Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed Trastuzumabe no tratamento pósprogressão do câncer de mama 1 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed I - Data: 20/03/2010 II - Especialidade(s) envolvida(s): Oncologia III - Responsáveis Técnicos: Dr. Álvaro Koenig**, Dr. Alexandre Pagnoncelli*, Dr. Carlos Augusto Cardim de Oliveira*, Dra. Claudia Regina de O. Cantanheda*, Dr. Francisco José de Freitas Lima*, Dr. Giovanni César Xavier Grossi*, Dra. Izabel Cristina Alves Mendonça*, Dr. Jurimar Alonso*, Dr. Luiz Henrique P. Furlan*, Dra. Silvana Márcia Bruschi Kelles*, Dr. Valfredo de Mota Menezes*. E-mail para contato: [email protected] Declaração de potenciais de conflitos de Interesses Os membros da Câmara Nacional de Medicina Baseada em Evidências declaram que não mantêm nenhum vínculo empregatício, comercial ou empresarial, ou ainda qualquer outro interesse financeiro com a indústria farmacêutica ou de insumos para área médica. Todos os membros da Câmara Nacional de Medicina Baseada em Evidências trabalham para o Sistema Unimed. *Membro da CTNMBE ** Membro da Câmara Estadual de MBE 2 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed Sumário Resumo .............................................................................................................. 4 1. Questão Clínica ...................................................................................... 6 2. Introdução ............................................................................................... 6 2.1. Condição Clinica ......................................................................................... 6 2.2. Descrição da Intervenção ............................................................................ 6 2.3. Indicação da bula ............................................................................................ 8 3. Metodologia ............................................................................................ 8 3.1. Pergunta estruturada (PICO) .......................................................................... 8 3.2. Fonte de dados: .............................................................................................. 8 3.3. Estratégia de busca: ....................................................................................... 8 3.4. Período pesquisado: ....................................................................................... 9 3.5. Número de estudos encontrados e avaliados: ................................................ 9 3.6. Número de artigos selecionados: Ensaio clínico randomizado 1 ..................... 9 3.7. Principais estudos incluídos: ........................................................................... 9 3.8. Seleção dos pacientes .................................................................................... 9 3.9. Randomização .............................................................................................. 10 3.10. Protocolo de tratamento .............................................................................. 10 3.11. Desfechos considerados ............................................................................. 10 3.12. Seguimento dos pacientes .......................................................................... 11 3.13. Cálculo da amostra ..................................................................................... 11 4. Resultado .............................................................................................. 13 5. Discussão.............................................................................................. 16 6. Conclusão e recomendações .............................................................. 17 6.1. Recomendação da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências (CTNMBE): ........................................................................................ 17 7. Referências Bibliográficas: ................................................................. 