rosane machado de jesus metafísica do sofrimento, da morte e do

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ROSANE MACHADO DE JESUS
METAFÍSICA DO SOFRIMENTO, DA MORTE E DO AMOR EM SCHOPENHAUER
CANOAS, 2012
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ROSANE MACHADO DE JESUS
METAFÍSICA DO SOFRIMENTO, DA MORTE E DO AMOR EM SCHOPENHAUER
Trabalho de conclusão apresentado para a banca
examinadora do curso de Filosofia do Centro
Universitário La Salle – UNILASALLE, como
exigência parcial para a obtenção do grau de
Licenciatura em Filosofia.
Orientação do Prof°. Ms. Gilmar Zampieri
CANOAS, 2012
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TERMO DE APROVAÇÃO
ROSANE MACHADO DE JESUS
METAFÍSICA DO SOFRIMENTO, DA MORTE E DO AMOR EM SCHOPENHAUER
Trabalho de conclusão aprovado como
requisito parcial para a obtenção do grau de
Licenciatura
em
Filosofia
do
Centro
Universitário La Salle - Unilasalle, pela seguinte
banca examinadora:
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RESUMO
Segundo Schopenhauer o mundo pode ser examinado sob duas dimensões:
Vontade e Representação. O mundo como Representação é tudo o que aparece
como figura para o entendimento do sujeito. O mundo como Vontade independe da
consciência do sujeito, a vontade age como um querer, como a mola intima de todo
seu ser, de seu agir e de seus movimentos. Esse querer cego e irracional se
expressa também na natureza e, principalmente no amor sexual. Esse querer é
manifestação da vontade-de-vida, ímpeto cego e irracional dirigido para preservação
da vida, mesmo que essa contém sofrimento e morte. Schopenhauer propõe a
supressão da vontade que é a condição de todo sofrimento. Mas, também declara
que o amor verdadeiro e puro, nos conduz à libertação.
Palavras-chave: vontade, representação, natureza, morte, amor, compaixão.
ABSTRACT
According to Schopenhauer, the world can be viewed in two dimensions: Will and
Representation. The world as representation is all that appears as a figure for
understanding the person. The World as Will does not depend on the person's
consciousness. Will act as a necessity, as the inner spring of the personal, the way of
acting and movement. This blind will is irrational, it also appears naturally and is also
shown particularly in sexual love. This wanting is a manifestation of the will to life,
blind and irrational urge appointed to the preservation of life and to give life, knowing
that suffering and death have in life.
Schopenhauer proposes the exclusion of the Will which is the condition of all
suffering. But he also says that the true and pure love leads us to liberation.
Keywords: Will, Representation, nature, kind, death, love, compassion.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................06
2 O MUNDO COMO VONTADE E REPRESENTAÇÃO...........................................08
3 METAFÍSICA DO SOFRIMENTO E SUA SUPERAÇÃO.......................................12
3.1 O sofrer é positivo, o prazer é negativo...........................................................12
3.2 Caminhos para supressão da dor....................................................................14
3.3 Do nada, a Salvação...........................................................................................17
4 METAFÍSICA DA MORTE......................................................................................21
4.1 A morte para o indivíduo e a morte para espécie...........................................21
4.2 Após a morte: o que permanece?.....................................................................23
5 METAFÍSICA DO AMOR........................................................................................26
5.1 O enigma do amor..............................................................................................26
5.2 Considerações sobre Homem e Mulher...........................................................28
5.3 Outra forma de Amor “Agape”..........................................................................29
6 CONCLUSÃO.........................................................................................................31
REFERÊNCIAS..........................................................................................................33
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1 INTRODUÇÃO
Desejamos realizar uma primeira incursão ao pensamento do Filósofo alemão
Arthur Schopenhauer (1788-1860). A tarefa proposta, de caráter introdutório, é
complexa, pois abrange muitos elementos ou partes que possibilita o norteamento
interpretativo. O pensamento Schopenhaueriano é marcado pelo pessimismo, é
reconhecido como pensador profundo e erudito. Mas é filosofia o que ele pratica.
Muitos leitores que ele inspirou o têm tomado como o paradigma do metafísico
profundo, difícil, talvez pela maneira filosófica e não literária que escreve.
Entretanto, diante desses questionamentos e creditando tais rótulos a
exercício hermenêutico deficiente, nossa tarefa é compreendê-lo: Decifrar um
sistema metafísico que reconecta à raiz universal do ser humano, a servir-lhe de
superior fonte de consolo em meio aos muitos padecimentos. Nossa meta primordial
é decifrar o enigma do mundo e comunicá-lo para, que os seres humanos sintam-se
reconfortado em face às dores da vida.
Este trabalho monográfico não pretende interpretar corretamente (o
pensamento do filósofo), pois não é uma tarefa fácil. Entretanto através de pesquisa
e análise dos textos, almejamos percorrer seu pensamento o mais preciso possível.
Para tanto, nessa tarefa seremos orientados, principalmente pelos livros Da morte,
Metafísica do amor, Do sofrimento do mundo, assim, como também contaremos com
a contribuição de Jair Barboza, Christopher Janaway, Gilmar Zampieri, Will Durant.
A essência do mundo para Schopenhauer é a Vontade. O primeiro capítulo
procura a partir de uma maneira intersubjetiva nos revelar a verdadeira essência do
mundo. Tocado pelo sofrimento humano Schopenhauer busca no segundo capítulo
elementos para amenizar as dores e sofrimentos do mundo. Pois, para ele a raiz das
coisas do mundo é o mal, “toda vida é sofrimento”, e os polos opostos são a dor e o
tédio. Contudo Schopenhauer indica momentos nos quais o homem é assaltado pela
liberdade de conhecimento, dissolvendo sua individualidade numa “união mística”
com o todo.
No terceiro capítulo o autor denuncia as múltiplas ilusões do mundo,
submetido a intermináveis mudanças, indica a imortalidade da nossa essência
íntima, sendo que é um erro pensarmos na morte como o grande mal; a morte não é
o nosso fim.
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Já no último capítulo Schopenhauer examina duas formas de amor: amor
paixão e amor compaixão. O amor paixão é o amor erótico, é o amor que tem como
missão colocar um novo ser no mundo, largado as dores e sofrimentos da vida. E o
amor compaixão é o amor caridoso, compassivo e altruísta. Esse amor é autêntico
no sentido mais elevado. Procura evitar o sofrimento neutralizando as dores da
existência, ao invés de perpetuá-las.
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2 O MUNDO COMO VONTADE E REPRESENTAÇÃO
A obra de Schopenhauer1 O mundo como Vontade e Representação pretende
decifrar o enigma do mundo. Para o autor o enigma do mundo é vontade e
representação (duas dimensões que constituem a totalidade do mundo).
A frase de abertura de sua principal obra é: O mundo é minha representação
(ele adota a representação como ponto de partida do conhecimento). A
representação do mundo material, exterior, é tudo aquilo que aparece como figura
para o entendimento, ou seja, é o mundo como ele aparece para consciência, como
objeto, fenômeno, aparência, segundo o princípio da razão. A vontade é a essência
cósmica, é o mundo em si, a coisa em si que vai além do mundo material, e
independe da consciência.
Schopenhauer ao se deparar com a filosofia Kantiana a considera
convincente, mas incompleta. Ele acolheu a distinção entre aparência e coisa-em-si.
Mas considera incompleta na medida em que Kant afirma que só das aparências era
possível ao homem ter conhecimento.
Para conhecer o mundo em si, a essência cósmica o autor utilizará a via
corpóreo-subjetiva. Diferentemente de Kant que utilizara a via objetiva à qual sempre
nos remete para outros corpos, ao infinito, sem nunca ir além das relações de causa
e efeito estabelecidas pelo princípio da razão.
A essência do mundo é vontade, mas para a consciência é representação.
