FUNDOS SOBERANOS DE RIQUEZA: FORMAÇÃO DO FUNDO SOBERANO BRASILEIRO Julio Cesar Moreira 1 Dary Pretto Neto2 RESUMO O tema proposto neste artigo é a formação do Fundo Soberano do Brasil, nosso estudo se propõe a verificar a estrutura organizacional em torno da formação e gestão do Fundo Soberano do Brasil, com a intenção de conferir a veracidade das justificativas para sua concepção. Para chegarmos a tal conclusão precisaremos entender o funcionamento e a atuação dos Fundos Soberanos de Riqueza em âmbito global. Para tanto, será coletado dados desses fundos que incluem valor do patrimônio, transparência nas informações de seus dados, fontes de recursos, entre outros. Os Fundos Soberanos de Riqueza são instrumentos financeiros formados por Estados Soberanos para administrar parte de suas elevadas reservas cambiais, eles têm ganhado notoriedade pelo seu tamanho e rápida proliferação, em especial na última década. Com o processo de globalização da economia, varias nações passaram a obter superávits permanentes em conta corrente, seja por exportações de commodities ou produtos manufaturados. Com o aumento das reservas cambiais, conjugado a alta do real ante o dólar e o baixo rendimento dos títulos do tesouro americano, as autoridades monetárias brasileiras foram levadas a propor a formação do Fundo Soberano do Brasil. Embora nosso país tenha melhorado sua situação econômica, principalmente ao passar de devedor para credor internacional e ter a perspectiva de ganhos futuros com a exploração do petróleo da camada pré-sal, nossa economia ainda é frágil, com desequilíbrios fiscais e déficit em conta corrente o que coloca em duvida a necessidade de criação do fundo soberano brasileiro. PALAVRAS-CHAVE: Fundo Soberano de Riqueza – reservas cambiais – globalização. ABSTRACT The theme of this article is the formation of Brazil's Sovereign Fund, our study aims to determine the organizational structure around the formation and management of Sovereign Wealth Fund in Brazil, with the intention to check the veracity of the justifications for its design. To reach this conclusion we need to understand the function and operation of sovereign wealth funds globally. To do so, will collect data from these funds which include asset value, information transparency of their data, sources of funds, among others. The Sovereign 1 Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Católica de Pelotas, , Email: [email protected] 2 Mestre em Economia pela UFRGS, Professor Assistente e Coordenador do Pós Graduação MBE em Controladoria e Finanças da Universidade Católica de Pelotas, Email: [email protected] Wealth Funds are financial instruments consisting of sovereign states to manage part of its high foreign exchange reserves, they have gained notoriety for its size and rapid proliferation, especially in the last decade. With the process of economic globalization, many nations began receiving permanent surpluses on current account, either through exports of manufactured goods or commodities. With increased foreign reserves, combined discharge from the real against the dollar and the low yield of U.S. Treasury Bonds, the Brazilian monetary authorities were led to propose the formation of the Sovereign Fund in Brazil. Although our country has improved its economic situation, especially when passing from debtor to creditor internationally and have the prospect of future income from oil exploration in the pre-salt, our economy is still fragile, with fiscal and current account deficit in the that puts in doubt the need for creation of sovereign fund in Brazil. KEYWORDS: Sovereign Wealth Fund - Foreign exchange reserves globalization. INTRODUÇÃO Os Fundos Soberanos de Riqueza, conhecidos globalmente na língua inglesa como Sovereign Wealth Funds - SWF, pertencem a uma modalidade de investimento que são administrados, direta ou indiretamente, por autoridades monetárias de nações com certo acúmulo de reservas internacionais. O patrimônio desses fundos, embora lastreados em ativos estrangeiros, são geridos separadamente das reservas oficiais. A proliferação dos Fundos Soberanos no mercado financeiro, sobretudo na ultima década, se intensificou devido à formação permanente de superávits comerciais que resultaram em grandes montantes em reservas cambiais. Embora tenham um conceito comum, esses fundos possuem várias diferenças como: tamanho, fonte de recursos, estrutura, opacidade e alocação de ativos. Donos de grandes fortunas os Fundos Soberanos procuram investimentos que vão além do setor financeiro, esse fato, por vezes, gera reclamações a órgãos reguladores do mercado internacional. Sem uma normatização especifica que defina limitações para suas inserções como investidores, criam-se dúvidas sobre as verdadeiras intenções de seus investimentos, se econômico ou político. Os aumentos freqüentes nos preços de produtos com grande demanda internacional como o minério de ferro, aço, petróleo e outros do setor de alimentos levam especialistas em comércio internacional a analisar que existe uma tendência favorável para que os Fundos Soberanos aumentem em quantidade e tamanho nos próximos anos. No segundo semestre de 2007, já prevendo esse cenário de crescimento de longo prazo, o governo brasileiro criou seu Fundo Soberano para gerir parte de suas crescentes reservas internacionais, ancoradas principalmente na venda de commodities. O fundo soberano brasileiro foi projetado para vários objetivos, entre os principais estão: a) possibilidade de diversificar as aplicações do país em ativos estrangeiros, no exterior; b) obtenção de maiores rendimentos nas aplicações, no mínimo iguais a taxa Libor; c) estabilização das receitas fiscais; d) diminuição nos efeitos de eventuais excessos de divisas sobre a taxa de câmbio, a dívida pública e a inflação; e) maior transparência na gestão das reservas internacionais. Nossa proposta nesse trabalho é verificar se os objetivos elencados pelo Ministério da Fazenda para formação do Fundo Soberano do Brasil estão sendo cumpridos e também avaliar se tal instrumento financeiro contribui verdadeiramente para o desenvolvimento da política monetária e fiscal do país. Começaremos nosso estudo, no primeiro capítulo, pela arquitetura dos Fundos Soberanos de Riqueza no mundo. Com a finalidade de abranger nossas informações, vamos descobrir como se dá a sua criação, bem como, é feita a administração dos recursos mantidos nesses fundos. Também será importante conhecermos a fonte, o patrimônio e onde são investidos os seus ativos. Para fechamento do capítulo, analisaremos o grau de informação que os fundos passam ao mercado sobre seus negócios. Continuando o conhecimento sobre os Fundos Soberanos, abordaremos, no segundo capítulo, sobre os objetivos e estratégias para os quais os fundos são criados. Para cumprirmos nossa finalidade deveremos observar alguns itens que, embora não sejam comuns a todos, são relevantes, tais como: obediência a regulamentações internacionais, forma de atuação dentro de seus mercados como estabilizadores fiscais e cambiais, provedores de poupança para as gerações futuras, além de desvendar o quanto buscam diversificar seus riscos ao fazerem suas aplicações no mercado. Também, nesse capítulo abordaremos dois temas importantes na sustentabilidade dos fundos, que são a formação das reservas e o mercado de commodities. Por fim, no terceiro capítulo, faremos uma abordagem ao tema central que é a formação do fundo soberano brasileiro. Apresentaremos uma analise da formação de nosso fundo, observando assuntos periféricos como fluxo de capital em conta corrente, formação de poupança pública, a utilização do fundo soberano brasileiro para reduzir os efeitos de crises econômicas e como os recursos contraídos nas aplicações financeiras poderá ajudar na promoção de investimentos industriais para desencadear o desenvolvimento do país. 1. Proliferação e gestão dos Fundos Soberanos de Riqueza Segundo Rozanov3 (2005), os Fundos Soberanos de Riqueza são fundos estatais que possuem algumas características diferenciadas ante outros fundos de investimentos no mercado financeiro mundial. O termo “soberano” foi definido em razão dos fundos pertencerem a nações soberanas, independente do regime político adotado. De acordo com (Butt, 2008, p. 73): A compreensão total da dinâmica dos FSR é desafiante tendo em conta a diversidade de objetivos, filosofias de investimento e ambições políticas e econômicas. Além disso, muitos fundos passam por processos de transição e re-estruturação, mudanças nos padrões de alocação de ativos e realização de parcerias com corporações e instituições financeiras. 