Pensamento Econômico

Propaganda
Pensamento do Dia
Economistas analisam a Economia, o Brasil
e o mundo,
mundo, na mídia diária 10 03 2011
2011
------------------------------------------------------------------Valor Econômico - 10/03/2011
A resiliência da economia subterrânea
André Franco Montoro Filho
Um importante e inovador índice tem sido elaborado pelo Ibre/FGV por solicitação do
Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (Etco). Esse índice é uma estimativa da
magnitude da economia subterrânea no Brasil, entendida esta como toda a atividade não
registrada junto às autoridades competentes. Sua atualização divulgada no fim de
novembro passado indica que a importância das atividades ilegais na economia
brasileira, que vinha se reduzindo desde 2003, parou de cair nos últimos anos.
Os dados mostram que, de 2008 a 2010, a participação das atividades econômicas não
registradas se manteve no patamar de 18,6% do Produto Interno Bruto (PIB). Ora, como
nesse período houve expressivo crescimento econômico, essa estabilidade significa que
as atividades ilegais também registraram acentuado dinamismo. O que pode explicar
esse fenômeno?
O crescimento econômico impacta a economia subterrânea de duas formas antagônicas.
Em primeiro lugar a modernização institucional que acompanha o desenvolvimento
econômico tem um efeito moralizador favorável à legalização de atividades. Por exemplo,
o crescimento da intermediação financeira, seja por meio de empréstimos, seja via
mercado de capitais, estimula a formalização de empresas e indivíduos. A concessão de
crédito requer documentos para análise de garantias, o que exige de empresas e
indivíduos o registro formal de suas atividades. Da mesma forma, o crescimento da
importância do comércio exterior na economia brasileira, importações e exportações
favorece a formalização, pois esse comércio, por sua própria natureza requer extensa
documentação das transações comerciais. Tanto os montantes de crédito como o volume
de comércio internacional cresceram vigorosamente nos últimos anos, o que deve ter
sido um forte estímulo para a redução da informalidade.
Existe, entretanto, outro impacto do crescimento econômico sobre a economia
subterrânea. É o efeito renda ou demanda. Quando há crescimento da renda há
crescimento da demanda, seja por bens produzidos pela economia registrada, como
pelos produzidos pela economia não registrada. O forte crescimento da economia
subterrânea observado nos últimos anos indica que esse efeito renda tem sido maior que
o efeito moralizador gerado pela modernização institucional. O que pode explicar essa
predominância?
Uma importante vantagem da economia subterrânea é sua grande flexibilidade e
agilidade. Não respeitando as exigências impostas pelas diversas regulações existentes
para as atividades formais ela fica livre das burocracias legais e pode assim responder
rapidamente às variações na demanda por seus produtos. O imediato aparecimento de
ambulantes vendendo guarda-chuvas quando começa a chover testemunha a rapidez de
resposta das atividades informais ao crescimento, ainda que no caso pontual, da
demanda.
Essa velocidade de ajuste é uma vantagem inerente das atividades que não respeitam a
legislação. Mas essa vantagem é amplificada pela excessiva e crescente burocracia que
tem caracterizado, ao longo do tempo, a economia brasileira. Recente pesquisa publicada
pelo Banco Mundial sobre a facilidade de fazer negócios em 183 países (Doing Business
2011) coloca o Brasil entre os que mais requerem procedimentos burocráticos para o
desenvolvimento de atividades produtivas. E pior, o Brasil perdeu posições em relação à
pesquisa anterior de 124ª para 127ª.
Um item desta pesquisa tem clara relação positiva com o tamanho e com o crescimento
da economia subterrânea no Brasil: é o tempo gasto para pagar impostos. Neste quesito
o Brasil é campeão mundial da burocracia. São necessárias 2.600 horas por ano para
pagar tributos. O vice-campeonato ficou com a Bolívia: 1.080 horas. Para dar inveja, na
Suíça são necessárias apenas 63 horas por ano. Ninguém gosta de pagar impostos, pois
do contrário não seriam impostos e sim voluntários. Se a essa predisposição negativa
ainda se acrescenta este enorme tempo e um sem fim de dificuldades para cumprir as
obrigações fiscais, é até surpreendente que a sonegação fiscal não seja ainda maior no
país. Resta assim explicada a grande resistência da economia subterrânea aos esforços
dispendidos, em particular os de modernização da arrecadação e da fiscalização
tributárias, para reduzir a magnitude ou, ao menos, diminuir o crescimento da sonegação
no país.
Não restam dúvidas que o elevado valor dos tributos vigentes no Brasil é um forte
estímulo para a ilegalidade e informalidade. Entretanto e sem prejuízo de uma desejada
menor carga tributária, a redução e a simplificação de exigências e procedimentos
burocráticos para o pagamento de obrigações tributárias se afiguram como prioritárias
para aumentar a competitividade sistêmica da economia brasileira e para a diminuição da
economia subterrânea. O cipoal de regras e exigências fiscais e administrativas em
permanente estado de mutação é o grande tormento dos contribuintes. As empresas são
obrigadas a manter equipes e contratar especialistas apenas para ficarem em dia com
tantas mudanças nas obrigações, sejam elas as obrigações principais e especialmente as
obrigações acessórias.
