XXV CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA ZOOTEC 2015 - 1 -

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XXV CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA
ZOOTEC 2015
Dimensões Tecnológicas e Sociais da Zootecnia
Fortaleza – CE, 27 a 29 de maio de 2015
Qualidade microbiológica do mel de abelhas nativas sem ferrão no Nordeste brasileiro
Honey microbiological quality of native stingless bees in the Brazilian Northeast
Laísa Genilsa de Souza Silva1, Edna Lima da Silva1, Pedro de Assis de Oliveira1, Hélio Fernandes de
Melo2, Marcelo Casimiro Cavalcante2
1
Discente de Graduação em Bacharelado em Zootecnia – Universidade Federal Rural de
Pernambuco/Unidade Acadêmica de Serra Talhada-PE, Serra Talhada-Pernambuco, Brasil.
[email protected]
2
Professor adjunto da Universidade Federal Rural de Pernambuco/Unidade Acadêmica de Serra TalhadaPE, Serra Talhada-Pernambuco, Brasil.
Resumo: A criação de abelhas sem ferrão pertencentes a tribo Meliponini é denominada de
meliponicultura. Dentre os produtos produzidos pelas abelhas o mel é o mais procurado, sendo utilizado
como alimento ou remédio, porém pode abrigar várias espécies de bactérias que podem comprometer a
sua qualidade. O objetivo deste trabalho foi avaliar a qualidade microbiológica do mel de Melipona
asilvai e Melipona subnitida através da técnica de cultivo em meio sólido em condições de aerobiose. As
concentrações de bactérias aeróbias mesófilas totais nos méis de M. asilvai e M. subnitida foram 2,7x103
e 2,5x103, respectivamente, porém desse total, em M. subnitida, 28% eram bactérias esporogênicas,
resistentes a elevadas temperaturas, enquanto em M. asilvai esse valor foi apenas de 7,4%. É provável que
as bactérias esporogênicas pertençam ao gênero Bacillus, que diferente de Clostridium spp, crescem em
condições aeróbicas. No entanto, outros testes são necessários para confirmar essa hipótese. Várias
espécies de Bacillus são produtoras de substâncias antimicrobianas, sendo utilizadas como probiótico no
controle de doenças entéricas no homem e outros animais. É importante fazer teste de antagonismo com
essas bactérias contra bactérias patogênicas a fim de determinar os seus potenciais probióticos. Embora os
resultados obtidos neste trabalho sejam preliminares eles podem contribuir com futuras pesquisas para
determinar o potencial probiótico e a qualidade microbiológica do mel de abelhas sem ferrão.
Palavras–chave: bactérias aeróbias, bactérias esporogênicas, caatinga, mel
Abstract: The creation of stingless bees belonging to tribe Meliponini is called meliponiculture. Among
the products produced by bees honey is the most wanted, being used as food or medicine, but can harbor
many species of bacteria that may compromise their quality. The aim of this study was to evaluate the
microbiological quality of the honey M. asilvai and M. subnitida through the technique of cultivation in
solid medium under aerobic organism. The concentrations of total mesophilic aerobic bacteria in honeys
of M. asilvai M. subnitida were 2, 7x103 and 2, 5x103, respectively, but of this total, in M. subnitida, 28%
was esporogênicas bacterias, resistant to high temperatures, as in M. asilvai this value was only 7,4%. It is
likely that esporogênicas bacteria belonging to the genus Bacillus, which unlike Clostridium spp, grows
in aerobic conditions. However, other tests are needed to confirm this hypothesis. Several species of
Bacillus are antimicrobial substances producing, being used as a probiotic in control of enteric diseases in
humans and other animals. It is important to make test of antagonism with these bacteria against
pathogenic bacteria in order to determine their potential probiotics. Although the results obtained in this
work are preliminary they may contribute with further research to determine the potential probiotic and
microbiological quality of honey from stingless bees.
Keywords: aerobic bacteria, esporogênicas bacteria, caatinga, honey
Introdução
Dentre os produtos oferecidos pelas abelhas sem ferrão da tribo Meliponini, como o geoprópolis e
pólen, o mel é o mais procurado. Apesar de ser definido como alimento o mel é bastante utilizado na
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medicina popular como medicamento, ao qual se atribui propriedades terapêuticas como, antiinflamatório, antimicrobiano entre outras (Escobar & Xavier 2013). Logo, a imagem que se tem é a de um
produto saudável, mas nem sempre isso se mantém, caso o mesmo não seja manuseado e/ou armazenado
adequadamente.
O mel de abelhas nativas pode abrigar vários tipos de micro-organismos como bactérias, leveduras
e bolores (Alves et al, 2009), inclusive aqueles prejudiciais a saúde humana. A microbiota do mel é