3 Andrew Rozanov é Diretor Administrativo e Chefe da Acessória Soberano no Estado (Inglaterra). Foi ele quem cunhou pela primeira vez o termo “Soberano” para designar os fundos de poupança formados com reservas cambiais. Conforme o Sovereign Wealth Fund Institute - SWF4 os Fundos Soberanos de Riqueza são fundos de investimentos de propriedades governamentais, lastreados em ativos estrangeiros, mas administrados separadamente das reservas oficiais. Os Fundos Soberanos são criados pelas nações conforme suas necessidades e objetivos, e estas, podem formar vários fundos sem que, necessariamente, haja uma fusão entre eles. A formatação desses “fundos de poupanças estatais” remonta ao inicio do século XIX, quando a França, abalada por sucessivas guerras, decidiu restaurar suas finanças. Conforme Hildebrand (2008), durante o reinado de Luis XVIII, em 1816, foi criado um fundo público chamado Caísse des Dépots et Consignation com objetivo de modernizar o país, financiando projetos de infra-estrutura, possibilitando empréstimos habitacionais, garantindo a aposentadoria de funcionários públicos, entre outras finalidades. De acordo com Freitas (2008), o primeiro Fundo Soberano de Riqueza criado no mundo foi o Kuwait Investment Authority. Em 1953 o Kuwait resolveu gerir, de modo diferenciado, suas reservas financeiras auferidas com as crescentes receitas pela venda de seu petróleo, este fato ocorreu antes de sua independência do Reino Unido, o que veio a acontecer em 1961. O segundo Fundo Soberano também foi criado sob a administração britânica, foi o de Kiribati5 no ano de 1956. Este fundo foi constituído com o objetivo de formar poupança para as gerações futuras a partir das receitas obtidas no comércio de fosfato, recurso natural que teve suas jazidas esgotadas na década de 1970. Atualmente o “Kiribati – Fundo de Reserva de Equalização de Receitas” tem cerca de 400 milhões de dólares, enquanto o PIB do Kiribati arquipélago, em 2009, foi de 76 milhões de dólares. A partir da década de 1950 o crescimento dos Fundos Soberanos foi contínuo, com especial ascensão na ultima década (ver gráfico 1). 4 O Sovereign Wealth Fund Institute - SWF é uma organização privada fundada para investigar e analisar os Fundos de Riqueza Soberanos. Sua base de dados traz informações atualizadas referentes a tendências políticas, impactos na economia global, mercados financeiros, crescimento e transparência dos “Soberanos”. 5 Kiribati é um arquipélago formado por 33 ilhas no Oceano Pacífico. Teve sua independência do Reino Unido em 1979. 30 25 20 15 28 10 5 0 3 5 5 7 1950 1970 1980 1990 2000 Gráfico 1: Número de fundos criados por décadas Fonte: Elaboração própria com base nos dados do Sovereigh wealth fund Institute – Jun, 2010. Atualmente existem 50 Fundos Soberanos de Riqueza, efetivamente criados e reconhecidos pelo SWF - Sovereigh Wealth Fund Institute, conforme ANEXO A, estando previsto, ainda para 2010, o Fundo Soberano de Angola que terá como fonte de receita a venda de petróleo. Também a Índia, Japão e Tailândia estudam o lançamento de seus Fundos Soberanos. 1.1 Patrimônio dos Fundos Soberanos de Riqueza Espalhados pelo mundo, (ver gráfico 2) com patrimônio estimado em US$ 4036,1 trilhões, resultado do somatório dos saldos patrimoniais com os resultados de suas aplicações financeiras (ver gráfico 3), os Soberanos são exemplos práticos do liberalismo econômico mundial. Fundos 52% 28% 13% Oriente Médio Asia Europa 4% 2% 1% Africa America do Norte America Latina Gráfico 2: Fundos Soberanos por área geográfica Fonte: Morgan Stanley– Atualizado em dez, 2009. Disponível em:<http://www.morganstanley.com>. Acessado em: 30 mai 2010. 3.789 3.190 3.130 3.927 3.976 3.587 3.628 3.752 3.809 3.839 3.891 4036,1 3.300 set/07 dez/07 mar/08 jun/08 set/08 dez/08 mar/09 jun/09 set/09 dez/09 mar/10 jun/10 set/10 Gráfico 3: Patrimônio em valores trimestrais dos Fundos Soberanos de Riquezas Fonte: Sovereign Wealth Fund Rankings – Atualizado em set, 2010. Disponível em: <http://www.swfinstitute.org/>. Acessado em: 08 out 2010. Conforme os dados do quadro 1, verifica-se que o total de ativos dos dez maiores Fundos Soberanos, atualmente, é de US$ 3200,4 trilhões, isto significa que os dez maiores fundos têm juntos 79,29% do total de ativos dos cinqüenta Fundos Soberanos, oficialmente constituídos. Quadro 1: Os dez maiores Fundos Soberanos de Riqueza atualmente País Abreviação Fundo Ativos U$$ Bilhões EAU / Abu Dhabi ADIA Abu Dhabi Investment Authority 627 Noruega GPF Fundo de Pensão do Governo - Global 512 Arábia Saudita SAMA Estrangeiros Holdings SAMA 415 China SAFE SEGURO Companhia de Investimento 347,1 China CIC China Investment Corporation 332,4 Cigapura GIC Governo da Corporação Cingapure 247,5 China Hong Kong HKMA Hong Kong Investment Portfolio Autoridade Monetária 227,6 Kuwait KIA Kuwait Investment Authority 202,8 China NSSF Fundo Nacional de Segurança Social 146,5 Rússia RNWF Fundo Nacional do Bem-Estar 142,5 Estudos publicados pelo Fundo Monetário Internacional conjeturam uma evolução patrimonial nos Fundos Soberanos para o ano de 2012, à cifra de 10 trilhões, (ver gráfico 5). Gráfico 5: Previsão de patrimônio para os Fundos Soberanos Fonte: Elaboração própria baseada em dados coletados junto ao FMI. * Estimativas da fonte. Conforme Maslakovic (2010), atualmente o total de ativos dos Fundos Soberanos ultrapassam os Fundos de Hedge e Private Equity, mas ainda permanecem bem abaixo dos totais de ativos em Fundos de Seguro, Mútuos e de Pensão, (ver gráfico 6). Em comparação aos outros agentes financeiros, os Fundos Soberanos têm a seu favor o fato de serem investidores de longo prazo, o que traz calma aos mercados. Gráfico 6: Ativos dos maiores Fundos de Investimento no mundo. 6 Fonte: Research IFSL . Sovereign Wealth Funds 2010. (em US$ trilhões, final de 2009).Disponível em:<http://www.ifsl.org.uk/media/2172/CBS%20Sovereign%20Wealth%20Funds%202010.pdf>. Acessado em: 25 out 2010. 1.2 Fontes de recursos dos Fundos Soberanos de Riqueza Existem duas vertentes principais para formação de excedentes em reservas cambiais, de acordo com Freitas (2008, p. 126) apud US Treasury (2007), o tesouro americano entende que o critério para mensurar os Fundos Soberanos deva ser através das origens das receitas cambiais, por esse motivo classifica-os como commodities e non-commodities: [...] Segundo esse critério, haveria dois tipos de fundos: (1) commodity, cujos recursos são provenientes de impostos ou receitas sobre exportação de commodities (em geral petróleo, gás, metais e minerais), e não commodity, cujos recursos são transferidos das reservas oficiais acumuladas a partir de expressivos superávits em transações correntes, obtidos com a exportação de manufaturados.