ÍNDICES DE CASOS DE ABANDONO DO TRATAMENTO DA TUBERCULOSE NO MUNICÍPIO DE NATAL-RN (2001-2011) Dândara Nayara Azevêdo Dantas Déborah Raquel Carvalho de Oliveira Marcela Paulino Moreira da Silva Fernanda Beatriz Batista Lima e Silva Bertha Cruz Enders INTRODUÇÃO No cenário atual que envolve as políticas de controle voltadas para a Tuberculose (TB), observa-se ainda um grave problema, que diz respeito ao abandono do tratamento, devido a diversas fragilidades existentes no cuidado oferecido ao doente de TB1,2. Dentre elas, podem-se citar dificuldades relacionadas ao paciente, ao tratamento empregado e à operacionalização do cuidado nos serviços de saúde2. Como tática para solucionar pelo menos esses dois últimos problemas, desde o início da década de 90 a Organização Mundial de Saúde passou a incentivar a implantação e expansão da estratégia de terapia diretamente observada (DOTS) para a TB. No Brasil, o Ministério da Saúde (MS) passa a priorizar a extensão do DOTS, baseado na diminuição das taxas de abandono dos países que haviam adotado essa estratégia3. E em 1998, essa estratégia passa a ser incorporada ao Plano Nacional de Controle da TB4. O Tratamento Supervisionado (TS) torna-se eficaz no combate ao abandono do tratamento da doença, tanto pela garantia do cumprimento do esquema terapêutico, como pelo estabelecimento de um vínculo com a equipe de saúde que irá prestar assistência ao indivíduo e a família. Mas no que refere à realidade atual, supõe-se que a implantação dessa estratégia ainda não é aderida por todos os municípios brasileiros. No município de Natal-RN, um dos sete municípios do estado do Rio Grande do Norte e um dos 315 do Brasil, como prioritários para o controle da TB5 por exemplo, a implantação do DOTS nos seus seis Distritos Sanitários não é uniforme, variando quanto à sua estruturação para as ações da estratégia6, (ANDRADE, 2011) o que pode ser um fator predisponente para índices de abandono elevados comparado ao que é preconizado pelo MS. Um estudo7 (FERREIRA, 2005) desenvolvido na capital Cuiabá apontou para um percentual de abandono de 27,3% e até 39% para doentes que estavam em retratamento, o que significa um índice alto, tendo em vista que o Ministério da Saúde prevê até 5% de abandono. Ainda, esse abandono ocorria principalmente por volta do 3º mês, o que leva a uma possível correlação com o fato de ser o período em que os sintomas já estão mais suaves e o doente acreditar que já está curado. Nessa perspectiva questiona-se nesse estudo: Qual o índice de abandono do tratamento da tuberculose no município de Natal-RN nos últimos dez anos? No presente estudo, considerar-se-á como abandono do tratamento, o fato do doente deixar de comparecer à unidade de saúde por mais de trinta dias consecutivos após a consulta marcada. Com isso objetivou-se com esse estudo descrever o comportamento epidemiológico entre os anos de 2001 a 2011, referente ao abandono do tratamento da TB no município de Natal, RN e traçar um perfil dos casos registrados a partir do levantamento de características sociodemográficas disponíveis. Para nortear o desenvolvimento desse estudo, escolheu-se como referencial teórico os aportes sobre a Teoria da Determinação Social do Processo Saúde Doença que considera a doença como totalidade-parte do processo social e no conceito de adesão. A autora propõe que a adesão transcende o ato de ingerir o medicamento, e relaciona-se diretamente ao lugar ocupado pelo indivíduo no processo de produção e reprodução social, na medida em que desse decorrem condições favoráveis ou limitantes para a efetivação da manutenção terapêutica8. O estudo se justifica pela necessidade de discutir a problemática do abandono do tratamento da TB está centrada no fato de que o portador de TB que não adere à terapêutica continua doente e permanece como fonte de contágio, contribuindo para propagação da doença e dificultando o seu controle. Além disso, não se encontrou um estudo semelhante a este desenvolvido no Município de Natal. Existem estudos de avaliação do da implantação do TS, mas nenhum faz um resgate epidemiológico dos casos de abandono. Assim, os resultados do levantamento epidemiológico do presente poderão, então, sugerir algum