SOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA - SOBRATI MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM TERAPIA INTENSIVA MESTRANDA ENFERMEIRA KARIN BASTOS GEORGO O ENFERMEIRO INTENSIVISTA NO GERENCIAMENTO DA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA Orientador: Dr. Douglas Ferrari Brasília, 15 de Maio de 2011 O enfermeiro intensivista no gerenciamento da Unidade de Terapia Intensiva Enfermeira. Especialista em Enfermagem em Terapia Intensiva e Docência do Ensino Superior. Enfermeira Assistencial da Unidade de Terapia Intensiva Adulto do Hospital das Forças Armadas de Brasília-DF e Enfermeira Responsável pelo Programa de Saúde da Mulher do Centro de Saúde de Taguatinga da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal. E-mail: [email protected] Resumo O interesse pelo estudo surgiu com a vivência da autora na prática profissional em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), públicas e privadas, observando a existência de inúmeros profissionais enfermeiros com bom desempenho na assistência direta ao paciente e, com frágeis atuações na administração de enfermagem, ou seja, nota-se uma grande dificuldade de articulação entre as dimensões gerencial e assistencial da profissão, interferindo assim na qualidade da assistência prestada. O enfermeiro que atua na administração tende a valorizar esta ação como uma ação que subsidia a viabilização do cuidado, por outro lado, quem está no cuidado tende a menosprezar a atividade do gerenciamento, atribuindo-lhe apenas o cunho burocrático. Desta forma coloco como problema de pesquisa: Qual é a importância do enfermeiro no gerenciamento da Unidade de Terapia Intensiva? Empregou-se o estudo exploratório bibliográfico, através de bibliografia impressa ou virtual, com apreciação sistematizada qualitativa elaborada e intrínseca ao tema em bases de dados virtuais em saúde e sites de procura como – LILACS, MEDLINE, SCIELO, BDENF e Bireme. Após a seleção do material, iniciou-se a leitura analítica das obras selecionadas e a organização das idéias por ordem de importância e relevância para alcançar os objetivos almejados inicialmente. Palavras chaves: Enfermeiro, Unidade de Terapia Intensiva, Gerenciamento Abstract The interest in the subject of the present study resulted from the author’s experience with professional practice in private and public Intensive Care Units (ICU’s), where one can recognize professional nurses showing good performance when dealing directly with patients, but with otherwise fragile execution regarding nursing administration, thus leading to great difficulty in the attempt to articulate the managing and assisting dimensions and interfering directly with the quality of assistance. When working with management, nurses tend to value their acting as the one which supports the viability of care; the ones dealing with care, on the other hand, tend to underrate managing, accrediting only its bureaucratic significance. Having said that, we establish the study query: What is the importance of the nurse in the management of the Intensive Care Unit? We worked with exploratory bibliographic study, researching print or virtual sources, with elaborate systematic qualitative analysis regarding the subject using research on health virtual database and search engine websites such as – LILACS, MEDLINE, SCIELO, BDENF and Bireme. After selecting the material, we performed an analytical reading of selected sources, which allowed the organization of ideas according to importance and theme relevance, in order to reach our primary goals. Keywords: Nurse, Intensive Care Unit, Management. Introdução: O interesse pelo estudo surgiu da necessidade percebida pela autora em reforçar aos enfermeiros que o trabalho do profissional de enfermagem vem sofrendo grandes mudanças nas últimas décadas, com grande necessidade de articulação da prática assistencial e gerencial do trabalho e foram essas modificações do perfil do enfermeiro que suscitou a diversas inquietações e questionamentos sobre a sua importância dentro da unidade de terapia intensiva. Durante muitos anos, o tipo de organização dos serviços de saúde, associado a modelos de gestão tradicionais, baseou-se em contradições geradas por uma estrutura rígida, excessivamente especializada, com funções rotineiras e pouco desafiadoras. Entretanto, o avanço tecnológico e as mudanças, tanto no processo produtivo quanto nas relações sociais, geraram um campo minado entre as organizações e instituições sociais existentes, e para que as mesmas continuassem competitivas, elas necessitaram de maior planejamento e controle de suas ações. Muitas organizações ainda adotam o modelo tradicional de gestão e permanecem usufruindo a sua glória do passado, enquanto o mundo avança na velocidade da luz fora de seus muros. Na busca de se manter a competitividade ou de alcançá-la, algumas organizações estão refletindo sobre as suas estratégias e a posição no mercado que atuam. Se no século XIX havia ênfase na gestão das tarefas, a gestão atual está orientada para a performance e competitividade das organizações. A busca pela qualidade nos diversos níveis de atenção dos serviços de saúde deixou de ser uma atitude isolada e tornou-se um imperativo técnico. A sociedade está exigindo cada vez mais a qualidade dos serviços a ela prestados, através de um preparo profissional apurado e, conseqüentemente, o melhor desenvolvimento técnico que busca a satisfação do paciente mediante atenção sistemática, planejada, avaliada e gerenciada pelo enfermeiro. Dentre os diversos campos de trabalho desse profissional, o de maior destaque é a unidade hospitalar, que é um estabelecimento de saúde que garante um atendimento básico de diagnóstico e tratamento, com equipe clínica organizada e com atendimento terapêutico direto ao paciente, durante 24 horas. Esse local apresenta serviços de laboratório, radiologia, cirurgia e internação e tem como objetivos: oferecer assistência médica continuada e integrada, concentrar grande capacidade de recursos de diagnósticos e tratamento para, no menor tempo possível reintegrar o paciente ao seu meio, constituir um nível intermediário dentro de uma rede de serviços de complexidade crescente, promover a saúde e prevenir doenças. A UTI assume atualmente um grande valor dentro a área hospitalar, porque recebe pacientes graves ou de risco, potencialmente recuperáveis, que apresentam instabilidade de algum de seus sistemas orgânicos, devido a alterações agudas ou agudizadas, alterações essas que necessitam de uma assistência permanente da equipe multiprofissional além de um local com equipamentos específicos destinados ao diagnóstico e tratamento. O enfermeiro, ao assumir um trabalho, independente da sua formação acadêmica, se depara indiscutivelmente com situações diversas que lhe exigem conhecimentos, habilidades, atitudes coerentes, precisas e imparciais para uma tomada de decisões que venha ao encontro de seus valores pessoais e éticos e que, ao mesmo tempo, atenda aos objetivos e metas da organização. Atualmente, além de voltar sua atenção para a assistência e cuidados com o paciente – o trabalho de enfermagem propriamente dito – o enfermeiro deve ainda direcionar esforços para o gerenciamento do seu ambiente de trabalho. Para atender às novas demandas sociais, legais e científicas, desenvolvendo grandes melhorias com base no conhecimento e na competência gerencial. Hoje, mais do que nunca, a gestão tem sido a força impulsionadora e vital para essa demanda, e para que isso ocorra, ela precisa ser avaliada e fortalecida continuamente. Desta forma coloco como problema de pesquisa: Qual é a importância do enfermeiro intensivista no gerenciamento da Unidade de Terapia Intensiva? Objetivo: Discorrer sobre a atuação e contribuições do enfermeiro intensivista no gerenciamento da Unidade de Terapia Intensiva e definir como isso pode interferir diretamente na qualidade do cuidado prestado. Metodologia Empregou-se o estudo analítico e exploratório, de natureza bibliográfica, impressa ou virtual, com abordagem do tipo qualitativa, possibilitando um olhar descritivo sobre o fenômeno estudado e apreciação intrínseca ao tema em foco, através de pesquisas em bases de dados da Biblioteca Virtual de Saúde: Bireme, LILACS, MEDLINE, SCIELO, BDENF; livros e periódicos. Após a seleção do material, iniciou-se a leitura analítica, das obras selecionadas, o que possibilitou a organizando as idéias por ordem de importância e relevância ao tema para alcançar os objetivos almejados inicialmente e a elaboração do presente estudo. A pesquisa bibliográfica abrange toda bibliografia pública relacionada ao tema de estudo, desde publicações, boletins, jornais, monografias, livros, teses, revistas, material cartográfico, além de meios de comunicação orais e áudios visuais. A finalidade desse tipo de pesquisa é permitir ao pesquisador explorar novas áreas, onde o problema não foi discutido suficientemente, assim sendo os resultados das pesquisas assumem um caráter muito mais amplo e significativo. É importante salientar que a pesquisa bibliográfica não é apenas a repetição do que foi dito ou escrito sobre um determinado assunto, mas o exame do tema com outra