Os efeitos da crise econômica sobre o crédito e a

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Texto Mensal da Revista dos Fundos de Investimento | Julho/2016
Os efeitos da crise econômica sobre o crédito e a inadimplência.
Como é de conhecimento de praticamente todos os
brasileiros em idade adulta, estamos passando por uma das
mais severas crises econômicas de nossa história recente e,
dia após dia, descobrimos os impactos que isso tem sobre
nossas vidas. Com o recorrente objetivo de aprofundar o
entendimento de nossos leitores – clientes ou não – sobre
questões econômicas atuais e de aumentar o interesse de
todos pela análise destes temas, no texto deste mês
pretendemos apontar alguns dos mais significativos efeitos
que um período de contração econômica tem sobre o
crédito e a inadimplência das famílias e das empresas do
País.
A evidência de que o Brasil está passando por uma
importante crise está bastante disseminada por uma grande
variedade de indicadores, mas podemos usar como
exemplos dois indicadores muito conhecidos pela maioria
das pessoas: a variação do produto interno bruto (PIB) e a
taxa de desemprego. No primeiro caso, se avaliarmos o
comportamento do PIB utilizando a comparação de cada
trimestre com o período imediatamente anterior, há
variações negativas subsequentes desde o primeiro
trimestre de 2015. Quando os trimestres são comparados
com o mesmo período de um ano antes, nota-se que houve
contrações consecutivas desde o segundo trimestre de 2014.
Assim, somente pelos dados do PIB, fica muito clara a
persistência da retração da atividade no País. Já os dados
sobre o mercado de trabalho exibem o mesmo diagnóstico
por um ângulo de visão ainda mais preocupante. Entre
novembro de 2015 e abril deste ano, por exemplo, a taxa de
desemprego pela Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios Contínua (Pnad C) saltou de 6,5% para 11,2% – o
que representa uma alta de mais de 70% na principal medida
de desemprego do País.
Taxa de desemprego segundo a Pnad Contínua (eixo esquerdo) e geração líquida
de postos formais de trabalho segundo o Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados (eixo direito). Fonte: IBGE e MTPS. Elaboração: Gerência de
Gestão dos Fundos de Investimento do Banrisul.
À luz de conceitos bem solidificados no estudo das Ciências
Econômicas, existe uma expectativa de que, em economias
de mercado como a nossa, as condições adversas da
atividade e do emprego impactem negativamente o mercado
de crédito. Para ilustrar, podemos citar o aumento das taxas
de juros. A taxa de juros de um empréstimo é, basicamente,
uma remuneração cobrada por quem possui os recursos
financeiros, somado a um prêmio adicional pelo risco que
existe de que o empréstimo não seja pago de volta. Ou seja,
ao mesmo tempo existe um pagamento pelo tempo em que
os recursos não estarão disponíveis para o uso de seu
proprietário e um valor extra para compensar o risco de se
perder estes recursos no negócio. Na prática, quase todas as
transações de crédito estão lastreadas em uma taxa de
referência, que no Brasil é representada pela taxa Selic e que
tem seu patamar estabelecido pelo Conselho Monetário
Nacional (CMN). E sobre esta taxa adiciona-se o prêmio de
risco, que varia conforme a percepção do mercado sobre
quem está tomando o recurso emprestado e sobre o prazo
do empréstimo.
Cabe observar que mesmo a taxa Selic – que é considerada a
taxa livre de risco por ser a taxa à qual se empresta dinheiro
ao governo federal – possui um prêmio de risco embutido,
posto que, para os investidores globais, o Brasil apresenta
maior risco de calote do que outros países, como os Estados
Unidos, por exemplo. Assim, quando a economia do País
passa por uma crise e gera menos riqueza a cada trimestre, a
capacidade de fazer frente a suas dívidas começa a diminuir
e, dada esta elevação de risco, quem oferece recursos ao
governo passa a cobrar uma parcela cada vez maior pelo
risco que está correndo. Como praticamente todas as
operações de mercado baseiam-se na taxa de referência,
quando o juro cobrado do governo sobe, todas as demais
modalidades de crédito também têm seu juro aumentado.
Temos aí o primeiro impacto negativo da crise sobre o
crédito: o aumento das taxas de juros. A elevação do risco
pode levar até mesmo a uma menor oferta de crédito, o que
torna tudo mais difícil.
