Fundamentos de Filosofia e Educação

Propaganda
Fundamentos de
Filosofia e Educação
Professor conteudista: Vladimir fernandes
Sumário
Fundamentos e filosofia e educação
Unidade I
1 A CONDIÇÃO HUMANA ...................................................................................................................................1
2 A CONSCIÊNCIA MÍTICA ..................................................................................................................................3
2.1 A origem do Universo ............................................................................................................................5
2.2 Funções do mito ......................................................................................................................................6
2.3 Mito e religião ..........................................................................................................................................7
2.3.1 A transição do mito para religião........................................................................................................8
2.3.2 A relação signo significado ....................................................................................................................9
2.3.3 A relação simpática e a introdução do logos .................................................................................9
2.3.4 Magia e sacrifício .................................................................................................................................... 10
2.3.5 Tabu e ética ................................................................................................................................................11
3 DO MITO À RAZÃO: O NASCIMENTO DA FILOSOFIA .......................................................................... 13
4 OS PRIMEIROS FILÓSOFOS........................................................................................................................... 14
Unidade II
5 A REFLEXÃO FILOSÓFICA .............................................................................................................................. 23
6 SÓCRATES ........................................................................................................................................................... 25
6.1 Diferentes olhares ................................................................................................................................ 25
6.2 Sócrates, segundo Aristófanes ........................................................................................................ 25
6.3 Sócrates, segundo Xenofonte.......................................................................................................... 26
6.4 Sócrates, segundo Platão .................................................................................................................. 27
6.5 O cidadão ateniense ............................................................................................................................ 29
6.6 Discurso de defesa ............................................................................................................................... 30
6.7 Condenação e discussão da pena .................................................................................................. 32
6.8 “Conhece-te a ti mesmo” .................................................................................................................. 35
6.9 O banquete ............................................................................................................................................. 36
7 LÓGICA FORMAL .............................................................................................................................................. 39
7.1 Argumento dedutivo........................................................................................................................... 40
7.2 Argumento indutivo............................................................................................................................ 41
7.3 Argumento por analogia ................................................................................................................... 41
7.4 Falácias ..................................................................................................................................................... 41
Unidade III
8 A TEORIA DO CONHECIMENTO NA ANTIGUIDADE............................................................................. 48
9 PLATÃO ............................................................................................................................................................... 48
9.1 A alegoria da caverna ......................................................................................................................... 49
10 ARISTÓTELES .................................................................................................................................................. 52
11 A FILOSOFIA MEDIEVAL: PATRÍSTICA E ESCOLÁSTICA .................................................................... 53
12 A TEORIA DO CONHECIMENTO NA IDADE MODERNA ................................................................... 55
12.1 O racionalismo .................................................................................................................................... 56
12.2 O empirismo......................................................................................................................................... 57
12.3 O criticismo kantiano ....................................................................................................................... 57
Unidade IV
13 PRESSUPOSTOS EPISTEMOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO ..................................................................... 65
13.1 Empirismo e a pedagogia diretiva .............................................................................................. 65
13.2 Apriorismo e a pedagogia não diretiva .................................................................................... 66
13.3 Construtivismo e a pedagogia relacional ................................................................................ 66
14 CULTURA E EDUCAÇÃO .............................................................................................................................. 67
15 DIVERSOS TIPOS DE CULTURA................................................................................................................. 68
16 PLURALIDADE CULTURAL E EDUCAÇÃO .............................................................................................. 70
17 KANT – EDUCAÇÃO PARA AUTONOMIA: A SAÍDA DA MENORIDADE ..................................... 73
18 HANNAH ARENDT: CRISE NA EDUCAÇÃO .......................................................................................... 74
18.1 Hannah Arendt: autoridade e educação .................................................................................. 77
FUNDAMENTOS DE FILOSOFIA E EDUCAÇÃO
Unidade I
APRESENTAÇÃO
Caro aluno,
Esta disciplina tem como objetivos:
• Refletir sobre as diferenças entre o ser humano e o animal e sobre o processo de humanização.
• Analisar as características do pensamento mítico e dos fatores que possibilitaram a transição da
consciência mítica para o pensamento racional filosófico.
• Identificar a filosofia como uma reflexão profunda, rigorosa e global sobre os problemas que o ser
humano enfrenta na construção de sua existência.
• Examinar o problema do conhecimento ao longo da história da filosofia.
• Estudar o conceito de cultura e considerar as relações entre cultura e educação.
• Analisar os pressupostos filosóficos da educação evidenciando as diferentes abordagens
epistemológicas.
DO MITO À FILOSOFIA
1 A CONDIÇÃO HUMANA
O que é o ser humano? Pode-se dizer que existe uma natureza humana universal? Afinal qual a melhor
forma de definirmos o ser humano e ao mesmo tempo o diferenciarmos dos outros seres vivos? É provável que
muitos de vocês já se tenham feito essas perguntas. A necessidade de responder essas questões deve-se ao
fato de as repostas servirem como pressupostos, os quais servirão de embasamento a análises posteriores.
Convido você a ler abaixo o relato sobre Amala e Kamala e a refletir sobre o tornar-se humano.
Na Índia, onde os casos de meninos-lobo foram relativamente numerosos, descobriram-se,
em 1920 duas crianças, Amala e Kamala, vivendo no meio de uma família de lobos. A primeira
tinha um ano e meio e veio a morrer um ano mais tarde. Kamala, de oito anos de idade, viveu
até 1929. Não tinham nada de humano e seu comportamento era exatamente semelhante
àquele de seus irmãos lobos.
Elas caminhavam de quatro patas apoiando-se sobre os joelhos e cotovelos para os pequenos
trajetos e sobre as mãos e os pés para trajetos longos e rápidos.
1
Unidade I
Eram incapazes de permanecer de pé. Só se alimentavam de carne crua ou podre, comiam e
bebiam como os animais, lançando a cabeça para frente e lambendo os líquidos. Na instituição
onde foram recolhidas, passavam o dia acabrunhadas e prostradas numa sombra, eram ativas
e ruidosas durante a noite, procurando fugir e uivando como lobos. Nunca choraram ou
riram.
Kamala viveu durante oito anos na instituição que a acolheu, humanizando-se lentamente.
Ela necessitou de seis anos para aprender a andar e pouco antes de morrer só tinha um
vocabulário de cinquenta palavras. Atitudes afetivas foram aparecendo aos poucos.
Ela chorou pela primeira vez por ocasião da morte de Amala e se apegou lentamente às
pessoas que cuidaram dela e às outras crianças com as quais conviveu.
A sua inteligência permitiu-lhe comunicar-se com outros por gestos, inicialmente, e depois
por palavras de um vocabulário rudimentar, aprendendo a executar ordens simples (Reymond,
1965 apud Capalbo, p. 25-26).
O texto acima nos leva a refletir sobre o processo de humanização. Embora o ser humano possua um
potencial racional, o desenvolvimento da sua humanidade depende de um processo de aprendizagem.
Daí os questionamentos: como definir o ser humano? Como diferenciar o ser humano dos outros seres
vivos?
Há muito tempo que o ser humano se depara com esses questionamentos, e as respostas, embora
não divergentes, têm apontado enfoques diferentes. Platão buscou responder isso com base na relação
entre o gênero próximo ao ser humano – bípede – e sua diferença específica – sem penas; dessa forma,
chegou à definição do ser humano com um bípede implume. Com base na mesma analogia, mais
conhecida e utilizada, tornou-se à definição de Aristóteles, ao conceber que o homem é um animal
racional, ou ainda que o homem é um animal político, ênfase dada nos seus escritos sobre política. Marx
e Engels em Ideologia alemã, caracterizam o homem como
Para refletir
um homo faber, homem fabricante, homem construtor de
coisas. Ernst Cassirer no seu Ensaio sobre o homem defende
E você, como define o ser humano?
a tese de que é mais adequado definir o homem como um
Qual a característica mais fundamental,
animal symbolicum, um ser que se relaciona com o mundo
na sua opinião, que distingue o ser
humano dos outros seres vivos?
através de um sistema simbólico, como a linguagem.
