pontual enquanto que o segundo desenvolve
o indivíduo de maneira mais ampla, possuindo maior alcance.
A busca pela qualidade no atendimento ao paciente está no
conhecimento e na educação continuada da equipe de enfermagem, e para
isso é indiscutível a necessidade de uma gerência inovadora.
 Liderança
A liderança é a habilidade de influenciar pessoas para trabalharem
entusiasticamente visando atingir aos objetivos identificados como sendo para
o bem comum (HUNTER, 2004). Se alguém deseja distinguir liderança de
gestão ou administração, pode-se argumentar que a liderança cria e muda
culturas, enquanto a gestão e a administração agem na cultura (Shein, 2009).
Os líderes não necessariamente tem autoridade formal, dão ênfase às
relações interpessoais; dirigem seguidores dispostos a colaborar e têm
objetivos que podem ou não refletir aqueles da organização. Em contrapartida,
o gerente é investido de autoridade formal na estrutura da organização e deve
ser capaz de promover o desenvolvimento de outras pessoas. O ideal seria que
tais papéis complementares pudessem sem encontrados na mesma pessoa.
Os líderes de enfermagem sabem que as instituições hospitalares
necessitam trabalhar com profissionais diferenciados, dinâmicos, inteligentes e
criativos, capazes de gerenciar a assistência e a equipe de forma a obter os
melhores resultados a um custo compatível.
A liderança do enfermeiro influi fortemente no ambiente de trabalho, o
bom relacionamento aumenta a confiança, a compreensão e o respeito entre
as partes, evita conflitos e auxilia no gerenciamento eficaz.
 Informatização
Os enfermeiros são responsáveis por atividades assistenciais e
administrativas cada vez mais bem definidas pelos órgãos oficiais (COREN –
Conselhos Regionais de Enfermagem; e COFEN – Conselho Federal de
Enfermagem) e pelas instituições que vêm dando muita importância ao registro
e à documentação das atividades desenvolvidas.
Marin (2005) afirma que a utilização da informática em saúde pode ser
considerada um poderoso instrumento norteador do processo assistencial e
gerencial. A informática na enfermagem é a área do conhecimento que diz
respeito ao acesso, uso de dados, informação e conhecimento utilizados para
padronizar a documentação, melhorar a comunicação, apoiar o processo de
tomada de decisão, desenvolver e disseminar novos conhecimentos. Promove
a enfermagem como ciência, aumenta a qualidade, a efetividade e a eficiência
do cuidado em saúde, além disso, fornece maior poder de escolha aos
pacientes.
Estudos mostram que o enfermeiro despende mais de metade do tempo
que passa nas instituições coletando, administrando e documentando
informações, direcionando seu tempo para a realização das tarefas
administrativas e deixando de lado a atividade assistencial de qualidade
O uso de sistemas informatizados facilita o diagnóstico, a tomada de
decisão e a pesquisa, poupa tempo e melhora a assistência prestada mesmo
tendo em contrapartida a criação de constantes desafios de aprendizagem. O
uso do computador tem sido apontado como uma “ferramenta” importante na
otimização do tempo dos profissionais de enfermagem e isso, indiretamente,
favoreceu a implantação das etapas do processo de enfermagem na prática
profissional.
O desenvolvimento da informatização contribuiu para ajudar os
enfermeiros no cuidado integrado. Mesmo utilizando da informatização, o
enfermeiro deve cuidar de maneira individualizada, buscando as melhores
evidencias clínicas disponíveis, realizando exames completos, descrevendo
diagnósticos e preparando planos de cuidados para cada paciente, caso
contrário, estará indo na contramão do conceito central que regem a ciência da
enfermagem.
O foco da assistência de enfermagem deve ser a saúde das pessoas,
não o tratamento das doenças. A medicina e a enfermagem, apesar de
estarem ligadas ao objetivo de recuperação e promoção da saúde, apresentam
métodos e focos diferentes quanto ao cuidado prestado.
Os sistemas informatizados de documentação nos serviços permitirão
ampliar a comunicação intra- e inter-hospitalar, promoverão melhor integração
ensino-serviço, bem como tomada de decisão mais rápida quanto ao cuidado a
ser prestado causando impacto na gestão, na qualidade da assistência e na
satisfação dos pacientes.
 Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE)
Para atuar em conformidade com a lei do exercício profissional da
enfermagem (1986), o enfermeiro deve implantar a SAE na instituição em que
atua. Durante a sistematização das ações de enfermagem, todas as etapas do
Processo de Enfermagem (PE) devem ser implementadas. Realizar anamnese
e exame físico diários, identificar os diagnósticos de enfermagem, planejar a
assistência, prescrever os cuidados e avaliar os resultados obtidos com as
ações realizadas. Esse processo confere maior segurança aos pacientes,
melhora a qualidade da assistência e dá maior autonomia aos profissionais de
enfermagem.
Convém ressaltar, no entanto, que, para implantar o processo, conforme
preconizado, o enfermeiro deve ir ao encontro do paciente. Examiná-lo fazendo
uso de um raciocínio clínico respaldado em conhecimentos científicos, para
poder apontar diagnósticos e prescrever cuidados centrados nas necessidades
detectadas nesses pacientes, caso contrário, o PE não garante a melhora da
qualidade da assistência prestada à população.
Assim, constatamos que a SAE está diretamente ligada ao planejamento
gerencial, direciona a caracterização de recursos humanos e materiais, facilita
a avaliação da assistência de prestada, oferece subsídios aos indicadores de
custo e rendimento, além de indicar áreas que requeiram aprimoramento.
O novo cenário econômico da globalização e as atuais políticas públicas
de saúde têm gerado a necessidade de uma reorganização da assistência
prestada aos pacientes, pautada na obtenção e análise de indicadores de
saúde que permitam a troca de informações, a avaliação e o acompanhamento
da qualidade dos serviços prestados a população (TANNURE, 2008).