18 3 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed Resumo Introdução – O câncer de mama é o de maior letalidade entre as mulheres e sua incidência é de 51 casos/100.000 mulheres. A sobrevida global na população mundial é de 61% em cinco anos. Ocorre em mulheres e raramente em homens. Em torno de 25-30% dos cânceres de mama hiperexpressam o HER2¹. O tumor HER2 positivo tende a ser mais agressivo e associado a maior risco de progressão e a óbito. Trastuzumabe é um anticorpo monoclonal humanizado derivado da tecnologia do DNA-recombinante, que atinge seletivamente o domínio extracelular da proteína do receptor-2 do fator de crescimento epidérmico humano (HER2). Estudos experimentais in vivo mostraram que a droga é efetiva contra células tumorais enquanto utilizada. Foi levantada a hipótese de que a administração de trastuzumabe poderia ser benéfica se continuasse após a progressão da doença. O estudo que comparou tratamento com ou sem trastuzumabe após a progressão7 não mostrou benefícios expressivos. Em virtude de não haver ainda informações que suportem este benefício, procedemos a uma revisão sistemática da literatura. Objetivos – Determinar se a manutenção do trastuzumabe, em pacientes que tiveram progressão da doença e já utilizavam esquemas terapêuticos que incluíam essa droga é efetiva para os desfechos tempo de progressão ou sobrevida global. Métodos – Revisão sistemática da literatura. Resultados – O papel do trastuzumabe após a progressão ainda não está bem estabelecido. Associado a capecitabina aumenta a sobrevida livre de progressão em até 2,6 meses, mas não tem efeito sobre a sobrevida global. As taxas de resposta parecem ser maiores com seu uso, mas a duração da resposta é curta. Um dos ensaios clínicos mostrou maior incidência de 4 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed metástases cerebrais. As evidências sobre o tempo livre de progressão e mesmo de sobrevida global são originárias de séries de casos. Dois ensaios clínicos em andamento poderão responder com mais segurança esta questão clínica. Recomendação – A continuidade do uso de trastuzumabe após a progressão do câncer de mama metastático, em pacientes já submetidos a um esquema contendo trastuzumabe não melhorou a sobrevida global, e apesar do benefício clínico encontrado, esse se manteve por um período mínimo de tempo (15 dias). O tempo de sobrevida livre de progressão teve mediana de 2,6 meses. Não há força de evidência para a recomendação universal do tratamento. Até que novos ensaios clínicos apontem para resultados mais consistentes, os casos devem ser avaliados individualmente. 5 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed 1. Questão Clínica A manutenção do trastuzumabe, em pacientes que tiveram progressão da doença e já utilizavam esquemas terapêuticos que incluíam essa droga, é efetiva para os desfechos tempo de progressão ou sobrevida global? 2. Introdução 2.1. Condição Clinica O câncer de mama é o câncer com maior letalidade entre as mulheres. Sua incidência é de 51 casos por 100.000 mulheres, sendo mais frequente no Sudeste (168/100.000). Os principais fatores de risco relacionados à vida reprodutiva são menarca precoce, idade da primeira gestação acima de 30 anos, menopausa tardia, uso de anticoncepcionais orais e terapia de reposição hormonal. A sobrevida global na população mundial é de 61% em cinco anos. Acomete usualmente os ductos ou ácinos mamários. Ocorre em mulheres e raramente em homens. Em torno de 25-30% dos cânceres de mama hiperexpressam o HER2¹. O fator de crescimento epidérmico HER2 ou ErbB2 é um membro da família “Erb” dos receptores transmembrana das tirosino quinases. A mutação ou superexpressão do HER2 aumenta a atividade mitogênica da via da proteína quinase e da via fosfatidil resultando em proliferação descontrolada de células, aumentando a chance de metástases e angiogênese e diminuindo a sensibilidade para sinais apoptóticos das células2. O tumor HER2 positivo tende a ser mais agressivo e associado ao maior risco de progressão (inclusive desenvolvimento de metástases cerebrais) e a óbito quando comparado com tumores sem superexpressão de HER22. 