Se a atividade econômica no país encolhe, costuma haver
uma queda na demanda por muitos produtos e serviços,
empresários investem menos, criam menos empregos (e até
demitem parte de seus funcionários) e, de maneira geral, a
renda das famílias e das empresas diminui. Como isso
acontece muitas vezes ao mesmo tempo em que a taxa de
juros está subindo e deixando os empréstimos ainda mais
caros ou mais escassos, a capacidade de pagamento dos
devedores recua de forma ainda mais rápida e pode levar a
um círculo vicioso. O resultado disso costuma ser um
aumento brusco das taxas de inadimplência e um
aprofundamento das dificuldades econômicas do país.
Entre as evidências de que estas expectativas formuladas
pelos economistas acontecem na vida real, podemos citar
alguns dados recentes sobre a economia brasileira: Segundo
uma notícia recente publicada no jornal ‘O Estado de São
Paulo’, quase metade das maiores empresas brasileiras
listadas na Bolsa de Valores de São Paulo estão muito
endividadas, com dificuldade de pagar dívidas que se
aproximam de R$ 420 bilhões. No mesmo jornal, outro
artigo cita que a provisão dos bancos para perda com calotes
aumentou mais de 40% em dois anos. No jornal ‘Valor
Econômico’, por sua vez, destacou-se recentemente que os
pedidos de falência aumentaram 26,5% no primeiro
semestre de 2016 perante o mesmo período do ano anterior,
de acordo com levantamento da empresa ‘Boa Vista SCPC’.
Já a ‘Nota de Política Monetária e Operações de Crédito’ do
Banco Central apontou que a taxa média de juros do crédito
do sistema financeiro situou-se em 32,7% a.a. em maio,
maior patamar da série histórica iniciada em março de 2011,
com elevações de 5,6 pontos percentuais em doze meses,
enquanto a taxa de inadimplência das operações de crédito
do sistema subiu de 3,0% para 3,8% entre abril de 2015 e o
mesmo mês deste ano, uma variação de mais de 25% no
período.
Por isso, mesmo que estejamos observando os primeiros
sinais de que atingimos o “fundo do poço” desta crise, há
que se manter a cautela, pois a recuperação necessária para
se readequar as condições de crédito em uma economia
pode levar mais tempo do que se imagina.
Resumo do Mercado Financeiro
No mês de junho houve uma abertura das taxas de juros nos
vencimentos mais curtos e intermediários e um sensível
fechamento nos vencimentos mais longos. Este movimento
favoreceu o segmento de fundos de renda fixa com ativos
atrelados ao CDI, com alguns deles superando o seu
referencial ou ficando muito próximo do mesmo. Já os
fundos referenciados em ativos prefixados e índices de
preços (NTN-B) não apresentaram o mesmo desempenho,
uma vez que se optou recentemente por um posicionamento
mais conservador neste segmento, a fim de proteger os
fundos das incertezas que envolviam o cenário internacional.
Cotações de fechamento dos contratos futuros de juros no último dia de
negociação de maio de 2016, no dia 15 de junho e no último dia de negociação
do mês de junho de 2016. Fonte: Economática. Elaboração: Gerência de Gestão
dos Fundos de Investimentos do Banrisul.
No mercado de ações, após queda superior a 10% em maio,
o índice Ibovespa recuperou-se e obteve valorização de
6,31% em junho, atingindo os 51.626,92 pontos. Esta foi
considerada uma correção técnica, uma vez que os cenários
externo e interno ainda reúnem uma série de incertezas.
Assim, aparentemente, as expectativas quanto à velocidade
da elevação dos juros nos Estados Unidos, os próximos
passos da saída do Reino Unido da União Europeia e a
prolongada crise política no Brasil deverão continuar
impactando os preços dos ativos nos pregões por mais
algum tempo.
Cotações de fechamento diário do Ibovespa entre o dia 31/05/2016 e o dia
30/06/2016. Fonte: Economática. Elaboração: Gerência de Gestão dos Fundos de
Investimentos do Banrisul.
Este relatório foi elaborado em 05/07/2016 pela Unidade de Administração de Recursos de Terceiros e é de uso exclusivo de seu destinatário,
não podendo ser reproduzido ou distribuído, no todo ou em parte, a qualquer terceiro sem autorização expressa do Banrisul. Este relatório é
baseado em informações disponíveis ao público.
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