Saiba mais
O homem é um animal simbólico, segundo Ernst Cassirer.
O homem não pode fugir à sua própria realização. Não pode senão adotar as condições
de sua própria vida. Não estando mais num universo meramente físico, o homem vive em
2
FUNDAMENTOS DE FILOSOFIA E EDUCAÇÃO
um universo simbólico. A linguagem, o mito, arte e a religião são partes desse universo.
São os variados fios que tecem a rede simbólica, o emaranhado da experiência humana.
Todo progresso humano em pensamento e experiência é refinado por essa rede, e a
fortalece. O homem não pode mais confrontar-se com a realidade imediatamente;
não pode vê-la, por assim dizer, frente a frente. A realidade física parece recuar
em proporção ao avanço da atividade simbólica do homem. Em vez de lidar com as
próprias coisas o homem está, de certo modo, conversando constantemente consigo
mesmo. Envolveu-se de tal modo em formas linguísticas, imagens artísticas, símbolos
míticos ou ritos religiosos que não consegue ver ou conhecer coisa alguma a não ser
pela interposição desse meio artificial. Sua situação é a mesma tanto na esfera teórica
como na prática. Mesmo nesta, o homem não vive em um mundo de fatos nus e crus,
ou segundo suas necessidades e desejos imediatos. Vivi antes em meio a emoções
imaginárias, em esperanças e temores, ilusões e desilusões, em suas fantasias e sonhos.
“O que perturba e assusta o homem”, disse Epíteto, “não são as coisas, mas suas opiniões
e fantasias sobre as coisas.”
A partir do ponto de vista a que acabamos de chegar, podemos corrigir e ampliar
a definição clássica do homem. A despeito de todos os esforços do irracionalismo
moderno, essa definição do homem como um animal rationale não perdeu sua força.
A racionalidade é de fato um traço inerente a todas as atividades humanas. (...)
Os grandes pensadores que definiram o homem como animal rationale não eram
empiristas, nem pretenderam jamais dar uma explicação empírica da natureza humana.
Com essa definição, estavam antes expressando o imperativo moral fundamental. A
razão é um termo muito inadequado com o qual compreender as formas da vida
cultural do homem em toda a sua riqueza e variedade. Mas todas essas formas
são formas simbólicas. Logo, em vez de definir o homem como animal rationale,
deveríamos defini-lo como animal simbólico. Ao fazê-lo, podemos designar sua
diferença específica, e entender o novo caminho aberto para o homem – o caminho
para a civilização (Cassirer, 1994, p. 50).
2 A CONSCIÊNCIA MÍTICA
Antes de abordarmos a reflexão filosófica propriamente dita, falaremos um pouco do pensamento
mítico. Mas por que abordar o pensamento mítico? Porque o pensamento mítico é anterior à Filosofia.
Quando a filosofia surge, na Grécia antiga, ela se depara com um mundo povoado por concepções
míticas. Um mundo “povoado” por deuses, deusas, heróis e monstros.
Afinal o que vem a ser mito? O que, em geral, as pessoas entendem por mito?
Muitas pessoas definem os mitos como estórias desconexas, como fantasias criadas sem qualquer
relação com a realidade ou como um conjunto caótico de supertições. Mas será que os mitos se limitam
a essas definições?
3
Unidade I
Vamos tomar como exemplo um mito grego sobre o rapto de Cora. Personagens que aparecem nesse
mito:
Deméter: deusa das colheitas.
Cora: filha de Deméter.
Hades: deus do subterrâneo.
Zeus: deus dos deuses.
Hermes: mensageiro dos deuses.
Cora, filha da deusa das colheitas, Deméter, brinca pelos campos verdejantes da Grécia. Cora é uma
adolescente cheia de vida. Ela corre, pula, brinca com as flores e com as borboletas. Mas Cora não sabe
que está sendo observada. Perto dali, Hades, deus do subterrâneo, observa Cora brincar e pensa: que
bela adolescente essa Cora!
Hades então resolve raptar a doce Cora. Ele coloca em movimento sua carruagem puxada por dez
fortes cavalos e parte em sua direção. Cora, ao perceber o que se passa, corre, mas em vão. Hades toma
Cora em seus braços e a leva. No mesmo momento se abre no chão uma grande fenda, e a carruagem
desce para o centro da terra.
Ao cair da noite, a mãe de Cora, Deméter, sente sua falta e sai à sua procura. Dois camponeses que
presenciaram a cena contam-lhe o que aconteceu. Deméter fica louca de dor e desconsolada proíbe que
as plantas, o capim, as árvores, as frutas e os cereais cresçam.
Os camponeses ficam preocupados e tristes, pois sem o crescimento das plantas eles irão perecer.
Eles imploram aos deuses para que o verde retorne. Os deuses pedem para Deméter deixar a vegetação
crescer, mas ela está irredutível: nada crescerá ou voltará a florescer enquanto Cora não voltar.
Zeus resolve intervir. Manda o mensageiro Hermes ao inferno falar com Hades para trazer Cora de
volta. Mas ela só poderá voltar se não tiver comido nenhuma comida do reino dos mortos. O jardineiro
informa a Hermes que ela havia comido sete sementes de romã. Dessa forma, Cora não poderia voltar.
Mas Deméter não volta atrás de sua decisão e não permite que nada floresça.
Zeus então estuda o problema e propõe uma possível solução para o impasse: como ela comeu
apenas sete sementes de romã, durante seis meses Cora ficará morando com Hades no subterrâneo, será
sua esposa e se chamará Perséfone (aquela que causa destruição). Durante os outros seis meses, Cora
voltará e passará em companhia de sua mãe, Deméter.
Quando Cora está com sua mãe, esta fica muito feliz. Nesse período, a natureza reflete a felicidade
de Deméter: a terra está coberta de verde com flores e frutos.
Quando vai se aproximando o momento de Cora partir, sua mãe vai ficando triste e a vegetação
também começa a mudar. Quando Cora retorna ao subterrâneo com Hades, as folhas começam a secar
4
FUNDAMENTOS DE FILOSOFIA E EDUCAÇÃO
e a cair. As plantas e os frutos cessam de crescer e nada mais
floresce. Até o sol não brilha com a mesma intensidade de
antes.
Quando novamente se aproxima o momento de Cora
voltar sua mãe vai ficando alegre e a natureza começa a
florescer novamente. E assim sucessivamente.
Para refletir
Qual o significado desse mito?
Como a ciência explica o mesmo
fenômeno abordado nesse mito?
2.1 A origem do Universo
Segundo a Teogonia de Hesíodo, no princípio de tudo havia apenas o Caos, (Kháos), uma espécie de
vazio escuro ilimitado e indefinido. Depois, do seio do Caos surgiu a Terra (Gaia). Nossa mãe Terra nasceu
depois do Caos e de certa forma representa o seu contrário. Jean-Pierre Vernant (2000) explica que a
Terra surge como forma distinta, separada, precisa; enquanto o Caos representa confusão, indistinção,
desordem. A Terra é o chão do mundo, lugar onde os deuses, os homens e os bichos poderão andar com
segurança.
Teogonia: gr. theogonía,as “origem ou genealogia dos deuses”. Nas religiões politeístas,
narração do nascimento dos deuses e apresentação da sua genealogia (Dicionário Eletrônico
Houaiss da Língua Portuguesa).