impacto da estratégia DOTS no município de Natal e contribuir para o desenvolvimento de estudos sobre essa temática. Destaca-se ainda a relevância deste estudo para a prática dos profissionais da atenção primária à saúde, especialmente para o enfermeiro, que é o profissional que responde diretamente e está mais envolvido com as ações de saúde desenvolvidas no âmbito do controle da TB9. METODOLOGIA Trata-se de um estudo epidemiológico descritivo, de abordagem quantitativa, realizado na fonte de dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), que é de livre acesso ao público. Escolheu-se essa fonte de informação para a busca de informações sobre a taxa de abandono do tratamento da TB no município de Natal-RN, pois ela permite o levantamento epidemiológico dos indicadores da TB e sua respectiva análise através da tabulação dos dados, e assim pode auxiliar no planejamento da saúde e definir prioridades de intervenção nessa temática10. A procura dos dados no SINAN foi realizada no mês de maio de 2012 e se buscou indicadores sobre essa temática nos últimos 10 anos (2001-2011). Elegeu-se como critérios para obter as informações, a disponibilidade de variáveis relacionadas ao objetivo do estudo no banco de dados do SINAN Net. A partir disso, escolheu-se como variáveis para fazer parte do estudo o índice de abandono do tratamento da TB entre 2001 e 2011 segundo o sexo, escolaridade, faixa etária e tipo de entrada para o tratamento da tuberculose. Os dados obtidos dessa fonte de informação foram tabulados no Excel e sua análise ocorreu por meio da estatística descritiva, utilizando frequência e percentuais para analisar as variáveis escolhidas para compor o estudo. No tocante a variável de escolaridade, com fins de facilitar a análise dos dados, alguns dados foram associados. O item de ignorado/branco foi associado ao de não se aplica; os dados que serão apresentados como fundamental serão compostos da soma dos itens de 1ª a 4ª série incompleta, 4ª série completa, 5ª a 8ª série incompleta e ensino fundamental completo; os dados que serão apresentados como ensino médio será da soma dos itens de ensino médio completo e incompleto e os que serão apresentados como ensino superior serão a soma dos itens de educação superior completa e incompleta. RESULTADOS O Gráfico 01 apresenta a porcentagem de casos de abandono no município de Natal e registrados no SINAN para os anos 2001 a 2011. Gráfico 01 – Porcentagem de abandono do tratamento da TB nos anos de 2001 a 2011 no município de Natal-RN. Natal/RN, 2012. 35,00% 30,00% 25,00% 20,00% 15,00% 10,00% 5,00% 0,00% 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Porcentagem de abandono do tratamento da tuberculose Fonte: SINAN- Sistema de Informação de Agravos de Notificação- 2012 O abandono do tratamento da TB no município de Natal-RN teve um acentuado crescimento entre os anos de 2001 a 2006 conforme é demonstrado no Gráfico 01, com índices variando de 13,58% a 30,46%, sendo o ano de 2006, o período com maior número de casos de desistência do tratamento por pessoas que foram diagnosticadas com a doença. Após esse período, observa-se que houve um decréscimo nesse índice, chegando ao ano de 2011 a uma taxa percentual de 5,5% de casos notificados de abandono. Quanto à característica de gênero, o Gráfico 02 mostra os índices de abandono registrado no período em foco, segundo o sexo. Gráfico 02 – Índices de abandono do tratamento da Tuberculose nos anos de 2001 a 2011 no município de Natal-RN, segundo o sexo. Natal/RN, 2012. 120 100 80 60 40 20 0 2001 2002 2003 2004 2005 Masculino 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Feminino Fonte: SINAN- Sistema de Informação de Agravos de Notificação- 2012 Como se pode observar no Gráfico 02, dos 58 casos de abandono notificados no ano de 2001, 48 eram do sexo masculino o que corresponde a aproximadamente 81% dos sujeitos. Esta predominância masculina permanece em todos os anos, com percentagens variando de 88,24 em 2009, quando atingiu a sua maior proporção, a 66,6% em 2003, sua menor proporção. O Gráfico 03 apresenta a estratificação dos casos por faixa etária para os anos em foco de acordo com os números de notificações registrados no SINAN. Gráfico 03 – Índices de abandono do tratamento da Tuberculose nos anos de 2001 a 2011 no município de Natal-RN, segundo a faixa etária. Natal/RN, 2012. 