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IE TCC/UNICAMP B38Sp Universidade Estadual de Campinas Instituto de Economia U:NlCAMP Políticas Sociais no Governo Fernando Henrique Cardoso (1995/2002) Mariana Linger Becker RA:981744 Professor orientador: Antônio Márcio Buainain CE - 851 -Monografia 11 Campinas, 2004 TCC/UNICAMP B388p IE/1582 CEDOCIIE Sumário Introdução ............................................................................................................................. .4 Capítulo 1- O Sistema de Proteção Social Existente ............................................................. 6 Capítulo 2- A estratégia de desenvolvimento social.. ........................................................ 14 Capítulo 3 -As políticas sociais 1995/2002 ........................................................................ 27 Conclusões: alguns desafios para o governo Lula ............................................................... 61 Bibliografia ........................................................................................................................... 63 3 Introdução Fernando Henrique Cardoso toma posse da Presidência da República do Brasil em 1995 em um período em que o país encontra-se em plena transformação em um mundo altamente globalizado. Um momento particulannente grave. Principalmente no que diz respeito à situação social do Brasil, não só era extremamente enorme o número de pessoas que viviam em situação de extrema pobreza e indigência, como também se elevaram as desigualdades de renda entre os mais ricos e os mais pobres. Por isso, é proposto um projeto de desenvolvimento voltado para um modelo de justiça social no qual o direito à vida com dignidade seja garantido. Sob uma inspiração social-democrata, a política social proposta por FHC teve como objetivo caminhar o mais possível para a direção dos ideais de um Estado de Bem-Estar Social. O governo propôs concentrar esforços nos serviços sociais básicos de responsabilidade pública, promovendo também sua reestruturação, assim caminhando no sentido da universalização do acesso a esses serviços, aumentando sua eficácia e eficiência, melhorando a qualidade dos serviços prestados, promovendo a descentralização, a participação e as parcerias, e enfim aumentando o seu papel redistributivo. Os planos destacados pelo govemo que serão abordados neste trabalho são: saúde; educação; previdência; assistência social, alimentação e nutrição; trabalho, emprego e renda; e reforma agrária. Esta é, portanto, a finalidade deste trabalho; conhecer as propostas de Fernando Henrique voltadas para área social, seus resultados e principais avanços. Também será interessante conhecer quais foram os principais desafios deixados para ser alcançados pelo governo Lula, para que se possa avançar cada vez mais na construção de um Estado mais justo e igual para toda a população. 4 Dessa forma, o trabalho será dividido em três partes: Na primeira parte haverá um breve resumo histórico sobre o sistema de proteção social existente. A segunda parte mostrará as principais propostas de governo do presidente Femando Henrique Cardoso para a área social, em suas duas gestões (1995/1998 e 1999/2002), nas áreas acima mencionadas. E na última parte haverá uma análise dos principais resultados obtidos e os avanços conseguidos na área social para a construção de uma sociedade menos desigual e injusta. Junto à conclusão também serão apresentados alguns desafios que devem ser superados para que haja a possibilidade de se criar um modelo melhor de justiça social. 5 1. O Sistema de Proteção Social Existente Quando pensamos em um Estado de Bem Estar Social, é mais provável que venha em nossa mente Canadá ou Suécia, países em que seus Estados oferecem garantias mínimas de proteção social (renda, alimentação, saúde, educação, habitação, etc) ao conjunto todo de suas populações. Dificilmente o Brasil vem em mente. Isso ocorre não pelo fato de não existir um sistema de proteção social no Brasil, mas sim pela ineficácia e ineficiência desse sistema. O Brasil sim construiu um sistema de proteção social, entretanto com características diferentes de países em que tais políticas abrangem eficientemente a população carente e contribuem para diminuição da desigualdade social. Portanto, para entendermos a particularidade de nosso sistema, e as dificuldades postas aos recentes governos para a área social, cabe um estudo de suas características, padrão de financiamento, e as transformações ocorridas em um período mais recente. I. I Características Estruturais do Sistema e Suas Principais Distorções Segundo Sônia Draibe (1993), desde o período colonial existiram políticas ligadas às áreas educacional e de assistência social. No entanto, essas políticas não podem ser identificadas como partes de um Estado moderno de Bem-Estar Social, pois este só emerge no Brasil a partir de mudanças político-institucionais que foram iniciadas na década de 30 e acabaram por consolidar este sistema somente na década de 70. Já na década de 80, apesar desse sistema "medíocre" ainda estar muito aquém do que se espera de um "Weifare State", os gastos governamentais destinados às áreas sociais representavam um percentual de 15 a 20% do PIB. A introdução, nos anos 30, de um Estado de Bem-Estar Social ocorreu a partir de condições políticas e institucionais que legitimaram a presença estatal no âmbito de proteção social, tais corno a ruptura do Estado Oligárquico e de sua base federalista e a emergência de urna nova forma de Estado Nacional Moderno - centralizador e concentrador de poder - que pôde efetivar políticas de âmbito nacional. As principais inovações desse período 193011943 - dizem respeito às políticas legislativas, com a criação dos Institutos de Aposentadoria e Pensões - IAP's (1933), com destaque para a legislação trabalhista consolidada em 1943 (CLT- carteira de trabalho, jornada de 8 horas, salário maternidade, 6 férias remuneradas, etc). Também são observadas nesse período, transfonnações nas áreas de política educacional e de saúde. Entre o período que se estende de 1945 a 1964 há uma expansão fragmentada - nos planos institucional e financeiro; heterogênea - no plano dos beneficios e seletiva - no plano dos beneficiários, da intervenção social do Estado (Draibe, 1989). Dadas as grandes transformações nos processos de industrialização e urbanização, que acabaram por transformar a estrutura social do país, sob uma ditadura militar (1964/1985), o Brasil sofre uma enonne transfonnação nas políticas sociais, com a organização de sistemas nacionais públicos ou regulados pelo Estado, deixando para trás sua fo1ma fragmentada e seletiva. É nesse período que se tem a consolidação institucional do Welfare State no Brasil, e uma expansão massiva das políticas públicas, com uma cobertura relativamente maior ao conjunto da população. É também nesse período que se introduz a intervenção estatal na área de habitação, com a introdução em 1964 do Serviço Federal de Habitação e Urbanismo, do Banco Nacional de Habitação (BNH) e do Plano Nacional de Habitação. Foi também sob regime militar que se criaram mecanismos de fonnação do patrimônio dos trabalhadores através da participação nos lucros das empresas (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS/1966) e PIS- PASEP/1972 ). Esse tipo específico de sistema de proteção social obedeceu, entre os períodos de sua introdução e consolidação, a um padrão tipo conservador ou Meritocrático-Particularista 1. Como mérito entende-se "a posição ocupacional·e de renda adquirida ao nível da estrutura produtiva, que constitui a base sobre a qual se ergue o sistema brasileiro de política social" (Draibe, 1989). Considerando essa característica específica, podemos ver que são poucos os aspectos redistributivos e igualitários do nosso padrão de proteção social, o que acaba por reproduzir e não corrigir as desigualdades da sociedade. Também identificam-se no nosso sistema marcas "corporativistas e clientelistas na consagração de privilégio e na concessão de beneficios", marcas essas que segundo a autora normalmente estão presentes em padrões do tipo Meritocrático-Particularista. 1 O padrão tipo meritocrático-particularista a que Sônia Draibe se refere em seu texto foi definido por Titmus, que estudou os diferentes Estados de Bem-Estar Social, e propôs três modelos de política social; O ModeloResidua, O Modelo Meritocrático-Particularista e O Modelo Institucional Redistributivo. Como este 7 Apesar das tentativas de estender as políticas sociais a um conjunto maior da população, como por exemplo, a unificação dos IAPs, sob o INPS (1967), extensão da obrigatoriedade de educação básica para oito anos (1971), entre outras, o Welfare State brasileiro esteve longe de reproduzir características de sistema do tipo "Institucional-Redistributivo". Os programas sociais, então, quase nada cooperaram para a diminuição da alta desigualdade social -marca registrada da sociedade brasileira. Praticamente inexistia um mecanismo de incorporação social, deixando excluído um grande número de pessoas, principalmente a população rural, a de pequenas cidades nordestinas e os miseráveis de áreas industriais e urbanizadas. A ineficácia do padrão consolidado se deu pela própria estrutura que se montou e tendeu-se a reproduzir ao longo do período. A extrema centralização política e financeira em nivel federal, que além de concentrar os recursos financeiros, estabelecia normas às políticas sociais e submetia a aplicação de fundos federais às decisões da União, tirando assim, o poder dos estados e municípios de ações sociais realmente necessárias. A multiplicação de inúmeros organismos públicos, tais como, fundações, institutos, empresas públicas, causava uma tremenda burocratização, ausência de mecanismos de controle, superposição de programas e de clientelas, entre outros problemas. Essas distorções apontadas acima - centralização em nível federal e fragmentação institucional - acabavam por causar outro problema ao funcionamento do sistema. Ao excluir a população (sindicatos, partidos e movimentos políticos) da participação social e política nos processos decisórios, eram quase inexistentes as discussões de diretrizes básicas voltados para a área social, bem como também eram inexistentes os mecanismos de controles públicos, abrindo então, caminho à desorganização e à corrupção. Além disso, a falta de controle público por outro lado, contribuía para o uso clientelístico da máquina social. trabalho não objetiva estudar as diferenças entre esses modelos, apenas acho interessante colocar que o Modelo Institucional Redistributivo é aquele que mais obedece a critérios universalistas e igualitários. 8 Portanto, devido a essas características estruturais do sistema de proteção social brasileiro apontadas acima, não é dificil de entender que, mesmo apresentando um gasto social de quase 20% do PIB, os resultados obtidos por ele tenham sido ineficazes e ineficientes. 1.2 O Padrão de Financiamento das Políticas Públicas No período de 1930 a 1964, as políticas sociais das áreas de saúde e educação foram financiadas por recursos de origem fiscal. De maneira diferente, os benefícios previdenciários eram financiados por recursos provenientes dos próprios empregados e empregadores. No entanto, a partir da década de 60, o financiamento do gasto social sofre algumas transformações, deixando-o muito sensível às variações da atividade econômica, ao volume de emprego, dos salários e da massa salarial (Draibe, 1994). Essas reformas ocorridas nesta década fizeram com que os gastos sociais fossem financiados por recursos particulares (contribuições sociais). Criavam-se fundos específicos "geridos por fundações especiais, responsáveis pela política à qual se destinava o fundo". Assim, os programas sociais começavam a depender menos de impostos, e mais de contribuições. Isso conseqüentemente acabava por criar um menor grau de manobra no que diz respeito às decisões prioritárias para área social. Esse novo padrão, portanto, é um padrão instável e frágil, fortemente questionável. Isso porque em situações de recessão, desemprego ou arrocho salarial, situações nas quais a população terá maiores necessidades de programas assistenciais, será também o período em que haverá menores capacidades de recolhimento do Estado, diminuindo o volume dos fundos, e assim prejudicando os programas sociais. Esta por si só é uma contradição do padrão de financiamento -quando existe a necessidade de uma demanda maior por ajuda, tem-se uma menor capacidade de ação. A centralização em nível federal da arrecadação dos recursos também representava uma distorção no padrão de financiamento do gasto social. A maior parte desses recursos não era repassada para os Estados e Municípios. Um exemplo claro dessa distorção pode ser verificado claramente no ano de 1986, quando as receitas municipais representavam cerca de apenas 6,6% do total, quando no mesmo período as despesas dos municípios chegavam a 35% do gasto social, ficando, portanto, altamente dependente de transferências da União. O 9 problema da centralização não pára aqui. Quando existe o repasse, estes recursos quase não são suficientes para atender às necessidades dos estados e municípios, pois está vinculado às prioridades estabelecidas em nível federal, o que muitas vezes não representava as necessidades reais do local. Ainda há que se destacar o problema da regressividade do financiamento e do gasto social, que apresentam enom1es desigualdades na forma em que se arrecadam os recursos e a forma em que são feitos os gastos sociais. Essas contribuições acabam por penalizar também o conjunto das empresas, que como forma de diminuir seus prejuízos, repassam estes custos adicionais aos seus preços, assim prejudicando toda população, e principalmente as camadas mais pobres. Outro problema é a vinculação do beneficio a um fundo. Pessoas que estão fora do mercado formal de trabalho ficam totalmente excluídas desse sistema. Como exemplo da regressividade desse sistema cabe citar o FGTS onde o valor do beneficio é diretamente proporcional ao nível salarial. Algumas transformações a partir do final da década de 80 começaram a ocorrer em direção à melhoria do padrão de financiamento do gasto. A Refonna Tributária de 1988 iniciou um processo de repasse de impostos federais para os Estados e Municípios, avançando no processo de descentralização financeira pela União. 