Depois, em terceiro lugar, aparece Eros, que mais tarde se chamaria amor. Este é o Eros primordial,
ainda não há o masculino e o feminino, é o Eros que expressa o impulso do Universo em se manifestar,
de trazer à luz o que está oculto na escuridão.
A Terra (Gaia) é a mãe, é feminina, mas vai parir sem precisar se unir a ninguém. Gera do seu ventre
o Céu (Urano) e as águas. Segundo Vernant (2000), ela dá à luz os seus contrários: se ela é chão firme,
gera uma abóbada estrelada e gera também as águas e as ondas.
Eros atua de outra forma agora. Céu e Terra precisam se unir para gerar outros seres. Céu tem uma
atividade incessante com a Terra. Terra fica grávida de vários filhos (os Titãs), que não encontram espaço
para sair, já que o Céu está deitado constantemente sob a Terra.
Os filhos de Terra (Gaia) e Céu (Urano) são seis Titãs e suas irmãs Titânidas. Nascem também dois trios
de gigantes: três Ciclopes, de um só olho cada um, e três Cem braços.
Separação entre Céu e Terra
A Terra fica furiosa por reter os filhos em seu ventre e pede para que eles ajudem a libertá-la das
injúrias do pai. Ainda não há luz, já que Urano fica constantemente deitado sob Gaia.
Gaia elabora um plano. Gera dentro de si um tipo de foice, depois a coloca na mão de Cronos, o
mais jovem dos Titãs. Ele está no ventre da mãe e fica à espreita. Quando Urano se deita para possuí-la,
5
Unidade I
Cronos corta o órgão sexual do pai e o joga por cima do ombro para as ondas do mar. Nesse ato, Urano
grita de dor e se afasta de Gaia, instalando-se no alto, onde está até hoje. Assim, separa-se o Céu da
Terra, e os filhos podem nascer.
Cria-se, dessa forma, um espaço livre entre o Céu e a Terra, que possibilita a vida e a reprodução dos
seres. Surgem agora o dia e a noite que se revezarão. Urano separado de Gaia não se une mais a ela, a
não ser através das chuvas fecundantes, que irão gerar outros seres.
2.2 Funções do mito
A palavra mito tem sua origem etimológica em mythos, que significa “palavra”, “o que se fala”. Quem
era o “falador” desses mitos na Grécia antiga? De um modo geral, os mitos faziam parte da cultura
e eram contados pelos pais, pelas amas de leite, pelas pessoas em geral, pelos aedos (isto é poetas
cantores). Esses últimos, os poetas, tinham um papel de destaque na narrativa mítica, uma vez que eram
considerados escolhidos pelos deuses para narrarem poeticamente os acontecimentos divinos. Em uma
cultura oral, esses poetas vão pelas praças contando as estórias envolvendo os deuses e, assim sendo,
ajudam a manter viva a memória do seu povo.
Desse modo, o mito é uma forma de explicar o mundo, de atribuir sentido ao existente e assim
tranquilizar o ser humano. Trata-se de uma verdade intuída, cuja autoria se perde no tempo, sendo, em
geral, considerado como uma produção anônima e coletiva.
Os dois poemas épicos mais importantes da literatura grega (e também da literatura ocidental), Ilíada
e Odisseia têm como possível autoria o poeta Homero. Por outro lado, há intérpretes que consideram
que essas duas obras não foram escritas por um único poeta, mas sim por vários.
Épico: 1 que relata, em versos, uma ação heróica. 2 relativo a ou próprio de epopeia ou
de heróis 3 digno de figurar em uma epopeia; que tem a dimensão dos motivos ou dos heróis
da epopeia; heróico 4 de intensidade ou grandeza fora do comum; fantástico, desmedido,
grandioso, homérico, memorável (Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa).
A Ilíada aborda a guerra que aconteceu em Troia (em grego Ílion) envolvendo gregos e troianos. E a
Odisseia narra o retorno de Troia de um de seus principais guerreiros, Ulisses (em grego Odisseu), para
sua pátria Ítaca.
Mas os mitos não foram produzidos apenas na Grécia antiga. Diferentes povos em diferentes épocas
produziram seus próprios mitos, como, por exemplo, os mitos produzidos por tribos indígenas da floresta
amazônica.
O ponto comum entre as diferentes concepções míticas é a busca por dar sentido ao mundo, por dar
uma explicação para os fenômenos desconhecidos. Dessa forma
6
FUNDAMENTOS DE FILOSOFIA E EDUCAÇÃO
pode-se dizer que o problema sobre o conhecimento sempre preocupou o ser humano, mesmo
quando ele não tinha isso claramente explicitado. Encontramos no mito a primeira tentativa
de se “conhecer” o mundo, ou de pelo menos de lhe atribuir um sentido. O homem primitivo
diante de um mundo desconhecido, cheio de mistérios como o nascimento, a morte, a sucessão
alternada entre dias e noites, as mudanças climáticas etc., tinha necessidade de entender esse
mundo. Essa necessidade é própria da condição humana já que o ser humano, diante do medo
e do desconforto produzido pelo desconhecido precisa dar-lhe sentido. O caos necessita ser
ordenado pela cosmogonia mítica para o ser humano encontrar o seu lugar. Da mesma forma
que o ser humano teve de construir suas armas, ferramentas, roupas, moradia etc., teve também
de construir uma linguagem, dar nome às coisas, atribuir sentido ao existente. Quando o ser
humano chega ao mundo não existe um livro que contenha as respostas para suas inquietações.
Precisa elaborar tanto o livro, quanto às respostas e as próprias perguntas. No pensamento
mítico a força da tradição e do coletivo é muito intensa para que se desconfie de suas próprias
concepções, mas no decorrer do processo dialético da história, chega-se a um momento em que
se começa a desconfiar desse saber mítico1.
Cosmogonia: do gr. kosmogonía. Qualquer narrativa, doutrina ou teoria a respeito da
origem do mundo ou do Universo (Dicionário Eletrônico Aurélio da Língua Portuguesa).
2.3 Mito e religião2
Segundo o filósofo Ernst Cassirer, mito e religião são formas distintas de atribuir sentido ao mundo,
muito embora possuam como ponto de partida problemas comuns e fundamentais da vida humana.
Entre esses problemas, destaca-se o da morte.
A ideia de que a morte seja algo natural e previsível da condição humana não está presente, segundo
Cassirer, nem no mito nem na religião primitiva. “A concepção de que o homem é mortal, por sua
natureza e essência, parece ser inteiramente estranha ao pensamento mítico e religioso primitivo” (1994,
p. 140). A morte sempre aparece associada a causas não naturais, como magia, bruxaria entre outros.
Cassirer, no seu Ensaio sobre o homem, endossa a tese que Herbert Spencer defende de “que o culto aos
ancestrais deve ser considerado como a primeira fonte e a origem da religião” (1994, p. 141). Segundo
Cassirer, essa é realmente uma prática comum em diferentes culturas, como em várias tribos indígenas,
na Roma antiga ou mesmo na China. “Tudo isso mostra de maneira clara e inequívoca que temos aqui
uma característica realmente universal, irredutível e essencial, da religião primitiva” (1994, p. 143).
Embora a morte se apresente a princípio como um mistério e possa desencadear o medo e, consequentemente,
práticas para que o espírito não retorne, em geral, a tendência oposta é a que predomina. Os rituais são realizados
para fazer com que os fantasmas dos mortos se tornem deuses familiares. Segundo Cassirer, o pensamento
mítico e o religioso têm suas origens em iguais acontecimentos fundamentais da existência.