Nesta direção, a solução do problema é simples. Basta proibir tantas mudanças. Ou
melhor, estabelecer um prazo para estas mudanças entrarem em vigor. Minimamente
seria o exercício fiscal anterior de forma que o contribuinte entrasse o ano sabendo quais
regras ele deverá obedecer e sabendo que elas não mudarão. Por certo esta exigência
encontrará muitos opositores. Mas tem uma grande vantagem. Para sua implementação
não são necessários recursos financeiros. Basta vontade política e persistência
administrativa.
André Franco Montoro Filho, Ph. D. em Economia pela Universidade de Yale, é
professor da FEA/USP e membro do conselho consultivo do Instituto Brasileiro
de Ética Concorrencial (Etco).
---------------------------------------
O Estado de S. Paulo - 10/03/2011
Petróleo fica em US$ 105?
Alberto Tamer
O preço médio do petróleo leve deve ficar em torno de US$ 105 este ano. É o que prevê
a US Energy Information Admimistration, do governo americano (iea.gov), um organismo
estatal que acompanha o mercado mundial não só de petróleo, mas de todas as fontes
de energia.
Essa previsão vem em boa hora para acalmar um mercado tenso com a crise na Líbia e
as perspectivas de desdobramento no Norte da África e no Oriente Médio. A IEA não
prevê um barril de petróleo acima disso e muito menos os US$ 150 que muitos estimam
para este ano. Para ela, a alta de US$ 15 desde meados de fevereiro parece ter sido
absorvida pelo mercado.
Por que não explodiu? Há alguns fatos que explicam o comportamento menos explosivo
dos preços. Ao contrário do que ocorreu no passado, há petróleo disponível do mercado,
principalmente depois que a Arábia Saudita colocou mais de 700 mil barris por dia no
mercado.
Ao mesmo tempo, sem qualquer reunião formal, os países da Opep já começaram a
aumentar a produção. A Nigéria afirmou que também pode aumentar se a Opep pedir. A
capacidade ociosa dos seus membros é da ordem de 5 milhões a 6 milhões de barris por
dia, o que pode cobrir um aumento da demanda mundial de até 2 milhões b/d.
EUA se antecipam. A Casa Branca informou que o governo está pronto para usar as
reservas estratégicas, hoje de 727 milhões de barris, para conter a alta dos preços, que
já está sendo repassada para os consumidores. O governo foi incisivo: não vai permitir
que isso afete a atual política monetária, tributária e fiscal voltada para um crescimento
de 3,5% este ano. E está dando certo. O desemprego deu os primeiros sinais de recuo
nas últimas semanas, o que já se reflete no aumento do consumo interno.
China também. O mesmo raciocínio é válido para a China. O governo reafirmou que a
principal meta é conter a inflação, ao mesmo tempo em que se incentiva o mercado
interno. Um desafio. Ambos têm o mesmo objetivo e são decisivos na formação dos
preços.
Finalmente - e este é um fator importante - grandes volumes de petróleo continuam
chegando nos portos americanos, mais 2,5 milhões de barris, elevando os estoques de
posse das refinarias e empresas para 348 milhões de barris. O mercado previa que iriam
entrar nos portos apenas 600 mil barris.
Segundo a própria Agência de Administração de Energia, IEA, do governo, as refinarias
estão conseguindo comprar até com descontos.
Pode mudar? Sim, mas não por causa da revolta da Líbia. Ela produzia 1,6 milhões b/d,
agora não mais que 600 milhões b/d. O risco está agora concentrado nos países do
Oriente Médio, principalmente na Arábia Saudita, Kuwait, Iraque, Qatar, Oman, Bahrein,
que escoam sua produção pelo Golfo Pérsico. É pelo Estreito de Ormuz, no golfo, que se
escoa 40% do consumo mundial. Até ontem, porém, não havia novas tensões.
O que se discute agora é se o petróleo mesmo a US$ 105 não irá pressionar a inflação.
Alguns recomendam que os Estados Unidos se juntem a Arábia Saudita e comecem a
jogar parte da reserva estratégica no mercado. Isso poderia reduzir os preços. Outros,
inclusive o banco central americano, afirmam que os efeitos do aumento do petróleo
sobre os preços não estão sendo sentidos. Petróleo a US$ 105 não chega a anular os
resultados positivos de se injetar mais dólares no mercado para estimular a demanda.
Isso é verdade para os Estados Unidos, onde, inclusive, existe a possibilidade de reduzir
os impostos sobre o consumo do petróleo, mas não para a Europa que já enfrentava
pressões inflacionárias antes na Líbia.
De qualquer forma, a impressão no mercado era de que o petróleo a US$ 105 deve
permanecer. O mundo terá que se ajustar a isso e crescer a 4,5% este ano. Só não se
sabe como.
