UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC CENTRO EDUCACIONAL SÃO CAMILO - SUL CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CONDUTAS DE ENFERMAGEM A PACIENTES CRÍTICOS MIRELA PEREIRA ANDRADE ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM A PACIENTES COM INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO INTERNADOS EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA ARARANGUÁ, JUNHO DE 2008 1 MIRELA PEREIRA ANDRADE ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM A PACIENTES COM INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO INTERNADOS EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA Monografia apresentada ao curso de Pós-Graduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC em convênio com o Centro Educacional São Camilo – Sul para a obtenção do título de especialista em Condutas de Enfermagem a Pacientes Críticos Orientadora: Profa. Ms. Maria Augusta da Fonte ARARANGUÁ, JUNHO DE 2008 2 DECLARAÇÃO DE AUTORIA Eu MIRELA PEREIRA ANDRADE, RG 4961993 CIC 047.176.249-04 Conselho Regional de Enfermagem, declaro para os devidos fins e sob as penas da lei, que o trabalho que versa sobre infarto agudo do miocárdio com o título “Assistência de Enfermagem a Pacientes com Infarto Agudo do Miocárdio Internados em Unidade de Terapia Intensiva” é de minha única e exclusiva autoria, estando a Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC e a USC – Centro Educacional São Camilo – RS autorizados a divulgá-lo, mantendo cópia em biblioteca, sem ônus referentes a direitos autorais, por se tratar de exigência parcial para certificação de especialista em Condutas de Enfermagem a Pacientes Críticos. Criciúma, 30 de junho de 2008 _____________________________________ Assinatura do aluno COREN – SC N°. 148677 3 RESUMO O infarto cardíaco, popularmente conhecido como ataque cardíaco, é a principal causa de morte no mundo ocidental apesar dos avanços em seu tratamento. Portanto, é fundamental o seu reconhecimento para que possa ser efetuado o tratamento apropriado e reduzir o risco de morte e seqüelas. Deste modo, este estudo monográfico aborda o conceito de infarto, por que ocorre, fatores de risco, sintomas e diagnóstico, tratamento, prevenção e a reabilitação após o IAM (infarto agudo do miocárdio). O objetivo final deste estudo é o de promover ações educativas para esclarecer a população para reconhecer os sintomas e habilitar os serviços de pronto atendimento para o tratamento adequado e ágil do paciente vítima de um IAM. Para a realização deste trabalho foram identificadas as principais linhas teóricas sobre o IAM bem como os tipos de tratamento e formas de prevenção recomendadas publicadas em livros e artigos. Valendo-nos de uma revisão crítica de tais documentos foi possível ressaltar as similaridades e diferenças conceituais existentes quanto à assistência de enfermagem à vítima de IAM. Assim, pelo relevante número de ocorrências atendidas nos hospitais do nosso país, e até mesmo por ocorrerem casos, hoje, em indivíduos jovens, nossa preocupação em estudar o tema justifica o presente trabalho. Palavras-chave: assistência de enfermagem; infarto agudo do miocárdio (IAM); orientação da população. 4 ABSTRACT The cardiac infarct, known as cardiac attack, is the main cause of death in the western world, although the improvement on its medical treatment. So, it is fundamental its recognition in order to accomplish the appropriate treatment to reduce the death risk and sequelae. This monograph study the infarct conception approaches, why it happens, risk factors, symptoms and diagnosis, treatment, precaution and rehabilitation after AMI (acute myocardial infarction).The final aim of this study is to promote educative actions to clarify population in order to recognize the symptoms and to qualify the first aid services to adequate treatment of the acute myocardial infarction patient. In order to accomplish this work, were identified the main theory about acute myocardial infarction, as well as the treatment kinds and ways to prevent it, published in books and articles. Reviewing such materials it was possible to distinguish the similarities and differences concepts in relation to the nurse assistance to the acute myocardial infarction victim. Thus, due to the considerable number of victims of our country, once young people are being affected, justified our worry about studying the subject. Key words: nurse assistance, AMI (acute myocardial infarction), clarify population. 5 LISTA DE ABREVIATURAS IAM – Infarto Agudo do Miocárdio AHA – América Heart Association LDL – Colesterol de baixa densidade VLDL – Colesterol de baixíssima densidade HDL – Colesterol de alta densidade UTI – Unidade de Tratamento Intensivo AAS – Ácido acetil salicílico ECA – Enzima da conversão da angiotensina SME – Serviço de emergência PS – Pronto socorro 6 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 7 2. REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................................. 11 2.1 HISTÓRICO DO IAM ............................................................................................................ 11 2.2 CONCEITO DE IAM.............................................................................................................. 12 2.3 ETIMOLOGIA DE INFARTO/ENFARTE ............................................................................ 13 2.4 O QUE É O INFARTO E POR QUE OCORRE..................................................................... 14 2.5 FATORES DE RISCO DO IAM............................................................................................. 17 2.6 QUADRO CLÍNICO DO IAM ............................................................................................... 18 2.7 AVALIAÇÃO DO RISCO DE IAM....................................................................................... 20 2.8 TRATAMENTO DO IAM ...................................................................................................... 21 2.9 COMPLICAÇÕES APÓS O IAM .......................................................................................... 25 2.10 PREVENÇÃO DO IAM........................................................................................................ 26 2.11 PROGNÓSTICO DO IAM.................................................................................................... 30 2.12 CUIDADOS HOSPITALARES A PACIENTES ENFARTADOS ...................................... 30 2.14 PROTOCOLO DE PRONTO ATENDIMENTO A PACIENTES ENFARTADOS............ 36 2.15 TROMBÓLISE PRÉ-HOSPITALAR ................................................................................... 37 CONCLUSÃO.............................................................................................................................. 38 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 42 7 1 INTRODUÇÃO A trombose coronariana é conhecida como causa de morte desde o início do século XIX. Através de experiências com animais, onde uma artéria coronária era ligada, e delimitadas observações de necropsia em seres humanos era considerada uma essência clínica fatal. Em 1901, o alemão Krehl expôs quem nem sempre a trombose coronariana motivava morte repentina e ou que poderia intricar-se com formação de aneurisma ventricular e ruptura miocárdica. Anos mais tarde esses estudos foram confirmados por Obrastov, Strazhesko e Herrich, que expuseram as características clínicas do infarto agudo do miocárdio e construíram o diagnóstico diferencial em relação à angina de peito. A partir do momento que ficou manifestado ser possível sobreviver a um IAM (infarto agudo do miocárdio) as atenções se voltaram para a sua terapêutica. Na década de 50, o IAM já era considerado a maior causa de morte nos países desenvolvidos e um grande problema de saúde pública. Desde 1994 o IAM vem sendo usado para se aludir a pacientes que se apresentam com dor torácica isquêmica, sendo que elas denotam, não apenas o que é exposto pelo paciente, mas bem como, um processo contínuo. Em linhas gerais, este termo se refere a uma condição em que não se tem a certeza de que é uma crise anginosa ou um infarto em andamento. Trabalhos da América Heart Association (AHA), revelaram que de 5 milhões de pessoas que foram avaliadas nos serviços de emergência dos EUA, em 1999, devido a um quadro de dor torácica, em 2 milhões foi feito o diagnóstico de Síndrome Coronariana Aguda, sendo que destes 500.000 foram hospitalizados com diagnóstico de angina instável, e 1,5 milhões sofreu IAM sendo que 1/3 destes morreu. Síndromes coronarianas agudas reúnem num todo as situações em que o médico não pode em tempo hábil definir se é apenas uma crise anginosa ou um infarto agudo do miocárdio. 