Fernandes, Ensaios. Primeiro ensaio: reflexões sobre o conhecimento. Disponível em <www.poetizando.v10.com.br>.
O texto do item 2.3 a 2.3.5 foi extraído de Fernandes (2004).
1
2
7
Unidade I
Em todo o curso de sua história, a religião permanece indissoluvelmente ligada a elementos
míticos, e impregnada deles. Por outro lado o mito, mesmo em suas formas mais grosseiras
e rudimentares, traz em si alguns motivos que de certo modo antecipam os ideais religiosos
superiores que chegam depois. Desde o início, o mito é religião em potencial. O que leva
de um estágio para outro não é nenhuma crise repentina de pensamento, nem qualquer
revolução de sentimento (Cassirer, 1994, p. 146).
Dessa forma, embora haja elementos comuns entre o mito e a religião, a forma como a religião
trata esses elementos vai caracterizando seu distanciamento gradativo e, por fim, radical em relação ao
pensamento mítico.
2.3.1 A transição do mito para religião
Segundo Cassirer, o mito é a forma mais primitiva de conformação espiritual do mundo. “Muito
antes que o mundo se dê a consciência como um conjunto de ‘coisas’ empíricas e como um complexo
de ‘propriedades’ empíricas, se lhe dá como um conjunto de potências e influxos mitológicos” (1998, p.
17).
Assim, as demais formas simbólicas ou as demais formas compreensivas da realidade possuem
no mito seu núcleo originário comum. Mas Cassirer não defende um progresso evolutivo semelhante
ao de Comte, em que se passaria pela etapa do “teológico” ao “metafísico” e deste ao “positivo”. Para
Cassirer, não se chega a um puro estado racional em que o mito seria totalmente superado. Não existe
tal processo evolutivo unidirecional, as formas simbólicas estão justapostas, são irredutíveis umas às
outras e possuem o mesmo grau de objetividade. O que existe, na verdade, é um permanente conflito
entre e intra as formas simbólicas. Nas palavras de Cassirer, no seu Ensaio sobre o homem: “Se existe
um equilíbrio na cultura humana, só pode ser descrito como dinâmico, e não estático; resulta de
uma luta entre forças opostas” (1994, p. 363). Essas forças opostas são as várias formas simbólicas,
mito, religião, ciência etc., que na sua autoafirmação produzem esse equilíbrio conflituoso e, segundo
Cassirer, em todas as atividades humanas existe “uma tensão entre estabilização e evolução, entre
uma tendência que leva a formas fixas e estáveis de vida e outra que rompe com esse esquema rígido”
(idem, p. 365). Assim, além do conflito existente entre as formas simbólicas, as antinomias da cultura,
existe também dentro de cada forma simbólica uma tensão entre estabilidade e evolução. O homem
encontra-se dentro dessas tendências, entre as forças da preservação e as forças da mudança. Como
o homem é um ser dinâmico e criativo e também o próprio agente dessas forças, ocorre que quando
uma força se torna preponderante e rompe com a antiga, tem-se a configuração de uma nova forma
particular. Nas palavras de Cassirer,
Há uma luta incessante entre a tradição e a inovação, entre forças produtivas e criativas. Esse
dualismo é encontrado em todos os domínios da vida cultural. O que varia é a proporção dos
fatores opostos. Ora um fator, ora outro, parece preponderar. Essa preponderância determina
em alto grau o caráter das formas isoladas e confere a cada uma delas a sua fisionomia
particular (ibidem).
8
FUNDAMENTOS DE FILOSOFIA E EDUCAÇÃO
Quando as forças da mudança se tornam preponderantes, dialeticamente se desprendem do seu
núcleo original configurando sua própria fisionomia e autonomia, ocorre uma mudança na visão de
mundo dessa nova forma que já não a torna possível conviver com a qual pertencia.
Tal tensão também se faz presente no processo gradativo de transição do mito e da religião primitiva
para a religião. Conforme exposto no Ensaio sobre o homem:
O interdito sob o qual a vida humana fora posta pelo pensamento mítico e religioso primitivo
é gradualmente afrouxado, e finalmente dá mostras de ter perdido a sua força coesiva. Surge
uma nova forma dinâmica de religião que abre uma nova perspectiva de vida moral e religiosa.
Nessa religião dinâmica, os poderes individuais obtiveram a predominância sobre os simples
poderes de estabilização. A vida religiosa alcançou sua maturidade e sua liberdade; quebrou
o feitiço de um tradicionalismo rígido (p. 367).
Dessa forma, a transição do mito para a religião ocorre por um processo lento, gradual e
dialético, resultante da tensão entre as forças de conservação e de transição no interior do
pensamento mítico. Se ao final desse processo se pode observar elementos comuns entre o
mito e a religião, o mesmo não se pode dizer em relação à sua forma. Algumas das principais
diferenças entre mito e religião podem ser apontadas nos seguintes aspectos: a. a relação signo
e significado; b. a relação simpática e a introdução do lógos; c. magia e sacrifício; d. tabu e ética.
Vejamos cada uma delas.
2.3.2 A relação signo e significado
O pensamento mítico não diferencia nem signo do significado nem imagem da coisa. O signo e a
imagem estão como que “colados” aos atributos das coisas que designam e assumem, dessa forma,
as propriedades da própria coisa. Já no pensamento religioso há uma mudança radical em relação a
esse aspecto. A religião, ao utilizar imagens e signos sensíveis em relação ao divino, utilizam-nos como
representação. Cassirer cita a crítica que Isaías (44-9) faz à adoração de imagens:
Parte da lenha queima no fogo... E transforma sua sobra em um deus, em sua escultura;
humilha-se diante dela, adora, e roga dizendo: livra-me, que meu deus és tu (...). Diante de
um tronco de árvore tenho de me humilhar? (Cassirer, 1998, p. 295).
Enfim, no pensamento religioso não se concebe, como no pensamento mítico, que a imagem é o
próprio deus e como tal é dotada de poderes, mas sim que a imagem apenas representa ou remete ao
deus ou à divindade.
2.3.3 A relação simpática e a introdução do lógos
Tanto no mito como na religião, Cassirer identifica uma crença na “simpatia pelo todo”, mas também
que a simpatia religiosa é diferente da simpatia mítica.
9
Unidade I
No pensamento mítico, o homem está em comunhão com a natureza, como se fosse um único
organismo. Os ritos garantem a continuidade dos ciclos da natureza e da existência humana. O homem
intervém na natureza através de ritos e práticas mágicas. Já no pensamento religioso, a natureza passa
a ser abordada do ponto de vista racional e não exclusivamente emocional.
Nenhuma religião pôde jamais pensar em cortar, ou sequer afrouxar, os laços entre
o homem e a natureza. Mas nas grandes religiões éticas esse laço é feito e apertado
em um novo sentido. A ligação simpática que encontramos na magia e na mitologia
primitiva não é negada ou destruída; mas a natureza é agora abordada do ponto de
vista racional, em vez do emocional. Se a natureza contém um elemento divino, ele
não aparece na abundância da sua vida, mas na simplicidade da sua ordem (Cassirer,
1994, p. 165).
Aqui também se pode exemplificar um novo enfoque. Enquanto o mito “explica” suas crenças de
uma forma emocional, a religião utiliza o lógos, explica sua crença com base em argumentos racionais.
Mesmo com relação àquilo que é “inexplicável”, passa a argumentar o porquê de tal condição. Na
verdade, o lógos já se faz presente também na relação signo e significado, na não identidade entre o
representante e o representado.
2.3.4 Magia e sacrifício
Outro aspecto importante é a transformação da relação entre o ser humano e o divino.