abordagem e/ou direcionamento, tornado-se um excelente meio de formação científica tanto quando realizada independentemente quanto como parte de investigação empírica (LAKATOS; MARCONI, 2005). Enquanto isso, a metodologia qualitativa preocupa-se em analisar e interpretar aspectos mais profundos, descrevendo a complexidade do comportamento humano. Fornecem análises mais detalhada sobre as investigações, hábitos, atitudes e tendências de comportamento (LAKATOS; MARCONI, 2009). Discussão Nos dias de hoje, as organizações, incluindo as de saúde, vivem uma grande crise econômica, demandando uma gestão eficiente, que saiba administrar a escassez de recursos e desenvolver os programas sociasi, aumentando a articulação dos diferentes grupos. É nesse contexto que devemos situar as novas perspectivas da enfermagem, das políticas de saúde e do trabalho gerencial. O Sistema Único de Saúde (SUS), devido suas fortes implicações sóciopolíticas, econômicas e culturais, compõe um cenário no qual a gerência no trabalho do enfermeiro é uma característica essencial para o enfrentamento dos desafios existentes. Estão surgindo novas abordagens que preconizam: a descentralização das decisões e aproximação de todos os elementos da equipe de trabalho, nesse modelo todos têm oportunidade de participar efetivamente da discussão e realizar o aperfeiçoamento do processo de trabalho. A fim de que isso ocorra, torna-se fundamental a busca de novas competências para organizar e qualificar a assistência prestada em suas diversas dimensões, abrangências e especificidade. A inserção do Enfermeiro nesse contexto de mudanças, acompanhando a evolução do mundo globalizado, faz-se necessária, para a busca do progresso de seu conhecimento por meio da implantação da política do saber e fazer crítico, tornando-o um profissional capaz de resolver desafios do cotidiano, ele deixa de ser apenas assistencial para ser capaz de gerenciar o cuidado prestado. Nessa perspectiva, a enfermagem passa por uma redefinição de suas funções, assegurando seu papel e seu compromisso com a sociedade que, nesse momento, aspira por maior qualidade na prestação da assistência à sua saúde (SIMÔES & FÁVERO, 2000). Profissionais de saúde melhor qualificados serão capazes de prestar assistência de melhor qualidade buscando a resolutividade das necessidades de saúde, gestores mais bem qualificados poderão, por meio de uma visão sistêmica e abrangente, analisar melhor os cenários e planejar as ações locais, ou regionais de forma mais adequada. Assim, ao considerar que o cuidado é a marca e o núcleo do processo do trabalho de enfermagem, entende-se que a cisão entre a dimensão assistencial e gerencial compromete a qualidade do cuidado e gera conflitos no trabalho do enfermeiro, seja do profissional com a sua própria prática, seja na sua relação com a equipe de enfermagem ou com a equipe de saúde. Resumindo, gerenciar as Unidades de Terapia Intensiva é prestar cuidado ao paciente, administrar a assistência e a equipe de saúde. Unidade de Terapia Intensiva Segundo a RDC nº 7, de 24 de fevereiro de 2010, umas das legislações mais atuais sobre o assunto, define-se como Unidade de Terapia Intensiva (UTI) a área crítica destinada à internação de pacientes graves, que requerem atenção profissional especializada de forma contínua, materiais específicos e tecnologias necessárias ao diagnóstico, monitorização e terapia. Essa unidade concentra recursos materiais e humanos treinados, capacitados e diferenciados para o atendimento de pacientes com risco iminente de morte e possibilidade de recuperação. O cuidado tem foco individualizado relacionado às necessidades humanas básicas afetadas e valoriza a família como fator importante para a promoção, reabilitação e manutenção da saúde física, mental e afetiva do paciente. Histórico A preocupação com o paciente considerado grave iniciou-se com Florence Nightingale, durante a guerra da Criméia no século XIX, com diversos avanços na assistência ao paciente: técnicas de monitorização 24 horas, separação de feridos conforme índice de gravidade, registros sobre as condições dos pacientes, assistência planejada e contínua aos feridos graves com maior vigilância e melhor atendimento, organização do ambiente, prática da assistência de enfermagem de forma protocolada e científica. Primeiro houve a separação dos doentes entre mais graves e menos graves, depois se percebeu a necessidade de maiores cuidados ao paciente durante o período pós-operatório imediato, fato que fez com que surgissem as unidades especiais de terapia para que o cirurgião ou o anestesista acompanhassem o paciente, posteriormente, foi atribuída a enfermeiros e à equipe de enfermagem a responsabilidade direta pela observação e tratamento clínico dos pacientes de risco. O surgimento da prática em UTI marcou um dos maiores progressos obtidos pelos hospitais de nosso século, visto que, antes dessa modificação, o cuidado ao doente grave realizava-se nas próprias enfermarias, faltando, assim, área física adequada, recursos materiais e recursos humanos para melhor qualidade do cuidado prestado. As unidades de terapia intensiva continuaram evoluindo, iniciou-se a assistência a pacientes de neurocirurgia na década de 20, assistência intensiva pós-operatória na década de 30 e as salas de recuperação cirúrgica na década de 40. Nos anos 50, com a epidemia de poliomielite, houve grande sobrecarga nos hospitais e a necessidade de criação de centros regionais para o atendimento dos pacientes, com uso de tecnologia e de modernas técnicas de ventilação mecânica. Aos poucos foram surgindo unidades especiais para pacientes cirúrgicos, neurológicos, vítimas de queimaduras, portadores de crises respiratórias, renais, metabólicas agudas e outras. Posteriormente iniciou-se a terapia intensiva especializada nas áreas de obstetrícia, pediatria e neonatologia. A implantação das UTI’s no Brasil ocorreu na década de 70 e atualmente essa é uma unidade presente dentro do contexto hospitalar. Paciente Crítico - Definição Paciente grave ou de risco, potencialmente recuperáveis, que necessita de vigilância contínua e cuidados de excelência dirigidos tanto para os problemas fisiopatológicos, quanto para as questões psicossociais, ambientais e familiares. Na definição universal, 'paciente grave' é aquele que apresenta instabilidade de algum de seus sistemas orgânicos, devido a alterações agudas. Gerenciamento Nos dias de hoje, a renovação nos modelos de gestão é uma necessidade latente e por isso, a discussão dos modelos de Gestão dos Sistemas e Serviços de Saúde tem ganhado grande espaço, força e importância, busca-se alternativas organizacionais que contribuam para um Sistema de Saúde que seja comprometido com a defesa da vida, individual ou coletiva. Constata-se que o modelo tradicional de gerência, apesar de possuir um organograma detalhado, com ênfase na divisão do trabalho, planejar as funções, descrever cargos, apresentar manuais de tarefas e procedimentos; influi pouco na produtividade e é limitado, apenas gera estruturas fixas, permanentes e rígidas. Formas assistemáticas de gerenciar geralmente negligenciam problemas para os quais não são oferecidas soluções adequadas tanto para bem atender os clientes quanto para satisfazer a própria organização e os trabalhadores em suas necessidades. Para isso é necessário buscar um perfil ou estilo gerencial adequado e sistemático. O objetivo da administração é interpretar os objetivos propostos pela organização e transformá-los em ação através do planejamento, organização, direção e controle. Porém, para alguns autores, o gerenciamento não é um processo apenas científico e racional, mas também um processo de interação humana, com dimensão psicológica, emocional e intuitiva, buscando a satisfação das necessidades de saúde da população e a ampliação da autonomia dos sujeitos envolvidos nos processos de cuidado – usuários e trabalhadores. Nos últimos anos, o termo – administração – tem sido substituído por gerência devido a alguns fatores, tais como: desgaste, falhas na prática administrativa, associação a sentimentos de descrença, insatisfação, inutilidade e pessimismo. Essa mudança não modificou a necessidade de condução, tomada de decisão, liderança e supervisão e assim foram surgindo e sendo utilizados outros termos como gerência e gestão. O termo gestão surgiu e vem sendo utilizado como qualificativo de formas participativas como co-gestão e autogestão, sugere a idéia de decidir e dirigir. Atualmente os modelos administrativos tradicionais não respondem às exigências impostas por um mercado extremamente competitivo e susceptível às mudanças decorrentes do aumento da complexidade das sociedades e das organizações. Assim, a transformação nos paradigmas gerenciais passa a ser considerada necessária à sobrevivência das organizações, uma vez que os processos produtivos e as idéias se modificam em ritmo acelerado (BRITO, 2003). As organizações precisam ser capazes de responder em tempo real a imprevisibilidade. Os novos modelos de gerência, de acordo com Campos (1998) sugerem modificações na estrutura da organização, extinguindo a departamentalização e criando unidades de produção conforme a lógica de cada