O crescente aumento e velocidade das trocas de informações, a
evolução tecnológica, as constantes demandas das instituições de saúde para
maximizar recursos, diminuir custos e aumentar a qualidade da assistência têm
exigido da enfermagem o aprimoramento de suas atividades e isso abre
espaço para a implementação da SAE como necessidade básica do cuidado e
não como item adicional
Deste modo, a SAE contribui para a melhora na qualidade da assistência
de enfermagem, caracteriza o corpo de conhecimentos da profissão, traz
implicações positivas tanto para o paciente quanto para a equipe de
enfermagem e favorece um maior contato entre enfermeiros e pacientes,
promovendo a criação de vínculos e melhora do atendimento.
No entanto, existe na prática assistencial a necessidade de se capacitar
os enfermeiros acerca das teorias de enfermagem, do PE, de semiologia, de
fisiologia, de patologia, além das habilidades necessárias para gerenciarem as
unidades efetivamente. Dessa forma, os enfermeiros poderão assistir
diretamente o paciente/a família/a comunidade e obter indicadores de saúde a
partir dos registros realizados nos prontuários pela equipe de enfermagem,
com os quais poderão ainda avaliar a qualidade da assistência prestada e
mensurar o quanto esses profissionais contribuíram para a melhora do quadro
dos pacientes sob seus cuidados.
As tentativas de organizar o conhecimento na enfermagem datam da
década de 1950, no entanto, foi a partir dos estudos de Horta (1979) no final da
década de 1060 que a atenção dos enfermeiros brasileiros começou a ser
direcionada para esse assunto, buscando tornar autônoma a profissão e
caracterizá-la como ciência.
A SAE confere maior segurança aos pacientes, uma vez que, para ser
implementada, requer que o enfermeiro realize julgamento clínico. É uma
atividade
predominantemente
intelectual,
exige
o
desenvolvimento
de
habilidades cognitivas (inteligência, raciocínio lógico, pensamento crítico),
técnicas interpessoais (comunicação, interação), ética (crenças, julgamentos) e
capacidade de tomada de decisão. Tem como suporte as evidências científicas
e são obtidos a partir da avaliação de dados subjetivos e objetivos do indivíduo,
família e comunidade.
Dois fatos importantes marcaram o incremento da SAE nas instituições
de saúde e a consolidação de sua implementação: a Lei do Exercício
Profissional de Enfermagem de 1986, que estabeleceu a prescrição dos
cuidados de enfermagem como atribuição privativa e a Resolução 272 (2002)
do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), que determina que o processo
de enfermagem é incumbência privativa do enfermeiro,em sua implantação,
planejamento, organização, execução e avaliação. Essa legislação tornou
obrigatória a utilização da SAE nas instituições de saúde e na assistência
domiciliar.
O processo de enfermagem prevê uma assistência pautada na avaliação
do paciente por meio do raciocínio clínico, fornece dados para que os
diagnósticos de enfermagem sejam identificados. Os diagnósticos direcionam a
definição de metas a serem alcançadas. Em conjunto, os diagnósticos e as
metas são as bases para a seleção de intervenções apropriadas à situação
específica do paciente. Uma vez realizadas as intervenções, o alcance das
metas deve ser avaliado. A partir dessa avaliação retorna-se às fases
precedentes caso as metas não tenham sido alcançadas ou novos diagnósticos
tenham sido identificados. O processo de enfermagem provê um guia para um
estilo de pensamento, mas, por si só, não é capaz de garantir boa qualidade de
cuidados de enfermagem, as conseqüências de cada interação de enfermagem
com o paciente e os fatores contextuais nos ambientes de cuidados qualificam
o cuidado de enfermagem.
Em síntese, o processo de enfermagem e as classificações de
enfermagem são apenas instrumentos. Aprender a usá-los em benefício do
cuidado de alta qualidade requer atitudes e disposição de um eterno aprendiz e
desejo de ser continuamente transformado pelas experiências do cuidar. Não
se pode esquecer que o paciente procura o enfermeiro para ser reconhecido
como uma pessoa, e não apenas como um exemplo de um tipo de doença ou
problema.
o Enfermeiro na Gestão
O enfermeiro, inserido na complexidade organizativa das instituições
hospitalares,
se
depara
com
um
grande
contingente
de
atividades
administrativas e assistenciais a serem desenvolvidas. A enfermagem nasce
várias vezes, de modos diferentes, subsistindo através de transformações da
sociedade, correspondendo às necessidades que estas transformações
requerem, assimilando mudanças que não a tornaram somente um ato de
cuidar moral, mas a transformaram numa atividade gerencial.
Historicamente, na saúde e na enfermagem, os processos de cuidar e
de administrar quase não se tocam correndo de forma paralela nas instituições
hospitalares, o que pode ser modificado com a promoção de uma aliança entre
os dois eixos que permitirá constituir o cuidar gerenciando e o gerenciar
cuidando, interpretado como uma construção para a enfermagem brasileira e
um novo paradigma (FERRAZ, 2000).
A enfermagem vem, ao longo dos anos, buscando meios mais eficazes
de adequar modelos administrativos ao seu cotidiano, assegurando o
encadeamento do trabalho assistencial, de modo a não afastar do seu principal
foco de atenção, o cuidado com o paciente. Esses profissionais discutem e
estudam a administração como uma das dimensões do cuidar, como uma
ferramenta que se bem utilizada pode contribuir para a organização de uma
assistência de qualidade.
A finalidade da enfermagem é o cuidar e este se operacionaliza por
diferentes processos de trabalho: o de assistência à saúde; o de
gerenciamento dessa assistência, o de ensino e o de investigação clínica
(gerando o saber indispensável à produção). A gerência de enfermagem, uma
das dimensões do cuidar, pode ser conceituada como sendo um instrumento
capaz de política e tecnicamente, organizar o processo de trabalho com o
objetivo de torná-lo mais qualificado e produtivo na oferta de uma assistência
de enfermagem universal, igualitária e integral, seguindo os preceitos do
Sistema Único de Saúde. O que deixa evidente que esses profissionais não se
satisfazem mais apenas com as ações de vigiar as atividades rotinizadas dos
profissionais de nível médio e elementar ou em estar auxiliando outros
profissionais de saúde.
