1 ÉTICA E MULTICULTURALIDADE *João Miguel Back Resumo: A multiculturalidade se apresenta como um elemento fundamental para a ética, considerando a lógica interna de sua inter-relação. Pressupondo processo de universalização, enquanto horizonte, direção, não enquanto forma absoluta, como elemento fundamental para a moral e a ética e, considerando ainda que a multiculturalidade é um componente fundamental para a universalidade, sobretudo no aspecto da historicidade, pode-se demonstrar interação inerente entre ética e multiculturalidade. Os conceitos moral e a ética implica a multiculturalidade como um elemento constitutivo fundamental. A fundamentação racional para a ética e a moral somente pode ser pensada sob a égide de uma tendência à universalização, a indicar também o caráter de historicidade, não se tratando portanto de um universal abstrato. Pressupondo que o princípio universal deve considerar em nível de fundamentação a unidade nas diferenças, impõe-se inexoravelmente o respeito às culturas múltiplas para, a partir destas, explicitar e fomentar princípios universais para a conquista do bem comum. Por multiplicidade entende-se aqui a percepção de que à base da multiplicidade cultural seja necessário fomentar princípios de unidade que possam contribuir na realização do Ser humano em seu sentido último e, proporcionar condições para que Ele possa efetivar sua dignidade originária de Ser humano. 2 Introdução A necessidade de uma racionalidade que conceba a multiculturalidade pode ser apontada a partir da própria ética, afirmando-se desta forma a relação entre ética e multiculturalidade. Queremos aqui apontar alguns elementos desta relação que tem sustentação racional na sua lógica interna. Dois elementos centrais são: a universalidade e a historicidade1. Tanto a ética, a moralidade, quanto a multiculturalidade necessitam do elemento da universalidade como seu pressuposto, embora em cada um destes ele se manifesta de forma distinta. Enquanto na ética o princípio da universalização serve de referência direta, para a moral e à multiculturalidade ele é aplicado por via indireta. Somente pressupondo a universalidade pode-se razoavelmente afirmar e garantir a diversidade. Sendo que a legitimidade do direito à diferença (culturas) somente pode ser garantida à base de uma referência de unidade que pressupõe o princípio filosófico da universalidade, logo, princípio que indique o universalizável. Portando, também o reconhecimento de culturas múltiplas se torna uma exigência conceitual à postulação da ética e da moralidade. Estas interfaces nós pretendemos demonstrar na segunda parte. É fundamental que se apresente o marco teórico da eticidade, moralidade e multiculturalidade para poder-se afirmar sua inter-relação e suas devidas distinções. Em primeiro lugar, será fornecida uma referência básica à estes conceitos para explicitar este construto teórico. Para tal, as idéias aqui referidas não pretendem ter nenhuma originalidade, outrossim, esperam contribuir com apontamentos relevantes para a discussão destas questões. O trabalho está estruturado 1) numa referência aos conceitos de moral e ética, visando uma explicitação dos elementos fundamentais da base conceitual, considerando sua aproximações e distanciamentos; 2) apresentar uma compreensão de multiculturalidade e, sua relação com a ética; 3) apontar alguns elementos fundamentais para a discussão da ética e culturas hoje. 1 “Por outro lado, a realidade moral varia historicamente e, com ela, variam os seus princípios e as suas normas. A pretensão de formular princípios e normas universais, deixando de lado a experiência moral histórica, afastaria da teoria precisamente a realidade que deveria explicar. Também é certo que muitas doutrinas éticas do passado não são uma investigação ou esclarecimento da moral como comportamento efetivo, humano, mas uma justificação ideológica de determinada moral, correspondente a determinadas necessidades sociais, e, para isto, elevam os seus princípios e as suas normas à categoria de princípios e normas universais, válidos para qualquer moral.” (VÁZQUEZ, 2002, p.20). 