8 O infarto cardíaco é a principal causa de morte no mundo ocidental apesar dos avanços em seu tratamento. Atualmente apresenta uma taxa de mortalidade em torno de 8 a 10%. É fundamental o seu reconhecimento para que possa ser efetuado o tratamento apropriado, redução do risco de morte e seqüelas. O infarto do miocárdio é popularmente conhecido como ataque cardíaco, sendo na maioria das vezes o causador de uma enorme parcela de internações hospitalares, e até mesmo óbitos, não só aqui no Brasil, bem como no mundo inteiro. Isso tem feito com que médicos e serviços de saúde venham a promover melhorias nos cuidados dos pacientes que apresentam risco de sofrer um infarto do miocárdio, bem como ao estudo e ampliação de medidas que pressagiem a ocorrência de infarto do miocárdio em pessoas que já sofreram um ataque. Como todo órgão em nosso organismo, o coração precisa de oxigênio para que suas células funcionem adequadamente. É por meio dos vasos sanguíneos, mais categoricamente, das artérias, que o oxigênio chega aos diversos órgãos do nosso corpo. Cada órgão exibe sua artéria específica e, no caso do coração, elas são chamadas artérias coronárias e são duas: a coronária direita e a esquerda. A aterosclerose é uma doença que atinge as artérias, levando à formação de placas de gordura em sua parede. São diversos fatores de risco para o seu desenvolvimento, como pressão alta, diabetes, níveis elevados de colesterol no sangue, tabagismo, obesidade, idade avançada, sexo masculino e história familiar positiva. Essas placas vão crescendo para dentro das artérias, diminuindo o espaço para a passagem de sangue. Fortuitamente, a placa pode sofrer uma rachadura ocasionando a coagulação do sangue no local, diminuindo ainda mais a passagem do sangue podendo até cessála. Neste caso, é quando ocorre o infarto agudo do miocárdio, o sangue é impedido de passar pela placa de gordura e pelo coágulo aderido a ela. A cessação prolongada do fluxo de sangue faz com que as células que dependem dessa artéria acabem morrendo, formando então a região enfartada. Essa região “morta” não contrai mais, podendo levar a redução da função do coração. 9 Sujeitos que já sofreram um infarto do miocárdio tem enormes chances de apresentarem um novo infarto, de modo que devem ser submetidos a uma série de cuidados, com o intuito de diminuir esse risco. É de máxima importância que a pessoa siga as recomendações médicas, delas depende o bom estado físico após esse evento. Portanto, é necessário que tenhamos em mente que mesmo depois de um infarto do miocárdio a pessoa pode levar uma vida relativamente normal, sendo capaz de realizar a maioria das atividades que era habilitado anteriormente, não subsistindo motivos para pensar que passará o resto da vida confinado a uma cama. Este estudo monográfico pretende abordar o conceito de infarto, por que ocorre, fatores de risco, sintomas e diagnóstico, tratamento, prevenção e a reabilitação após o IAM. O objetivo da presente abordagem é o de promover ações educativas para esclarecer a população em reconhecer os sintomas e habilitar os serviços de pronto atendimento para o tratamento adequado e ágil do paciente vítima de um IAM. Foram identificadas as linhas teóricas sobre o IAM emitidas em publicações de diversos autores analisados neste estudo, bem como, os tipos de tratamentos, formas de prevenção recomendadas em casos de IAM nas obras revisadas. Todo o estudo foi respaldado em documento, livros e artigos relacionados com o tema em questão, de forma direta e discursiva. Valendo-nos de uma revisão crítica das principais linhas teóricas que permitem ressaltar as similaridades e diferenças conceituais existentes e que abordam a assistência da enfermagem à vítima de IAM. Pelo relevante número de ocorrências atendidas nos hospitais do nosso país, e até mesmo por ocorrerem casos, hoje, em indivíduos jovens, nossa preocupação em estudar o tema justifica o presente trabalho. Este estudo foi dividido em subtítulos comportando os diferentes momentos e aspectos do IAM, passando por sintomas, atendimento de emergência e subseqüente, risco, cuidados e enfermagem, prevenção, entre outras informações muito importantes. Nesse sentido, conhecer mais profundamente a história do IAM e tudo que o envolve, dentro dos aspectos físicos e emocionais, permite um maior nível de 10 informação para o cuidado de enfermagem, resultando em melhor nível de atuação nas unidades hospitalares e Unidades de Terapia Intensiva. 11 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1. HISTÓRICO DO IAM Desde o início do século XIX, a trombose coronariana era conhecida como causa de morte entre os seres humanos. O alemão Krehl, em 1901, observou que a trombose coronariana nem sempre causava morte repentina, mas que poderiam ocorrer complicações tais como formação de aneurisma ventricular e ruptura miocárdica. Anos mais tarde, Obrastov, Strazhesko e Herrick, a partir destas observações confirmaram e comentaram as características clínicas do infarto agudo do miocárdio determinando a diferença com relação à angina do peito. A partir do momento que ficou definido ser possível sobreviver a um infarto agudo do miocárdio, as atenções se voltaram para a prática de meios adequados para aliviar ou curar os pacientes. No ano de 1929, Samuel Levine publicava o primeiro livro direcionado exclusivamente ao tema. O livro discorria sobre a freqüência e o risco de várias arritmias e a importância de sua descoberta precoce, bem como indicava-se o uso de quinidina nas taquicardias ventriculares e de adrenalina nos bloqueios cardíacos e síncope. Na década de 50, o infarto agudo do miocárdio já era considerado a maior causa de mortalidade nos países desenvolvidos e um enorme problema de saúde pública para os mesmos. Na segunda metade do século XX, arraigados por Desmond Julian na GrãBretanha, apareceram as unidades de tratamento coronarianas. Estas foram responsáveis por um dos maiores avanços isolados no tratamento do infarto, pois as taxas de mortalidade reduziram de 30% para 15% nas primeiras horas de ação, auxiliando uma melhor avaliação no diagnóstico e manejo das arritmias, para o começo 12 da monitorização cardíaca contínua, para o desenvolvimento das manobras de ressuscitação cardiopulmonar e dos desfibriladores externos e para melhor treinamento de médicos e enfermeiros. Tais avanços se desenvolveram ainda mais com a monitorização hemodinâmica através do cateter de Swan-Ganz e com a utilização do balão de contra pulsação aórtica, contribuindo no manejo agressivo da insuficiência cardíaca e do choque cardiogênico. Apareceram também as unidades intensivas móveis, providas com material necessário e pessoal treinado na detecção e tratamento das arritmias fatais, principalmente a fibrilação ventricular. 2.2 CONCEITO DE IAM Nesta sessão será abordado de modo sucinto o conceito do IAM (Infarto Agudo do Miocárdio). O infarto do miocárdio faz parte de um grupo de doenças chamado doenças isquêmicas do coração. Caracteriza-se pela morte da musculatura miocárdica devido à insuficiência de movimento alternativo do sangue para uma parte do músculo cardíaco. Assim sendo, as células sofrem necrose por falta de suporte nutritivo. A cessação do fluxo coronário geralmente ocorre por causa do estreitamento súbito de uma artéria coronária pelo ateroma, ou pela obstrução total de uma coronária por embolo ou trombo. Dentro desse contexto, Porto (1998, p. 608), assinala que é considerado um episódio de infarto quando “o paciente que apresenta pelo menos dois dos três critérios clássicos: quadro clínico sugestivo, alterações eletrocardiográficas compatíveis, elevação enzimática de pelo menos duas vezes em relação aos valores normais.” 13 2.3 ETIMOLOGIA DE INFARTO/ENFARTE in fartu = cheio, atulhado; infarcire = inchar. Sinonímia: Enfarte (mas nunca infarte nem enfarto) = necrose que se instala após interrupção do fluxo sanguíneo. O infarto agudo do miocárdio é uma cardiopatia isquêmica. Ocorre por deficiência perfussional do tecido cardíaco resultando em necrose da parede miocárdica. De modo mais detalhado, pode-se dizer que é um processo pelo qual o tecido miocárdico é destruído em regiões do coração privadas de suprimento sanguíneo, após o fechamento da artéria coronariana ou de uma de seus ramos por um trombo, ou obstrução da luz do vaso por aterosclerose (obstrução dos vasos principalmente das artérias). Um infarto do miocárdio, conhecido popularmente como ataque cardíaco, ocorre quando artérias (artérias coronárias) que suprem de sangue a parede do coração se entopem de repente, em geral, por um pequeno trombo (coágulo sanguíneo). Os coágulos sanguíneos geralmente se formam dentro das artérias coronárias já estreitadas pela aterosclerose, um problema onde placas de gordura ficam aderidas ao longo das paredes internas dos vasos sanguíneos. A partir do momento em que a região suprida por aquela artéria coronária deixa de receber sangue, as respectivas células (fibras musculares) entram em colapso, e começam a morrer. Esta situação interfere na capacidade do coração em bombear o sangue para os tecidos, em maior ou menor grau, de acordo com o tamanho e localização do infarto; ou ainda, compromete áreas que controlam as batidas do coração causando arritmias, às vezes fatais. Geralmente 25% dos infartos levam à morte súbita, com a perda da vítima em fração de segundos ou minutos, muitas vezes não dando tempo de se obter socorro. A base dos sintomas que irão se desenvolver após o infarto e as chances de sobrevivência dependem do local e da extensão do entupimento da artéria coronária. 