José Pio Martins Economista UM POUCO DE LÓGICA O filósofo Wesley Salmon diz que “a lógica trata de argumentos e conclusões, e um de seus propósitos é apresentar métodos capazes de identificar os argumentos logicamente válidos, distinguindo-os dos que não são logicamente válidos". Um argumento é uma inferência que deriva de premissas. Se não houver premissa alguma, não haverá conclusão, apenas uma opinião. Quando argumentamos, emitimos uma afirmação ou uma negação, que pode ser submetida a dois critérios: o de verdade e o de correção. Do substantivo verdade originam-se dois adjetivos: verdadeiro e falso. Do substantivo correção originam-se, também, dois adjetivos: correto e incorreto. De saída, um alerta: em lógica, verdadeiro e correto não são sinônimos. Uma declaração afirmativa ou negativa pode ser formalmente correta e não ser verdadeira, ou seja, pode ser falsa. O inverso também ocorre. A razão é simples: um argumento é formalmente correto se ele deriva logicamente das premissas. Mas pode ser falso se não houver evidências que apoiem e validem suas premissas. Vejamos: 1. Todos os homens são mortais. 2. Pedro é homem. 3. Logo, Pedro é mortal. A conclusão (inferência) “Pedro é mortal” é formalmente correta, pois deriva logicamente das premissas. Neste caso, a conclusão é correta e, também, verdadeira, já que as evidências garantem que todos os homens são mortais. Outro exemplo: 1. Toda vaca voa. 2. Mimosa é uma vaca. 3. Logo, Mimosa voa. Neste caso, a conclusão é formalmente correta, pois ela deriva logicamente das premissas. Mas, a primeira premissa é falsa, pois “vacas não voam”. Assim, a conclusão é falsa, embora correta em termos formais. O erro está na premissa 1, que é inválida porque não é verdade. Uma das definições de verdade em filosofia é: “é verdadeira a declaração que corresponde à realidade provada”. José Pio Martins Economista Essas são as primeiras lições do estudo de lógica. Há um capítulo que trata do Princípio da Correlação Incabível, presente quando tentamos relacionar uma característica a uma coisa sem a existência de nexo relacional. Certa vez, um deputado insistia em falar da tribuna dizendo que garantir-lhe a palavra era uma questão de justiça social. Como justiça social é expressão ligada à distribuição equitativa da renda nacional, a fim de evitar que uns tenham demais e outros morram de fome, o deputado fez uma correlação incabível. Não há nexo relacional entre as duas coisas. Um adolescente estudioso de lógica diria: “Cara, nada a ver, se liga!”. Um dia, Roberto Campos discursava da tribuna e a deputada Maria da Conceição Tavares, economista brava e nervosa, pediu um aparte e disse: “Deputado Campos! Eu estou com o saco cheio desses monetaristas”. Ele, que além de economista era graduado em Filosofia, levando a lógica ao pé da letra, respondeu: “Deputada Conceição, compreendo sua irritação, mas isso é uma impossibilidade biológica”. Claro que a frase é uma gíria popular. Mas ele, que não perdia oportunidade para mostrar sua erudição, devolveu a crítica com espirituosidade lógica. De vez em quando, no trânsito, ouço o programa “A Voz do Brasil” e fico pensando como faria bem a nossos políticos um curso introdutório de lógica formal; se não a todos, pelo menos a uma boa parte deles. José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo. Os artigos de economistas divulgados pelo CORECON-PR são da inteira responsabilidade dos seus autores, não significando que o Conselho esteja de acordo com as opiniões expostas. É reservado ao CORECON-PR o direito de recusar textos que considere inadequados.