Para Schopenhauer a representação é o ponto de partida de todo conhecimento.
1
Renomado Filósofo alemão do séc.XIX, Schopenhauer nasceu em 22 de Fevereiro de 1788 na
cidade chamada Prússia (atual Polônia) e morreu em 21 de Setembro 1860 (72 anos) vítima de
pneumonia. Arthur Schopenhaeur era um homem solitário e ao morrer estava acompanhado por seu
fiel cachorro Atma (alma do mundo). Foi Filósofo e Professor. Filho de comerciante que seria sua
profissão, teve sua educação intelectual negligenciada pela família, que o fizera viajar muito para
aprender sobre negócios. Durante essas viagens,no entanto, escreveu considerações melancólicas e
pessimistas sobre a miséria da condição humana. Em 1805, a família fixou-se em Hamburgo e o
obrigou a cursar uma escola comercial. A morte do pai (parece ter sido suicídio) permitiu-lhe
abandonar de vez os estudos comerciais e voltar-se para uma carreira universitária, com foco em
Estudos Humanísticos, como era seu desejo. Também fez medicina adquirindo conhecimento
científico. Em 1813, Schopenhauer tornou-se doutor pela Universidade de Berlin com a Tese Sobre a
Quádrupla Raiz do Princípio de Razão Suficiente. Nessa época sua mãe estabeleceu-se em Weimar,
onde obteve sucesso como novelista e passou a frequentar os círculos mundanos que Schopenhauer
detestava e se esforçava por ridicularizar ao máximo. As relações entre os dois deterioraram-se a
ponto de Johanna declarar publicamente que a tese de seu filho não passava de um tratado de
farmácia. Em contrapartida Schopenhauer afirmava ser incerto o futuro de sua mãe como romancista
e que ela somente seria lembrada no futuro pelo fato de ser sua progenitora. Apesar dessas brigas,
Arthur Schopenhauer frequentou durante algum tempo o salão de sua mãe. Ali tornou-se amigo de
Goethe (1749-1832), que reconhecia seu gênio filosófico. Em 1814, rompeu definitivamente com a
família e quatro anos depois concluiu sua principal obra: O Mundo Como Vontade e Representação.
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Este pensamento o difere das duas vias tradicionais para obtenção de
conhecimento. O realismo e o idealismo. O realismo postula que o conhecimento
parte do objeto e deste deduz o sujeito. Para o idealismo o conhecimento parte do
sujeito.
Para Schopenhauer as teorias do realismo e idealismo são insuficientes,
incompletas. Schopenhauer adota um terceiro elemento que indica o ponto de
partida do conhecimento. Este terceiro elemento é a representação. A representação
fica entre o sujeito e objeto, é um envolvimento de sujeito e objeto. Significa dizer
que ao se pensar no sujeito se envolve também o objeto,e vice-versa. Denominamos
essa inter-relação de amálgama. Ser objeto significa ser conhecido por um sujeito.
Ser sujeito significa ter um objeto. Mas, o que vem a ser precisamente,
representação?
O mundo como vontade e representação é tudo o que aparece como figura
para o entendimento do sujeito. Os sentidos encarrega-se de levar os primeiros
dados que conduzem à representação. No entanto à todo um elaborado mental do
sujeito em tal processo para aquisição da posse final da imagem. Esse processo
mental denota a figura de um sujeito ativo, uma espécie de artesão que possui
desde o nascimento as formas puras de conhecimento que possibilita a leitura do
mundo circundante. As formas puras são o tempo, o espaço, e a causalidade; uma
espécie de “óculos intelectuais” que o sujeito utiliza desde o nascimento, para
localizar o objeto num determinado espaço e numa relação causal. Por exemplo:
uma caneta ela precisa estar (sobre, ou sob ou ao lado) e precisa estar num espaço;
significa numa certa hora, minuto e segundo e estar ainda submetida a lei da
causalidade, isto é, pode ser movimentado, quebrado, e pode cair. A caneta pode
sofrer efeitos e os produzir. Essas formas inatas do entendimento (o tempo - o
espaço - e a causalidade) se percebe com qualquer objeto sem exceção.
Schopenhauer designa este processo de princípio de razão.
Kant em sua obra Crítica da Razão Pura demonstra 2 (duas) formas de
conhecimento: a sensibilidade e o entendimento. O conhecimento adquirido da
sensibilidade eleva-se à uma categoria à “priori” chamada “formas puras” à qual
decodifica os fenômenos empíricos em conceitos. O entendimento tem como
objetivo: fazer uma síntese do conhecimento adquirido a partir do material sensível
da intuição.
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Kant resume sua teoria do conhecimento “pensamentos são intuições são
vazios; intuições sem conceitos são cegas” (BARBOZA, 2007, p. 31).
Para Kant o conhecimento gerado da sensibilidade e entendimento, é todo o
conhecimento possível, verdadeiro, esse é o conhecimento que a ciência utiliza até
o limite das relações causa e efeito. Schopenhauer não concorda com Kant e vai
além dos limites da ciência.
[...] falando a linguagem de Kant, que o tempo, o espaço e a causalidade
pertencem não à coisa em si, mas ao fenômeno...o mundo objeto, ou o
mundo como representação, não é a única face do universo; é, por assim
dizer, apenas a sua superfície: há além disso, a face interna...essência e
núcleo do mundo e verdadeira coisa em si, designada de VONTADE
(SCHOPENHAUER, 2001, p. 38-39).
Schopenhauer diz que o mundo em si, ou a essência do mundo,
independente da consciência pode ser conhecido e responde pelo nome de vontade.
Enquanto fenômeno o mundo é representação, mas em sua essência o mundo é
vontade. Para defender sua teoria e objeto de estudo Schopenhauer utilizará a via
corpóreo-subjetiva, que conduz ao núcleo dos corpos em geral, sentida como o mais
íntimo desejo a qual se manifesta como a mola íntima de seu ser, de seu agir e de
seus movimentos.
A vontade age como um querer. Quando se quer agir, esse querer desperta
um movimento. O ato de querer e a ação do corpo não são dois estados diferentes.
O querer age concomitante com a vontade. O querer e ação do corpo são uma única
e mesma coisa. O corpo é a visibilidade da vontade.
Na verdade o querer se localiza no centro da consciência é o “eu” disfarçado
esta unido ao conhecimento, é o ponto de encontro entre o conhecedor e o
conhecido.
Schopenhauer admite que o intelecto a razão, é um instrumento a serviço da
vontade. Significa dizer que a vontade quer e o intelecto lhe dá as razões ou os
motivos do querer. É no corpo que a vontade se expressa, o corpo é a manifestação
da vontade de vida, um ímpeto cego, ímpeto que esta dirigido para preservação da
vida e gerar nova vida.
A vontade para Schopenhauer tem um significado mais amplo, ele afirma que
os processos naturais são manifestação da vontade. Da vontade emanam os reinos
mineral, vegetal, animal e os seres humanos. Porém a vontade não é guiada pelo
conhecimento.
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A vontade pode agir sem nenhuma espécie de conhecimento. Exemplo
disso: O jovem pássaro não tem nenhuma representação dos ovos para os
quais constrói um ninho, nem a jovem aranha da presa para a qual tece a
teia, nem o formigão, da formiga para a qual prepara uma cova. A larva do
escaravelho cava na madeira o buraco, onde deve realizar a sua
metamorfose [...] neste particular destes animais, a atividade manifesta-se
tão claramente como em todos os outros; só que se trata de uma atividade
cega, que é acompanhada de conhecimento, mas não dirigida por ele
(SCHOPENHAUER, 2001, p. 123).
A vontade não emana de coisa alguma, ela é um abismo, sem fundamento,
porém é livre, sendo assim ela deseja a vida em toda parte, todos os reinos,
manifestando-se em tudo e em todos, como força em plena luta e guerra pela
aquisição da matéria, espaço e tempo.