processo de trabalho. Assim, todos os profissionais envolvidos com um determinado produto constituirão uma unidade de produção, ou seja, as equipes serão multiprofissionais, rompe a dicotomia estabelecida onde cada profissional faz sua parte e possibilita uma visão integral da assistência. Os modelos contemporâneos permitem a flexibilização nos processos de produção, propiciam uma análise e um diagnóstico do ambiente, dando aos gerentes condições para antecipar o futuro e reduzir riscos e incertezas na tomada de decisão. Esse tipo de gestão valoriza a descentralização administrativa, a comunicação informal, a flexibilidade nos processos de produção, assim como estimula à iniciativa e criatividade dos indivíduos e grupos. Deseja-se do gestor contemporâneo, capacidade para assimilar, as necessidades, complexidades e diversidades atuais, que ele recupere os aspectos positivos do passado, gerencie o conhecimento e o desconhecido, o objetivo e o subjetivo, o fácil e o difícil, com as pessoas e não para e sobre elas. É preciso ter flexibilidade, ser líder, saber resolver os problemas sem gerar ansiedade e desconfortos, saber motivar as pessoas sem criar expectativas inatingíveis. É preciso ter habilidades de relacionamento e possuir uma das artes mais difíceis, que é saber ouvir (MARX E MORITA, 2000). Ser gerente é dirigir, coordenar, organizar, planejar, é controlar pessoas ou grupos para o alcance de objetivos e metas comuns, é ter capacidade e saber utilizar de maneira eficaz seus recursos humanos e materiais disponíveis, de forma organizada e dinâmica, mantendo a motivação e a moral elevada de sua equipe, alcançando a melhoria organizacional, ou seja, gerenciar é a arte de pensar, de decidir e de agir, é a arte de fazer acontecer, de obter resultados (previstos, analisados e avaliados). Planejamento Em um mundo cada vez mais complexo e competitivo, com pressão de todos os lados para que haja um bom desempenho no trabalho, as decisões tomadas podem ser a chave do sucesso ou do fracasso profissional. Por isso mesmo, não se pode simplesmente arriscar decisões pelo processo de acerto ou erro. Planejamento, item que precede todas as outras funções administrativas, é a arte de fazer escolhas e elaborar planos que favoreçam o processo de mudança, requer flexibilidade, energia e fornece ao administrado um meio de controlar e estimular o melhor uso dos recursos. O planejamento da assistência é um processo contínuo, que visa possibilita uma postura ativa dos gestores de uma organização, envolve raciocínio, reflexão e análise sobre a maneira de realizar determinadas tarefas. Segundo Kurcgant (2005), o planejamento é iniciado quando se determinam os objetivos que se quer atingir, quando se definem estratégias e políticas de ação e se detalham planos para conseguir atingir a meta. Dimensionamento de Pessoal Na prática tradicional de gerenciamento, ainda adotadas na maioria dos hospitais, os pacientes são considerados como se demandassem indistintamente a mesma qualidade de cuidados, não se leva em conta que cada paciente se comporta subjetivamente de maneira diferente, ou seja, exige da enfermagem, uma assistência diferenciada em termos qualitativos e quantitativos. A insuficiência numérica e qualitativa dos recursos humanos para o serviço de enfermagem tem sido questão preocupante para os enfermeiros que ocupam cargos de gerência, uma vez que a inadequação desses recursos, para atendimento das necessidades de assistência de enfermagem aos pacientes, compromete grandemente a qualidade do cuidado e implica em questões legais e de saúde do trabalhador. Introduzir uma metodologia de dimensionamento constitui-se um instrumento gerencial valioso para a alocação de recursos humanos, qualidade da assistência, monitoramento da produtividade e processo orçamentário. A operacionalização desse processo requer a mensuração de diversas variáveis: adoção de um Sistema de Classificação de Pacientes, levantamento do tempo de assistência de enfermagem em relação com a missão da instituição, estrutura organizacional, planta física, complexidade dos serviços, política de recursos humanos, materiais e financeiros, amparo legal e padrão de assistência pretendido, tendo como referência a Resolução COFEN nº 189/96, para as horas de assistência e a realidade encontrada. Conflitos Gerenciais e Negociação O gerenciamento de conflitos é considerado tão ou mais importante que planejamento, comunicação, motivação ou tomada de decisão. Para Marx e Morita (2000), cabe ao gerente identificar o tipo de conflito, seus estágios e, como líder, usar estratégias que possam administrar esses conflitos de âmbito organizacional. A análise de problemas é composta por um conjunto de processos que ajudam os profissionais a tomar decisões de qualidade, de modo participativo, ouvindo todos os envolvidos na situação e escolhendo ações que obtenham o máximo sucesso na resolução do problema, com menor custo e com o mínimo de desvantagens ou riscos para todos os envolvidos. O planejamento do processo decisório é passo importante para o planejamento de conflitos e para possíveis negociações entre os atores envolvidos em uma dada situação (KURKGANT, 2005). Os conflitos têm origens individuais ou grupais, se dão pela disputa dos trabalhadores por reconhecimento, pela quantidade limitada de recursos oferecidos pela instituição, pela diferenças de personalidade, metas e percepção dos profissionais envolvidos. Podem ser resultantes de competição, discordâncias, diferenças de idéias e crenças a equipe aumentam de acordo com a complexidade das organizações. Contudo, há uma visão mais moderna de conflito que vê como ponto positivo o fato de desenvolver/melhorar a capacidade de negociação. Educação Permanente em Saúde O serviço de enfermagem deve ter um setor ou serviço que agrupe, organize e coordene as atividades educacionais, articulando e sistematizando os setores da enfermagem no desenvolvimento do pessoal de enfermagem. Atualmente, as instituições prezam não só por conhecimento e capacitação, mas por profissionais flexíveis para incorporarem estratégias capazes de atender o usuário. O gerente/líder tem a responsabilidade de manter um corpo de funcionários competentes através de treinamento e educação, o primeiro é imediato e pontual enquanto que o segundo desenvolve o indivíduo de maneira mais ampla, possuindo maior alcance. A busca pela qualidade no atendimento ao paciente está no conhecimento e na educação continuada da equipe de enfermagem, e para isso é indiscutível a necessidade de uma gerência inovadora. Liderança A liderança é a habilidade de influenciar pessoas para trabalharem entusiasticamente visando atingir aos objetivos identificados como sendo para o bem comum (HUNTER, 2004). Se alguém deseja distinguir liderança de gestão ou administração, pode-se argumentar que a liderança cria e muda culturas, enquanto a gestão e a administração agem na cultura (Shein, 2009). Os líderes não necessariamente tem autoridade formal, dão ênfase às relações interpessoais; dirigem seguidores dispostos a colaborar e têm objetivos que podem ou não refletir aqueles da organização. Em contrapartida, o gerente é investido de autoridade formal na estrutura da organização e deve ser capaz de promover o desenvolvimento de outras pessoas. O ideal seria que tais papéis complementares pudessem sem encontrados na mesma pessoa. Os líderes de enfermagem sabem que as instituições hospitalares necessitam trabalhar com profissionais diferenciados, dinâmicos, inteligentes e criativos, capazes de gerenciar a assistência e a equipe de forma a obter os melhores resultados a um custo compatível. A liderança do enfermeiro influi fortemente no ambiente de trabalho, o bom relacionamento aumenta a confiança, a compreensão e o respeito entre as partes, evita conflitos e auxilia no gerenciamento eficaz. Informatização Os enfermeiros são responsáveis por atividades assistenciais e administrativas cada vez mais bem definidas pelos órgãos oficiais (COREN – Conselhos Regionais de Enfermagem; e COFEN – Conselho Federal de Enfermagem) e pelas instituições que vêm dando muita importância ao registro e à documentação das atividades desenvolvidas. Marin (2005) afirma que a utilização da informática em saúde pode ser considerada um poderoso instrumento norteador do processo assistencial e gerencial. A informática na enfermagem é a área do conhecimento que diz respeito ao acesso, uso de dados, informação e conhecimento utilizados para padronizar a documentação, melhorar a comunicação, apoiar o processo de tomada de decisão, desenvolver e disseminar novos conhecimentos. Promove a enfermagem como ciência, aumenta a qualidade, a efetividade e a eficiência do cuidado em saúde, além disso, fornece maior poder de escolha aos pacientes. Estudos mostram que o enfermeiro despende mais de metade do tempo que passa nas instituições coletando, administrando e documentando informações, direcionando seu tempo para a realização das tarefas administrativas e deixando de lado a atividade assistencial de qualidade O uso de sistemas informatizados facilita o diagnóstico, a tomada de decisão e a pesquisa, poupa tempo e melhora a assistência prestada mesmo tendo em contrapartida a criação de constantes desafios de aprendizagem. O uso do computador tem sido apontado como uma “ferramenta” importante na otimização do tempo dos profissionais de enfermagem e isso, indiretamente, favoreceu a implantação das etapas do processo de enfermagem na prática profissional. O desenvolvimento da informatização contribuiu para ajudar os enfermeiros no cuidado integrado. Mesmo utilizando da informatização, o enfermeiro deve cuidar de maneira individualizada, buscando as melhores evidencias clínicas disponíveis, realizando exames completos, descrevendo diagnósticos e preparando planos de cuidados para cada paciente, caso contrário, estará indo na contramão do conceito central que regem a ciência da enfermagem. O foco da assistência de enfermagem deve ser a saúde das pessoas, não o tratamento das doenças. A medicina e a enfermagem, apesar de estarem ligadas ao objetivo de recuperação e promoção da saúde, apresentam métodos e focos diferentes quanto ao cuidado prestado. Os sistemas informatizados de documentação nos serviços permitirão ampliar a comunicação intra- e inter-hospitalar, promoverão melhor integração ensino-serviço, bem como tomada de decisão mais rápida quanto ao cuidado a ser prestado causando impacto na gestão, na qualidade da assistência e na satisfação dos pacientes. Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) Para atuar em conformidade com a lei do exercício profissional da enfermagem (1986), o enfermeiro deve implantar a SAE na instituição em que atua. Durante a sistematização das ações de enfermagem, todas as etapas do Processo de Enfermagem (PE) devem ser implementadas. Realizar anamnese e exame físico diários, identificar os diagnósticos de enfermagem, planejar a assistência, prescrever os cuidados e avaliar os resultados obtidos com as ações realizadas. Esse processo confere maior segurança aos pacientes, melhora a qualidade da assistência e dá maior autonomia aos profissionais de enfermagem. Convém ressaltar, no entanto, que, para implantar o processo, conforme preconizado, o enfermeiro deve ir ao encontro do paciente. Examiná-lo fazendo uso de um raciocínio clínico respaldado em conhecimentos científicos, para poder apontar diagnósticos e prescrever cuidados centrados nas necessidades detectadas nesses pacientes, caso contrário, o PE não garante a melhora da qualidade da assistência prestada à população. Assim, constatamos que a SAE está diretamente ligada ao planejamento gerencial, direciona a caracterização de recursos humanos e materiais, facilita a avaliação da assistência de prestada, oferece subsídios aos indicadores de custo e rendimento, além de indicar áreas que requeiram aprimoramento. O novo cenário econômico da globalização e as atuais políticas públicas de saúde têm gerado a necessidade de uma reorganização da assistência prestada aos pacientes, pautada na obtenção e análise de indicadores de saúde que permitam a troca de informações, a avaliação e o acompanhamento da qualidade dos serviços prestados a população (TANNURE, 2008). O crescente aumento e velocidade das trocas de informações, a evolução tecnológica, as constantes demandas das instituições de saúde para maximizar recursos, diminuir custos e aumentar a qualidade da assistência têm exigido da enfermagem o aprimoramento de suas atividades e isso abre espaço para a implementação da SAE como necessidade básica do cuidado e não como item adicional Deste modo, a SAE contribui para a melhora na qualidade da assistência de enfermagem, caracteriza o corpo de conhecimentos da profissão, traz implicações positivas tanto para o paciente quanto para a equipe de enfermagem e favorece um maior contato entre enfermeiros e pacientes, promovendo a criação de vínculos e melhora do atendimento. No entanto, existe na prática assistencial a necessidade de se capacitar os enfermeiros acerca das teorias de enfermagem, do PE, de semiologia, de fisiologia, de patologia, além das habilidades necessárias para gerenciarem as unidades efetivamente. Dessa forma, os enfermeiros poderão assistir diretamente o paciente/a família/a comunidade e obter indicadores de saúde a partir dos registros realizados nos prontuários pela equipe de enfermagem, com os quais poderão ainda avaliar a qualidade da assistência prestada e mensurar o quanto esses profissionais contribuíram para a melhora do quadro dos pacientes sob seus cuidados. As tentativas de organizar o conhecimento na enfermagem datam da década de 1950, no entanto, foi a partir dos estudos de Horta (1979) no final da década de 1060 que a atenção dos enfermeiros brasileiros começou a ser direcionada para esse assunto, buscando tornar autônoma a profissão e caracterizá-la como ciência. A SAE confere maior segurança aos pacientes, uma vez que, para ser implementada, requer que o enfermeiro realize julgamento clínico. É uma atividade predominantemente intelectual, exige o desenvolvimento de habilidades cognitivas (inteligência, raciocínio lógico, pensamento crítico), técnicas interpessoais (comunicação, interação), ética (crenças, julgamentos) e capacidade de tomada de decisão. Tem como suporte as evidências científicas e são obtidos a partir da avaliação de dados subjetivos e objetivos do indivíduo, família e comunidade. Dois fatos importantes marcaram o incremento da SAE nas instituições de saúde e a consolidação de sua implementação: a Lei do Exercício Profissional de Enfermagem de 1986, que estabeleceu a prescrição dos cuidados de enfermagem como atribuição privativa e a Resolução 272 (2002) do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), que determina que o processo de enfermagem é incumbência privativa do enfermeiro,em sua implantação, planejamento, organização, execução e avaliação. Essa legislação tornou obrigatória a utilização da SAE nas instituições de saúde e na assistência domiciliar. O processo de enfermagem prevê uma assistência pautada na avaliação do paciente por meio do raciocínio clínico, fornece dados para que os diagnósticos de enfermagem sejam identificados. Os diagnósticos direcionam a definição de metas a serem alcançadas. Em conjunto, os diagnósticos e as metas são as bases para a seleção de intervenções apropriadas à situação específica do paciente. Uma vez realizadas as intervenções, o alcance das metas deve ser avaliado. A partir dessa avaliação retorna-se às fases precedentes caso as metas não tenham sido alcançadas ou novos diagnósticos tenham sido identificados. O processo de enfermagem provê um guia para um estilo de pensamento, mas, por si só, não é capaz de garantir boa qualidade de cuidados de enfermagem, as conseqüências de cada interação de enfermagem com o paciente e os fatores contextuais nos ambientes de cuidados qualificam o cuidado de enfermagem. Em síntese, o processo de enfermagem e as classificações de enfermagem são apenas instrumentos. Aprender a usá-los em benefício do cuidado de alta qualidade requer atitudes e disposição de um eterno aprendiz e desejo de ser continuamente transformado pelas experiências do cuidar. Não se pode esquecer que o paciente procura o enfermeiro para ser reconhecido como uma pessoa, e não apenas como um exemplo de um tipo de doença ou problema. o Enfermeiro na Gestão O enfermeiro, inserido na complexidade organizativa das instituições hospitalares, se depara com um grande contingente de atividades administrativas e assistenciais a serem desenvolvidas. A enfermagem nasce várias vezes, de modos diferentes, subsistindo através de transformações da sociedade, correspondendo às necessidades que estas transformações requerem, assimilando mudanças que não a tornaram somente um ato de cuidar moral, mas a transformaram numa atividade gerencial. Historicamente, na saúde e na enfermagem, os processos de cuidar e de administrar quase não se tocam correndo de forma paralela nas instituições hospitalares, o que pode ser modificado com a promoção de uma aliança entre os dois eixos que permitirá constituir o cuidar gerenciando e o gerenciar cuidando, interpretado como uma construção para a enfermagem brasileira e um novo paradigma (FERRAZ, 2000). A enfermagem vem, ao longo dos anos, buscando meios mais eficazes de adequar modelos administrativos ao seu cotidiano, assegurando o encadeamento do trabalho assistencial, de modo a não afastar do seu principal foco de atenção, o cuidado com o paciente. Esses profissionais discutem e estudam a administração como uma das dimensões do cuidar, como uma ferramenta que se bem utilizada pode contribuir para a organização de uma assistência de qualidade. A finalidade da enfermagem é o cuidar e este se operacionaliza por diferentes processos de trabalho: o de assistência à saúde; o de gerenciamento dessa assistência, o de ensino e o de investigação clínica (gerando o saber indispensável à produção). A gerência de enfermagem, uma das dimensões do cuidar, pode ser conceituada como sendo um instrumento capaz de política e tecnicamente, organizar o processo de trabalho com o objetivo de torná-lo mais qualificado e produtivo na oferta de uma assistência de enfermagem universal, igualitária e integral, seguindo os preceitos do Sistema Único de Saúde. O que deixa evidente que esses profissionais não se satisfazem mais