[...] Atualmente o Sovereign Wealth Funds vem adotando igual forma para caracterizar os fundos quanto a origem de seus ativos, (ver gráfico 7). 6 London Internacional Financial Services - IFSL é uma instituição sem fins lucrativos com 40 anos de experiência prestando serviços financeiros à indústria britânica. Gráfico 7: Origem de recursos dos Fundos Soberanos de Riqueza globalmente Fonte: Sovereign Wealth Funds 2010. Disponível em: <http://www.ifsl.org.uk/media/2172/CBS%20Sovereign%20Wealth%20Funds%202010.pdf>. Acessado em: 25 out 2010. 1.3 Investimentos dos Fundos Soberanos de Riqueza Conforme Freitas (2008, p.131) Atualmente, em torno de 95% das reservas oficiais estão investidas em títulos de dívida soberana ou de agências internacionais, denominados em dólar, euro e libra esterlina, que são aplicações consideradas líquidas e seguras. Os SWF buscam diversificação dos seus portfólios e investem também em bônus corporativos, ações, private equity, imóveis e outros ativos em um espectro de divisas mais amplo, que inclui as moedas dos países do G10 e alguns países em desenvolvimento, dos chamados mercados emergentes Referindo-se ainda sobre o mesmo assunto, Xavier Junior; Brandão (2009) explicam: Os especialistas não alcançaram um consenso sobre a definição desses FSR, mas já se observa a preocupação com as conseqüências dessa modalidade de investimento. De forma geral, é possível afirmar que os FSR são entidades governamentais de investimentos criadas com diversos objetivos. O perfil desses fundos geralmente envolve uma alocação de ativos financeiros de maneira mais arriscada, através de investimentos de longo prazo em holdings no exterior. Ao contrário das reservas governamentais tradicionais, cujos objetivos primordiais são liquidez e segurança, os FSR buscam alta rentabilidade através do investimento simultâneo em diversos setores do mercado. Durante o auge da crise do subprime7 os Fundos Soberanos mostraram ser uma ferramenta de socorro importante, alguns fundos, especula-se que por pressões políticas, investiram em bancos falidos com altas taxas de alavancagem, (ver quadro 2). Posteriormente, declararam prejuízos em torno de 30%, como foi o caso do Abu Dhabi Investment Auhority que comprou 4,9% do capital do banco Citigroup, conforme Ministério da Fazenda (2007). Quadro 2:Aporte de capital em instituições financeiras durante a crise do subprime americano Data do anuncio Fundo Soberano de Riqueza 26/11/2007 Abu Dhabi Investment Authority Singapore Gov. 10/12/2007 Invest.Corporation 19/12/2007 China Investiment Corporation 24/12/2007 Temasek Holding ― Cingapura Singapore Gov. 15/1/2008 Invest.Corporation 15/1/2008 Kuwait Investment Authority 15/1/2008 Korea Investment Corporation 15/1/2008 Kuwait Investment Authority Instituição financeira Citigroup Montante em US$ Bilhões 7,5 9,8 5 4,4 UBS Morgan Stanley Merril Lynch Citigroup Citigroup Merril Lynch Merril Lynch Total 6,9 3 2 2 40,6 Fonte: GIEVE, John. Sovereign wealth funds and global imbalance. Disponível em Google tradutor: <http://www.bis.org/review/r080319d.pdf>. Acessado em: 13/out/2010. Devido à demorada turbulência nos mercados financeiros globais, na crise do mercado de hipotecas subprime, os fundos voltaram a ter uma regularidade em seus investimentos, somente a partir do primeiro trimestre de 2010, (ver gráfico 8). 7 A crise do subprime foi desencadeada em 2006 atingindo a economia mundial em 2007. Ela aconteceu porque bancos americanos concederam empréstimos hipotecários de alto risco, entrando em situação de insolvencia pela inadimplência em massa de seus clientes. Gráfico 8: Investimentos dos Fundos Soberanos direto, por trimestre 8 Fonte: SWFTD - (Valores em bilhões de dólares). Disponível em: <http://www.swfinstitute.org/>. Acessado em 27/set/2010. Como as compras ou vendas dos Fundos Soberanos costumam mexer diretamente no mercado financeiro mundial, analistas monitoram o interesse desses fundos, buscando melhorar o controle de suas posições, (ver gráfico 9). Gráfico 9: Grau de atratividade dos Fundos Soberanos por produtos de mercado 9 Fonte: SWF Institute- Demand Consensus Meter - Atualizado: set/2010. Disponível em: <http://www.swfinstitute.org/>. Acessado em: 09/out/2010. 8 O Fundo Soberano de Transações Database - SWFTD é um produto com banco de dados dedicado a acompanhar as operações dos Fundos Soberanos desde 1986. Suas informações baseiam-se em operações registradas de compras e vendas cujos recursos sejam provenientes dos SWF. Sobre as questões ideológicas que envolvem os investimentos dos Fundos Soberanos, Lavelle (2008, p. 135) faz a seguinte observação: A propagação de empresas estatais e fundos soberanos que compram ações nos mercados ocidentais apresentam uma nova contradição entre os nacionalistas e os de ideologias liberais da economia política internacional. A teoria econômica liberal está comprometida com o livre mercado e intervenção estatal mínima, enquanto os nacionalistas argumentam que as atividades econômicas devem estar subordinadas aos interesses mais amplos do Estado Transparência Os Fundos Soberanos com grau bom de transparência são aqueles que publicam relatórios periódicos, tornando público a origem dos ativos, o local onde estão sendo aplicados e a missão financeira dos investimentos. O grau de transparência dos Fundos Soberanos está ligado a sua governança. Para Cagnin et al. ( 2008, p.40): Teme-se ainda que os fundos controlados por governos possam desencadear ondas de altas nos preços dos ativos, comprando títulos, ações, moedas e imóveis; ou de baixa, vendendo repentinamente os ativos, ampliando a volatilidade dos preços dos ativos mobiliários e imobiliário e/ou precipitando uma crise. Xavier Junior; Brandão (2009) chamam atenção sobre a falta de transparência nos investimentos dos Fundos Soberanos: O expressivo crescimento dos FSR traz à ordem jurídica internacional uma série de novos paradigmas de regulação e estruturação da economia global. A problemática da transparência dos fundos é um dos principais pontos discutidos pelos governos cujas empresas se tornaram alvos desses investimentos. A escassez de informações públicas e confiáveis acerca do volume financeiro dos fundos bem como a indefinição sobre seus reais objetivos têm criado incertezas nos países hospedeiros dos investimentos, que se questionam sobre a estrutura institucional, as políticas de investimento e o gerenciamento de risco dos fundos.[...] 