14 2.4 O QUE É O INFARTO E POR QUE OCORRE Segundo Julian e Cowan (2000, p. 116), “O termo infarto designa a necrose do miocárdio que se instala secundariamente à interrupção aguda do fornecimento de sangue através das coronárias”. A destruição do músculo do coração é motivada, geralmente, por depósitos de placas de ateroma nas artérias coronárias. Desse modo, essas placas nada mais são do que o amontoado de células no interior dos vasos sanguíneos. Lesões dos próprios vasos, assim como depósitos de gordura que vão desenvolvendo-se com o tempo, constituem-se verdadeiras “rolhas” no interior das artérias do coração. O infarto do miocárdio está mais repetidamente unido a uma causa mecânica, ou seja, suspensão do fluxo sanguíneo para uma área específica por causa da obstrução total parcial da artéria coronária responsável por sua irrigação. A dimensão da necrose depende de muitos fatores que possam ter ocorrido tais como o tamanho da artéria lesada, tempo de desenvolvimento da obstrução e desenvolvimento da circulação colateral. O infarto significa a morte de uma parte do músculo cardíaco (miocárdio), por falta de oxigênio e irrigação sanguínea. A oxigenação necessária ao funcionamento do coração sucede por um conjunto de vasos sanguíneos, as chamadas artérias coronárias. Quando uma dessas artérias que irrigam o coração impede o abastecimento de sangue e oxigênio ao músculo, redundando em um processo de destruição irreversível, podem ocasionar parada cardíaca (morte súbita), morte tardia ou insuficiência cardíaca com sérias limitações de atividades físicas. Os pacientes que passam por um infarto, são comumente do sexo masculino, pois são mais facilmente vulneráveis que as mulheres. Isso porque, acredita-se que as mulheres possuam uma eficácia protetora que é a produção de hormônios (estrógeno), tanto que após a menopausa, pela falta de produção desse hormônio, a circunstância de infarto na mulher cresce de sobremaneira. O infarto do miocárdio pode também ocorrer em pessoas que têm as artérias coronárias normais. Isso acontece quando as coronárias apresentam um espasmo, 15 contraindo-se violentamente e também produzindo um déficit parcial ou total de oferecimento de sangue ao músculo cardíaco irrigado pelo vaso contraído. Segundo o médico cardiologista MARTINEZ (2001) em entrevista a Dráuzio Varela: Infarto é o entupimento agudo de uma artéria do coração por um coágulo, um trombo, que se desprende de um ateroma, isto é, de uma placa de gordura que se deposita na parede da artéria, e bloqueia a circulação sanguínea. Privada de oxigenação, essa área sofre lesões irreversíveis (necroses) que caracterizam o infarto do miocárdio. A gravidade desse acidente vascular está proporcionalmente ligada à importância e extensão da musculatura cardíaca que deixou de ser irrigado. Existem diversos fatores causadores do infarto do miocárdio. Entre eles podemos detectar o fator idade, pois é depois dos 50 anos que ocorrem ou aumentam ainda mais as incidências dos casos de infarto. Outro fator também que contribui é o colesterol: quanto maior o volume de colesterol no sangue maior a probabilidade de enfartar. Existem 03 tipos de colesterol: o de baixa densidade (LDL), o de muita baixa densidade (VLDL), e o de alta densidade (HDL). O HDL conhecido como bom colesterol, possui efeito protetor para o infarto do miocárdio, recomendado mantê-lo em níveis altos no sangue. O LDL por sua vez, o mau colesterol, como é popularmente conhecido, deve ser observado, pois em níveis elevados no sangue aumenta a probabilidade de infarto. Geralmente, a pessoa tem o colesterol alto devido a doenças hereditárias, fazendo com que o organismo não consiga produzir as enzimas imprescindíveis para desmanchar a gordura. Por este motivo é que há casos de jovens tendo infarto. É fundamental e necessário detectar se existem casos desse tipo na família, pois quando essas doenças são tratadas antecipadamente, pode-se evitar que essas pessoas sofram o infarto. Sobre isso, Nobre e Serrano Jr. (2005, p. 29), assinalam em seus estudos que “Evidências observacionais demonstram resultados da importância da história familiar coronária para o risco do IAM. [...] O conhecimento da história familiar do indivíduo pode auxiliar os esforços de diretrizes preventivas. 16 Tem-se o diabetes também como uma doença que aumenta a chance de infarto do miocárdio. Como este pode ser transmitido hereditariamente, novamente é imprescindível verificar se existem casos na família e tratar a doença precocemente. “O diabete melito deve ser interpretado como um importante e independente fator de risco a ser prevenido, visando a reduções no risco de IAM”. (NOBRE e SERRANO JR, 2005, p. 29). A hipertensão (pressão alta) e a obesidade fazem o coração bombear mais, exigindo mais sangue, o que também é um dos fatores para o aumento do risco de infarto do miocárdio. Sobre isso, Nobre e Serrano Jr. (2005, p. 29), asseguram que: A pressão arterial correlaciona-se intensamente com risco vascular. [...] dados obtidos na região metropolitana de São Paulo reforçam a necessidade de prevenção primária da HAS, permitindo assim a diminuição do risco cardiovascular da população, com conseqüentes reduções das taxas de IAM, e provavelmente de acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca e insuficiência renal. O marasmo, o estresse, a ansiedade e a falta de prática física, também contribuem na produção do infarto. O fumo está intrinsecamente arraigado com o infarto do miocárdio: os fumantes são em número 60% mais vulneráveis de sofrer infarto do que os não fumantes. O fumo causa não somente a destruição de vasos do coração, como também aumenta a chance de formar trombose (coágulos de sangue). Essa propensão de provocar coágulos aumenta ainda mais em mulheres que tomam anticoncepcionais, principalmente, entre os 30 e 40 anos de idade. Nobre e Serrano Jr. (2005, p. 27), nesse contexto, alertam que “A importância do tabagismo vem sendo demonstrada ao longo dos alunos por uma série de evidencias intra e interpopulacionais”. Subsistem algumas causas que levam à obstrução das artérias coronárias, entretanto, em primeiro lugar está a aterosclerose a qual se constitui pelo acúmulo de gordura na parede das artérias, formando verdadeiras placas, que podem vir a obstruir o vaso e impedir o fluxo de sangue a partir daquele local. Geralmente essa obstrução acontece quando a placa se rompe e a ela associam-se plaquetas, procedendo um coágulo (trombo) e fechando a artéria. Nesse sentido Nobre e Serrano Jr. (2005, p. 29), afirma que “Existe [...] grande interesse em compreender como os fatores genéticos 17 promovem ou previnem a aterosclerose, permitindo que a epidemiologia molecular forneça embasamento para a prática da medicina preventiva.” Desse modo, infarto do miocárdio é a necrose de uma parte do músculo cardíaco causada pela ausência de irrigação sanguínea que leva nutrientes e oxigênio ao coração. 2.5 FATORES DE RISCO DO IAM Os fatores de risco cardiovasculares, especificamente, são as condições ou hábitos que atacam o coração ou as artérias, entre os quais estão a hipertensão arterial, as dislipidemias (altos níveis de colesterol LDL e triglicérides), o fumo, o diabetes, o estresse, o sedentarismo, a obesidade, a alimentação gordurosa e a hereditariedade. Aproximadamente de 40 a 60% dos casos de pacientes enfartados estão associados à hipertensão arterial. Sobre os fatores de risco Mesquita e Clare (2002, p. 152), complementam ainda a importância de “Avaliar passado de IAM, angioplastia, revascularização e catetterismo prévio. História de doença cerebrovascular e periférico. Medicações de uso (AAS, anti-hipertensivos, anticoagulentes)”. O infarto do miocárdio é uma doença provocada por diversos fatores que agem em conjunto e ao mesmo tempo. STEFANINI (2004), médico cardiologista, em entrevista concedida a Dráuzio Varela destaca entre eles: 1) hereditariedade - casos na família de doenças coronárias; 2) pressão arterial - deve ser mantida dentro do nível 14 por 9, limites adequados para prevenir futuras doenças cardíacas; 3) diabetes controlar o nível de açúcar no sangue, pois os diabéticos às vezes sofrem infartos subclínicos que são os que não apresentam o sintoma convencional de dor no peito; 4) colesterol - o controle das gorduras tem de ser sistemático e permanente; 5) triglicérides - estes geralmente sofrem quando há aumento da ingestão de carboidratos; 6) tabagismo - a nicotina do cigarro é um dos fatores mais agressivos de risco das doenças cardíacas; 7) estresse - o estresse crônico aumenta a probabilidade de infarto quando associado a outros fatores de risco. 