É preciso buscar um perfil estrategista, buscando uma abordagem
coordenada, promovendo a prática da colaboração, estimular uma parceria
com a equipe multiprofissional, que é indispensável para futuras negociações
entre as partes (MARX E MORITA, 2000). Segundo a autora, o gerente de
enfermagem tem de ter segurança nas tomadas de decisões, ser um pensador
estratégico para poder antecipar mudanças rápidas na assistência ao paciente
ou em assuntos concernentes à administração do serviço. Para isso, muitas
vezes, necessitará de habilidades de negociação e afirmação. Deverá ser
experiente em comunicação, quer verbal, escrita ou corporal, pois a chave do
sucesso está numa boa comunicação.
Sendo assim, não há mais como negar a importância da função
gerencial
como
elemento
integrante
do
trabalho
do
enfermeiro.
O
gerenciamento em Enfermagem, seja em instituições hospitalares, seja no
âmbito da saúde coletiva, constitui-se de atividade complexa e polêmica visto
que, cada vez mais, exige dos profissionais competências (cognitivas, técnicas
e atitudinais) na implementação de estratégias adequadas às atuais tendências
administrativas
contemporâneas
que
convergem
para
os anseios
da
organização e de seus gestores.
A legitimidade da ação de gerenciamento é conferida privativamente ao
enfermeiro, que, de acordo com o que determina a Lei nº 7.498, de 25 de junho
de 1986, no 11º artigo sobre a regulamentação do exercício da Enfermagem no
Brasil, são atividades privativas ao enfermeiro: o planejamento, a organização,
a coordenação, a execução e a avaliação dos serviços de assistência de
Enfermagem.
Apesar de ser o gerenciamento uma atividade conferida por lei,
observamos a necessidade de um esforço conjunto da unidade formadora e
dos serviços, para rever as práticas e as intervenções necessárias no âmbito
gerencial, através da interação entre teoria e prática, relacionando o cotidiano
do gerenciamento às experiências, às dificuldades enfrentadas, às inovações
isoladas e ao conhecimento produzido na universidade.
O gerenciamento dos serviços de enfermagem atualmente encontrados
tanto na prática hospitalar quanto na ambulatorial, encontra-se distante do
esperado. O que se observa é apenas a reprodução dos modelos tradicionais,
em que as estruturas hierárquicas de controle, submissão, obediência às
normas e padrões são reproduzidas. O trabalho do enfermeiro se resume em
desempenhar atividades rotineiras.
Esse profissional se limita a “apagar incêndios”, utilizando-se para isso
somente da sua experiência e feeling profissional, como conseqüência, a
assistência ao paciente fica em segundo plano. A avalanche de atividades que
são
delegadas
ao
enfermeiro,
predominantemente
burocráticas,
o
distanciamento da assistência, do planejamento do cuidado e da supervisão e
da orientação da equipe numa perspectiva de acompanhamento e de educação
continuada traz como conseqüência a falta de reconhecimento do seu trabalho
por parte da clientela e da própria equipe de saúde.
A atuação dos gerentes das unidades se limita a atender às exigências
da cúpula administrativa e a assistência é delegada aos demais membros da
equipe, uma verdadeira dicotomia entre o que se espera e o que se verifica na
prática. O enfermeiro gerente tem a ilusão de autonomia profissional, mas na
verdade, suas ações estão submetidas ao administrador das instituições de
saúde cujos objetivos são controle de pessoal, cumprimento de normas e a
redução de custos, ficando em segundo plano a administração com a finalidade
de assistir melhor o cliente.
É necessária uma mudança mais profunda de valores, de cultura, de
processos, para realmente conquistarmos a efetiva transformação de modelos
gerenciais e, conseqüentemente, uma assistência à saúde mais humanística,
globaliza e de qualidade. É preciso abandonar posturas cômodas, submissão,
cumpridores de ordens e não se contentar apenas em “assumir o controle” de
pessoas e materiais numa visão doméstica. Além disso,é indispensável
construir espaços para uma gestão compartilhada que atenda as expectativas
humanas em relação ao cuidado com o paciente, integre os membros da
equipe de enfermagem a fim de que possam encontrar estratégias que
minimizem as dificuldades do cotidiano através de posturas éticas, educação
permanente e estudos em geral. Dessa forma, a auto-estima, a motivação e a
reintegração dos membros da equipe multiprofissional serão resgatadas.
O que se observa na prática são enfermeiros lançados a genciar
serviços e unidade de saúde, sem noções básicas sobre as competências
técnicas necessárias para desempenhar as funções cabíveis ao seu novo
cargo. Acarretando conseqüências desastrosas para o bom desempenho da
sua equipe. Muitos profissionais competentes tecnicamente se perdem ao
gerenciar serviços por não conseguir atingir o equilíbrio entre a tomada de
decisões e a implementação das ações.
O mercado profissional espera do enfermeiro que ele esteja preparado
para garantir a unidade e organização do trabalho coletivo, que seja capaz de
planejar e desenvolver novos processos, métodos e instrumentos, além de
trabalhar conflitos, enfrentar problemas, negociar, dialogar, argumentar, propor
e alcançar mudanças, com estratégias que aproximem da equipe e do cliente
contribuindo para a qualidade do cuidado, ou seja, espera-se do enfermeiro
uma capacidade para gerenciar, que ele esteja voltado para o processo
assistencial e nunca perder de vista a qualidade da assistência.
Novas tendências e possibilidades de gerência em enfermagem:
 Experimentar e buscar o novo;
 Investir nos recursos humanos e no trabalho em equipe é o
caminho certo para o aumento da produtividade com qualidade e
a satisfação dos trabalhadores;
 Desenvolver relações interpessoais;
 Repensar a assistência de enfermagem de forma a desenvolver
ações específicas de enfermagem e de controle de risco;
 Formar um modelo de organização do trabalho em que o
enfermeiro esteja no centro de uma rede de decisões, onde haja
participação (palavra chave quando se propõe a uma mudança
nos modelos de gestão) efetiva de todos – trabalhadores e
usuários.