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 <1-9 anos 10-19 anos 20-39 anos 60-69 anos 70-79 anos 80 anos ou mais 2009 2010 2011 40-59 anos Fonte: SINAN- Sistema de Informação de Agravos de Notificação- 2012 Observa-se no Gráfico 03, que a faixa etária de 20 a 39 anos possuiu um índice maior de desistência do tratamento, variando entre 15 e 92 casos notificados entre 2001 e 2011, em comparação às demais faixas em todos os anos pesquisados. A faixa de 40 a 59 anos foi a segunda com maior número de abandono de tratamento que variou entre 5 e 50 casos notificados, seguido da faixa etária de 10 a 19 anos que variou de 0 a 9 casos notificados entre os anos pesquisados. A representação das demais faixas etárias foi aproximada no decorrer dos anos, no que se observa que os grupos populacionais com menos casos é o de idosos e o de crianças de 0 a 9 anos. Quanto à característica de escolaridade, o Gráfico 4 mostra a estratificação dos casos notificados de abandono do tratamento da tuberculose entre 2001 e 2011, segundo o nível de estudo. Gráfico 04 – Índice dos casos de abandono do tratamento da Tuberculose nos anos 2001 a 2011 no município de Natal, segundo nível de escolaridade. Natal/RN, 2012. 70 60 50 40 30 20 10 0 2001 2002 Ign/Branco 2003 Analfabeto 2004 2005 2006 Ensino fundamental 2007 2008 2009 Ensino Médio 2010 2011 Ensino superior Fonte: SINAN- Sistema de Informação de Agravos de Notificação- 2012 Ao se verificar a escolaridade desse grupo populacional, percebeu-se que o quantitativo de ignorado/branco foi preenchido em grande quantidade em todos os anos do estudo, sendo o item predominante no ano de 2002 e entre os anos de 2006 a 2011. Dentre os demais itens listados, identifica-se que a escolaridade do fundamental foi a que obteve um índice maior em todos os anos pesquisados e variou de 9 a 48 notificações entre 2001 e 2011, seguida da escolaridade de ensino médio, que variou de 1 a 23 notificações e posteriormente ao índice de analfabetismo, que variou de 2 a 16 casos notificados entre os anos pesquisados. Percebe-se que o ensino superior foi o que obteve um menor índice de escolaridade em todos os anos, sendo este dado, variável de 0 a 10 entre os anos de 2001 e 2011. Os casos de abandono registrados foram também organizados por tipo de entrada no sistema com vistas a visualizar os grupos que tiveram maior tendência à desistência do tratamento. Esses dados são mostrados na Tabela 1. Tabela 01- Distribuição dos casos de abandono do tratamento de Tuberculose para os anos 2001 a 2011 no município de Natal, RN segundo o tipo de entrada no sistema. Natal/RN, 2012. Ano Caso novo (%) Recidiva (%) Transferência (%) Reingresso após abandono (%) Total 2001 49 (84,5%) 03 (5,2%) -- 06 (10,3%) 58 2002 60 (83,3%) 03 (4,2%) -- 09 (12,5%) 72 2003 57 (58,2%) 08 (8,2%) -- 33 (33,6%) 98 2004 71 (71,0%) 09 (9,0 %) 01 (1,0%) 19 (19,0%) 100 2005 63 (67,0%) 04 (4,3%) 03 (3,2%) 24 (25,5%) 94 2006 109 (68,5%) 04 (2,5%) 12 (7,5%) 34 (21,5%) 159 2007 47(74,6%) 03 (4,7%) 02 (3,2%) 11 (17,5%) 63 2008 34 (66,6%) 00 (0,00%) 02 (4,0%) 15 (29,4%) 51 2009 46 (58,2%) 07 (8,9%) 05 (6,3%) 21 (26,6%) 79 2010 27 (60,0%) 01 (2,2%) 02 (4,5%) 15 (33,3%) 45 2011 17 (60,7%) 03 (10,7%) 01 (3,6%) 07 (25,0%) 28 Fonte: SINAN- Sistema de Informação de Agravos de Notificação- 2012 A Tabela 1 mostra uma predominância de abandono do tratamento da tuberculose nos anos 2001 a 2011 de casos novos, com índices de 58,2% a 84,5%, seguido de casos de reingresso após o abandono, recidiva e por último de transferência, com exceção dos anos de 2006 e 2008. Esses dois anos apresentaram percentuais maiores de entrada por transferência 7,5% e 4,0% respectivamente do que a recidiva, 2,5% e 0,0% conforme representado na Tabela 01. DISCUSSÃO Conforme observado nos resultados, o abandono do tratamento da TB no município de Natal-RN cresceu entre os anos de 2001 a 2006 e decresceu após esse período. No entanto, verifica-se que apesar dessa diminuição, o índice de abandono ainda não se encontra no limite desejado pelo MS, que é de 5%11. Esse órgão