Pequenas Centrais Hidrelétricas – PCHs Prof. Dr. Edson Luís Piroli. 1 – O são PCHs? Segundo a resolução nº 394 de 04-12-1998 da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), Pequena Central Hidrelétrica (PCH) é toda usina hidrelétrica de pequeno porte cuja capacidade instalada seja superior a 1 MW e inferior a 30 MW, com um reservatório de no máximo 3 km². 2 – O que é impacto ambiental? Conforme a RESOLUÇÃO CONAMA Nº 001, de 23 de janeiro de 1986; Artigo 1º - Para efeito desta Resolução, considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população; II - as atividades sociais e econômicas; III - a biota; IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V - a qualidade dos recursos ambientais. 3 - Como evitar os impactos ambientais? Artigo 2º - Dependerá de elaboração de estudo de impacto ambiental e respectivo relatório de impacto ambiental - RIMA, a serem submetidos à aprovação do órgão estadual competente, e do IBAMA em caráter supletivo, o licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente, tais como: ... VII - Obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos, tais como: barragem para fins hidrelétricos, acima de 10MW, de saneamento ou de irrigação, abertura de canais para navegação, drenagem e irrigação, retificação de cursos d'água, abertura de barras e embocaduras, transposição de bacias, diques; ... Artigo 5º - O estudo de impacto ambiental, além de atender à legislação, em especial os princípios e objetivos expressos na Lei de Política Nacional do Meio Ambiente, obedecerá às seguintes diretrizes gerais: I - Contemplar todas as alternativas tecnológicas e de localização de projeto, confrontando-as com a hipótese de não execução do projeto; II - Identificar e avaliar sistematicamente os impactos ambientais gerados nas fases de implantação e operação da atividade ; III - Definir os limites da área geográfica a ser direta ou indiretamente afetada pelos impactos, denominada área de influência do projeto, considerando, em todos os casos, a bacia hidrográfica na qual se localiza; lV - Considerar os planos e programas governamentais, propostos e em implantação na área de influência do projeto, e sua compatibilidade. Santa Cruz do Rio Pardo PCH Santana Figueira Branca Niagara Ourinhos Sta Cruz RP / Bernardino de Campos Sta Cruz RP / Óleo 7,05 2,07 4,89 107.408.931,31 94.732.444 102.538.157 108.974 91.980 97.411 33 32 33 514,40 380 497,32 Propriedades afetadas 57 17 81 Funcionários 8 8 8 Localização represa Área reservatório (km²) Investimento (R$) Geração anual MWh/ano Altura da barragem (m) Comprimento barragem (m) Questões a serem refletidas (a partir do RIMA das PCHs): - Desvio do rio para construção da barragem - Abertura de canal(is) - Custos e impactos? - Construção das barragens - Materiais necessários - Custos financeiros - Custos ambientais - Área de onde serão retirados os materiais - Emissão de Carbono - Assoreamento do leito do rio - Contaminação / poluição das águas do rio Pardo - Impacto sobre a flora - Impacto sobre a fauna - Impacto sobre o solo - Exercício: Material necessário para construção das barragens (valores aproximados): - Santana: 514,40 m x 33 m x 66 m 1.120.363,2 m³. Ou 93.364 caminhões cheios de material. Quanto de combustível? - Figueira Branca: 380 m x 32 m x 64 m 778.240 m³. Ou 64.854 caminhões cheios de material. - Niagara 497,32 m x 33 m x 66 m 1.083.162,96 m³. Ou 90.264 caminhões cheios de material. Total: 2.981.766,16 m³. Ou 248.482 caminhões cheios de material. - O que será feito com os peixes e demais espécies que vivem no rio, nas regiões próximas às barragens, no período de construção destas e durante o enchimento do reservatório? Limpeza do reservatório ... Remoção de toda vegetação da margem do rio para os pontos mais altos... (p. 31 EIA/RIMA). - Impactos desta fase? - Solos - Água - Fauna - Vegetação - Destino do material retirado? - Venda? Recursos para quem? - Queima? - Doação? Enchimento do reservatório O que será feito com a fauna nesta fase? E com a fauna aquática? (macro e micro-fauna) Foto 3.2-2: Árvores de grande porte na AID da PCH Figueira Branca. (RIMA, P. 59). Plantio da futura APP 100 metros a partir da margem do reservatório. Foto 2.5-1 Vista da vegetação da APP atual do rio Pardo. RIMA p. 32 Questões - Após o corte da mata ciliar da margem atual do rio e da construção das barragens, de quanto é o impacto previsto do movimento das águas nas novas margens, não estruturadas naturalmente para resistirem ao movimento das mesmas até a estabilização? E em quanto tempo estas margens estarão estabilizadas e com sua mata ciliar recomposta? - O que será feito com a fauna silvestre, identificada nos levantamentos feitos pela empresa contratada, durante as tarefas de corte da mata ciliar? E depois, no período de anos entre o enchimento da barragem e o crescimento da nova mata ciliar, onde estas espécies habitarão? Vão se