1.3 A Reestruturação do Sistema ao Final da Década de 80 e Início dos Anos 90 Como visto, o Welfare State construído no Brasil obedeceu a critérios diferentes daqueles de sociedades menos desiguais. Não poderia haver outro comportamento para este sistema com o esgotamento do ciclo econômico de crescimento da década de 70 e a recessão em que se encontrou o país na década seguinte, senão um comportamento modesto, pouco expressivo, e que deixava parte da população marginalizada, principalmente aquela mais carente. Não há dúvida de que reformas na estrutura do sistema de proteção foram necessárias visando uma melhoria na sua qualidade e cobertura de seus programas. A Constituição de 1988 teve então, esta finalidade. De acordo com Draibe (1993), no que se refere as suas características, as modificações da constituição pareceram em um primeiro !O momento, apresentar um movimento do padrão de proteção social do tipo MeritocráticoParticularista para um com caráter mais universal e igualitário do tipo InstitucionalRedistributivo. Como coloca a autora ''vistas em conjunto, as inovações introduzidas sugerem um adensamento do caráter redistributivista das políticas sociais, assim como de uma maior responsabilidade pública na sua regulação, produção e operação. Ou seja, a ampliação e extensão dos direitos sociais, a universalização do acesso e a expansão da cobertura, um certo afrouxamento do vínculo contributivo como princípio estruturante do sistema, a concepção de seguridade social como fonna mais abrangente de proteção, a recuperação e redefinição de patamares mínimos dos valores dos beneficios sociais e, enfim, um maior comprometimento do Estado e da sociedade no financiamento de todo o sistema" (Draibe, 1993). Dessa forma, quando se observa a Seguridade Social (áreas previdenciária, de saúde e assistência social), com a redefinição dos planos de beneficios houve avanços quanto à universalidade da cobertura e do atendimento; uniformidade e equivalência dos beneficios e serviços para o conjunto da população; democratização e descentralização da gestão, maior participação da população, entre outros. Na área da saúde foi garantido acesso igualitário para toda população, com a criação do SUS - Sistema Unificado de Saúde - uma rede integrada, descentralizada, regionalizada e hierarquizada. Quanto à assistência social, tem-se a instituição do direito à proteção da família, maternidade, inf'ancia, adolescência e velhice, e beneficio de um salário aos idosos e deficientes. Em relação à previdência o maior avanço foi aquele que igualou no plano de beneficios os trabalhadores rurais e urbanos. E no que diz respeito à área educacional, a inovação foi a garantia de creche e pré-escola como um direito da criança. Nos anos 90, as principais transformações das áreas sociais foram a criação do Ministério da Ação Social, que agregou todos os programas e instituições assistenciais (LBA, CBIA, Habitação), a junção das áreas do trabalho e da previdência social no Ministério do Trabalho e da Previdência e a junção do INAMPS (medicina previdenciária) com o Ministério da Saúde. 11 1.4 Resumo dos principais programas sociais 1.4.1 A política educacional O ministério da Educação e Saúde foi criado em 1930. A extensão da escolaridade básica obrigatória e gratuita para 8 anos se deu somente no começo de 70 com a reforma educacional. O ensino público brasileiro é gratuito em todos os níveis escolares. Porém, muitas vezes de baixa qualidade (com exceção do nível superior) e insuficiente, o que favoreceu, com o passar dos anos, à multiplicação de instituições privadas, já que o setor privado é livre. 1.4.2 Previdência Social O sistema público de previdência social começou a ser montado na década de 30, com a criação dos Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPS), que cobria riscos relacionados à perda de capacidade de trabalho, e organizava a prestação de serviços de assistência médica. Em 1977, este sistema sofre reestruturação, com a criação do Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social - SINPAS - gerido por um novo ministério e composto por sete unidades entre as quais as mais importantes são o INPS e o INAMPS. Esta enorme estrutura estatal, ao final dos anos 70, operava recursos da ordem de 4% do PIB. Em 1991, ocorreu uma reforma administrativa que reorganizou este sistema, separando a área médica, integrando ao Ministério da Saúde (SUS) e juntando o INSS, ao novo ministério do trabalho e previdência social. Até os anos 70, apenas trabalhadores urbanos eram beneficiados com seguros previdenciários, quando então, em 1971, cria-se o FUNRURAL, beneficios para trabalhadores rurais. Empregados domésticos e autônomos são incorporados em 1972 e 1973 respectivamente. Até os anos 80, não havia nenhum plano de seguro-desemprego, que foi introduzido na seguridade social brasileira com a Constituição de 1988. O critério básico de elegibilidade é a vinculação do trabalhador ao mercado formal, com a comprovação de 15 meses de trabalho nos últimos 2 anos. 12 Até 1988, tinham direito à aposentadoria homens a partir de 70 anos e mulheres a partir de 65, quando então, a Constituição de 1988 baixou estas idades para 65 e 60 anos respectivamente. Há também a aposentadoria por tempo de serviço, homens que trabalharam por 35 anos e mulheres por 30 anos também têm direito aos beneficios. 1.4.3 A política da saúde O Ministério da Educação e Saúde foi criado em 1930. Organizam-se assim, duas estruturas voltadas à área de saúde; a de saúde pública, desenvolvida pelo Ministério através de Campanhas Nacionais, e outra de seguro-saúde, realizada pelos serviços médicos dos IAPS. O SUS foi criado pela Constituição de 1988, reforçando assim, o plano de medicina curativa, em detrimento da medicina preventiva. Assim, a universalização dos serviços, sem a distinção entre segurados e não-segurados, para fins de atenção médica, só se efetiva realmente ao longo dos anos 80. Com a implantação do SUS, nos anos 80, ocorre a descentralização do sistema, com tendência municipalizadora. Antes, a centralização de recursos pelo INAMPS e o pelo ministério de previdência e assistência social fazia com que todo poder decisório concentra-se em poder da União. 1.4.4 A política assistencial e os programas de alimentação e nutrição Os programas assistencialistas no Brasil se deram através de ações nos três níveis de governo, de forma esporádica e emergencial. A LBA - Legião Brasileira de Assistência (1942) - a partir da década de 70 passou a integrar o Sistema de Previdência e Assistência Social. Os programas de assistência são destinados principalmente às crianças e às mães, idosos e deficientes, e população de baixa renda também. Os programas assistenciais em sua maioria não estão condicionados à contribuição prévia; ao contrário, são dirigidos para a população necessitada, mas que em geral envolvem um teto de renda, que em geral foi estabelecido em 2 salários mínimos de renda familiar como limite para se ter acesso aos programas. 13 2. A estratégia de desenvolvimento social Este capítulo tem como objetivo apresentar as políticas, os programas e as ações sociais propostas pelo governo Fernando Henrique Cardoso, com a finalidade de promover, consolidar ou garantir direitos sociais básicos e a igualdade de oportunidades para a população. A política social do Presidente Fernando Henrique Cardoso foi baseada na socialdemocracia a qual tinha como objetivo caminhar na direção dos ideais de urna sociedade de bem-estar. Consciente de que as condições sociais do momento eram adversas - grande quantidade de brasileiros vivendo em situação de extrema pobreza e indigência e desigualdade de renda atingindo patamares altamente elevados - foi considerado necessário promover uma maior integração entres as políticas do governo e desenvolver alguns subconjuntos de ações, algumas das quais só teriam seus beneficios colhidos no médio e longo prazo. Assim, as políticas propostas por Fernando Henrique Cardoso incluiriam um conjunto amplo, heterogêneo e complexo de políticas específicas, ações e iniciativas. Porém, sabe-se que algumas condições eram necessárias, porém não suficientes para a garantia de um desenvolvimento social sustentado. No que diz respeito às condições necessárias, era fundamental assegurar a estabilidade macroeconômica, realizar a reforma do Estado (administrativa, fiscal e tributária) e retomar, sob as novas condições de abertura da economia e elevada competição, o crescimento econômico. A estratégia de desenvolvimento social foi elaborada da seguinte maneira; 1. Foco das ações nos serviços sociais básicos de vocação universal: educação, saúde, previdência social, e saneamento básico, trabalho e assistência social. O governo FHC comprometeu-se a reestruturar e a reformar esses setores visando à eliminação dos desperdícios, o aumento da eficiência, a descentralização, universalização, melhoria da qualidade, e por fim a melhoria dos impactos redistributivos. 14 2. Incentivo ao aumento da quantidade e qualidade de oportunidade para a geração de empregos e renda. 3. Implementação de ações prioritárias tais como, para acelerar o processo de Reforma Agrária, melhorar o ensino fundamental, e reduzir a mortalidade infantil 4. Desenvolver um novo mecanismo de coordenação de políticas focalizadas de combate à fome e à miséria e de mobilização, participação e parcerias com a sociedade civil em suas diversas organizações, mobilizando empresas, universidades, igrejas, sindicatos, etc. Assim, os princípios nos quais foi baseada a estratégia de desenvolvimento podemos destacar: universalidade, solidariedade e igualdade de oportunidade; participação; descentralização e parcerias. Este capítulo irá mostrar cada um dos itens acima mencionados de forma detalhada conforme proposto pelo governo FHC. CONDIÇÕES NECESSÁRIAS Estabilidade macroeconômica O novo plano de estabilização monetária, adotado a partir de 1994- o Plano Real- teve sem sombra dúvida um grande êxito no que diz respeito à estabilidade dos preços. Porém, esta não deve ser encarada corno um fim em si mesma, mas sim como uma condição necessária, que trás beneficios tais corno transparência de custos para as empresas, maiores rendimentos em termos reais para os trabalhadores, eliminação do imposto inflacionário, entre outros. Portanto, FHC enfatizou a necessidade da consolidação do Plano Real. Para o crescimento econômico e conseqüentemente a geração de empregos é necessária a estabilidade de preços. Para o médio e longo prazos, são obtidos beneficios como a eliminação das incertezas, ambientes propícios a novas inversões, alargamento de mercado e, portanto, rompimento do círculo vicioso de estagnação, que tanto pune o Brasil nos últimos anos, cabendo ainda ressaltar seus efeitos redistributivos. 15 Reforma do Estado As reformas do Estado sugeridas tinham como objetivo dotar o país de ambiente institucional que favoreça o crescimento econômico sustentado, sem pressão inflacionária e ainda pennita que o Estado desempenhe melhor as suas funções, reorientando-as para atividades prioritárias. O modelo de crescimento no Brasil foi apoiado no Estado como promotor direto da industrialização e do desenvolvimento econômico através de empresas estatais, principalmente em áreas como de infra-estrutura. No entanto, existia uma negligência em relação aos gastos na área social. Esse descaso, como visto no capítulo anterior agravou a situação de profunda desigualdade social, com o próprio Estado gastando mais com as can1adas menos necessitadas. Isso por si só já justificaria as refonnas necessárias. Além do mais, o governo ainda considerou necessário um ciclo de privatizações, visando o alívio fiscal, para promover da melhor maneira possível políticas sociais e políticas de comércio exterior. Assim, o redirecionamento dos recursos para áreas sociais, e não mais às áreas diretamente produtiva, consolidaria ainda mais o Estado como um agente redistributivo. E por fim, mudanças no financiamento do gasto público (mais especificamente urna refonna fiscal e tributária) são necessárias para instaurar uma nova solidariedade tributária, eliminar a fraude e a sonegação fiscal e melhorar a gestão do gasto, e portanto assim aumentar a eficiência e eficácia das políticas públicas. Descentralização, participação e alianças A descentralização é um ponto estratégico dado o tamanho e a heterogeneidade do país. De acordo com a estratégia de desenvolvimento social de FHC o Estado deve usar seu poder de regulamentação e sinalização, e a sua capacidade de investir para viabilizar os investimentos de outras instituições (estados, municípios, empresas privadas, comunidades) que considere desejáveis. Isso aproxima o poder público da população passando a ser ativa na concepção e execução na tomada das decisões. O planejamento participativo juntamente com a tomada de decisões descentralizada é uma forma eficiente de gerir o gasto público, o que pressupõe também a descentralização de 16 encargos. A proximidade com o público-alvo permite, com mmor segurança, que as diversas esferas de governo participem da oferta dos serviços, evitando possíveis desequilíbrios entre oferta e demanda, causados por desconhecimento das necessidades da população. Esse caminho a descentralização foi iniciado com a Constituição de 1988. Estados e Municípios passaram a receber parte da receita da União, porém a redistribuição de receitas que ocorreu, não correspondeu a uma redistribuição de encargos, explicando assim a insuficiência de oferta em alguns setores sociais, como a saúde, tornando-se necessário uma ampla organização do Governo Federal e demais esferas, para que não houvesse uma descontinuidade na prestação de serviços. Ademais, regras para o endividamento devem ser estabelecidas, para que não fiquem prejudicadas futuras administrações. Também é necessário evitar a duplicidade de ações das esferas de governo, extinguindo alguns órgãos federais e procurando eliminar programações orçamentárias em áreas nas quais a presença da União tornou-se inadequada, e também é necessário regularizar e dar transparência para as transferências voluntárias, principalmente aos setores de educação e saúde. Além disso, algumas desigualdades inter e intra-regionais demandariam, mesmo que temporariamente, uma transferência diferenciada de encargos, de acordo com a capacidade financeira e administrativa das unidades. Assim, caso um município não dispusesse condições para prestar um serviço tipicamente municipal, outras esferas poderiam auxiliálo, mas algumas medidas corretivas deveriam ser postas em prática, para que tal situação não se perpetuasse. A reforma funcional do Estado que redefine e redistribuí entre estados e municípios as funções do setor público, aumenta a participação cidadã nos processos decisórios e é condição necessária à refonna da administração pública visando à execução de um conjunto eficiente de políticas de proteção social. Essas reformas têm o objetivo de fortalecer as estruturas estatais necessárias, eliminar as obsoletas e permitir a consolidação de um novo federalismo, condição indispensável para o bom funcionamento de um sistema eficiente, moderno e democrático de proteção social. 17 PROGRAMAS BÁSICOS Como parte de sua estratégia de desenvolvimento social, foi selecionado um conjunto de programas e ações prioritárias, por sua importância e impacto imediato nas condições de vida da população, especialmente, das camadas mais pobres. A Câmara de Política Social da Casa Civil da Presidência da República terá a responsabilidade de assegurar as condições necessárias para a execução desses programas, tanto em relação à garantia do fluxo de financiamento e à qualidade do gerenciamento, quanto no acompanhamento, avaliação e revisão das ações propostas, quando o resultado for considerado insatisfatório. A ação social dos diversos ministérios foi agrupada com base em quatro critérios principais: programas voltados a alterar o modo rotineiro de funcionamento de serviços sociais básicos; programas para enfrentar situações graves e emergenciais de segmentos sociais em situação de extrema dificuldade; ações específicas destinadas a reduzir ou eliminar a fome; e programas que envolveriam tarefas urgentes ditadas pelo novo padrão de crescimento econômico e sua exigência de aumentar a empregabilidade de importantes segmentos da força de trabalho. 