-------------------------------------Valor Econômico - 10/03/2011
Mundo dos serviços
Marcio Pochmann
Na vigência das sociedades agrárias, a ocupação agrícola chegou a representar 4/5 do
total dos postos de trabalho. Com a passagem para a sociedade urbano-industrial, a mão
de obra no setor secundário das economias (construção civil e manufatura) que
conseguiram se industrializar chegou a alcançar quase 2/5 do total da ocupação.
Atualmente, com a sequência da transição para a sociedade pós-industrial, as economias
desenvolvidas já se aproximam da concentração de 85% do total dos postos de trabalho
somente no setor terciário (serviços e comércio). Com isso, a agropecuária e manufatura
terminam por responder apenas com menos de 1/6 do total da ocupação.
Na passagem do século XIX para o século XX, por exemplo, o esvaziamento relativo e
absoluto dos postos de trabalho na agropecuária foi acompanhado simultaneamente pelo
engrandecimento das vagas abertas com a maior dinâmica na economia urbana (setores
secundário e terciário). Os Estados Unidos exemplificam bem esse movimento. No final
do século XIX, o setor primário da economia (agropecuária e mineração) respondia por
cerca de 35% do total dos postos de trabalho. Cem anos depois, somente 2,2% do total
das ocupações encontram-se sob a responsabilidade do setor primário na economia
estadunidense.
Em síntese, destaca-se que com apenas 2 milhões de trabalhadores no campo, os
Estados Unidos conseguem manter uma das agriculturas mais avançadas e produtivas do
mundo. Já a construção civil responde atualmente por 1/3 dos empregos do setor
secundário, sendo a manufatura responsável pela absorção de menos de 14 milhões de
trabalhadores.
No caso brasileiro, a trajetória tendeu a ser a mesma, porém distinta ao longo do tempo
e na intensidade. Por força do atraso de sua industrialização, o Brasil conviveu até a
década de 1950 com o setor primário sendo o principal absorvedor de mão de obra.
Somente no ano de 1960 os postos de trabalho urbanos tornaram-se majoritários. Nos
dias de hoje, o país possui, comparativamente aos Estados Unidos, quase dez vezes mais
ocupados em relação ao total dos empregos no setor primário, não obstante a pujança
da agropecuária nacional.
Também no setor secundário residem diferenças significativas. De um lado, o Brasil não
conseguiu apresentar a mesma importância relativa da manufatura e da construção civil
no total da ocupação verificada nos Estados Unidos. A melhor posição ocorreu ao final da
década de 1970, com 1/4 de todos os postos de trabalhos situados no setor secundário,
ao contrário dos Estados Unidos, que na década de 1920 estiveram próximos de registrar
1/3 da ocupação associada à construção civil e manufatura.
A partir de 1980, o Brasil passou a perseguir rapidamente o movimento equivalente ao
verificado lentamente nos Estados Unidos desde a década de 1920. Ou seja, perda de
importância relativa do setor secundário no total da ocupação.
A tendência de expansão dos empregos no setor terciário parece ser comum nos dois
países em consideração. Atualmente, os Estados Unidos possuem 5/6 dos empregos nos
serviços e comércio, enquanto no Brasil são um pouco mais de 2/3 das ocupações no
setor terciário.
Em virtude disso, convém atentar para o fato que o setor terciário da economia não
detém dinâmica própria na propulsão quantitativa e qualitativa de suas ocupações. O
segmento produtivo (primário e secundário) exerce influência decisiva sobre a
quantidade e qualidade dos postos de trabalho no terciário. Isso porque o mundo dos
serviços (trabalho imaterial) resulta heterogêneo, comportando tanto postos de trabalho
de grande qualidade, com remuneração associada à elevação da qualificação profissional,
como os de extrema precarização (baixo rendimento independentemente da qualidade da
mão de obra existente).
Os exemplos podem ser obtidos na estrutura ocupacional dos Estados Unidos e do Brasil.
Se for ocupação gerada nos setores de serviços de produção e sociais, por exemplo, a
remuneração tende a refletir a qualificação da força de trabalho, diferentemente dos
empregos nos serviços pessoais e de distribuição, que geralmente não conectam a
qualificação profissional com o predomínio da desvalorização do trabalho.
A determinação do mundo dos serviços depende, em síntese, da qualidade e importância
da manufatura no interior do sistema econômico. Sem isso, os serviços tendem a
expandir muitas vezes sustentados pelo trabalho precário, aprofundando a separação
entre ocupações nobres e pobres e demarcando uma estrutura social ainda mais iníqua.
Marcio Pochmann é presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea), professor licenciado do Instituto de Economia e do Centro de Estudos
Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit) da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp). Escreve mensalmente às quintas-feiras.
-----------------------------------------Estadão Online – 07/03/2011
Como assassinar uma recuperação
Paul Krugman
O perigo vem da exigência dos republicanos de que o governo americano corte
gastos com nutrição infantil, entre outros
O noticiário econômico tem melhorado ultimamente. As novas solicitações de segurodesemprego diminuíram e pesquisas com empresas e consumidores sugerem um
crescimento sólido. Ainda estamos perto da base de um buraco muito fundo, mas ao
menos estamos subindo.