9 Demand Consensus Meter é um indicador que monitora a locação de ativos pelos Fundos Soberanos, trimestralmente. A ordem de atração por investimentos vão do zero (baixa) para dez (alta). A manutenção do grau de opacidade dos Fundos Soberanos não está ligada somente ao sigilo da localização e quantia de suas aplicações, serve também para encobrir prejuízos e falta de habilidade dos gestores em buscar bons investimentos para essas poupanças. Esses motivos podem estar ligados a pressões políticas, como foi observado na crise do subprime americano. O Sovereign Wealth Funds Institute desenvolveu um índice, através de dez critérios éticos de boa governança, que avalia a conduta dos Fundos Soberanos aplicando pontuação que serve de balizador para empresas e países hospedeiros de investimentos desses fundos, (ver gráfico 10). Gráfico 10: Classificação do Índice de Transparência – 1° trimestre de 2010 Fonte: Sovereign Wealth Funds - Linaburg-Maduell Transparency Index 10 Teoricamente, a aceitação de investimentos dos Fundos Soberanos pelas nações vai depender do nível de transparência em suas contas. Para encobrir o baixo grau de opacidade, algumas economias acabam criando vários fundos, como é o caso de Cingapura, esta Cidade-Estado possui atualmente dois Fundos Soberanos: o Singapore Governo Investiment Corporation, com grau 6 de opacidade e o Singapore - Temasek Holdings, com grau 10, o nível máximo, conforme o índice de transparência Linaburg- Maduell. Embora os Fundos Soberanos busquem as mesmas garantias que os fundos privados, eles possuem uma política diferenciada quanto sua atuação nos mercados, para entendê-los melhor precisamos ampliar nossos conhecimentos quanto aos seus objetivos e estratégias de investimentos. 10 O Linaburg-Maduell Transparency Índex é o índice, mundialmente aceito, que mede o grau de opacidade dos Fundos Soberanos. Foi desenvolvido por Carl e Michael Linaburg Maduell, fundadores do Sovereign Wealth Funds Institute. Os fundos são classificados por critérios de pontuação, vai do 0 para aqueles menos transparentes até 10, para os de maior transparência. Segundo o instituto o nível 8 já reproduz boa transparência, a reavaliação do índice é feita trimestralmente, quando é tornado público. Formação do Fundo Soberano do Brasil A capitalização inicial formadora do Fundo Soberano do Brasil foi de US$ 8,6 bilhões ou R$ 14,2 bilhões, recursos retirados da composição do superávit primário, equivalente a 0,5% do PIB, mediante o Decreto 6.519, editado no dia 30 de julho de 200811. Sobre o cenário que precedeu a criação do Fundo Soberano Brasileiro, Cagnin et al. (2008, p. 1 e 2) nos diz: Entre o final de 2002 e dezembro de 2007, o cenário econômico internacional foi marcado por diversos fatores, conformando uma conjunção historicamente rara. Em primeiro lugar, por um dinamismo econômico razoavelmente concomitante em todas as regiões do mundo, com taxas de crescimento acima de 4% ao ano. Em segundo lugar, uma elevada liquidez financeira, fruto das baixas taxas de juros nas principais áreas monetárias internacionais (dólar, euro e iene). Embora as taxas de juros tenham sido elevadas nos EUA, na zona do euro e no Japão, elas permaneceram em patamares historicamente baixos, sobretudo, no Japão. Na segunda metade de 2007 e nos meses iniciais de 2008, o Federal Reserve reduziu a taxa de juros básica em resposta à crise das hipotecas de alto risco (subprime). Em terceiro lugar, os preços das commodities – agrícolas, metálicas e fontes de energia (petróleo e gás natural) – se mantiveram em patamares elevados, em decorrência do desempenho econômico internacional, da demanda suplementar oriunda da China e da Índia, que registraram elevadas taxas de crescimento por vários anos consecutivos. Em quarto lugar, verificou-se um desalinhamento entre as moedas – que provocou depreciação do dólar – em detrimento das moedas dos países que adotaram o regime de câmbio flutuante (com destaque para a área do euro, dos países da América Latina, mas também Austrália, Nova Zelândia, Islândia, Turquia etc.). As operações de carry trade, em que os agentes tomam dinheiro emprestado nas moedas (iene, dólar, franco suíço) com baixas taxas de juros e aplicam nas que pagam juros elevados, acentuaram este movimento. Tal impacto nas taxas de câmbio desses países aprofundou-se com a persistência de moedas de países com importante participação no comércio internacional, como a China e outras moedas asiáticas, mantidas sistematicamente desvalorizadas. [...] Em 23 de maio de 2008, o Ministro da Fazenda Guido Mantega solicitou ao Presidente Lula, através da EM12 n° 00083/2008 a criação do Fundo Soberano do Brasil por meio de Projeto de Lei, em regime de urgência constitucional, conforme ANEXO B. 11 Dados contidos no site do Ministério da Fazenda, <www.fazenda.gov.br>. Exposição de motivos é o expediente dirigido ao Presidente da República ou ao VicePresidente por um Ministro de Estado. A exposição de motivos, de acordo com sua finalidade, apresenta duas formas básicas de estrutura: uma que tenha caráter exclusivamente informativo e outra que proponha alguma medida ou submeta projeto de ato normativo. 12 No dia 02 de julho de 2008, através da Mensagem n°466 (ANEXO C), o Presidente Lula solicita a deliberação aos membros do Congresso Nacional, do pedido de seu ministro. Através do Decreto n° 7.055 de 28 d e dezembro de 2009, art. 3° da Lei n° 11.887 de 24 de dezembro de 2008, o Presiden te Lula regulamenta o Fundo Soberano do Brasil (ANEXO D). O Conselho Deliberativo do Fundo Soberano do Brasil - CDFSB foi instituído através do Decreto nº 7.113 de 19 de fevereiro de 2009. O CDFSB ficou composto pelo Presidente do Banco Central, Ministro do Planejamento e pelo Ministro da Fazenda que o presidirá, conforme anexo E. Caberá ao CDFSB a tarefa de escolher onde e quando aplicar os ativos do fundo. Conforme CARVALHO (2009), o Fundo Soberano Brasileiro foi planejado para evitar a vulnerabilidade às flutuações da demanda internacional, como ocorreu no passado, quando o modelo agrário-exportador prevaleceu na América Latina por décadas: É aqui que entra o FSR. O fundo permite que as receitas de exportação sejam investidas de forma rentável no exterior, em vez de serem queimadas em importações supérfluas. O país não deixa de utilizar aquilo que percebe como oportunidade de expansão das exportações, mas evita os danos que isso pode causar. Assim, a movimentação das reservas em dólares é feita conforme se julgue adequado. Como conseqüência, a moeda local não se sobrevaloriza e o país protege sua produção e o emprego doméstico. As reservas internacionais brasileiras, hoje, são provenientes de três fontes: a) saldo da balança comercial; b) dólares investidos na Bolsa de Valores; c) compra de dólares pelo Banco Central (a maior parte proveniente da emissão de títulos da dívida interna, ou seja, empréstimos). Conforme o Bacen (2010, p. 07): No que diz respeito ao gerenciamento dos investimentos, a estrutura de governança das reservas está amparada em uma política de gestão de riscos integrada da área de política monetária do Banco Central do Brasil (BCB). Os investimentos são realizados de acordo com diretrizes estabelecidas pela Diretoria Colegiada da instituição, que definem o perfil de risco e retorno esperado por intermédio de uma carteira de referência apropriada [...] A partir da crise do subprime americano, o Banco Central do Brasil modificou sua estratégia de aplicação das reservas brasileiras. Visando reduzir os riscos e aumentar a segurança, liquidez e rentabilidade, nessa ordem, a instituição encurtou o prazo médio de investimento, reduzindo assim sua exposição às incertezas do mercado internacional, (ver gráfico 15). Gráfico 15: Prazo médio de investimento das reservas brasileiras Fonte: Banco Central do Brasil. Relatório de Gestão das Reservas Internacionais, v. 2. Reservas no conceito caixa (dados de fim de período). Disponível em: <www.bcb.gov.br/>.Acessado em: 19/out/10. Segundo o Banco Central, o montante das reservas internacionais é aplicado em diferentes moedas no mercado internacional e os resultados gerenciais são avaliados utilizando-se como base monetária o dólar norteamericano13, (ver gráfico 16). Gráfico 16: Rentabilidade das reservas cambiais brasileiras 13 A adoção desse critério implica apuração de resultados