3 Elementos básicos da moral e da ética Algumas noções são fundamentais na compreensão dos conceitos de moral e ética, a partir do cotejamento de suas diferenças e pontos de convergência. A partir do sentido etimológico, pode-se perceber que a origem das palavras latinas moral e ética tem um significado bastante próximo. A palavra moral tem sua origem no latim mos ou mores significando “costume” ou “costumes” e a ética vem do grego ethos e significa “modo de ser’” ou “caráter”2. Sendo que ambas significam algo adquirido e não simplesmente natural ou espontâneo3. Os mesmos se referem a tradição e a história do homem. No entanto, na história do pensamento filosófico estes dois conceitos vão adquirindo gradativamente significados diferentes. Esta mudança ocorre principalmente a partir do mundo moderno onde a afirmação da autonomia da razão pretende demarcar especialmente o campo da racionalidade, exigindo uma fundamentação racional para cada proposição e, por conseguinte, provocando uma separação entre a Ciência (método científico) e a Religião. Alguns expoentes da discussão filosófica exigem da reflexão ética necessariamente uma fundamentação racional. Reivindicam assim esta fundamentação racional, sendo que a ética deveria ter como características principais a objetividade, método e sistematicidade. Já, a moral deveria afirmar o espaço da consciência do indivíduo, com a atenção mais voltada à particularidade, vinculada diretamente aos valores da tradição, cultura e religião. No entanto, esta consciência do indivíduo deveria buscar sua legitimidade não nela mesma, mas na racionalidade (universalidade)4. Neste sentido, introduz-se a passagem da moralidade à eticidade, sendo a última compreendida como o estudo dos valores morais, introduzindo também o espaço da criticidade. 2 Ver VÁZQUEZ (2002, p. 24). Também cf. TUGENDHAT (1997, p. 35-6). “Desta maneira temos, pois, de um lado, atos e formas de comportamentos dos homens em face de determinados problemas, que chamamos morais, e, do outro lado, juízos que aprovam ou desaprovam moralmente os mesmos atos. Mas, por sua vez, tanto os atos quanto os juízos morais pressupõem certas normas que apontam o que se deve fazer. Assim, por exemplo, o juízo: ‘Z devia denunciar o seu amigo traidor’, pressupõe a norma ‘os interesses da pátria devem ser postos acima dos da amizade’.” (VÁZQUEZ, 2002, p. 16) Idem VÁZQUEZ ( 2002, p24-5). 4 Cf.o Imperativo categórico kantiano. É moral aquele princípio que tem sustentação no princíio universal. 3 4 A moral e a ética estão intrinsecamente vinculados. Ambas tem como objeto o humano enquanto possibilidade e efetivação na forma de um investimento processual, contínuo e permanente da realização da pessoa5. Já, a Ética representa o campo dos valores que buscam o especialmente o humano através de uma reflexão racional entorno do objeto moral. Neste sentido, alguns autores definem a ética como sendo o estudo racional da moral6. O princípio primeiro-último da ética, como também o da moral, é o humano. Como supracitado, o pressuposto da reflexão ética é a universalidade, no sentido em que universalidade significa totalidade (todas as pessoas) e integralidade plena (a realização de todas as dimensões destas pessoas), também porque requer autonomia em sua fundamentação, o que o eleva ao nível do princípio supremo da modernidade7. 5 “Vemos, pois que o significado etimológico de moral e de ética não nos fornecem o significado atual dos dois termos, mas nos situam no terreno especificamente humano no qual se torna possível e se funda o comportamento moral: o humano como o adquirido ou conquistado pelo homem sobre o que há nele de pura natureza. O comportamento moral pertence somente ao homem na medida em que, sobre a sua própria natureza, cria esta segunda natureza, da qual faz parte a sua atividade moral”. (VÁZQUEZ, 2002, p 24-5) 6 “A ética é a teoria, investigação ou explicação de um tipo de experiência humana ou forma de comportamento dos homens, o da moral, considerado porém na sua totalidade, diversidade e variedade.” (VÁZQUEZ, 2002, p. 21); “Ética é a teoria ou a ciência do comportamento moral dos homens em sociedade. Ou seja, é a ciência de uma forma específica de comportamento humano.” (VÁZQUEZ, 2002, p. 23); “A ética é a ciência da moral, isto é, de uma esfera do comportamento humano.” (VÁZQUEZ, 2002, p. 23) 7 “Desta forma chegamos à questão fundamental destas lições, se existe uma compreensibilidade de normas morais que seja independente de tradições