2.2.1 Saúde No momento que FHC assume a presidência o quadro da saúde não era dos melhores; por exemplo, a mortalidade infantil atingia, especialmente em regiões mais pobres como as do Nordeste, patamares muito altos. Os serviços relacionados à área de saúde do setor público, geralmente são insuficientes, incapazes e não dispõem de recursos suficientes para suprir as necessidades de um atendimento, que deve ser igual, universal e integral. De acordo com as expectativas do governo federal para que houvesse um progressivo aperfeiçoamento do SUS, era necessária a ação conjunta entre as três esferas de governo; federal, estadual e municipal, ou seja, para uma melhor eficiência dos serviços de saúde era necessário melhorar a gestão através da descentralização, municipalização, participação social, combate às fraudes e irregularidades e o adequado financiamento do sistema. 18 Para área da saúde, dois objetivos fundamentais foram enfatizados; a melhoria do quadro sanitário, com ênfase na redução da taxa de mortalidade infantil, e a reorganização políticoinstitucional do setor. Quanto à área sanitária, seria dado maior atenção ao controle de doenças transmissíveis, à prevenção e recuperação da desnutrição, às ações de atenção integral à saúde da mulher e da criança e o acesso a serviços de saneamento básico. Para a redução da mortalidade infantil, metas como ampliação da cobertura vacinal (vacina tríplice, BCG, antipólio e anti-sarampo); expansão do Programa de Agentes Comunitários de Saúde; implementação das ações dos Programas de Assistência Integral à Saúde da Mulher - PAISM e da Criança - PAISC; fortalecimento das ações de prevenção e recuperação da desnutrição de gestantes e crianças; e melhorias nas condições de acesso a serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário seriam priorizadas. No que diz respeito à reorganização político-institucional do setor o objetivo era ampliar a capacidade e eficiência da cobertura dos serviços, caminhando para a atuação nos campos da assistência individual e coletiva, o das intervenções ambientais e o das políticas extrasetoriais. A descentralização da gestão dos serviços, o fortalecimento do papel regulador e redistributivo do nível federal, J·untamente ao esforço de Reforma do Estado, senam requisitos indispensáveis para promover a reorganização do Ministério da Saúde, ajustando-o às suas funções no sistema, com aprimoramento da regulação sobre os sistemas público e privado de atenção à saúde, modernização da Vigilância Sanitária e apoio a estados e municípios mediante cooperação técnica e financeira. "O objetivo é agilizar a reorganização do setor, acelerando o processo de descentralização, com apoio aos estados e municípios na definição de modelos mais eficientes de gestão e estimulando a adoção de fom1a mais avançada de gestão municipal e a constituição de consórcios municipais. Nessa direção, serão implementadas ações visando reforçar os processos de planejamento, programação, controle e avaliação. A implantação de centros de apuração de custos e a melhoria do sistema de informações, em todas as esferas de governo, serão instrumentos importantes nesse processo. Neste processo, uma questão crucial se refere ao financiamento l9 do SUS. É fundamental a garantia da estabilidade dos recursos federais, que permanecerão como principal fonte de custeio no longo prazo". Assim, as principais metas para a área da saúde foram: * Redução da mortalidade infantil e melhoria da qualidade da assistência à saúde da mulher, principalmente em relação ao pré~natal, parto e pós-parto, planejamento familiar e controle das doenças sexualmente transmissíveis; *Reforma do Setor Saúde- REFORSUS - com a ampliação da capacidade e da eficiência do SUS pela recuperação física da rede existente; *Controle da Febre Amarela e do Dengue no Brasil; *Eliminação da Hanseniase, reduzindo os números para menos de um caso por 10.000 habitantes até o ano 2.000; e * Modernização da Vigilância Sanitária, através do fortalecimento do controle de ações sanitárias, principalmente as relativas ao uso de agentes químicos fomentando a vigilância sanitária e epidemiológica nas áreas de risco. 2.2.2 Educação Os principais problemas identificados na educação brasileira eram a baixa escolarização, baixa valorização do magistério em termos de qualificação e remuneração, existência de mecanismos de gestão e financiamento de programas e projetos educacionais que favorecem práticas clientelistas; e elevados custos das escolas técnicas e de ensino superior, que, via de regra, estariam atendendo às camadas privilegiadas da população. Visando um desenvolvimento mais rápido e uma redução dos desequilíbrios sociaiS a educação básica foi um dos pontos mais graves a serem enfrentados. O sistema educacional encontrava-se altamente deficiente, e a qualidade do ensino também deixava a desejar. Era necessário, então, aumentar o subsídio de recursos públicos à educação fundamental e valorizar os docentes. Dessa forma, também era necessário deixar mais claro na constituição as responsabilidades dos estados e municípios, bem corno garantir uma distribuição mais equitativa dos recursos disponíveis. 20 Entre as principais propostas para a educação tem-se: 1. Plano de Valorização do Ensino Fundamental e do Magistério, com o obJ. etivo de melhorar a qualidade do ensino fundamental e a valorizar o magistério, beneficiando regiões mais necessitadas do país e permitindo, de forma gradual, o aumento da remuneração dos professores. Para isso haveria um Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Professor, que através da criação de um fundo contábil que vincularia 15% da arrecadação de estados e municípios ao ensino fundamental, redistribuiria os recursos do fundo entre o Estado e seus municípios e garantiria através Governo Federal um gasto mínimo por aluno quando a redistribuição dos recursos não atingisse um mínimo; e ainda vincularia 60% desses recursos ao pagamento do professor. A valorização do professor se daria através de apoio aos sistemas de ensino na reorganização dos estatutos e na implementação de mn novo plano de carreira e salários. Ainda sobre o Ensino Fundamental foram propostos os programas de Educação à Distância: TV Escola e Treinamento de Professor para melhorar a fonnação dos professores e fornecer ferramentas para maior qualificação do conteúdo das aulas através de uma rede televisiva; Programa Nacional do Livro Didático - PNLD para garanti a distribuição de livros de 1" a 8" série; Programa de Repasse de Recursos para a Manutenção das Escolas Públicas do Ensino Fundamental com objetivo de transferir recursos para as escolas das redes estaduais e municipais para despesas de manutenção da escola, aquisição de material didático e pedagógico; Avaliação Educacional vísando desenvolver instrumentos que monitorem a qualidade, igualdade e eficiência da educação brasileira; e Definição dos Conteúdos Curriculares Nacionais de la a 4a série introduzindo parâmetros curriculares nacionais, para o estabelecimento de uma política de ensino e a reestruturação de propostas educacionais que preservem as especificidades locais. 2. Alfabetização para Todos. Este programa teria como objetivo a alfabetização de cidadãos entre 14 e 55 anos, com a ajuda dos estados, municípios, ONGs e iniciativa privada. 21 3. Democratização e Expansão do Ensino Profissiona~ com o objetivo de aumentar as oportunidades de educação, otimizando a utilização da infra-estrutura existente para atender à diversidade de demanda de trabalhadores e empregadores. 2.2.3 Previdência De acordo com FHC, a previdência social é o eixo do sistema de proteção social pelo volume de recursos movimentados e pelo número de pessoas que ampara Alguns fatores conjunturais, no entanto, têm contribuído para uma crise nesse sistema; redução do nível de atividade econômica, aumento do desemprego e grande número de trabalhadores no mercado infmmal de trabalho. Há também, contribuindo para a crise nesse sistema, fatores como fraudes, sonegações, desvios de recursos, burocratização e má qualidade dos serviços, que somados às mudanças demográficas como o aumento da longevidade, tendem a aumentar cada vez mais as despesas, levando a quase uma insustentável situação de dois contribuintes para um beneficiário. Diante desses problemas, esse sistema que tem como fonte de financiamento no mercado formal de trabalho, tem que passar por uma reforma estrutural que assegure sua viabilidade econômico-financeira,avance na modernização, informatização, democratização e profissionalização de sua gestão, respeitando os direitos adquiridos. Entre as principais proposta tem~se: * Acelerar o processo de implantação do Cadastro Nacional de Informações Sociais, com um levantamento completo dos segurados e contribuintes; bem corno informatizar, em rede, os postos de beneficios e as gerências de arrecadação e fiscalização; * Introduzir critérios mais claros de igualdade e justiça social, tanto na incidência dos encargos, quanto nos critérios de cálculo e concessão de beneficios, respeitando os direitos adquiridos; * Criar planos complementares e facultativos de previdência, custeados por contribuintes adicionais e sob o regime de capitalização. 22 2.2;4 Assistência Social, Alimentação e Nutrição Entre os programas propostos para a Assistência Social destacam-se: - Renda Mínima para Idosos e Deficientes: salário-mínimo mensal, para melhoria das condições de vida de pessoas de 70 anos ou mais e dos portadores de deficiência severa ou profunda pertencentes a famílias com renda mensal "per capita" de até um salário mínimo. - Brasil Criança - Cidadã: atendimento sócio-educativo de crianças e adolescentes, na faixa de 7 a 14 anos; desenvolvimento de atividades de iniciação profissional, propiciando ao adolescente, a partir de 12 anos, a aquisição de conhecimentos sobre o mundo do trabalho; desenvolvimento de ações de apoio e orientação familiar e erradicação do trabalho infantil por meio da concessão de uma bolsa-cidadania para a família matricular e manter as crianças na escola. Quanto à alimentação e nutrição, os principais programas de governo foram: - Programa Nacional de Alimentação Escolar , com o objetivo de garantir urna refeição diária (suplementação alimentar) durante 180 dias letivos a escolares de primeiro grau da rede pública; - Programa de Distribuição Emergencial de Alimentos - PRODEA, com o objetivo de promover a distribuição emergencial de gêneros de primeira necessidade, a populações carentes 'nos municípios dos bolsões de pobreza selecionados pelo Comunidade Solidária, municípios em estado de emergência e acampamentos dos trabalhadores rurais sem-terra. Dessa forma, a merenda escolar contribui de duas formas, de um lado supre essa deficiência, e por outro ao tornar-se um estímulo para a permanência da criança na escola, uma importante fonte protéico-calórica que permite melhor desempenho por parte do aluno. 2.2.5 Trabalho, emprego e renda A preocupação do governo na área de geração de Oportunidades de Trabalho e Renda seria centrada em dois eixos: o reordenamento do marco institucional que regula as relações capital-trabalho e políticas específicas na promoção de emprego e assistência ao trabalhador desempregado. 23 Para a reforma e o reordenamento institucional na área do trabalho seria necessário instituir o contrato coletivo como núcleo central da relação capital-trabalho de forma a ampliar a negociação na resolução dos conflitos de interesses; reestruturar a organização sindical e o seu mecanismo de financiamento, objetivando o fortalecimento e a democratização das representações dos trabalhadores e dos empregadores; e modernizar os institutos trabalhistas por meio da reforma da CLT. Esta reforma permitiria induzir o crescimento do nível de emprego formal, aumentando o número de trabalhadores protegidos pelo sistema de seguridade social. A política de emprego e de assistência ao trabalhador desempregado, custeada com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador- FAT, seria aperfeiçoada pela integração das ações de qualificação profissional e de intermediação de mão-de-obra com o provimento do seguro-desemprego, que beneficia o trabalhador do setor fonnal, despedido sem justa causa. Estas atividades, se desenvolveram de forma desarticulada, gerando baixa eficiência e permitindo o surgimento de fraudes. A proposta, também deveria aperfeiçoar as ações de fomento às microempresas e pequenos empreendimentos. As atividades de fomento, desenvolvidas por meio do PROGER, são orientadas para o financiamento de pequenos empreendimentos e de microempresas e para assegurar a prestação de assistência técnico-gerencial aos projetos. A reduçã\) da pobreza e da desigualdade seria alcançada mediante a geração de empregos e de trabalho e a ampliação de oportunidades de renda. A existência de um tratamento diferenciado e simplificado para a pequena produção, tanto urbana quanto rural, facilitaria o acesso desses grupos ao crédito. Nesse sentido, seriam aperfeiçoados programas específicos de geração de emprego e renda para as áreas urbana e rural. Entre eles tem-se o Proger Rural com o objetivo de gerar emprego e renda por meio do apoio aos pequenos e microempreendedores rurais, suas cooperativas e formas associativas de produção e aos trabalhadores autônomos, no acesso ao crédito junto ao Banco do Brasil e ao Banco do Nordeste do Brasil; Proger Urbano visando a geração de emprego e renda por meio do apoio aos pequenos e microempreendedores urbanos, suas cooperativas e formas associativas de produção e às iniciativas do setor informal, no acesso ao crédito 24 junto ao Banco do Brasil e Banco do Nordeste do Brasil; Proemprego para apoiar projetos de investimento em infra-estrutura, visando ao aumento de oportunidades e emprego e à melhoria das condições de vida da população, com a aplicação de recursos nos seguintes segmentos: transport~ coletivo de massa, saneamento ambiental, ferrovias, hidrovias, portos e infra-estrutura turística; Sistema Nacional de Emprego - SJNE visando prestar atendimento integrado ao trabalhador nas áreas de intermediação de mão-de-obra, qualificação profissional e seguro-desemprego; Abono Salarial para assegurar a destinação de recursos do PIS/PASEP para o pagamento do Abono Salarial aos trabalhadores de baixa renda e Programa de Crédito Produtivo Popular com os objetivos de viabilizar novos mecanismos de financiamento, por meio do BNDES, para geração de ocupação e renda que atendam à população de baixa renda, dando acesso, inclusive, aos trabalhadores do setor infom1al, seja para o auto-emprego, seja para formação de cooperativas de trabalho, de fonna a Criar condições de sobrevivência, crescimento e formalização desses negócios, criar alternativas de investimentos para a geração de empregos, notadamente nas microempresas e elevar a produtividade dos empreendimentos apoiados, por meio do incentivo ao investimento fixo associado à capacitação técnico-gerencial do empreendedor, de fonna a minimizar o risco do negócio, possibilitar seu crescimento e estimular a formalização da microempresa. Observou-se que a população economicamente ativa do Brasil tinha em média, apenas quatro aJ;J,os de estudo. Portanto, a educação básica e profissional eram cada vez mais, fatores determinantes de empregabilidade, ou seja, de capacidade não só de se obter um emprego, mas de se manter em um mercado de trabalho altamente competitivo e seletivo. Para tanto foram propostos o Programa Nacional de Qualificação Profissional para desenvolver ações de qualificação e requalificação profissional, em escala crescente e contínua, beneficiando, prioritariamente, trabalhadores de baixa escolaridade, desempregados, empregados afetados por processo de reestruturação produtiva e outros contingentes efetiva ou potencialmente excluídos do mercado de trabalho, sempre com vistas à sua empregabilidade, e o Protocolo de Emprego para incentivar as empresas em processo de reestruturação produtiva ou privatização a investir na qualificação e treinamento de trabalhadores que poderão vir a ser dispensados nesse processo, por meio de financiamento junto ao BNDES com juros mais baixos e maior prazo de carência, melhorar 25 a qualidade dos empregos, por mero de programas de investimentos na qualificação e treinamento dos trabalhadores, bem como na criação de estímulos a estratégias empresariais de valorização do trabalho, quando da concessão de financiamentos e aprimorar as relações entre o capital e o trabalho, mediante a intensificação da ação governamental em atividades que promovam a modernização do aparato normativo que regula estas relações. 