 Colocar a decisão o mais perto possível do local da ação,
atribuindo a decisão sobre os meios aos responsáveis pelos fins e
desta forma descentralizando a decisão, a autonomia e também a
execução.
 Administrar políticas, através de enfoque estratégico, visão global,
perspectivas
em
longo
prazo,
consenso,
convencimento,
compromisso, ética e transparência.
Assim, a função gerencial na enfermagem consiste na gerência da
unidade através da previsão, provisão, manutenção, controle de recursos
materiais e humanos para o funcionamento do serviço e na gerência do
cuidado através do diagnóstico, planejamento, execução e avaliação da
assistência, delegação das atividades, supervisão e orientação da equipe.
Alves (1998) coloca que “tornar disponíveis os recursos necessários,
preparar a equipe para oferecer uma assistência de qualidade, realizar
auditorias com a finalidade de alimentar as ações educativas e a revisão dos
processos, controlando a qualidade do cuidado oferecido ao cliente, é uma
forma bastante atual de gerenciar o cuidado de enfermagem”. Os enfermeiros
devem compreender que administrar é cuidar e quando planejam, organizam,
avaliam e coordenam, eles também estão cuidando.
Qualidade na UTI
Qualidade é a conseqüência de uma ação gerencial integrada, sistêmica
e coerente que cria condições para que a ação assistencial se dê em toda a
instituição de saúde e não apenas em algumas de suas unidades.
A preocupação com a qualidade na prestação de serviços de saúde
surgiu em 1855 durante a Guerra da Criméia, quando a enfermeira Florence
Nightingale desenvolveu métodos de coletas de dados, estatísticos e gráficos,
que objetivavam a melhora da qualidade do atendimento.
No entanto, a avaliação da qualidade em saúde só se iniciou no século
XX, quando foi formado o Colégio Americano de Cirurgiões, que estabeleceu o
Programa
de
Padronização
Hospitalar,
condições
necessárias
aos
procedimentos médicos e seus respectivos processos de trabalho, não levando
em consideração outras necessidades e/ou serviços, como o dimensionamento
da equipe de enfermagem, a necessidade da assistência durante as 24 horas
do dia, a avaliação dos resultados obtidos junto ao paciente e elementos da
infra-estrutura física.
Posteriormente iniciou-se o desenvolvimento de indicadores, padrões e
critérios com a finalidade de ajudar as organizações a melhorarem a qualidade
dos cuidados através da eficácia, eficiência, efetividade, adequação da
assistência e do tempo de atendimento às necessidades do paciente,
planejamento organizacional, continuidade da assistência, respeito aos valores
individuais e sociais, segurança dos pacientes, familiares e profissionais da
organização.
A Organização Nacional de Acreditação (2008) tem por objetivo geral
promover a implementação de um processo permanente de avaliação e de
certificação
da
qualidade
dos
serviços
de
saúde,
possibilitando
o
aprimoramento contínuo da atenção, de forma a garantir a qualidade na
assistência aos cidadãos brasileiros, em todas as organizações prestadoras de
serviços de saúde do Brasil. Atualmente, a avaliação é fundamentada no
estado de saúde do paciente, observando-se a qualidade da assistência
prestada, a satisfação do paciente, a qualidade técnico-científica dos
profissionais, o tipo de atendimento, o acesso e a organização dos serviços.
Não se avalia um serviço ou um departamento isoladamente, já que as
estruturas, os serviços e os processos em uma instituição de saúde são
interligados. O propósito desse enfoque é reforçar o fato de que as estruturas e
os processos do hospital são tão interligados que o funcionamento de um
componente interfere em todo o conjunto e no resultado final.
A Gestão pela Qualidade Total deve dar ênfase à participação e ao
envolvimento de todos os integrantes da organização, buscando a lucratividade
social, política e econômica e a satisfação dos clientes internos e externos, seu
maior objetivo é atingir e exceder as expectativas do cliente, fazendo a coisa
certa, de maneira certa, desde a primeira vez e melhor na seguinte. Esse novo
modelo de gestão propicia o desenvolvimento e organização do trabalho de
forma científica e com qualidade, aperfeiçoando-se os serviços, diminuindo os
custos e garantindo a manutenção e a melhora dos produtos ou serviços
prestados.
Para se falar de qualidade, é preciso que as ações realizadas sejam
medidas e que seus resultados sejam analisados através de indicadores.
Indicadores são medidas quantitativas que podem ser usadas como guia para
monitorização e avaliação da qualidade assistencial e das atividades de um
serviço. Os indicadores devem ser capazes de atender aos objetivos de
melhorar a assistência ao paciente, fortalecer a confiança do paciente, atender
às exigências de órgãos financiadores, diminuir custos e estimular o
envolvimento dos profissionais. Dificilmente um indicador, visto de maneira
estanque, é capaz de retratar a realidade; o mais provável é que um grupo de
indicadores possa espelhar uma determinada situação.
Os indicadores que medem os resultados dos processos avaliam a
relação entre a qualidade da assistência prestada e os resultados obtidos, e
podem ser classificados como: assistenciais e administrativos. Ambos têm
grande importância na meta global da empresa, pois os primeiros medem a
eficácia e a eficiência das ações diretamente ligadas ao cuidado; enquanto que
os últimos medem as condições para que esse cuidado seja efetuado.
O processo de validar indicadores leva o enfermeiro a encontrar
respostas para as questões gerenciais, assistenciais, econômicas e legais,
mostrando a ele os resultados do atendimento prestado e possibilitando a
implementação de ações de melhorias, com base em padrões de qualidade.
Assim, a prática de enfermagem deixa o empirismo de lado, trabalha
fundamentado em evidências científicas e passar a atuar com foco nos
resultados e na melhora dos indicadores de saúde.
Programas de qualidade devem ser capazes de levar à identificação de
problemas, revisão de procedimentos e implantação de novos protocolos no
intuito de fornecer uma assistência de qualidade. Assim, a monitorização das
atividades, seu seguimento, avaliação e intervenções devem ser realizadas
num ciclo incessante e contínuo de investigação e mudança.