religiosas. Pode-se dizer que esta é a questão da compreensibilidade de uma moral moderna. Ou então devem existir outras morais modernas? Certamente que isto contradiria, então, a validade universal, aparentemente inerente à pretensão das normas morais.” (TUGENDHAT, 1997, p. 14) 5 A conquista da humanização, enquanto princípio afirmado pela tradição do pensamento filosófico exige, entre outras coisas, a possibilidade de todas as pessoas realizarem efetivamente a sua liberdade. Por outro lado, isto pressupõe que sejam garantidas as condições mais amplas à realização plena da pessoa, tais como: saúde, educação, alimentação, cultura e outros. Já, o princípio filosófico da universalidade implica o respeito a esta unidade das diversas facetas do ser humano, garantindo a realização plena em todas as dimensões da pessoa e da totalidade de pessoas. É fundamental que se conceba o ser humano a partir da unidade entre o particular, singular e o universal. Somente com a consciência, por exemplo, desta universalidade pode-se garantir e justificar a necessidade do respeito à diversidade de toda ordem, inclusive a de culturas diferentes. O mundo moderno vislumbrou a autonomia de cada pessoa singular, o que só pode ser fundamentado a partir de uma instância que é comum a todos, que se traduz na razão. Com isso, no entanto, não se pretende afirmar a racionalidade positivista e mecanicista predominante na ciência moderna que marcou o pensamento da Ilustração, caracterizado como racionalidade instrumental e de linguagem matemática, fornecendo inclusive a ilusão de um conhecimento absoluto. É necessário que se reconheçam os limites desta racionalidade, o que pode ser acompanhado através da crítica à razão moderna8. É necessário avançar na direção da reviravolta lingüístico-pragmática que aponta à racionalidade voltada para a ação-comunicativa, como o espaço por excelência da construção de uma racionalidade conceitual histórica e ontológica. Outro elemento importante a ser destacado se refere a crítica ao solipsismo do homem moderno, dada a sua estrutura subjetivista e formalista, geradora do individualismo e da fragmentação da razão. De outro lado, é fundamental que a autonomia da razão, com a recuperação da historicidade e objetividade, supere os problemas históricos de fundamentações arbitrárias e particularistas que consideravam legítimas e suficientes a autoridade religiosa e também outras formas de autoridade, sociais e políticas na afirmação de verdades e de princípios de toda ordem. Com a fundamentação racional dos princípios e dos valores morais a reflexão ética contribuiu significativamente na afirmação da liberdade universal e de sua efetivação. 8 “O contexto atual da Filosofia é de crise. Uma crise que, na projeção de alguns, é fruto da ‘fragmentação da razão’, prefigurada no século passado e que se prolonga até os dias atuais. Esse quadro de perplexidade próprio da cultura ocidental, além de provocar um descrédito da razão, parece negar qualquer pretensão de universalidade capaz de reunir a diversidade de sub-razões que cada sociedade, cada grupo, cada ocasião apresentam em sua lógicas internas. A cultura moderna fragmentou a razão, reduzindo-a a um conhecimento estritamente cognitivo-instrumental. A Filosofia acabou reduzindo-se a Ciência particular ou a Lógica científica, desprendendo-se, pouco a pouco, da 6 A moral vem a ser a reflexão dos princípios de ação que dizem respeito a consciência de cada pessoa. É normativa na medida em que orienta a conduta da pessoa indicando o deverser mediante uma apreciação da dimensão qualitativa do que deve ser. Esta consciência busca julgar a partir de critérios e valores que se adquirem desde o instante em que a consciência é despertada a ser membro-de, parte de um núcleo familiar, da cultura ou de um segmento social. A consciência moral é subjetiva no sentido de se referir ao sujeito individual, à sua vontade subjetiva, à sua subjetividade singular, mas tem sua interface na objetividade, na medida em que, em qualquer ação que este sujeito vier a tomar, deverá considerar as conseqüências inerentes ao ato, que de alguma forma implica numa intersubjetividade, ainda que o indivíduo não tenha consciência desta implicação. Portanto, é necessário que a consciência também procure sua justificação racional para se