2.2. Descrição da Intervenção Trastuzumabe é um anticorpo monoclonal humanizado derivado da tecnologia do DNA-recombinante, que atinge seletivamente o domínio 6 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed extracelular da proteína do receptor-2 do fator de crescimento epidérmico humano (HER2). A hiperexpressão do HER2, observada em 25% a 30% dos cânceres de mama primários aumenta expressão da proteína HER2 na superfície das células tumorais, resultando em um receptor HER2 constitutivamente ativado. Foi demonstrado tanto nos estudos in vitro quanto nos animais, que o trastuzumabe inibe a proliferação das células tumorais humanas com superexpressão HER2. In vitro, a citotoxicidade mediada pela célula anticorpo dependente (ADCC) demonstrou ser preferencialmente exercida nas células cancerígenas com hiperexpressão do HER2 comparada às células cancerígenas sem hiperexpresão do HER23. Não há consenso sobre o mecanismo de ação do trastuzumabe. Se o mecanismo dominante de ação do trastuzumabe é a imunomodulação, um tratamento de curto prazo deve ser suficiente para conter o crescimento tumoral. Entretanto, se o mecanismo dominante de atuação é a “down regulation” dos fatores de crescimento, será necessário um tratamento crônico para suprimir a atividade estimuladora desses fatores de crescimento. Se a ação principal do trastuzumabe é inibir a reparação do DNA, o tratamento mais eficaz seria a continuação concomitante da quimioterapia4. Estudos in vivo experimentais mostraram que o trastuzumabe é efetivo contra células tumorais enquanto é utilizado. Uma vez suspenso, há um rápido crescimento to tumor, o que é consistente com um possível efeito citostático4. Esses achados suportam, pelo menos teoricamente, seu uso pós-progressão. Além disso, embora ao mecanismo exato de atuação da droga seja incerto, modelos pré-clínicos indicam sinergismo de efeito antitumoral entre o trastuzumabe e quimioterápicos5. Com base nessas informações, alguns autores chegaram à hipótese de que a administração de trastuzumabe poderia continuar após a progressão da doença para se aproveitar o efeito sinérgico dessa droga com os quimioterápicos6. Não há ainda dados clínicos que suportem essa teoria. O estudo que comparou esquema com ou sem trastuzumabe após a progressão7 não 7 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed mostrou ganho significativo de sobrevida e o ganho de tempo livre de progressão foi de dois meses e meio8. 2.3. Indicação da bula Trastuzumabe (nome referência Herceptin®) é indicado para o tratamento de pacientes com câncer de mama metastático que apresentam tumores com hiperexpressão do HER2: a) como monoterapia para o tratamento de pacientes que receberam um ou mais tratamentos quimioterápicos para doença metastática; b) em combinação com paclitaxel ou docetaxel para o tratamento de pacientes que não receberam quimioterapia para doença metastática3. 3. Metodologia 3.1. Pergunta estruturada (PICO) População: Pacientes em tratamento para câncer de mama com esquema que inclua trastuzumabe e que apresentam progressão da doença Intervenção: manutenção do trastuzumabe no esquema terapêutico. Comparação: Outros quimioterápicos ou tratamento de suporte. Desfechos: sobrevida total e sobrevida livre de progressão, taxa de resposta e segurança. 3.2. Fonte de dados: PubMed 3.3. Estratégia de busca: (("trastuzumab"[Substance Name] OR "trastuzumab"[All Fields]) AND beyond[All Fields] AND ("disease progression"[MeSH Terms] OR ("disease"[All Fields] AND "progression"[All Fields]) OR "disease progression"[All Fields] OR "progression"[All Fields])) AND (Clinical Trial[ptyp] OR Randomized Controlled Trial[ptyp] OR Clinical Trial, Phase III[ptyp] OR Controlled Clinical Trial[ptyp]) 8 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed 3.4. Período pesquisado: 1990 a 2010. 3.5. Número de estudos encontrados e avaliados: Foram recuperados 10 artigos. 3.6. Número de artigos selecionados: Ensaio clínico randomizado 1 Séries de casos – 6 Recuperado ainda um ECR relacionado. 3.7. Principais estudos incluídos: Minckwitz G et al. 20097, Trastuzumab beyond progression in human epidermal growth factor receptor 2-positive advanced breast câncer: a German Breast Group 26/Breast International Group 03-05 study. Escore JADAD: 3 ( considerado de boa qualidade – anexo 2) 1.a. O estudo foi descrito como aleatório? sim 1.b. O método de aleatorização foi adequado? Sem informações 2.a. O estudo foi descrito como duplo-cego? não 2.b. O método de mascaramento foi adequado? Sem informações 3.a. Houve descrição das perdas e exclusões? sim Pontuação final 1 1 0 0 1 3 FORÇA DA EVIDÊNCIA A – 1B 3.8. Seleção dos pacientes Critérios de inclusão: Mulheres portadoras de câncer de mama HER2 positivo, doença localmente avançada ou metastática, com tratamento prévio com trastuzumabe por pelo menos 12 semanas e tempo desde a última dose de trastuzumabe não maior que seis semanas. Ter recebido pelo menos um quimioterápico para doença metastática. 