- Associação Brasileira de Horticultura

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Diversidade Fenotípica em Pimenteiras Cultivadas na
Amazônia.
Danilo Fernandes da Silva Filho1; Maslova Carmo Oliveira 2; Lúcia Helena Pinheiro
Martins2; Hiroshi Noda1 ; Francisco Manoares Machado1. INPA-CPCA, Caixa Postal 478, CEP
69.011-970, Manaus - AM; 1 Pesquisador, E-mail: [email protected]; 2 Bolsista: CNPq-INPA.
RESUMO
Este trabalho teve o objetivo de caracterizar e avaliar 20 etnovariedades de pimenteiras
cultivadas na Amazônia. O experimento foi conduzido na Horta Educativa do Pró-Menor
Dom Bosco, município de Manaus. Adotou-se o delineamento experimental em blocos
casualizados com 20 tratamentos (as etnovariedades) e 3 repetições. A unidade
experimental consistiu de 5 plantas úteis distribuídas numa área de 10 m2, num
espaçamento de 1,0 m entre as plantas e 1,0 m entre as fileiras. Foram determinadas as
espécies existentes entre as etnovariedades e observadas as características qualitativas e
quantitativas das plantas. Entre as etnovariedades foram identificadas as seguintes
espécies: quatro de Capsicum anuunn, uma de C. baccatum, doze de C. chinense e três de
C. frutescens. A emergência das plântulas variou de oito a treze dias, com maior
concentração entre nove e treze dias. O florescimento das plantas aconteceu entre 70 e 93
dias, com a maioria no início do período. A maturação dos frutos (todos apresentando sabor
pungente, variando de fraco a forte) ocorreu aos 85 dias nas etnovariedades mais precoces
e aos 107 dias nas mais tardias. As características dos frutos apresentaram grande
variabilidade em termos de forma, cor e tamanho. 60% das etnovariedades mostraram frutos
maduros de cor vermelha. Os maiores e mais pesados frutos, foram encontrados nas
espécies C. baccatum e C. annuun. A maior produção de frutos por planta (1220,3g) foi
detectada em etnovariedades da espécie C. frutescens, indicando que quanto menor for o
tamanho do fruto, maior será a quantidade de frutos produzida por uma pimenteira. A
variabilidade fenotípica encontrada para o formato, cor, tamanho, número e peso de frutos,
nas etnovariedades avaliadas, permitirá selecionar material genético promissor, em
programa de melhoramento dessas espécies.
Palavras-chaves: Capsicum, Solanaceae, fenologia, morfologia, produção.
PHENOTYPIC DIVERSITY IN HOT PEPPERS CULTIVATED IN AMAZONIA
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ABSTRACT - This study characterized and evaluated 20 ethnovarieties of hot peppers
cultivated in Amazonia. The experiment was carried out at the Educational Garden of PróMenor Dom Bosco, in Manaus, Amazonas, Brasil, using a randomized blocks experimental
design with 20 treatments (as ethnovarieties) and 3 repetitions of 5 plants each distributed in
an area of 10 m2, with 1,0 m between plants and 1,0 m between rows. The botanical species
of each ethnovariety was identified, and qualitative and quantitative characteristics of the
plants were observed. There were four ethnovarieties of Capsicum annuun, one of C.
baccatum, 12 of C. chinense and three of C. frutescens. Seedling emergence took from eight
to 13 days, with most emerging between nine and 13 days. Flowering started after 70 days
in the precocious ethnovarieties and after 93 days in the late ones, with a peak at the
beginning of the period. Fruit ripening occurred after 85 days in the more precocious
ethnovarieties and after 107 days in the late ones. The fruit presented great variability in
shape, color, size and pungency (varying from weak to strong). Sixty percent of the
ethnovarieties had red fruits when mature. The largest and heaviest fruits were found in C.
baccatum and C. annuun. The largest fruit production per plant (1220.3 g) was in an
ethnovariety of C. frutescens, suggesting that the smaller the fruit, the greater the number of
fruits produced. The phenotypic variability found for format, color, size, number and weight
of fruits will allow selection of promising genetic materials in the improvement programs for
these species.
Key-words: Capsicum, Solanaceae, phenology, morphology, yield.
Entre as hortaliças nativas da região tropical das Américas, a pimenteira é uma das plantas
domesticada pelos povos indígenas, antes da chegada dos europeus. Quando os
navegadores espanhóis e portugueses chegaram ao continente americano encontraram
várias espécies de pimenta que tiveram aceitação imediata. Em 1942, elas já estavam
sendo cultivadas na Índia (Martin et al., 1984).