apenas com as ações de vigiar as atividades rotinizadas dos profissionais de nível médio e elementar ou em estar auxiliando outros profissionais de saúde. É preciso buscar um perfil estrategista, buscando uma abordagem coordenada, promovendo a prática da colaboração, estimular uma parceria com a equipe multiprofissional, que é indispensável para futuras negociações entre as partes (MARX E MORITA, 2000). Segundo a autora, o gerente de enfermagem tem de ter segurança nas tomadas de decisões, ser um pensador estratégico para poder antecipar mudanças rápidas na assistência ao paciente ou em assuntos concernentes à administração do serviço. Para isso, muitas vezes, necessitará de habilidades de negociação e afirmação. Deverá ser experiente em comunicação, quer verbal, escrita ou corporal, pois a chave do sucesso está numa boa comunicação. Sendo assim, não há mais como negar a importância da função gerencial como elemento integrante do trabalho do enfermeiro. O gerenciamento em Enfermagem, seja em instituições hospitalares, seja no âmbito da saúde coletiva, constitui-se de atividade complexa e polêmica visto que, cada vez mais, exige dos profissionais competências (cognitivas, técnicas e atitudinais) na implementação de estratégias adequadas às atuais tendências administrativas contemporâneas que convergem para os anseios da organização e de seus gestores. A legitimidade da ação de gerenciamento é conferida privativamente ao enfermeiro, que, de acordo com o que determina a Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986, no 11º artigo sobre a regulamentação do exercício da Enfermagem no Brasil, são atividades privativas ao enfermeiro: o planejamento, a organização, a coordenação, a execução e a avaliação dos serviços de assistência de Enfermagem. Apesar de ser o gerenciamento uma atividade conferida por lei, observamos a necessidade de um esforço conjunto da unidade formadora e dos serviços, para rever as práticas e as intervenções necessárias no âmbito gerencial, através da interação entre teoria e prática, relacionando o cotidiano do gerenciamento às experiências, às dificuldades enfrentadas, às inovações isoladas e ao conhecimento produzido na universidade. O gerenciamento dos serviços de enfermagem atualmente encontrados tanto na prática hospitalar quanto na ambulatorial, encontra-se distante do esperado. O que se observa é apenas a reprodução dos modelos tradicionais, em que as estruturas hierárquicas de controle, submissão, obediência às normas e padrões são reproduzidas. O trabalho do enfermeiro se resume em desempenhar atividades rotineiras. Esse profissional se limita a “apagar incêndios”, utilizando-se para isso somente da sua experiência e feeling profissional, como conseqüência, a assistência ao paciente fica em segundo plano. A avalanche de atividades que são delegadas ao enfermeiro, predominantemente burocráticas, o distanciamento da assistência, do planejamento do cuidado e da supervisão e da orientação da equipe numa perspectiva de acompanhamento e de educação continuada traz como conseqüência a falta de reconhecimento do seu trabalho por parte da clientela e da própria equipe de saúde. A atuação dos gerentes das unidades se limita a atender às exigências da cúpula administrativa e a assistência é delegada aos demais membros da equipe, uma verdadeira dicotomia entre o que se espera e o que se verifica na prática. O enfermeiro gerente tem a ilusão de autonomia profissional, mas na verdade, suas ações estão submetidas ao administrador das instituições de saúde cujos objetivos são controle de pessoal, cumprimento de normas e a redução de custos, ficando em segundo plano a administração com a finalidade de assistir melhor o cliente. É necessária uma mudança mais profunda de valores, de cultura, de processos, para realmente conquistarmos a efetiva transformação de modelos gerenciais e, conseqüentemente, uma assistência à saúde mais humanística, globaliza e de qualidade. É preciso abandonar posturas cômodas, submissão, cumpridores de ordens e não se contentar apenas em “assumir o controle” de pessoas e materiais numa visão doméstica. Além disso,é indispensável construir espaços para uma gestão compartilhada que atenda as expectativas humanas em relação ao cuidado com o paciente, integre os membros da equipe de enfermagem a fim de que possam encontrar estratégias que minimizem as dificuldades do cotidiano através de posturas éticas, educação permanente e estudos em geral. Dessa forma, a auto-estima, a motivação e a reintegração dos membros da equipe multiprofissional serão resgatadas. O que se observa na prática são enfermeiros lançados a genciar serviços e unidade de saúde, sem noções básicas sobre as competências técnicas necessárias para desempenhar as funções cabíveis ao seu novo cargo. Acarretando conseqüências desastrosas para o bom desempenho da sua equipe. Muitos profissionais competentes tecnicamente se perdem ao gerenciar serviços por não conseguir atingir o equilíbrio entre a tomada de decisões e a implementação das ações. O mercado profissional espera do enfermeiro que ele esteja preparado para garantir a unidade e organização do trabalho coletivo, que seja capaz de planejar e desenvolver novos processos, métodos e instrumentos, além de trabalhar conflitos, enfrentar problemas, negociar, dialogar, argumentar, propor e alcançar mudanças, com estratégias que aproximem da equipe e do cliente contribuindo para a qualidade do cuidado, ou seja, espera-se do enfermeiro uma capacidade para gerenciar, que ele esteja voltado para o processo assistencial e nunca perder de vista a qualidade da assistência. Novas tendências e possibilidades de gerência em enfermagem: Experimentar e buscar o novo; Investir nos recursos humanos e no trabalho em equipe é o caminho certo para o aumento da produtividade com qualidade e a satisfação dos trabalhadores; Desenvolver relações interpessoais; Repensar a assistência de enfermagem de forma a desenvolver ações específicas de enfermagem e de controle de risco; Formar um modelo de organização do trabalho em que o enfermeiro esteja no centro de uma rede de decisões, onde haja participação (palavra chave quando se propõe a uma mudança nos modelos de gestão) efetiva de todos – trabalhadores e usuários. Colocar a decisão o mais perto possível do local da ação, atribuindo a decisão sobre os meios aos responsáveis pelos fins e desta forma descentralizando a decisão, a autonomia e também a execução. Administrar políticas, através de enfoque estratégico, visão global, perspectivas em longo prazo, consenso, convencimento, compromisso, ética e transparência. Assim, a função gerencial na enfermagem consiste na gerência da unidade através da previsão, provisão, manutenção, controle de recursos materiais e humanos para o funcionamento do serviço e na gerência do cuidado através do diagnóstico, planejamento, execução e avaliação da assistência, delegação das atividades, supervisão e orientação da equipe. Alves (1998) coloca que “tornar disponíveis os recursos necessários, preparar a equipe para oferecer uma assistência de qualidade, realizar auditorias com a finalidade de alimentar as ações educativas e a revisão dos processos, controlando a qualidade do cuidado oferecido ao cliente, é uma forma bastante atual de gerenciar o cuidado de enfermagem”. Os enfermeiros devem compreender que administrar é cuidar e quando planejam, organizam, avaliam e coordenam, eles também estão cuidando. Qualidade na UTI Qualidade é a conseqüência de uma ação gerencial integrada, sistêmica e coerente que cria condições para que a ação assistencial se dê em toda a instituição de saúde e não apenas em algumas de suas unidades. A preocupação com a qualidade na prestação de serviços de saúde surgiu em 1855 durante a Guerra da Criméia, quando a enfermeira Florence Nightingale desenvolveu métodos de coletas de dados, estatísticos e gráficos, que objetivavam a melhora da qualidade do atendimento. No entanto, a avaliação da qualidade em saúde só se iniciou no século XX, quando foi formado o Colégio Americano de Cirurgiões, que estabeleceu o Programa de Padronização Hospitalar, condições necessárias aos procedimentos médicos e seus respectivos processos de trabalho, não levando em consideração outras necessidades e/ou serviços, como o dimensionamento da equipe de enfermagem, a necessidade da assistência durante as 24 horas do dia, a avaliação dos resultados obtidos junto ao paciente e elementos da infra-estrutura física. Posteriormente iniciou-se o desenvolvimento de indicadores, padrões e critérios com a finalidade de ajudar as organizações a melhorarem a qualidade dos cuidados através da eficácia, eficiência, efetividade, adequação da assistência e do tempo de atendimento às necessidades do paciente, planejamento organizacional, continuidade da assistência, respeito aos valores individuais e sociais, segurança dos pacientes, familiares e profissionais da organização. A Organização Nacional de Acreditação (2008) tem por objetivo geral promover a implementação de um processo permanente de avaliação e de certificação da qualidade dos serviços de saúde, possibilitando o aprimoramento contínuo da atenção, de forma a garantir a qualidade na