MICROBIOTA

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MICROBIOTA: “AS BACTÉRIAS DO BEM”
Antigamente, a população bacteriana, dos organismos microscópicos, era
conhecida como flora microbacteriana ou microflora bacteriana. No
entanto, por estar associado ao reino vegetal (Plantae), o termo que
passou a vigorar é o de microbiota.
Microbiota, portanto, representa a população de organismos
microscópicos (microrganismos) de uma determinada região do corpo.
Assim, existem a microbiota da boca, pele e intestino. A microbiota
universal, a população de todas as bactérias do organismo, é chamada
microbioma.
A relação entre a microbiota e o hospedeiro é referenciada como simbiose
ou relação simbiótica. Fala-se em:
- MUTUALISMO quando ambos se beneficiam e são dependentes para
sobreviver.
- PROTOCOOPERAÇÃO quando ambos se beneficiam, mas não são
dependentes para sobrevivência.
- COMENSALISMO quando uma espécie é beneficiada, sem prejudicar a
outra.
O Staphylococcus epidermidis é um exemplo de comensal da pele.
- PARASITISMO quando uma espécie para se beneficiar prejudica a outra.
-PREDAÇÃO, AMENSALISMO, ANTIBIOSE E COMPETIÇÃO são outras
denominações de relações simbióticas, que guardam conotação negativa,
entretanto, de pouco interesse prático.
Dependendo, um mesmo agente pode estabelecer relações simbióticas
diferentes: ora parasita, ora comensalista, ora mutualista.
A administração prolongada e maciça de antibióticos, por exemplo, pode
destruir ou reduzir a população de bactérias do bem, microbiota, cujo
desequilíbrio predispõe às superinfecções, causadas por comensais ou por
outras bactérias consideradas, nessas circunstâncias, como oportunistas.
A microbiota é a responsável pela defesa, no entanto, pode vir a ser a
causa de uma doença.
O equilíbrio da microbiota intestinal está sob o julgo de vários elementos,
não somente de medicamentos, como antibióticos e antiácidos, como de
doenças a exemplo das gastrenterocolites infecciosas e fatores ambientais,
desde saneamento básico, vacinação e higienização, até faixa etária,
hábitos alimentares e comportamentais, em que pesa o envolvimento
emocional (estresse).
Ao nascimento o intestino é estéril. Estudos indicam que os bebês
adquirem sua microbiota intestinal inicial a partir do contato com o canal
de parto (vagina), por ocasião do parto normal. Daí a relação com o tipo
de parto.
A microbiota intestinal é formada no transcorrer do primeiro ano de vida e
sofre a influência de vários fatores genéticos e ambientais, principalmente
da alimentação.
A possibilidade de promover alterações na microbiota intestinal tem sido
avaliada através do emprego de produtos denominados de prebióticos e
probióticos (simbióticos), como suplementos dietéticos ou como
medicação, para lactentes jovens, com o propósito de criar uma
microbiota semelhante à dos lactentes alimentados com leite materno
exclusivo. Para tal, as fórmulas não devem ser digeríveis no intestino
delgado para sofrerem fermentação no cólon.
Prebióticos são fórmulas constituídas por misturas de oligossacarídeos,
mais especificamente à base de galacto-oligossacarídeo com frutooligossacarídeo, adicionadas aos alimentos, bebidas...
Probióticos ou Simbióticos, quando microrganismos vivos não patogênicos
fazem às vezes dos oligossacarídeos.
Os microrganismos probióticos administrados como suplemento alimentar
ou como medicação, são pertencentes aos gêneros Lactobaccilus,
Bifidobacterium e Streptococcus, os quais resistem à digestão e têm acesso
aos cólons para fermentação.
Os produtos gerados pelos probióticos são chamados de pós-bióticos.
A microbiota intestinal exerce função motora, ao harmonizar o
peristaltismo. Tem função digestiva, uma vez que promove a degradação
de polissacarídeos e assim sua absorção e da mesma forma que a
microbiota oral, impõe uma barreira contra a colonização de bactérias
patogênicas, conferindo proteção local e indiretamente, a órgãos distantes
(proteção sistêmica). Já, o mesmo não se pode afirmar com relação à
microbiota da pele.
Sua ação imunológica, ainda que por mecanismos de extrema
complexidade e não bem definidos, é reforçada junto ao desenvolvimento
de tecidos linfóides, como as placas de Peyer no intestino e com o estímulo
na produção de imunoglobulina do tipo A pelas células B e T reguladoras,
assim como na organização esplênica de centros germinativos para
produzir opsonina.
A opsonina é uma proteína indispensável à fagocitose de determinadas
bactérias, à opsonização dos Streptococcus pneumoniae e da Salmonella
sp, por exemplos.
Em termos práticos: Na anemia falciforme, as hemácias em foice se
enovelam na microcirculação, predispondo a formação de microtrombos,
que promovem oclusão dos vasos e consequentemente, isquemia e
infartos com repercussão em vários órgãos: intestino (mesentério), rins,
baço... O resultado dos múltiplos infartos esplênico é a atrofia progressiva
do órgão, considerada de maneira análoga à auto-esplenectomia, uma
perda funcional, que ocorre a partir dos seis anos de idade.
O baço deixa de produzir opsonina. Por isso, são consideráveis os riscos de
pneumonia causada pelo pneumococo e de osteomielite causada por
salmonela.
Quanto às células reguladoras, parecem ser funcionalmente deficientes
em doenças autoimunes como a esclerose múltipla, nas doenças alérgicas
e processos inflamatórios do intestino.
Nessas doenças, com a inovação das técnicas moleculares, têm-se
constatado diferenças significativas na composição da microbiota
intestinal, um desequilíbrio (inversão) entre as bactérias potencialmente
benéficas e as prejudiciais, ou seja, um menor número de lactobacilos e de
bifidobactéria, em contraste com o predomínio de coliformes e
Staphylococcus aureus.
Essas alterações nas populações bacterianas constituem fortes indícios do
envolvimento da microbiota intestinal na manutenção da homeostase
orgânica, do seu papel essencial para o equilíbrio das funções intestinais e
sistêmica, através de interações com o sistema imunológico e
metabolismo do hospedeiro, as quais, embora ainda longe de serem
esclarecidas, não deixam de esperançar que ensaios na manipulação da
microbiota intestinal venham a ser o tratamento, mesmo que adjuvante,
de muitas doenças.
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