18 2.6 QUADRO CLÍNICO DO IAM Ainda que IM, na maioria das vezes, apareça associado a fenômenos que indicam um quadro cardíaco, pode também acontecer sem que se evidencie sintoma algum. Pode ocorrer principalmente em pacientes que tenham um histórico de diabéticos, ou que façam uso de beta-bloqueadores, ou até no período pré e pósoperatório. É comum, em casos de IAM, o paciente queixar-se de dor torácica insistente e repentina, com intensidade variada localizada sobre a região inferior do esterno (parte central e posterior do peito) e abdômen superior. A dor vai tornando-se mais grave até ficar quase insustentável. Mesmo quando a pessoa está acordando ou fazendo pouco esforço também pode surgir o mal-estar o qual pode atingir o ombro e o braço esquerdo, as costas, o pescoço e a mandíbula, os dois últimos são atingidos em poucos casos. O paciente sente uma violenta dor e um aperto no peito que se estendem de 30 minutos a algumas horas e, estes, não são aliviados pelo repouso ou pela nitroglicerina. Quanto aos sintomas associados, se incluem aumento da freqüência respiratória, palidez, sudorese abundante, fria e pegajosa, tonteira e confusão mental e, algumas vezes, uma sensação de opressão torácica. Também pode haver, por reflexo vagal, náuseas e vômitos e, morte iminente. Dentro desse campo de considerações, Porto (2002, p. 610), enfatiza que o “paciente com suspeita de infarto agudo do miocárdio deve ser avaliado o mais rapidamente possível quando da chegada ao hospital/pronto socorro, se possível nos 10 primeiros minutos, mas nunca demorando mais de 20 minutos”. Assim, Coelho e Cirillo (2008, p. 1), alertam que “um grande desafio para o médico que trabalha nas unidades de emergência é o atendimento dos pacientes com suspeita de infarto do miocárdio”, em função dos equívocos não raramente cometidos, o que leva a muitas queixas e reclamações a respeito do atendimento médico. Na verdade, é necessário que se realize o diagnóstico diferencial da dor torácica, pois muitos pacientes se apresentam com queixa precordialgia. (COELHO e CIRLLO, 2008, p. 1). 19 Ao ser examinado, o paciente, na maioria das vezes, se mostra ansioso, excitado, mexendo-se para encontrar uma posição de bem-estar e alívio. Sobre isso, Coelho e Cirillo (2008, p. 1), ressaltam que: Existe uma grande dificuldade do médico que está atendendo a emergência em discriminar pacientes com IM dentre aqueles admitidos com dor torácica. O médico da emergência não deve internar pacientes que não tenham o diagnóstico, mas não pode liberar pacientes para casa sem afastar o IM. Exemplo da importância deste fato: um hospital de Chicago, de 115.000 atendimentos clínicos na emergência, sete mil foram de pacientes com dor torácica, sendo que 4.100 destes foram internados com suspeita clínica de IM. Em 200 se confirmou a presença de isquemia miocárdia. Entretanto, há que se ter cuidado com o diagnóstico, pois há um grande número de pacientes liberados das emergências hospitalares de forma inadequada, sendo que embora a avaliação não fosse a de IM, na verdade era. É fundamental que o paciente com IM tenha seu diagnóstico e tratamento implementado o mais breve possível pelos serviços de urgência e emergência. Sobre isso, Coelho e Cirillo (2008, p. 1), alertam que “os requisitos básicos para o correto diagnóstico e tratamento do paciente com IM” deve ser disponibilizado nas unidade de emergências, tais como o médico ter formação que o capacite para o correto diagnóstico e tratamento do paciente acometido de IM; deve estar preparado para administrar o trombolítico, conhecer suas contra indicações e eventuais complicações; deve receber treinamento periódico para Reanimação Cardiopulmonar, Cardioversão e Desfibrilação; disponibilização da interpretação eletrocardiográfica, mesmo em forma de fax; a unidade de emergência deve contar com a estrutura e equipamentos básicos que são indispensáveis para qualquer atendimento de emergência ou urgência, que são eles: material de reanimação, cardiopulmonar, cardioversos-desfibrilador, monitor, eletrocardioógrafo e os medicamentos necessários, equipes de enfermagem e de apoio médico disponíveis e treinadas. (COELHO e CIRILLO, 2008, p. 2). Também Porto (2002, p. 609), esclarece que “o quadro clínico pode ser extremamente variável, havendo, inclusive, uma incidência expressiva de infarto agudo do miocárdio sem dor”, sendo, portanto necessário considerar a dor acima do umbigo 20 de qualquer pessoa, ou com manifestações de súbito comprometimento do sistema circulatório, com dor atípica ou mesmo sem dor. Na continuação, abordar-se-á a avaliação do risco. 2.7 AVALIAÇÃO DO RISCO DE IAM Mesquita e Clare (2002, p. 151), ressaltam que de acordo com a Organização Mundial de Saúde, “o IMA continua um desafio apesar de todo o tratamento terapêutico. [...] a cada 100 doentes infartados, 62 chegam ao hospital e somente 50 estarão vivos no primeiro mês e 40 no primeiro ano”. Nesse sentido, quando o paciente não apresenta complicação após o infarto agudo do miocárdio, comumente pode retornar para casa após alguns dias de internação hospitalar, exceto em casos que tenha ocorrido alguma complicação maior, então é necessária observação por um período mais prolongado. Para que o indivíduo possa receber alta, antes de tudo, deve ser submetido a alguns exames que ajudam o médico a diagnosticar a possibilidade de um novo infarto, bem como o grau da aterosclerose. Entre eles pode-se citar o teste ergométrico, feito em esteira, ecocardiograma e cateterismo cardíaco. É de suma importância que o paciente e sua família tenham um diálogo aberto e franco com o médico, pois naquele momento todos os aspectos da doença e o plano de tratamento serão explicados. É fundamental um acompanhamento médico rigoroso, bem como também um mudança do estilo de vida e a adoção de medicamentos. É pertinente ressaltar, conforme afirmam Smeltzer & Bare (2002, p. 608), a importância do cuidado domiciliar e comunitário em relação ao autocuidado aos pacientes: O meio mais eficaz para aumentar a probabilidade de o paciente aderir a um regime de autocuidado após a alta é fornecer a educação adequada sobre o processo patológico e facilitar o envolvimento do paciente em um programa de 21 reabilitação cardíaca. Trabalhar com os pacientes no desenvolvimento dos planos para satisfazer suas necessidades específicas estimula mais ainda o potencial para a complacência. Na verdade, a mudança no estilo de vida do paciente durante a convalescença e a cura é imprescindível após o evento do IM. O período de cuidados maiores duram de 6 a 8 semanas, sendo ao paciente cabe a modificação das atividades, com a finalidade de recuperação completa. Entretanto, convém ressaltar que a adaptação a uma crise cardíaca é um processo contínuo e, via de regra, requer uma modificação no estilo de vida, bem como algumas específicas. Porto (2002), destaca que a reabilitação do paciente enfartado inclui a prescrição de exercícios físicos com educação sobre medidas que modifiquem, então, os fatores de risco, que trazem inúmeros benefícios quanto à qualidade de vida. Entretanto, naturalmente, a prescrição dos exercícios deve ser supervisionada, sempre que possível, por profissionais especializados. Porto (2002, p. 613), chama a atenção, ainda, para o ponto de vista de reintegração social, assinalando que o “suporte mais efetivo é o familiar. Os familiares devem saber da importância do seu apoio, incluindo-se a observação de que a necessidade do mesmo é maior e dura mais tempo do que os familiares imaginam”. Assim, sabe-se que a qualidade do suporte psicológico é muito importante, inclusive, facilita a adesão do paciente ao tratamento, conforme tratar-se-á no próximo capítulo. 2.8 TRATAMENTO DO IAM O tratamento rápido do infarto agudo do miocárdio tem como finalidades reduzir a lesão do tecido afetado, a cicatrização da área afetada, o resguardo da totalidade do tecido miocárdio normal e evitar complicações fatais. Quando o tratamento é feito logo após o infarto, acredita-se que se possa reduzir energicamente a lesão do músculo do coração. Livrar a lesão do tecido do 22 miocárdio e aliviar a dor se consegue através de repouso e medicamentos para diminuir o trabalho cardíaco e recuperar o fluxo sanguíneo. A administração de agentes trombolíticos objetivam desmanchar possíveis trombos ou através da anginoplastia. Neste momento os médicos, de modo geral, optam pela administração da dolantina por ser uma droga de efeito analgésico potente. Também podem ser utilizados antiarritmicos, mais seu uso ainda é discutido. Porto (2002, p. 610), assegura que: Uma vez hospitalizado, o paciente deve ser monitorizado de forma contínua, na derivação com maior supradesnivelamento. O diagnóstico do infarto deve ser confirmado com a confirmação de ECGs e dosagens enzimáticas seriadas. Nesta fase impõe-se o controle intensivo do paciente, pois a maioria dos reinfartos ocorre nas primeiras 24 horas. Nessa fase o paciente precisa ser vigiado o tempo todo. Para que seu músculo cardíaco não sinta ausência de sangue é preciso que se administrem oxigênio e drogas que reduzam a dor causada pela baixa concentração de oxigênio circulante. Assim, nesse período crítico deve-se limitar a permanência do paciente na UTI pelo período mínimo de 72 horas (setenta e duas horas), pois neste momento há a necessidade de se monitorar continuamente o infarto devido a varias circunstancias de complicações que possam vir a ocorrer. Vencida essa fase, preferencialmente transfere-se a paciente para um leito privativo, limitando-se o número de visitas, mas permitindo que ele sente-se em uma poltrona por períodos breves. A liberação para o paciente sentar-se começa pelo quarto ou quinto dia, aumentando gradativamente o tempo. Cabe aqui ressaltar, que a movimentação antecipada permite uma melhora considerável do bem-estar psicológico do paciente, além de diminuir a incidência de trombo embolia. Mesmo assim, há que se ter o cuidado de observar o paciente para ver se não houve nenhuma alteração no seu quadro clínico decorrente desta atividade física. A alimentação deverá ser sódica