Schopenhauer nota que no mundo há tanto ódio, luta, dores e sofrimento.
Que significa tudo isso? Se esses acontecimentos tem algo haver com a essência
do mundo? Sim, as dores e sofrimentos do mundo têm haver com a vontade pois,
ela é intrinsecamente autodiscórdia consigo mesma.
O homem e a natureza em geral são amor e ódio ao mesmo tempo. Exemplo
disso: A vontade do apaixonado pode assassinar sua amada. A vida é vontade e
vontade é falta, carência e desejo. A falta, a carência e o desejo, que quer ser
satisfeito, traz inevitavelmente junto a si, em seu aparecer, miséria, dor e sofrimento.
Eis o drama do mundo. Vejamos mais de perto essa condição humana na
obra: Da morte, Da metafísica do amor e Do sofrimento do mundo.
12
3 METAFÍSICA DO SOFRIMENTO E SUA SUPERAÇÃO
No sistema de Arthur Schopenhauer a Vontade é concebida como algo sem
qualquer meta ou finalidade, um querer irracional e inconsciente. Sendo um mal
inerente à existência do homem, ela gera a dor necessária e inevitavelmente e
aquilo que se conhece como felicidade seria apenas a interrupção temporária de um
processo de infelicidade e somente a lembrança de um sofrimento passado criaria a
ilusão de um bem presente.
3.1 O sofrer é positivo, o prazer é negativo
Para Arthur Schopenhauer o mundo para além das aparências, na sua
essência é vontade que deseja se expressar e na sua expressão e manifestação o
resultado é um mundo de sofrimento. A vontade é intrinsecamente ligada com a
necessidade, portanto todos os seres se empenham na busca de suprir suas
necessidades. Mas nenhuma satisfação do mundo supre seus anseios de tapar o
poço sem fundo de seu coração (JANAWAY, 1994, p.125). Para tapar os buracos
vazios de seu coração os homens satisfazem seus instintos tais como: o amor,
ciúmes, insatisfações, necessidades etc.
A vontade quer se manifestar na vida que tem como princípio o querer, que
advêm de uma necessidade, uma ausência, caracterizado por uma dor. O motivo do
ser humano ser um sujeito de necessidades está profundamente arraigado na
própria essência. Enquanto estivermos a mercê de nossa vontade nunca seremos
realmente felizes: Diz Durant:
Enquanto nossa consciência estiver dominada por nossa vontade, enquanto
nos entregarmos à multidão de nossos desejos com suas esperanças e
receios, nunca poderemos ter felicidade ou paz duradoura... E a realização
nunca satisfaz. Nada é tão fatal a um ideal como o seu preenchimento. A
paixão satisfeita leva mais frequentemente à infelicidade do que à
felicidade. Pois suas exigências muitas vezes entram de tal modo em
conflito com o bem-estar pessoal do interessado que o solapam. Cada
indivíduo carrega dentro de si uma contradição dilacerante; o desejo
realizado produz um novo desejo e, assim por diante, incessantemente. No
fundo isso resulta do fato de a vontade ter de viver de si mesma, pois não
existe nada além dela e ela esta sempre faminta (DURANT,1958, p.59-60).
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Podemos compreender então que toda efetivação de nosso querer não
preenche a lacuna do vazio de nosso coração, pois a vontade que não é satisfeita,
nos conduz ao sofrimento. Para Schopenhauer “a existência humana tem de conter
sofrimento e não pode ser preferível a inexistência” (JANAWAY, 1994, p.126).
A nossa existência é uma existência de conflitos tanto externos como interno,
esses conflitos pode ser retratados como uma tragicomédia onde o mundo é o palco
e os atores são os Seres Humanos. A vida pode ser comparada com um combate e,
seja qual for a sorte de cada homem, a dor será sempre sua companheira. Nesse
contexto diz Durant:
Todo poema épico ou dramático só pode representar um combate, um
esforço, uma luta pela felicidade, nunca uma felicidade duradoura e
completa. Ele conduz seus heróis através de mil perigos e dificuldades até a
meta; assim que ela é alcançada apressa-se em baixar o pano pois já não
restaria nada a fazer, a não ser mostrar que a fulgurante meta, na qual o
herói esperava a felicidade, só resultara em desapontamento e que depois
de atingi-la, não ficou em condições melhores que antes. (DURANT, 1958,
p.66).
Para Schopenhauer o quadro total da vida é doloroso demais para ser
contemplado. O Ser humano é um ser de apetite, este apetite é devido a sua
vontade que sempre tem fome e para se alimentar torna-se um egoísta. Diz
Schopenhauer que o egoísmo é essencial a todo Ser da Natureza. Este princípio
manifesta-se na pluralidade de indivíduos e esta se manifesta no mundo fenomênico
(SCHOPENHAUER, 2001, p.430).
Mais adiante o autor noz conduz a relacionar os Seres Humanos como Seres
dotado de inteligência, e que esta existe com toda vontade de poder, ele se vê como
condição última do mundo como representação. O mundo pode ser visto como uma
multiplicidade de indivíduos, e todos tendo de empenhar-se por sua existência, e na
maior parte das vezes existência conflituosa. O ser humano sofre e também faz
sofrer. A vontade e o sofrimento estão vinculados.
A
vontade
quer
perseguir
continuamente a felicidade e esta encontra apenas dor. Para aquele sujeito que tem
sucesso em tudo o que se propõem a fazer, na visão de Schopenhauer é negativo,
pois para o autor a satisfação só pode ocorrer num Ser que sofreu.
Nesse sentido, como nos diz Janaway (1994, p.127):
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O sofrimento é algo que sentimos, mas a satisfação é uma ausência; estar
satisfeito á apenas voltar ao neutro por meio da eliminação de uma
deficiência que sentia. E o mero estado de não sentir deficiências e, não se
empenhar por nada, não tem valor nenhum positivo.
Neste contexto de sentir falta, buscar satisfazer os desejos e necessidades, é
possível dizer que o ser humano que não tem motivação e nem empenho por nada,
pois tudo está bom, está satisfeito, este Ser não presencia a verdadeira satisfação
da felicidade, este portanto é um estado negativo ao qual induzirá o Ser humano ao
tédio.
Diante deste cenário Durant com suas palavras nos esclarecerá melhor:
[...] assim que o sofrimento da tréguas a um homem, ele é dominado pelo
tédio e inevitavelmente precisa variar, i.é., de mais sofrimento. Ainda
mesmo que se alcançasse a utopia socialista, inúmeros males restariam,
porque alguns deles – tal como a luta – são essenciais à vida. E se todos os
males fossem removidos e a luta fosse completamente eliminada, o fastio
se tornaria tão intolerável quanto a dor.E assim “a vida balança como um
pêndulo entre o sofrimento e o tédio (DURANT, 1958, p. 61).
Para Schopenhauer não basta considerar que de fato a vida contém
sofrimento e que conter sofrimento é uma coisa boa. Segundo ele o sofrimento não
alcança a redenção por algum bem que está acima da existência. Se alcanca a
redenção pelo simples fato de ser bom existir como indivíduo humano aconteça o
que acontecer.
3.2 Caminhos para a supressão da dor
Arthur Schopenhauer assemelha “a existência à uma roda, a roda de íxion.
Segundo a mitologia grega, íxion, mero mortal, após ter sido introduzido no Olimpo
por Zeus, apaixonou-se e desejou sua mulher Hera. O chefe supremo do Olimpo
não gostou disso e o amarrou numa roda de fogo alada, a girar incessantemente,
cercada de serpentes. Pois bem, a existência, no pensamento Schopenhaueriano, é
semelhante a uma roda de íxion de desejos nunca totalmente satisfeitos, portanto de
sofrimentos. Para cada desejo satisfeito existem contra ele pelo menos dez que não
o são” (BARBOZA, 2007, p.58).