9 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed Performance status ≥60% e expectativa de vida de três meses ou mais. Sem alterações hematológicas, renais, hepáticas ou de função cardíaca (FEV ≥50%). 3.9. Randomização DESCRIÇÃO: Randomização estratificada: • Por tipo de tratamento prévio (taxanes, trastuzumabe na adjuvância, taxanes e trastuzumabe como primeira linha de tratamento da doença metastática e trastuzumabe ou outros agentes citotóxicos que não capecitabina ou taxanes). • Por centro participante. ALOCAÇÃO VENDADA: O artigo não cita sigilo de alocação. 3.10. Protocolo de tratamento INTERVENÇÃO: Capecitabina 2500 mg/m² /dia, nos dias 1 a 14, seguido de uma semana de descanso, seguido de trastuzumabe 6 mg/kg a cada 3 semanas até a progressão ou toxicidade inaceitável. CONTROLE Capecitabina na mesma dose do grupo intervenção. MASCARAMENTO Ensaio open label. 3.11. Desfechos considerados PRINCIPAL: Tempo para progressão ou óbito pela progressão da doença. 10 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed SECUNDÁRIO: benefício clínico definido como resposta completa ou parcial ou estabilização da doença por 24 semanas ou mais. Duração da resposta - definida como o período entre a notificação da resposta e a data da progressão documentada, morte relacionada à doença ou saída do estudo. Sobrevida global: definida como o tempo entre a randomização e o óbito ocorrido por qualquer causa. 3.12. Seguimento dos pacientes TEMPO: mediana de 15,6 meses. PERDAS • Dezesseis pacientes descontinuaram prematuramente o tratamento no grupo controle por razões outras que não progressão na doença: eventos adversos dez casos, vontade do paciente seis casos. Em cinco casos a suspensão do tratamento foi por motivos desconhecidos. • No grupo intervenção onze pacientes descontinuaram prematuramente o tratamento por: efeitos adversos oito casos, vontade do paciente três casos. Em cinco casos a suspensão do tratamento ocorreu por motivos desconhecidos. MIGRAÇÃO: Não descrito 3.13. Cálculo da amostra A amostra foi calculada sob a perspectiva de que o tempo até a progressão na população alvo seria de quatro meses para capecitabina como monoterapia e a associação com trastuzumabe resultasse em melhora de 27,5%, com tempo estimado até a progressão de 5,1 meses. Poder de 80%, significância de 5%, taxa de perda de 10%. Para essas condições foi calculada uma amostra de 482 pacientes. Foram planejadas duas análises interinas, após 150 e 300 eventos. Mas a primeira análise interina foi realizada após o recrutamento de apenas 119 11 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed pacientes e 82 eventos devido à demora para o recrutamento e o aparecimento de um estudo sobre outra terapia, o lapatinibe, que mostrou bons resultados para o tratamento pós-progressão do câncer de mama. O estudo foi finalizado prematuramente e não foi realizada uma segunda análise interina. Pacientes RECRUTADOS – 156 RANDOMIZADOS – 156 TRATADOS – grupo capecitabina: 74 pacientes, grupo trastuzumabe+capecitabina: 77 pacientes. DIFERENÇAS PROGNÓSTICAS: sem descrição. Análise INTENÇÃO DE TRATAMENTO: Sim ANALISADOS INTERVENÇÃO - 77 ANALISADOS CONTROLE – 74 O grau de recomendação tem como objetivos dar transparência às informações, estimular a busca de evidência científica de maior força e auxiliar a avaliação crítica do leitor, o responsável na tomada de decisão junto ao paciente. Nível de Evidência Científica por Tipo de Estudo - “Oxford Centre for Evidence-based Medicine” - última atualização maio de 200129 Grau de Nível de Tratamento/ Recomendação Evidência Prevenção – Etiologia 1A Diagnóstico Revisão Sistemática (com Revisão Sistemática (com homogeneidade) homogeneidade) de Estudos Diagnósticos nível 1 Critério de Ensaios Clínicos Controlados