De maneira geral, esta Solanaceae arbustiva vem sendo mantida em sítios de pequenos e
médios agricultores de muitas regiões do mundo. Cerca de 22 espécies selvagens são
conhecidas. Mas é possível que muitas outras tenham sido identificadas. Das espécies
cultivadas no Brasil destacam-se a pimenta de cheiro, murupi e as malaguetas (Casali &
Couto, 1984).
Na Bacia Amazônica é encontrada uma grande diversidade de pimentas doces e
pungentes. Na região do Alto Solimões (área de fronteira como Peru e Colômbia) são vistos
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nas feiras e mercados, muitos frutos de formas, tamanho, cor e sabores diferentes. O que
se pode concluir disso, é que a diversidade local se repete no meio de outras espécies
hortícolas (abóboras, abacaxis, abiu, bananeiras, biribá, mandiocas, maxixe, sapota e
outros). Esta constatação levou Clement (1989) a propor a existência do centro de
diversidade da Amazônia Norocidental.
O germoplasma de pimentas e pimentões (espécies do gênero Capsicum) tem se
apresentado como uma importante base de sustentação do mercado de hortaliças frescas
do Brasil e de condimentos e conservas no mundo. Por isso, cerca de 12000 ha de pimenta
e pimentão são cultivados no Brasil, anualmente, envolvendo recursos da ordem de 1,5
milhão de dólares, somente na comercialização de sementes (Katounian, 1997).
Apesar do Brasil estar contido no centro de origem das pimenteiras, pouco se sabe sobre
as espécies de Capsicum nativas do País, encontradas principalmente em áreas da Mata
Atlântica e na Amazônia. Portanto, estudos mais profundos sobre as variações genéticas
são importantes para definir descritores qualitativos e quantitativos que permitam o melhor
conhecimento da biologia das espécies e da constituição gênica de suas populações, o que
poderá contribuir para implantação de um banco de germoplasma, conservação do material
em qualquer ambiente e a utilização da variabilidade genética em programa de
melhoramento da espécie, para múltiplas finalidades.
Esta pesquisa teve o objetivo de caracterizar as etnovariedades de pimenteiras para
subsidiar o programa de melhoramento de espécies do gênero Capsicum para Amazônia.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram avaliadas vinte etnovariedades de pimenteiras (populações de Capsicum cultivadas
por índios e caboclos da Amazônia) do Banco de Germoplasma do INPA oriundas de
diferentes localidades da Amazônia.
O experimento foi conduzido no período de agosto de 2000 a abril de 2001, em área da
Horta Educativa do Pró-Menor Dom Bosco (HEPDB), localizada no km 10 da Rodovia AM
010, em Manaus. O Solo dessa área é um Latossolo Amarelo, textura argilosa, distrófico. O
clima local é caracterizado como “Afi” no esquema de Köppen, registrando 2.450 mm de
chuva, com uma estação seca no período de julho a setembro (EMBRAPA, 1982).
A semeadura foi feita (no dia 04 de agosto de 2002) em bandejas de isopor com 72 células
(apropriadas para preparação de mudas de tomate, pimentão e berinjela), tendo como
substrato solo e matéria orgânica (na proporção de 1:1), previamente esterilizado com uma
solução de hipoclorito na proporção de 1 litro de água sanitária para 10 litros de água.
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O preparo da área experimental foi feito no fim do mês de agosto/2000, consistindo de uma
aração e gradagem do solo. Foram confeccionadas leiras de 0,50 m de largura e
0,20 m
de altura, onde foram abertas as covas com 0,30 m de largura e 0,20 m de profundidade.
A adubação fundamental na cova consistiu da aplicação de 1,0 kg de composto orgânico,
30 g de superfosfato triplo, 20 g de cloreto de potássio e 10 g de uréia.
Adotou-se o delineamento experimental de blocos casualizados com 20 tratamentos (as
etnovariedades) e 3 repetições. A unidade experimental consistiu de 5 plantas úteis
distribuídas numa área de 10 m2, num espaçamento de 1,0 m entre as plantas e 1,0 m entre
as fileiras.
As avaliações foram efetuadas no campo (HEPDB) e no laboratório de Genética e
Etnobiologia da Coordenação de Pesquisas em Ciências Agronômicas (CPCA), do Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).