Para nosso autor a vida existencial tem de conter sofrimento, a existência é
finita e ilusória, e, enquanto o Ser Humano se limitar a seguir o conhecimento
mundano, igualar-se-ão aos prisioneiros da caverna platônica (que viam somente as
15
aparências). Porém existe um momento privilegiado em que se pode considerar a
essência das coisas, deixar de lado o sofrer, fazer com que a roda de ixíon pare de
girar e o homem encontrar a saída da caverna.
Esse é o momento da contemplação estética da ideia do Belo, em que nossos
desejos não serão mais enganados e não nos provocarão sofrimentos. Este é o
momento em que o individuo deixa sua própria individualidade e se entrega à
contemplação da beleza; é nesse momento que o individuo nega sua vontade.
Na contemplação da beleza (ideia do belo) não é mais possível distinguir o
contemplador do contemplado, o intuidor da intuição, ambos formam uma unidade,
saímos da caverna, assemelhamo-nos a deuses, somos alegres, deixamos de
sofrer, a verdade nos conforta.
Nosso autor depois de mostrar o estado existencial com seus erros, com os
conflitos de seres pela posse de matéria, visando à afirmação da vontade de vida na
pluralidade fenomênica – mostra então o momento de compreendermos a vontade
enquanto ideia que se contempla e se nega por igual.
Schopenhauer nos indica um caminho para aqueles momentos de tristeza, de
melancolia, estar diante de uma floresta ou mar pode ser consolador, pois, o amplo
panorama nos envolve, absorve-nos em seu seio mas só por instantes,pois, basta
que algo retorne a nossa consciência para nos tirar desse estado de contemplação.
A filosofia de Shopenhauer relacionada à Estética do Belo abarca tanto a
contemplação da natureza como a contemplação da arte. Há somente uma
diferença entre elas, não que seja muito importante diz o autor mas, é que diante da
natureza temos mais dificuldades para fruí-las, devido interesses por objetos
externos.
Após este esclarecimento vamos dar inicio a abordagem Schopenhaueriana
das Artes. E Janaway nos diz claramente de que arte se trata:
Schopenhauer examina diversas formas artísticas desenvolvendo entre elas
uma hierarquia de graus inferiores e superiores de objetivação da vontade.
O grau mais baixo são as forças naturais todo - pervasivas e o mais
elevado, a Idéia da Humanidade. Neste contexto apresentaremos as
diferentes formas artísticas que o autor nos dispõem a examinar é: a
arquitetura, pintura, poesia, drama e a música (JANAWAY, 1994, p. 98-99).
Para nosso autor a arquitetura é a base da pirâmide hierárquica (porque a
hierarquia é baseada na natureza conforme os reinos mineral, vegetal, animal e
16
humano) pois, em seu sentido mais profundo a arte das construções (catedral,
esculturas, prédios), é a luta entre gravidade e resistência, reflexo da discórdia
intrínseca da vontade consigo mesma. Ao contemplarmos uma Bela construção
sustenta Schopenhauer – esquecemos os desejos, suprimimos a individualidade, a
nossa consciência é ocupada pelo puro sujeito do conhecimento e pela ideia, a
unidade cósmica se restabelece nos ocasionando uma imensa alegria.
Para situar as ideias da vontade conforme a hierarquia do tempo a arte é
magnânima. Ao contemplarmos uma pintura humana (quadro) revela-se a espécie
humana, um belo rosto humano intuído e depois retratado desperta alegria indizível.
Sua visão é curativa diz Barboza:
Para a filosofia Schopenhaueriana, ao contemplar uma obra de arte, mesmo
se o tema abordado for doloroso, sentimos prazer pois, não somos mais
sujeitos empíricos, indivíduos receptivos aos prazeres ou desprazeres:
somos puros sujeitos do conhecer destituídos de vontade, contempladores
da ideia, libertos por alguns instantes do sofrimento(BARBOZA, 1996, p.
70).
Outra obra de arte a quem Schopenhauer consideradamente nos conduz para
supressão da dor e sofrimento deste mundo é a poesia.
Sendo a escultura e a pintura artes estáticas, não saem do lugar, a poesia
com seu dinamismo e desenvoltura ultrapassa em mérito a posição das ideias feitas
pelas artes plásticas. A poesia além de ser filosófica nos denota a ideia de
humanidade segundo Barboza:
O poeta trabalha as palavras, os conceitos; ele é um “artista racional” esses
conceitos não se aparentam aos cientistas, matemáticos, lógicos; o poeta
trata dinamicamente a ideia de humanidade, a poesia deve ser filosófica. A
poesia indica ação em diversos lugares e épocas, descreve o caráter
inteligível, a parte mais nuclear das personalidades (BARBOZA,1996, p.
72).
Para Schopenhauer ao contemplarmos uma poesia, não somos atingidos pelo
horror da existência, e sim pela sua verdade profunda, nos alegramos e
reconfortados pelo estado de ânimo do poeta, negamos a dor de viver.
Nosso filósofo inclui uma arte que não está contida na hierarquia da arte mas,
que esta acima das demais: a música
A música não expõe uma ideia, não lida com imagens. Ela fala diretamente a
linguagem da coisa-em-si, ela é imediata do âmago das coisas, linguagem cantada
17
por todo canto do planeta mesmo sem compreender. Nela estamos isento de
qualquer querer. Diz Barboza (1996, p. 75): “As emoções que a música nos desperta
não afirma a vontade; ao contrario, na audição musical há completa negação do
querer”. A música é sentida pelo espírito, e como o espírito não é matéria não
contém o nervo sensitivo. A música não expressa esta ou aquela aflição, a música
toca o fundamental as emoções mesmas, a mensagem direta da coisa-em-si, e
apartir daí construímos um mundo irretocável.
A música fala a linguagem direta e imediata da vontade, ao contemplarmos
um Belo som vivenciamos a pura metafísica. Schopenhauer declara: “A música é a
metafísica atrás da realidade física”. Para o autor é verdadeiro o mito popular “quem
canta seus males espanta”, o que é comprovado também nas cantigas de ninar.
Para Schopenhauer a música é o bálsamo para mitigar os sofrimentos que castigam
a existência. As obras de arte quando conseguem expressar a objetividade da
vontade, ou seja, sua expressão maior, consegue então enlevar o ser humano,
arrancá-lo de seu encarceramento do mundo como representação. É neste
momento que renunciamos qualquer querer, desejo e preocupações; já não somos
nós mesmos; livramo-nos da vontade, esta está quieta, calada e submissa.
Por outro lado, é mais do que oportuno considerar que quem se considera
fora dessa habilidade artística deve procurar recursos em outra habilidade,quem
sabe a razão. Se conseguir-mos entender que a vontade incita o querer, que o
querer é o desejar, que o desejar é a condição prévia do saber, e que, o prazer
quando satisfeito, há de cessar, então o desejo não satisfeito implica em sofrer.O
desejo não seria ainda a causa primeira do sofrer, portanto, a vontade, que incita
aos desejos, é que tem de ser suprimida.
3.3 Do nada, a salvação
Conforme Schopenhauer (2001, p.397) da mesma fonte que emana toda
caridade, bondade e piedade, que se volta sobre o indivíduo emana também a
negação do querer viver.
Para Schopenhauer quando o conhecimento vem a luz, o véu de maya se
levanta, o indivíduo suprimi a sua individualidade, já não se distingue mais do outro,
ele já se reconhece nas dores do outro, e as dores do outro já passam a ser suas
dores. Se reconhecer no outro é o conhecimento que lhe permite olhar através do
18
principio de individuação. Então o indivíduo já não distingue as suas dores das dores
dos outros. Nenhum sofrimento mais lhe é estranho, o sofrimento do mundo agora o
toca de perto.