e Diagnóstico de estudos nível 1B, em Randomizados diferentes centros clínicos Ensaio Clínico Controlado e Coorte validada, com bom padrão de Randomizado com Intervalo de referência Critério Diagnóstico testado em um Confiança Estreito Resultados Terapêuticos do tipo “tudo ou único centro clínico Sensibilidade e Especificidade próximas de nada” 100% A 1B 1C 12 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed Revisão Sistemática (com 2A Revisão Sistemática (com homogeneidade) homogeneidade) de estudos diagnósticos de nível > 2 de Estudos de Coorte Coorte Exploratória com bom padrão de Estudo de Coorte (incluindo Ensaio 2B Referência Critério Diagnóstico derivado ou Clínico validado em amostras fragmentadas Randomizado de Menor Qualidade) B ou banco de dados Observação de Resultados Terapêuticos 2C (outcomes research) Estudo Ecológico Revisão Sistemática (com 3A Revisão Sistemática (com homogeneidade) homogeneidade) de estudos diagnósticos de nível > 3B de Estudos Caso-Controle Seleção não consecutiva de casos, ou 3B Estudo Caso-Controle padrão de referência aplicado de forma pouco consistente C 4 D 5 Relato de Casos (incluindo Coorte ou Estudo caso-controle; ou padrão de referência Caso-Controle de menor qualidade) pobre ou não independente Opinião desprovida de avaliação crítica ou baseada em matérias básicas (estudo fisiológico ou estudo com animais) 4. Resultado Desfecho Eventos Mediana (tempomeses) até a progressão Resposta ao tratamento (completa ou parcial) Benefício clínico Duração da resposta (meses) Metástase em SNC Óbito Mediana de sobrevida (meses) NEI NEC RAI (%) RAC (%) 80,5 88 RRA (%) Ou diferença 7,5 IC 95% ou p NNT 62 65 NS 8,2 5,6 37 20 48,1 58 40 75,3 3,9 3,4 8 5 13,8 8,3 5,5 NS 33 38 42,9 51,4 8,5 NS 25,5 20,4 5,1 0,25 (NS) 2,6 0,034 27 21,1 0,002 5 54,1 21,2 <0,001 5 0,5 Segurança Grau III ou IV de 49 63,6 66,2 2,6 NS 49 toxicidade Alterações 10 3 13,0 4,1 8,9 0,02 11 cardíacas NEI: número de eventos na intervenção; NEC: número de eventos no controle; RAI: risco absoluto na intervenção; RAC: risco absoluto no controle; RRA: redução do risco absoluto; IC: 13 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed intervalo de confiança de 95%; NNT: número necessário para tratar para evitar 1 evento (só se aplica se estatisticamente significante); NA: não se aplica, NS não significativo. Comentário do revisor: O estudo foi interrompido prematuramente devido à demora no recrutamento. Com cálculo de amostra de 482 e recrutamento de apenas 156 pacientes, teve sua validade interna comprometida. A avaliação de progressão, uma vez que o estudo não era cego, foi realizada pelo próprio investigador, o que pode concorrer para viés de aferição. O benefício clínico (resposta parcial ou completa ou estabilização da doença por até 24 semanas) foi estatisticamente significativo, com um NNT de 5. Ou seja, de cada 5 mulheres, uma a mais deve apresentar benefício clínico, mas a diferença entre as medianas de manutenção desse benefício foi de apenas 15 dias. Houve uma tendência de aumento de metástases cerebrais no grupo trastuzumabe. As alterações cardíacas foram mais comuns no grupo tratado com trastuzumabe. Houve diferença na mediana de progressão de 2,6 meses em favor do grupo que incluiu o trastuzumabe, mas essa diferença não se refletiu em ganho de sobrevida. Grau de recomendação e nível de evidência A-1B. O'Shaughnessy J et al 20088. A randomized study of lapatinib alone or in combination with trastuzumab in heavily pretreated HER2+ metastatic breast câncer progressing on trastuzumab therapy. Trata-se de ensaio clínico, randomizado fase III, do qual dispomos apenas do abstract apresentado na ASCO de 2008 e não publicado na íntegra até a data dessa revisão. Avalia 296 mulheres refratárias ao trastuzumabe com câncer de mama metastático, randomizadas para receber lapatinibe (medicação oral) com ou sem trastuzumabe. No relato inicial apresentado na ASCO, a resposta objetiva foi similar para os dois grupos mas a sobrevida livre de progressão foi maior para o grupo com terapia combinada (mediana de 12 meses versus 8,4 meses). Novamente, a sobrevida global permaneceu similar nos dois grupos. 