357 VITILIGO: INFLUÊNCIA NA AUTOESTIMA DAS PESSOAS ACOMETIDAS VITILIGO: INFLUENCE ON SELF-ESTEEM OF PEOPLE AFFECTED Denise Gonzaga Costa Discente do curso de Enfermagem do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – UNILESTE/MG. [email protected] Josiane Alves Moreira Discente do curso de Enfermagem do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – UNILESTE/MG. [email protected] Neila Maria de Morais Pinto Enfermeira Especialista em Saúde Pública. Especialista em Ativação de Processos de Ensino na Formação Superior de Profissionais da Saúde. Docente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – Unileste-MG. RESUMO O vitiligo é uma dermatose caracterizada por máculas acrômicas que resultam em hipopigmentação da cor natural da pele podendo surgir em qualquer parte do corpo, sendo sua etiopatogenia desconhecida. Sabe-se que uma vez instalada, pode provocar alterações emocionais, comprometimento da autoestima e das relações sociais do indivíduo com vitiligo. Trata-se de um estudo exploratório descritivo qualitativo, desenvolvido com o objetivo de conhecer como o vitiligo influencia na auto-estima das pessoas por ele acometido. Foi realizado no município de Ipatinga/MG, em janeiro de 2009, utilizando-se como instrumento para coleta de dados uma entrevista aplicada a 12 pessoas acometidas por vitiligo. Os resultados evidenciaram algum grau de comprometimento emocional nos participantes, como tristeza, preocupação, constrangimento na sociedade, falta ou dificuldade de recursos financeiros para tratamentos adequados, mas, também o enfrentamento e superação foram perceptíveis, que vão desde a aproximação com outros portadores de vitiligo, assim como a busca por apoio e conforto religioso. Ressalta-se a importância de desenvolvimento de políticas públicas voltadas para este segmento da população assim como a necessidade de assistência multiprofissional, onde o enfermeiro tem papel fundamental no acompanhamento aos portadores de vitiligo desenvolvendo ações que privilegiem também o suporte emocional. PALAVRAS CHAVE: Vitiligo. Auto-estima. Tratamento. ABSTRACT Vitiligo is a dermatosis characterized by macules achromic resulting in hypopigmentation of the natural color of the skin may appear anywhere on the body, and its pathogenesis unknown. It is known that once installed, can cause emotional disorders, impairment of self-esteem and social relations of the individual involved. Exploratory descriptive qualitative study, carried out to know as vitiligo affects self-esteem of people affected by it. Was conducted in the municipality of Ipatinga / MG, in January 2009, using as an instrument for data collection an interview with 12 patients with vitiligo. The results showed some degree of emotional involvement in the participants, as sadness, concern, embarrassment in society, difficulty or lack of financial resources for appropriate treatment, but also to confront and overcome are apparent, ranging from the proximity with other people with Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.2-N.2-Nov./Dez. 2009 358 vitiligo and the search for religious support and comfort. It is the importance of developing public policies for this segment of the population and the need for multidisciplinary care, where nurses have key role in monitoring the patients with vitiligo develop priority actions that also the emotional support. KEYWORDS: Vitiligo. Self-esteem.Treatment. INTRODUÇÃO O vitiligo foi descrito há mais de 3500 anos, primeiramente, no Egito (no Papiro de Ebers), na Índia (no livro sagrado Atharva Veda) e na Bíblia, no antigo Testamento, era chamada de “Zara’at”. Quanto à etiologia, o vitiligo ainda é uma doença de causa desconhecida. Não se pode afirmar que tenha origem na predisposição genética, uma vez que esta só é observada em apenas 30% dos casos (SANT’ANNA et al, 