PROTOCOLOS E TÉCNICAS ANESTÉSICAS UTILIZADAS EM OVARIOSALPINGOHISTERECTOMIAS NO INSTITUTO FEDERAL CATARINENSE, CAMPUS ARAQUARI: ESTUDO RETROSPECTIVO (2013-2015) Área: ( ) Química Modalidade: ( ) Ensino ( X ) Pesquisa ( ) Extensão Nível: ( ) Médio ( X ) Superior ( ) Pós-graduação ( ) Informática ( X ) Ciências Agrárias ( ) Educação ( ) Multidisciplinar Autores : André Felipe Breda Andrade COSTA¹; Anna Carolina Rodrigues SANTOS¹; Marian Felisberto BITENCOURT¹; Amanda Stephany Rodrigues de FREITAS¹; Natana GENGNAGEL¹; Carlos Eduardo Nogueira MARTINS²; André de Mattos FARO³; Carlize LOPES4. Identificação autores: ¹Acadêmicos de Medicina Veterinária, IFC Campus Araquari. ²Professor Colaborador, IFC Campus Araquari. ³Professor Co-orientador, IFC Campus Araquari. 4Professor Orientador, IFC Campus Araquari. Introdução A anestesia constitui um grande motivo de preocupação de profissionais da saúde e os conhecimentos sobre farmacocinética e farmacodinâmica são fundamentais para uma anestesia balanceada e sem complicações. Ademais, a ovariosalpingohisterectomia (OSH) é um procedimento cirúrgico comumente realizado a fim de evitar o estro e prenhezes indesejáveis, além de prevenir neoplasias mamárias (Hedlund, 2008). Com o intuito de aperfeiçoar as técnicas anestésicas para realização de OSH, o presente trabalho realizou um estudo retrospectivo analisando os protocolos utilizados no período de 2013 à 2015, no Centro de Práticas Clínicas e Cirúrgicas (CPCC) do Instituto Federal Catarinense (IFC), Campus Araquari, a fim de reportar os protocolos anestésicos mais utilizados para a realização deste procedimento. Material e Métodos Foram analisados os prontuários de todas as pacientes submetidas à procedimentos anestésicos para realização de OSH nas disciplinas de Técnica Cirúrgica, Anestesiologia Veterinária e Cirurgia Veterinária, atendidas no CPCC do IFC, Campus Araquari no período de 2013 à 2015. Para inclusão no grupo de animais analisados, foram necessários alguns critérios como: animais do gênero feminino, com necessidade de realização de OSH para fins terapêutico ou eletivo, apresentando termo de livre consentimento para a prática anestésica e cirúrgica, bem como ciência da realização de exames prévios aos procedimentos. Os dados foram compilados em planilhas do programa Microsoft Excel®. Analisaram-se os prontuários de 60 animais, sendo que 57 realizaram OSH para fins eletivos e três, com fins terapêuticos. Dentre os 57 animais submetidos ao procedimento eletivo, três realizaram cesariana previamente. Ademais, ressalta-se que 38 (63%) dos 60 animais eram cadelas e 22 (37%) eram gatas. No que concerne aos protocolos anestésicos, analisaram-se os fármacos utilizados na medicação pré-anestésica (MPA), na indução e na manutenção anestésica, bem como, os fármacos utilizados para técnicas de bloqueio local. Todos os dados foram submetidos ao teste de Qui-quadrado utilizando o programa R®. Resultados e discussão Os fármacos utilizados nos procedimentos anestésicos foram bastante variados, porém, houve predominância de alguns princípios ativos, como a acepromazina, o propofol e o isofluorano. Em 2013, dos 24 animais submetidos à OSH, apenas um foi com fins terapêuticos. Utilizaram-se 10 protocolos de MPA e os dois mais empregados encontram-se na tabela 1. Neste ano, a morfina foi o opioide mais empregado uma vez que este fármaco é um potente analgésico amplamente utilizado com o intuito de promover analgesia, tendo um período de ação de 2 a 4 horas (Pascoe, 2000). Além disso, os fenotiazínicos são fármacos que ocasionam sedação leve à moderada em animais e a administração destes, implica em vantagens por possuir propriedades antieméticas e antiarritmogênicas, além de promover indução e recuperação anestésicas mais suaves (Monteiro et al., 2008). Outra alternativa de MPA diz respeito à utilização de anestésicos dissociativos; com isso o emprego de tiletamina/zolazepam (Zoletil®), visa melhorar o relaxamento muscular, reduzir episódios convulsivos, além de apresentar propriedades analgésicas mais satisfatórias que a cetamina (Lacerda et al, 2010). No ano seguinte (2014), 13 animais realizaram OSH, sendo dois deles com fins terapêuticos. Utilizaram-se seis protocolos de MPA, sendo os dois mais utilizados destacados na tabela 1. Os principais opioides utilizados na MPA neste ano foram o fentanil e o tramadol. O fentanil é um opioide muito utilizado no período transoperatório, graças à sua ação farmacológica e potência 100 vezes superior à morfina. Mesmo com características que limitam seu uso no período pré-anestésico, este opioide foi amplamente utilizado para este fim, garantindo boa sedação (Pires et al., 2000). Já o tramadol é um fármaco utilizado tanto na MPA, quanto para analgesia pós-operatória, uma vez que sua eficácia analgésica se dá em função de interações em receptores opioides, além de atuar em receptores adrenérgicos e serotoninérgicos (Kukanich e Papich, 2004). Além disso, a utilização de anestésicos dissociativos, como a cetamina proporciona contenção química satisfatória, principalmente em animais agressivos e/ou agitados, além de atuar nos receptores N-metil-D-aspartato (NMDA) e proporcionar analgesia somática de boa qualidade (Subramaniam et al., 2004). No último ano (2015) avaliado utilizaram-se 13 protocolos diferentes na MPA de 23 animais operados sendo que os dois mais empregados estão descritos na tabela 1. Além do fentanil, destaca-se o uso da meperidina na MPA neste ano. Tal fármaco, também conhecido como petidina, ocasiona sedação e analgesia por até 2 horas (Pascoe, 2000). Outro fármaco bastante utilizado neste ano foi o midazolam, que é um benzodiazepínico frequentemente associado com a cetamina, corriqueiramente utilizados em cirurgias de curta duração (Tocheto et al, 2015). TABELA 1 – Protocolos de medicação pré-anestésica mais utilizados nos anos de 2013, 2014 e 2015 previamente à indução de cadelas e gatas submetidas à OSH. Ano 2013 2014 2015 Protocolo Frequência Espécie Morfina+Zoletil 7 Felina Acepromazina 4 Canina Acepromazina 1 Felina Acepromazina+Cetamina+Fentanil 2 Felina Acepromazina+Cetamina+Fentanil 3 Canina Acepromazina+Tramadol 4 Canina Acepromazina+Cetamina+Midazolam+Fentanil 3 Felina Acepromazina+Cetamina+Midazolam+Fentanil 2 Canina Acepromazina+Cetamina+Midazolam+Petidina 3 Canina Acepromazina+Cetamina+Midazolam+Petidina 1 Felina O propofol foi o fármaco mais utilizado para indução anestésica durante todo o período avaliado. No ano de 2013, 5/24 animais foram induzidos à anestesia com este fármaco, seguido pelo Zoletil® (4/24) e pela cetamina (1/24). Ressalta-se que neste ano, as fichas de 10 animais não continham anotações referentes à indução, provavelmente em função de falha no preenchimento. Em 2014, novamente o propofol foi amplamente utilizado, sendo empregado em 10 pacientes. O restante dos animais (3/13) foram induzidos com Zoletil®. No ano seguinte (2015), 23 animais foram submetidos à indução anestésica utilizando o propofol, enquanto apenas um único caso de Zoletil® foi relatado. Por ser um fármaco de ultracurta duração e metabolismo rápido (Mata et al., 2010), o propofol é amplamente empregado na indução anestésica de pequenos animais. A manutenção anestésica das pacientes submetidas à procedimentos anestésicos e cirúrgicos adveio principalmente com o propofol, anestésicos dissociativos e isofluorano, como descrito na tabela 2. É notório o aumento da conscientização em relação à importância de uma correta monitoração e documentação de todos os fármacos utilizados, tendo em vista que as fichas que constavam com falhas de preenchimento, foram reduzindo ao longo do período estudado. TABELA 2 – Protocolos de manutenção anestésica referente aos anos de 2013, 2014 e 2015 posteriormente à indução de cadelas e gatas submetidas à OSH. Ano 2013 2014 2015 Protocolo Frequência Propofol 2 Anestésicos dissociativos 9 Isofluorano 2 Fichas sem preenchimento 11 Isofluorano 10 Propofol 1 Fichas sem preenchimento 2 Isofluorano 23 Os anestésicos inalatórios garantem ótimo controle da anestesia, além de rápida indução e recuperação anestésica, determinados fármacos como o isofluorano, que possui alta potência anestésica, baixa concentração alveolar mínima, são vastamente utilizados (Choi et al, 2012). Ao longo dos três anos analisados, a técnica de anestesia epidural foi amplamente utilizada, os protocolos consistiram em base de lidocaína, um anestésico local muito utilizado neste estudo, contabilizando um total de 42 animais de 60 submetidos à OSH. Destes 42 animais, 17 receberam morfina associada à lidocaína. Conclusão O principal protocolo utilizado na medicação pré-anestésica de fêmeas caninas durante todo o período avaliado foi a combinação de acepromazina com tramadol (13,3%), enquanto para as gatas, a mistura de morfina com Zoletil® (11,6%) foi a mais aplicada. O fármaco predominante na indução anestésica foi o propofol (61,6%) associado à anestesia inalatória com isofluorano (58,3%) para a manutenção anestésica e bloqueio epidural em 70% dos animais, sendo a associação de lidocaína com morfina (31,6%) a mais utilizada. Referências CHOI, K.H.; LEE, J.Y.; JEONG, S.M.; KIM, M.C. Oxidative Effects of Isoflurane and Medetomidine-Tiletamine/Zolazepam Combination in Beagle Dogs. 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