A adequação da infra-estrutura dos serviços e a articulação entre eles,
assim como a provisão de materiais, equipamentos e recursos humanos
especializados, compõem a complexa rede que envolve o sistema de
atendimento e de cuja engrenagem depende a segurança do paciente, ou seja,
a falta de conhecimento e habilidades dos profissionais e falhas na organização
do atendimento, assim como a provisão insuficiente de materiais e
equipamentos necessários para a realização do cuidado, comprometem a
qualidade da assistência à saúde dos pacientes que necessitam desse serviço.
Para a implantação de um sistema de gestão de qualidade, a instituição
deve possuir normas, rotinas, procedimentos, metodologias e processos
fundamentados na melhor evidência científica possível com o objetivo de
satisfazer o principal cliente, o paciente. Dessa forma, as organizações de
saúde que buscam a qualidade mostram a seriedade de seu trabalho e
defendem sua legitimidade social.
Para os profissionais inseridos no cotidiano do ambiente hospitalar, a
qualidade da assistência não é um fenômeno novo, é sim a essência do cuidar.
Nos serviços de saúde, a busca pela qualidade constitui uma preocupação
incessante dos profissionais que neles atuam devido as constantes mudanças
nos padrões de assistência e em decorrência dos avanços no conhecimento
técnico-científico impulsionado pelas novas tecnologias. Assim, prestar
assistência à saúde com o máximo de qualidade e o mínimo risco para o
paciente e equipe, tudo isso sob um baixo custo é o maior desafio das últimas
décadas. A vida humana está em jogo.
Enfermagem
Sua essência e especificidade é o cuidado ao ser humano, através de
atividades de promoção, recuperação e reabilitação da saúde, além de ser
capaz de auxiliar na prevenção de doenças.
A enfermagem vem acumulando no decorrer de sua história,
conhecimento empírico, teórico e científico. Com a afirmação da Enfermagem
como ciência, as modificações da clientela, da organização, do avanço
tecnológico e dos próprios profissionais de enfermagem, a prática da profissão
deixa de ser mecânica, massificada e descontínua e passa a utilizar métodos
de trabalho que favorecem a individualização e a continuidade da assistência.
A enfermagem deve reconhecer que toda pessoa tem direito à adequada
assistência e que o atendimento de ao ser humano deve ser considerado em
sua totalidade (pacientes, ambiente terapêutico e agentes de enfermagem).
Neste contexto, o enfermeiro torna-se responsável por coordenar as atividades
assistenciais e gerencias, organizando o ambiente e liderando pessoas nele
inseridas. A evolução diária das ciências da saúde exige constante atualização
e, muitas vezes, especialização.
Esse profissional atua em diversos campos de ação, exerce atividades
de assistência, administração, ensino, pesquisa e integração em todos os
níveis, primário, secundário. Requer agilidade e decisões assertivas, criativas,
inovadoras, agregando valor econômico à empresa e social, ao indivíduo,
competindo a esse profissional dirigir, coordenar, planejar, prescrever, delegar,
supervisionar e avaliar as ações de enfermagem de acordo com a necessidade
e dependência do paciente.
O enfermeiro precisa conhecer o ambiente em que o cuidado está
inserido, identificando suas fragilidades e potencialidades, com o objetivo de
melhor organizá-lo e ainda possibilitar que a equipe de enfermagem
sistematize suas atividades e atue mais efetivamente no cuidado ao paciente.
 Enfermeiro Intensivista
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é um cenário desafiador para
todos os profissionais, uma vez que contém equipamentos cada vez mais
sofisticados e abrange muitos procedimentos invasivos e complexos, exigindo
atualização contínua desses profissionais, com incorporação de novos
conhecimentos e tecnologias. Esses profissionais vivenciam, na maior parte do
tempo, situações emergenciais que requerem a aquisição de competências,
visando á manutenção da vida, recuperação e diminuição do sofrimento dos
pacientes em situação crítica.
O grande diferencial no mercado competitivo são as pessoas visto que a
tecnologia pode ser copiada. Desta forma o preparo adequado do profissional
constitui um importante instrumento para o sucesso e a qualidade do cuidado
prestado na UTI. No processo de trabalho, o enfermeiro desenvolve ações de
cuidado, de gerenciamento, de pesquisa e de educação, que possuem
objetivos específicos de acordo com cada processo, visando, de uma maneira
geral, o bem estar do paciente e conseqüentemente garantindo o sucesso da
terapia. Por isso a capacitação tem se mostrado cada vez mais necessária e
emergente para o enfermeiro intensivista, na qual a necessidade do
conhecimento de impõe, sobretudo pelo avanço progressivo e rápido dos
novos conhecimentos, bem como pelo aparato tecnológico que mantém “viva”
a Terapia Intensiva.
A UTI tem em sua essência o cuidar de forma intensiva, e o cuidar está
imbuído na formação do enfermeiro. Mesmo na UTI, esse o cuidado não pode
prescindir do aspecto humanístico, visto que essa característica que torna a
enfermagem uma grande colaboradora para o sucesso no tratamento do
paciente crítico. A rotina diária e complexa que envolve o ambiente da Unidade
de Terapia Intensiva (UTI) faz com que os membros da equipe de enfermagem,
na maioria das vezes, esqueçam de tocar, conversar e ouvir o ser humano que
esta a sua frente.
Apesar do grande esforço em humanizar o cuidado em UTI, esta é uma
tarefa difícil, pois demanda atitudes às vezes individuais contra todo um
sistema tecnológico dominante. A própria dinâmica de uma Unidade de Terapia
Intensiva dificulta momentos de reflexão para a equipe e por isso o enfermeiro
deve lançar mão de estratégias que viabilizem a humanização em detrimento a
visão mecânica e biologicista que impera nos centros de alta tecnologia.
O enfermeiro da UTI precisa pensar criticamente analisando os
problemas e encontrando soluções para os mesmos, assegurando sempre sua
prática dentro dos princípios éticos da profissão. Compete ainda, sistematizar e
decidir sobre o uso apropriado de recursos humanos, físico, materiais e de
informação no cuidado ao paciente de terapia intensiva, visando o trabalho em
equipe, a eficácia e custo-efetividade, além de estar capacitado a exercer
atividades de maior complexidade, para as quais é necessária a autoconfiança,
respaldada no conhecimento científico, para que possa conduzir o atendimento
do paciente com segurança.