basicamente constituída por bactérias esporulantes, principalmente do gênero Bacillus, e microorganismos ocasionais como leveduras e fungos filamentosos como Mucor e Penicillium (Alves, 2009),
por outro lado o mel pode abrigar bactérias patogênicas como Clostridium botulinum, que crescem em
condições anaeróbicas e causam o botulismo infantil (Ragazani et al., 2008), podendo ser considerado um
fator de risco a saúde. Algumas espécies de Bacillus produzem antibióticos, como B. subtilis, que vem
sendo comercializado como medicamento (Biovicerin). A Instrução Normativa n°11 do Ministério da
Agricultura e Abastecimento estabelece um valor tolerável 100 Unidades Formadoras de Colônias
(UFC)/g de mel para bolores e leveduras e ausência de coliformes (Lieven et al., 2009). Portanto o
objetivo deste trabalho foi determinar a concentração de bactérias aeróbias mesófilas totais e de bactérias
esporogênicas nos potes de mel de abelhas indígenas sem ferrão da Caatinga e fazer inferências sobre a
sua qualidade microbiológica.
Material e Métodos
O trabalho foi conduzido no laboratório de microbiologia da Universidade Federal Rural de
Pernambuco, na Unidade Acadêmica de Serra Talhada (UFRPE/UAST), no período de agosto a outubro
de 2014. Quatro amostras de 5 mL de mel foram coletadas assepticamente, usando seringas estéreis, de
quatro colônias de abelhas sem ferrão, duas de M. asilvai e duas de M. subnitida, pertencentes ao
meliponário da UFRPE/UAST. As amostras foram diluídas (10 -1 a 10-3) com salina estéril e inoculadas
em meio de cultura Agar Padrão para Contagem (PCA - Difco®) e incubadas a 30ºC em estufa
bacteriológica, em condições de aerobiose, por 72 horas. Após esse período, as Unidades Formadoras de
Colônia (UFC) foram contadas para determinar a concentração de bactérias, e observadas
microscopicamente por esfregaço a fresco usando as objetivas de 40 e 100x.
Para determinar a concentração de bactérias esporogênicas no mel, as diluições foram incubadas a
80ºC por 20 minutos para eliminação das células vegetativas. Em seguida, foram inoculadas em meio
PCA (Difco®) e incubas a 30ºC em estufa bacteriológica, em condições de aerobiose, por 72h para
contagem das UFC.
Resultados e Discussão
Foram encontradas bactérias aeróbias mesófilas totais nas colônias de M. asilvai e M. subnitida
com médias de 2,7 x 103 e 2,5 x 103 UFC/mL de mel, respectivamente, conforme demonstrado na tabela
abaixo.
Tabela 1. Número de Unidade Formadora de Colônia (UFC) de bactérias aeróbias mesófilas totais em
amostras de mel de quatro colônias de abelhas da tribo Meliponini
UFC/mL
Espécies
Colônia 1
Colônia 2
Média
M. asilvai
4,4 x 103
1,0 x 103
2,7 x 103
M. subnitida
2,0 x 103
3,0 x 103
2,5 x103
Geralmente, os micro-organismos presentes no mel são oriundos do néctar das flores visitadas
pelas abelhas (Schlabitzet al. 2010), no entanto, várias espécies são provenientes do trato intestinal das
abelhas, as quais são adicionadas ao alimento estocado na colônia, realizando a pré-digestão e produzindo
substâncias antibióticas contra micro-organismos contaminantes que deterioram o alimento (Olaitan, et
al., 2007). Desta forma, a presença de bactérias aeróbias mesófilas totais não é um indicador de
contaminação do mel, uma vez que as bactérias causadoras de doenças entéricas no homem normalmente
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não resistem às condições osmóticas desse alimento e à competição com bactérias comuns da microbiota
do mel.
Do total de bactérias aeróbias mesófilas encontradas na colônia de M. asilvai, 7,4%
corresponderam a bactérias produtoras de esporos, porém em M. subnitida essas bactérias representaram
28% do total. Desta forma, a presença de bactérias esporogênicas aeróbias pode ser um indicador das
propriedades antimicrobianas do mel. Uma vez que essas bactérias são resistentes a elevadas
temperaturas, o mel pode ser pasteurizado sem perder suas propriedades antimicrobianas, eliminando
assim outros microrganismos indesejados.
Conclusões
Os méis de M. asilvai e M. subnítida são fontes de bactérias aeróbias mesófilas. Parte da
comunidade microbiana do mel corresponde a bactérias produtoras de esporos resistentes a elevadas
temperaturas. Essa característica é um indicativo de que essas bactérias pertencem ao gênero Baccillus,
que abriga várias espécies utilizadas como probióticos no controle de doenças entéricas no homem e
outros animais. Testes de antibiose frente a bactérias patogênicas são necessários para confirmar que
essas bactérias possuem potencial probiótico. Embora os resultados obtidos neste trabalho sejam
preliminares eles podem servir de base para pesquisas futuras que tenham como objetivo avaliar a
qualidade microbiológica do mel das abelhas sem ferrão ou determinar suas propriedades terapêuticas.