2003). Existem, porém, algumas hipóteses etiológicas que veem o vitiligo como uma resposta autoimune ou associado a fatores neurogênicos. É uma dermatose que se caracteriza por manchas acrômicas, geralmente bilaterais e simétricas, que acomete o maior órgão do corpo humano – a pele (SILVA; MULLER, 2007). Como patologia autoimune, o próprio corpo gera uma reação que faz com que haja destruição das células melanócitos, causando assim, extinção da pigmetação natural da pele. Os melanócitos podem ser destruídos pela ação dos radicais livres ou de componentes tóxicos do ambiente externo. A existência de uma reserva de melanócitos nos folículos pilosos, constituindo a área não afetada pelo vitiligo, é um fator que deve ser considerado no processo de repigmentação natural da pele (FONSECA; PRISTA, 2000; ELDER; LEVER, 2001; STEINER et al, 2004). O vitiligo acomete cerca de 0,5 a 4% da população mundial, sendo que 50% dos casos se iniciam antes dos 20 anos e 25% antes dos 10 anos. Seu aparecimento pode ser precoce, com alguns relatos de casos com início nos primeiros seis meses de idade (SILVA et al, 2006). Muitas teorias tentam explicar a doença e, por isso, várias são as propostas de tratamento que vão do uso de esteróides, fotoquimioterapia, terapia tópica, micropigmentação até terapia cirúrgica. A terapia integral deve envolver o tratamento clínico e psicoterápico que contribuirão eficazmente no processo de repigmentação da pele. Sendo que a psicoterapia consiste num tratamento de distúrbio psicológico ou emocional mediante o estabelecimento de uma relação entre profissional treinado e um ou mais pacientes, ajudando-os a tomarem condutas frente às situações de estresse, para melhoria da qualidade de vida e até da própria pele (KANTORSKI et al, 2005; SILVA; MULLER, 2007). Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.2-N.2-Nov./Dez. 2009 359 A pele é formada por três camadas, epiderme que é a camada mais superficial, composta de queratinócitos e melanócitos, a derme é a camada intermediária, composta de fibras colágenas e elásticas que dão sustentação à pele e, ainda vasos sanguíneos, nervos, e a hipoderme que é a camada profunda, composta de gordura, que auxilia na regulação da temperatura corporal. Dentre as funções da pele tem-se sensibilidade cutânea, defesa imunológica através de células imunes, proteção para as estruturas internas do corpo, proteção contra os raios ultravioleta, síntese de vitamina D, defesa contra corpos estranhos e, produção de queratina (KEDE; SABATOVICH, 2004). A pele transmite informações sensoriais através de nervos nela situados, sendo que a inter-relação pele-psiquismo é estreita, desde a sua origem embrionária, pois tanto a epiderme quanto o sistema nervoso têm sua origem no folheto embrionário, ectoderma. As ligações existentes entre o sistema nervoso e a pele fazem com que esta seja muito sensível às emoções, independente da consciência; as alterações dermatológicas, muitas vezes, causam impactos psicossociais nas pessoas que apresentam vitiligo, levando ao comprometimento psicossociocultural (HOFFMANN et al, 2005). O vitiligo é uma dermatose que não leva à incapacidade funcional, mas causa grande impacto psicossociocultural. Pode ser desfigurante, influindo negativamente na autoestima da pessoa, sobretudo nos casos extensos e em pessoas de pele negra. Existem queixas de discriminação social, sendo que muitas vezes as pessoas que apresentam vitiligo chegam a ser estigmatizadas, retardando ainda mais o tratamento (SILVA et al, 2006). A sociedade atual está sempre buscando novidades e inovações de rótulos de vaidade quanto aos caracteres corporais fazendo com que grande parte das pessoas esforce-se em alcançar um padrão de beleza único e aceitável por muitos. O estresse emocional gerado por esta pressão social costuma acompanhar os problemas dermatológicos e, influenciar