Este homem conhece a essência, o em-si, ele conhece o calmante da
vontade, que incita os prazeres do mundo. O ser humano que se reconhece no
outro, este ser já tem como renunciar voluntariamente a todo querer, a todo estímulo
dos desejos, este ser é superior a qualquer dor. A vontade agora pode ser afastada
da sua vida e de seus gozos. O homem então já conhece o todo, conhece a
essência das coisas, o em-si como diz Schopenhauer:
Se comparar-mos a vida a um círculo que se percorre, e de que uma parte é
feita de carvões em brasa, enquanto que certos lugares são frios, pode-se
dizer que os lugares frios consolam o infeliz, enganado pela ilusão, quando
aí se encontra, e ele é assim encorajado a prosseguir a sua marcha. Mas
aquele que vê para além do princípio de individuação, que conhece a
essência das coisas em si, e por conseguinte abarca o conjunto, esse já
não é acessível a esta consolação: ele vê-se a si mesmo, ao mesmo tempo,
em todos os lugares, e retira-se do círculo (SCHOPENHAUER, 2001, p.
398).
Portanto, este homem retira-se do circulo e enxerga o mundo no todo, nega
os fenômenos, as atrações da vida. A vontade agora lhe é serva, ele nega-a. Já não
basta amar o próximo como a si mesmo e agora se reconhece no todo. É neste
momento que segundo Schopenhauer (2001, p.399) “nasce no homem um
sentimento de rejeição contra a essência da vontade de viver”, que se expressa em
todo seu corpo através de seu querer.
A dor e a compaixão já não é suficiente. O homem virtuoso é lançado a um
estagio de ascetismo, ele nega a sua vontade e contradiz o seu corpo: recusa toda a
satisfação sexual, ele vive uma castidade voluntária, uma negação do querer viver,
portanto o homem não sofre mais com os insultos, ofensas e nem com o mal dos
outros; o homem agora acolhe a tudo com alegria para provar para si mesmo que
ele não afirma sua vontade. O homem renuncia totalmente seu corpo e prioriza a
espécie.
No entanto compreenderemos melhor este estado abençoado do homem no
texto de Janaway:
Então, em vez da constante transição do desejo para a apreensão e da
alegria para a tristeza; em vez da esperança nunca satisfeita e nunca
extinta que constitui a vida-sonho do homem que deseja, vemos a paz que
19
é mais elevada do que toda a razão, a calma oceânica do espírito, a
profunda tranquilidade, a confiança e a serenidade inabaláveis cujo mero
reflexo no rosto, como o descreveram Rafael e Corregio, é um evangelho
completo e seguro. Apenas o conhecimento permanece; a vontade se
desfaz (JANAWAY, 1994, p.135).
Este estado sereno e tranquilo do homem é em razão do “não” à nossa
natureza de seres humanos. Se a intenção era descobrir o real valor do existir, então
existir é negar a vontade de vida. A salvação está na negação do “eu”, que renuncio
a si mesmo.
Schopenhauer nos propõem caminhos ou práticas que nos conduzirá a
renuncia do eu, através do “quietismo, que é a renúncia de toda vontade (como
acabamos de conhecer), o ascetismo, que é mortificação intencional da vontade; e
o misticismo, quer dizer, a consciência da identidade entre o próprio ser interior e o
ser de todas as coisas ou com o âmago do mundo” (JANAWAY, 1994, p.136).
Quem pratica o ascetismo já não lhe basta “amar aos outros como a si
mesmo”, a pessoa deixa de querer a tudo, recusa-se a ligar a sua vontade a
qualquer apoio; esforça-se para ser indiferente a todas as coisas; nega a vontade e
contradiz seu corpo e recusa-se toda satisfação sexual. “O ascetismo não pode ser
idêntico à total ausência de vontade pois, a castidade nega a afirmação da vontade
que vai além da vida do indivíduo; ela indica assim que a vontade se suprime a si
mesma e ao corpo que é a sua manifestação”(SCHOPENHAUER, 2001,p. 399).
Considerando o que foi exposto acima a verdadeira salvação não pode ser
premeditada e nem fazê-la com intuito a um fim. Schopenhauer (2001, p. 411), nos
diz que “é quase sempre preciso que grandes sofrimentos tenham quebrantado a
vontade, para que a negação do querer se possa produzir”. É através do sofrimento,
das dores de toda espécie, dos degraus de aflição crescente, da aproximação da
morte e de um desespero perpétuo que é então levado à purificação pela dor. É por
isso que toda infelicidade e sofrimento profundo merece sempre um certo respeito
pois, “essa dor faz parte de uma sequência de sofrimentos que, pode ser visto como,
os degraus para ascensão da dor à libertação”(SCHOPENHAUER, 2001, p.416).
O outro caminho que nos conduz a renuncia do eu, ou anulação da vontade
que, segundo Schopenhauer, nos leva ao conhecimento é o Misticismo Hindu. O
que nos ensina a doutrina Hindu é “a consciência da identidade do próprio eu interior
com o de todas as coisas”. Para Schopenhauer a doutrina Hindu leva o homem a
salvação pela via do conhecimento, que significa ver o mundo como um todo em
20
que não me distingo. Esse conhecimento tem valor porque me liberta da roda viva
de empenho, felicidade e sofrimento. Esse conhecimento do mundo é percebido
pelo homem através de uma intuição, que lhe serve de tranquilizante ou sedativo da
vontade e dos desejos.
É através deste conhecimento de que resulta a negação da vontade e que é
expressamente desenvolvida na ação e conduta humana.
Reportamo-nos ao tema deste capítulo: Do nada, a Salvação. O nada para
Schopenhauer é negar; e a essência do mundo e a essência do homem é a vontade,
então, negar a vontade nos conduz a salvação. Esse é o exemplo de sabedoria que
os santos souberam viver.
21
4 A METAFISICA DA MORTE
Arthur Schopenhauer nos diz que a morte é a musa inspiradora da Filosofia.
Isto significa que se não morrêssemos não filosofaríamos. É para aplacar o nosso
medo da morte e o desejo de imortalidade que filosofamos e nisso a morte é a
inspiradora primeira de todo pensamento. O problema da morte pode ser visto desde
vários ângulos e a tradição filosófica e teológica é prova disso. Em Schopenhaeur
ela é concebida desde o ponto de vista da metafísica da vontade e desde a natureza
indestrutível da Vontade feita fenômeno na natureza. É nesse perspectiva que a
relação que importa para Schopenhauer é a da espécie e do indivíduo. A
argumentação de Schopenhauer leva a investigação sobre a morte para o terreno da
mortalidade do indivíduo e a imortalidade da espécie. Consolo filosófico, portanto,
para todos aqueles que se preocupam em demasia com a morte. Na espécie o
homem é imortal, ficando assim aplacado o medo da morte que nada mais é do que
ilusão, quando bem vistas as coisas e não apenas atentos às aparências
fenomênicas.
Dentro da lógica de argumentação de Schopenhauer é preciso então
explicitar como se dá a relação indivíduo e espécie para nessa relação situar a
questão apropriadamente, desfazendo assim o maior dos nossos medos: o medo da
morte.
4.1 A morte para o indivíduo e a morte para espécie
A morte é o fato mais evidente da nossa existência e, diante deste fato ‘morte’
aparece o nosso maior temor. Para Schopenhauer tememos a morte porque somos
manifestações da vontade de vida e este medo é irracional e não tem fundamento
pois, antes de nascermos não existíamos e nem por isso tememos o não ser que
nos antecipou à entrada nesse mundo, fato este que deveria ser indiferente para nós
diante da morte a qual voltaríamos a inexistir. Dito em outros termos. O que éramos
antes de nascer? Enquanto indivíduos, nada. E isso colocava algum problema? Não.