Pena que tantas pessoas, sobretudo da direita política, queiram nos empurrar para baixo
de novo.
Antes de tratar disso, falemos sobre a razão porque a recuperação econômica está
demorando a chegar.
Alguns economistas esperavam uma recuperação rápida depois de passarmos a fase
aguda da crise financeira – o que eu penso como o período de pessimismo absoluto -,
que durou aproximadamente de setembro de 2008 a março de 2009.
Mas isso nunca esteve nas cartas. A economia de bolha dos anos George W. Bush deixou
muitos americanos sobrecarregados de dívidas. Quando a bolha estourou, os
consumidores foram obrigados a parar e inevitavelmente precisariam de tempo para
reequilibrar suas finanças. E o investimento das empresas também estava fadado a
diminuir. Por que aumentar a capacidade quando a demanda de consumo está fraca e
não se está usando as fábricas e escritórios que se tem?
A única maneira para evitarmos uma recessão prolongada teria sido os gastos do
governo fazerem o que devia ser feito. Mas isso não ocorreu: o crescimento dos gastos
governamentais em geral desacelerou depois do começo da recessão, na medida em que
um estímulo federal com pouco poder foi comprometido por cortes nos níveis estadual e
local.
Assim, vivemos anos de desemprego alto e crescimento inadequado.
Melhoria. Apesar dos percalços, porém, as famílias americanas melhoraram
gradualmente sua situação financeira. E, nos últimos meses, houve sinais de um círculo
virtuoso emergente. À medida em que as famílias iam ajustando suas finanças, elas iam
aumentado seus gastos; à medida em que a demanda de consumo começava a reviver,
as empresas se mostravam mais dispostas a investir; e tudo isso levou a uma economia
em expansão, o que melhora ainda mais a situação financeira das famílias.
Mas esse processo ainda é frágil, especialmente por conta dos efeitos da alta dos preços
do petróleo e dos alimentos. Essas altas de preços têm pouco a ver com a política
americana. Elas se devem basicamente à demanda crescente da China e de outros
mercados emergentes, de um lado, e da interrupção do suprimento por tumultos políticos
e condições climáticas adversas, de outro. Mas representam um golpe no poder de
compra num momento especialmente difícil. E as coisas se agravarão se o Federal
Reserve (Fed, o banco central americano) e outros bancos centrais erroneamente
responderem à inflação total mais alta elevando as taxas de juros.
O perigo claro e presente para a recuperação, no entanto, vem da política –
especificamente, da exigência dos republicanos da Câmara de que o governo reduza
imediatamente os gastos com nutrição infantil, controle de doenças, água limpa etc.
Muito aparte de suas consequências negativas no longo prazo, esses cortes poderiam
levar, direta e indiretamente, à eliminação de centenas de milhares de empregos – e isso
poderia interromper o círculo virtuoso de aumento das rendas e melhoria das finanças.
Evidentemente, os republicanos acreditam (ou ao menos fingem acreditar) que os efeitos
de sua proposta sobre empregos seriam mais que compensados por um aumento na
confiança das empresas. Como eu gosto de dizer, eles acreditam que a fada da confiança
ajeitará tudo. Mas não há nenhuma razão para o restante de nós partilhar dessa crença.
Antes de mais nada, é difícil de ver como um plano obviamente irresponsável – desde
quando deixar a Receita Federal à míngua de recursos ajuda a reduzir o déficit? – pode
melhorar a confiança.
Além disso, temos muitas evidências de outros países sobre as perspectivas de
“austeridade expansionista” – e essas evidências são negativas. Em outubro, um estudo
abrangente do Fundo Monetário Internacional (FMI) concluiu que “a ideia de que a
austeridade fiscal estimula a atividade econômica no curto prazo tem pouca sustentação
nos dados”.
E vocês se lembram dos pródigos elogios colhidos pelo governo conservador da GrãBretanha que anunciou medidas severas de austeridade após assumir o governo em
maio? No que deu isso? Bem, a confiança das empresas não aumentou, de fato, quando
o plano foi anunciado; ela despencou, e até agora não se refez.
E pesquisas recentes sugerem que a confiança caiu ainda mais tanto entre as empresas
quanto entre os consumidores, indicando, como disse um relatório, que o setor privado
está “despreparado para preencher o buraco deixado pelos cortes do setor público”.
O que nos traz de volta ao debate orçamentário americano.
Nas próximas semanas, os republicanos da Câmara tentarão chantagear o governo
Obama a aceitar seus propostos cortes de gastos, usando a ameaça de uma paralisação
do governo. Eles alegam que esses cortes seriam bons para os Estados Unidos no curto e
no longo prazos.
Mas a verdade é exatamente o oposto: os republicanos conseguiram propor cortes de
gastos que fariam um estrago duplo, minando o futuro dos Estados Unidos e ameaçando
abortar a nascente recuperação econômica.
-------------------------------------O Estado de S. Paulo - 10/03/2011
Não há bala de prata
Celso Ming
Informações despachadas de Brasília dão conta de que, depois do carnaval, o ministro
Guido Mantega abrirá seu poderoso arsenal para inverter definitivamente a trajetória do
câmbio.