assistência aos cidadãos brasileiros, em todas as organizações prestadoras de serviços de saúde do Brasil. Atualmente, a avaliação é fundamentada no estado de saúde do paciente, observando-se a qualidade da assistência prestada, a satisfação do paciente, a qualidade técnico-científica dos profissionais, o tipo de atendimento, o acesso e a organização dos serviços. Não se avalia um serviço ou um departamento isoladamente, já que as estruturas, os serviços e os processos em uma instituição de saúde são interligados. O propósito desse enfoque é reforçar o fato de que as estruturas e os processos do hospital são tão interligados que o funcionamento de um componente interfere em todo o conjunto e no resultado final. A Gestão pela Qualidade Total deve dar ênfase à participação e ao envolvimento de todos os integrantes da organização, buscando a lucratividade social, política e econômica e a satisfação dos clientes internos e externos, seu maior objetivo é atingir e exceder as expectativas do cliente, fazendo a coisa certa, de maneira certa, desde a primeira vez e melhor na seguinte. Esse novo modelo de gestão propicia o desenvolvimento e organização do trabalho de forma científica e com qualidade, aperfeiçoando-se os serviços, diminuindo os custos e garantindo a manutenção e a melhora dos produtos ou serviços prestados. Para se falar de qualidade, é preciso que as ações realizadas sejam medidas e que seus resultados sejam analisados através de indicadores. Indicadores são medidas quantitativas que podem ser usadas como guia para monitorização e avaliação da qualidade assistencial e das atividades de um serviço. Os indicadores devem ser capazes de atender aos objetivos de melhorar a assistência ao paciente, fortalecer a confiança do paciente, atender às exigências de órgãos financiadores, diminuir custos e estimular o envolvimento dos profissionais. Dificilmente um indicador, visto de maneira estanque, é capaz de retratar a realidade; o mais provável é que um grupo de indicadores possa espelhar uma determinada situação. Os indicadores que medem os resultados dos processos avaliam a relação entre a qualidade da assistência prestada e os resultados obtidos, e podem ser classificados como: assistenciais e administrativos. Ambos têm grande importância na meta global da empresa, pois os primeiros medem a eficácia e a eficiência das ações diretamente ligadas ao cuidado; enquanto que os últimos medem as condições para que esse cuidado seja efetuado. O processo de validar indicadores leva o enfermeiro a encontrar respostas para as questões gerenciais, assistenciais, econômicas e legais, mostrando a ele os resultados do atendimento prestado e possibilitando a implementação de ações de melhorias, com base em padrões de qualidade. Assim, a prática de enfermagem deixa o empirismo de lado, trabalha fundamentado em evidências científicas e passar a atuar com foco nos resultados e na melhora dos indicadores de saúde. Programas de qualidade devem ser capazes de levar à identificação de problemas, revisão de procedimentos e implantação de novos protocolos no intuito de fornecer uma assistência de qualidade. Assim, a monitorização das atividades, seu seguimento, avaliação e intervenções devem ser realizadas num ciclo incessante e contínuo de investigação e mudança. A adequação da infra-estrutura dos serviços e a articulação entre eles, assim como a provisão de materiais, equipamentos e recursos humanos especializados, compõem a complexa rede que envolve o sistema de atendimento e de cuja engrenagem depende a segurança do paciente, ou seja, a falta de conhecimento e habilidades dos profissionais e falhas na organização do atendimento, assim como a provisão insuficiente de materiais e equipamentos necessários para a realização do cuidado, comprometem a qualidade da assistência à saúde dos pacientes que necessitam desse serviço. Para a implantação de um sistema de gestão de qualidade, a instituição deve possuir normas, rotinas, procedimentos, metodologias e processos fundamentados na melhor evidência científica possível com o objetivo de satisfazer o principal cliente, o paciente. Dessa forma, as organizações de saúde que buscam a qualidade mostram a seriedade de seu trabalho e defendem sua legitimidade social. Para os profissionais inseridos no cotidiano do ambiente hospitalar, a qualidade da assistência não é um fenômeno novo, é sim a essência do cuidar. Nos serviços de saúde, a busca pela qualidade constitui uma preocupação incessante dos profissionais que neles atuam devido as constantes mudanças nos padrões de assistência e em decorrência dos avanços no conhecimento técnico-científico impulsionado pelas novas tecnologias. Assim, prestar assistência à saúde com o máximo de qualidade e o mínimo risco para o paciente e equipe, tudo isso sob um baixo custo é o maior desafio das últimas décadas. A vida humana está em jogo. Enfermagem Sua essência e especificidade é o cuidado ao ser humano, através de atividades de promoção, recuperação e reabilitação da saúde, além de ser capaz de auxiliar na prevenção de doenças. A enfermagem vem acumulando no decorrer de sua história, conhecimento empírico, teórico e científico. Com a afirmação da Enfermagem como ciência, as modificações da clientela, da organização, do avanço tecnológico e dos próprios profissionais de enfermagem, a prática da profissão deixa de ser mecânica, massificada e descontínua e passa a utilizar métodos de trabalho que favorecem a individualização e a continuidade da assistência. A enfermagem deve reconhecer que toda pessoa tem direito à adequada assistência e que o atendimento de ao ser humano deve ser considerado em sua totalidade (pacientes, ambiente terapêutico e agentes de enfermagem). Neste contexto, o enfermeiro torna-se responsável por coordenar as atividades assistenciais e gerencias, organizando o ambiente e liderando pessoas nele inseridas. A evolução diária das ciências da saúde exige constante atualização e, muitas vezes, especialização. Esse profissional atua em diversos campos de ação, exerce atividades de assistência, administração, ensino, pesquisa e integração em todos os níveis, primário, secundário. Requer agilidade e decisões assertivas, criativas, inovadoras, agregando valor econômico à empresa e social, ao indivíduo, competindo a esse profissional dirigir, coordenar, planejar, prescrever, delegar, supervisionar e avaliar as ações de enfermagem de acordo com a necessidade e dependência do paciente. O enfermeiro precisa conhecer o ambiente em que o cuidado está inserido, identificando suas fragilidades e potencialidades, com o objetivo de melhor organizá-lo e ainda possibilitar que a equipe de enfermagem sistematize suas atividades e atue mais efetivamente no cuidado ao paciente. Enfermeiro Intensivista A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é um cenário desafiador para todos os profissionais, uma vez que contém equipamentos cada vez mais sofisticados e abrange muitos procedimentos invasivos e complexos, exigindo atualização contínua desses profissionais, com incorporação de novos conhecimentos e tecnologias. Esses profissionais vivenciam, na maior parte do tempo, situações emergenciais que requerem a aquisição de competências, visando á manutenção da vida, recuperação e diminuição do sofrimento dos pacientes em situação crítica. O grande diferencial no mercado competitivo são as pessoas visto que a tecnologia pode ser copiada. Desta forma o preparo adequado do profissional constitui um importante instrumento para o sucesso e a qualidade do cuidado prestado na UTI. No processo de trabalho, o enfermeiro desenvolve ações de cuidado, de gerenciamento, de pesquisa e de educação, que possuem objetivos específicos de acordo com cada processo, visando, de uma maneira geral, o bem estar do paciente e conseqüentemente garantindo o sucesso da terapia. Por isso a capacitação tem se mostrado cada vez mais necessária e emergente para o enfermeiro intensivista, na qual a necessidade do conhecimento de impõe, sobretudo pelo avanço progressivo e rápido dos novos conhecimentos, bem como pelo aparato tecnológico que mantém “viva” a Terapia Intensiva. A UTI tem em sua essência o cuidar de forma intensiva, e o cuidar está imbuído na formação do enfermeiro. Mesmo na UTI, esse o cuidado não pode prescindir do aspecto humanístico, visto que essa característica que torna a enfermagem uma grande colaboradora para o sucesso no tratamento do paciente crítico. A rotina diária e complexa que envolve o ambiente da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) faz com que os membros da equipe de enfermagem, na maioria das vezes, esqueçam de tocar, conversar e ouvir o ser humano que esta a sua frente. Apesar do grande esforço em humanizar o cuidado em UTI, esta é uma tarefa difícil, pois demanda atitudes às vezes individuais contra todo um sistema tecnológico dominante. A própria dinâmica de uma Unidade de Terapia Intensiva dificulta momentos de reflexão para a equipe e por isso o enfermeiro deve lançar mão de estratégias que viabilizem a humanização em detrimento a visão mecânica e biologicista que impera nos centros de alta tecnologia. O enfermeiro da UTI precisa pensar criticamente analisando os