Então, por que o temor se voltaremos a ser o que éramos antes de nascer? O temor
da morte é simplesmente irracional. Enquanto somos a morte não é. Quando ela é,
já não somos e então porque temer a morte? A morte é o nosso fim individual e no
22
fim individual o fenômeno mais primário é o cessar da consciência e da sensação,
então, por que o temor? Assim, o temor da morte deveria ser posta somente para
aqueles que egoisticamente querem permanecer eternamente com um “eu” pessoal,
auto-consciente e como substância pensante. Mas essa perspectiva é equivocada e
Schopenhauer não a alimenta, apesar de encontrar adeptos na teologia e nas
religiões, mas não encontra adeptos em quem se limita colocar a questão desde o
ponto de vista estritamente racional.
Para estes, como é o caso de Schopenhauer, há sim um consolo diante da
morte, mas esse consolo não está em postular uma eternidade do eu pessoal e
individual. Schopenhauer nos oferece um consolo mais positivo para amenizar a
temor da morte. A morte é a cessação do ser humano individual e particular; contudo
a “morte é somente o fim da aparência fenomênica pessoal ou seja uma parcela
ínfima da verdadeira natureza interior” (SCHOPENHAUER, 2003, p.130). A natureza
(o mundo) não lamenta nenhuma parte individual de si mesma, e vai continuar a
existir sem mim. A realidade em si é eterna no sentido de intemporalidade, mas no
ponto de vista do tempo é uma ilusão. Segundo o autor, a morte de cada pessoa
não tem grande importância na ordem das coisas da natureza.
Quanto ao indivíduo, para ela não conta, não pode contar: não tem ela
diante de si essa tripla infinidade, o tempo, o espaço, o número dos
indivíduos possíveis? Assim ela não hesita nada em deixar desaparecer o
indivíduo (SCHOPENHAUER, 2001, p. 190).
A realidade em si é eterna, o indivíduo é apenas aparência, o nascer e o
morrer é manifestação da vontade. Para o homem consolar-se diante da morte é
preciso se enxergar como natureza (natureza imortal), pensando-se sob o símbolo
do círculo, porque o círculo é o esquema do retorno, o retorno para a eternidade
donde nascimento e perecimento são simplesmente o próprio movimento de que a
vida é feita. Schopenhauer denomina este movimento de palingenesia, ou o eterno
retorno dos genes, desde o curso das estrelas até todo animado e inanimado na
terra. Portanto o retorno serve de fundamento a uma existência permanente isto é,
uma natureza imortal. O autor nos consola com este fundamento quando nos
demonstra modelos na natureza que sem esforço transita naturalmente.
[...] O cuidado com que o inseto prepara uma cela, uma pequena fossa ou
ninho, para depositar o seu ovo, ao lado de alimentos para a larva que daí
23
surgirá na próxima primavera, e depois morre tranquilo, é idêntico ao
cuidado com o qual à noite o homem deixa preparadas a sua roupa e o seu
desjejum para a manhã seguinte, e depois vai dormir sem preocupações
(SCHOPENHAUER, 2004, p. 39).
Para Schopenhauer tanto o humano como inseto são natureza e não
perceber a imortalidade da natureza e não perceber as transformações inerentes a
natureza é estar preso ao mundo fenomênico e não à essência, o em-si.
Por conseguinte nascimento e morte do indivíduo não afeta em nada a
essência verdadeira das coisas, ela é imperecível e permanece em cada ser no todo
da natureza imortal. O corpo individual morre e é destruído e com ele a consciência,
só não é destruída a vontade ínsita na natureza, da qual o corpo é obra e essência.
4.2 Após a morte: o que permanece?
Para Schopenhauer o nascimento não é começo de nossa existência, surgida
da procriação a qual herdamos as qualidades do pai e da mãe, o indivíduo é apenas
uma diferenciação da espécie infinita. Este indivíduo não guarda nenhuma
recordação da existência anterior ao nascimento, por certo, diz Schopenhauer, é na
consciência individual que cada homem põe o seu eu. A existência do indivíduo é
vinculada à identidade da consciência. “Não sou mais do que uma parte
infinitamente pequena do mundo, minha forma pessoal não é mais do que uma
parcela também pequena de meu ser verdadeiro” (SCHOPENHAUER, 2004, p. 55).
A identidade da consciência é o “eu” do indivíduo, este “eu” que se estabelece na
consciência, é facilmente dirigido para o exterior, ele é incapaz de ver a si mesmo.
Na busca das necessidades exteriores o homem acaba desviando o olhar de si
mesmo por isso ele conhece a si mesmo só como indivíduo.
Desejar a imortalidade do indivíduo para Schopenhauer é querer perpetuar
um erro ao infinito, pois, cada individualidade é um erro particular, uma ilusão que
seria melhor não ser, e algo no qual o verdadeiro objetivo dessa existência é nos
trazer de volta. É por isso que os homens não podem ser felizes, pois no mundo
onde fossem excluídas a necessidade e a fadiga, eles cairiam num tédio. E se o
tédio fosse evitado recairia na necessidade, tormentos e sofrimentos. Para que um
homem chegue a um estado de bem aventurança ele deveria se tornar o que não é.
Devendo primeiro se tornar o que é, e esta condição é satisfeita pela morte, ao qual
24
será em outro momento transportado para um outro mundo e transformar todo o seu
ser.
Desejar a permanência da consciência individual seria o mesmo que
pretender a conciliação da virtude com o egoísmo. Essa conciliação é inviável para
Schopenhauer.
A resposta para o que permanece no indivíduo após a morte encontra-se em
em algo transcendente, a coisa-em-si. Nesse sentido nos atemos aqui a noção de
vontade como a de coisa-em-si. A coisa-em-si conserva sempre uma mesma
existência, a qual não se aplicam as noções de começo, fim e duração. Mas essa
essência
é em cada ser criado (animal ou vegetal), e mesmo no homem, a
vontade é a vontade que anima a tudo que têm vida na terra. Só a vontade da qual o
corpo é obra é que é indestrutível. Pois bem, tudo que pertence ao mundo
fenomênico é perecível, inclusive a consciência, pois esta advém do conhecimento
associado a uma atividade cerebral, sendo então uma função orgânica, ela pertence
ao mundo dos fenômenos não podendo ser então imortal (SCHOPENHAUER, 2004,
p.60).
Schopenhauer ironicamente relata que os filósofos antes dele erraram em
dizer que o princípio metafísico indestrutível e eterno do homem era o intelecto, este
princípio metafísico é a vontade, ela e somente ela é o núcleo do mundo dos
fenômenos e ela independe das formas desse mundo às quais pertence o tempo,
sendo assim a vontade é indestrutível.
O destino do indivíduo humano parece ser a morte, contudo, o do gênero
humano a permanência e a vida infinita. O temor da morte não deriva de maneira
nenhuma do conhecimento, o temor da morte tem origem na natureza primitiva da
vontade que é desprovida de conhecimento e que é um cego desejo de vida.
Schopenhauer apresenta então sua mais importante descoberta para todas
as religiões e filosofias. O elemento indestrutível de nosso ser A VONTADE com
supremacia sobre o intelecto. Apenas as virtudes da vontade e do coração, e não às
do intelecto ou do espírito são indestrutíveis (SCHOPENHAUER, 2004, p. 64). O
corpo orgânico serve como um elo entre a vontade e o intelecto. O nascimento e a
morte são a renovação constante da consciência dessa vontade, que é unicamente
reconhecida como substância da existência. O fim da existência é o fim da
consciência, que é um fenômeno orgânico e dele depende e, portanto não há o que
25
temer à morte. Deduz-se que não é a parte consciente que teme a morte mas a
inconsciente, isto é, a vontade cega.