14 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed Comentários do revisor: Por estar disponível apenas o abstract do estudo, não foi possível avaliar o método do estudo, sua validade interna e externa. Assim, o nível de evidência desta publicação não pode ser aferido. Os benefícios da continuidade do tratamento com trastuzumabe após a progressão do câncer de mama foram avaliados em diversas séries de casos. Montemurro et al9 em 2008 encontraram resultados similares quanto aos desfechos sobrevida ou sobrevida livre de progressão entre pacientes tratados com trastuzumabe+ quimioterapia ou quimioterapia em pacientes pós progressão com um esquema envolvendo trastuzumabe. Cancelo et al6 em 2008 encontraram uma tendência (sem significância estatística) de melhora da sobrevida em pacientes em uso de trastuzumabe pós progressão com regime envolvendo essa droga anteriormente. Bartsch et al10 fizeram uso do trastuzumabe mais capecitabina em 40 pacientes que haviam progredido em regimes contendo trastuzumabe. Encontraram bons resultados em termos de sobrevida e segurança, mas recomendam estudos randomizados para comparar o esquema com capecitabina isoladamente. Gelmon et al4 avaliaram 105 pacientes tratadas em 13 centros no Canada, Europa e Austrália. Nessa análise retrospectiva o trastuzumabe mostrou ser eficaz. Entretanto os autores recomendam estudos prospectivos para comparar essa eficácia com outras estratégias terapêuticas. Quanto à segurança, o uso do trastuzumabe pós-progressão mostrou um bom perfil de tolerância sem toxicidade cardíaca muito relevante. Tripathy et al11 conduziram uma extensão do estudo H0648g onde os pacientes desse ensaio receberam trastuzumabe pós progressão. Um grupo de análise era virgem de tratamento com trastuzumbe. O trastuzumabe foi considerado seguro para utilização em longo prazo, entretanto, não foi possível estabelecer a contribuição do trastuzumabe na progressão, pois o estudo não foi desenhado para aferir benefícios da terapia com trastuzumabe após progressão do câncer. 15 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed Fountizilas et al12 avaliaram retrospectivamente 80 pacientes que receberam trastuzumabe na pós-progressão. A mediana de sobrevida livre de progressão foi de 22,2 meses e a mediana de sobrevida de 43,4 meses. 5. Discussão O tratamento pós-progressão representa um novo paradigma na terapia oncológica. Após a progressão, estudos pré-clínicos sugeriram que o trastuzumabe exerceria um efeito citostático e sua manutenção estaria indicada para evitar o crescimento tumoral. Não há consenso, entretanto, sobre essa ação do trastuzumabe na experiência clínica. Se esse efeito citostático realmente é relevante para o prognóstico da paciente é matéria ainda a ser estudada em ensaios randomizados. As evidências disponíveis até o momento sobre a continuação de trastuzumabe em mulheres que apresentaram progressão do tumor após receberem terapia contendo trastuzumabe mostram que: • Trastuzumabe em associação com capecitabina aumenta a sobrevida livre de progressão em até 2,6 meses, mas não tem efeito sobre a sobrevida global. • As taxas de resposta parecem (medidas pelos investigadores, sem cegamento) ser maiores com o uso de trastuzumabe, mas a duração da resposta é fugaz (cerca de 15 dias). A sobrevida total não aumenta. • O trastuzumabe não atravessa a barreira hemato-encefálica. Houve uma incidência aumentada de metástases cerebrais no ensaio clínico que deve ser investigada para verificar se o trastuzumabe não tem efeito protetor sobre a metástase cerebral ou se, de alguma forma pode favorecer o aparecimento dessas metástases. • Evidências de benefício com o uso do trastuzumabe em relação a tempo livre de progressão e mesmo de sobrevida global são decorrentes de séries de casos, com análises retrospectivas e vários tipos de tratamento. Mesmo esses estudos com baixo nível de evidência por suas limitações 16 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed metodológicas são controversos. Algumas séries de casos falam de benefícios e outras não mostram qualquer efeito. • Há dois ensaios clínicos em andamento que foram desenhados para avaliar a eficácia do trastuzumabe pós-progressão. PANDORA (Trial ML 19944) A study of herceptin (trastuzumab) in combination with 2nd-line chemotherapy in patients with her2 positive metastatic breast cancer, estudo randomizado, open label, com fechamento previsto para fevereiro de 2010 e THOR (ML 18741) - Trastuzumab halted or retained trial, ainda em fase de recrutamento. Talvez esses dois estudos respondam com mais segurança se há ou não benefícios para o paciente com o uso de trastuzumabe pósprogressão. 