problemas e encontrando soluções para os mesmos, assegurando sempre sua prática dentro dos princípios éticos da profissão. Compete ainda, sistematizar e decidir sobre o uso apropriado de recursos humanos, físico, materiais e de informação no cuidado ao paciente de terapia intensiva, visando o trabalho em equipe, a eficácia e custo-efetividade, além de estar capacitado a exercer atividades de maior complexidade, para as quais é necessária a autoconfiança, respaldada no conhecimento científico, para que possa conduzir o atendimento do paciente com segurança. O enfermeiro da UTI deve ter um preparo especial, fundamentação teórica aliada a capacidade de discernimento, tomada de decisão, trabalho em equipe, iniciativa, liderança e responsabilidade, além de autoconfiança e trabalho metódico e sistemático. Cuidar de pacientes em UTI demanda conhecimentos muito específicos e diferenciados. Todos os pacientes são graves e muitos deles inconscientes, confusos ou incapazes de ser comunicarem. Os enfermeiros trazem sobre si a responsabilidade da vigilância contínua dos pacientes e dos equipamentos em uso e da interpretação de alterações de sinais e sintomas clínicos, devendo adotar medidas iniciais de emergência. Para Hudak e Gallo (1997), o papel do enfermeiro nessa unidade consiste em obter a história do paciente, fazer exame físico e executar tratamento. No cuidado, a liderança deve estar aliada à fundamentação teórica, trabalho, discernimento, iniciativa, habilidade de ensino, maturidade e estabilidade emocional. Compete ainda à tomada de decisões rápidas e concretas, transmissão de segurança e conhecimento a toda equipe e diminuição dos riscos que ameaçam a vida do paciente. Além disso, todas essas características devem estar relacionadas com os valores, a missão e a visão da organização a fim de atingir as metas estabelecidas. Frente a todos esses apontamentos, é possível dizer que o profissional, para atuar em uma área tão específica, deve ter um perfil peculiar, tanto do ponto de vista pessoal quanto profissional. Logo, não é qualquer pessoa que se adapta à Terapia Intensiva. Política Nacional de Humanização O movimento da humanização se confunde com o próprio processo de criação do Sistema Único de Saúde (SUS) cujo objetivo é prevenir, cuidar, proteger, tratar, recuperar e promover a saúde, muito mais do que dar acesso ao tratamento médico a todos que precisarem. Humanização é o conjunto de iniciativas que visa à produção de cuidados em saúde capazes de conciliar e utilizar a melhor tecnologia disponível com a promoção de acolhimento, respeito ético e cultural ao paciente, levando em consideração a satisfação dos profissionais de saúde e usuários. Humanizar consiste em assumir uma posição de respeito ao outro, ter capacidade de reconhecer limites no cuidado, valorizar o significado atribuído pelo ser humano à experiência de adoecimento e sofrimento. É o fortalecimento da articulação técnico-científico com o cuidado, um modelo centrado na troca de informações e saberes, diálogo, escuta de expectativas/demandas e a partilha de decisões entre profissionais, gestores e usuários. A humanização tornou-se um tema tão relevante nos últimos anos que, o Ministério da Saúde implantou, no ano 2000, o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar e, posteriormente, a Política Nacional de Humanização, buscando estratégias que possibilitem a melhoria do contato humano entre os trabalhadores dos serviços de saúde e usuários. O programa propõe uma gestão com três esferas: usuários, trabalhadores e gestores. Esses atores, unidos e colaborativos, estão diretamente envolvidos no planejamento e na evolução, participam ativamente das decisões, fazem a diferença na produção de saúde e tornam o ser humano o ator principal. No Brasil ainda é pequena a discussão de políticas de intervenção considerando os aspectos de humanização, assim como ainda não está no rol das prioridades da maioria dos gestores. A dimensão subjetiva da qualidade da atenção, como o conforto, o acolhimento e a satisfação dos usuários é algo que parece ainda um discurso apenas ideal, muito distante do real. As definições anteriormente citadas não devem ser vistas enquanto um simples modismo na assistência a saúde, mas como uma questão que vai além dos componentes técnicos, instrumentais, político ou filosóficos. Ninguém questiona a importância da existência da tecnologia porque ela em si mesma não é benéfica nem maléfica, tudo depende do uso que fazemos dela. Mesmo diante de recursos tecnológicos cada vez mais avançados, a máquina jamais substituirá o ser humano. Relacionado a esse aspecto, atualmente existe uma preocupação no gerenciamento em enfermagem para que a assistência à saúde não se torne desumanizada e despersonalizada com o crescente desenvolvimento e a incorporação tecnológica no cuidado. A Unidade de Terapia Intensiva é um local que concentra pacientes graves e recuperáveis, com alto risco de instabilidade de um ou mais sistemas fisiológicos e assistidos continuamente por profissionais que se empenham para dar um cuidado de qualidade. Mesmo assim, o profissional dessa área é visto pelos familiares apenas como tecnólogo imediatista, de atuação desumana e distante, em busca de um bom prognóstico do paciente. Apesar do grande esforço dos enfermeiros em tornar mais humanizado o cuidado em UTI, esta é uma tarefa difícil, leva tempo, demanda atitudes individuais contra todo um sistema tecnológico dominante, não pode ser limitado e/ou pré-definido e suas metas são cumpridas a curto, médio e longo prazo. A própria dinâmica desse setor dificulta a orientação da equipe, no entanto, compete a este profissional lançar mão de estratégias que viabilizem a humanização do cuidar. Para o enfermeiro e a equipe de enfermagem possam prestar uma assistência humanizada é necessário que eles tenham dignidade, respeito, remuneração justa, seu trabalho reconhecido, valorizado e fudamentalmente que não falte humanização para com os profissionais. É preciso equiparar a importância da humanização e do conhecimento técnico-científico, superar os padrões rotineiros e burocráticos, modelos convencionais de gestão; corporativismo das diferentes categorias profissionais em prol da interdependência e complementaridade nas ações em saúde; além disso, lembrar que a humanização é um processo coletivo possível de ser alcançado e consolidado por todos. A enfermagem deverá ter como propósito resgatar o espaço do acolhimento e da escuta atenta e interessada das necessidades e expectativas das pessoas, será um estímulo à transformação das práticas em saúde, onde a clínica não é ignorada e sim associada ao conhecimento do mundo daqueles que procuram diariamente em serviços de saúde. O profissional humanizado, independente da classe de trabalho, deve saber ouvir, dar atenção, ter humor, se envolver e principalmente compartilhar, deve também apresentar cortesia, compaixão, respeito, dignidade e sinceridade ao atender cada paciente. É necessário que nos coloquemos na situação do “outro”, fragilizado e dependente que possamos prestar uma assistência mais “humana”. Além de uma assistência de qualidade, tecnologia de ponta, medicamentos avançados, é necessário perceber o paciente como um cliente. UTI Aberta Enfermagem atual se depara com dois novos desafios. O primeiro é acompanhar o avanço tecnológico crescente e o segundo é entrar na vivência do outro, transformando o fazer técnico em enfermagem, em uma arte humanizada. Para a sociedade, a UTI significa sofrimento, morte, tecnologia e falta de humanismo. O vertiginoso avanço tecnológico e científico, que facilitou o processo terapêutico aumentou o distanciamento entre profissional e paciente, a supervalorização da tecnologia em detrimento da humanização do cuidado. A gravidade dos pacientes internados nessas unidades exige um grande aporte tecnológico, representado pelos equipamentos e pelos saberes super especializados das equipes de saúde que ali trabalham. Há uma percepção, mais atual, de que os pacientes também possuem necessidades de pessoas para ampará-los em um momento de extrema fragilidade, incerteza da vida e pela total dependência do cuidado do outro. A humanização tornou-se um tema tão relevante nos últimos anos que, foi criada a Política Nacional de Humanização, através de uma iniciativa do Ministério da Saúde em buscar estratégias que possibilitassem a melhoria do contato humano entre o profissional de saúde e o usuário, dos profissionais entre si e do hospital com a comunidade. Em geral, observa-se que o foco da assistência de enfermagem é o atendimento às necessidades do paciente. No entanto, o paciente não é o único a sofrer com a doença e com a hospitalização, os familiares e outras pessoas envolvidas diretamente com o paciente compartilham a angústia, o medo e o sofrimento desse momento. Sendo assim, é importante que o profissional de saúde dispense atenção aos familiares, com objetivo de facilitar o enfrentamento dessa nova experiência (MARUITI &GALDEANO, 2007). O cuidado humanizado deve ser multidisciplinar, de forma que nos faça relacionar com o paciente e seus familiares. A interação entre a equipe de enfermagem, o paciente e a família é fundamental