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Acta Scientiae Veterinariae, 2012. 40(Supl 1): s1-s60.
ISSN 1679-9216 (Online)
Peritonite séptica secundária à deiscência de enterotomia em felino: relato de caso
Letícia Gutierrez de Gutierrez¹, Alessandra Van Der Laan Fonini², Fabiane Reginatto dos Santos², Simone
Passos Bianchi², Magnus Larruscaim Dalmolin³, Kauê Danilo Helene Lemos dos Reis4 & Marcelo Mucillo5
RESUMO
Introdução: A peritonite consiste em inflamação do peritônio, com classificação variável em relação à origem, ao grau de
contaminação e à extensão (localizada ou difusa). A perda da integridade da parede intestinal corresponde à maioria dos
casos de peritonite bacteriana nos cães e gatos. Geralmente, a apresentação é aguda em casos de peritonite séptica e crônica na peritonite não séptica. No caso de peritonite séptica, os sinais clínicos constam de desconforto abdominal, letargia,
anorexia, perda de peso, vômito, diarréia, distensão abdominal, icterícia variável e colapso. O objetivo deste trabalho é
relatar um caso de peritonite séptica secundária à enterotomia em felino.
Caso: Um felino, fêmea, castrado, de aproximadamente um ano de idade, foi atendido no Hospital de Clínicas Veterinárias
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (HCV-UFRGS), com histórico de ter sido submetida à enterotomia em
outro estabelecimento veterinário, devido à formação de fecaloma, uma semana prévia à consulta ao HCV-UFRGS. Os
proprietários relataram que alguns dias após o procedimento o animal apresentou-se prostrado, anoréxico e constipado. No
exame físico, apresentou dor aguda à palpação abdominal, além de abdômen distendido, dispnéia, mucosas hipocoradas,
desidratação e temperatura retal de 39,4°C. Os exames de sangue revelaram anemia leve (23%) normocrômica normocítica,
leucopenia, hipoproteinemia moderada (46 g/L) e hipoalbuminemia grave (9,5 g/L). Foi constatada a presença de líquido
livre, por ultrassonografia, o qual foi colhido e encaminhado para análise e classificado como exsudato séptico, compatível
com quadro de peritonite séptica. Diante do histórico e dos achados de exame físico instituiu-se tratamento inicial com
fluidoterapia agressiva com ringer lactato sódico (90 mL/kg/hora) e antibioticoterapia, com ampicilina e metronidazol ,
ambos 20 mg/kg, por via intravenosa, seguido de laparotomia exploratória. Durante o procedimento, foi observada presença
de secreção purulenta no subcutâneo e cavidade abdominal, omento reativo e deiscência dos pontos da enterotomia, realizados com fio de pesca. O colón apresentava-se necrosado ao redor da ferida cirúrgica e ainda observou-se a presença de
fibrina recobrindo todos os órgãos abdominais. Realizou-se exérese dos bordos intestinais necrosados, seguido da síntese
com náilon monofilamentar 3-0 em padrão interrompido simples. Após, procedeu-se a lavagem da cavidade abdominal
com 1 litro/kg de solução de NaCl 0,9% aquecida, seguida de omentalização da ferida e síntese das camadas muscular,
subcutâneo e pele. Aproximadamente 4 horas após o procedimento cirúrgico o animal foi a óbito.
Discussão: A presença de fio de sutura inadequado causa peritonite séptica e a intervenção é considerada de emergência.
Conforme literatura, mais de 50% das peritonites sépticas decorrem de deiscência em intervenções cirúrgicas em órgãos
ocos. A peritonite, associada às bactérias entéricas, tem desenvolvimento rápido e com alto risco de vida. Geralmente está
associada com dor exacerbada e difusa no abdômen. Pacientes com vasculite comumente apresentam queda nos valores das
proteínas totais sem afetar o hematócrito. A hipoalbuminemia é comum na peritonite, e tende agravar-se após a lavagem
da cavidade. O tratamento preconizado foi de estabilização do paciente, controle do foco infeccioso e fator desencadeante.
Utilizou-se corticosteroide, pois tem sido preconizado no tratamento de peritonite e antibioticoterapia de suporte prévio
à cirurgia. Portanto, diagnóstico rápido, estabilização do paciente, lavagem da cavidade e a cirurgia mostraram-se importantes e emergenciais, uma vez que o cólon encontrava-se necrosado, visto que a sutura com um fio inadequado para o
procedimento foi causadora da peritonite séptica.
Descritores: enterotomia, séptica, laparotomia, fio de pesca.
¹Aluna de Graduação de Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (FAVET-UFRGS); Av. Bento Gonçalves,
n°9090, cep: 91540-000, email: [email protected]. ²Médico Veterinário Residente do Hospital de Clínicas Veterinárias da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul (HCV-UFRGS). ³Médico Veterinário Residente do Laboratório de Análises Clínicas Veterinárias da UFRGS. 4Médico Veterinário,
mestrando - Programa de Pós Graduação em Ciências Veterinárias da UFRGS (PPGCV-UFRGS). 5Médico Veterinário, Técnico - HCV-UFRGS.
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