as alterações da pele. Com isso, o problema de pele, acaba gerando na pessoa frustração, descontentamento, rejeição quanto à aparência física e, até mesmo naquelas que se encontram em fase de recuperação, pois o fato ainda é insuficiente para amenizar a insatisfação quanto ao ideal estético exigido pela sociedade (KEDE; SABATOVICH, 2004; FONSECA; PRISTA, 2000). De acordo com Muller; Ramos (2004), o vitiligo causa grande impacto na vida da pessoa acometida, levando o sujeito a afastar-se da sociedade. Sendo que, muitas pessoas com vitiligo, apresentam reação negativa de constrangimento mediante a dermatose. Por isso, muitos usam produtos para tampar as manchas, evitam atividades, se envergonham e se isolam. Este estudo se justifica devido à importância que a enfermagem tem na assistência às pessoas que apresentam vitiligo, atuando com alternativas e estímulos de forma a ajudar e encorajar a pessoa a uma visão positiva e esperançosa deste evento produtor de estresse e, ainda promovendo ações Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.2-N.2-Nov./Dez. 2009 360 preventivas para diminuir os agravos psicológicos, emocionais e sociais. É dentro da temática descrita, que este trabalho teve como objeto de estudo a percepção das pessoas que apresentam vitiligo quanto à dermatose e sua influência na auto-estima das mesmas O caminho a ser percorrido a partir do objeto de estudo se aportará ao seguinte objetivo: conhecer como o vitiligo influencia na auto-estima das pessoas por ele acometido. METODOLOGIA Trata-se de um estudo exploratório descritivo com abordagem qualitativa. Estudos qualitativos, segundo Minayo (1999), oferecem entre outras possibilidades, a decodificação do significado das informações, sem quantificação das mesmas, respeitando a experiência natural do pesquisado com o tema em estudo. Pesquisa exploratória descritivo estuda com detalhe um ambiente, um sujeito ou mesmo uma determinada situação, levando em consideração, a opinião dos sujeitos contextualizados nessa realidade (GODOI, 1995 apud DUBY, s.d.). Para elaboração deste estudo foi realizada entrevista com 12 pessoas moradoras do município de Ipatinga – MG, no período de 13 a 31 de janeiro de 2009. A amostragem da pesquisa é do tipo bola de neve ou amostragem de rede, que consiste em uma técnica de amostragem não probabilística em que um grupo inicial de entrevistados é selecionado aleatoriamente. Selecionam-se entrevistados subseqüentes com base em informações fornecidas pelos entrevistados iniciais. Assim, foram entrevistadas primeiramente pessoas já conhecidas das autoras que apresentavam vitiligo, e em seguida outras pessoas indicadas pelos primeiros entrevistados. Os critérios de inclusão na pesquisa foram pessoas que apresentavam vitiligo, com idade igual ou superior a 18 anos que aceitaram participar. O estudo utilizou os seguintes instrumentos para coleta de dados: formulário para caracterização da amostra, abrangendo as categorias sexo, idade, raça, escolaridade, emprego, renda, situação conjugal, filhos, religião, participação em grupo de apoio, tratamento. E uma entrevista semi-estruturada, que abordou as perguntas: o vitiligo trouxe ou trás para você alguma alteração no seu cotidiano? Qual é o seu sentimento sobre o vitiligo? Já fez ou está fazendo tratamento? Cada pessoa foi abordada uma única vez, com tempo estimado de 1 hora para duração do encontro. Como forma de resguardar o conforto, segurança e liberdade dos participantes, as entrevistas foram realizadas no próprio domicílio, com horário disponível ou compatível ao tempo do entrevistado. Na análise dos dados da pesquisa foram feitas leituras repetidas das respostas obtidas, identificação das argumentações presentes no conteúdo das respostas, que resultou em duas grandes categorias de análise: vitiligo alterando o cotidiano e recursos de apoio e