O enfermeiro da UTI deve ter um preparo especial, fundamentação
teórica aliada a capacidade de discernimento, tomada de decisão, trabalho em
equipe, iniciativa, liderança e responsabilidade, além de autoconfiança e
trabalho metódico e sistemático. Cuidar de pacientes em UTI demanda
conhecimentos muito específicos e diferenciados. Todos os pacientes são
graves e muitos deles inconscientes, confusos ou incapazes de ser
comunicarem. Os enfermeiros trazem sobre si a responsabilidade da vigilância
contínua dos pacientes e dos equipamentos em uso e da interpretação de
alterações de sinais e sintomas clínicos, devendo adotar medidas iniciais de
emergência.
Para Hudak e Gallo (1997), o papel do enfermeiro nessa unidade
consiste em obter a história do paciente, fazer exame físico e executar
tratamento. No cuidado, a liderança deve estar aliada à fundamentação teórica,
trabalho, discernimento, iniciativa, habilidade de ensino, maturidade e
estabilidade emocional. Compete ainda à tomada de decisões rápidas e
concretas, transmissão de segurança e conhecimento a toda equipe e
diminuição dos riscos que ameaçam a vida do paciente. Além disso, todas
essas características devem estar relacionadas com os valores, a missão e a
visão da organização a fim de atingir as metas estabelecidas. Frente a todos
esses apontamentos, é possível dizer que o profissional, para atuar em uma
área tão específica, deve ter um perfil peculiar, tanto do ponto de vista pessoal
quanto profissional. Logo, não é qualquer pessoa que se adapta à Terapia
Intensiva.
Política Nacional de Humanização
O movimento da humanização se confunde com o próprio processo de
criação do Sistema Único de Saúde (SUS) cujo objetivo é prevenir, cuidar,
proteger, tratar, recuperar e promover a saúde, muito mais do que dar acesso
ao tratamento médico a todos que precisarem.
Humanização é o conjunto de iniciativas que visa à produção de
cuidados em saúde capazes de conciliar e utilizar a melhor tecnologia
disponível com a promoção de acolhimento, respeito ético e cultural ao
paciente, levando em consideração a satisfação dos profissionais de saúde e
usuários.
Humanizar consiste em assumir uma posição de respeito ao outro, ter
capacidade de reconhecer limites no cuidado, valorizar o significado atribuído
pelo ser humano à experiência de adoecimento e sofrimento. É o fortalecimento
da articulação técnico-científico com o cuidado, um modelo centrado na troca de
informações e saberes, diálogo, escuta de expectativas/demandas e a partilha
de decisões entre profissionais, gestores e usuários.
A humanização tornou-se um tema tão relevante nos últimos anos que, o
Ministério da Saúde implantou, no ano 2000, o Programa Nacional de
Humanização da Assistência Hospitalar e, posteriormente, a Política Nacional
de Humanização, buscando estratégias que possibilitem a melhoria do contato
humano entre os trabalhadores dos serviços de saúde e usuários.
O
programa
propõe
uma
gestão
com
três
esferas:
usuários,
trabalhadores e gestores. Esses atores, unidos e colaborativos, estão
diretamente envolvidos no planejamento e na evolução, participam ativamente
das decisões, fazem a diferença na produção de saúde e tornam o ser humano
o ator principal.
No Brasil ainda é pequena a discussão de políticas de intervenção
considerando os aspectos de humanização, assim como ainda não está no rol
das prioridades da maioria dos gestores. A dimensão subjetiva da qualidade da
atenção, como o conforto, o acolhimento e a satisfação dos usuários é algo que
parece ainda um discurso apenas ideal, muito distante do real.
As definições anteriormente citadas não devem ser vistas enquanto um
simples modismo na assistência a saúde, mas como uma questão que vai além
dos componentes técnicos, instrumentais, político ou filosóficos.
Ninguém questiona a importância da existência da tecnologia porque ela
em si mesma não é benéfica nem maléfica, tudo depende do uso que fazemos
dela. Mesmo diante de recursos tecnológicos cada vez mais avançados, a
máquina jamais substituirá o ser humano. Relacionado a esse aspecto,
atualmente existe uma preocupação no gerenciamento em enfermagem para
que a assistência à saúde não se torne desumanizada e despersonalizada com
o crescente desenvolvimento e a incorporação tecnológica no cuidado.
A Unidade de Terapia Intensiva é um local que concentra pacientes
graves e recuperáveis, com alto risco de instabilidade de um ou mais sistemas
fisiológicos e assistidos continuamente por profissionais que se empenham
para dar um cuidado de qualidade. Mesmo assim, o profissional dessa área é
visto pelos familiares apenas como tecnólogo imediatista, de atuação
desumana e distante, em busca de um bom prognóstico do paciente.
Apesar do grande esforço dos enfermeiros em tornar mais humanizado o
cuidado em UTI, esta é uma tarefa difícil, leva tempo, demanda atitudes
individuais contra todo um sistema tecnológico dominante, não pode ser
limitado e/ou pré-definido e suas metas são cumpridas a curto, médio e longo
prazo. A própria dinâmica desse setor dificulta a orientação da equipe, no
entanto, compete a este profissional lançar mão de estratégias que viabilizem a
humanização do cuidar.
Para o enfermeiro e a equipe de enfermagem possam prestar uma
assistência humanizada é necessário que eles tenham dignidade, respeito,
remuneração justa, seu trabalho reconhecido, valorizado e fudamentalmente
que não falte humanização para com os profissionais. É preciso equiparar a
importância da humanização e do conhecimento técnico-científico, superar os
padrões rotineiros e burocráticos, modelos convencionais de gestão;
corporativismo
das
diferentes
categorias
profissionais
em
prol
da
interdependência e complementaridade nas ações em saúde; além disso,
lembrar que a humanização é um processo coletivo possível de ser alcançado
e consolidado por todos.