A relação mágica vai sendo lentamente substituída por um outro tipo de relação. “Em seu
sentido original, todo sacrifício entranha um fator negativo: significa uma limitação do apetite
sensível, uma renúncia que o eu se impõe a si mesmo” (Cassirer, 1998, p. 274). O sacrifício se
eleva acima da visão mágica, pois nesta inicialmente não há limitação para o cumprimento dos
desejos humanos. A magia é um instrumento para “manipular” os desejos das forças espirituais
e colocá-las a serviço do homem; ela não conhece limites na sua ação de submeter-se à vontade
dos deuses. Já no sacrifício está presente outro elemento e direção. Desde os seus primeiros
estágios, está presente a concepção de que o poder está relacionado proporcionalmente a uma
autocontinência, a uma abstinência correlativa. Nesse ato negativo do sacrifício e do ascetismo,
emerge uma nova consciência de si e do divino. O homem toma consciência de que não é dotado
de onipotência, mas que está sujeito a limites, e também que o divino é um poder superior não
manipulável através da magia, mas que através da oração e do sacrifício pode ser aplacado.
Quando o sacrifício deixa de ser meramente material, como, por exemplo, de animais, para um
sacrifício interno, de “veneração”, o que passa a ser importante não é mais o “ conteúdo da
oferenda”, mas sim a “forma de dar”. Aqui a oferenda é interiorizada e a verdadeira oferenda
passa a ser a interioridade do homem. Cassirer identifica uma virada semelhante na religião
profética em relação ao sacrifício. Cita Isaías (1:11-17): “Para que a mim, disse Jeová, a grande
quantidade de vossos sacrifícios? Farto estou do holocausto de carneiros e do sebo de animais(...)
Aprende a fazer o bem” (1925a, p. 278). Entre o homem e o divino se estabelece então uma
relação essencialmente ética.
10
FUNDAMENTOS DE FILOSOFIA E EDUCAÇÃO
2.3.5 Tabu e ética
Outro elemento importante é a substituição do tabu pela ética. O tabu é marcado como algo
proibido, sobrenatural e que não se deve ter contato (pode ser um objeto, um lugar, uma ação etc.)
sob risco de castigo. No sistema de tabu, não há responsabilidade individual. Se alguém desrespeita
o tabu, não é só ele que receberá castigo, mas toda sua família ou tribo. Deve-se então recorrer
aos ritos de purificação para transferir a impureza para um “bode expiatório” ou a um pássaro e
restabelecer o equilíbrio. Outro aspecto é que a contaminação pelo contato com o objeto tabu é de
forma “mecânica”. Pouco importa se o contato com o mesmo foi proposital, acidental, por ignorância
etc., a contaminação será certeira.
(...) A ação do tabu é sempre mecânica; o contato com o objeto tabu comunica a sua infecção
com tanta certeza quanto o contato com água comunica a umidade, ou com uma corrente
elétrica comunica um choque elétrico (Jevons apud Cassirer,1994, p. 176).
Para Cassirer, nesse aspecto, no pensamento religioso, ocorrerá um gradual processo que
levará a uma “mudança de sentido” em relação à pureza ou impureza dos objetos. Ele afirma que
tal mudança pode ser encontrada no Velho Testamento e que ocorreu no desenvolvimento do
judaísmo.
O ideal de pureza significa algo totalmente diferente de todas as concepções míticas
precedentes. Procurar por pureza ou impureza em um objeto, em uma coisa material, passou
a ser impossível. Mesmo as ações humanas, como tais, deixaram de ser vistas como puras ou
impuras. A única pureza que tem significado e dignidade do ponto de vista da religião é a
pureza do coração (Cassirer, 1994, p. 177).
Essa mudança remete à outra também importante. O sistema de tabus obriga ao homem uma série de
deveres e de obrigações. E entre esses há de comum o fato de serem totalmente negativos, sem nenhum
caráter positivo. O sistema de tabus, embora seja, por um lado, uma importante forma de regular as
ações humanas e a vida social, por outro lado, ele ameaça paralisar a vida com suas restrições. Já que em
alguns casos não se pode comer determinados alimentos, andar ou ficar parado em determinados locais
ou pronunciar tais palavras. Seu fio condutor é a proibição e consequentemente o medo e, derivado
desta, a obediência passiva. Segundo Cassirer, as grandes religiões transformam essa submissão passiva
em um sentimento positivo.
No entanto, os grandes mestres religiosos da humanidade encontraram um novo impulso
(...). Transformaram a obediência passiva em um sentimento religioso ativo. Todas as
religiões éticas superiores – a religião dos profetas de Israel, o zoroastrismo, o cristianismo
– propuseram-se uma tarefa comum. Elas aliviam o peso intolerável do sistema de tabus,
mas em compensação descobrem um sentido mais profundo de obrigação religiosa, que em
vez de ser uma restrição ou compulsão é a expressão de um novo ideal positivo de liberdade
humana (idem, p. 179).
11
Unidade I
Esse ideal positivo de liberdade humana é pautado na concepção de que o ser humano é dotado de
livre-arbítrio, ou seja, é capaz de refletir sobre o bem e o mal, fazer escolhas e ser responsável por elas.
Sua relação com o divino deixa de ser regulada pelo medo ou pela tentativa de manipulação através da
magia para se tornar uma relação ética. Nesta relação, utiliza o lógos para entender o divino e praticar
a virtude.
Saiba mais
O pensamento mítico, segundo Ernst Cassirer
O mito, por assim dizer, tem uma face dupla. Por um lado nos mostra uma
estrutura conceitual, por outro uma perceptual. Não é uma simples massa de ideias
desorganizadas e confusas; depende de um modo de percepção definido. Se mito não
percebesse o mundo de modo diferente, não poderia julgá-lo ou interpretá-lo à sua
maneira específica. Devemos voltar para essa camada mais profunda de percepção
para podermos entender o caráter do pensamento mítico. O que nos interessa no
pensamento empírico são os traços constantes da nossa experiência sensorial.
Neste caso, fazemos sempre uma distinção entre o que é substancial ou acidental,
necessário ou contingente, invariável ou passageiro. Por essa discriminação somos
levados ao conceito de um mundo de objetos físicos dotado de qualidades fixas e
determinadas. Mas tudo isso envolve a um processo analítico que está em oposição
à estrutura fundamental da percepção e do pensamento mítico. O mundo mítico
está, por assim dizer, em um estágio muito mais fluido e flutuante que o nosso
mundo teórico de coisas e propriedades, de substâncias e acidentes. Para aprender e
descrever essa diferença, podemos dizer que o que mito percebe primariamente não
são caracteres objetivos, mas fisionômicos. A natureza, em seu sentido empírico ou
científico, pode ser definida como “a existência de coisas enquanto for determinada
por leis gerais”. Uma “natureza” assim não existe para os mitos. O mundo do mito
é um mundo dramático – um mundo de ações, de forças, de poderes conflitantes.
Em todo fenômeno da natureza ele vê a colisão desses poderes. A percepção mítica
está sempre impregnada dessas qualidades emocionais. Tudo o que é visto, o sentido
está rodeado por uma atmosfera especial – uma atmosfera de alegria, de pesar,
de angústia, de excitação, de exultação ou depressão. Não podemos falar aqui de
“coisas” como matéria morta ou indiferente. Todos os objetos são benignos ou
malignos, amistosos ou hostis, familiares ou estranhos, atraentes e fascinantes ou
repelentes e ameaçadores. Podemos reconstruir facilmente essa forma elementar da
experiência humana, pois, nem mesmo na vida do homem civilizado, ela perdeu seu
poder original. Quando estamos sobre a atenção de uma emoção violenta, temos
ainda essa concepção dramática de todas as coisas. Elas não têm mais o rosto de
sempre; mudam abruptamente de fisionomia, ficam tingidas da cor específica de
nossas paixões, de amor ou ódio, de medo ou esperança (Cassirer, 1994, p. 129).
