08:17 Natureza: Filosofia – Nota de Aula 02 – 1º Bimestre 2016 Professor: Natan de Sousa Ano: 1° DESCOBRINDO A FILOSOFIA Capítulo 02 – O nascimento da filosofia: do mito ao logos A. A importância do Mito Màqoj (mythos): discurso, narrativa; ação de recitar; palavra. O mito é uma narrativa geralmente referente às origens de algo que recria, através de fábulas e alegorias, os fatos primordiais que, supostamente, explicam e fundamentam a realidade, as normas sociais, as crenças, os costumes etc. Ele surge a partir da necessidade de explicação sobre a origem e a forma das coisas, suas funções e finalidade, os poderes do divino sobre a natureza e os homens. Existem basicamente dois tipos de mitos: a) Cosmogonia - A palavra gonia origina-se do verbo grego "gennao" ("engendrar, gerar, fazer nascer e crescer") e do substantivo "genos" ("nascimento, gênese, descendência, gênero, espécie"). Gonia, portanto, quer dizer "geração, nascimento a partir da concepção sexual e do parto”. "Cosmos" quer dizer "mundo ordenado e organizado". Assim, a cosmogonia é a narrativa sobre o nascimento e a organização do mundo a partir de forças geradoras (pai e mãe) divinas. b) Teogonia - Palavra composta de "gonia" e "theos", que, em grego, significa "as coisas divinas, os seres divinos, os deuses". A teogonia é, portanto, a narrativa da origem dos deuses a partir de seus pais e antepassados. O mito possui três funções principais: 1. Explicar– o tempo presente é explicado por alguma ação que aconteceu no passado; 2. Organizar – o mito organiza as relações sociais, de modo a legitimar e determinar um sistema complexo de permissões e proibições. Ou seja, a mitologia valida e respalda uma ordem moral específica. 3. Compensar – o mito conta algo que aconteceu e não é mais possível de acontecer, mas que serve ou para compensar os humanos por alguma perda ou para garantir-lhes que esse erro foi corrigido no presente, oferecendo uma visão consistente da ordem atual do universo. O mito é educativo e tende a organizar e regular a vida social, mas é limitado, pois não atinge a totalidade da realidade, não supera as contradições e é dogmático. Homero (autor de Ilíada e Odisseia) e Hesíodo (autor de Teogonia e Os trabalhos e os dias), poetas gregos, são os grandes responsáveis pela formação do povo grego. Homero exalta e idealiza os valores da nobreza agrícola e guerreira (clã familiar) e Hesíodo louva os valores do mundo camponês, legitimando a justiça e o trabalho. A Filosofia também surge como um saber que tenta explicar a realidade. Mas, diferente dos mitos, encontra a origem e a ordem do mundo na própria natureza e não em seres fantásticos ou divinos. B. Fatores fundamentais para o surgimento da Filosofia na Grécia Antiga Invenção da escrita: a postura de quem escreve é diferente daquele que apenas narra. A escrita fixa a palavra, exigindo, portanto, mais rigor e clareza. Essa prática estimula o espírito crítico. Além disso, a fixação do conhecimento na forma escrita auxilia na transmissão do conhecimento para gerações posteriores. Surgimento da moeda: a moeda é uma convenção, uma noção abstrata de valor. O estímulo do pensamento abstrato é fundamental para a construção de uma ciência puramente abstrata como a filosofia. Escravidão: apesar de controverso, tal argumento é defendido por alguns teóricos, já que a escravidão na sociedade grega liberava o homem livre do trabalho manual, favorecendo ao ócio criativo. Nascimento da pólis e consolidação da democracia: a pólis é uma forma de comunidade não-consanguínea – os indivíduos se relacionam entre si baseados na igualdade de todos perante a lei (isonomia) e não por conta de laços de parentesco. Na pólis democrática grega os homens se reúnem para elaborar leis através do esforço do convencimento. Isso gera um novo hábito mental: argumentar e contra argumentar. Na assembleia toda palavra está no mesmo nível hierárquico, já que todos são iguais, por isso toda palavra pode ser questionada. Rua Des. Leite Albuquerque, 1056 – Aldeota – CEP: 60.150-150 – Fone: 4008-2313 – Fortaleza-CE • e-mail:[email protected] Unidade Edson Queiroz – Rua Hil Morais, 124 – Edson Queiroz – CEP: 60.811-760 – Fone: 3273.1282 Unidade Sul – Rua Roberto Gradvohl, 3470 – Alagadiço Novo –CEP: 60.812-540 – Fone: 3276.3969/3274.9075 Unidade Varjota – Av. Antônio Justa, 3790 – Varjota – CEP: 60.165-090 – Fone: 3267.2929 –“Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece.” (Fil. 4:13.) O Nascimento da Filosofia: do mito ao logos C. OS PRIMEIROS FILÓSOFOS (Período Cosmológico) Chamados de “pré-socráticos”, ou “filósofos naturalistas”, os primeiros filósofos concentravam suas preocupações na natureza (physis). Eles procuravam o princípio (arché), ou seja, o elemento constitutivo, de todas as coisas a partir da observação, do pensamento. Podemos dizer, portanto, que os pensadores pré-socráticos em sua maioria foram, antes de tudo, cosmólogos., já que cosmologia é o estudo, teoria ou descrição dos cosmos, do universo. Os escritos desse período se perderam quase completamente, restando apenas poucos fragmentos. Tales de Mileto (640-548 a.C.) – É considerado “o pai da filosofia grega”. Para ele a água seria o elemento primordial (a arché) de tudo o que existe. Atribui-se a Tales a demonstração do primeiro teorema de geometria (embora o estudo sistemático desta ciência tenha realmente começado na escola de Pitágoras, no séc. VI a.C.). Anaximandro de Mileto (610-547 a.C.) – O princípio gerador de todas as coisas, segundo Anaximandro, seria o apeiron (ilimitado / indeterminado / infinito). A ordem do mundo surgiu do caos em virtude deste princípio. Assim, o apeiron seria o princípio original de todos os seres, tanto de seu aparecimento quanto de sua dissolução. Anaxímenes de Mileto (588-524 a.C.) – Segundo este pensador, o elemento gerador de tudo é o ar. Através da rarefação e da condensação, o ar forma tudo o que existe. “Da mesma maneira que a nossa alma, que é ar, nos mantem vivos, também o sopro e o ar mantém o mundo inteiro”. Heráclito de Éfeso (535-475 a.C.) – Para Heráclito, os nossos sentidos mostram a estabilidade das coisas. Só através da razão percebemos que tudo está em constante mudança. Para ele, o mundo é eterno devir, é mudança. De acordo com Heráclito, o Logos (razão/inteligência/discurso/pensamento) governa todas as coisas, e está associado ao fogo, gerador do processo cósmico. Tudo está em incessante transformação: panta rei (tudo flui). As coisas estão, pois, em constante movimento, nada permanece o mesmo (“não nos banhamos duas vezes no mesmo rio”). É da guerra, diz Heráclito, que nasce a ordem – mundo é uma eterna luta dos contrários. Parmênides de Eléia (530-460 a.C.) – Para Parmênides, ao contrário de Heráclito, os nossos sentidos mostram que tudo está em constante mudança, mas o pensamento é capaz de demonstrar que esse “movimento” das coisas só existe no mundo sensível. Esse mundo sensível, para ele, seria ilusório. Com isso, ele inaugura a tese mais central da filosofia: a diferença fundamental entre Verdade e Opinião. Para Parmênides, o Ser é uno, imóvel, eterno, imutável. Desse modo, o devir, a mudança, seria ilusão e simples aparência; o movimento é, assim, engano dos nossos sentidos. “O Ser é, o não-Ser não é”. Ou seja: o Ser imutável, eterno, permanente, é o único que existe, enquanto o não-Ser, que seria a mudança, não existe. O Ser é a verdade eterna, imutável. O não-Ser é a opinião, que é falsa, enganosa, passageira. Parmênides é considerado o pai da Ontologia (estudo do Ser). Apesar de ser importante conhecermos um pouco a teoria de alguns pré-socráticos, na verdade, não importa muito o quê eles ensinaram, mas sim como eles ensinaram. Os pré-socráticos inauguraram uma nova relação com a sabedoria e com seus discípulos. Diferente dos sábios antigos, os primeiros filósofos não se consideravam detentores de certa verdade que deveria ser passada a seus discípulos, mas apenas “amantes da sabedoria”. Todos – mestres e discípulos – estavam na mesma condição, todos eram pretendentes em busca de conquistar sua amada – a verdade, o saber, o conhecimento. 2 0000/05