Essa vontade cega que teme a morte é irracional e está intrinsecamente
destinada a todo ser vivente. Terminada então essa explanação analisamos a
mesma vontade de vida que se manifestou na espécie como temor pela morte,
agora se manifestará como impulso sexual; reflexão que encontramos no texto de
Schopenhauer intitulado Metafísica do amor.
26
5 METAFÍSICA DO AMOR
Neste capítulo trataremos de analisar o amor de duas formas: Eros e Ágape
ou Paixão e compaixão. O amor Eros (amor erótico) é aquele que se conecta com o
núcleo duro da Filosofia de Schopenhauer ou seja: a vontade cega, a vontade de
viver, ínsita em todo ser, visando uma “necessidade subjetiva” sempre em buscar
atingir seu objetivo; reprodução da espécie.
O outro tipo de amor analisado é amor Ágape que significa o amor
compaixão, o amor caridoso, compassivo e altruísta. O amor ágape é mais elevado
que o amor paixão pois, procura evitar o sofrimento neutralizando as dores da
existência, é um amor que procura ajudar desinteressadamente a todo ser sofredor.
5.1 O enigma do amor
O amor é tema preferencial de todas as obras dramáticas, trágicas ou
cômicas, românticas ou clássicas. O amor é o mais fecundo de todos os temas da
poesia lírica e épica. As obras: Romeu e Julieta, Nova Heloisa, Werther cujo o tema
principal foi o amor, consagrou-se para eternidade. Os romances produzidos por
muitos países são descrições variadas dessa paixão à qual referimos. Esse
sentimento não pode ser contrário à natureza humana pois, se assim o fosse os
poetas não escolheriam o Amor como tema central de seus poemas e a humanidade
não demonstraria real interesse.
O amor também merece considerável importância na vida cotidiana pois, ele é
a mola propulsora, é a meta final de quase todo esforço humano, é devido a este
sentimento “amor” que indivíduos de elevada posição são interrompidos à qualquer
instante, o amor põe em confusão até mesmo as maiores cabeças, urde diariamente
as piores e mais intrincadas disputas, rompe ligações duradouras, faz um homem
honesto tornar-se inescrupuloso, do até então leal tornar-se um traidor, por este
sentimento muitos podem chegar a cometer assassinato, suicídio até mesmo serem
levados ao manicômio.
Dessa forma, diz Schopenhauer, não se pode duvidar da realidade do amor e
nem da sua importância. O autor se surpreende que até então nenhum filósofo
predecessor a ele tenha dado tanta importância para este tema cuja questão trata-se
de primeira ordem na vida humana. Sendo assim, diz Schopenhauer, que para se
27
valer deste tema não herda nada de seus predecessores, tratará deste tema com o
conhecimento obtido em livros e de observações da vida.
Para Schopenhauer toda paixão amorosa é apenas impulso sexual
determinado, específico. Quando duas pessoas se enlaçam, se apaixonam, isso se
dá devido à secreta vontade de um novo indivíduo, é ele o futuro ser que inclina os
amantes na escolha mútua, por isso dizem: o amor é cego, alguém invisível vê pelo
casal, no caso, o filho.
Schopenhauer quando fala do amor, paixão ou Eros (amor erótico) nos
aponta um fato curioso que podemos encontrar uma amizade verdadeira de
afinidades sentimentais e espirituais, mas em relação ao sexo ambas tem aversão.
Para o autor essa aversão é pelo fato que este casal poderia gerar uma criança mal
constituída, então Eros evita a união para impedir o nascimento de um ente
desarmônico.
Para Schopenhauer a natureza é sábia sempre evita um mal maior. No caso
do homossexualismo, essa pessoa detém grandes chances de gerar uma criança
fraca e mal adaptada. A também o caso de pessoas do sexo oposto a qual não tem
a mínima afinidade mas, dessa união pode gerar uma vida bem constituída, sendo
assim este casal permanece unido. Segundo o autor o amor é uma ilusão, essa
ilusão é o instinto sexual que age em prol da espécie. Compreenderemos melhor
nas palavras de Schopenhauer:
[...] O impulso sexual, embora seja uma necessidade subjetiva, ilude a
consciência: sabe com muita habilidade cobrir-se com a máscara de uma
admiração objetiva. Por muito desinteressada e sublime que possa parecer
a admiração pela pessoa amada, o fim último é tão-somente a criação de
um novo indivíduo, determinado na sua natureza: isso é confirmado pelo
fato de não bastar o sentimento recíproco, mas sim exigir a posse, isto é, o
gozo físico (SCHOPENHAUER, 2004, p.83).
Compreendemos então que em cada olhar, cada união, é a vontade de vida
que está presente, é ela que nos conduz na busca da união não se importando com
o sofrimento e nem com as angústias que podem envolver o homem antes de atingir
o seu fim. O amor erótico afirma a vida no momento que uma criança vem ao
mundo, objetivo último embora inconsciente de toda união de casais apaixonados.
28
5.2 Considerações sobre Homem e Mulher
O que, por fim tem de especial nos dois indivíduos de sexo oposto que atrai
um ao outro? Quais são as qualidades físicas e psíquicas que buscam na relação?
Na relação amorosa diz Schopenhauer, o homem inclina-se por natureza a
inconstância, e a mulher tende à fidelidade. O amor do homem a partir do enlace
sexual declina pois, ele anseia a variedade. Já o amor feminino aumenta após o
enlace sexual pois, a natureza direciona os sexos para propagação e manutenção
de espécie. É por isso que dizem que o homem poderia gerar em um ano mais de
cem crianças se assim desejasse e se houvesse mulheres ao seu dispor. Já uma
mulher pode gerar uma única criança ao ano (salvo nascimento de gêmeos), é
devido a isso que a mulher tende constância à fidelidade pois, o companheiro terá
de lhe fornecer alimento e segurança.
A principal consideração que guia a escolha do homem é a idade de
preferência para o período entre os dezoito e vinte e oito anos, mulher idosa causa
repugnância. Juventude sem beleza provoca excitação: beleza sem juventude, não.
A segunda consideração que guia a escolha do homem é a saúde: doenças
crônicas eles têm aversão, porque pode ser transmitida à criança. A terceira
consideração de escolha do homem é o esqueleto: porque é o fundamento do tipo
da espécie. A quarta consideração é a abundância de carne da qual predomina
elasticidade e promete ao feto bastante alimento. As mulheres gordas em excesso,
segundo Schopenhauer indica atrofia do útero, esterelidade.
A última consideração que guia a escolha dos homens é sobre a beleza do
rosto (nariz, olhos, boca) vem em último lugar. Mas não é por motivo estético, a
preferência aqui é por motivo de reprodução. Nesse contexto diz Schopenhauer:
[...] portanto, a busca zelosa e apaixonada da beleza, a escolha cuidadosa a
que se procede, não se referem ao interesse pessoal de quem escolhe,
embora este assim o suponha, mas se referem ao fim verdadeiro, ao ser
futuro, no qual deve ser mantido o tipo da espécie da maneira mais integral
e pura possível (SCHOPENHAUER, 2004, p.87).
Nesse contexto o que atrai particularmente dois indivíduos opostos não é as
qualidades físicas e psíquicas dos mesmos, isso é uma ilusão da consciência, o que
conta mesmo é o instinto de procriação disfarçado sob a atração aparentemente
29
subjetiva. É o mesmo instinto que leva o homem a buscar sempre uma mulher nova,
e nunca uma que não mais menstrua.
Agora vejamos as mulheres. O que inclina a mulher na busca pelo homem?
Elas dão preferência à idade dos 30 aos 35 anos, é interessante ressaltar que as
mulheres não são guiadas pelo gosto, mas pelo instinto. A beleza do rosto não
importa, para elas a força do homem e coragem equivale, a gerar crianças fortes e
um pai valente.