obtidos em função da variação das taxas de câmbio do dólar contra as outras moedas que compõem as reservas internacionais. Fonte: Banco Central do Brasil. Relatório de Gestão das Reservas Internacionais, v. 2. Disponível em:<www.bcb.gov.br/>. Acessado em: 19/out/10. O Fundo Soberano Brasileiro como destinatário de parte das reservas cambiais trouxe questionamentos periféricos, conforme Izique (2008, p. 20): [...] Há críticas também entre especialistas na matéria. "O FSB não deveria ser classificado como Fundo de Riqueza Soberana", diz Maria Cristina Penido de Freitas, professora da Faculdade de Economia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. "O que caracteriza os SWFs é serem constituídos a partir de recursos originários ou da exploração de recursos naturais escassos ou de receitas de exportação", afirma. Os fundos soberanos, explica a professora, investem em ativos denominados em moeda estrangeira com o objetivo de viabilizar um fluxo de receita sustentável para fazer face ao esgotamento de recursos naturais ou à perda de competitividade internacional das empresas nacionais, ou ainda para a redução dos custos de carregamento das reservas internacionais, que, em geral, são aplicadas pelos bancos centrais em títulos, líquidos e seguros, dos tesouros dos países industrializados. [...] Conforme argumenta Bello (2008, p.1), pode-se verificar que a criação de um Fundo Soberano para o Brasil tornou-se assunto polêmico, pois mesmo antes de sua formação, o fundo já causava divergências: Embora importante e necessário – tanto é assim que praticamente todos os países com excedentes cambiais têm fundos soberanos – a criação de um destes pelo Brasil parece prematura. Caso o SWF brasileiro, se criado, que esteja mesmo voltado aos interesses das empresas brasileiras no exterior. O grau de exposição a riscos dos recursos desse fundo poderá ser maior do que se houvesse uma diversificação de suas aplicações Os Fundos Soberanos não possuem conceitos ou configurações que lhes possam classificar de modo abrangente, em sua totalidade. As nações procuram criar seus fundos conforme suas necessidades, esta é mais uma peculiaridade desses instrumentos financeiros. O fundo soberano brasileiro, por exemplo, foi concebido com características próprias; alguns críticos comparamno, jocosamente, à jabuticaba, uma fruta típica que somente existe no Brasil. Fluxo de capital em conta corrente Sobre a definição de conta corrente Sachs; Larrain (2006, p.193) nos dizem: Em uma economia com livre mobilidade de capital, a poupança não precisa ser igual ao investimento nacional. O excedente da poupança sobre o investimento é a conta corrente do balanço de pagamentos. O saldo da conta corrente tende a ser uma função crescente da taxa de juros, porque quanto maior a taxa de juros mais tende a haver aumento da poupança [...] [...] Portanto, a conta corrente também é definida como variação da posição do investimento internacional líquido de uma nação. [...] A crescente entrada de dólar na economia brasileira cria alguns reflexos negativos no longo prazo, dentre eles esta a apreciação do real que colabora para a formação de saldo negativo em transações correntes, sobre esse comportamento da economia Bello (2010, p. 4 e 5), adverte: Vários fatores vêm contribuindo para esse saldo negativo além da perda de vigor das exportações, resultado da crise mundial aliada à valorização cambial. Dentre outros, podem ser citados o crescimento acelerado das importações, o maior gasto dos brasileiros com viagens ao exterior, o aumento das remessas de lucros e dividendos pelas empresas multinacionais com sede no Brasil e os maiores gastos com transporte (fretes e passagens), todos eles decorrentes da retomada de ritmo da economia do País e do dólar barato. [...] [...] Essa guinada no saldo da conta corrente ganha importância quando se leva em conta a fonte de recursos para o seu financiamento: se oriundos da balança comercial ou da conta de capital e financeira. Isso porque os dólares obtidos com exportações não implicam compromissos de gastos futuros, enquanto aqueles oriundos de empréstimo ou de investimentos no País podem acarretar posteriores pagamentos como juros ou remessa de lucros e, quando derivam de empréstimos em moeda, estes ainda terão de ser amortizados futuramente.[...] A apreciação da moeda doméstica prejudica o desempenho dos setores exportadores e pode levar a um processo de substituição de bens produzidos internamente Cagnin et al. (2008, p.5): A outra face do processo de internacionalização dos fluxos de divisas consiste em desafios como a excessiva pressão à valorização da taxa de câmbio em função do volume de recursos em um determinado período. A apreciação da moeda doméstica prejudica o desempenho dos setores exportadores e pode levar a um processo de substituição de bens produzidos internamente por similares importados, colaborando, assim, com a desintegração de cadeias e simplificação da estrutura produtiva da economia. Sobre déficit em conta corrente, Cano (2010, p. 22) faz algumas observações relevantes: [...]Nossos saldos comerciais subiram entre 2003 e 2007, quando atingem US$ 40 bilhões, mas caem para cerca de US$ 25 bilhões no biênio 2008-2009; desaceleraram no último trimestre de 2009 e tornaram-se reduzidos neste início de 2010, sendo as previsões, mantida a política de valorização cambial, ruins. Os gastos com serviços e rendas (notadamente remessa de lucros e de rendimentos de títulos públicos) cresceram fortemente, dada a situação internacional, com o que o saldo em transações correntes, quase nulo em 2007, saltou em 2008 e 2009, respectivamente, para -US$ 28 bilhões e -US$ 24 bilhões e, como sugerido, há previsões ainda piores para 2010.[...] Esse déficit tem sido coberto com sobras: pelo forte aumento, desde 2003, de investimentos diretos, que atingiram US$ 45 bilhões em 2008, mas despencaram para US$ 26 bilhões em 2009; e pela enxurrada de investimentos em carteira, que, dos US$ 5 bilhões de 2005, atingem US$ 48 bilhões em 2007, quase zeram em 2008 e alcançam US$ 41 bilhões em 2009. É fato que a dívida externa pública, que era de US$ 88 bilhões em 2005 cai para US$ 69 bilhões em junho de 2009, mas a privada, nas mesmas datas, saltou de US$ 82 bilhões para US$ 130 bilhões, com o que a dívida total (incluindo os financiamentos entre empresas) aumentou, dos US$ 188 bilhões em 2005 para US$ 270 bilhões em junho de 2009. Considerando-se que o capital externo em 31/8/2009 possuía US$ 212 bilhões em ações e títulos de renda fixa, e que estes, diante de certas circunstâncias, podem ser liquidados em 24 horas, não vejo razão para muito otimismo, diante do colossal aumento do passivo externo.[...] Uma das questões macroeconômicas mais importantes para um país é estabelecer seu fluxo de capital. É a partir do controle das receitas e despesas que o governo promoverá a sua poupança interna que resultará em futuros investimentos, internos e externos. 1.7 Formação de poupança pública Segundo dados do Banco Central, atualmente o Brasil poupa cerca de 18% do seu PIB, (ver gráfico 17), o ideal seria 25% para apoiar seu objetivo que é um crescimento entre 5% e 7% ao ano, sem pressões inflacionárias. 