governamental preconiza que taxas de cura inferiores à meta preconizada de 85% e de abandono superiores a 5% demonstram a necessidade de aumentar a qualidade na cobertura do tratamento diretamente observado no país11. Nessa perspectiva, acredita-se que essa pode ter sido uma estratégia governamental do município que possibilitou a diminuição dos índices de abandono do tratamento identificados a partir de 2007. No entanto, isso não pode ser confirmado, uma vez que um estudo6 desenvolvido nesse local observou uma falta de informações acerca da organização da estratégia DOTS e sua efetividade no estado do RN, em especial em Natal, conforme relatos advindos de profissionais que atuam na Coordenação de Controle da TB das Secretarias Estadual e Municipal de Saúde. No tocante a essa localidade, observa-se que o município é dividido em cinco distritos sanitários, (Norte I, Norte II, Leste, Oeste e Sul) que possui 78 equipes de Estratégia Saúde da Família (ESF) com cobertura aproximada de 31,13% da população do Município12. Esse dado pode ser um fator que agrava o abandono do tratamento dessa doença, uma vez que grande parte da população não poderá ser assistida de forma adequada, o que dificultará o controle do segmento do tratamento da TB. Além desses fatores, observam-se ainda algumas peculiaridades do município de Natal que podem afetar diretamente a garantia do TS, como por exemplo, o fechamento de algumas unidades municipais de saúde e a pouca implantação de Estratégia de Saúde da Família e do programa de Agentes Comunitários de Saúde em alguns distritos sanitários dessa localidade. Esses fatores associados ou não podem contribuir para o aumento de números de desistência do tratamento da TB, uma vez que se supõe que os pacientes resistentes nessas áreas terão dificuldades de realizarem o TS. Quanto às características sociodemográficas dos pacientes que desistiram do tratamento da TB no município de Natal-RN entre os anos de 2001 e 2011 identificou-se um maior índice de desistência do tratamento de pessoas do sexo masculino do que do sexo feminino. Essa característica foi prevalente em outros estudos7,13,14. Esse dado é relevante, uma vez que ele pode estar relacionado a pouca frequência da procura de pessoas desse sexo a assistência à saúde, o que dificulta o estabelecimento de um vínculo com a equipe de saúde da família responsável pelo tratamento da TB. Isso predispõe a um investimento maior dos profissionais da saúde na atenção a essas pessoas, com vistas a garantir o cumprimento do esquema terapêutico estabelecido pelo MS e evitar o abandono do tratamento da TB, uma vez que, o vínculo e o acolhimento proporcionado pelos profissionais da saúde durante a prática do TS favorece a adesão ao tratamento da TB15. Com relação à faixa etária dos doentes que fizeram o abandono do tratamento nos anos pesquisados, observou-se o intervalo de 20 a 39 anos como o de maior ocorrência do abandono do tratamento. Ao se fazer um levantamento da literatura, percebe-se que se trata de uma faixa etária bem equivalente a outros estudos1, 14. Dessa forma, percebe-se que a desistência do cumprimento do esquema terapêutico da TB é realizada principalmente por indivíduos que estão em idade economicamente ativa e que poderiam estar inseridos no mercado de trabalho. No entanto, devido à constatação no presente estudo de uma maior prevalência de abandono do tratamento da tuberculose em pacientes com baixa escolaridade, pressupõe que eles possuem dificuldade de se inserir no mercado de trabalho. A deficiência de níveis de estudo entre os pacientes que abandonam o tratamento da TB também é expresso em outras pesquisas7, 13, 16 e está de acordo com o descrito no Manual Técnico para Controle da Tuberculose do Ministério da Saúde que enfatiza o teor social da doença. Sob essa ótica, um estudo realizado no Município de Piripiri, no Estado do Piauí traz dados estatisticamente semelhantes e significativos quando se refere a variável escolaridade, onde o baixo grau de instrução da população mostra-se como um fator importante, sendo um dos fatores de risco que mais concorrem para a não-aderência ao tratamento da tuberculose17. A baixa escolaridade é reflexo de todo um conjunto de