e leve. Deve-se ter todo o cuidado na comida que o paciente vai ingerir deste momento em diante: o mesmo deve seguir uma dieta rigorosa evitando alimentos que contribuam para o risco de um novo IAM. À 23 medida em que as condições clinicas do paciente permitirem, a dieta será liberada. Deve-se ter também a precaução no momento da evacuação, o paciente não deve fazer esforço excessivo, nestes casos deve-se fazer uso de laxantes suaves. O uso de tranqüilizantes servirá para diminuir as causas que angustiam o paciente tais como: a dor, a própria internação, por estar na UTI, medo da morte, entre outros, pois todas estas situações elevam os batimentos cardíacos e a pressão. Depois que a pessoa sofre um infarto é necessário avaliar o prejuízo causado, saber qual a dimensão do miocárdio que foi atingida pela morte do tecido (necrose) e qual coronária esta entupida. Desse modo, são utilizados o ecocardiograma, teste ergométrico e a cineangiocoronariografia. A recuperação do fluxo na coronária atacada pode ser alcançada através de cirurgia ou angioplastia. Nas cirurgias são feitas postes de veia safena ou mamária criando uma via alternativa de passagem do sangue para irrigar o miocárdio. Na angioplastia, penetra-se um balão apropriado dentro da artéria para esmagar a placa ateromatosa que está entupindo a artéria. Todo indivíduo que sofre um infarto agudo do miocárdio apresenta grande risco de recorrência. Existem alguns medicamentos que ajudam a reduzir esse risco, devendo ser utilizados diariamente. Alguns, além disso, ajudam a tratar os episódios de dor. As medicações mais habitualmente empregadas após o infarto são: • AAS: usada para ajudar a prevenir a formação de coágulos sanguíneos, principalmente nas placas de gordura nas artérias; • Oxigênio através de um cateter nasal ou máscara; • Medicamento para dor como os derivados da morfina; • Beta-bloqueadores usados para reduzir a demanda de oxigênio pelo coração como propanolol, atenolol, brisopolol, metoprolol. • Antagonistas do cálcio utilizados com os mesmos objetivos que os betabloqueadores em pessoas que não toleram o uso desses últimos, como por exemplo verapamil, diltiazem, nifedipina, entre outros. • Nitratos (nitroglicerina) para aumentar o fluxo de sangue para o coração. Tratamento da dor na forma de comprimidos sublinguais. 24 • Inibidores da ECA (enzima da conversão da angiotensina) são extremamente importantes, ajudam o coração a trabalhar de forma mais eficaz, principalmente, porque abaixam a pressão sanguínea reduzindo os danos causados pelo infarto ao coração captopril, enalapril. • Inibidores dos receptores IIb e IIIa são medicamentos que bloqueiam a ligadura entre as plaquetas pelo fibrinogênio, reduzindo a coagulação, tirofipam, por exemplo. • Estatinas ajudam a reduzir os níveis de gordura no sangue, principalmente o colesterol, como, por exemplo, sinvastatina, pravastatina, atovastatina. O cateterismo cardíaco é indicado para quando se estabelece o diagnóstico do infarto agudo do miocárdio e, portanto, o paciente é considerado candidato ao tratamento para reperfusão da coronária lesada. A reperfusão é melhor quando feita mecanicamente. O paciente é encaminhado ao setor de hemodinâmica para fazer um cateterismo cardíaco. Um cateter é enfiado por um vaso sanguíneo de grande calibre em direção ao coração. Um contraste é injetado para localizar o bloqueio na artéria coronária, é assim que será feito o diagnóstico preciso da lesão e sua localização. Logo que se detecta a localização da lesão, uma angioplastia coronariana será feita na tentativa de desbloquear a artéria coronária. Nela, um cateter que tem um pequeno balcão na ponta é introduzido através do bloqueio, e então o balão é insuflado para esmagar o coágulo e a placa. A maioria dos cateteres com balão também tem uma malha de arame, chamada o stent na ponta. Logo que o balão é insuflado, o stent permanece em seu lugar para manter a artéria aberta. A reperfusão também pode ser feita com remédios que dissolvam o coágulo (a trombólise) chamados agentes trombolíticos. Estes medicamentos são freqüentemente usados quando não é possível fazer uma angioplastia imediata. A reabilitação cardíaca compreende um conjunto de intervenções com benefício comprovado nos pacientes que já tiveram um infarto. A prática regular de atividade física, mudanças no estilo de vida e acompanhamento psicológico são componentes essenciais na reabilitação do paciente quando aplicados em conjunto. 25 É de nosso conhecimento que a prática de exercícios físicos está ligada à manutenção da saúde cardiovascular. A maioria dos pacientes, vítima de um infarto do miocárdio, são capazes de se exercitar pouco tempo depois do acontecimento, entretanto a intensidade e duração dessa atividade física devem ser determinadas com base na gravidade do evento cardíaco o que permite a criação de um programa adequado para cada paciente. O exercício mais apropriado é a atividade aeróbica, incluindo a prática de caminhadas, ciclismo, remada, entre outros. A freqüência é de três a cinco vezes por semana, sempre acompanhados de um período inicial de aquecimento e um período de relaxamento após cada exercício. Os indivíduos com doenças mais graves devem exercitar-se sob supervisão médica. Talvez, o componente da reabilitação mais difícil de ser seguido seja a modificação do estilo de vida. É importante destacar que a adoção de hábitos alimentares saudáveis, a perda de peso e a diminuição dos níveis de colesterol reduzem os fatores de risco. Deve-se reduzir a ingestão de carnes vermelhas, especialmente as muito gordurosas, óleos animais, manteigas, margarinas, bebidas alcoólicas e aumentar a ingestão de verduras, frutas, legumes e óleos sem colesterol azeite de oliva de preferência. A interrupção do tabagismo é de fundamental importância, ajudando a reduzir a incidência de varias outras doenças. A depressão é bastante comum entre os pacientes que já sofreram um infarto do miocárdio, nesse caso, o acompanhamento psicológico, com o objetivo de ajudar a diminuir o nível de estresse e a lidar com as situações difíceis, é fundamental e tem sido apoiado pelos estudos que sugerem uma ligação entre o estudo emocional e a ocorrência de eventos que levam ao infarto. 2.9 COMPLICAÇÕES APÓS O IAM Num prazo de vinte e quatro horas após o infarto podem ocorrer as complicações mais letais que são as arritmias. Temendo essas complicações é que 26 foram criadas as UTIs coronarianas. Neste local, o paciente receberá todos os cuidados necessários para perceber antecipadamente e prevenir com tratamentos específicos essas arritmias. Nesse contexto, Porto (2002, p. 612), destaca que três das complicações mais temidas são: ruptura de músculo papilar, ruptura do septo interventricular e ruptura da parede livre do ventrículo esquerdo. 2.10 PREVENÇÃO DO IAM Um dos maiores índices de morte é o IAM. Entretanto, devido a mudanças nos hábitos alimentares e exercícios físicos que as pessoas vêm praticando, tais índices estão diminuindo. O primeiro passo fundamental para combater a doença é a dieta na qual se evita a ingestão de colesterol e triglicérides. É costumeiro fazer-se dosagem dos mesmos a cada cinco anos, para procurar mantê-los dentro do nível normal. Quando os níveis de colesterol e triglicérides estiverem altos, deve-se iniciar imediatamente um tratamento através de dieta e/ou do uso de remédios que diminuem a concentração desses elementos na corrente sangüínea. O exercício físico possui um papel preponderante na prevenção do IM, não apenas para melhorar o condicionamento do corpo, mas para ajudar a manter o peso ideal. Aconselha-se a fazer caminhadas durante meia hora cada, no mínimo três vezes por semana. Quando se pratica o exercício físico, o coração trabalha mais, fator que favorece uma circulação colateral, podendo salvar o paciente quando uma artéria importante do coração encontra-se bloqueada. O vício de fumar deve ser deixado imediatamente, não somente para evitar o IM, como outras doenças que o cigarro causa, como o câncer de pulmão. O estresse também merece cuidados, pois, na maioria das vezes, é ele responsável pela hipertensão arterial. Diversas atividades podem ser utilizadas para 27 diminuir o estresse como massagens, ioga, exercícios físicos em geral, esportes e meditação. Portanto, suprimindo-se os fatores de tensão, reduz-se o risco de IM. Diante do exposto acima torna-se claro que a melhor maneira de prevenir o infarto é reduzir a exposição aos fatores de risco. O primeiro passo é controlar a alimentação. A dieta deve ser composta de carnes magras, peixes e aves, e muita verdura e legumes. Os óleos recomendados são os de origem vegetal sendo que o azeite de oliva é o mais indicado, pois é rico em HDL (o colesterol bom que protege a formação de placas nas artérias). Para prevenir o IM é necessário manter um cronograma de atividade física regular, sempre sob orientação médica, mudar os hábitos para a diminuição do estresse, parar de fumar (o cigarro favorece a formação de placas ateroscleróticas nas artérias) e consumir moderadamente o álcool. Os portadores de hipertensão devem estar atentos ao controle da pressão arterial e reduzir o sal da comida. Os diabéticos, também, devem redobrar os cuidados com o infarto. Os níveis de colesterol