2.2.6 Reforma Agrária O padrão de crescimento econômico observado nas últimas décadas foi incapaz de reduzir as desigualdades de renda, deixando grupos sociais rurais à margem de seus beneficios. Entre esses grupos, estão massas de trabalhadores rurais sem-terra e microproprietários rurais empobrecidos. Isso fez com que a questão agrária brasileira se transformasse em pennanente foco de tensões sociais, necessitando de ações urgentes de democratização do acesso à terra. Dessa forma, além de se promover políticas de reforma agrária, deve-se também privilegiar a agricultura de base familiar, como estratégia na garantia de geração de empregos e aumento da renda para trabalhadores do campo. O programa sugerido para intensificar o processo de Reforma Agrária foi: Programa de Assentamento de Trabalhadores Rurais: cujo objetivo era o assentamento progressivo de famílias de agricultores sem-terra, identificadas, cadastradas e selecionadas ' nas diversas unidades da federação. 26 3. As políticas sociais 1995/2002 3.1 Resultados por área de atuação 3.1.1 Saúde Os resultados mais positivos obtidos na área da saúde foram os programas relacionados ao combate à AIDS - que se tornaram exemplos mundial e a inovação introduzida pelos medicamentos genéricos. A vali ando-se as condições de saúde da população brasileira durante os govemos FHC podemos observar um avanço conseguido em relação à mortalidade infantil e à expectativa de vida dos brasileiros em todas as regiões. No entanto, os avanços também são resultados de políticas de longo prazo, tais como fatores demográficos, sociais, econômicos e sanitários. Assim, juntamente às políticas adotas durante a era FHC, esses fatores também tiveram sua margem de participação. Tabela 1 -Taxa de mortalidade infantil Brasil e grandes regiões 1990/1999 Região 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 BRASIL 49,4 47,0 44,8 42,8 41,0 39,4 38,0 37,4 33,1 31,8 Norte 44,6 42,3 40,4 38,9 37,7 36,8 36,1 36,0 34,6 33,9 Nordeste 74,3 71,2 68,4 65,9 63,8 62,0 60,4 58,3 53,5 52,4 Sudeste ,,, 33,6 3\,6 30,0 28,6 27,5 26,6 25,8 26,1 22,1 20,6 27,4 25,9 24,9 24,1 23,5 23,1 22,8 24,0 18,7 17,2 Centro-Oeste 31,2 29,7 28,6 27,6 26,9 26,3 25,8 27,1 25,6 25,1 1999 Fonte: MSJSElpatasus e RJPSAIIDB 2001. Ao final da década de 90, a mortalidade infantil era de aproximadamente 30 em mil, uma taxa ainda elevada a qual, portanto, requer a atuação de políticas diferenciadas por região geográfica. Isso porque, as causas de mortalidade infantil entre as regiões brasileiras são diferentes; enquanto nas regiões Norte e Nordeste predominam aquelas que podem ser reduzidas por ações básicas de saúde e de saneamento, nas regiões Sudeste, Sul e CentroOeste, onde a mortalidade infantil já apresenta-se mais baixa, a redução acaba sendo mais dependente de melhoria das condições de assistências ao pré-natal, ao parto e ao recémnascido. Considerando os avanços por regiões, a Região Nordeste foi a que apresentou os melhores resultados. Comparando-se resultados obtidos entre os anos de 1990 e 1999, é a primeira 27 vez que a região apresenta reduções equivalentes à média nacional, pem1itindo portanto que as desigualdades inter-regionais possam vir a diminuir progressivamente. Esse resultado positivo é atribuído principalmente à expansão da cobertura por serviços de saúde, dada a efetividade das ações de imunização, assistência à gestante e de acompanhamento do crescimento e desenvolvimento das crianças. Aqui sim, as medidas de saúde, principalmente as do Sistema Único de Saúde (SUS), tiveram importância para as reduções da taxa de mortalidade infantil, uma vez que o aumento da cobertura com ações de saneamento básico foi pouco significativo. Quanto à expectativa média de vida dos brasileiros, de acordo com dados do IBGE, a esperança de vida ao nascer da população brasileira em 2002 era de 69,4 anos. Em relação ao início da década houve um aumento médio de 3 anos. A população da região Nordeste obteve valores superiores à média nacional. A população da região Sul, obteve um incremento menor no mesmo período. Por isso, o diferencial da esperança de vida entre essas regiões diminuiu. Tabela 2- Esperança de vida ao nascer Brasil, 1991-2002 Região 1991 2002 Região Norte 65,49 69,04 Região Nordeste 62,71 66,38 Região Sudeste 67,61 69,96 Região Sul 68,79 71,46 Regiil.o Centro-Oeste 66,97 69,89 Total 66,03 69,04 Fonte: IBGE/Contagom populacional e projeções demográficos pre lin1inares As causas dos óbitos da população brasileira por doenças infecciosas e parasitárias, muitas das quais são evitáveis ou controláveis por medidas e recursos associados à melhoria das condições ambientais e sociais, em 2001 representavam menos de 6% do total de mortes dos brasileiros, e doenças cardiovasculares eram mais de 30%, o que portanto, dificulta a possibilidades de ganhos contínuos na esperança de vida da população. Outras causas, que dificultam ganhos na esperança de vida são causas externas (acidentes, agressões, etc) e neoplasias. Quanto ao controle de enfermidades, os melhores resultados foram conseguidos em relação às doenças controláveis por vacinas, tais como Sarampo e também a Aids. 28 Tabela 3- Mortalidade proporcional por grupos de causas Ao o Doenças infecciosas e parasitárias 1990 2001 Neoplasias Doen~as do aparelho circulatório Doenças do aparelho respiratório Afccções originadas no período perinatal Causas externas Demais causas definidas Total 6,23 12,42 34,34 10,59 5,72 15,05 15,64 100 5,45 15,18 31,91 10,94 4,15 14,64 17,73 100 Fonte: MS/SEJDatasllS e R!PSA/IDB 2001 No Brasil, em 1997 houve 53.664 casos confirmados de sarampo o que acabou por intensificar o programa de vacinação em massa de todas as crianças entre 9 meses e 14 anos que havia sido iniciado em 1992. O programa tomou-se mais efetivo neste período, através das ações de vigilância epidemiológica e das campanhas de vacinação, o que portanto, fez com que desde 2000 o sarampo tenha sido praticamente eiTadicado do BrasiL Tabela 4- Incidência de sarampo- casos confirmados por Ano 1996-2002 Ano Casos confirmados 1997 53664 1998 2781 1999 908 2000 36 2001 Fonte' MSISE!Datasu< e RlPSA/IDB 2001. Quanto à Aids, as ações de prevenção também foram altamente eficazes. O programa brasileiro tem sido citado muitas vezes como exemplo mundial de combate a Aids. Na metade da década de 1990, uma das principais causas de óbito em indivíduos de 20 a 49 anos foi a Aids. Por causa dos programas de combate a Aids, e medidas de prevenção e assistênCia, através da distribuição gratuita de anti-retrovirais, implementados efetivamente no governo FHC, a taxa de incidência apresenta tendência declinante e a sobrevida de adultos com Aids aumentou em relação à década de 1980. Tabela 5- Taxa de incidência de AIDS -casos novos Aoo Menor de 1 ano 1998 402 1999 382 245 2000 2001 2002 188 104 la4anas 493 424 406 333 306 5 a 12 anos 13a19anos 20 a 39 anos 40 a 59 anos 60 anos+ Totat 634 597 30185 638 615 27225 7215 6642 592 22293 171 208 570 20595 7320 471 18177 6835 215 470 410 17890 7361 210 16546 188 327 14\34 27094 25517 Fonte: MSISEJDatasu< e R1PSAIIDB 2001. 29 Não tanto animador foi o desempenho obtido no controle da epidemia da dengue e nas ações de controle da tuberculose, da hanseníase, e da malária. Por exemplo, a eliminação da hanseníase para 2000 não foi possível, muito pelo contrário, os casos cresceram. T Tabela 6- Taxa de mortalidade específica por aids Ao o Menor 13 ann< 15 a 19 ano< 20 • 29 onos 30 a 39 anos 40 a 49 anos 352 389 369 175 160 4162 6176 2867 3922 6281 2896 124 3138 4942 2359 313 296 103 84 2538 4448 2230 1999 2363 4362 2194 2000 257 93 2134 4278 2001 251 95 2125 4353 1995 1996 1997 1998 50 a 59 anos 893 921 748 60 anos e mais Tola! 412 15037 355 14924 312 11992 344 10694 377 10459 2660 718 783 889 374 10685 2638 989 428 10879 Fonte: MSISE/Dalaôus c RlPSNIDB 2001 O número de casos de malária registrou recordes com 637.474 e 615.247 casos em 1999 e 2000, respectivamente. Por isso, a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) colocou em prática em 2000, o Plano de Intensificação das Ações de Controle da Malária (PIACM), que através da descentralização e da integração das ações básicas, e melhor efetividade das ações seletivas de controle, ampliou o acesso ao diagnóstico e ao tratamento. O plano também estabelecia normas específicas voltadas à instalação de assentamentos rurais e de projetos de desenvolvimento em áreas de maior risco de transmissão. Com isso em 2001 ocorreu uma redução no número de casos - 388.807 mais ou menos 40% dos casos registrados em 1999. Tabela 7- ;raxa de detecção de hanseníase UF Total 1997 1998 1999 2000 2001 2002 44959 42055 41226 43488 35975 50930 Fonte: MSISE/Datasus e RlPSNIDB 2001. Tabela 8" Índice parasitário anual (IPA) de malária- exames positivos UF Total 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 444048 405049 501894 637474 615247 389762 349953 Fonte: MSISEJDatasus e RlPSAIIDB 2{)()1. Contribuindo também negativamente para o sucesso do controle e enfermidade, a dengue registrou números inéditos - 528.388 casos em 1999, tendo ainda ocorrido casos hemorrágicos (de alta letalidade). Assim, em 2001 foi implementado o Plano de Intensificação das Ações de Controle da Dengue (PIACD) selecionando 657 municípios prioritários para a intensificação de medidas e para a adoção de iniciativas mais eficazes. Entre as principais medidas destacam-se a intensificação das ações de combate a dengue, 30 prioridade para municípios com maior número de casos; o fortalecimento das ações de vigilância epidemiológica e entomológica para ampliar a oportunidade da resposta ao risco de surtos; a integração das ações de vigilância e de educação sanitária, com os programas Saúde da Família e de Agentes Comunitários de Saúde; e uma forte campanha de mobilização social e de informação pública para garantir a efetiva participação da população. Tabela 9" Taxa de incidência da dengue" casos novos UF 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Total 39322 104398 1658 7388 56584 137308 Fonte: MS/SE/Datasus e RlPSNIDB 2001. 183762 249239 528388 209668 239870 428117 794219 Tem sido também priorizada a melhoria na capacidade de detecção de casos de dengue hemorrágica, para que diminuam as mortes. Ainda assim, os dados não são animadores, atingindo novo record em 2002. Tabela 10" Incidência da febre hcmorrãgica do dengue tJF Total 1997 1998 1999 2000 2001 32 105 72 62 682 2002 _ 2714 Fonte: MS/SE/Datasus e RJPSA/IDB 2001. O processo de descentralização do sistema da gestão da saúde para estados e municípios, que começou a ser implantado desde o final da década de 80, apenas ganha estratégias mais efetivas com a Norma Operacional Básica NOB/SUS 1993, que estabeleceu procedimentos reguladores do processo de descentralização da gestão das ações e serviços de saüde. Ainda assim, a's mudanças mais importantes foram as decorrentes da NOB 0111996, que só começou a ser efetivamente implantada em 1998. A gestão municipal foi simplificada a atenção básica e plena do sistema municipal de saúde. Alguns municípios que não tinham condições para a gestão integral do sistema puderam ao menos administrar o nível mais básico da atenção à saúde. Alguns outros resultados favoráveis foram: l. a ampliação da descentralização de recursos, incluindo repasses automáticos, além dos recursos destinados à assistência médica, recursos destinados ao controle de doenças transmissíveis e às vigilâncias sanitária e epidemiológica; 31 CEDOC/IE 2. a criação do Piso Assistencial Básico (PAB), um valor por habitante que passou a ser transferido diretamente aos municípios habilitados e destinado ao custeio de serviços básicos de saúde; 3. a sinalização para mudança do modelo assistencial, ao intensificar o apoio para a adoção de programas Saúde da Família e Agentes Comunitários de Saúde; entre outros. Em 2000, quase todos os municípios já haviam implantado um dos dois tipos de gestão descentralizada, pem1itindo o desenvolvimento e o amadurecimento do SUS. A gestão municipal tem permitido uma melhor adequação das prioridades e necessidades dos municípios. Juntamente à municipalização da operação do Sistema de Informação de Internações Hospitalares e ao Sistema de Informação de Atendimentos Ambulatoriais pennitiu a criação de sistemas informatizados para o agendamento de internações e consultas médicas em vários municípios criando maior comodidade e presteza no acesso a esses serviços. Resultados positivos também começaram a aparecer na diminuição de internações suscetíveis de prevenção, como nos casos de doença diarréica, infecções respiratórias em crianças, em decorrência de um melhor atendimento ambulatorial. Apesar das inúmeras experiências positivas, o processo de descentralização, dada a maneira como tem sido implementado, criou problemas de eficiência, integralidade do atendimento e eqüidade na alocação de recursos e utilização dos serviços. As NOBs favoreceram sem dúvida o processo de descentralização, ao aumentar a sua velocidade, mas se por um lado possibilitaram a incorporação de um grande número de