Hipertensão Arterial no idoso Prof. Dr. Sebastião Rodrigues Ferreira-Filho Universidade Federal de Uberlândia, MG, Brasil Departamento de Hipertensão Sociedade Brasileira de Nefrologia Uma história americana: Franklin Delano Roosevelt, o 32° presidente dos Estados Unidos da América, soube aos 57 anos de idade que sua pressão arterial era alta (170/90 mmHg). Como a maioria, ele não sentia qualquer sintoma. Nesta época, entretanto, não haviam remédios específicos para tratamento da pressão arterial. Em 1942 sua pressão já estava em 190/115 mmHg, em 1944 em 200/110 mmHg. Nesta época ele apresentava-se com falta de ar e a conclusão dos médicos foi a de que haviam problemas no seu coração e os seus rins trabalhavam com dificuldade. Em abril de 1945, o presidente teve um derrame cerebral e faleceu. Tinha na época 63 anos de idade. Se vivesse hoje em dia, com as descobertas de medicamentos para reduzir a pressão arterial, certamente ele teria vivido muito mais tempo. Conheça seus números A verdade é que mesmo uma pessoa com pressão normal, aos 55 anos de idade, tem 90% de chances de ter pressão alta mais tarde na vida. E a boa notícia é que hoje existem muitos remédios eficazes em reduzir os valores pressóricos e, cada vez mais, novas terapias são usadas para tratamento de todos os hipertensos incluindo os idosos. Portanto, em qualquer idade, se você ainda não sabe os seus números, procure um médico ou, simplesmente, meça a sua pressão arterial e veja os seus valores. Para todas as idades, números iguais ou maiores de 140/90 mmHg já são considerados, elevados, mas para as pessoas acima de 65 anos, podemos considerar os valores de 150/90 mmHg como números que começam a preocupar. Hipertensão Arterial no Idoso No Brasil pessoas acima de 60 anos já são consideradas idosas e não se sabe ao certo, quantas são portadoras de Hipertensão Arterial. O IBGE estima que os idosos são mais de 20 milhões de indivíduos espalhados por todo país. Se a esmagadora maioria tem elevados níveis pressóricos, então estamos falando de uma população de idosos hipertensos bem numerosa. Quando se afirma que a pressão é 140/90 mmHg, o primeiro valor (140) é a pressão chamada sistólica e o segundo valor (90) a pressão diastólica. Pressão Sistólica é aquela pressão com que o coração empurra o sangue para todas as regiões do organismo e pressão diastólica seria a pressão do sangue entre um batimento e outro. Nos idosos, a pressão sistólica (máxima) sobe mais do que a diastólica (mínima) a medida que a vida passa. Isso acontece devido ao enrijecimento dos vasos que conduzem o sangue (artérias). Acontece que estes valores sistólicos muito elevados, também são considerados responsáveis pelo aparecimento de lesões nos órgãos vitais, como cérebro, coração e rins. Os vasos que percorrem nosso corpo são bastante delicados e foram projetados para receber pressões nas suas paredes bastante inferiores àquelas cifras pressóricas encontradas no hipertenso. Assim, com o tempo, estes vasos começam a danificar suas paredes e acabam por comprometer a função do órgão que está sendo irrigado. Portanto, reduzir os valores de pressão de uma pessoa hipertensa devolve aos vasos a possibilidade de não sofrer mais com a força do sangue batendo em suas paredes. Vida mais longa aos vasos sanguíneos traduz em vida mais longa para você. Aliás, você tem a idade que os seus vasos sanguíneos têm. Assim, quando os vasos no idoso estão muito enrijecidos, é possível que o aparelho de pressão colocado no seu braço, esteja aferindo apenas a dureza dos seus vasos e não a pressão do sangue dentro deles. Pressões Sistólicas exageradamente altas com Pressões Diastólicas muito baixas são sugestivas de falsa hipertensão. Nesta situação, o uso de anti-hipertensivos precisa ser cauteloso. Troque uma opinião com seu médico sobre isto. O que você pode começar a fazer a partir de hoje, caso seja hipertenso. Perder peso, se estiver acima, é um bom começo; reduzir o sal na dieta; comer frutas e vegetais todos os dias; caminhar após adequada avaliação médica; manter seus níveis de glicose adequados e verificar como está a saúde dos seus rins são medidas importantes para todos adultos, independentemente da idade. Mais ainda para os idosos. Especificamente, para verificar a saúde dos seus rins, consulte um nefrologista que fará uma adequada consulta clínica, solicitará alguns exames laboratoriais e, entre eles, um exame de urina e a dosagem da creatinina em uma amostra de sangue. Tanto a avaliação clinica, feita pelo nefrologista, e os exames por ele solicitados, irão diagnosticar se existem problemas com os seus rins e também com outros órgãos, tais como o coração. Mas não se aborreça, é tudo muito simples. Falando sobre o sal De um modo geral, quanto mais sal você ingere, mais alta fica sua pressão. Portanto, reduzir o sal da dieta tem benefícios, maiores para os idosos hipertensos, do que para outras faixas etárias, principalmente se você também é diabético ou tem doença renal. Normalmente os embutidos e alimentos enlatados possuem quantidades muito elevadas de sal. Verificar o rótulo dos alimentos, procurando as quantidades de sal existentes em cada porção pode fazer parte da sua rotina nas compras. Uma dica é evitar alimentos que possuem mais de 150 mg de sal por porção. Falando sobre o exercício Atividade física é importante para a sua saúde em geral. Se você não se exercita diariamente, fale com seu médico para que ele faça um esquema especial de treinamento físico para você. A regra geral é começar bem devagar, tipo 2 vezes na semana com 5 a 10 minutos de caminhada. A partir daí, você vai aumentando o tempo e o numero de vezes. Sempre é bom lembrar que vale a pena começar somente após a avaliação clínica feita por um médico da sua escolha. Preciso medir constantemente a minha pressão? Sim. Acontece que muitas pessoas são hipertensas somente quando estão no consultório médico ou em ambiente hospitalar, com outras acontece justamente ao contrário, têm níveis de pressão normais no consultório e níveis elevados em casa. Medir a pressão arterial em casa também é muito bom para aqueles que estão iniciando tratamento com as remédios que diminuem a pressão (anti-hipertensivos). Vale à pena consultar seu médico para que ele indique o aparelho adequado e lhe ensine a medir sua pressão corretamente. Durante o tratamento, periodicamente, verifique seus números em casa. Remédios anti-hipertensivos Existem dezenas de medicamentos anti-hipertensivos à venda nas farmácias. Os idosos, em particular, como podem ter outras doenças associadas à hipertensão, devem usar os anti-hipertensivos com o cuidado de não atrapalhar ou criar outros problemas. Seu médico, depois de um exame clínico minucioso, indicará qual o melhor medicamento para você. Alguns anti-hipertensivos podem causar efeitos colaterais, tais como um aumento na diurese, dificuldade em ter e manter ereções nas relações sexuais, tonturas, câimbras, tosse, inchaço de tornozelo, por exemplo. Qualquer efeito diferente, em uso da medicação, deve ser comunicado ao seu médico. Para finalizar, lembre-se sobre a história do Presidente Roosevelt contada no início deste artigo. Lembre-se que os remédios anti-hipertensivos são frutos de muita pesquisa e representam uma conquista para a humanidade, de tal modo que homens e mulheres possam desfrutar de um longa vida, cheia de felicidade e longe das consequências da Hipertensão Arterial. Este texto foi baseado no guia destinado à população de hipertensos, do Colégio Americano de Médicos (American College of Phisicians)