64º Congresso Nacional de Botânica Belo Horizonte, 10-15 de Novembro de 2013 O IMPERFEITO É MELHOR: ASSIMETRIA FLUTUANTE E HERBIVORIA EM MACAIREA RADULA (MELASTOMATACEAE). 1,* 2 3 4 Maria Gabriela B. de Castro , Gisele M. Mendes , Carla Daniele C. Guimarães , João Paulo R. Viana 5 & Tatiana Cornelissen 1,3,4,5 2 Universidade Federal de São João Del Rei, Departamento de Ciências Naturais. Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto de Ciências Biológicas. *[email protected] A assimetria flutuante representa pequenas variações aleatórias na simetria de caracteres bilaterais e é amplamente usada como ferramenta para detecção de estresse ambiental em plantas e animais. Para plantas, estudos recentes têm demonstrado uma relação positiva entre a assimetria flutuante e os níveis de herbivoria por diversas guildas de insetos [1], indicando que a assimetria flutuante pode também ser usada como previsor dos níveis de dano foliar. Uma relação positiva entre a assimetria flutuante e os níveis de herbivoria sofridos por plantas indica que a assimetria foliar age como indicativo da susceptibilidade de plantas ao ataque de insetos herbívoros. Neste estudo, objetivou-se avaliar a influência dos níveis de assimetria flutuante de Macairea radula DC (Melastomataceae) no ataque pelo inseto galhador Palaeomystella sp. (Lepidoptera, Momphinae). Metodologia Macairea radula DC. (Melastomataceae) é uma espécie arbustiva, de até 2 m de altura, ramificada, sempre verde, perene, encontrada associada ou não ao curso d'água. Tal espécie apresenta galhas conspícuas, esféricas, pilosas, de coloração rosa-esverdeada, podendo atingir até 3.0 cm de diâmetro. Para avaliar o efeito da assimetria flutuante das folhas de M. radula na abundância de galhas de Palaeomystella, 30 indivíduos foram marcados na Área de Proteção Ambiental da Serra de São José, em Tiradentes, MG. As plantas foram numeradas, medidas e o número de galhas por planta foi avaliado em campo. Dez folhas intactas foram coletadas por planta, numeradas, prensadas e secas em estufa. As folhas foram digitalizadas e a assimetria flutuante foi determinada como a diferença entre as larguras direita (RW) e esquerda (LW) da folha, usando-se a nervura central como referência. Calculou-se um índice de assimetria flutuante por planta (FA index = |RW-LW| / N), e este foi relacionado ao número de galhas em cada planta através de regressão linear simples. Resultados e Discussão Macairea radula apresentou padrões verdadeiros de assimetria flutuante, como demonstrado pela distribuição de frequência dos valores de RW-LW que não se desviam significativamente de zero (t=2.73, P=0.06). A assimetria flutuante variou de -4.31 mm até 4.56 mm, valores estes compatíveis com estudos de assimetria em outras plantas de campo rupestre [2]. A assimetria flutuante de Macairea influenciou significativamente os níveis de ataque de Palaeomystella sp., de forma que plantas mais assimétricas apresentaram maiores taxas de 2 ataque que plantas mais simétricas (R =0.25, F1,28=9.18, P=0.005; Figura 1). 60 50 Número de galhas por planta Introdução 40 30 20 10 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0 Indice de Assimetria Flutuante (mm) Figura 1. Relação entre assimetria flutuante de Macairea radula e herbivoria pelo galhador Palaeomystella sp. na Serra de São José, Tiradentes, MG. Tais dados suportam a hipótese que insetos usam a assimetria flutuante de plantas como indicativo da qualidade nutricional das plantas, em suporte à Hipótese do Stress de Plantas (PSH). Segundo a PSH, plantas estressadas apresentam maior qualidade nutricional para insetos herbívoros e seriam preferencialmente atacadas em detrimento à plantas menos estressadas. Este estudo demonstrou que a assimetria flutuante, um indicativo de estresse ambiental, pode ser usada como previsor do nível de ataque por insetos, reforçando a sua importância como ferramenta em estudos ecológicos. Conclusões A relação positiva entre assimetria flutuante e ataque por insetos em Macairea radula reforça a importância da assimetria flutuante como indicativo da susceptibilidade de plantas a insetos herbívoros. Agradecimentos Os autores agradecem ao Instituto Estadual de Florestas (IEF), Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da UFSJ (PROPE), CNPq e FAPEMIG. Referências Bibliográficas [1] Cornelissen, T.G., Stiling, P. 2011. Similar responses of insect herbivores to leaf fluctuating asymmetry. Arthropod-plant interactions 5: 59-69. [2] Telhado, C., Esteves, D., Cornelissen, T., Fernandes, G.W., Carneiro, M. 2010. Insect herbivores of Coccoloba cereifera do not select asymmetric plants. Environmental Entomology 39: 849-855.