A enfermagem deverá ter como propósito resgatar o espaço do
acolhimento e da escuta atenta e interessada das necessidades e expectativas
das pessoas, será um estímulo à transformação das práticas em saúde, onde a
clínica não é ignorada e sim associada ao conhecimento do mundo daqueles
que procuram diariamente em serviços de saúde.
O profissional humanizado, independente da classe de trabalho, deve
saber ouvir, dar atenção, ter humor, se envolver e principalmente compartilhar,
deve
também
apresentar
cortesia,
compaixão,
respeito,
dignidade
e
sinceridade ao atender cada paciente. É necessário que nos coloquemos na
situação do “outro”, fragilizado e dependente que possamos prestar uma
assistência mais “humana”. Além de uma assistência de qualidade, tecnologia
de ponta, medicamentos avançados, é necessário perceber o paciente como
um cliente.
 UTI Aberta
Enfermagem atual se depara com dois novos desafios. O primeiro é
acompanhar o avanço tecnológico crescente e o segundo é entrar na vivência
do outro, transformando o fazer técnico em enfermagem, em uma arte
humanizada.
Para a sociedade, a UTI significa sofrimento, morte, tecnologia e falta de
humanismo. O vertiginoso avanço tecnológico e científico, que facilitou o
processo terapêutico aumentou o distanciamento entre profissional e paciente,
a supervalorização da tecnologia em detrimento da humanização do cuidado.
A gravidade dos pacientes internados nessas unidades exige um grande
aporte tecnológico, representado pelos equipamentos e pelos saberes super
especializados das equipes de saúde que ali trabalham. Há uma percepção,
mais atual, de que os pacientes também possuem necessidades de pessoas
para ampará-los em um momento de extrema fragilidade, incerteza da vida e
pela total dependência do cuidado do outro.
A humanização tornou-se um tema tão relevante nos últimos anos que,
foi criada a Política Nacional de Humanização, através de uma iniciativa do
Ministério da Saúde em buscar estratégias que possibilitassem a melhoria do
contato humano entre o profissional de saúde e o usuário, dos profissionais
entre si e do hospital com a comunidade.
Em geral, observa-se que o foco da assistência de enfermagem é o
atendimento às necessidades do paciente. No entanto, o paciente não é o
único a sofrer com a doença e com a hospitalização, os familiares e outras
pessoas envolvidas diretamente com o paciente compartilham a angústia, o
medo e o sofrimento desse momento. Sendo assim, é importante que o
profissional de saúde dispense atenção aos familiares, com objetivo de facilitar
o enfrentamento dessa nova experiência (MARUITI &GALDEANO, 2007).
O cuidado humanizado deve ser multidisciplinar, de forma que nos faça
relacionar com o paciente e seus familiares. A interação entre a equipe de
enfermagem, o paciente e a família é fundamental para o cuidado efetivo e de
qualidade.
Os familiares notam que o aparato tecnológico é capaz de lhes dar maior
segurança e tranqüilidade quanto ao cuidado prestado, mas também é
responsável pelo isolamento e pela solidão a que os pacientes são submetidos.
Deixar a UTI cada vez mais humanizada e desmistificá-la como sendo um local
frio e isolado, é um dos objetivos principais UTI Aberta. Essa modalidade
permite ainda um atendimento eficaz, de alta complexidade e recuperação
mais rápida do paciente devido ao apoio e carinho oferecido pelo familiar.
Apenas o discurso da humanização não pode sustentar uma proposta de
UTI aberta. Sabe-se que a carga de trabalho nas UTI(s) é grande e que a
presença de acompanhantes pode exigir muito mais dos funcionários. Se a
administração da UTI não calcular o impacto dos familiares no cuidado, é
possível que os funcionários se sobrecarreguem e a assistência seja
prejudicada. Além disso, é necessário preparar/sensibilizar os funcionários para
trabalhar sob observação direta dos familiares/acompanhantes; oferecer à
família condições adequadas na estrutura física, psicológica, emocional e
proporcionar apoio profissional ao familiar/acompanhante durante o período da
internação.
 Captação de Órgãos
Todo candidato a um transplante entra na lista única de espera,
independentemente do hospital em que esteja internado, com exceção dos que
precisam de um rim, porque nestes casos a avaliação da compatibilidade não
leva em conta apenas o tipo sangüíneo. Neste caso (rins) é preciso a
realização de exames complementares como o HLA que vai ver a semelhança
genética entre o receptor e o doador.
O sucesso dos transplantes depende da alta qualificação da equipe
médica e de um serviço de enfermagem qualificado, que conheça sobre
imunossupressão, necessária para evitar a rejeição ao novo órgão. Uma
equipe multidisciplinar, composta por médicos, nutricionistas, fisioterapeutas,
psicólogos, entre outros profissionais, assegura o bem estar do paciente no
pós-operatório.
Os transplantes só ganharam respaldo em 1997, com a criação da Lei
dos Transplantes (Lei nº 9.434, de 04 de fevereiro de 1997) e do Decreto nº
2.268, de 30 de junho de 1997, a primeira dispõe sobre a remoção de órgãos,
tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante, enquanto que a
segunda tentou minimizar as distorções e até mesmo injustiças na destinação
dos órgãos. Através deste mesmo decreto, foi criado no âmbito do Ministério da
Saúde o Sistema Nacional de Transplantes – SNT para desenvolver o
processo de captação e distribuição de tecidos, órgãos e partes retiradas do
corpo humano para finalidades terapêuticas e transplantes.
O Brasil figura hoje, graças à criação do Sistema Nacional de
Transplantes, como um dos países com maior número de transplantes
realizados. O país possui, em quantidade e investimento, o maior programa
público de transplantes de órgãos e tecidos do mundo.
Segundo o SNT uma pessoa com morte cerebral pode salvar a vida de
outras dez com a doação de órgãos – incluindo pele, ossos e tendões, esse
número cresce ainda mais. Mesmo depois que o coração pára, existe
possibilidade de doação: as córneas podem ser retiradas até seis horas após o
óbito, e a pele, num prazo de doze horas.