municípios ao processo, por outro devido à falta de regulação entre estados e municípios, gerou fragmentação do sistema e comprometimento da organização da atenção à saúde, com reflexos negativos sobre a continuidade e a integralidade do atendimento. Houve a retração das secretarias estaduais de Saúde no seu papel de coordenador do SUS. Municípios pequenos não foram capazes de atender, dada a falta de eficiência, falta de recursos humanos especializados e de recursos financeiros, a todas as demandas por serviços, principalmente os mais caros e complexos. Para isso foi necessário a existência de espaços supra-municipais de assistência à saúde, para enfrentar esses problemas com a 32 associação de diversos municípios oferecendo determinados serviços. No entanto, essas associações não foram capazes de resolver o problema, tomando-se instáveis e incapazes. Ainda procurando enfrentar esse problema, foi criada a Norma Operacional da Assistência Saúde (Noas/SUS - 2001), para incrementar a atenção básica e a acessibilidade a mais integral através da regionalização e a hierarquização da rede assistencial. A responsabilidade dos municípios na provisão da atenção básica foi ampliada com a criação da Gestão Plena da Atenção Básica Ampliada (Gpaba), para que todos os municípios assumissem procedimentos mínimos de menor complexidade. As regiões de saúde devem ser definidas para o planejamento da atenção à saúde. O município-sede deve ofertar, além dos procedimentos de atenção básica ampliada, um conjunto mínimo de serviços de média complexidade, como radiografia simples, ultra-sono grafia obstétrica, primeiro atendimento em clínica médica e pediatria, entre outros, para a sua população e para a de outros municípios a ele vinculado. A partir de 1996, intensificaram-se as iniciativas de reorientação do modelo assistencial através da estratégia de expansão da atenção básica da saúde, que teve nos programas Saúde da Família e Agentes Comunitários de Saúde e na instituição do Piso de Atenção Básica seus principais instrumentos. Tabela 11 -Proporção de municlpios com programa de Saúde da Famflia implantado Região 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 BRASIL 1,1 3,0 4,6 10,3 20,3 34,0 56,5 66,3 2002 75,3 N()rtc 0,5 0,8 0,8 0,7 22,5 49,7 62,4 61,0 71,9 Nurdeste 1,6 5,2 8,2 9,9 19,9 39,7 61,0 71,3 78,7 Sudeste 1,0 3,1 4,7 20,4 30,0 39,0 59,5 64,6 73,3 Sul 1,1 1,7 2,2 3,4 11,0 18,1 41,9 57,1 67,0 Ccntm-Oestc 0,2 0,2 0,5 1,8 7,6 17,5 58,5 81,2 94,0 f()n!c: MS/Secretaria de Políticas de Saúde/Departamento de Atenção Básica Tal estratégia possibilitou urna notável expansão dos serviços básicos de saúde, mas não resolveu os problemas de articulação com os demais níveis de atendimento e até mesmo entre diferentes ações que são desenvolvidas no âmbito da atenção básica. O acesso aos serviços do SUS tomou-se menos desigual entre as regiões brasileiras, embora a insuficiência de oferta, sobretudo de serviços mais complexos, ainda represente um desafio. 33 Entre 1995 e 2001, o número de consultas médicas/habitante foi igual a aproximadamente a taxa de crescimento populacional, mantendo-se estável ao longo desse período em tomo de duas consultas por habitante/ano. Tabela 12 *Número de consultas médicas (SUS) por habitante UF Total 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2,21 2,21 2,26 2,21 2,29 Fonte: MS/Secretaria de Politicas de Saildc/Depanamento de Atenção Bãsica 2,33 2,44 2,55 Em relação ao número de internações hospitalares por 100 mil habitantes/ano, entre 1991 e 2001, houve um declínio e uma convergência regionais desse indicador. Tabela 13- Número de interna~tões hosEitalares (SUS) Qor habitante Região 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Região Norte 6,81 7,27 7,01 7,13 7,67 7,15 6,87 6,81 Nordeste 8,21 7,92 7,54 7,61 7,76 7,56 7,32 7,2 7,\8 6,71 6,47 6,45 6,52 6,24 6,02 5,91 Região Sul 8,16 8,16 7,98 7,98 8,16 7,92 7,75 7,53 Região Centro-Oeste 7,06 7,31 7,16 7,55 7,81 7,71 7,71 7,73 8,12 7,6 7,37 7,24 7,29 Fome: MS/Secretaria de Potiticas de Saüde/Departanl<':nto de Atenção Básica 7 03 6,82 6,71 Região Região Sudeste Total A expansão do número dos leitos hospitalares do SUS fez-se acompanhada de uma descentralização da estrutura assistencial para o nível municipal de governo. Tabela 14 * Expansilo de leitos QÚb\icos por ano 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Total 112175 108421 110663 109200 114629 Fonte: MS/Secretaria de Políticas de SaUde/DeparUnrento de Atençlo Básica 1993 1994 1995 1996 114374 118003 119245 128781 127936 Quanto ao esforço de descentralização, o percentual de leitos em estabelecimentos municipais em relação ao total de leitos públicos passou de 26,5%, em 1992, para 43,4%), em 1999. Metade das internações nos hospitais públicos em 1999 foi efetuada por estabelecimentos municipais. Ações de regulação do poder público avançaram em áreas antes não abrangidas, primeiramente, por meio da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), criada para atuar e controlar o segmento privado de planos e seguros de saúde e, segundo, com a consolidação da autonomia institucional do setor de vigilância sanitária por intennédio da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) visando resguardar a saúde da população por meio do controle sanitário. Na área de medicamentos, o incentivo à produção nacional, uma nova política de preços, a introdução dos genéricos e a 34 intensificação seletiva da assistência farmacêutica oficial foram passos importantes para o problema de acesso a medicamentos. Os principais objetivos da intervenção do governo no mercado das operadoras de planos e seguros de saúde, são a contenção de abusos tais como a recusa de pacientes com doenças preexistentes; os limites de cobertura em função de redução de mensalidade; os limites ou prazos entre tratamentos ou exames; e as limitações ao atendimento de urgência. 3.1.2 Educação Na área da educação, a redução da taxa de analfabetismo, o aumento do número de crianças matriculadas no ensino fundamental, e o Programa Bolsa Escola são exemplos de sucesso nesta área. Dada a prioridade atribuída ao ensino fundamental, foi iniciada uma revisão da fom1a de gestão dos programas direcionados ao ensino fundamental. Rompeu-se o padrão centralizador vigente que comprometia a efetividade dos programas executados. Entre as novas diretrizes do governo FHC tem-se a manutenção da universalização dos principais programas e ações de assistência ao estudante voltados ao ensino fundamental; o incremento à descentralização da gestão de grande parte dos programas pela transferência de recursos para os governos sub-nacionais e pela transferência direta de recursos para as escolas; 'a focalização regional corno critério para a alocação de recursos federais; e a focalização sócio-econômica mediante a garantia das mínimas condições de vida às pessoas que estão em situação de extrema pobreza, com a efetiva ampliação de recursos para o Programa Nacional de Renda Mínima Vinculado à Educação- Bolsa-Escola. Visando à universalização do ensino fundamental e o estabelecimento de um piso salarial que assegurasse uma remuneração digna aos professores, instituiu-se, em 1996, o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef). O Fundef visava à reestruturação do financiamento e à gestão do ensino fundamental. Essa medida tinha como objetivo garantir que os recursos vinculados à educação fossem 35 corretamente utilizados, e também visava agilizar o repasse de recursos com critérios transparentes e evitar distorções regionais. O Fundef igualou um valor do gasto por aluno/ano com base nas matrículas, e fixou uma aplicação mínima de recursos para a valorização do magistério. O governo federal também atuou para a descentralização na gestão de programas. Com isso, avança na reestruturação do Programa Nacional de Alimentação do Escolar (Pnae), e na área de apoio ao estudante, com o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Além disso, tem~se a criação do Programa de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino (PMDE), posterionnente denominado Dinheiro na Escola (PDDE), que introduziu o repasse direto de recursos financeiros às escolas. O padrão de alocação de recursos também foi modificado com base em critérios universalistas e redistributivistas. Assim, os recursos anuais transferidos às escolas estão condicionados à sua dimensão e à região geográfica. Ainda se tratando do ensino fundamental, no período de 1999 a 2002, foi implementado o Programa Bolsa-Escola, que tinha como objetivo a integração ao processo educacional de crianças mais pobres, estimulando a universalização do ensino e contribuindo para a redução da evasão escolar e da repetência. Os beneficios do Bolsa~ Escola se dão através de repasses diretos aos pais dos alunos que têm entre 6 a 14 anos matriculadas no ensino fundamental, cabendo às prefeituras o cadastro das famílias, a montagem das estruturas de controle social e uma série de outras responsabilidades que incluem o acompanhamento da freqüência e garantia de pennanência das crianças na escola. No entanto, redução do valor do beneficio, para se tentar atingir um maior número de crianças, pode comprometer a eficácia do programa. Isso porque se o valor for muito baixo, pode ocorrer opção por trabalho e o abandono do programa. O Programa Bolsa Escola beneficiou 4.794.405 e 5.106.509 famílias, com gasto na ordem de 409.800 e 1.532.200 em milhões de reais, para os anos de 2001 e 2002 respectivamente. O MEC também vem apoiando, desde 1997, a aceleração da aprendizagem através de apoio técnico e financeiro. No período 1998~2002, as taxas de distorção idade/série no ensino 36 fundamental foram reduzidas. No entanto, a falta de motivação e evasão dos alunos; a escassez de recursos materiais; e as resistências na escola e na comunidade, têm sido obstáculos para avanços mais significativos. Contribuindo também para a baixa qualidade do ensino e ineficácia do programa, vale ressaltar que muitos alunos têm sido aprovados sem apresentar aprendizagem mínima necessária. O MEC ainda elaborou os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), com o propósito de subsidiar a elaboração ou a revisão cunicular, orientar a formação dos professores e a produção de livros e materiais didáticos, incentivar a discussão pedagógica interna nas escolas, formular projetos educativos, e também incentivar a avaliação dos sistemas educacionais. O Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), que tem como objetivo mensurar a aprendizagem dos alunos e o desempenho das escolas, visando à melhoria da qualidade da educação, também foi aperfeiçoado. Ainda procurando a melhoria da qualidade do ensino e aprendizagem, desenvolveram-se programas como o TV-Escola, o Programa de Apoio Tecnológico e o Programa Nacional de Informática na Educação (Proinfo). Visando à educação de jovens e adultos, através de recursos financeiros a projetos especiais, e de fornecimento de material didático, o MEC também tem atividades sendo desenvolvidas nesta área. O Programa Educação de Jovens e Adultos (EJA) visa à conclusão dos estudos. Porém como o programa é supletivo dos níveis fundamental e médio, a competência quanto à oferta e manutenção cabe aos estados e municípios. Entre os projetos, tem-se o Recomeço- Supletivo de Qualidade, lançado em 2001- com objetivo de repassar recursos financeiros suplementares a estados e municípios com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), ampliando as vagas para a educação de jovens e adultos incorporando alunos do Alfabetização Solidária. Quanto à educação infantil, a atuação do MEC não foi tanto ativa e limitou-se ao apolO financeiro para municípios com IDH inferior a 0,500 para a aquisição de material didáticopedagógico aos alunos da pré-escola, e para o apoio técnico e financeiro aos municípios para a formação continuada de professores e a implementação do Referencial Curricular Nacional de Educação InfantiL Cabe ainda observar que essas ações do MEC não abrangem 37 creches, portanto estas ainda permaneceram sem apoio do ministério. Os recursos federais para o atendimento em creches e pré-escolas ficam sob responsabilidade da Assistência Social. Os recursos previstos no orçamento destinados à educação infantil foram repassados aos municípios abrangidos pelo projeto Comunidade Solidária para possibilitar o aumento de vagas, com a construção de pequenas escolas, e ampliação das existentes, o seu aparelhamento e a capacitação de professores. Com a redução dos recursos financeiros para a educação infantil os recursos previstos destinados à educação pré-escolar (4 a 6 anos), deixaram de ser executados. Da mesma forma, no Ensino Médio verifica-se uma mudança quanto à sua concepção dado o estabelecimento das Diretrizes Curriculares para o Ensino Médio, em 1998. No Ensino Médio foram produzidos os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), que constituem um conjunto de orientações e recomendações para apoiar o trabalho dos professores na incorporação do novo currículo. Porém uma reforma por completo neste nível de ensino enfrenta a dificuldade dos sistemas e escolas em processar a ruptura necessária do padrão anterior. Em 1998, foi criado o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), para avaliar as competências e as habilidades desenvolvidas pelos estudantes ao término da Educação Básica. Este exame passou a ser utilizado como critério de ingresso no ensino superior, o que explica que mesmo sendo voluntário o número de inscritos, entre os anos de 1998 a 2002, tenha crescido consideravelmente. O que ocorre de fato é que o ensino médio somente passa a ter maior atenção no final dos anos 1990, devido à contínua e crescente pressão pelo lado da demanda por expansão do atendimento escolar nesse nível. Além disso, a quase universalização do ensino fundamental e a relativa solução de seus problemas liberam a canalização de esforços do governo para outras áreas permitindo que desafio agora que se põe ao o governo é a sua expansão, porém com qualidade. 