Avisos assim se repetem cada vez que o governo se vê contrariado nas suas expectativas
para o preço da moeda estrangeira. Agora, as cotações voltam a se aproximar do piso
informal de R$ 1,60 por dólar e a mesma aflição toma conta das autoridades. O
problema é que não há tanta arma no paiol. Não há sequer um foco único a atacar. A
moeda estrangeira entra por vários canais e também deixa de sair.
Sempre há aqueles que defendem um aumento do IOF, que hoje é de 6%, na aplicação
de estrangeiros em renda fixa. Apesar dos juros atraentes, essa não é a principal porta
por onde chegam os dólares. Dá para dizer que a entrada de dólares nas operações
destinadas a tirar proveito da diferença de juros (carry trade) é relativamente baixa
quando comparada, por exemplo, com os Investimentos Estrangeiros Diretos (IED), que,
em 2011, devem ultrapassar os US$ 45 bilhões. Provavelmente são mais elevados os
capitais que deixam de sair para tirar proveito dos juros altos aqui dentro do que os que
entram. E, no entanto, não há IOF para taxar essas operações fico.
Mais relevante ainda é a entrada de capitais externos tomados por empréstimos por
bancos e empresas brasileiras. Mas, decididamente, não é esse necessário capital de giro
que se pretende taxar.
Em vez desses, não seria o caso de taxar os investimentos estrangeiros ou, então, impor
sobre eles uma quarentena que os deixe parados sem rendimento? Há gente dentro do
governo que gostaria de coibir, por exemplo, os investimentos chineses. Mas seriam
estes tão expressivos que, uma vez contidos, conseguirão reverter a trajetória do
câmbio? E, caso se imponha tal restrição, qual seria o sinal que o governo passaria para
os investidores estrangeiros, no momento em que o País mais precisa de capital para
garantir o crescimento?
Cercear a chegada dos dólares que vêm para aplicar na Bolsa também parece inútil.
Desde janeiro, a Bolsa só tem perdido pontos. Não há entrada expressiva de capitais
nesse segmento.
Alguns economistas entendem que a doença principal (doença holandesa) é a alta das
commodities e a forte entrada proveniente com suas exportações. Por isso, prega a
imposição de um confisco (Imposto de Exportação) sobre produtos primários. O exministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser-Pereira é um desses. Mas seria o desestímulo às
exportações uma política a ser adotada num momento em que cresce o rombo das
contas externas? E, ainda, quando o País está sendo chamado a suprir a necessidade de
matérias-primas e alimentos no resto do mundo?
Melhor entender que não há bala de prata contra a valorização do real. Isso posto,
parece mais eficiente compensar a perda de competitividade do setor produtivo com a
redução do custo Brasil. A já prometida desoneração da folha salarial é um caminho. O
diabo é que o governo já avisou que vai compensar essa desoneração com aumento de
impostos que podem elevar ainda mais a carga tributária.
Outro caminho são investimentos maciços em infraestrutura. Mas, nesse caso, a entrada
de capitais deve ser estimulada, e não o contrário. E ainda seria preciso definir regras
mais claras de maneira a não afugentar os interessados, como acontece com o sistema
das PPPs, que até agora não decolou.
Confira
Ampliação do leque
O Banco Central afinal confirma que está examinando a proposta de ampliar as consultas
(hoje em cerca de 100) da Pesquisa Focus, com o objetivo de aferir a expectativa do
mercado sobre a inflação e sobre os principais indicadores da economia.
Além dos bancos
As críticas são de que a pesquisa está excessivamente concentrada no campo financeiro
e que, por isso, desequilibra os resultados sempre para o ponto de vista dos bancos. Por
isso, o Banco Central deveria ouvir mais empresários e os economistas das
universidades.
Vai melhorar?
A crítica é procedente. Mas não se pode deixar de levar em conta as limitações das
opiniões que eventualmente estejam fora da amostra. Poucas empresas têm um forte
departamento econômico. A grande maioria delas ouve as consultorias que já estão na
pesquisa. E os economistas tendem a externar mais sua opinião de momenta do que o
resultado da ação das variáveis da economia.
-------------------------------------------Folha de S.Paulo - 10/03/2011
Liberais só com a vida alheia
Clóvis Rossi
SÃO PAULO - Elio Gaspari, com o brilho habitual, já esculhambou nesta Folha a
promiscuidade entre a London School of Economics, quando era dirigida por Howard
Davies, e a ditadura Gaddafi.
Logo depois, Luciana Coelho, outra joia do jornal, mostrou que também Anthony Giddens
tinha contatos com o ditador.
Ajuda-memória: Giddens é mais conhecido no Brasil por ter sido o inventor da "Terceira
Via", caminho intermediário entre o viés estatizante da velha social-democracia e o
liberalismo puro e duro.
O conceito fascinou Fernando Henrique Cardoso e, bem menos, Luiz Inácio Lula da Silva.
Participaram, como presidentes, de reuniões da "Terceira Via", rebatizada para
"Progressive Governance".