tratamento que foram discutidas de acordo com a literatura pertinente. Partes dos discursos foram selecionados e transcritos no texto como forma de elucidação das respostas abertas. Visando preservar a identidade dos participantes, optou-se por nomeá-los com codinomes de pedras Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.2-N.2-Nov./Dez. 2009 361 preciosas. Previamente à coleta de dados, os participantes deste estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido que continha informações sobre os objetivos da pesquisa, a garantia do anonimato e o uso dos dados obtidos somente para fins da pesquisa. Esta pesquisa contemplou a Resolução n. 196 de 10 de outubro de 1996 do Conselho Nacional de Saúde, que regulamenta pesquisa com seres humanos. RESULTADOS E DISCUSSÃO A TAB. 1 apresenta os dados de caracterização da amostra. Dos 12 participantes, 10 (83,4%) eram do gênero feminino. As mulheres são geralmente mais acometidas do que os homens, porém estudos mais recentes sugerem que o vitiligo pode acometer tanto homens quanto mulheres na mesma proporção (STEINER et al, 2004). A faixa etária que predominou na pesquisa foi de 41 a 60 anos, sendo que oito (66,6%) participantes relataram que apresentam o vitiligo desde a infância, com a idade de início da doença variando de cinco a onze anos de idade. O resultado condiz com estudos de Silva et al (2006) no qual afirmam que o aparecimento do vitiligo pode ser precoce, ou seja, trabalhos demonstram que 25% dos casos de vitiligo se iniciam na infância, antes dos 10 anos, e 50% dos casos se iniciam antes dos 20 anos de vida. Dos entrevistados, cinco (41,7%) consideraram-se de etnia parda seguido de quatro (33,3%) mulatos. O vitiligo afeta todas as etnias, mas acredita-se que nas pessoas de pele escura, como a despigmentação causa maior destaque na pele, isto gera maior impacto neste grupo (SILVA et al, 2006). A maior ocorrência do vitiligo em pessoas pardas e mulatas, desta pesquisa, provavelmente reflete as características da cor da pele do maior conjunto racial da população brasileira. Em relação à escolaridade, seis (50%) pessoas tinham feito até o ensino fundamental incompleto, uma (8,4%) era analfabeta e uma (8,4%) pós-graduada. Participantes da pesquisa relataram que a dermatose as impediam de irem com freqüência à escola, porque tinham vergonha de estar em público e, ainda sofriam discriminação por parte de alguns colegas, fato este que pode ter contribuído para o baixo nível de escolaridade apresentado por metade da amostra. Dos participantes, sete (58,4%) são casados e 10 (83,4%) têm filhos. A partir destes dados é possível afirmar que a presença do vitiligo não foi fator de impedimento para o estabelecimento de relacionamento estável e exercício da maternidade ou paternidade. Quanto ao emprego, sete (58,3%) já exerceram atividades no mercado formal de trabalho e, se encontravam aposentados no momento, inferindo-se assim, que essas pessoas não se ausentaram de atividades profissionais na fase adulta devido à dermatose vitiligo. Em relação à renda 11 (91,6%) participantes possuíam renda entre um a três salários mínimos. Foi demonstrado que cinco (41,7%) nunca fizeram tratamento e quatro (33,3%) não faziam o tratamento no momento da entrevista, mas que já o fizeram; os dois grupos justificaram a Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.2-N.2-Nov./Dez. 2009 362 ausência ou interrupção da terapêutica por questões financeiras. A questão da renda familiar pode ter influenciado na auto-estima destas pessoas, pois a renda não oferecia condições financeiras para manter um tratamento adequado, devido ao alto custo dos medicamentos e do tratamento no geral. Os 12 participantes da entrevista relataram nunca ter participado de grupos de apoio, porém quando questionados sobre a prática religiosa seis (50%) disseram que são evangélicos