Os estudos morfológicos realizados foram baseados nas evidências de caracteres
constantes nas etnovariedades. A terminologia adotada seguiu as orientações de alguns
trabalhos modernos de taxonomia, e em vários trabalhos específicos para determinadas
estruturas recomendadas para estudos de Solanaceae que produzem frutos (Alcazar, 1981;
Barroso et al., 1999; Ferri et al., 1981; Hickey, 1973; Lawrence, 1970; Payne, 1978;
Radford, 1986; Stern, 1992).
Foram avaliadas as seguintes características qualitativas e quantitativas das pimenteiras: 1)
Identificação das espécies, 2) tempo de germinação das sementes (dias); 3) tempo de
florescimento (dias), 4) frutificação (dias); 5) maturação dos frutos (dias); 6) hábito de
crescimento da planta; 7) tipo de ramificação; 8) cor do caule, 9) presença de pubescência
no caule; 10) posição do pedúnculo; 11) posição do fruto; 12) formato do cálice; 13) cor do
internódio, 14) altura da planta; 15) diâmetro do caule; 16) comprimento longitudinal da
folha, 17) comprimento transversal da folha; 18) largura da copa da planta; 19) formato dos
frutos; 20) número médio de frutos/planta; 21) diâmetro transversal do frutos; 22)
comprimento dos frutos; 23) peso médio dos frutos, 24) espessura da polpa; 25) teor de
pungência da polpa dos frutos; 26) número médio de sementes/fruto e 27) peso estimado de
frutos/planta.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Entre as 20 etnovariedades avaliadas foram identificadas quatro espécies: Capsicum
baccatum, Capsicum frutescens, Capsicum anuunn e Capsicum chinense. As espécies que
que ocorreram em menor e maior número foram a C. baccatum e C. chinense, com um e
doze representantes, respectivamente. A literatura registra que apenas cinco espécies de
pimenteiras são aceitas como cultivadas: C. annuum, C. frutescens, C. chinense, C.
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baccatum e C. pubescens. Dentre essas, apenas C. pubescens não é cultivada no Brasil.
Todas as cinco possuem espécies selvagens afins, com as quais apresentam possibilidade
de permuta de genes (Casali & Couto, 1984).
O período de emergência das plântulas variou entre oito a treze dias, com maior
concentração aos nove e treze dias. O período para florescimento oscilou entre 70 a 93
dias, com maior ocorrência no início do período. A maturação dos frutos ocorreu aos 85 dias
nas etnovariedades mais precoces e aos 107 dias nas mais tardias. Estas observações se
aproximam daquelas feitas por Inoue & Reifschneider (1989) quando apresentaram
resultados da caracterização de Capsicum pertencente à coleção de germoplasma do
Centro Nacional de Pesquisas de Hortaliças, EMBRAPA, Brasília.
Entre as características da parte vegetativa observadas nas plantas das 20 etnovariedades
avaliadas, constatou-se que: 45% apresentaram o hábito de crescimento ereto, 33,3% tipo
de ramificação mediana e intensa, 70% cor do caule verde, 70% pubescência do caule
glabro, 95% posição do pedúnculo pendente, 60% posição do fruto pendente, 50% cálice
intermediário e 65% da cor do internódio verde.
As características dos frutos apresentaram grande variabilidade em termos de forma, cor e
tamanho. 60% das etnovariedades mostraram frutos maduros de cor vermelha. Os maiores
e mais pesados frutos, foram encontrados nas espécies C. baccatum e C. annuun. A maior
produção de frutos por planta (1220,3) foi detectada em etnovariedades da espécie C.
frutescens, indicando que quanto menor for o tamanho do fruto, maior será a quantidade de
frutos produzidas por uma pimenteira.
De maneira geral, a diversidade fenotípica detectada nos componentes da parte vegetativa
e da produção nas etnovariedades pesquisadas, permitirá a curto e médio prazo, a seleção
de genótipos para produção de frutos para o consumo in natura, ou para o processamento
de conservas, molhos, condimento, ou ainda para o aproveitamento na medicina tradicional,
como acontece na sociedade Asteca , no méxico (Martin et al. 1979).
LITERATURA CITADA
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1981.
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Morfologia aplicada à Sistemática de Dicotiledôneas. Ed. UFV, Universidade Federal de
Viçosas, 443p, 1999.
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v.10, n.113, p.8-13, 1984.
6
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624-631, 1984.
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