38 No que diz respeito à Educação Profissional, a atuação do MEC priorizou a manutenção da Rede Federal de Educação Tecnológica, formada, pelas Escolas Técnicas e Agrotécnicas Federais e pelos Centros Federais de Educação Tecnológica (Cefets). A Reforma da Educação Profissional também foi proposta, pois diversos problemas eram percebidos: alto custo das escolas, perfil dos alunos, e também a dificuldade de gestão centralizada. A primeira ação que expressa esta proposta foi a separação do ensino profissional do ensino médio regular. Além de ações de promoção da melhoria da Educação Profissional, é criado o Programa de Expansão da Educação Profissional (Proep), com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), do MEC, e do Ministério do Trabalho e do Emprego, que financia a expansão física da Rede de Educação Profissional, pública e privada, e ainda as adaptações necessárias para implementação da reforma. A reforma implementada pelo MEC tem sido considerada um desmonte da rede federal existente, uma vez que deveria ser ampliado o acesso a um número maior de estudantes. Além disso, o financiamento da expansão pelo setor privado é considerado uma estratégia de afastamento do Estado de suas obrigações para com a educação. Métodos para avaliação do ensino superior também foram instituídos com Exame Nacional de Cursos- ou Provão,- e a Avaliação das Condições de Oferta dos Cursos de Graduação. Quanto ao Crédito Educativo, este foi substituído pelo Fundo de Financiamento ao Estudante de Ensino Superior (Fies) em 1999, para assegurar o preenchimento de parte das vagas da rede privada aos estudantes carentes, através de um fundo auto-financiável. No entanto, a cobertura da população-alvo ainda é insuficiente. Avali ando alguns indicadores sociais podemos verificar que a taxa de analfabetismo, tanto da população rural como da população urbana declinaram. Tabela 15- Taxa de analfabetismo Urbana Rural Total 1992 12,39 35,89 17,19 2002 9,07 27,7 11,84 Fonte: MinÍBiério da Saúde- IDB 2003 39 O índice de analfabetismo em cid adãos actma de 15 anos também apresentou queda, confirmando a tendência que vinha ocorrendo desde a década de 80. Brasil: Taxa de analfabetismo da população com idade acima de 15 anos- 1983- 1999 1 21 .9 r--. ~ ~~ ~ ~ ~~ '""" .1 6,9 KN~? 15,6 r--. ~4,7 ~ ..._13,8 ~~ 13.3 Fonte· IPEA·IBGE Como foi apresentado, o número de crianças entre 7 e 14 anos matriculadas nas escolas também foi um resultado positivo do governo FHC. Veja a evolução no gráfico abaixo: Brasil: Porcentagem de crianças entre 7-14 anos freqüentando escola 1990-1999 IClO I 9 .7 9 .8 __,. 9$ 9 9~ ·~ 9~ .!'o li ~v v / lV ~ lt"""' HO 1$ 19S9 1900 1991 1991 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 Fonte . IPEA·IBGE 40 3.1.3 Previdência O conjunto de políticas que incorporam a área de previdência é muito amplo, pois incluem ações para garantir a reposição dos rendimentos aos cidadãos no caso riscos sociais que incluem idade avançada, invalidez, morte, maternidade, doença, acidente de trabalho, etc. Por isso, a previdência em algum momento da vida, vai abranger todos os cidadãos, independente de ser contribuinte, beneficiário, empregador, desempregado, etc. No Brasil a Política Previdenciária tem abrangido setores diversos ela população, trabalhadores privados, rurais e públicos. Por causa do crescente desequilíbrio no orçamento previdenciário, a refonna da previdência passou a ter prioridade no governo FHC. Até 1990 o setor apresentava um superávit, passando a ser deficitário a partir de 1996 em função da estabilização monetária e os aumentos reais do salário mínimo. Por isso, o Regime Geral de Previdência Social, o Funcionalismo Público e a Previdência Complementar Fechada passaram por mudanças. Evolução da arrecadação líquida e das despesas no RGPS, 1994-2001 7,00 6,36 6,50 (!) a: --+-Rece1tas da Arrecadacão 6,00 do RGPS (liQuida) • ;t: -e--Despesas com Beneficios E w 5,50 Prevldenciãnos 5,00 4,96 4,93 1994 1995 4,50 1993 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Fonte. Delgado, G. e Castro, J. A. de. Financiamento da Previdência Rurat. situaçélo atual e mudanças. lvlimeo Quanto à concessão de beneficios para o Regime Geral, houve exclusão dos critérios de aposentadoria por tempo de serviço integral e proporcional, passando a se utilizar o critério 41 por tempo de contribuição (35/30 anos para H!M). No que diz respeito à aposentadoria por idade (nonnal e rural) o texto da constituição de 1988 foi mantido (65/60 anos para H/M). Elimina-se a aposentadoria especial para professores do nível superior de ensino, mantêmse os beneficios aos trabalhadores que tenham sido efetivamente expostos à situação insalubre. Permitiu-se a tributação de beneficios prev:idenciários, e foram reconhecidos os beneficios e direitos já concedidos. Quanto ao financiamento não houve modificações para a Previdência e Seguridade Social, que seguiu principalmente de contribuições de empregadores, empregados, autônomos; da Cofins e CSLL e também de recursos do Tesouro. O que se verifica, no entanto, é uma ampliação da base de incidência sobre o rendimento do trabalho a toda renda do trabalho, e uma possibilidade de alterações na contribuição de acordo com as características regionais e potencial de criação de empregos. A partir de 1999, passam a ser coletados, dos empregadores e contribuintes autônomos, dados sobre rendimento e ocupação, para que possa existir um banco de dados de todos os contribuintes da Previdência Social. Quanto aos servidores públicos, entre as principais modificações tem-se a eliminação da aposentadoria proporcional e da substituição do critério tempo de serviço para tempo de contribuição. Criou-se um tempo mínimo - carência (10 anos) -no serviço público, e ' houve a exigência de idade mínima de 60 anos (homens) e 55 (mulheres) para aposentadorias de servidores públicos, com exceção dos militares. Aposentadorias especiais para atividades insalubres, juízes e membros do Parlamento são mantidas. A base de cálculo dos beneficios passa·a ser de 100% da remuneração dos posto que foi ocupado por pelo menos cinco anos antes da aposentadoria. E, ficam proibidos os acúmulos de aposentadorias (exceção a médicos e professores). E como no regime geral foram reconhecidos os beneficios e direitos já concedidos. É importante destacar que a Lei de Responsabilidade Fiscal limitou o gasto do setor público com a folha de pagamento de ativos e inativos, limitando em 50% e 60% da receita corrente líquida, para a União, e Estados e Municípios, respectivamente. 42 Quanto ao Regime de Previdência Complementar Fechada permitiu-se a administração apenas de fundos privados, e o método definido de financiamento foi o de capitalização. 3.1.4 Assistência Social, Alimentação e Nutrição A assistência social faz parte do grupo das políticas integrantes da Seguridade SociaL A Constituição de 1988 previu a universalidade da cobertura e do atendimento, a seletividade e a distribuição na prestação dos beneficios e serviços e o caráter democrático e descentralizado da administração. Entre os beneficios previstos pela Lei Orgânica da Assistência Social Loas (1993), estão a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; o amparo às crianças e aos adolescentes carentes; a promoção da integração ao mercado de trabalho; a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência; e a promoção de sua integração à vida comunitária. O Ministério da Previdência e Assistência Social atribuiu à Secretaria da Assistência Social as tarefas de formular a Política Nacional de Assistência Social (PNAS); de coordenar as políticas estaduais da assistência social; de acompanhar e a supervisionar os planos, programas e projetos; de promover articulações intra e inter~govemamentais e intersetoriais, de acompanhar e de avaliar as ações estratégicas na área de assistência social; de gerenciar os recursos captados pelo FNAS, de apoiar técnica e financeiramente os ' serviços, programas e projetos de enfrentamento da pobreza em âmbito nacional e às ações assistenciais em caráter de emergência, quando postas em prática por estados, municípios e Distrito Federal e de coordenar e controlar os programas e projetos relativos à PNAS, em conjunto com estados, municípios, Distrito Federal e entidades privadas. Quanto à articulação das ações, estas devem ser implementadas através da iniciativa pública e da sociedade, de forma integrada às políticas setoriais visando o enfrentamento da pobreza e a garantia dos mínimos sociais. O Programa Comunidade Solidária, criado em 1995, foi uma estratégia de governo, para promover, mobilizar, articular, e avaliar as ações que tivessem a mesma finalidade daquelas dos SAS, porém este não tinha a responsabilidade quanto à execução. A estratégia foi 43 baseada na parcena entre governo e sociedade e na articulação, entre os níveis governamentais, para o combate da pobreza e da exclusão social e para a promoção do desenvolvimento em municípios pobres através de programas de educação, saúde, alimentação, saneamento, habitação e geração de renda. Entre os objetivos destacam-se: a redução da mortalidade infantil, a melhoria das condições de alimentação dos escolares e das famílias carentes, a melhoria das condições de moradia e saneamento básico, a geração de emprego e renda, a melhoria das condições de vida no meio rural, o apoio ao desenvolvimento do ensino básico; a defesa dos direitos e a promoção social das crianças e dos adolescentes. A parceria entre políticas setoriais no combate à pobreza fez com que vários programas se distanciassem da concepção, gestão e controle da assistência. Entre eles destacam-se: o Bolsa-Alimentação vinculado ao Ministério da Saúde, o Auxílio-Gás vinculado ao Ministério de Minas e Energia, o Bolsa-Escola vinculado ao Ministério da Educação, e o Programa Cesta de Alimentos vinculado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Por isso, interesses expressos em conferências nacionais de assistência social reivindicavam, sem êxito, ao órgão da assistência social coordenação exclusiva das ações. A partir de 1995 os esforços da SAS, e da Secretaria de Estado de Assistência Social (Seas), foram voltados para a realização da transição do sistema centralizado para o descentralizado e participativo da assistência social, através da realização de convênios com entidades e municípios e a instituição de conselhos, fundos e planos de Assistência Social e capacitação dos agentes que integram a rede de proteção social. O sistema descentralizado, tendência verificada em vários setores, tem maior eficiência ao fortalecer os laços familiares e humanizar o atendimento, e também com a queda dos custos. O desenvolvimento qualitativo da descentralização ocorreu através melhoria da representação nos conselhos e pela formulação de planos de aplicação de recursos na assistência social pelos municípios. Outra mudança positiva no que diz respeito à assistência social foi a alteração do Certificado de Entidade de Fins Filantrópicos para Certificado de entidade Beneficente de 44 Assistência Social. Dessa forma, ao receber recursos públicos, uma entidade não pode ser considerada filantrópica e sim entidade beneficente de assistência social. Existe aqui uma diferenciação entre fazer caridade e fazer beneficios com recursos públicos. Não foi apenas a articulação dos programas e das ações assistenciais que apresentou dificuldades, a universalizaçãÓ do atendimento da assistência também não se realizou em razão de dificuldades orçamentárias. Os programas desenvolvidos pelas SAS foram: Beneficio de Prestação Continuada (BPC) a idosos de 70 anos de idade ou mais e pessoas portadoras de deficiência; atendimento integral à criança de zero a seis anos (em creches e pré-escolas), em co-gestão com MEC e MS, proteção integral a crianças e adolescentes de 7 a 14 anos em situação de vulnerabilidade por pobreza, discriminação, abandono ou exclusão, mediante a oferta de atividades sócio-educativas de esporte e lazer, erradicação do trabalho infantil em carvoarias do Mato Grosso do Sul e diagnóstico dos focos de trabalho infantil no Brasil em 1996, apoio à pessoa idosa, apoio à pessoa portadora de deficiência em prol de sua inclusão mediante a articulação com as demais políticas públicas, entre outros. Em uma tentativa de comando exclusivo, e com relativa independência do ministério, a Secretaria de Estado de Assistência Social (Seas) antiga Secretaria de Assistência Social (SAS) passou a coordenar o Projeto Alvorada. O Projeto Alvorada (com atuação em catorze estados com IDH abaixo de 0,5) pretendia reduzir a pobreza e as desigualdades regionais concentrando a ação de quinze programas nas áreas de educação, saúde e geração de renda em um único local, o Portal Alvorada, reunindo, entre outros, projetos sociais como o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) e o Agente Jovem, ambos da assistência. Com mesmo objetivo do Projeto Alvorada, o Cadastro Único dos Programas Sociais (2001) buscou articular programas de cunho assistencial do Govemo Federal. Visava agilizar o repasse dos beneficios através do cadastro das famílias em situação de extrema pobreza de todos os municípios brasileiros, com dados e informações processados pela Caixa Econômica Federal, atribuindo um Número de Identificação Social (NIS) aos beneficiários, de modo que sejam garantidas unicidade e integração no âmbito de todos os programas de 45 transferência de renda, e dessa fonna, racionalizar o processo de cadastramento pelos diversos órgãos públicos. O Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza (Fcep), foi criado em 2000, e seus recursos são direcionados a programas que tenham corno alvo famílias ou indivíduos cuja renda per capita seja inferior à linha de pobreza e populações de municípios e localidades urbanas ou rurais, isoladas ou integrantes de regiões metropolitanas, que apresentem condições de vida desfavoráveis. Os investimentos custeados pelo Fcep deviam se concentrar nos municípios atendidos pelo Projeto Alvorada, pelo Comunidade Solidária e pelo Plano de Convivência com Semi- Árido e Inclusão Social. Em 2001, de R$ 1,935 bilhão do Fundo, R$ 50! milhões foram destinados ao pagamento do Bolsa-Escola, da área da educação. Em 2002, o Bolsa-Escola, com gasto de R$ 1,532 bilhão, representou 47,6% dos recursos totais, que alcançaram R$ 3,453 bilhões. Seis ministérios tinham programas integrantes do Fcep em 2001: Previdência e Assistência, Minas e Energia, Saúde, Desenvolvimento Agrário e Integração NacionaL Em 2002, houve a inclusão de programa voltado às comunidades indígenas, a cargo do Ministério da Justiça. Na área de assistência social, apenas o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil o integrava, com gastos de R$ 103 milhões, representando apenas 5,3% dos recursos totais. Em 2002, os gastos com o Peti elevaram-se a R$ 445 milhões e outros programas da assistência foram incorporados: Atenção à Pessoa Portadora de Deficiência, Brasil Jovem, Direitos Humanos- Direitos de Todos, além de Valorização e Saúde do Idoso e Atenção à Criança, os dois últimos excluídos do Fcep no ano de 2003. Na assistência social, foram considerados estratégicos os seguintes programas: BPC (idoso e deficiente); Peti; Atenção à Pessoa Portadora de Deficiência; e Saúde e Valorização do Idoso. Como resultado positivo do Programa de Erradicação do Trabalho, verifica-se que, no período de 1995 à 1999, o trabalho infantil foi reduzido em aproximadamente 25%, passando de 16,5% para 12,3%. Segue abaixo alguns dados referentes a este programa. 46 Os dados dos gráficos abaixo foram extraídos do Fundo Nacional de Assistência Social. Evoluçao do número de cr1anças e adolescentes atendidas pelo PETI1996·2002 Investimento anual · em milhões de R$ 386, ~----------~ Ano 1996 1997 1996 ------ 1999 2000 200 1 Incidência de trabalh o infantil (1992-1999) 18~ 17.7 ~ ~ N'~ ~.9 13,6 - ~2,7 ..