Giddens, portanto, queria menos intervenção do Estado na economia, o que se tornou,
de resto, o pensamento hegemônico no planeta. Mas tolerava, ao dialogar com Gaddafi,
a pior forma de intervenção do Estado, que é a de decidir quem vive e quem morre,
quem é torturado e quem é banido.
Davies é um caso ainda mais extremado de ojeriza à intervenção estatal. Tanto que,
como primeiro presidente da Autoridade Britânica de Serviços Financeiros (1997- 2003)
ajudou no processo de desregulação do sistema financeiro que, anos depois, conduziria
ao colapso da economia mundial, evitado apenas pela intervenção do Estado que os
liberais abominam.
Pelos negócios feitos com a Líbia de Gaddafi, já como diretor da LSE, vê-se que Davies
não parece, a exemplo de Giddens, abominar também o poder do Estado (no caso, o
líbio) de matar, prender, torturar, exilar etc.
É bom acrescentar que, no Brasil, uma penca de liberais tem o mesmo tipo de
comportamento: ficam horrorizados se o Estado avança na economia, mas estavam ao
lado da ditadura quando ela avançou sobre a vida dos brasileiros.
------------------------------------------
Folha de S.Paulo - 10/03/2011
O fim do "relax" americano
Vinicius Torres Freire
Em junho, BC dos EUA para de despejar dinheiro na economia, o que pode afetar
juros, Bolsas e, talvez, PIB
O MAIOR FUNDO de investimento em renda fixa vendeu todos os seus títulos do governo
americano.
Trata-se de um fundo da Pimco, uma das maiores administradoras de dinheiro do
mundo, que cuida de mais de US$ 1 trilhão. Na opinião prática da Pimco, tais papéis
deram o que tinham de dar. Seu preço deve cair, pois. Trocando em miúdos
rapidamente: quando o preço de títulos de dívida cai, o "juro" sobe. Em suma, os juros
subiriam nos EUA.
O pessoal que dirige a Pimco não rasga dinheiro nem bebe água quente; as opiniões
deles são consideradas por quem tem dinheiro grosso. É verdade que gente do dinheiro
grosso fez besteiras que só não levaram o mundo à breca porque os governos bancaram
a conta das barbaridades dos financistas.
Mas o motivo possível da atitude da Pimco, além de fazer mais dinheiro em outra parte
do mercado, parece simples. Desde o início da crise, o Banco Central dos Estados Unidos,
o Fed, despeja dinheiro na economia. O faz por meio da compra de papéis privados e
públicos, papéis de dívida lastreada em imóveis e outras, e títulos da dívida do governo
dos EUA. Desse modo, sustentou os preços desses papéis, evitando crise ainda maior na
finança privada e mantendo baixos os juros pagos pelo governo dos EUA.
Pois bem. Essa política de "imprimir dinheiro", de relaxamento monetário ("quantitative
easing") a princípio termina em junho, quando o Fed não compraria mais títulos do
governo, afora nas operações "normais", relativamente pequenas, da política ortodoxa de
calibragem das taxas de juros de curto prazo.
Essa torrente de dinheiro serviria ainda para irrigar o sistema financeiro, tornando-o mais
disposto a emprestar mais e a custo menor. Como as oportunidades e negócios nos EUA
e no mundo rico em geral não pareciam tão rentáveis (ou inexistiam), parte desse
dinheiro espalhou-se por Bolsas e pelo mundo.
O preço das ações subiu. Muito capital foi para os "emergentes", valorizando moedas (ou
obrigando países a aumentar suas reservas ou a impor limites à entrada de capital, a fim
de evitar a valorização).
Sem o despejo de dinheiro do Fed e, além do mais, dadas as perspectivas (ou
especulações) de alta de inflação e o tamanho enorme da dívida pública dos governos,
em tese os títulos da dívida americana vão perder valor e, portanto, os juros vão subir.
Se o Fed não fizer nada, claro -"tudo o mais constante".
Os donos do dinheiro grosso e os melhores economistas do mundo não se entendem
muito sobre o que vai acontecer depois de junho. Pelo menos, discordam da intensidade
do efeito do fim do "relaxamento monetário". A economia dos EUA já ganhou impulso
suficiente para não se abalar com algum aperto monetário? De quanto seria tal aperto?
Não se trata de risco grave. Mas trata-se de desconforto e incerteza a mais num
ambiente que se turvou um pouco recentemente. O aumento do preço do petróleo e da
comida está levando boa parte do aumento recente da renda dos americanos, que
vinham consumindo mais. Sobra menos para gastar em produtos e em serviços "não
essenciais". Pelo resto do mundo, tomam-se medidas para conter a inflação, da China ao
Brasil; a União Europeia ameaça elevar os juros em abril.
O tempo está com cara de ficar um pouco nublado, de novo.
--------------------------------------------Correio Braziliense - 10/03/2011
A arte de prosear
Antônio Machado
Dilma chama centrais sindicais para dialogar, o melhor que ela tem a oferecer
por enquanto
Os dirigentes das seis centrais sindicais vão ser recebidos pela presidente Dilma Rousseff
— enfim, poderiam dizer, pois se queixam de que foram afastados do governo desde as
últimas eleições.