16,70% 2000 18,40% 17,40% 16,00% 2001 2002 14,80% 2003 15,80% 16,00% 16,40% 2004 2005 2006 17,90% 17,10% 15,80% 2007 2008 2009 2010 Gráfico 17: Taxa de poupança no segundo trimestre (poupança/PIB). Fonte: IBGE e Banco Central De acordo com Bresser-Pereira (2007): A poupança pública ou do governo é uma das medidas de resultado 14 fiscal de um país que, relacionadas com o PIB , se transformam em índices de desempenho fiscal. Segue de perto a idéia de “renda não consumida” utilizada para determinar a poupança de qualquer agente econômico, sendo definida formalmente como “a diferença entre as receitas correntes e as despesas correntes de consumo do governo”, incluídos, nestas últimas, os gastos referentes ao pagamento de juros incidentes sobre a dívida pública. Por outro lado, da mesma forma que os gastos privados na formação de capital não entram no conceito de poupança privada, os gastos governamentais em capital, isto é, os investimentos públicos, também não entram no cálculo da poupança pública. Para Singer (2003) o fato de que os governos se endividam para financiar bens, como obras e equipamentos, e que, por vezes, podem ter origem meramente política. Embora, nem sempre se possa cogitar o resgate desses financiamentos, caso a economia cresça, a receita fiscal poderá devolver aos cofres públicos as quantias gastas através dos aumentos de arrecadações, o que justificaria a expansão da divida pública. Taylor (2007) esclarece que quando a demanda por investimento é maior que a oferta interna é preciso se socorrer de poupança externa e isto colabora para aumentar a vulnerabilidade a choques externos. Esse quadro leva o Banco Central a manter um volume necessário de reservas cambiais 14 O PIB é o Produto Interno Bruto de um país, representa a soma de todos os bens e serviços finais produzidos durante um período determinado (mês, trimestre, ano). É um dos indicadores mais utilizados na macroeconomia com o objetivo de mensurar a atividade econômica de uma região. que acompanhe a exposição internacional líquida, pois quanto maior for à dívida externa, maior deverá ser suas reservas. O custo na capitação em moeda estrangeira fica refém das variações dos juros internacionais e volatilidade da taxa de câmbio aumentando o risco inflacionário. Nas considerações finais em seu artigo “Déficit em transações correntes: o retorno”, Bello (2010, p. 11) observa: [...] enquanto o fluxo de capital for capaz de cobrir o déficit em conta corrente sem necessidade de o Brasil recorrer às suas reservas cambiais, o País deverá continuar financiando o Déficit em Transações Correntes sem maiores atropelos, criando a ilusão de que esse fluxo será perene. Entretanto, se o déficit em transações correntes for maior do que o superávit na conta de capital e financeira ou se, na pior das hipóteses, esta também apresentar-se deficitária e o País tiver de recorrer às suas reservas cambiais, em um curto espaço a penúria cambial poderá voltar já que, estruturalmente, o Brasil ainda é um país vulnerável financeiramente em relação ao exterior, com ou sem crise externa. Sobre a o crescimento da economia com poupança externa BresserPereira; Gala (2007) nos fala: [...] A entrada de capitais ou de poupança externa tende a provocar apreciação cambial, aumento dos salários reais e das importações, dado que a variação do consumo em relação à remuneração dos trabalhadores e da classe média é em geral maior do que zero (µ > 0). Tende também, do lado da demanda, a reduzir exportações, investimentos, e poupança interna. Em conseqüência, temos uma substituição de poupança interna pela externa [...] [...] Quando, porém, a economia vive um momento de altas taxas de crescimento, no qual o diferencial entre a taxa de lucros esperada e a taxa de juros de longo prazo é alto, o aumento do consumo pode ser pequeno, porque principalmente a classe média poderá direcionar seu aumento real dos ordenados para o investimento tornado muito mais atrativo. É isto que explica porque, em determinados momentos, como os Estados Unidos na segunda metade do século XIX, ou a Coréia do Sul e o Brasil, na primeira metade dos anos 70, cresceram com poupança externa.[...] [...] durante os anos 90, essa condição excepcional não está presente e a poupança externa se transformará simplesmente em maior consumo e em maior endividamento financeiro ou patrimonial do país, o segundo endividamento menos líquido que o primeiro, mas ambos implicando em pesado ônus de remessa de rendimentos para o exterior sem que tenha havido aumento da capacidade de investir e exportar do país. Isto explica também porque os países asiáticos têm defendido tão fortemente sua taxa de câmbio, mantendo-a competitiva, através da estratégia de crescer com despoupança externa, ou seja, com superávits em conta corrente e aumento ou de reservas ou de investimentos no exterior.[...] Manter a taxa de poupança é importante para o país conservar o seu nível projetado de crescimento. Ela serve como parâmetro à capacidade de financiamento do governo, porque representa a disponibilidade de recursos aplicáveis nos mercados interno e externo, contribuindo também para a mitigação de efeitos gerados pelos ciclos econômicos. 1.8 Mitigação dos efeitos dos ciclos econômicos O tema ciclo econômico15 tem grande importância dentro do estudo da teoria econômica. Empiricamente, seus impactos podem ser sentidos através de flutuações financeiras que podem atingir diretamente os indivíduos ou indiretamente afetando os cofres do Estado. Vários teóricos já se debruçaram sobre esse capitulo da economia, entre os economistas mais renomados que deixaram escritos mencionando suas impressões sobre o assunto estão: Willian Jevons, Arthur Pigou, Friedrich von Hayek, Ludwig von Mises e Joseph Alois Schumpeter. Conforme Heilbroner (1996, p. 277): [...] Schumpeter chegou a duas explicações em Business Cycles, um trabalho de mil páginas, em dois volumes, publicado em 1939. Ele atribuía a severidade da depressão, em parte ao fato de não haver um, mas sim três tipos de ciclos econômicos — um de duração muito curta, um segundo com um ritmo de sete a onze anos, e um terceiro com pulsação mais ampla, de cinqüenta anos, associada às invenções da época, tais como a locomotiva a vapor ou o automóvel[...] A respeito do mesmo assunto o economista Badaró (2008), assim se expressou: Por definição um ciclo é uma variação periódica para cima e para baixo nas variáveis econômicas (produção, emprego, consumo, investimento, etc.). O ciclo é inerente de mercados livres, capitalistas, mas alguns autores marxistas e mesmo os liberais enquadram a teoria dos ciclos nas economias planificadas. Certos autores abordam a questão de influências exógenas e endógenas no comportamento dos ciclos, como aspectos culturais, sociais e institucionais entre outros. 