__ 1991 1992 1993 199-t 1995 19% 1997 199X r:u 1999 :woo Fonte: IPEA -HlGE Quanto à desnutrição, a região Nordeste foi a que obteve melhores resultados comparados às regiões do Centro-sul. Mas isso quando consideradas as áreas urbanas, pois quando se comparam regiões rurais, o Nordeste ainda apresenta resultados inferiores à média, mesmo sendo estes declinantes. Essa tendência declinante pode ser conseqüência da expansão do acesso a serviços de saúde por meio do SUS (maior cobertura por atividades de vacinação e acompanhamento do desenvolvimento das crianças) e as melhores assistências em relação 47 2002 ao pré-natal e ao parto, e também a elevação do nível de escolaridade das mães, e a ampliação da rede pública de abastecimento de água. 3.1.6 Trabalho, emprego e renda Os principais programas implementados visando o aumento de emprego e renda da população foram o PROGER e o PLANFOR como veremos mais adiante. A evolução do mercado de trabalho, desde a implantação do Plano Real, teve dois pontos marcantes. Um primeiro nos primeiro anos do Real, quando os índices apontavam para uma pequena redução da taxa de desemprego aberto, e um aumento da média anual de rendimento médio real. Em 1995, o índice de desemprego aberto era de 4,7%, que foi a taxa mais baixa obtida durante o Plano Real, e a média de rendimento atinge o nível mais alto 767,61 reais-, em 1997. A inflexão da tendência de queda da taxa de desemprego aberto e o aumento do rendimento médio foi conseqüência das políticas econômicas de estabilização adotadas no governo, que teve como conseqüência o crescimento da infonnalidade e redução do emprego assalariado. Entre as medidas que prejudicaram o mercado de trabalho brasileiro tem-se a sobrevalorização da moeda nacional e a liberdade de entrada de produtos estrangeiros, provocando queda da competitividade dos setores tradables e redução do emprego. Além disso, UJ?a forte reestruturação produtiva gerou aumento da produtividade do trabalho, que em um cenário de baixo crescimento do PIB contribui para a redução do emprego. Assim, a partir de 1996 a tendência foi de crescimento do desemprego sendo as taxas para os anos 1996, 1997 e 1998 de 5,4, 5,7 e 7,6 respectivamente. Tabela 16- Taxa de desemprego aberto -1994/2002 Região metropolitana 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 RJ 4.1 3,4 3,7 3,7 5,4, 5,4 5,2 4,4 5,4 SP 5,4 5,2 6,3 6,6 8,6 8,3 7,5 6,4 8,4 1'A 4,1 4,5 5,9 5,5 7,3 7,2 7,2 5,5 5,8 BH 4,3 3,8 4,6 5,1 7,2 7,7 7,8 7,4 7,1 RE 6,8 5,5 5,7 5,9 8,7 8,2 7,9 7,8 7,2 Total 5,1 4,7 5,4 5,7 7,6 7,5 7,1 6.2 7,2 Fonte: IBGEIPME 48 A inflexão do valor do rendimento médio anual se deu apenas em 1997, uma vez que os efeitos negativos da conjuntura econômica têm efeito retardado nos rendimento da população. Dessa forma, as taxas se invertem para uma tendência declinante a partir de 1998 com um rendimento de 765,31 reais e 722,65, 728,64 e 695,20 para os anos 1999, 2000 e 2001. Tabela 17- Renda real média -1994/ZOOl Região metropolitana 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 RJ SP RE 557,54 869,20 587,28 537,63 334,36 Total 664,93 626,62 919,55 688,13 604,19 381,96 724,59 697,96 940,0 708,16 626,67 429,25 761,84 713,58 929,38 728,56 649,97 456,68 767,61 701,09 940,50 720,25 633,16 439,56 765,31 673,09 874,39 669,30 611,62 429,66 722,65 663,10 864,71 679,18 607,78 453,51 718,64 649,38 832,13 650,77 578,88 451,73 695,20 PA Bll Fonte: lllGE.IPME A desvalorização cambial de 1999 trouxe mudanças positivas para a econom1a. A desvalorização do real possibilitou uma recuperação do setor produtivo nacional, que antes estava submetido a uma intensa concorrência externa. No entanto, em 1999, a extrema incerteza decorrente da mudança no regime cambial impossibilitou um ambiente empresarial de retomada dos investimentos produtivos naquele mesmo ano, dado que a sombra da crise russa e a crescente desconfiança em relação aos mercados emergentes ainda requeriam cautela. A estabilização da taxa de desemprego aberto se deu em patamares elevados em tomo de 7%. No entanto em 2001 a taxa cai para 6,2%, para novamente aumentar em 2002 para a casa dos 7%. A tendência de aumento da informalidade também pode ser conseqüência da Constituição de 1988 que elevou o custo de contratação de trabalhadores formais (como os de demissão), portanto para que uma Reforma Trabalhista seja realmente efetiva, deve-se considerar esse fator. E ainda, a informalidade tem forte impacto negativo sobre o financiamento dessa área, uma vez que uma parte do financiamento está baseado na contribuição do trabalho assalariado. Dados os problemas decorrentes do alto custo de contratação, o govemo FHC procurou avançar no sentido da flexibilização trabalhista, visando a diminuição da infonnalidade. 49 Entre as ações tem-se a instituição do "banco de horas" e o contrato de trabalho por prazo determinado. O grande impulso para as políticas públicas de emprego foi determinado pelo surgimento do FAT- Fundo de amparo ao Trabalhador, que tinha como objetivo financiar o programa de seguro desemprego, abono salarial e desenvolvimento econômico, via BNDES. Sendo uma fonte mais segura e permanente, acabou também financiando outros programas do Ministério do Trabalho. Diversos programas foram desenvolvidos nos 8 anos de gestão de Fernando Henrique com foco na geração de empregos: Proger Rural, Funproger, Proemprego, FAT habitação ... O Proger- Programa de Geração de Emprego e Renda- criado pelo governo Itan1ar Franco ganhou nova modalidade; o Proger Rural, cujo o objetivo é incentivar a geração de emprego e renda através do financiamento às micro, pequenas empresas e cooperativas. No entanto, o número de operações esperado ficou abaixo do previsto, uma vez que as instituições financeiras dificultavam a liberação dos empréstimos. Assim, foi criado o Fundo de Aval para a Geração de Emprego e Renda- Funproger- para garantir parte do risco de financiamento. O efeito foi positivo dado o aumento das operações, mas havia outro problema; a sobrevivência dos empreendimentos financiados por ele não era satisfatória. Implementou-se então, a Sala do Empreendedor no Banco do Brasil para oferecer orientação aos beneficiários do Proger. No entanto, estes dois problemas ainda persistem.De acordo com a Mensagem do Congresso naciona~ mais de 1 bilhao de reais foram alocados anualmente para este programa. Outro programa financiado pelo FAT é o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - Pronaf - através da liberação de recursos para pequenos agricultores. Este programa tem atingindo melhor os objetivos de democratização do crédito que o Proger. Também na área de geração de emprego, o Programa de Expansão do Emprego e Melhoria da Qualidade de Vida do Trabalhador (Proemprego), pretendia financiar empreendimentos de maior porte com potencial de geração de empregos. Esse programa, no início, financiou 50 empreendimentos nas seguintes áreas: transporte coletivo de massa; saneamento ambiental; infra-estrutura turística; obras de infra-estrutura voltadas para a melhoria da competitividade do país; e revitalização de subsetores industriais em regiões com problema de desemprego. Em 1999, Proemprego incorporou áreas de saúde pública, educação, projetos multissetoriais integrados, administração tributária, infra-estrutura, comércio, serviços, exportação, e também as pequenas e médias empresas. Semelhante ao Proemprego, mas abrangendo apenas a região Nordeste e o norte de Minas Gerais, foi criado em 1998 o Programa de Promoção do Emprego e Melhoria da Qualidade de Vida do Trabalhador na Região Nordeste e Norte do Estado de Minas Gerais (Protrabalho). Em 2002, deu-se início ao FAT-Habitação, que busca gerar emprego na cadeia produtiva da construção civil, setor relativamente mais intensivo em mão-de-obra. As linhas de crédito são para imóvel residencial na planta; construção individual de imóvel residencial; e imóvel residencial novo individual. Os resultados deste programa ainda não foram estudados. Em 2002, também foi criado um novo programa de microcrédito com recursos do F AT, o FAT-Empreendedor Popular, buscando expandir a capacidade do financiamento de pequenos empreendimentos no Brasil. Um ponto novo do programa seria o financiamento de operações de capital de giro, pois, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, financiar somente investimentos em capital fixo deixa muitos empreendedores populares fora do universo de beneficiários. Porém, os resultados desses programas de microcrédito ainda são muito pequenos para a criação de uma rede de microcrédito no país que possa atingir os mais pobres. Como foi visto, a área de geração de emprego e renda teve vários programas nos últimos oito anos. No entanto, a capacidade de atingir um universo significativo de pequenos empreendimentos não é muito significativa. A baixa cobertura destes programas não tem peso para contrabalançar efeitos negativos de oscilações macroeconômicas sobre o emprego, e as flutuações do emprego no Brasil, no período 1995-2002, foram mms relacionadas às políticas macroeconômicas do que aos resultados de programas. 51 Em relação à qualificação dos trabalhadores o governo destinou um volume grande de recursos para programas de qualificação profissional. Em 1995 foi criado o Plano Nacional de Formação Profissional (Planfor), que teve como objetivo aumentar a probabilidade de obtenção de trabalho e de geração ou de elevação de renda, reduzindo os níveis de desemprego e subemprego; ampliar as chances de pennanência no mercado de trabalho, reduzindo os riscos de demissão e as taxas de rotatividade; e elevar a produtividade, a competitividade e a renda. O Planfor é um programa descentralizado com Planos Estaduais de Qualificação (PEQs) e Parcerias. Apesar do Planfor representar uma importante tentativa de descentralização nas políticas de emprego, as fraudes revelaram problemas no controle do Ministério do Trabalho e Emprego sobre a aplicação dos recursos pelos estados. Para tanto foi definida a obrigatoriedade de os recursos recebidos pelos estados serem depositados em uma conta no Banco do Brasil; a especificação mais clara dos critérios de transferência dos recursos para os estados; e a criação de uma ouvidoria no Ministério do Trabalho e Emprego para receber denúncias. Aproximadamente 11,3 milhões de trabalhadores, entre os anos de 1995 a 2000 foram treinados. Em relação às políticas passivas, os Programas do Seguro-Desemprego e de Intennediação de Mão-de-Obra foram reunidos, em 1999, no Programa Novo Emprego e SeguroDesemprego. Houve avanços em relação à integração operacional dos dois programas, processo no qual o Sistema Nacional de Emprego (Sine), passou a ser o principal centro de atendimento do trabalhador desempregado, em detrimento da Caixa Econômica Federal e das delegacias regionais do Trabalho. O Codefat autorizou também que os sindicatos criassem agências de emprego, com uma função semelhante ao do Sine, para atender o trabalhador requerente do seguro-desemprego e aquele que vai utilizar os serviços de intermediação. O desempenho do Programa Seguro-Desemprego realmente teve efetividade, porém questiona-se sua eficácia. A cobertura do seguro entre os demitidos sem justa causa é baixa e ainda mais baixo e também deve-se analisar se realmente este tem atingindo os trabalhadores que realmente precisam do auxílio. No caso do Programa de Intennediação de Mão-de-Obra houve um grande aumento do número de pessoas atendidas por ele. A melhora nos resultados também se verificou na 52 efetividade e na eficácia do programa. Esses resultados têm bastante a ver com o aumento da rede de postos do Sine. 3.1.7 Reforma Agrária Quanto à Reforma Agrária, durante os governos FHC, mais de 400 mil famílias foram assentadas. Como proposta de governo, Fernando Henrique Cardoso prometeu assentar 280.000 famílias no período de 1995 a 1998. Condições favoráveis não seria o problema, pois os preços das terras estavam mais baixos após o Plano Real, a opinião pública estava favorável a Reforma Agrária e os movimentos sociais rurais tinham expectativas positivas em relação às promessas do novo presidente. A Reforma Agrária era vista como forma de inclusão social para os sem~terra, assim resolvendo parte dos problemas sócio~econômicos do país. Ademais, dois conflitos agrários no interior do país- Eldorado dos Carajás no Pará (1996) e Corumbiara em Rondonia (1995)- acabaram por pressionar ainda mais o governo para que a questão agrária fosse resolvida no Brasil. Mas o que se notou no período de 1995 à 2002 foi que os conflitos não se retraíram. Tanto o número de conflitos e o número de pessoas envolvidas apresentaram-se elevados, e o número de assassinatos se manteve praticamente estáveL Tabela 18- Conflitos de terra- 1995/2001 N° de eonllitos 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 440 653 658 751 870 556 681 39 46 29 38 27 20 29 Pessoas envolvidas 318.458 481.490 477.105 662.590 536.220 439.805 419.165 Hectares conflitivos 3.250.731 3.395.657 3.034. 706 4.060.181 3.683.020 1.864.002 2.214.930 Assassinatos fonte: Comissão Pastoral da Terra Com a crescente ocupação de terras, o governo agilizou o processo de obtenção de novas terras, fazendo com que a meta prevista para assentamentos fosse cumprida. Foram assentadas 284.228 famílias no período de 1995 a 1998, em uma área total de aproximadamente 12,8 milhões de hectares, envolvendo 2.428 projetos. Dessa forma, visando resolver o problema da questão agrária efetivamente, foi criado em 1997, o Gabinete do Ministro Extraordinário de Política Fundiária, que em 1999 veio a se 53 transformar no Ministério da Política Fundiária e do Desenvolvimento Agrário, e mats tarde veio a ser o Ministério do Desenvolvimento Agrário. O objetivo era que condução dos processos de Reforma Agrária se desse de modo descentralizado, repassando a estados e municípios responsabilidades quanto à prestação de serviços aos assentados e aos assentamentos. Tabela 19 - Conflitos de terra- 1995/2001 N° de proj~tos criadiJs 1995-1998 1999-2002 Total 2.428 2.672 5.100 N° de famílias- Capacidade de assentamento 295.705 176.777 472.482 N° de famílias assentadas 284.228 139.585 423.813 12.788.926 9.236.856 22.025.780 Área Hectares Fonte: MDN!ncra!SD/Sipra No ano de 1997 também foi editada uma medida provisória com o objetivo de transformar o modo o qual o governo vinha lidando com a reforma agrária. Entre as medidas tem-se o estabelecimento de novos critérios para vistorias e desapropriações de terras improdutivas, repasse de tarefas aos estados (corno forma de progredir no processo de descentralização) anteriormente executadas somente pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária- INCRA- tais como: cadastramento, vistorias e avaliações de propriedade rurais situadas no seu tenitório, além das atribuições quanto à execução dos programas de reforma agrária. Os programas criados para acelerar os assentamentos, juntamente com a parcena dos estados e' municípios foram: Lumiar, Casulo, Roda Viva e Cédula da Terra. No entanto, somente ainda está em operação o Projeto Casulo, pois restrições técnicas, financeiras, e gerenciais deixaram esses projetos com alcance limitados, e assim deixaram de funcionar com suas atividades. O Ministério do Desenvolvimento Agrário foi formalmente estruturado em 1999, com o objetivo de promover o desenvolvimento socioeconõmico sustentável, através da desconcentração da base produtiva e da dinamização da vida econômica, social, política e cultural do meio rural, tendo como estratégia o investimento na expansão e fortalecimento da agricultura familiar, redistribuição de terras, atividades geradoras de renda em áreas rurais e educação. 