A segunda consideração que atrai as mulheres é a qualidade do coração ou
caráter do homem - herdados do pai. No homem a falta de inteligência não o
prejudica perante as mulheres; por isso vê-se um homem bonito, espirituoso,
amável, ser preterido por mulheres, em favor de outro feio, imbecil e rude.
O que predomina nas mulheres são as considerações inconscientes – as do
instinto. No casamento o que ambos almejam não é o entretenimento espiritual, mas
sim a procriação da criança. Sendo assim a união é uma aliança de corações, não
de cabeças.
5.3 Outra forma de Amor “AGAPE”
Nosso foco agora é o amor ágape, diferentemente do amor paixão ou amor
erótico. O amor Ágape é o amor – compaixão, o amor caridoso, compassivo. Como
o próprio nome diz: compaixão significa paixão-com. É o colocar-se no lugar do
outro homem ou animal. O compassivo se identifica com o ser que sofre
dissolvendo-se entre si-mesmo e o outro.
O amor compaixão é o amor praticado pelas pessoas caridosas, é um amor
de caráter elevado. Foi o amor de Jesus Cristo e de São Francisco de Assis. Jesus
Cristo demonstrou seu amor quando se sacrificou na cruz em prol da humanidade.
São Francisco de Assis teve compaixão para com os homens e animais. Jesus não
amou a si ou amou uma mulher em particular, sua paixão era por todos. Jesus não
se deixou guiar por Eros, visando a reprodução.
Segundo a Filosofia do Consolo de Schopenhauer o amor Ágape, o amor
compaixão e o amor caridade lhe é metafisicamente superior ao amor erótico pois
procura evitar a sofrer, neutralizando as dores da existência (como ocorre na
contemplação do belo na natureza e nas artes). No entanto Schopenhauer considera
“o amor erótico também autêntico, haja vista a dependência da espécie diante dele,
30
porém se concentra na satisfação física, na cega ilusão do gozo pessoal e efêmero,
que pode conduzir à morte caso não seja satisfeito: sua missão é trazer um novo ser
ao mundo” (BARBOZA, 1966, p. 85).
O amor com-paixão é superior ao amor erótico pois procura evitar o
sofrimento neutralizando as dores da existência, ao invés de perpetuá-las.
Entretanto o amor erótico cumpre sua missão em colocar um novo ser no mundo de
onde advém as dores e sofrimentos da vida.
O amor ágape é compassivo e procura ajudar desinteressadamente um ser
sofrente, como se o seu sofrimento fosse o de quem o observa. Esse amor é o
fundamento da ética em Schopenhauer
31
6 CONCLUSÃO
A proposta da Filosofia Schopenhaueriana como um todo, apresentar-se
como Filosofia do Consolo. Para Schopenhauer esse mundo é o “pior dos mundos”
um mundo de dores e sofrimentos, a arte e a ética da compaixão serão seu consolo.
Schopenhauer estrutura uma ontologia sob bases irracionais fazendo da vontade e
não da razão, o princípio que governa o mundo.
O autor faz uma leitura de mundo e nele investiga o mundo em dois aspectos:
Vontade e Representação. O mundo como Representação é o mundo que se
apresenta à experiência do sujeito do conhecimento. O mundo como Representação
é fenômeno é ilusão e aparência enganadora, porque, do ponto de vista do tempo,
as coisas são fluxo constante, são ser e deixar de ser.
Schopenhauer diz que a
vontade é a essência do mundo. A vontade que se encontra na natureza e no
homem só difere em grau, mas a essência é a mesma. No homem a vontade é
consciente, na natureza ela é inconsciente. A situação natural da vontade é, como
força em plena guerra e luta pelo apoderamento da matéria, espaço e tempo.
No terceiro capítulo o filósofo trata da condição humana e da natureza
resultante da essência íntima do mundo, a Vontade. A vontade quer se manifestar
na vida, a vontade é falta, carência e desejo que, busca sua satisfação. É inevitável
nessa busca que ocorra percalços (dor e sofrimento) pelo caminho. Se a vontade
alcança seu objetivo eis a felicidade, a satisfação.
A satisfação é sempre momentânea, o sofrimento é, contudo, sem medida e
contínuo. Para Schopenhauer o mal ( a dor) é positiva, é aquilo que em si mesmo se
torna sensível; a satisfação considera-a como negativa porque vem a ser a
supressão do desejo e a eliminação da angustia. Neste capítulo Schopenhauer nos
indica caminhos para supressão da dor. A música age diretamente no espírito. A
música é o antídoto da alma.
No quarto capítulo Schopenhauer retrata a morte de uma maneira
consoladora para o indivíduo. A vontade de vida se manifesta como temor da morte,
um temor injustificado do ponto de vista da razão. Se a morte fosse um mal então
devêramos lamentar a eternidade anterior ao nascimento.
O Homem para Schopenhauer é natureza no aspecto objetivo da vontade de
viver. O homem precisa olhar a sua volta para natureza, essa é imortal. A natureza é
ele. Na natureza tudo se transforma. A vida é um fluxo perpétuo de matéria em
32
formas invariáveis. Do mesmo modo o indivíduo morre e a espécie não morre só
muda de forma.
No último capítulo o autor se ocupa de um fator de primeira ordem na vida
humana. O Amor. O amor se conecta com o núcleo duro da Filosofia da
Schopenhauer, ou seja, a vontade cega, a vontade de viver, ínsita em todo ser.
Schopenhauer investiga o amor sob dois aspectos: O amor paixão e o amor
compaixão. O amor paixão é o amor erótico, visa tanto na satisfação física, no gozo
pessoal que pode conduzir à morte caso não seja satisfeito. E o amor compaixão é o
amor autêntico, caridoso, o amor-compaixão é o amor ágape este é metafisicamente
superior pois, neutraliza as dores da existência. Quem é tomado por força desse
amor se identifica com o ser sofrente, desaparecendo a diferença entre o eu e o não
eu. O sentimento que advém do amor (puro) ágape é de anular o egoísmo e a
crueldade intrínseca ao ser humano e então este sente o dever de doar-se em favor
do próximo. Esse é o amor que fundamenta a ética em Schopenhauer.
A Filosofia de Schopenhauer ao pregar a unidade metafísica da vontade,
serve de instrumento teórico porque faz compreender, metafisicamente, que toda
agressão ao meio ambiente é em verdade uma agressão à própria humanidade.
Uma mesma essência atravessa as águas, os céus, as florestas, os homens e os
animais.
Para concluir só tive acréscimos referente a todo tempo dedicado ao estudo,
toda investigação foi gratificante, pois, além de ampliar o conhecimento sobre um
determinado assunto e autor, desperta novos desafios, questionamentos e dúvidas
que nos estimulam a continuar pesquisando, com mais afinco outras obras do
Filósofo estudado. Schopenhauer, com certeza, é um Filósofo de unificar vida e
pensamento, nos indica caminhos para superar o puro instinto, para atingir uma
piedade cósmica- eis a saída possível.
33
REFERÊNCIAS
BARBOZA, Jair. A decifração do enigma do mundo. São Paulo: Moderna, 1997.
DICIONÁRIO de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
DICIONÁRIO Soares Amora. São Paulo: Saraiva, 2008.
DURANT, Will. A Filosofia de Schopenhauer. Rio de Janeiro: Tecnoprint Ltda,
1958.
JANAWAY, Christopher. Schopenhauer. São Paulo: Loyola, 2003.
SCHOPENHAUER, Arthur. Da Morte, Metafísica do Amor e Do Sofrimento do
mundo. São Paulo: Martin Claret, 2004.
SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como Vontade e Representação. Rio de
Janeiro: Contraponto, 2001.
ZAMPIERI, Gilmar. Metafísica do Sofrimento, da Morte e do Amor em
Schopenhauer. Caderno da Estef. Escola Superior de Teologia e Espiritualidade
Franciscana, n 39 (2007/2).
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