O então presidente Lula acomodou o sindicalismo no governo depois da crise do
mensalão, com direito a palpitar em várias decisões, o que Dilma não desfez, mas sem
considerar as centrais, ao menos até agora, como instâncias integrantes do processo
decisório com mesmo status dos partidos que lhe dão sustentação política no Congresso.
A diferença é mais que de estilo. Lula tomava decisões conforme as disputas em seu
entorno, procurando conciliar todos os interesses.
Ele tinha caixa e vento a favor da economia para ser só alegria.
Dilma, premida pelo exíguo campo de manobra da situação econômica ou por concepção
de governo, tem feito diferente. Primeiro, filtra o que seria racional para o crescimento.
Depois, confronta com as premissas sociais do eleitorado da base da pirâmide de renda,
que tem sido o grande esteio do PT. E, então, arbitra a decisão.
A restrição orçamentária é o seu maior constrangimento. Com caixa limitado por
despesas incompressíveis decididas por Lula, além dos restos a pagar da ordem de R$
128 bilhões legados ao seu governo à margem do orçamento, ela tem de ser mais
seletiva na decisão.
Essa situação não mudará nem que a economia cresça à larga, pois boa parte do gasto
público é engessada em lei, como o pagamento de salários e de aposentadorias do
funcionalismo, os deficits do INSS e os juros da dívida pública. Mais: o custeio de saúde
e de educação é uma proporção fixa da arrecadação e a provisão orçamentária cresce de
acordo com a variação do PIB para saúde e salário mínimo.
Tais dispositivos só em parte são políticas de governo, já que a maioria foi inserida por
força de lei no orçamento por demandas de setores sociais ou da burocracia pública
atendidas pelo Congresso a fim de cercear a discricionariedade do governante na partilha
da arrecadação. Implica cassar a liberdade do Executivo para governar e do próprio
Congresso para discutir e rever as prioridades.
Teia de contradições
Essa teia de contradições está no seio das questões tratadas com discrição pela
presidente e sua equipe. Elas deságuam noutro tema que monopoliza por ora a sua
atenção: a inflação. Ela espelha as decisões que pressionam a demanda, como o gasto
público — questão tornada sensível para evitar que o choque de preços dos alimentos
transborde para os demais produtos e serviços. É o que já ocorre.
Os sindicalistas de centrais como a CUT, ligada ao PT, e a Força Sindical, uma costela do
PDT, vão adentrar ao Palácio do Planalto com a presidente cercada de problemas que
demandam decisões, vamos dizer, nem um pouco simpáticas ao que eles gostariam de
ouvir.
Origens do dissenso
O dissenso entre sindicalistas e o governo Dilma esquentou com a votação no Congresso
do aumento do salário mínimo de R$ 510, em 2010, para R$ 545 este ano. Os
sindicalistas, e, entre eles, vários tons acima do que se espera de um aliado, o dublê de
deputado pelo PDT e presidente da Força Sindical, Paulo Pereira, queriam mais.
A CUT foi menos enfática na discordância, embora continue amuada com a menor
influência na ocupação de cargos do segundo escalão e o afastamento de outros,
indicados por deputados do PT com origem sindical. Os critérios de Dilma não excluem
sindicalistas, o que seria um contrassenso em se tratando de PT, mas ela parece querer
melhorar a capacitação gerencial mesmo dos cargos comissionados.
Agenda só de gastos
Os sindicalistas tomaram como derrota o reajuste do mínimo, que é uma política de
rendas sujeita às possibilidades fiscais — e não o resultado de negociações salariais,
como as que os sindicatos fazem com as empresas. Tal percepção equivocada virou regra
no governo Lula. As centrais querem uma compensação, tipo um aumento maior da
correção que o governo aplicou à tabela do Imposto de Renda: 4,5%. Se Dilma atender,
será outro ônus para o orçamento federal.
Da mesma forma, são outros dois pleitos recorrentes: fim do fator previdenciário, um
redutor da aposentadoria conforme a idade, e a mudança da regra de correção de
aposentadorias acima de um salário mínimo, que hoje são reajustadas apenas pela
inflação passada.
Em suma: uma agenda que amplia os gastos fiscais, quando amoldar a demanda ao
figurino da inflação é a prioridade imediata. E a de médio prazo é a recuperação da
poupança pública para viabilizar o crescimento econômico a taxas acima de 5% ao ano
sem inflação.
Desoneração onerada
Centrais sindicais e governo, na verdade, podem estranhar-se, mas sabem que são
partes dependentes da coalizão de forças que governa o país desde 2003. O que ambos
procuram são espaços para atuar: as centrais, para influenciar as decisões. O governo,
para governar sem pedir licença aos aliados, uma das razões da divisão do poder.
Ambos imaginam que a questão da desoneração dos encargos sobre a folha de salários
possa ser de interesse comum, dando às centrais um tema de negociação com o
empresariado, outra ponta interessada.