e seis (50%) relataram que são católicos, demonstrando assim que a participação freqüente na igreja, mesmo não tendo sido por eles considerada como um grupo de apoio ofereceu conforto e suporte emocional. TABELA 1 Caracterização da amostra Variáveis Freqüência Gênero Masculino 2 Feminino 10 Percentual (%) 16,6 83,4 Faixa etária 21 – 40 41 - 60 61 – 80 1 8 3 8,4 66,6 25 Etnia Branco Pardo Mulato 3 5 4 25 41,7 33,3 Escolaridade Analfabeto Ensino Fundamental Incompleto Ensino Fundamental Completo Ensino Médio Incompleto Ensino Médio Completo Pós-Graduação 1 6 1 1 2 1 8,4 50 8,4 8,4 16,6 8,4 Emprego Sim Não Aposentada (o) 4 1 7 33,3 8,4 58,3 Renda 1 – 3 Salários Mínimo 7 – 9 Salários Mínimo 11 1 91,6 8,4 Situação Conjugal Solteiro (a) Casado (a) / União estável Viúvo (a) 3 7 2 25 58,4 16,6 Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.2-N.2-Nov./Dez. 2009 363 Filhos Sim Não 10 2 83,4 16,6 Religião Evangélica Católica 6 6 50 50 Participação em Grupo de Apoio Não 12 100 Tratamento Sim Não Já fez 3 5 4 25 41,7 33,3 Com base nos relatos e informações dos participantes, foi possível identificar aspectos importantes dos informantes que originaram dois temas principais para discussão. Vitiligo alterando o cotidiano A convivência com doenças crônicas como o vitiligo modifica o cotidiano das pessoas fazendo surgir sentimentos como vergonha e culpa que podem trazer conseqüências sobre a percepção da qualidade de vida por parte dos acometidos e de suas famílias. Os entrevistados relataram que sentiam constrangimento de interagir na sociedade, sentiam-se rejeitados pelas pessoas, enquanto outros disseram que com o passar do tempo, aprenderam a superar a dificuldade que sentiam para realizar as atividades do cotidiano devido à doença. [...] por não ter que sair no sol, se saio no sol fico descascando, com bolhas e, sei que não tem cura ainda [...]. (Quartzo) [...] continua trazendo alteração no cotidiano, sinto muita vergonha de ter essas manchas, eu me sinto uma pessoa rejeitada, fico perto das pessoas e, sinto vergonha delas pensarem que é contagioso. (Rubi) No começo fiquei constrangido, com medo de ir em cachoeiras, piscinas, as pessoas, ficavam me olhando retraídas, fazendo brincadeiras, piadas, as pessoas brincam maldosamente, pensam que é micose e, falam que é contagioso. (Berilo) Uma doença de pele causa impacto na pessoa acometida alterando não só sua estrutura física como a emocional e social. Dias et al (2007), relacionam casos de dermatoses que levam a privação do sono, mudanças nas rotinas familiares, prejuízo de socialização e perdas de forma geral. Quanto às alterações da convivência familiar é preciso verificar como o ambiente pode ter colaborado na Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.2-N.2-Nov./Dez. 2009 364 condição de adoecimento. Uma das entrevistadas exemplifica esta situação: [...] após cinco anos de tratamento ininterrupto, eu cheguei a ficar sem nenhuma mancha, aí teve um final de ano, que eu me lembro que passei por uns problemas familiares, que abalou o meu emocional, aí as manchas voltaram [...]. (Ametista) Estudos recentes apontam dados sobre estresse psicológico e outros fatores estressantes da vida como desencadeadores ou agravadores do vitiligo (PICARDI et al, 2003 apud MULLER, RAMOS, 2004; TABORDA, WEBER, FREITAS, 2005). Estes autores avaliando a prevalência de sofrimento psíquico em pacientes com dermatoses psicocutâneas, as que constavam em seus estudos foram acne vulgar, vitiligo, psoríase, urticária, dermatite atópica e alopécia areata, apontaram que as doenças crônicas, de longa duração e inestéticas, como o vitiligo, podem estar associadas a maior grau de sofrimento psíquico com prejuízo emocional destes pacientes. Cada pessoa acometida pelo vitiligo tem uma percepção da doença que é única. Diferentes reações emocionais foram manifestadas de acordo com a forma de enfrentamento, positivo ou negativo, ao vitiligo. Sentimentos como tristeza, melancolia, preocupação, mas também superação foram perceptíveis nas falas. [...] tem pessoa que repara a pigmentação da pele da gente, aí a pessoa acha estranho, a auto-estima abaixa muito [...]