12
FUNDAMENTOS DE FILOSOFIA E EDUCAÇÃO
3 DO MITO À RAZÃO: O NASCIMENTO DA FILOSOFIA
Conforme foi abordado anteriormente, o mito é a primeira forma que o ser humano utilizou
para dar sentido ao mundo. Ele é um tipo de saber afetivo, coletivo e dogmático. Mas chega um
momento no decorrer do processo histórico que a explicação mítica passa a ser questionada, por
aqueles que seriam conhecidos como os primeiros filósofos, pelos pré-socráticos, preocupados
em buscar a arché, o princípio fundamental das coisas. Estes, agora, buscam dar uma explicação
sustentada em argumentos racionais para o existente. Mas como foi possível o surgimento dessa
busca de explicação racional para o existente em oposição ao pensamento mítico?
Essa transição foi um processo lento e gradativo e não significou o desaparecimento das
concepções míticas. Segundo Jean Pierre Vernant, em As origens do pensamento grego, esse
pensamento racional denominado de filosofia foi propiciado pelas formas de organização social,
política e econômica da cidade-estado; assim, pode-se afirmar que a filosofia é filha da polis
grega.
O aparecimento da polis constitui, na história do pensamento grego, um acontecimento
decisivo. Certamente, no plano intelectual como no domínio das instituições, só no fim
alcançará todas as suas consequências; a polis conhecerá etapas múltiplas e formas variadas.
Entretanto, desde o seu advento, que se pode situar entre os séculos VIII e VII, marca um
começo, uma verdadeira invenção; por ela, a vida social e as relações entre os homens
tomam uma forma nova, cuja originalidade será plenamente sentida pelos gregos
(Vernant, 1998, p. 41).
O palco principal da cidade grega era a Ágora, a praça pública, o lugar em que há a autonomia
da palavra. A palavra era tão valorizada que os gregos a transformaram numa divindade, Pheitó,
que representa a força, a capacidade da persuasão. Não mais a palavra de ordem do rei divino,
mas a palavra humana, buscando através do conflito, da discussão, um sentido e o convencimento
pela persuasão. A palavra não é mais uma forma justa a priori, mas está exposta a contestação.
A polêmica, a discussão, a argumentação são as regras do jogo intelectual e político, que é
praticado à luz do sol, na Ágora, e tem como juiz o público, os cidadãos. Os conhecimentos, os
conteúdos da cultura, não ficam mais restritos ao palácio, são agora expostos em praça pública
a apreciações de todos, possuem um caráter de publicidade e passam a ser objeto de análise e
de interpretação.
Dessa forma, pode-se concluir com Vernant que as várias transformações que culminaram com a
polis grega trouxeram em seu bojo a possibilidade de emergência do pensamento racional filosófico, ou
seja, que a filosofia é filha da polis.
Mas o que vem a ser Filosofia? Do ponto de vista etimológico, a palavra é composta de
philia, que significa união, amizade, amor fraterno e Sophia, que deriva de sophos, sábio
e significa sabedoria. Assim a Filosofia significa busca amorosa pela sabedoria, amizade ao
13
Unidade I
saber. Segundo a tradição foi Pitágoras de Samos que cunhou a palavra Filosofia. Para ele a
sabedoria era atributo dos deuses e não dos seres humanos, mas estes poderiam desejá-la,
poderiam buscar amorosamente a sabedoria transformando-se em filósofos (Chaui, 1997, p.
19 e 20).
Conforme foi exposto, o pensamento filosófico é filho da polis. O ponto de partida para a filosofia
grega foi as poesias cosmogônicas.
Essas poesias explicavam o surgimento do mundo através de interpretações míticas. A passagem
do pensamento cosmogônico para o pensamento cosmológico não se deu através de um salto nem
substitui por completo o anterior. Foi um processo lento e gradativo em que uma série de fatores,
como o nascimento da cidade-estado, a invenção da escrita, das leis escritas, a invenção da moeda,
contribuíram para que, assim como o poder e a organização da vida social, os mitos também fossem
questionados.
Cosmologia: etim gr. kosmología, do gr. kósmos “lei, ordem, mundo, universo”
+ rad. gr. -logía “tratado, ciência, discurso” (Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua
Portuguesa).
Os aedos (poetas-cantores) são cultores da memória. Eles possuem a força da palavra e revelam a
vida e a origem dos seres e do mundo. As concepções míticas são mantidas vivas pela tradição oral.
Com a invenção e o uso da escrita, essas concepções passam a ser registradas. O rigor daquele que
escreve é diferente do rigor daquele que fala, e, as palavras, uma vez escritas, estão fixas, permitindo
maior exame e reflexão posterior. Portanto, o uso da escrita tem uma contribuição fundamental para o
questionamento das interpretações míticas.
Enquanto o pensamento mítico não questiona o seu conteúdo, o pensamento filosófico caracteriza-se
pelo questionamento, pela investigação e argumentação racional para explicação da realidade. Embora
o conteúdo da explicação desses primeiros filósofos tenha muita semelhança com o mito, a forma de
explicar é diferente, ou seja, é uma forma investigativa racional.
4 OS PRIMEIROS FILÓSOFOS
Os primeiros filósofos viveram por volta do século VII e VI a.C. Grande parte da obra desses
filósofos pré-socráticos se perdeu no tempo e o que chegou à posteridade foram fragmentos
e comentários que outros filósofos fizeram sobre eles. O problema que esses filósofos buscam
responder é: Qual é a arché, o princípio ou fundamento das coisas existentes? Tales de Mileto,
que é considerado o primeiro filósofo, defende que o princípio ou fundamento de todas as
coisas é a água. Para Anaxímenes esse princípio primeiro é o ar. Já Demócrito defende que é
o átomo. Para Heráclito o princípio primordial é o devir (mudança) representado pelo fogo.
Empédocles entende que tudo se origina da combinação dos quatro elementos básicos: ar,
fogo, água e ar. Vamos ver alguns dos pré-socráticos (Bornheim, 2003).
14
FUNDAMENTOS DE FILOSOFIA E EDUCAÇÃO
Tales de Mileto (624-547 a.C.) é considerado o primeiro filósofo. Ele ficou muito conhecido pelo
feito notável de prever um eclipse que se confirmou no dia previsto: 28 de maio de 585 a.C. Para alguns
autores, essa data simboliza o dia do nascimento da filosofia. Não se conhece fragmento dos escritos de
Tales, mas é atribuída a ele a autoria de uma pergunta que ainda hoje produz muita controvérsia: Qual
a origem de todas as coisas? Do que tudo é constituído? Para Tales:
“A água é o elemento primordial de todas as coisas.”
“Tudo está cheio de deuses.”
Heráclito de Éfeso (544-484 a.C.) era chamado por seus contemporâneos de “obscuro”, devido aos
seus escritos serem de difícil compreensão. Conta-se que Sócrates, ao ler um livro dele afirmou que para
entendê-lo teria que ser um mergulhador de Delos, tal a profundidade dos seus pensamentos. Heráclito
ficou conhecido como filósofo do devir. Algumas de suas principais ideias:
“A Physis [‘natureza’] ama ocultar-se.”
“Todas as coisas estão em movimento.”
“O movimento se processa através de contrários.”
“Nos mesmos rios entramos e não entramos, somos e não somos”. Ou: “Nunca entramos no mesmo
rio duas vezes”, pois assim como o rio, nós também não somos mais os mesmos.
“O conhecimento sensível é enganador e deve ser superado pela razão.”