Os cuidados com os transplantes começam com o doador. Somente
uma equipe com alto nível de treinamento e qualificação pode realizar o
procedimento do início ao fim. Logística, médicos e enfermagem atuam contra
o tempo no preparo do paciente até a manutenção do transplantado.
Todo candidato a um transplante entra na lista única de espera, com
exceção dos que precisam de um rim, porque nestes casos a avaliação da
compatibilidade leva em conta o tipo sangüíneo, estatura física e substâncias
antigênicas. Os dados são organizados em um programa de computador e a
ordem cronológica é usada como principal critério de desempate.
Perspectivas de Futuro
A UTI é um local onde concentramos alta tecnologia e recursos
humanos, mas por outro lado também é um local de alto risco para eventos
adversos. Por isso, o trabalho deve ser integrado e focado em educar e treinar
a nossa equipe para detectar e prevenir os possíveis eventos adversos
evitáveis.
No século XXI, o grande desafio para o enfermeiro intensivista é
fornecer cuidado seguro e de qualidade aos pacientes. Esse profissional
precisa ter a visão ampliada de gestão da UTI, analisar os indicadores de
qualidade do seu setor, propor melhorias na qualidade e segurança do
paciente. Além disso, deve liderar a sua equipe para manutenção de um grupo
unido, motivado e voltado ao cuidado do paciente e de sua família; interagir
com os demais membros da equipe multiprofissional procurando as melhores
práticas baseadas em evidências para os problemas de saúde dos pacientes e
incentivar educação permanente do grupo.
O gerenciamento visa à qualidade da assistência através da otimização
dos recursos, seja ele humano ou material.
Considerações Finais
Este estudo buscou analisar um apanhado geral de informações
pertinentes a importância do enfermeiro intensivista no gerenciamento da
Unidade de Terapia Intensiva, sua atuação, preocupação e preparo
profissional. Ficou evidente a dupla dimensão no trabalho do enfermeiro nas
ações assistenciais e administrativas, recurso utilizado para que o usuário do
serviço receba um cuidado de qualidade como produto final.
A necessidade de aumentar a segurança do paciente nas unidades
hospitalares, através de processos assistenciais mais eficientes, torna evidente
a importância dos sistemas de gestão, a fim de oferecer as informações
fundamentais ao enfermeiro para a tomada de decisão e o aperfeiçoamento da
assistência prestada nas Unidades de Terapia Intensiva.
Definir os parâmetros a serem sistematicamente avaliados não é uma
tarefa simples, sobretudo nos serviços de saúde. Porém, o enfermeiro, como
profissional central na assistência ao paciente, deve assumir seu papel e
estabelecer medidas de desempenho que auxiliem no direcionamento dos
procedimentos de enfermagem e colaborem com a melhora das práticas de
saúde. Essas transformações far-se-ão concretamente quanto tivermos líderes,
profissionais capazes de desenvolver suas potencialidades com autonomia, de
motivar o potencial humano para criatividade e envolvimento nas ações.
Acredita-se na mudança do enfermeiro ao executar seu trabalho, que ele
seja um profissional crítico, que além de ter competência técnica, biológica e
individual, busque compreender e assistir aos homens, mulheres e crianças em
suas
dimensões
sociais,
econômicas,
culturais,
familiares,
afetivas,
verdadeiramente humanas, que saiba articular o assistencial e o gerencial com
intuito de desenvolver um serviço que atenda às necessidades de saúde,
contribua com o fortalecimento da cidadania e democracia. Temos consciência
de que estas propostas de mudanças não são simples, tão pouco fáceis de
serem conseguidas, mas acreditamos que são um primeiro passo para
modificar a atual realidade.
A base para a formação acadêmica traz conseqüências para a ação
profissional e se prende ao mundo ideológico, filosófico e teórico. E mesmo
buscando o aprimoramento da qualidade da assistência prestada ao cliente,
mediante novas teorias de Enfermagem, implementação da sistematização da
assistência de Enfermagem baseada em diagnósticos, ficam lacunas no ato de
“administrar” essas mudanças, de supervisionar as ações desenvolvidas,
inclusive de motivar a equipe a internalizá-las desenvolvendo a nossa função
principal – o cuidado.
Salientamos que a temática da atuação do enfermeiro não se encerra
neste estudo, o mesmo tem a função de simplesmente abrir espaço a novas
buscas para a compreensão do processo de trabalho da enfermagem no
gerenciamento.
Valorizar a equipe e a autonomia das profissões, interligar unidades,
estabelecer protocolos, buscar a autonomia do paciente nas decisões,
transformar o ambiente e principalmente dar acesso ao leito de UTI à
população dependente do sistema público e é um desafio que toda classe
intensivista deve objetivar (FERRARI, 2009).
O maior obstáculo para um bom gerenciamento é administrar não só
conflitos como interesses. Esse profissional deve agir com flexibilidade, saber
manter a filosofia e ideologia do serviço, promover a qualidade buscando a
satisfação de pacientes, familiares e equipe de saúde. É preciso manter-se
vigilante nas tomadas de decisões para que as mesmas sejam dentro dos
preceitos éticos, administrativos e morais.
REFERÊNCIAS
Brasil. Conselho Federal de Enfermagem. Estabelece parâmetros para
dimensionamento do quadro de profissionais de enfermagem nas instituições
de saúde: Resolução nº 189. São Paulo (SP); 1996. Documentos básicos de
enfermagem: enfermeiros, técnicos e auxiliares. 1997. p. 177-80
Chiavenato I. Recursos humanos. São Paulo (SP): Atlas; 1997
BRASIL. Ministério da Saúde. Programa Nacional de Humanização da
Assistência Hospitalar (PNHAH). Brasília, DF, 2001 apud KLOCK, Patrícia et al.
Reflexões sobre a política nacional de humanização e suas interfaces no
trabalho da enfermagem em instituição hospitalar. Revista Ciência, Cuidado e
Saúde. Maringá. v. 5, n. 3, p. 398-406, set./dez. 2006.
LAKATOS, E.M.; MARCONI, M. A. Fundamentos de metodologia científica. 6°
ed. São Paulo: Atlas, 2005. p. 185.
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