O nó é o que fazer. Desoneração implica arrecadar menos, no caso, a parcela patronal da
contribuição previdenciária. É algo como R$ 60 bilhões por ano. Quem paga a conta? Já é
tempo de o governo deixar claro que não cria dinheiro, só transfere de um bolso para
outro.
-------------------------------------
ECONOMIA E OUTRAS NOTÍCIAS
O Estado de S.Paulo - 10/03/2011
BNDES já empresta três vezes mais que o
Banco Mundial
O BNDES emprestou no ano passado US$ 96,32 bilhões, mais que o triplo dos US$ 28,85
bilhões concedidos pelo Banco Mundial (Bird). Com a crise global, bancos estatais e
instituições multilaterais incrementaram sua participação na economia. O ritmo do banco
brasileiro, no entanto, foi bem superior ao do Bird. Entre 2005 e 2010, os empréstimos
do BNDES cresceram 391% em dólar, enquanto os do Bird avançaram 196%. O banco
brasileiro já emprestava mais que o Banco Mundial em 2005 - foram US$ 19,6 bilhões,
ante US$ 9,72 bilhões do Bird. O governo estima queda nos desembolsos do BNDES em
2011, para US$ 82,86 bilhões, porque a economia está aquecida.
Créditos do BNDES crescem 391% em 5 anos e já são o triplo do Banco Mundial
No ano passado, banco de fomento concedeu US$ 96,32 bilhões
empréstimos, enquanto o Banco Mundial emprestou US$ 28,85 bilhões
em
Ricardo Leopoldo, de O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)
empresta hoje o triplo do Banco Mundial (Bird). No ano passado, o banco brasileiro
concedeu US$ 96,32 bilhões em empréstimos, valor 3,33 vezes superior aos US$ 28,85
bilhões do Bird.
Com a crise global, os bancos estatais e as instituições financeiras multilaterais
aumentaram sua participação na economia. O ritmo do banco brasileiro, no entanto, foi
bem superior ao do Bird. Entre 2005 e 2010, os empréstimos do BNDES cresceram 391%
em dólares, enquanto os do Bird avançaram 196%.
Vale ressaltar, no entanto, que mesmo cinco anos atrás o banco brasileiro já emprestava
mais do que o Banco Mundial. Em 2005, o BNDES concedeu US$ 19,6 bilhões em
empréstimos, o dobro dos US$ 9,72 bilhões do Bird.
O governo brasileiro estima uma queda nos desembolsos do BNDES em 2011 para US$
82,86 bilhões (ou R$ 145 bilhões). Ao contrário da época de crise, a economia hoje está
aquecida e a equipe econômica tenta conter a inflação. Ainda assim, o Tesouro anunciou
na última quinta-feira um novo empréstimo de R$ 55 bilhões para o BNDES este ano.
De acordo com o chefe do departamento econômico do BNDES, Fernando Puga, o avanço
dos financiamentos concedidos pelo banco está diretamente relacionado ao crescimento
da economia brasileira. Em 2010, o Brasil se tornou a sétima economia do mundo, com
um Produto Interno Bruto (PIB) que cresceu 7,5% e atingiu R$ 3,6 trilhões.
Puga destaca que a ampliação dos investimentos no País cresceram com a colaboração
do BNDES. Os investimentos que contaram com a participação do banco oficial chegaram
a R$ 987 bilhões entre 2006 e 2009.
Esse montante deve subir, segundo o presidente do banco, Luciano Coutinho, para R$
1,6 trilhão até 2014. "A concessão de empréstimos pelo BNDES, que atende a todos os
setores, ocorre com controle, o que gerou um nível de inadimplência de 0,2% em 2010 e
2009", disse Puga.
Subsídios. Os especialistas, no entanto, divergem sobre o impacto do crescimento do
BNDES para a economia. Enquanto alguns ressaltam o estímulo aos investimentos,
outros criticam o custo fiscal para os contribuintes e a restrição imposta à política
monetária.
Desde 2008, incluindo o novo empréstimo anunciado na semana passada, o Tesouro
repassou R$ 291 bilhões ao BNDES para garantir o crescimento dos seus desembolsos.
Há um subsídio embutido nesses empréstimos, porque o Tesouro capta o dinheiro
pagando a taxa Selic (11,75%), enquanto o BNDES empresta cobrando TJLP (6%).
O governo nunca divulgou o valor desse subsídio. Cálculo feito pelo pesquisador do
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Mansueto Almeida, aponta que a conta
para os contribuintes brasileiros está em torno de R$ 20 bilhões por ano.
Para o professor da PUC-RJ, José Márcio Camargo, "há uma apropriação de recursos da
sociedade pelos empresários que tomam empréstimos no BNDES". Outro problema
apontado pelos economistas é que, ao garantir o crescimento do investimento via
BNDES, o governo torna mais dura a tarefa do BC de desaquecer a economia.
Já o professor da Unicamp Fernando Sarti ressalta que, sem o BNDES para atuar em
projetos de longo prazo, a taxa de investimento do País seria bem menor. "Quem investe
em estradas, rodovias e hidrelétricas no Brasil se não tiver a participação do BNDES?
Poucos", diz.
Download