devem ser medidos periodicamente e as mulheres que fumam não devem usar anticoncepcionais orais. A prevenção, a identificação precoce e o controle adequado dos fatores de risco diminuem a probabilidade de um ataque cardíaco. Diante de todos esses pontos expostos é preciso ressaltar, segundo o site Portal do Coração (2008,p. 1) que: Se você é fumante, parar de fumar diminui muito o risco de ocorrer um infarto do miocárdio ( IM ). Este risco diminui 50% em dois anos , podendo tornar-se igual ao de alguém que nunca fumou em 7 a 12 anos. O estudo INTERHEART ( estudo sobre a importância dos fatores de risco no IM ) demonstrou que nos fumantes , o risco relativo de um IM dobra a partir de 5 a 10 cigarros por dia . Este risco aumenta em até oito vezes, nos indivíduos que fumam cerca de duas carteiras por dia ( 40 cigarros ). Recomenda-se a realização de atividade física aeróbicas (andar, correr, pedalar, dançar, nadar e fazer hidroginástica), pelo menos 3 vezes por semana ( 5 a 7 vezes para os indivíduos que precisam perder peso ), por no mínimo 30 minutos , com uma intensidade moderada (ao fazer o exercício você fica um pouco ofegante , mas consegue falar frases inteiras ) . As atividades físicas do dia-a-dia ( ex: caminhar por 15 28 minutos para ir ao trabalho e mais 15 minutos para voltar do trabalho ), também trazem resultados positivos. É fundamental, então, alimentar-se de uma forma saudável, ingerindo-se um quantidade de calorias diárias, que lhe ajude a atingir um peso adequado. A ingesta diária de frutas , verduras e legumes, ajuda a prevenir um infarto do miocárdio ( IM ) . é importante também limitar a ingesta de sal em menos de seis gramas ao dia (cerca de seis colheres rasas de chá de sal, ou seja, 4 colheres rasas de chá de sal para o preparo dos alimentos, mais duas colheres de sal próprio dos alimentos). É importante evitar os alimentos ricos em colesterol (menos de 300mg de colesterol ao dia), os quais são exclusivamente de origem animal (derivados do leite com alto teor de gordura, gordura aparente das carnes , gema dos ovos , pele das aves , miúdos , embutidos e certos frutos do mar ). As gorduras saturadas (frituras) devem ser evitadas e as gorduras trans ou hidrogenadas, encontradas em alguns produtos industrializados como molhos, sorvetes, bolos e certos biscoitos, é altamente recomendada a ingestão peixe, principalmente os ricos em ácidos graxos ômega 3 (sardinha, truta, salmão e bacalhau), pelo menos duas vezes por semana. Os fitoesteróis são substâncias antioxidantes de origem vegetal que podem ser encontradas em margarinas enriquecidas, que são uma ótima opção para substituir a manteiga ou as margarinas com gorduras hidrogenadas. Procure ingerir alimentos ricos em fibras (cereias, frutas, verduras e legumes). Derivados da soja, grão integrais , nozes, assim como outros alimentos, apresentam efeitos comprovadamente benéficos sobre as gorduras do sangue e a aterosclerose (leia as páginas sobre alimentos funcionais ). A ingesta regular de bebidas alcoólicas , como o vinho tinto , não deve ser estimulada com o objetivo de prevenir um infarto do miocárdio ( IM ) . Se você é homem e costuma beber, procure restringir a ingesta de álcool em 30 gramas de etanol por dia (700 ml de cerveja = 2 latas de 350 ml ou 300 ml de vinho = 2 taças de 150 ml ou 100 ml de destilado = 3 doses de 30 ml) . Se você é mulher, essa ingesta deverá ser de 15 gramas de etanol , ou seja, 50% da quantidade permitida para homens. O álcool é calórico, pode aumentar os níveis de açúcar, ácido úrico e triglicerídeos, além de poder causar dependência física e psíquica (alcoolismo ). 29 Manter o peso ideal é fundamental. Um índice de massa corporal ( IMC = peso dividido pela altura ao quadrado ) inferior a 25 kg/m2 e uma circunferência abdominal inferior a 94 cm nos homens e 80 cm nas mulheres , são as metas a serem obtidas quando o assunto é peso e medidas. Para uma perda de peso , uma dieta hipocalórica e a prática diária de exercícios físicos , são fundamentais. A utilização de medicamentos poderá ser útil. A cirurgia bariátrica pode ser indicada para casos selecionados. Consultar regularmente o médico de confiança é outra medida. Retornando ao consultório para as reavaliações clínicas dentro do tempo estipulado por seu médico. Realizar todos os exames complementares solicitados pelo seu médico.O resultado destes exames serão fundamentais para avaliação do seu quadro clínico e , conseqüentemente , para a definição de um plano de prevenção e tratamento adequado para você. Para o combate dos fatores de risco para o infarto do miocárdio ( IM ) , como a hipertensão arterial , as dislipidemias , o diabete melito , a obesidade , o hábito de fumar , entre outros ( leia a página sobre fatores de risco cardiovascular ) , poderá ser necessária a utilização de medicamentos. A maioria destas drogas serão de uso contínuo e indefinido. Use as medicações prescritas por seu médico regularmente. Não pare de usá-las sem a sua permissão.Evite trocas no balcão das farmácias. Combater o estresse e a depressão é essencial à saúde do coração. Estas duas situações aumentam o seu risco de você sofrer de um infarto do miocárdio ( IM ). Provavelmete será necessária a avaliação de um profissional especializado na área, como um psiquiatra ou psicólogo. Exercícos físicos, técnicas de relaxamento, psicoterapia e o uso de medicamentos , poderão ser necessários. Dedique pelo menos um dia da semana totalmente voltado para si prórpio e o convívio junto de seus familiares. Permanecer a maior parte do tempo possível junto das pessoas que se ama e viver em paz e harmonia com o mundo à volta. 30 2.11 PROGNÓSTICO DO IAM O tempo de duração dos sintomas do ataque do coração varia de pessoa para pessoa. Em aproximadamente 15% dos casos, o paciente pode ter uma lesão permanente ao chegar ao hospital, e outros 15% morrem depois que chegam à emergência. Dentre os 70% que sobrevivem à hospitalização, aproximadamente 4% poderá morrer dentro do primeiro ano depois da alta, em geral por um novo infarto. Porém, este risco não é o mesmo para todas as idades. Toda pessoa deve procurar imediatamente um serviço de cardiologia de emergência se sentir dor no peito, mesmo se ela parece somente com uma indigestão ou se é muito jovem para ter um ataque do coração. Em geral, os infartados apresentam palidez e sudorese em excesso, conforme já citou-se. No caso da angina, a dor é geralmente em forma de aperto ou sensação de sufocação. Quanto mais cedo, o doente coronariano receber atendimento médico, mais serão suas chances de sucesso. Após 12 horas da ocorrência, as chances passam a ser muito remotas. Como as doenças coronarianas são traiçoeiras, pois muitas vezes não produzem sintomas, por isso, a prevenção ainda é o melhor caminho. 2.12 CUIDADOS HOSPITALARES A PACIENTES ENFARTADOS Vários são os cuidados a serem tomados com relação ao paciente enfartado conforme abaixo seguem relacionados. - De imediato, o paciente, é encaminhado para a UTI, pois necessita ser monitorado o tempo todo para o caso de eventuais complicações; - Observação do paciente para avaliar e/ou visualizar continuamente a freqüência do batimento cardíaco a fim de detectar antecipadamente o aparecimento de arritmias; 31 - A comunicação rápida do surgimento de dores torácicas (com ou sem irradiação), dispnéias, palpitações, desmaios, transpirações excessivas, entre outros; - Anotação da hora, duração e existência de fatores antecipados e brandos; - Avaliação dos níveis de consciência do paciente e sua orientação no tempo e no espaço; - Comunicação imediata de qualquer alteração de consciência que podem ser produzidas por medicamentos, choque cardiogênico iminente, má perfusão cerebral. - Verificação do pulso periférico, freqüência, ritmo e volume - qualquer alteração deve ser comunicada o mais rápido possível. - Observar os distúrbios cardiovasculares que são refletidos nos valores e parâmetros encontrados. Por exemplo: um pulso rápido (P>140) indica redução do débito cardíaco. Um pulso lento (P<60) pode indicar bloqueio cardíaco. Um pulso irregular pode ser sinal de arritmias e a ausência de pulso pode sugerir tromboembolia. - O volume da urina também deve ser controlado e anotado (>ml/hora). A retenção líquida é um alerta precoce de choque cardiogênico. Neste contexto, Smeltzer e Bare (2002, p. 606), ressaltam sobre o processo de enfermagem com o paciente enfartado: “Um dos aspectos mais importantes dos cuidados do paciente com um IM é o histórico de enfermagem. Isso estabelece uma linha basal sobre o estado atual do paciente, de maneira que qualquer desvio pode ser notado de imediato”. Essa abordagem será discorrida no próximo subtítulo. 