legitimar em sua dimensão objetiva. O que alguém faz ou deixa de fazer diz respeito a um outro em algum momento, talvez as conseqüências só sejam perceptíveis a médio ou longo prazo, mesmo assim, deveriam ser previstas pelo recurso da reflexão. A reflexão é justamente esta deusa que através da abstração torna isto possível. Por exemplo, se eu quiser destruir a minha vida com drogas, as conseqüências deste ato não atingirão somente a min particularmente, mas às pessoas que diretamente e indiretamente participam da minha vida devido as relações que estabeleço enquanto se de convivência (ser social), no trabalho, na ocupação de espaços sociais. Devo pensar nas pessoas que poderão ser afetadas quando no futuro eu vier a estabelecer relações com as mesmas, porque de alguma forma também elas serão atingidas pelas conseqüências mediatas desta ação. Sendo que, por exemplo, se o meu organismo em qualquer uma das funções tiver sido prejudicado pelo uso da drogas, isto interferirá na afetará a minha disposição, seja ela física, biológica, mental, etc. e, assim afetará as pessoas que de alguma forma estivarem relacionadas comigo. O que mostra que qualquer princípio moral, na medida em que passar por um processo de reflexão mais aguda, tende a desvelar sua esfera objetiva, sendo que fica demonstrado assim que a consciência implica de alguma forma a esfera de objetividade e, por isso, é fundamental que a consciência moral individual busque sua legitimidade na fundamentação racional (universalizável). fundamentação metafísica e renunciando a uma interpretação do mundo, da natureza e da história no seu conjunto...” (PIZZI, 1994, p. 13) 7 A ética implica uma racionalidade multicultural A compreensão de cultura que sustenta esta reflexão tem como base a idéia de que cultura é tudo aquilo que é produto consciente do homem, fundamentalmente o trabalho não material, aquele que desenvolve o espírito do homem para além das necessidades primárias, não simplesmente naturais. Sendo que neste sentido, cultura pode ser compreendida como uma segunda natureza porque desenvolve o espírito do homem no horizonte do sentido último da vida, num percurso de superação do nível das necessidades básicas que a natureza lhe impõe, bem como de superação dos movimentos geralmente inconscientes e de ações involuntárias. A questão se deve ao fato de o homem ser parte de um organismo maior que ele não pode determinar, ele é parte de um sistema mais global cujas leis necessárias o envolve,. O homem estabelece vínculos com o meio-ambiente externo, cosmos, etc., o que acarreta que existam relações de necessidade com este universo global e, por isso, muitos atos são inconscientes como, por exemplo, o sistema nervoso, sistema digestivo, sistema respiratório, etc. Porém, o homem é especial e pode contribuir significativamente neste organismo global dando finalidade a sua vida e direção a este cosmos. A cultura representa justamente este espaço de sentido e de finalidade que o homem dá a sua vida e a vida do planeta. Neste sentido, pode-se perceber a relação entre cultura e ética, uma vez que a ética diz respeito a busca de sentido para a vida e não ao fato de simplesmente viver ou, até mesmo, sobreviver9. Já a multiculturalidade implica o reconhecimento de que não há um sentido único, nem uma racionalidade única. O pensamento tradicional concebia o mundo a partir da égide da unidade racional rígida e imutável, compreendendo por conseqüência a cultura a partir de uma racionalidade imutável. A partir da Fenomenologia e Hermenêutica e de uma mudança geral no pensamento se questionou esta unidade racional, concebendo agora a realidade a partir da linguagem simbólica, construção da ação-comunicativa, abrindo caminho ao pluralismo teórico. Este novo paradigma é relevante porque dentro da perspectiva do pluralismo teórico, de uma racionalidade múltipla, não é mais razoável afirmar uma unidade cultural, mas necessariamente uma pluralidade cultural. A afirmação de culturas, não da hegemonia de uma cultura sobre as demais, é uma exigência fundamental para a ética. A ética por ter uma fundamentação racional necessita, em 9 “... Ocorre que a ética caracteriza um ser que não apenas vive, mas que pergunta pelo sentido de tudo e, portanto, pelo sentido de sua vida, pela razão de ser de suas