Literatura citada
ALVES, E.M.; TOLEDO, V.A.A.; MARCHINI, L.C.; SEREIA, M.J.; MORETI, A.C.C.C.;
LORENZETTI, E.R.; NEVES, C.A.; SANTOS, A.A. Presença de coliformes, bolores e
leveduras em amostras de mel orgânico de abelhas africanizadas das ilhas do alto rio
Paraná. Ciência Rural, v.39, n.7, p.2222-2224, 2009.

ESCOBAR, A.L.S.; XAVIER, F.B. Propriedades Fitoterápicas do mel de abelhas. Revista
UNINGÁ, v.6, n.37, p.159-172, 2013.

LIEVEN, M.; CORREIA, K.R; FLOR, T.L.; FORTUNA J.L. Avaliação da qualidade
microbiológica do mel comercializado no extremo sul da Bahia. Revista Baiana de Saúde
Pública, v.33, n.4, p.544-554, 2009.

OLAITAN, P.B.; ADELEKE, O.E.; OLA, I.O. Honey: a reservoir for microorganism and
inhibitory agent for microbes. African Health Sciences. V.7, n.3, p.159-165, 2007.

RAGAZANI, A.V.F.; SCHOKEN-STURRINI, R.P.; GARCIA, G.R.; DELFINO, T.P.C.;
POIATTI, ML. BERCHIELLE, S.P. Esporos de Clostridium botulinum em mel
comercializado no Estado de São Paulo e outros Estados brasileiros. Ciência Rural, v.38,
n.2, p.396-399, 2008.

SCHLABITZ, C.; SILVA, S.A.F.; SOUZA, C.F.V. Avaliação de parâmetros fisico-químicos e
microbiológicos em mel. Revista Brasileira de Tecnologia Agroindustrial. V.4, n.1, p.80-90,
2010.
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