2.13 CUIDADOS DE ENFERMAGEM AO PACIENTE ENFARTADO A prática do cuidado permeia há algum tempo, mesmo antes da existência da enfermagem, pois o cuidado desenvolvido pelas mulheres da antiguidade era como forma terapêutica. Sendo este cuidado direcionado aos seus filhos ou maridos, que encontravam em suas mulheres um sujeito relacionado ao cuidado. Waldow (1999, p. 22) afirma que: 32 Os primeiros seres a praticar a medicina foram às mulheres, não porque eram as enfermeiras naturais de seus homens e crianças, tampouco porque realizavam os partos, mas devido à sua conexão tão próxima com o solo (através da agricultura). Essas experiências deu-lhes conhecimento das plantas, frutos, raízes, e sementes, capacitando-as a desenvolver a arte de cuidar e medicar. Ressalta-se que o cuidado como era executado pelas mulheres, já era de forma terapêutica. Acredita-se que esse fato não se dava somente por esta ser do gênero feminino, mas pelo conhecimento da agricultura e por utilizar os frutos retirados da terra como forma coadjuvante na prática do cuidado. As atividades de práticas de cuidados realizados como: tomar conta, cuidar, tratar; garantiam ou mantinham as funções vitais do organismo, mesmo sem o conhecimento científico. Sendo assim, executando as práticas de cuidado desde o nascimento até a morte. Para Waldow (1999, p. 22), desde os primórdios, foi a mulher quem primeiro tratou no sentido de cuidar e medicar. As mulheres ao longo do tempo, além de desempenhar os cuidados relacionados às funções reprodutivas, as mesmas prestavam cuidados as pessoas incapacitadas e aos idosos, bem como cuidar da educação dos filhos, ao cuidado com as funções do lar, o preparo da alimentação da família e em algumas culturas e costumes ao preparo de medicamentos caseiros. Com a visão científica, o cuidado vem sendo aprimorado, e atualmente a enfermagem é conhecida como a arte de cuidar, sendo ela um conhecimento científico. Segundo Waldow (1999, p. 51), o cuidado compreende ou inclui também o sentido da afeição, preocupação, assim como o de responsável pelas pessoas necessitadas. O cuidado sempre se fez presente na história da humanidade, sendo ele de diversas formas, como; forma de viver e forma de relacionamento interpessoal. Pois o significado do cuidado atribuído à enfermagem possui uma dimensão bem mais ampla e científica acerca do cuidado, o qual era designado às mulheres na antiguidade. A enfermagem surge depois, e começa a ser lapidada, adquirindo espaço como ocupação distinta, com a formalização do seu ensino, realizada por Florence Nightingale. 33 Antes do surgimento da enfermagem era apenas desenvolvido treinamento das pessoas, com o objetivo desenvolver as atividades de conforto, administração de medicamentos e de limpeza da unidade, bem como serviços desempenhados na cozinha e lavanderia. Segundo Waldow (1999, p.52), o cuidar foi por um período, característica da enfermagem, e hoje, tenta-se resgatá-lo tanto no seu conhecimento como em sua arte. Ressalta-se que, os aspectos históricos desta prática de cuidado desenvolvidos pela enfermagem destacam-se em vários países do mundo, onde sempre predominou o sexo feminino para exercer essa atividade. No Brasil essa prática de cuidado ganha destaque principalmente por Ana Neri, a percussora da enfermagem brasileira. Observa-se forte orientação para o aspecto técnico que predomina o cuidado no Brasil. O aprendizado das técnicas de enfermagem nas escolas também ganha destaque, com isso surge o atendente, auxiliar e o técnico de enfermagem, os quais desenvolvem ações de cuidado sob a ótica e a supervisão do profissional enfermeiro, o qual passa a desenvolver ações de supervisão e procedimentos mais complexos, atribuídos somente a este profissional. Segundo nota Waldow (1999, p. 55), apesar da lei número 7.498/96, disciplinando o exercício da enfermagem, os atendentes deveriam estar totalmente extintos em 1996. Em muitos locais e no interior, onde a fiscalização torna-se mais difícil, os atendentes ainda são encontrados. Para Waldow (1999, p. 56), em sua trajetória, a enfermagem tem sido associada ao termo cuidado e, no Brasil mais comumente, o termo assistir. Os termos são utilizados de forma indiferenciada na realidade brasileira, mas algumas diferenças podem ser observadas. Ressalta-se a importância da utilização deste termo, pois o cuidado em uma visão ampla também referencia o estar presente, o permanecer ao lado, o socorrer, ou seja, estar por perto de quem necessita de cuidados. No Brasil a enfermagem possui uma visão diferenciada no aspecto do cuidar, o grande diferencial que a categoria vivencia é um afastamento dos profissionais enfermeiros em relação ao paciente. Isso se dá pela formação universitária, portanto o 34 cuidado direto ao paciente passou a ser desenvolvido pelos demais membros da equipe de enfermagem, já citados acima. Waldow (1999, p. 57) afirma que: È necessário apontar que isso contribui mais ainda para a desvalorização do cuidado no Brasil; por longo tempo o maior contingente de trabalhadoras na enfermagem, responsáveis pela maioria das ações, era constituído por atendentes de enfermagem, categoria não profissional, sem preparo profissional. Ressalta-se que esse aspecto predomina bastante em nosso país, já que o cuidado direto ao paciente é atribuído á categoria de enfermagem sem formação universitária. E sendo atribuídos ao enfermeiro segundo o COFEN (Conselho Federal de Enfermagem) as atividades de liderança, organização e planejamento das tarefas, controle da equipe de enfermagem e gastos, bem como procedimentos mais complexos, de forma a tornar o serviço de enfermagem mais prático e econômico. A enfermeira brasileira, para atender a demanda e controlar as atividades, assume totalmente a função administrativa, ou melhor, de gerenciamento. Conseqüentemente, as escolas de auxiliares de enfermagem sofrem um incremento. Auxiliares de enfermagem são preparados para prestarem o cuidado de enfermagem, auxiliados, nas tarefas menos complexas, pelos atendentes de enfermagem. No final da década de 60, surge o técnico de enfermagem (WALDOW, 1999, p. 59). Observa-se bastante no Brasil esse tipo de prática realizada pelo enfermeiro, já que em nosso país o COFEN legaliza o exercício do auxiliar e do técnico de enfermagem, que desempenha o papel de cuidador, sob a ótica do enfermeiro. O cuidado de enfermagem desde o seu início, sofreu mudanças em vários aspectos, principalmente técnico, porém segundo Waldow (1999, p. 59) em meados da década de 60 e 70, inicia-se uma nova fase no desenvolvimento da enfermagem, denominado teorias de enfermagem. Várias tentativas são realizadas por algumas lideranças na enfermagem mundial no sentido de humanizar a assistência ou o cuidado. A enfermagem então busca seu status de ciência e, com isso sua identidade. Na atualidade a enfermagem já possui o status de ciência, porém permanece numa busca constante para a humanização em seu serviço, pois perante todos os 35 avanços tecnológicos a enfermagem ganhou seu espaço e sua identidade, juntamente com a alta tecnologia na área da saúde. Diante disso, o cuidado se tornou uma atitude técnica, e os aspectos humanos foram perdendo espaço. Agora a enfermagem está resgatando o cuidar humano que se desvinculou de sua arte, contudo, buscando maneiras e técnicas mais holísticas na arte de cuidar, que consiste na essência da enfermagem. A enfermagem tem como objetivos promover e intervir com ações, através da visita domiciliária, na promoção de saúde, sendo esta realizada de forma que o familiar seja avaliado em um contexto geral, respeitando seus princípios, fazendo com que o enfermeiro possa resgatar todas as informações possíveis, para elaborar um plano de cuidados aos familiares. Em caso de necessidade de internação de um paciente enfartado ou mesmo em nível ambulatorial, a enfermagem tem um papel fundamental, prestando cuidados pertinentes com a situação e a especificidade do caso. Reibnitz et al. (2001, p. 38), enfocam que o cuidado da Enfermagem é algo fundamental para sua reabilitação: pode-se prever a necessidade do cuidado de Enfermagem a partir da observação da situação clínica do cliente; quando identifica-se e atende-se as necessidades físicas e emocionais do cliente ajuda-se não só na recuperação dele, mas de sua família também; e deve-se sempre pensar que o cliente geralmente não está sozinho, ou seja, ele faz parte de uma família. O paciente enfartado precisa ser continuadamente observado para possíveis complicações, sendo de imediato encaminhado para a unidade de tratamento intensivo. Os cuidados de enfermagem consistem em: Monitorizar o paciente. Avaliar e/ou visualizar continuamente a freqüência e o ritmo cardíaco. Afim de detectar precocemente o aparecimento de arritmias. Observar e comunicar imediatamente o aparecimento de dor torácica (com ou sem irradiação), dispnéia, palpitações, desmaio, transpiração excessiva. Anotar a hora, duração e se há fatores precipitantes e atenuantes. 36 Avaliar níveis de consciência, orientação no tempo e espaço. Alterações de consciência podem ser produzidas por medicamentos, choque cardiogênico iminente, má perfusão cerebral. Comunicar imediatamente qualquer alteração. Verificar pulso periférico, freqüência, ritmo e volume. Qualquer alteração deve ser comunicada rapidamente. Os distúrbios cardiovasculares são refletidos nos valores e parâmentros encontrados. Ex: um pulso rápido (P>140) regular, porém fraco, indica redução do débito cardíaco. Um pulso lento (P<60 )pode indicar bloqueio cardíaco. Um pulso irregular pode sugerir arritmias. Ausência de pulso pode indicar tromboembolia. Verificar e anotar volume urinário (>40ml/hora). A oligúria é um sinal precoce do choque cardiogênico. Fazer balanço hídrico. Anotar líquidos infundidos, ingeridos e perdidos (diarréia, suor, sangue, urina e vômitos ). A atenção cuidadosa para o volume hídrico evitará sobrecarga cardíaca e pulmonar. Administrar medicamentos de acordo com a prescrição médica. Observar e comunicar efeitos colaterais (hipotensão, depressão respiratória e diminuição da acuidade mental. Oferecer dieta de acordo com a prescrição (branda, hipossódica e hipocalórica). Normalmente nas primeiras 12hs o paciente permanece em jejum. Assegurar repouso absoluto no leito (o repouso diminui o consumo de oxigênio pelo miocárdio). Proporcionar ambiente repousante e tranquilizante, limitando o número e o tempo das visitas (o estresse aumenta o consumo de oxigênio pelo miocárdio) Promover conforto físico ao paciente, dispensando-lhe cuidados individualizados de enfermagem. 