Xenófanes de Colofón (580-577 a.C.) é considerado um precursor da doutrina de Parmênides
e escreveu predominantemente em versos. Foi um filósofo rapsodo que declamava seus versos pelas
cidades da Grécia. Defendeu que o elemento primordial de todas as coisas é a terra, mas se tornou
famoso pela sua teologia e por seus ataques à “religião” popular grega e aos poetas. Criticava os deuses
antropomórficos de Homero e Hesíodo dotados de vícios e imoralidade, pois só se aprendiam com eles
roubos, mentiras e adultérios. Para eles, os poetas criavam deuses à imagem e semelhança dos próprios
homens.
“Mas se os bois, os cavalos e os leões tivessem mãos ou pudessem pintar e realizar as obras que os
homens realizam com as mãos, os cavalos pintariam imagens dos deuses semelhantes a cavalos, os
bois semelhantes a bois, e plasmariam os corpos dos deuses semelhante ao aspecto que tem cada um
deles.”
“Os etíopes dizem que os seus deuses são negros e de nariz chato, os trácios dizem que têm olhos
azuis e cabelos vermelhos.”
Xenófanes defende a tese que existe um único Deus, por isso Aristóteles afirma que ele foi o primeiro
partidário do uno.
“Um só deus, o maior entre os deuses e os homens, não semelhante aos homens, nem pela forma,
nem pelo pensamento. ”
15
Unidade I
”Vê tudo, pensa tudo, ouve tudo.”
“E sem esforço move tudo com a força do seu pensamento.”
“Permanece sempre imóvel no mesmo lugar; e não lhe convém mover-se de um lugar para o
outro.”
Parmênides de Eleia (540-475 a.C.) É considerado principal destaque da escola eléatica (outros
representantes: Xenófanes, Zenão, Melisso). Critica a concepção de Heráclito de que “tudo é movimento”
e defende a imobilidade do ser. Há fragmentos de um poema de Parmênides conhecido com o título:
Sobre a natureza. Nele Parmênides relata a revelação da verdade que lhe foi concedida por uma deusa. O
filósofo-poeta Parmênides realiza uma viagem numa carruagem alada arrastado por fogosos cavalos e
guiada pelas filhas do Sol. O véu que encobre a verdade é retirado da sua cabeça, e ele recebe a verdade
desvelada pela fala da deusa. Ela lhe diz que há dois caminhos: o da verdade (alétheia) e o da opinião
(doxa). Daí que para Parmênides a doxa se limita à impressão sensível e, por isso, comete erros. É apenas
pelo pensamento (noûs) que se obtém a verdade, e dessa forma o ser coincide com o pensar, ou seja, o
conteúdo do pensamento, pela via da razão, coincide com o conteúdo da realidade. Daí sua tese do ser
como uno e imutável, já que conceber de outra forma leva a contradições. Ou seja, o ser não pode ser
e não ser ao mesmo tempo, pois que seria uma contradição. Dito de outra forma, o que existe fora de
mim deve coincidir com meu pensamento, com o lógos que desvela a verdade, se não coincidir é porque
se está na via da doxa. Passagens: “O ser é e o não ser não é”; “O ser é uno e imutável”.
Apesar da oposição entre as teorias de Heráclito e Parmênides, é possível estabelecer pontos comuns
entre eles. Ambos entendem que a verdade (alétheia) está no pensamento, e a opinião (doxa) está nos
sentidos. O argumento de que “os sentidos enganam” era usado, dessa forma, para tentar provar teses
contrárias como a de Heráclito: “tudo é movimento, a imobilidade é uma ilusão dos sentidos” e a de
Parmênides: “não há movimento, a mobilidade é uma ilusão dos sentidos”.
Embora tenham existido variadas explicações para a matéria primordial e que cada um dos pré-socráticos
argumentasse que a sua teoria era a única verdadeira, a
Para refletir
importância desse período reside no fato de que o pensamento
mítico não mais convence e que esses filósofos se lançam na
O que diferencia a explicação dos
pré-socráticos das explicações míticas
busca por investigar e por elaborar outras respostas para a
para a origem das coisas?
explicação da realidade. Respostas produzidas pelo lógos e,
portanto, dotadas de uma certa lógica racional.
Saiba mais
Sobre Heráclito e Parmênides
Quando estudamos o nascimento da Filosofia, vimos que os primeiros filósofos se
preocupavam com a origem, a transformação e o desaparecimento de todos os seres.
Preocupavam-se com o devir. Duas grandes tendências adotaram posições opostas a esse
respeito, na época do surgimento da Filosofia: a do filósofo Heráclito de Éfeso e a do filósofo
Parmênides de Eleia.
16
FUNDAMENTOS DE FILOSOFIA E EDUCAÇÃO
Heráclito afirmava que somente o devir ou a mudança é real. O dia se torna noite,
o inverno se torna primavera, esta se torna verão, o úmido seca, o seco umedece, o frio
esquenta, o quente esfria, o grande diminui, o pequeno cresce, o doente ganha saúde,
a treva se faz luz, esta se transforma naquela, a vida cede lugar à morte, esta dá origem
àquela.
O mundo, dizia Heráclito, é um fluxo perpétuo onde nada permanece idêntico a si
mesmo, mas tudo se transforma no seu contrário. A luta é a harmonia dos contrários,
responsável pela ordem racional do Universo. Nossa experiência sensorial percebe o mundo
como se tudo fosse estável e permanente, mas o pensamento sabe que nada permanece,
tudo se torna contrário de si mesmo. O lógos é a mudança e a contradição.
Parmênides, porém, afirmava que o devir, o fluxo dos contrários, é uma aparência,
mera opinião que formamos porque confundimos a realidade com as nossas sensações,
percepções e lembranças. O devir dos contrários é uma linguagem ilusória, não existe, é
irreal, não é. É o Não-Ser, o nada, impensável e indizível. O que existe real e verdadeiramente
é o que não muda nunca, o que não se torna oposto a si mesmo, mas permanece sempre
idêntico a si mesmo, sem contrariedades internas. É o Ser.
Pensar e dizer só são possíveis se as coisas que pensamos e dizemos guardarem
a identidade, forem permanentes. Só podemos dizer e pensar aquilo que é sempre
idêntico a si mesmo. Por isso somente o Ser pode ser pensado e dito. Nossos sentidos
nos dão a aparência mutável e contraditória, o Não-Ser; somente o pensamento
puro pode alcançar e conhecer aquilo que é ou existe realmente, o Ser, e dizê-lo em
sua verdade. O lógos é o ser como pensamento e linguagem verdadeiros e, portanto,
a verdade é a afirmação da permanência contra a mudança, da identidade contra a
contradição dos opostos.
Assim, Heráclito afirmava que a verdade e o lógos são a mudança das coisas nos seus
contrários, enquanto Parmênides afirmava que são a identidade do Ser imutável, oposto
à aparência sensível da luta dos contrários. Parmênides introduz a ideia de que o que é
contrário a si mesmo, ou se torna o contrário do que era, não pode ser (existir), não pode ser
pensado nem dito porque é contraditório, e a contradição é o impensável e o indizível, uma
vez que uma coisa que se torne oposta de si mesma destrói-se a si mesma, torna-se nada.
Para Heráclito, a contradição é a lei racional da realidade; para Parmênides, a identidade é
essa lei racional.
A história da Filosofia grega será a história de um gigantesco esforço para encontrar
uma solução para o problema posto por Heráclito e Parmênides, pois, se o primeiro tiver
razão, o pensamento deverá ser um fluxo perpétuo e a verdade será a perpétua contradição
dos seres em mudança contínua; mas se Parmênides tiver razão, o mundo em que vivemos
não terá sentido, não poderá ser conhecido, será uma aparência impensável e viveremos
na ilusão.