54 Entre as ações que foram propostas destacam-se a Extinção do Procera: as suas atribuições passariam a ser executadas pelo Pronaf-Linha A; Descentralização da Reforma Agrária: através da criação de conselhos estaduais e municipais que passariam a assumir parte das tarefas anteriormente exclusivas do INCRA; e Privatização da Reforma Agrária: permitindo a atuação da iniciativa privada em projetos de assentamento. Dentre essas ações somente a substituição do Procera pelo Pronaf foi implementada, a descentralização se deu parcialmente (somente poucos em poucos municípios) e a privatização da Reforma Agrária não ocorreu. Entre 1999 e 2002 o número de assentamentos perdeu força. O número de assentamentos realizados em 2002 foi menos do que a metade dos ocorridos em 2001. As principais causas para a queda no número de assentamentos foram às restrições orçamentária do governo e as novas orientações para aquisição de novas terras. Tabela 20 - Famílias assentadas- 1995/2002 Anos N° de famflias assentadas % 1995 51.765 12.21 1996 64.312 15.17 1997 77.8\0 18,36 1998 90.341 21,32 1999 54.688 12,90 2000 37.024 8,74 2001 33.800 7,98 2002, 14.073 3,32 Total 423.813 100,0 Fonte; MDNincra!SDISipra Também deve-se ressaltar que o estoque de terras não é ilimitado, restando cada vez menos terras devolutas a serem discriminadas e arrecadadas. Além do mais, a partir de 1999 outras ações foram colocadas como prioridade: combate à superindenizações de terras desapropriadas, fim do pagamento de matas nativas, e ainda maior rigor nas avaliações. Para tanto foi lançado o Livro branco da grilagem de terras no Brasil, e ainda foi criado para intervir nos conflitos agrários a Ouvidoria Agrária Nacional. 55 3.2 Financiamento das políticas sociais O financiamento da área da saúde é uma questão central do SUS desde o início de sua implementação em 1990, uma vez que este é um beneficio universal e de atendimento integral para mais de 160 milhões de pessoas, sem um aporte significativo de novos recursos. O financiamento setorial quando comparado ao de outros países ainda é insuficiente, mesmo com a maior estabilidade e solidariedade entre as instâncias de governo. O financiamento da saúde era vinculado aos recursos de contribuições de empregados e empregadores sobre a folha de salários. Dado um aumento das despesas da Previdência Social, o sistema entra em crise sem os repasses tradicionais, e então o Ministério da Saúde passa recorrer à utilização de empréstimos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (F AT). Em 1994, foi criado o Fundo Social de Emergência (FSE), posteriormente renomeado de Fundo de Estabilização Fiscal (FEF) e a seguir de Desvinculação de Receitas da União (DRU). Por causa dessas dificuldades de financiamento do SUS, surgem diversas propostas para dar maior estabilidade ao financiamento da área. Uma solução emergencial foi a criação da Contribuição Provisória sobre a Movimentação Financeira (CPMF) em 1996. Essa tendo sido prorrogada deixou de ser uma contribuição exclusiva para a saúde, embora ao SUS ainda corresponda a sua maior parte. No ano 2000, foi aprovada urna Emenda Constitucional que promoveu a vinculação de recursos para a saúde nos orçamentos das três esferas de governo, assegurando um patamar mínimo de recursos da União, estados e municípios. Estados e municípios foram obrigados a alocar, a partir de 2000, pelo menos 7% das receitas resultantes de impostos e transferências constitucionais para a área da saúde. Os números apontam também para uma mudança importante de prioridades no financiamento federal. Em 1998, o financiamento das ações básicas de saúde absorvia 9,1% do gasto per capita do Ministério da Saúde; em 2001, este percentual passou para 14,3%, representando um crescimento de 57%. Com essa política, foram particularmente privilegiadas iniciativas como o Programa de Saúde da Família (PSF) e o Programa de 56 Agentes Comunitários de Saúde (Paes), considerados estratégicos para a mudança do modelo assistencial. A alocação de recursos para atenção básica tem privilegiado as regiões menos favorecidas. As principais fontes de financiamento para as políticas sociais na área da educação vêm de impostos, contribuições sociais, do fundo de estabilização fiscal e do fundo social de emergência. Um dos principais limites do financiamento refere-se ao volume de recursos, na medida em que este é insuficiente para a sua universalização e a melhoria da qualidade dos serviços oferecidos. Os recursos provenientes de impostos constituem a maior fonte de financiamento do MEC. Entre as contribuições sociais, destaca-se o Salário-Educação (com 5% a 7% do total), sobretudo por sua destinação exclusiva à educação e pelo fato de o ministério exercer controle sobre a destinação dos recursos aplicados. Quanto à previdência os recursos para política nesta área são provenientes de contribuições de empregadores, de empregados, de autônomos; da Cofins e CSLL; e também de recursos do Tesouro. Em relação à assistência social, embora haja diversificação de fontes de recursos indicada na legislação, apenas quatro dessas possuem maior. É o caso dos recursos ordinários da alienação de bens, que corresponde à venda de imóveis da extinta LBA; da Contribuição sobre o Lucro Líquido das Empresas (CSLL); e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins). Se analisadas as fontes de recursos que financiaram o FNAS entre os anos 1996 e 2001, verifica-se as contribuições sociais tiveram maior participação em relação aos recursos provenientes de impostos. As contribuições sociais sempre foram responsáveis, assim, por mais de 90% do financiamento das ações do FNAS. O financiamento de todas as políticas de emprego se deu principalmente através do Fundo de Amparo ao Trabalhador, que é uma fonte permanente de financiamento das políticas públicas de emprego. A Constituição Federal de 1988 determinou que o PIS/Pasep finaciaria o Programa do Seguro-Desemprego e o do Abono Salarial. 57 O patrimônio inicial do FAT (1990) foi dado através da diferença entre o que foi arrecadado pelo PIS/Pasep-entre outubro de 1988 e a efetiva implementação do FAT em 1990 -e o que foi pago ao Seguro-Desemprego e ao Abono Salarial no periodo. E também os juros e a correção monetária que incidem sobre os 40% da arrecadação e foram repassados ao BNDES no período. O FAT teve uma reserva de recursos muito boa. Após a sua implementação, constituíram fontes de recursos para o Fundo: arrecadação das contribuições do PIS/Pasep; arrecadação da cota~parte da contribuição sindical; receitas de remuneração das aplicações financeiras e dos financiamentos (receitas financeiras); devoluções de convênios e de transferências realizadas para pagamento de beneficios e não desembolsados; rendimentos dos saldos médios diários dos recursos transferidos às instituições pagadoras do Seguro~ Desemprego e do Abono Salarial. 3.3 Evolução do gasto social federal (GSF) no período de 1995 a 2002 Um breve resumo da conjuntura política e econômica durante o período ajuda a compreender a evolução do gasto social nos governos FHC. As políticas neoliberais de Fernando Collor, que geraram uma ampla abertura da economia ao mercado internacional deixaram como herança um mercado financeiro desorganizado. Para a área social, as políticas tinham características de fragmentação, clientelismo, centralização no nível federal, e baixo poder de combate à pobreza. Diante de um alto índice inflacionário, foi implantado o Plano Real, visando uma estabilização, condição necessária para políticas de • promoção do Bem-Estar Social. A primeira gestão de FHC beneficiou-se da estabilização conseguida através Plano Real. Nesse período também ocorreram liberalizações comercial e financeira, renegociação da dívida externa e início do processo de privatizações. Como conseqüência do plano houve aceleração do crescimento econômico, ampliação da renda e o consumo. Em razão desses fatores o gasto social federal evoluiu até 1998. A anúncio de reforma no sistema previdenciário ocasionou uma antecipação dos beneficios com aposentadoria, pressionando a evolução do GSF. 58 A partir de 1998 a instabilidade econômica mundial gerada pelas cnses Asiáticas c da Rússia, somadas a um risco de colapso do Balanço de Pagamentos, geraram alterações de política econômica (p.e a desvaloiização da moeda), que por fim trouxeram queda do crescimento do PIB e aumento do desemprego. Assim, a partir de 1999 tem-se um declínio do GSF. A partir de 1998 uma Emenda Constitucional relacionada à Previdência, trás como conseqüência uma queda da antecipação das aposentadorias, gerando uma queda dos gastos sociais com Previdência, comprometendo o valor do GSF nesse ano. O GSF cresce novamente em 2000 respondendo à conjuntura de crescimento econômico de 4%, aumento do nível de ocupação, cumprimento de meta de inflação e aumento da an·ecadação tributária. GRÁFICO I Variação real do Gasto Social Federal (1995 =100%), 1995-2001 1~ governo FHC 180 2.z governo FHC 17~.() :::: 167.6 C> ,.... ..; § 160 151.5 :c c ~ 8 169.8 171.3 130,0% 162.9 C> 1435 140 u ~ ~- o o "' ~ L-o-- l-o-' IU.S'\ ...o- r1--- I-"':121.2% 116.8% 100 o ,... 118.3% ..() 119.3% llO,O'to I IOS.S% 100,0% 90.0'Yo = 120 :õ a: "' -o I ............... ··············"······························· ,,.. ............................. ............... 1995 1997 1996 1998 c:::::l GSF P.S bilhões 1999 2000 70,0% 2001 -<>-GSF 1995 =100% ronle· 01SOCI\peJ O GSF em 2001 tem pequeno aumento dado principalmente pela criação do Fundo de Combate e erTadicação da Pobreza. Quando analisado o GSF em relação área de atuação verifica-se que os valores não são uniformes ou regulares. Cada área responde de maneira diferente à conjuntura. 59 As áreas que mais incorporam o gasto social (cerca de 87,5%) são: Previdência Social, Beneficio a servidores, Saúde e Educação e cultura, sendo a área de Previdência que mais absorve os recursos chegando a mais de 40% do total GRAFIC02 Participação relativa de cada área de atuação no GSF total, 1995-2001 50,0 45,0 45,9 40,0 35,0 30,0 ;<i 25,0 20,5 20, 0 15,0 14,1 10,0 5,0 0,0 7,0 I I 4,1 I 3,6 I I 2,4 2,4 I Fonte· Disoc/lpea. 60 4. Conclusões: alguns desafios para o governo Lula Primeiramente é necessário enfatizar a dependência da política social em relação à dinâmica da economia. Não é possível que uma política social tenha êxito em urna economia que apresente baixo crescimento. A preocupação demasiosamente grande em relação à estabilidade da economia praticamente deixou a política social de lado no primeiro governo FHC, uma vez que acreditava-se que o projeto Comunidade Solidária pudesse assumir o papel do Estado na área social. Por isso, o govemo demora a deslanchar a política social, e ainda assim quando esta ocorre é através de ações fragmentadas. De fato, os principais resultados surgem apenas no segundo mandato, resultantes do projeto de governo "Avança Brasil"; e também como respostas às pressões sociais corno no caso da Refonna Agrária e o combate à Aids. E é em um contexto de baixo crescimento que os resultados das políticas sociais devem ser analisados. Dessa fonna, deve ser reconhecido que algumas metas foram alcançadas em todas as áreas principalmente no que diz respeito à descentralização das ações. Por exemplo; na área da educação a maneira como foi feita a descentralização é inovadora esta nova forma despolitizada de descentralização através de repasses a um fundo específico (o Fundef- no caso da educação) permitiu a universalização do acesso ao ensino fundamental.. Alguns outros exemplos de êxito das políticas sociais de FHC são: redução da mortalidade infantil, efetividade no combate a aids, redução da taxa de analfabetismo, e trabalho infantil, grande número de famílias assentadas, e refonna previdenciária - ainda que incompleta. Deve ser considerado que realmente é muito difícil mudar a situação social do país no curto prazo. O Brasil é um país muito grande e desigual, o que dificulta ainda mais as ações do governo em todas as áreas necessárias. Assim, ainda existem muitos desafios a serem perseguidos, principalmente em relação à cobertura, efetividade e qualidade das ações. 61 Alguns dos maiores desafios para a área de saúde estão ligados à melhoria da qualidade dos serviços prestados, especialmente da atenção básica e a garantia de acesso aos serviços de média e alta complexidades. Outro desafio para essa área diz respeito ao acesso e oferta de serviços, uma vez que esses índices pouco evoluíram no decorrer desses anos, principalmente naqueles mais complexos. Em relação à educação verificou-se que durante o governo as ações propostas à universalização ao acesso ao ensino fundamental foram efetivas, porém a qualidade do ensino tem comprometido a eficiência das ações. Uma crítica que tem sido feito é que muitos alunos estão sendo promovidos apesar de não demonstrarem aprendizagem. O grande desafio então para o ensino será investir na qualidade da educação. No que diz respeito ao ensino superior, a reforma implementada pelo MEC é considerada por muitos como um desmonte da rede federal existente, uma vez que deveria ser ampliado o acesso a um número maior de estudantes. Além disso, o financiamento da expansão pelo setor privado é considerado urna estratégia de afastamento do Estado de suas obrigações para com a educação. A refonna previdenciária foi parcial e incompleta. A cobertura previdenciária, no país, continua baixa, abarcando tão somente 40% da força de trabalho. A incorporação dos trabalhadores informais, dos rurais e dos trabalhadores autônomos não ocorreu. Do ponto de vista •do equilíbrio financeiro, se bem que a reforma de 1998 tenha resfridado o crescimento do déficit, este é ainda da ordem de 4% do PIB. Em relação ao mercado de trabalho, o maior desafio diz respeito ao alto nível de desemprego e informalidade do mercado de trabalho. Cabe também ressaltar a eficácia dos programas de geração de renda, se estes estão mesmo contra-balanceando os momentos em que a economia não cresce o suficiente para atender a oferta de trabalho. Mas antes de tudo isso, uma vez que a eficácia da política social é dependente da política econômica, parece ser esse o maior desafio para o governo Lula, criar um ambiente de crescimento econômico, propício para que as políticas sociais possam ser implementadas e efetivas. 62 Bibliografia Draibe, S.(1989): "O Welfare State No Brasil: Características e Perspectivas". ANPOCS - CIENCIA SOCIAIS HOJE. ANPOCS/ED. VERTICE, v.1989, p.13 61, 1989. Draibe, S. (1993): "Brasil: O Sistema de Proteção Social e Suas Transformações Recentes". REFORMAS DE POLÍTICAS PÚBLICAS SANTIAGO: CEPALIONU, n.14,p.1- 53,1993. Draibe, S. (1994): "As Políticas Sociais do Regime Militar Brasileiro" In: 21 ANOS DE REGIME MILITAR. Balanços e perspectivas, Rio de Janeiro, Editora da fundação Getúlio Vargas. p. 69-86, !994. 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