6. Conclusão e recomendações 6.1. Recomendação da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências (CTNMBE): A continuidade do uso de trastuzumabe após a progressão do câncer de mama metastático, em pacientes já submetidos a um esquema contendo trastuzumabe não melhorou a sobrevida global, e apesar do benefício clínico encontrado, esse se manteve por um período mínimo de tempo (15 dias). O tempo de sobrevida livre de progressão teve mediana de 2,6 meses. Não há força de evidência para a recomendação universal do tratamento. Até que novos ensaios clínicos apontem para resultados mais consistentes, os casos devem ser avaliados individualmente. 17 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed 7. Referências Bibliográficas: 1. INCA – Instituto Nacional de Câncer. [online] Disponível na internet via www.inca.gov.br/estimativa/2008/versaofinal.pdf . Arquivo consultado em 24 de junho de 2009. 2. Blackwell KL, Pegram MD, Tan-Chiu E, Schwartzberg LS, Arbusshites MC, Maltzman JD et al. Single-agent lapatinib for HER-2 overexpressing advanced or metastatic breast cancer that progressed on first- or second-line trastuzumabcontaining regimens. Ann Oncol 2009; 20:1026-31. 3. Roche – Bula de medicamentos [online]. Disponível em http://www.roche.com.br/Products/avastin_PT.htm. Acesso em 24 de junho de 2009. 4. Gelmon KA, Mackey J, Verma S, Gertler SZ, Bangemann N, Klimo P et al. Use of trastuzumab beyond disease progression: observations from a retrospective review of case histories. Cl Breast Cancer 2004; 5(1):52-8. 5. Pegram M, Hsu S, Lewis G, Pietras R, Beryt M, Sliwkowski M et al. Inhibitory effects of combinations of HER-2/neu antibody and chemotherapeutic agents used for treatment of human breast cancer. Oncogene 1999; 18:2241-51. 6. Cancello G, Montagna E, D’Agostino D, Giuliano M, Di Lorenzo G, Plaitano M et al. Continuing trastuzumab beyond disease progression: outcomes analysis in patients with metastatic breast cancer. Breast Cancer Research 2008, disponível em http://breast-cancer-reserach.com/content/10/4/R60, acesso em 20/03/2010. 7. Von Minckwitz G, Bois A, Schmidt M, Maass N, Cufer T, Jongh FE et al. Trastuzumab beyond progression in human epidermal growth factor receptor 2– positive advanced breast cancer: A German Breast Group 26/Breast International Group 03-05 Study. J Clin Oncol 2009; 27:1999-2006. 8. O'Shaughnessy J, Blackwell K, Burstein H, Storniolo AM, Siedge G, Baselga J et al. A randomized study of lapatanib alone or in combination with trastuzumab in heavily pretreated HER2+ metastatic breast cancer progressing on trastuzumab therapy (abstract). J Clin Oncol 2008; 26:1015. 9. Montemurro F, Rendana S, Viale G, Sanna G, Donadio M, Valabrega G et al. Retrospective evaluation of clinical outcomes in patients with HER2-positive advanced breast câncer progressing on trastuzumab-based therapy in the prelapatinib era. Clin Breast Cancer 2008; 8(5):436-42. 10. Bartsch R, Wenzel C, Altorjai G, Pluschning U, Rudas M, Mader RM et al. Capecitabine and trastuzumab in heavily pretreated metastatic breast cancer. J Clin Oncol 2007; 25:3853-8. 11. Tripathy D, Slamon DJ, Cobleigh M, Arnald A, Saleh M, Monyimer JE et al. Safety of treatment of metastatic breast câncer with trastuzumab beyond disease progression. J Cl Oncol 2004; 22:1063-70. 12. Fountzilas G, Razis E, Tsavdaridis D, Karina M, Labropoulos S, Christodoulou C et al. Continuation Fo trastuzumab beyond disease progression is feasible and safe in patients with metastatic breast cancer: a retrospective analysis of 80 cases by the hellenic cooperative oncology group. Clin Breast Cancer 2003; 4:120-5. 18 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed 13. Is of Evidence and Grades of Recommendations – Oxford Centre for Evidence Based Medicine. Disponível em URL: http://cebm.jr2.ox.ac.uk/docs/old_levels.html 19