alimentar de que? Como vão se reproduzir? - O que será feito com as abelhas nativas que vivem nos ocos das árvores à margem do rio? E com os répteis, e com os ninhos das aves? E com os anfíbios? E com a microfauna que vive no solo da mata ciliar que será inundada? E os serviços ambientais prestados por estas espécies, como a polinização? De quanto será a compensação? - Quantas espécies vegetais arbóreas serão plantadas na nova APP? E as espécies epífitas? E as lianas, cipós, liquens e fungos? Como serão reintroduzidos na nova área? Quando e por quem? – Qual é a previsão de tempo para a recuperação do ecossistema da mata ciliar? Ele será recuperado algum dia? – Como será tratada a questão da modificação, danificação e destruição de ninhos e criadouros naturais prevista no Artigo 29 da Lei 9.605? – Como a empresa proponente quantificará o volume de madeira da mata ciliar a ser cortada? Para quem ficará o dinheiro deste “produto”? – Como serão tratadas as espécies que não podem ser cortadas, transportadas e comercializadas, como o Xaxim (Dicksonia selowiana), cujo corte é proibido pela legislação? – Como será feita a compensação das relações simbióticas entre a vegetação, a micro fauna e o solo hidromórfico característico do ecossistema de mata ciliar? Desapropriações de propriedades para a construção das PCHS Serão desapropriadas áreas de 155 propriedades rurais -Como serão ressarcidos os prejuízos dos negócios localizados ao longo da margem do rio, que serão impedidos pela sua inundação? -Quantos empregos serão perdidos com o fechamento destes negócios? -Qual é a produção, geração de recursos e de impostos das áreas produtivas das propriedades que serão alagadas (2.541,71hectares)? Para assegurar que o processo de desapropriação e indenização ocorrerá da melhor forma possível, é previsto um Programa de Indenizações de Terras, Benfeitorias e Plantações (RIMA, p. 34). Isto será definido após as licenças??? Foto 3.1-3: Visão geral do futuro local do barramento da PCH Figueira Branca. P. 50. Fauna silvestre Aves 166 espécies – ninhos, filhotes? Mamíferos Foram registradas 44 espécies nos dois levantamentos de campo, na área de influência direta das 3 PCH’s, sendo 3 dessas consideradas vulneráveis e em perigo no estado de São Paulo (gato-do-mato, sussuarana e veado). (RIMA, 65). Repteis e Anfíbios Foram localizadas 21 espécies de anfíbios e 1 de réptil, nenhuma dessas ameaçadas de extinção. Peixes Foram realizadas coletas em 4 pontos do rio Pardo, em períodos secos e úmidos, sendo encontradas 43 espécies de peixes. A grande maioria dessas espécies são típicas de águas correntes, não ameaçadas de extinção e de pequeno a médio porte. A exceção foi a coleta de peixes como o dourado e a tabarana, espécies migradoras, de médio a grande porte, consideradas ameaçadas no estado de São Paulo, encontradas em baixíssima freqüência e abundância. Aspectos sócio-econômicos Foto 3.3-3 Estufas de cultivo de tomate e pimentão próximas ao rio Pardo. RIMA, 74. Figura 3.3-1 Foto aérea onde pode ser visto o rio Pardo e aspectos de uso do solo no entorno do trecho de remanso da represa projetada da PCH Figueira Branca. RIMA, p. 73 Os principais impactos cumulativos e sinérgicos gerados quando ações decorrentes das atividades das PCH’s Santana, Figueira Branca e Niágara ocorrerem ao mesmo tempo e/ou espaço são (RIMA, p.107): • Dinamização de Processos Erosivos Fluviais e de Assoreamento; • Alteração da qualidade das águas superficiais; • Ocorrência de Sismos Induzidos; • Diminuição da Riqueza de Espécies, Perda da Variabilidade Genética e Aumento na Degradação dos Remanescentes de Vegetação; • Interferência com a fauna e corredores de fauna; • Perda de ecossistemas naturais; • Alterações na comunidade de invertebrados aquáticos e ictiofauna; • Alteração na composição e distribuição da fauna; • Expectativa da população em relação à empregabilidade e negócios; • Interferência Sobre os Equipamentos e Serviços Públicos; • Proliferação de vetores de doenças de veiculação hídrica; • Dinamização da economia local associada ao aumento na demanda por bens e serviços; • Aumento da disponibilidade de energia; • Alteração das atividades relacionadas ao Uso do rio Pardo; • Perda de patrimônio arqueológico, histórico e cultural regional, ligados à memória nacional. MAIS ALGUMAS QUESTÕES - Qual é o potencial de geração de empregos e de renda do rio para a população, com outras atividades, como pesca, turismo, eventos, etc? E caso o mesmo seja entregue para a empresa proponente de quanto será a compensação sobre estas atividades que deixarão de ser desenvolvidas? - Qual é o valor monetário das cachoeiras e corredeiras que serão inundadas? -A empresa proponente é da região? Caso o projeto seja aprovado, onde serão investidos os lucros auferidos com a privatização de um patrimônio natural regional? - O que será feito com os trabalhadores trazidos para atuarem