15 Ciclo no sentido econômico refere-se à alternância entre prosperidade e depressão. Este conceito atende somente a didática, pois em sentido lato a palavra fica inadequada, porque as condições econômicas não costumam retornar precisamente ao seu ponto de partida. Segundo Stiglitz; Walsh (2003, p. 219), sobre o mesmo assunto, assim se manifestaram: Os ciclos econômicos são comuns a todas as economias modernas, mas sua freqüência, ritmo e sua gravidade diferem entre os países. Como somos parte de uma economia global, o que ocorre nos Estados Unidos é afetado pelas condições econômicas de outros países. Constantino (2009) alerta sobre o novo ciclo econômico que começa acontecer, atingindo o Brasil em relação à expansão do crédito, ele faz um comparativo com a recente crise do subprime americano que atingiu o mundo inteiro: Dessa vez, o erro pode estar sendo feito no Brasil. Quando o Banco do Brasil divulgou seu último resultado, o ministro Guido Mantega chegou a convocar uma entrevista coletiva para celebrar o crescimento da carteira de crédito do banco, alertando que os bancos privados poderiam “comer poeira” se não seguissem o mesmo curso. Chega a ser temerário um ministro da Fazenda estimulando dessa forma o crescimento do crédito, num momento onde a cautela se faz necessária. Será que não aprendemos nada com os problemas dos americanos? [...] Não é meu objetivo aqui alardear uma crise iminente de grandes proporções. Apenas considero fundamental para a boa saúde econômica o constante alerta em relação aos estímulos artificiais do governo para produzir crescimento econômico no curto prazo. Por negligenciarem este importante alerta, os americanos sofreram bastante recentemente, com o estouro da bolha de crédito [...] Sobre o mesmo tema Oliveira (2009, p. 10), faz as seguintes observações: [...] A economia mundial tende em direção a uma estrita “financeirização” das atividades e das trocas. Esse fenômeno é uma expressão contemporânea de definição, gestão e transformação da riqueza no capitalismo, cuja acumulação produtiva abriu espaço para um regime de acumulação com predominância especulativa. A instabilidade financeira que assola atualmente os Estados Unidos da América e que repercute em todo o mundo, derrubando, por sinal, a crença de que países emergentes estariam imunes, é o reflexo do estouro de uma série de bolhas especulativas que propiciaram o aumento da financeirização e a estabilidade econômica induzido pela existência de crédito abundante e fácil nos últimos anos. A presente crise foi gerada, inicialmente, por uma excessiva fé na habilidade do mercado de autocorrigir-se e autorregular-se e, posteriormente foi exacerbada pela ansiedade e falta de confiança no mercado financeiro e nos negócios em geral. A regulação insuficiente das atividades financeiras é preocupante, tendo em vista a falta de controle quanto a práticas ilegais e à especulação descontrolada. [...] De acordo com Cagnin et al. (2008, p.5) a volatilidade do mercado leva ao aparecimento de miniciclos em meio aos grandes ciclos: Salienta-se ainda a natureza volátil dos ciclos de liquidez internacional para as economias emergentes que são entrecortados por miniciclos que se sobrepõem à tendência principal. A formação desses miniciclos acentua a volatilidade e a incerteza dos agentes, à medida que se torna impossível a priori determinar sua duração e intensidade ou mesmo saber se constituem ou não o início do processo de reversão da fase anterior do ciclo mais longo. Em miniciclos ou reversão de tendência das condições de liquidez internacional, a volatilidade da taxa de câmbio se acentua e mudanças abruptas de cotações são verificadas. [...] Sobre a ação do governo brasileiro e o papel do BNDES16 na alocação de recursos para viabilizar uma ação anticíclica no contexto da crise do subprime, assim nos falam Pereira; Simões (2010, p. 7): [...] O Tesouro Nacional, em 2009, concedeu empréstimo ao BNDES na forma de um aporte em títulos públicos cujo valor de mercado montou em R$ 100 bilhões. Tal empréstimo equacionou as necessidades de funding do Sistema BNDES em 2009, permitindo ao Banco dar sustentação ao vigoroso crescimento do orçamento de investimentos e viabilizar sua atuação anticíclica no contexto de aprofundamento da crise externa. A carteira de títulos públicos entregue ao BNDES foi composta por Letras do Tesouro Nacional (LTN), Letras Financeiras do Tesouro (LFT) e Notas do Tesouro Nacional, séries F e B (NTN-F e NTN-B), com diversos vencimentos e com duração de cerca de 4,2 anos. Com a operação, o Tesouro constitui um ativo de crédito contra o Banco e um passivo do mesmo montante, sendo a operação responsável pela elevação da dívida bruta do setor público consolidado, porém neutra, na largada, sob o ponto de vista da dívida líquida do setor público consolidado. O BNDES, de posse dos títulos recebidos, monetizou os papéis em mercado secundário. Sem o referido aporte, o Banco teria racionado o crédito aos projetos de investimentos apoiados, o que teria sido fator relevante de aprofundamento da crise em 2009. [...] O fundo soberano brasileiro ao servir como instrumento gerenciador de parte das reservas cambiais que compõe poupança de longo prazo, passa ser um indutor da política industrial, dentro e fora do país. Os dividendos 16 O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES, empresa pública federal, é hoje o principal instrumento de financiamento de longo prazo para a realização de investimentos em todos os segmentos da economia, em uma política que inclui as dimensões social, regional e ambiental. recebidos pelas aplicações do fundo soberano deverão ser destinados para fomentar projetos industriais. 1.9 Fundo Soberano do Brasil como indutor de política industrial interna e externa Em seu relatório anual a Confederação Nacional da Indústria - CNI17 (2009, p. 36) comenta sobre a importância da integração internacional da indústria brasileira: A inserção das empresas brasileiras no mercado global estimula a inovação, melhora a qualidade do produto nacional e é decisiva para o crescimento econômico. [...] [...] O aumento das exportações e das importações e dos investimentos externos fortalece a economia brasileira, incentiva a inovação na indústria e melhora a qualidade do produto nacional. Para ampliar a inserção das empresas no mercado global, a CNI mantém serviços e parcerias voltados à promoção das exportações, principalmente de pequenas e médias empresas. Com o respaldo do Conselho Temático de Integração Internacional e da Coalizão Empresarial Brasileira, acompanha e dá sugestões para os negociadores oficiais buscarem acordos comerciais que favoreçam o acesso ao mercado externo. [...] Para Miles e Scott (2005, p.290) os governos devem se preocupar com a taxa de retorno sobre o investimento e com o seu nível: [...] Cada vez mais, as firmas estão empreendendo investimentos que produzem, ou se destinam a produzir no exterior, bem como na economia nacional. O investimento se torna cada vez mais independente e, por isso, sensível a diferenças no custo e na taxa de retorno entre os países. [...] [...] Quando avaliamos o desempenho dos países, seria bizarro classificá-los em termos de níveis de gastos com investimento. O que realmente importa é quanto é produtivo o investimento que foi realizado. [...] 17 A CNI se diz “a voz da indústria brasileira”: representa vinte e sete federações das indústrias, nos estados e no Distrito Federal com cerca de 100 mil empresas e mais de mil sindicatos patronais associados. Tem como missão de defender e representar a indústria na promoção de um ambiente favorável aos negócios, à competitividade e ao desenvolvimento sustentável do Brasil, além de garantir a participação da comunidade industrial na formulação de políticas públicas, acompanhando as proposições de interesse do setor industrial que estejam em tramitação no Congresso Nacional. Sobre os efeitos da política cambial nos investimentos, Taylor (2007, p. 450) faz a seguinte ressalva: [...] Determinar os efeitos da política cambial sobre os empregos é tarefa complexa e que envolve diversas variáveis. Entretanto, alguns sinais parecem dar razão aos que acham que a resposta é positiva, porque as empresas brasileiras estão levando parte da produção e com ela os empregos, para outros países. China e Índia, principalmente. [...] [...] Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), as indústrias que ainda não foram para o exterior trabalham com margens de lucro apertadas ou até prejuízo nas exportações para não perder mercado. [...] [...] Cerca de 30 grandes empresas brasileiras de vários setores possuem pertode120 fabricas no exterior. [...] Sobre o processo de internacionalização da economia brasileira, Bueno (2008) conclui: [...] O recente processo de internacionalização, explicado pela literatura econômica por fatores microeconômicos enseja um debate sobre suas possíveis conseqüências no âmbito econômico – balanço de pagamentos, criação de empregos e incorporação de novas tecnologias – e político – influências sobre a política externa brasileira, constituição de políticas públicas específicas e incorporação, dentre os fatores que passam a influenciar a mobilização da burguesia brasileira, da dinâmica política dos países que receberam investimentos brasileiros. A respeito da necessidade de internacionalização de empresas brasileiras, Corrêa; Lima (2007 p. 16) apud Alem e Cavalcanti (2005), referemse assim: A internacionalização deve ser vista como um meio essencial para o aumento da competitividade internacional das empresas, promovendo o desenvolvimento dos países e facilitando o acesso a recursos e mercados, e a reestruturação econômica. Em linhas gerais, a internacionalização das empresas é importante para assegurar e expandir mercados para seus bens e serviços. O acesso a mercados maiores fortalece a competitividade das empresas multinacionais pelas economias de escala, por meio dos efeitos de especialização de aprendizado e pelo fornecimento de uma maior base financeira para reinvestimentos e desenvolvimento tecnológico.[…] Cano (2010, p. 3), se opõe a política industrial atual, adotada pelo governo: […] O governo parece entender como inevitável a política de juros elevados e câmbio baixo, o que impossibilita melhor proteção ao mercado interno, desestimula o investimento, e, ainda, diminui a competitividade das exportações industriais. No intuito de fortalecer a grande empresa nacional e torná-la internacionalmente mais competitiva, o governo vem praticando uma política de “agigantamento” de algumas dessas empresas, financiando inclusive seus investimentos privados no exterior, pensando com isso aumentar sua competitividade externa. Para isso, talvez tenha se espelhado, como exemplos externos, nos famosos conglomerados do Japão e da Coréia do Sul, criados e fortalecidos, contudo, em outro momento histórico e sob outras condições internacionais; no plano interno, nos casos da Petrobras – empresa estatal – e da Vale – privatizada, mas ainda com presença e certo poder do Estado – ambas operando recursos naturais sob controle oligopólio e amparadas com o crédito do BNDES.[…] Cano (2010, p. 19), ainda nos alerta: [...] Nossa capacidade inovadora é baixa, como constata o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), afirmando que do total de 4,4 milhões de empresas, só 6.000 realizam atividades de P&D (Pesquisa & Desenvolvimento), e a razão disso reside na fragilidade de nossa política industrial. Mostra ainda o IEDI que do total de recursos públicos incentivados para isso, 61% provém da Lei de Informática e significam, na realidade, subsídios para manter as empresas que ainda restaram no restante do país, para compensar os elevados incentivos fiscais concedidos a empresas da Zona Franca de Manaus.24 Não se trata, portanto, de política de Ciência & Tecnologia (C&T) e, sim, de manutenção de atraso.[...] Conforme CAVALHO (2009 p.12) referindo-se sobre a importância do Fundo Soberano no processo de internacionalização da economia: [...] O fundo permite que as receitas de exportação sejam investidas de forma rentável no exterior, em vez de serem queimadas em importações supérfluas. O país não deixa de utilizar aquilo que percebe como oportunidade de expansão das exportações, mas evita os danos que isso pode causar. Assim, a movimentação das reservas em dólares é feita conforme se julgue adequado. Como conseqüência, a moeda local não se sobrevaloriza e o país protege sua produção e o emprego doméstico [...] Todos os fundos estatais são formados com objetivos pré-definidos, alguns têm como alvo principal a estabilização de seus orçamentos, outros poupar para as próximas gerações, ou ainda, apenas garantir melhores lucros, diversificando os riscos. O fundo soberano brasileiro foi formado para ter estas e várias outras configurações, algumas não se enquadram nos modelos costumeiros adotados por outros países, mas isso não invalida sua participação no mercado. O formato do Fundo Soberano do Brasil poderá servir de exemplo para novos Fundos Soberanos que serão criados ou para modificações futuras, aos já existentes. O modelo formatado pelo governo brasileiro procurou adquirir a boa governança dos outros fundos, mas fez adequações a realidade da nossa economia. CONCLUSÃO Os Fundos Soberanos de Riquezas são agentes financeiros públicos criados para administrar parte das reservas cambiais de um país em investimentos no exterior. O aumento do comércio internacional com o advento da globalização levou algumas nações à formação de gigantescos patrimônios cambiais em suas economias, este seria o principal motivo da robustez e proliferação dos Fundos Soberanos. Seus investimentos podem causar preocupação devido a interesses políticos e por manterem, com algumas exceções, sigilo sobre suas aquisições e gestão de seus recursos. Contudo, os Fundos Soberanos de Riqueza ajudam as economias de seus países atuando como instrumento anticíclico e formador de poupança para o futuro. O Brasil, por manter uma política de juros altos para atrair investimentos externos, tem gerado acumulo em suas reservas cambiais. Por usar taxa de câmbio flexível e ter um custo elevado na esterilização da moeda estrangeira, as autoridades monetárias propuseram a criação de um Fundo Soberano. O projeto do fundo soberano brasileiro começou a ser articulado num período anterior à crise do subprime americano. Sua criação se deu em meio à crise e a autorização para funcionamento aconteceu em sua etapa final, quando a economia brasileira começou a esboçar certa recuperação. A versão brasileira de Fundo Soberano é única. Todos os fundos nascem com objetivos pré-definidos, podendo até se modificar com o tempo, mas o nosso fundo já nasceu misto, com configurações fiscais e monetárias. Alguns críticos dizem que é um fundo “de bordas rasas”, outros o comparam com a “jabuticaba”, fruta nativa do Brasil que só existe aqui. Assim como os seus objetivos, as fontes de recursos para o fundo soberano brasileiro podem ser diversificadas, podendo ser de natureza fiscal, financeira e ou comercial. Ao confrontarmos as proposições para criação do fundo soberano brasileiro, em 2008, com o atual cenário econômico, observamos que, retirando a previsão otimista de ganhos com o pré-sal, não haveria, hoje, necessidade para sua formação. REFERÊNCIAS ALEM, Ana; CAVALCANTI, Carlos. O BNDES e o apoio à internacionalização das Empresas Brasileiras: Algumas Reflexões. Revista do BNDES vol. 12, nº 24, pp. 43-76. Rio de Janeiro, dez. 2005. BACEN- Banco Central do Brasil / Gerência-Executiva de Risco da Área de Política Monetária (Gepom). Relatório de Gestão das Reservas Internacionais v.2 – junho 2010. <http://www.bcb.gov.br> Acessado em: 29 set. 2010. BADARÓ, Murilo Prado. Os ciclos econômicos e a crise atual. 2008. Disponível em:<http://www.webartigos.com/articles/10996/1/Os-CiclosEconomicos-e-a-Crise-Atual/pagina1> . Acessado em: 25 out 2010. BARBOSA, Fernando de Holanda. Macroeconomia. Disponível em: <www.ebah.com.br/macroeconomia-pdf-a28717> . Acessado em: 22 out 2010. 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