ações....” OLIVEIRA, 2001, p. 8 primeiro lugar, justificar-se enquanto racionalidade, o que implica, nesta perspectiva, afirmar o pluralismo teórico. Em segundo lugar, a afirmação da cultura enquanto efetivação do humano deve partir de uma concepção clara e fundamentada de pessoa, portanto deve dar conta dos princípios fundamentais como o da liberdade universal de modo incondicional. O princípio da liberdade garante aos seres humanos o direito à diferença, logo, as culturas diferentes são uma explicitação deste direito fundamental. A ética entraria em contradição conceitual se preconizasse a hegemonia da unidade cultural, excluindo a possibilidade da diferença. Elementos para uma reflexão da ética hoje dentro da perspectiva da multiculturalidade Concebendo a ética como uma estrutura racional afirmada pela objetividade, universalidade e com fundamentação racional autônoma, deve-se compreender as conseqüências imediatas que causa à cultura em suas diversas manifestações. A ciência hoje é compreendida como um conhecimento que deve justificar suas posições a partir de elementos claros e objetivos, procurando sempre uma autonomia racional, conquista da modernidade, para tudo o que propor. Ao mesmo tempo, o paradigma desta nova concepção de conhecimento e de ciência indica que a realidade, o ser e todos os conceitos são realizados necessariamente pela linguagem que, por sua vez, mostra a importância de se reconhecer a semântica e a pragmática como instâncias de mediação que constituem de forma decisiva a compreensão de todo o ser, da coisa (das Ding). Isto é relevante porque é nesta racionalidade construída a partir do simbólico, da linguagem e contextos de comunicação, que se constrói o significado do ser. O que indica que o ser necessariamente é múltiplo e plural. A própria objetividade deve ser compreendida a partir da multiplicidade e vice-versa, mas jamais confundir objetividade com absolutidade. A cultura é uma das facetas do ser. Se a racionalidade é compreendida a partir desta multiplicidade então, também seus aspectos componentes como o da cultura deve ser compreendido dentro deste horizonte. Hoje, urge pensar uma sociedade possível concebendo uma unidade mínima de relações e entendimento justamente porque as pessoas estabelecem contatos e vínculos com um universo global muito amplo. Por exemplo, em termos de comunicação, de viagens, de mercados etc. Em contrapartida, é fundamental que 1) estas relações não sejam impostas de forma unilateral e de interesse particular. Elas devem ser globais em sua essência, surgindo na direção da 9 pluralidade para a unidade. No caso do mercado, este deve construir sua lógica interna e fundamental a partir da totalidade de interesses diferentes, o que significa que as leis de mercado devem surgir de forma a atender o interesse plural e, não a partir do interesse único de alguns impérios que se impõem aos membros mais fracos; 2) A unidade deveria implicar algumas dimensões e não uniformizar todas as esferas da sociedade. Contrariamente, hoje é possível perceber sociedades que ficam totalmente subjugadas a impérios em suas dimensões mais particulares, tendo sua autonomia violada inclusive nas dimensões que dizem respeito somente a eles próprios e não ao império a que estão subjugados. Por outro lado, a sociedade deve ter uma sistemática que incentive e promova o espaço necessário onde culturas manifestem suas diferenças e sua autonomia. Deveria ter especialmente uma política de incentivo que fomentasse a pluralidade. Para tal, a área da educação é o espaço especial, permeado de culturas, para possibilitar alavancar pedagogicamente a manifestação de culturas e sociedades com o espírito voltado à ética. Sob pena de a ética entrar em contradição própria, a partir do princípio da dignidade originário de cada pessoa revelada no humano, deve esta constituir-se, contendo como um dos pilares, a afirmação multiculturalidade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS OLIVEIRA, Manfredo Araújo de. Desafios éticos da globalização. São Paulo: Paulinas, 2001. PIZZI, Jovino. Ética do discurso: racionalidade ético-comunicativa. Porto Alegre: Edipucrs, 1994. SÁNCHEZ VÁZQUEZ, Adolfo. Ética. 22. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. TUGENDHAT, Ernst. Lições sobre ética. Rio de Janeiro: Vozes, 1996.