nas obras da represa, após sua conclusão? -Quanto de ICMS será gerado para cada um dos 7 municípios, caso as PCHs sejam implantadas? -Como serão ressarcidos os prejuízos dos negócios localizados ao longo da margem do rio, que serão impedidos pela sua inundação? - Quantos empregos serão perdidos com o fechamento destes negócios? -De quanto serão os gastos das prefeituras para o atendimento com serviços básicos de educação, saúde, segurança e outras infra-estruturas a serem disponibilizadas aos trabalhadores (e suas famílias) que virão de outros lugares para trabalhar nas obras de construção da represa? Depois de construídas as represas, qual o impacto dos 24 trabalhadores previstos, na empregabilidade dos 7 municípios? - Como ficarão os aluguéis no período da construção das represas. Ourinhos já é uma cidade extremamente inflacionada. Santa Cruz do Rio Pardo e as demais cidades da região também ficarão? E o impacto social de centenas de homens acumulados por um curto período de tempo em uma cidade pequena ou média? O que fica depois que eles vão embora? – Ao longo das explanações dos proponentes, nas audiências ouvimos várias vezes a informação de que o ecossistema regional já é bastante alterado. Isto também está descrito no RIMA. Este argumento pode ser usado para impactar ainda mais este ecossistema? Não será o caso de começarmos a recuperar se quisermos ter alguma expectativa de boas condições de vida futura? – A bacia hidrográfica da qual o rio Pardo faz parte (a do Paranapanema) já é uma das mais represadas do País. Porque represar também este tributário? - Caso seja absolutamente necessário gerar energia no Rio Pardo, por que não buscar formas alternativas de geração de energia no próprio rio, como uso de turbinas ou rodas d´água instaladas ao longo de seu leito ou em suas margens? Energias alternativas - Geração de energia a partir de equipamentos mais eficientes no uso da força motriz e ambientalmente. -Geração de energia a partir da biomassa das indústrias da região. http://fichasmarra.wordpress.com/2010/12/21/geracao-de-energia-por-biomassa/ Parque eólico de Osório, RS. 425 MWh/ano. 100 empregos. http://alvaro.lima.vieira.50megs.com/photo_1.html Central Fotovoltaica da Amareleja – Sul de Portugal – 2,5 km² - 93.000 MWh/ano. http://cfqenergiasdofuturo.blogspot.com/2011/04/energias-alternativas-energia-solar.html http://energiasfisics.blogspot.com/2010/11/energia-das-mares.html Aguçadoura, Portugal. http://maremotriz.zip.net/arch2009-03-15_2009-03-21.html O rio Pardo já presta um grande serviço para o ecossistema e para a população do seu entorno, simplesmente, por existir, uma vez que contribui com: - Água - Ar puro - Alimento - Terras férteis - Corredor ecológico - Serviços ambientais - Equilíbrio climático regional - Fármacos (animais e vegetais) -E pode contribuir ainda mais, com: - Ecoturismo (bóias, caiaques, trilhas ecológicas, campeonatos, campings...) - Turismo rural (eventos, hotéis fazenda... a copa do mundo e as olimpíadas vem aí...) Novas alternativas estão sendo geradas, Novas possibilidades surgem com os avanços da ciência, Impactos gerados podem ser irreversíveis, A população deve ter o direito e a responsabilidade de intervir nas tomadas de decisões, sobretudo naquelas que impactam o futuro da comunidade, pois todos serão afetados pelas escolhas feitas hoje. Os governos DEVEM ouvir as comunidades locais, e sobretudo defender suas aspirações, uma vez que são seus representantes legais, e portanto tomar as decisões em função do interesse destas, e não de pequenos grupos. -A questão fundamental é que as PCHs não mudarão a vida da região para melhor em nenhum aspecto, afetando porém, negativamente, a vida de todos. - O peso da energia gerada nas três PCHs propostas é de aproximadamente 0,014% na matriz energética nacional. - Os recursos do BNDES (FAT) devem ser investidos na pesquisa de energias renováveis e não degradadoras, ou em sistemas de economia de energia para a população. - O $ do BNDES, que é nosso, não pode ser usado para nos prejudicar. O que fazer para impedir: O município pode: - Encaminhar documento oficial para a CETESB, se posicionando contra; - Elaborar Lei Municipal de tombamento do rio no seu município ou na Lei orgânica, dizer que não autoriza a implantação de barragens em sua área ou em determinado rio; - Pedir o embargo do projeto, mostrando que o mesmo trará mais malefícios do que benefícios para a população; - Indicar, no Plano diretor, que a área é de proteção ambiental, de desenvolvimento turístico, de proteção de sítios arqueológicos... A CF, em seu Artigo 30, diz que compete aos Municípios: I - legislar sobre assuntos de interesse local; ... VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano; IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual. Pequenas Centrais Hidrelétricas – PCHs Pequenas na geração de energia, grandes na geração de impactos