17
Unidade I
Será preciso, portanto, uma solução que prove que a mudança e os contrários existem
e podem ser pensados, mas, ao mesmo tempo, que prove que a identidade ou permanência
dos seres também existe, é verdadeira e pode ser pensada. Como encontrar essa solução?
(Chaui, 1997, p. 181).
Exercícios
(Prefeitura Municipal de São Caetano do Sul – SP – USCS
– 2009)
1. Para os gregos, o mito era um discurso pronunciado
para pessoas que acreditam ser verdadeira a narrativa
apresentada. Os cantores ambulantes davam forma poética
aos relatos populares e os recitavam de cor em praça pública.
Sobre os mitos, é correto afirmar-se que:
Alguns filmes que podem propiciar
uma inter-relação com os conteúdos da
unidade.
A guerra do fogo. Dir. Jean-Jacques
Annaud, 100 minutos, 1976.
A Odisseia. Dir. Francis Ford Coppola,
150 minutos, 1997.
300. Dir. Zack Snyder. 117 minutos.
EUA, 2007.
A) O mito fazia um apelo à razão do ouvinte.
B) O mito era considerado uma narrativa sagrada.
C) A narrativa mítica não trazia sabedoria sobre o universo humano, pois colocava em cena deuses
e heróis.
D) No mito, a razão se sobrepõe ao elemento fantástico.
(Prefeitura Municipal de São Caetano do Sul–SP–USCS – 2009)
2. No século VI a.C., as condições sociais e econômicas favoreceram o surgimento da filosofia na
Grécia. Entre essas mudanças, podem-se mencionar:
A) A estruturação do mundo rural, desenvolvimento do sistema escravagista e o estabelecimento de
uma aristocracia proprietária de terras.
B) A expansão da economia local fundada no desenvolvimento do artesanato, o fortalecimento dos
demos e da organização familiar patriarcal.
C) As disputas entre Atenas e Esparta, o desenvolvimento de Mecenas e do comércio jônico.
D) O uso da escrita alfabética, as viagens marítimas e a evolução do comércio e do
artesanato.
18
FUNDAMENTOS DE FILOSOFIA E EDUCAÇÃO
(Instituto Federal–RS – 2010)
3. Os filósofos pré-socráticos lançaram questões centrais sobre o problema do ser, do conhecer e da
origem da natureza, do Universo. Parmênides e Heráclito são duas referências importantes nesse início
da filosofia ocidental que ocorreu na Grécia Antiga entre os séc. VII e V a.C. Qual é a principal diferença
na forma de pensar entre Heráclito e Parmênides?
A) Heráclito é dialético, e Parmênides é analítico.
B) Heráclito é platônico, e Parmênides é aristotélico.
C) Heráclito diz que os sentidos enganam, e Parmênides valoriza os sentidos.
D) Heráclito considera que tudo na natureza se transforma, pois todas as coisas estão em constante
movimento e, portanto, conhecer é captar a mudança contínua. Já Parmênides concebe que
conhecer é alcançar o idêntico, imutável.
E) Para Heráclito ninguém consegue se banhar duas vezes no mesmo rio e para Parmênides todos
“os banhos” são iguais.
(SEDUC – Pauí – FUNADEPI – 2010)
4. Ao se discutir a origem da filosofia, é comum a admissão de que fatores como a invenção da
política, o impacto cultural das viagens marítimas, a transformação do conhecimento prático em teórico
e a valorização da razão como um atributo universal permitiram que o conhecimento filosófico se
desenvolvesse primeiramente na Grécia. Considerando esses fatores, é correto afirmar que:
A) A filosofia se desenvolveu de forma independente dos mitos, negando-os por sua irracionalidade
e rejeitando as explicações que eles forneciam, por exemplo, sobre a origem das estruturas sociais
e dos fenômenos naturais.
B) A importância da política para a filosofia em sua origem é o deslocamento das leis do âmbito do
sagrado para a esfera do humano, visto na crescente participação dos cidadãos na elaboração
das leis e no exercício do governo, e que reflete a valorização do pensamento discursivo e da
racionalidade como base das decisões políticas.
C) A influência cultural das viagens marítimas é vista na suposição dos gregos de que sua civilização era
superior às culturas encontradas nos lugares visitados, por elas não possuírem um conhecimento
teórico sobre a natureza e a sociedade.
D) A transformação da sabedoria prática em conhecimento teórico ou ciência procurou justificar
racionalmente a aplicação do saber às situações da vida cotidiana, tendo em vista a importância
dada ao conhecimento produzido a partir das experiências práticas.
E) A universalidade da razão baseia-se na suposição de que o conhecimento é uma capacidade natural
do ser humano e de que a racionalidade expressa-se na abstração do pensamento matemático,
comum a todos os homens que possuem essa capacidade.
19
Unidade I
(Estado do Tocantins – Fundação Cesgranrio – 2009)
5. “Todo mundo sabe que os bebês possuem essa capacidade. Depois de alguns meses na barriga da
mãe, eles são empurrados para uma realidade completamente diferente. Mas depois, quando crescem,
parece que esta capacidade vai desaparecendo. Como se explica isso?” GAARDNER, Jostein. O mundo de
Sofia, SP: Cia. das Letras, 1995, p. 27.
Gaardner fala da “única coisa de que precisamos para nos tornar bons filósofos”, ou seja, da
capacidade humana de:
A) Espantar-se com o mundo.
B) Estudar a história da filosofia.
C) Criticar as diferentes teorias filosóficas.
D) Refletir sobre a ciência e o conhecimento.
E) Entender os princípios da ética e da moral.
6. É atribuído a Heráclito o seguinte pensamento:
A) “Só sei que nada sei.”
B) “Conhece-te a ti mesmo.”
C) “A água é o elemento primordial de todas as coisas.”
D) “Nunca entramos no mesmo rio duas vezes.”
E) “Penso, logo existo.”
7. No que se refere à condição humana e à maneira como nos tornarmos humanos é possível afirmar
que:
I. O Homem, por ser um ser racional, quando nasce pode desenvolver-se por si só, isto é, separado e
isolado de outros seres humanos.
II. O processo de socialização é irrelevante para a manutenção das sociedades e para a formação da
individualidade dos seres humanos.
III. Diferentemente dos animais, cada indivíduo da nossa espécie precisa de educação para tornar-se
propriamente humano, uma vez que a educação é um dos meios de introduzir o indivíduo na
cultura de seu grupo.
20
FUNDAMENTOS DE FILOSOFIA E EDUCAÇÃO
Assinale alternativa que possui a(s) afirmação(ões) correta(s):
A) Apenas I.
B) Apenas I e II.
C) Apenas III.
D) Apenas II e III.
E) I, II e III.
8. É considerado o primeiro filósofo:
A) Homero.
B) Hesíodo.
C) Ulisses.
D) Tales.
E) Sócrates.
9. Sobre o pensamento mítico, pode-se afirmar:
I. Diferentes povos em diferentes épocas produziram seus próprios mitos.
II. O ponto comum entre as diferentes concepções míticas é a busca por dar sentido ao mundo, por
dar uma explicação para os fenômenos desconhecidos.
III. O pensamento mítico existiu apenas na Grécia antiga e depois não ocorreu em nenhum outro
lugar ou em outra época.
Assinale alternativa que possui a(s) afirmação(ões) correta(s):
A) Apenas I.
B) Apenas II.
C) Apenas I e II.
D) Apenas II e III.
E) I, II e III.
21
Unidade I
10. É considerado o autor da Odisseia:
A) Homero.
B) Hesíodo.
C) Ulisses.
D) Tales.
E) Sócrates.
22
Download