2.14 PROTOCOLO DE PRONTO ATENDIMENTO A PACIENTES ENFARTADOS A preservação do miocárdio depende do tempo de atendimento para que se obtenha o melhor resultado nas primeiras horas. O atendimento imediato e urgente é fundamental neste momento. A demora do paciente ou do serviço médico de 37 emergência (SME), aumenta consideravelmente o tempo para o início da terapia de reperfusão. O retardo diminui a eficácia da trombólise o que faz com que aumente ainda mais a taxa de mortalidade. A maior demora encontra-se entre idosos, mulheres, diabéticos e hipertensos. O primeiro passo para evitar o desconhecimento dos sintomas é educar o paciente, fazendo campanhas com distribuição de panfletos, palestras entre outras formas de levar informações precisas a toda população e faixa etária. O médico e familiares de pacientes que apresentam disfunção cardíaca devem intensificar o esclarecimento sobre a necessidade de procurar atendimento caso surjam os sintomas. 2.15 TROMBÓLISE PRÉ-HOSPITALAR Existem controvérsias na eficácia da administração de trombolíticos para pacientes com IAM antes da chegada ao hospital. Os trombólitos são considerados como uma forma de preservar o miocárdio e diminuir a área enfartada. Entretanto, ainda que não sejam definitivos, estudos apontam que não é o antes ou após a chegada ao hospital que conta na aplicação do trombolítico, mas sim que seja feita a sua administração dentro dos 70 minutos. Mesmo assim fica o alerta: o atendimento rápido diminuir os casos de morte. O corpo do serviço médico de emergência (SME), pode encurtar o tempo porta-agulha que seria o intervalo entre a chegada do paciente ao pronto-socorro (PS) e a administração do agente trombolítico. Todo pronto socorro deve determinar um protocolo para atendimento de paciente com dor torácica e suspeita de IAM. O médicos têm se referido ao espaço existente entre o tempo de chegada do paciente ao PS, delimitando com precisão a terapia de reperfusão e início dos agentes tromboliticos como intervalo “porta-droga”. Todo PS deve atingir a meta de não ultrapassar mais de 30 minutos para proceder entre a avaliação e o início de tratamento trombolítico nos pacientes com evidencia de trombose coronariana, sem critérios de 38 exclusão. Para que estes objetivos sejam atingidos, os itens relacionados na avaliação imediata devem ser postos em prática, sempre que possível, em 10 minutos. Os protocolos definidos pelos PS devem proteger tanto a avaliação como o início do tratamento em geral. 39 CONCLUSÃO Este estudo monográfico possibilitou aprofundar o tema do IAM. Ao finalizar este trabalho, pode-se dizer que o objetivo foi alcançado e que o momento de aprendizagem e conhecimento por que se passou, serão com certeza de grande utilidade para o desempenho das funções inerentes ao profissional de enfermagem, o que resultará em uma atuação profissional rápida, adequada e eficiente trazendo benefícios a pacientes enfartados que procuram o serviço hospitalar. Através das publicações pesquisadas e analisadas, constatou-se que o atendimento precoce é, ainda, a melhor maneira de evitar a morte e amenizar possíveis seqüelas. Portanto, se faz necessário que os profissionais de saúde busquem aperfeiçoar-se dentro das novas tecnologias com o fim de salvar vidas. Apesar dos avanços terapêuticos das últimas décadas, as doenças cardiovasculares ainda continuam sendo, no Brasil, a primeira causa de morte, isto porque grande parte dos pacientes não recebe o tratamento adequado. A criação das Unidades Coronarianas e a introdução do tratamento de reperfusão através de fibrinolíticos ou angioplastia primária foram de essencial importância para reduzir a mortalidade e as complicações relacionadas à doença. Entretanto, apenas os pacientes, como pudemos ver no decorrer do estudo, admitidos nos serviços de emergência precocemente são os que podem se beneficiar com as técnicas terapêuticas hoje disponíveis. Portanto, o prognóstico dos pacientes depende, primordialmente, da agilidade em encontrar um serviço médico e da eficiência desse procedimento para obter a reperfusão coronariana o mais rápido possível. O sintoma mais relevante do IAM é a dor ou desconforto intenso atrás do osso esterno que, na maioria das vezes, é referido como aperto, opressão, peso ou queimação. Costumeiramente esses sintomas vêm seguidos de náuseas, vômitos, sudorese, palidez e sensação de morte iminente. Tais desconfortos têm duração acima de vinte minutos, entretanto dores com duração abaixo de vinte minutos podem ser suposição de angina no peito. Vale ressaltar que pacientes diabéticos, idosos e 40 mulheres têm maior propensão de apresentarem uma dor ou desconforto atípico, isto é, com características e intensidade diferentes dos outros. O suprimento de sangue para o coração se dá por meio das artérias coronárias. Deste modo, o entupimento de uma artéria coronária e/ou de um de seus ramos causa obstrução do fluxo sangüíneo para o músculo cardíaco. Ora, o coração é um órgão vital no processo de bombeamento de substâncias energéticas para todo o organismo e qualquer patologia que neutralize a sua nutrição afetará todo o balanço energético do organismo, podendo acarretar o comprometimento de toda a funcionalidade dos sistemas de preservação da vida. Assim sendo, em casos de IAM, deve ser urgente a busca por um tratamento eficaz para evitar e/ou diminuir complicações daí decorrentes. Conforme a bibliografia consultada, o IAM continua sendo líder de mortalidade no mundo todo, e, ainda que tenha havido grande redução de morte hospitalar decorrente da introdução de novas tecnologias, a questão da mortalidade pré-hospitalar permanece quase que estagnada, com números semelhantes aos de quarenta anos atrás. Este fato constitui-se num desafio às autoridades de saúde pública e levam milhares de vidas em plena idade produtiva ocasionando inúmeros prejuízos à sociedade. Os autores consultados explicam que dois terços das mortes súbitas por doenças coronarianas acontecem fora do hospital e, grande parte, em duas horas após o início dos sintomas. Muitas dessas ocorrências fatais poderiam ser evitadas se o paciente recebesse atendimento imediato e apropriado. Portanto, o diagnóstico precoce e o tratamento adequado reduzem a possibilidade de morte arrítmica e melhoram a função ventricular esquerda após o infarto. Dessa forma, o tempo e a qualidade da atenção médico-hospitalar são fatores essenciais logo nos primeiros minutos da manifestação dos sintomas. A questão do retardo da atenção médica está não apenas ligada ao paciente, que nem sempre reconhece e hesita em aceitar a gravidade de sua condição, mas, também, a fatores quanto à disponibilidade de transporte e possibilidade de acesso à rede hospitalar. Um sistema de atendimento médico-emergencial carente do ponto de 41 vista de recursos materiais e humanos pode ser altamente lesivo para os pacientes que sofrem um IAM. Especialistas em IAM sugerem que diversas ações sejam efetuadas a fim de diminuir o retardo pré-hospitalar por parte do paciente na busca de um adequado atendimento por serviço médico de emergência o que é imprescindíveil para evitar a perda de vidas dentro e fora do hospital. Para isto é preciso melhorar o atendimento pré e intra-hospitalar com o objetivo de permitir que as decisões tomadas resultem em atendimento rápido e eficiente nos primeiros minutos após o início dos sintomas. O estudo e a pesquisa sobre IAM com certeza não se encerram aqui. Esperase que este trabalho, além de reforçar a importância do tema, possa contribuir para o esclarecimento, especialmente, dos profissionais em saúde no sentido de proporcionar à população um atendimento rápido, adequado e eficiente. 42 REFERÊNCIAS ALVES, Marco Stephan Lofrano, Cardiologia, abril/2006. Arquivo Brasileiro de Cardiologia, volume77 (número 6) p. 593-601, 2001. Anuário Estatístico de Saúde do Brasil 2001. http://portal.saude.gov.br/saude/aplicações/anuário2001/index.cfm, 26/04/2007. Disponível Acesso em em BARUZZI, Dr Antônio Cláudio do Amaral. Prática Hospitalar. (entrevista). Ano V, número 28, julho-agosto/2003. COELHO, Otávio Rizzi; CIRILLO, Willian. Como atender melhor o infarto agudo do miocárdio em hospitais não especializados. Disponível em: http://www.cremesp.org.br/?siteAcao=Jornal&id=456. Acesso em: 10/08/2008. DIAS, Fernando Suparregui. Choque. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002. JULIAN, Desmond G.; COWAN, J. Campbell. Cardilogia. São Paulo: Saraiva, 2000. GALLO, M. 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