para o cuidado efetivo e de qualidade. Os familiares notam que o aparato tecnológico é capaz de lhes dar maior segurança e tranqüilidade quanto ao cuidado prestado, mas também é responsável pelo isolamento e pela solidão a que os pacientes são submetidos. Deixar a UTI cada vez mais humanizada e desmistificá-la como sendo um local frio e isolado, é um dos objetivos principais UTI Aberta. Essa modalidade permite ainda um atendimento eficaz, de alta complexidade e recuperação mais rápida do paciente devido ao apoio e carinho oferecido pelo familiar. Apenas o discurso da humanização não pode sustentar uma proposta de UTI aberta. Sabe-se que a carga de trabalho nas UTI(s) é grande e que a presença de acompanhantes pode exigir muito mais dos funcionários. Se a administração da UTI não calcular o impacto dos familiares no cuidado, é possível que os funcionários se sobrecarreguem e a assistência seja prejudicada. Além disso, é necessário preparar/sensibilizar os funcionários para trabalhar sob observação direta dos familiares/acompanhantes; oferecer à família condições adequadas na estrutura física, psicológica, emocional e proporcionar apoio profissional ao familiar/acompanhante durante o período da internação. Captação de Órgãos Todo candidato a um transplante entra na lista única de espera, independentemente do hospital em que esteja internado, com exceção dos que precisam de um rim, porque nestes casos a avaliação da compatibilidade não leva em conta apenas o tipo sangüíneo. Neste caso (rins) é preciso a realização de exames complementares como o HLA que vai ver a semelhança genética entre o receptor e o doador. O sucesso dos transplantes depende da alta qualificação da equipe médica e de um serviço de enfermagem qualificado, que conheça sobre imunossupressão, necessária para evitar a rejeição ao novo órgão. Uma equipe multidisciplinar, composta por médicos, nutricionistas, fisioterapeutas, psicólogos, entre outros profissionais, assegura o bem estar do paciente no pós-operatório. Os transplantes só ganharam respaldo em 1997, com a criação da Lei dos Transplantes (Lei nº 9.434, de 04 de fevereiro de 1997) e do Decreto nº 2.268, de 30 de junho de 1997, a primeira dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante, enquanto que a segunda tentou minimizar as distorções e até mesmo injustiças na destinação dos órgãos. Através deste mesmo decreto, foi criado no âmbito do Ministério da Saúde o Sistema Nacional de Transplantes – SNT para desenvolver o processo de captação e distribuição de tecidos, órgãos e partes retiradas do corpo humano para finalidades terapêuticas e transplantes. O Brasil figura hoje, graças à criação do Sistema Nacional de Transplantes, como um dos países com maior número de transplantes realizados. O país possui, em quantidade e investimento, o maior programa público de transplantes de órgãos e tecidos do mundo. Segundo o SNT uma pessoa com morte cerebral pode salvar a vida de outras dez com a doação de órgãos – incluindo pele, ossos e tendões, esse número cresce ainda mais. Mesmo depois que o coração pára, existe possibilidade de doação: as córneas podem ser retiradas até seis horas após o óbito, e a pele, num prazo de doze horas. Os cuidados com os transplantes começam com o doador. Somente uma equipe com alto nível de treinamento e qualificação pode realizar o procedimento do início ao fim. Logística, médicos e enfermagem atuam contra o tempo no preparo do paciente até a manutenção do transplantado. Todo candidato a um transplante entra na lista única de espera, com exceção dos que precisam de um rim, porque nestes casos a avaliação da compatibilidade leva em conta o tipo sangüíneo, estatura física e substâncias antigênicas. Os dados são organizados em um programa de computador e a ordem cronológica é usada como principal critério de desempate. Perspectivas de Futuro A UTI é um local onde concentramos alta tecnologia e recursos humanos, mas por outro lado também é um local de alto risco para eventos adversos. Por isso, o trabalho deve ser integrado e focado em educar e treinar a nossa equipe para detectar e prevenir os possíveis eventos adversos evitáveis. No século XXI, o grande desafio para o enfermeiro intensivista é fornecer cuidado seguro e de qualidade aos pacientes. Esse profissional precisa ter a visão ampliada de gestão da UTI, analisar os indicadores de qualidade do seu setor, propor melhorias na qualidade e segurança do paciente. Além disso, deve liderar a sua equipe para manutenção de um grupo unido, motivado e voltado ao cuidado do paciente e de sua família; interagir com os demais membros da equipe multiprofissional procurando as melhores práticas baseadas em evidências para os problemas de saúde dos pacientes e incentivar educação permanente do grupo. O gerenciamento visa à qualidade da assistência através da otimização dos recursos, seja ele humano ou material. Considerações Finais Este estudo buscou analisar um apanhado geral de informações pertinentes a importância do enfermeiro intensivista no gerenciamento da Unidade de Terapia Intensiva, sua atuação, preocupação e preparo profissional. Ficou evidente a dupla dimensão no trabalho do enfermeiro nas ações assistenciais e administrativas, recurso utilizado para que o usuário do serviço receba um cuidado de qualidade como produto final. A necessidade de aumentar a segurança do paciente nas unidades hospitalares, através de processos assistenciais mais eficientes, torna evidente a importância dos sistemas de gestão, a fim de oferecer as informações fundamentais ao enfermeiro para a tomada de decisão e o aperfeiçoamento da assistência prestada nas Unidades de Terapia Intensiva. Definir os parâmetros a serem sistematicamente avaliados não é uma tarefa simples, sobretudo nos serviços de saúde. Porém, o enfermeiro, como profissional central na assistência ao paciente, deve assumir seu papel e estabelecer medidas de desempenho que auxiliem no direcionamento dos procedimentos de enfermagem e colaborem com a melhora das práticas de saúde. Essas transformações far-se-ão concretamente quanto tivermos líderes, profissionais capazes de desenvolver suas potencialidades com autonomia, de motivar o potencial humano para criatividade e envolvimento nas ações. Acredita-se na mudança do enfermeiro ao executar seu trabalho, que ele seja um profissional crítico, que além de ter competência técnica, biológica e individual, busque compreender e assistir aos homens, mulheres e crianças em suas dimensões sociais, econômicas, culturais, familiares, afetivas, verdadeiramente humanas, que saiba articular o assistencial e o gerencial com intuito de desenvolver um serviço que atenda às necessidades de saúde, contribua com o fortalecimento da cidadania e democracia. Temos consciência de que estas propostas de mudanças não são simples, tão pouco fáceis de serem conseguidas, mas acreditamos que são um primeiro passo para modificar a atual realidade. A base para a formação acadêmica traz conseqüências para a ação profissional e se prende ao mundo ideológico, filosófico e teórico. E mesmo buscando o aprimoramento da qualidade da assistência prestada ao cliente, mediante novas teorias de Enfermagem, implementação da sistematização da assistência de Enfermagem baseada em diagnósticos, ficam lacunas no ato de “administrar” essas mudanças, de supervisionar as ações desenvolvidas, inclusive de motivar a equipe a internalizá-las desenvolvendo a nossa função principal – o cuidado. Salientamos que a temática da atuação do enfermeiro não se encerra neste estudo, o mesmo tem a função de simplesmente abrir espaço a novas buscas para a compreensão do processo de trabalho da enfermagem no gerenciamento. Valorizar a equipe e a autonomia das profissões, interligar unidades, estabelecer protocolos, buscar a autonomia do paciente nas decisões, transformar o ambiente e principalmente dar acesso ao leito de UTI à população dependente do sistema público e é um desafio que toda classe intensivista deve objetivar (FERRARI, 2009). O maior obstáculo para um bom gerenciamento é administrar não só conflitos como interesses. Esse profissional deve agir com flexibilidade, saber manter a filosofia e ideologia do serviço, promover a qualidade buscando a satisfação de pacientes, familiares e equipe de saúde. É preciso manter-se vigilante nas tomadas de decisões para que as mesmas sejam dentro dos preceitos éticos, administrativos e morais. REFERÊNCIAS Brasil. Conselho Federal de Enfermagem. Estabelece parâmetros para dimensionamento do quadro de profissionais de enfermagem nas instituições de saúde: Resolução nº 189. São Paulo (SP); 1996. Documentos básicos de enfermagem: enfermeiros, técnicos e auxiliares. 1997. p. 177-80 Chiavenato I. Recursos humanos. São Paulo (SP): Atlas; 1997 BRASIL. Ministério da Saúde. Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH). Brasília, DF, 2001 apud KLOCK, Patrícia et al. Reflexões sobre a política nacional de humanização e suas interfaces no trabalho da enfermagem em instituição hospitalar. Revista Ciência, Cuidado e Saúde. Maringá. v. 5, n. 3, p. 398-406, set./dez. 2006. LAKATOS, E.M.; MARCONI, M. A. Fundamentos de metodologia científica. 6° ed. São Paulo: Atlas, 2005. p. 185.