. (Berilo) Acho triste, [...]. (Diamante) De espalhar para todo corpo, me preocupo com isso. (Esmeralda) [...] aprendi a conviver, aprendi a superar a situação com o tempo. (Pérola) As pessoas que apresentam vitiligo têm suas próprias crenças sobre a identidade, causa, duração e até mesmo cura de sua doença, que refletem em respostas emocionais diversas como sentimentos autodepreciativos, vergonha, medo e estigma social, estresse psicossocial e baixa autoestima que podem causar ou agravar distúrbios emocionais (LEVENTHAL, s.d, apud HOFFMANN et al, 2005). Nesse sentido, deve-se levar em consideração a singularidade de cada pessoa, pois a forma de interpretar a sua doença e de lidar com a mesma depende também de aspectos muito individuais, o que é reforçado pelo estudo de Silva et al. (2006), que avaliaram stress e estratégias de coping em pacientes com psoríase, buscando identificar as diferentes formas do paciente perceber e lidar com as situações de vida. Recursos de apoio e tratamento São várias as opções para o tratamento do vitiligo. Nesta pesquisa a terapia Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.2-N.2-Nov./Dez. 2009 365 combinada, oral e tópica, foi relatada como sendo a mais utilizada pelos participantes. Foi marcante nos relatos a necessidade de interromper o tratamento por dificuldades financeiras dos entrevistados. Verifica-se que os medicamentos para controle do vitiligo possuem custos altos e são ainda de difícil acesso aos usuários, fato que dificulta ou limita o tratamento das pessoas que apresentam vitiligo. Os fatores mencionados acima podem ser claramente percebidos nos relatos de alguns participantes: Comecei a fazer o tratamento e parei, é por causa financeira e, tempo para relaxar, fiz o tratamento na época com medicamentos oral e pomada. (Safira) Eu pagava os medicamentos, agora ta sendo financiado pela prefeitura de Ipatinga, meu tratamento é oral e pomada. (Turquesa) Há muito tempo se achava o Vitcromin só em BH, então você imagina, é muito difícil, a gente tinha que ir em BH, encomendar o remédio, comprar o remédio, então havia muita dificuldade. (Turmalina) A literatura da área expõe que a terapia oral oferece melhores resultados e com menos efeitos colaterais. Já a terapia tópica também é eficaz no tratamento do vitiligo, apresentando como principal complicação o aparecimento de reações bolhosas fototóxicas (STEINER et al, 2004). O tratamento de doenças crônicas sobrecarrega o Sistema Público de Saúde, pois tanto as consultas recorrentes quanto os medicamentos para controle apresentam custos elevados o que contribui para o agravamento do sofrimento psíquico, social, econômico e cultural da pessoa acometida, gerando um desequilíbrio do estado de saúde (SILVA; MULLER, 2007). Devido ao alto custo do tratamento, tanto dos medicamentos e das consultas recorrentes, percebe-se que é de grande importância que o governo desperte para incluir o tratamento do vitiligo nas políticas públicas de saúde, ou seja, o Sistema Único de Saúde (SUS). As formas de enfrentamento das doenças de pele podem ser classificadas em formas ativas ou de aproximação que estão relacionadas aos esforços cognitivos ou condutas para manejar diretamente o fator estressante, e a outra forma seria evitar o problema, ou seja, estabelecer ações para não confrontar com o problema, através de condutas de fuga (SILVA; MULLER, 2007). O vitiligo causa respostas de estresse à pessoa acometida, assim, o ideal é que esta procure recursos para enfrentar as situações que lhe exige adaptação, no qual ajudariam a ter êxito com a saúde. Foi marcante nos relatos dos entrevistados a aproximação com outros portadores de vitiligo e procura por apoio e conforto religioso, na figura de Deus e nos membros da Igreja a qual freqüentavam para lidarem com a dermatose. Nos relatos fica claro a ajuda da Igreja, seja através de recursos financeiros ou pelo apoio espiritual, exemplificados abaixo: Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.2-N.2-Nov./Dez. 2009 366 [...] tinha irmãos da Igreja que me ajudava a comprar uns creme pra mim, aí eles ajudavam [...]