condições socioeconômicas precárias, que aumentam a vulnerabilidade à tuberculose e são responsáveis pela maior incidência da enfermidade e pela menor aderência ao respectivo tratamento17. Associado a esse dado sociodemográfico outro estudo13 descreveu como trabalho dos pacientes de TB as atividades de coletador de lixo, doméstica, militar, motorista, pedreiro, serralheiro, vendedor e vigilante. Dessa forma, acredita-se que a carência de formação superior pode impedir diretamente a inserção desses indivíduos em trabalhos que fornecem uma boa remuneração. Com relação ao tipo de entrada dos casos de abandono levantados, observou-se predominância de abandono de casos novos e reingresso após abandono. Os casos de transferência e recidiva ocorreram em menor frequência, com exceção dos anos de 2006 e 2008, onde os casos de transferência representaram um aumento. Um estudo7 que avaliou os fatores prognósticos de desfecho do tratamento de TB refere um índice maior de abandono do tratamento em doentes reingressantes em detrimento dos casos novos. A literatura13,18, entretanto, em sua maioria, demonstra conformidade com os dados aqui analisados, uma vez que os casos novos aparecem como o maior índice de abandono. O reingresso após abandono aparece em elevado índice juntamente como o abandono nos casos novos. Nessa perspectiva, deve ser considerado o fato de que quanto mais o doente abandona o tratamento e reinicia o esquema, maiores são as chances de falência dos fármacos, principalmente pelo desenvolvimento da multirresistência, o que contribui para o agravamento da doença19. CONCLUSÃO O levantamento epidemiológico permitiu a observação da diminuição do índice do abandono do tratamento da tuberculose nos últimos cinco anos, o que predispõe a ideia de que houve algum investimento governamental no que se refere à melhora do acompanhamento dos casos diagnosticados e uma maior qualidade na cobertura do tratamento diretamente observado no município. No entanto, não foi possível evidenciar se a diminuição desses índices está diretamente relacionada ao impacto da implantação do DOTS em Natal, uma vez que não se encontrou na literatura estudos que descrevessem sobre essa temática no município. Por esse motivo, torna-se necessário que outros estudos sejam desenvolvidos, com vistas elucidar essa lacuna. Quanto ao perfil dos casos de abandono registrados identificou-se uma predominância de pessoas do sexo masculino, em idade economicamente ativa e com baixa escolaridade. Além disso, observou-se um maior índice de desistência do esquema terapêutico da tuberculose em casos novos em detrimento de reincidentes, recidiva e transferência. A partir destes dados percebe-se que os casos de abando do tratamento de tuberculose têm diminuído, embora ainda existam. E com este estudo tem-se importantes informações sobre a população mais vulnerável para que, dessa forma se possa intervir mais diretamente nestes indivíduos. Por fim, fica evidente que os investimentos no acompanhamento do tratamento dos casos diagnosticados de tuberculose foi efetivo na diminuição do abandono do tratamento, prática bastante comum entre os pacientes portadores de TB. Diante disso, os governantes devem intensificar esta prática junto aos serviços de saúde para que cada vez mais os pacientes e profissionais se responsabilizem pela terapia. REFERÊNCIAS 1. Souza KMK et al, Abandono do tratamento de tuberculose e relações de vínculo com a equipe de saúde da família. Rev Esc Enferm USP 2010; 44(4):904-11. 2. Sá, LD et al. Tratamento da tuberculose em unidades de saúde da família: histórias de abandono. Texto contexto Enferm 2007; 16(4): 712-718. 4. Fundação Nacional de Saúde. Plano nacional de controle da tuberculose. Brasília, Ministério da Saúde, 1999. 5. Ministério da Saúde (Brasil). Departamento de Vigilância Epidemiológica. Plano Nacional de Controle da Tuberculose. Brasília: Ministério da Saúde, 2004. 6. Andrade HLP, Enders BC, Miranda FAN. Percepção de profissionais da estratégia de saúde da família de um distrito sanitário de Natal-RN quanto ao DOTS 2009. Rev pesq cuid fundam online 2012; 4(1):2841-48. 7. Ferreira SMB, Silva AMC, Botelho C. 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