. (Rubi) [...] se não fosse Jesus, para mim dar forças, para mim sustentar esses anos todinho, porque na palavra de Deus a gente acha conforto, para não olhares as complicações da vida, porque todo mundo tem aflições e complicações. (Turmalina) [...] todas as vezes que a gente vai à igreja, a gente nem lembra de ter esse problema, se sente à vontade. (Ágata) Em momentos de fragilidade, o apoio de outras pessoas fortalece a autoconfiança, o que possibilita um melhor enfrentamento das situações de sofrimento. Existe uma comunidade virtual, cujo endereço eletrônico é o www.vitiligo.com.br, que tem como objetivos a ampliação da rede de relacionamentos entre pessoas que convivem com este problema dermatológico, dando-lhes a oportunidade de elevarem a auto-estima, a partir do compartilhamento de experiências; colaborar para ampliar divulgação de informações corretas sobre a doença, inibindo os inexplicáveis preconceitos e rejeições sociais a esta dermatose; proporcionar à comunidade esclarecimentos que possibilitem a convivência amistosa, harmoniosa e saudável entre as pessoas que apresentam vitiligo e a sociedade em seus mais variados segmentos enfrentar de maneira adequada. CONCLUSÃO As pessoas acometidas pelo vitiligo em geral sofrem impactos psicossociais que desequilibram o organismo, trazendo alterações físicas, emocionais e sociais. A pesquisa confirmou esta afirmativa, pois os participantes relataram ter tido mudanças em várias áreas de suas vidas relacionadas ao surgimento da dermatose. Notou-se que todos os participantes tiveram algum grau de comprometimento na auto-estima, pois a doença trouxe constrangimento, tristeza e preocupação com a avaliação de outras pessoas quanto à modificação da estética da pele. Além disso, a falta de recursos financeiros para realização de tratamento adequado foi outro fator presente nos depoimentos que também contribuiu negativamente para o emocional dessas pessoas. Por fim, os resultados desta pesquisa reforçam a necessidade de uma assistência psicoterapêutica e equilíbrio emocional, além da terapia medicamentosa, para que tenha eficiência o tratamento. O acompanhamento multiprofissional tem como objetivo a busca por um estado de saúde integral dentro das possibilidades individuais e coletivas. O enfermeiro, membro da equipe multiprofissional para melhor assistir ao indivíduo portador desta dermatose, deve buscar embasamento científico que norteie o conhecimento do vitiligo, estabelecendo orientações corretas e tem como maior desafio tentar enxergar este indivíduo para além da sua pele, assim como auxiliá-lo para que ele próprio consiga fazer o mesmo. Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.2-N.2-Nov./Dez. 2009 367 REFERÊNCIAS ELDER, D. E.; LEVER, W. F. Histopatologia da pele de Lever: manual e atlas. São Paulo: Manole, 2001. 435 p. FONSECA, A.; PRISTA, L. V. N. Manual de terapia dermatológica e cosmetologia. São Paulo: Roca, 2000. 436 p. GODOY, A. S. Introdução à pesquisa qualitativa e suas possibilidades. Revista de Administração de Empresas, v. 35, n. 2, p. 57-63, mar./abr. 1995. HOFFMAN, F. S.; ZOGBI, H.; FLECK, P.; MULLER, M. C. A integração mente e corpo em psicodermatologia. Revista Psicologia: teoria e prática, São Paulo, v. 7, n. 1, jun. 2005. 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