A Resistência da Negritude: descontruindo a mídia branca com

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A Resistência da Negritude: descontruindo a mídia branca com inserção e
resistência da negritude nos veículos de comunicação
Maria Luisa Mendes Santos Barros
Universidade Estadual do Piauí-UESPI
Resumo: Este artigo tem como objetivo discutir como a temática da negritude está sendo
abordada na mídia pelos profissionais da Comunicação. Pretende estimular reflexões a partir da
premissa pessoal de que a mídia é “branca”. A abordagem teórica foi produzida a partir de
bibliografias não só da área da Comunicação Social. Como objetivos específicos o artigo
pretende entender como os negros estão presentes na mídia com todos as opressões que sentem
na pele. Pretende também ampliar a percepção do racismo camuflado vigente nos veículos de
comunicação. É ainda uma tentativa de fortalecer, através do debate, a luta por uma
Comunicação Social mais democrática, que permita a pluralidade de voz e discursos na
produção de conteúdo midiático.
PALAVRAS CHAVES: Negritude. Mídia. Afrodescendente. Mídia Branca.
1.Introdução
A produção de conteúdo nos veículos de comunicações tornou-se ao longo dos
anos mais do que um mero instrumento de informação e entretenimento, representa para
atualidade o próprio ambiente de ação e construção de identidade das relações humanas.
As identidades culturais são pontos de identificação, os pontos instáveis de
identificação ou sutura, feitos no interior dos discursos da cultura e história.
Não uma essência, mas um posicionamento. Donde haver sempre uma
política da identidade, uma política de posição, que nãoo conta com nenhuma
garantia absoluta numa lei de origem sem problemas, transcendental (HALL,
1996 p. 70).
O artigo de pesquisa surgiu a partir do interesse com o tema da mídia como
construtora de estereótipos da negritude e a resistência do povo negro nas mídias além
do fato de ser afrodescendente. Essa pesquisa foi elaborada a partir do projeto de
pesquisa, intitulado O mito da mídia democrática a inserção e resistência da negritude
na mídia branca.
A produção de conteúdo jornalístico ainda é feita nos grandes veículos de
comunicação por profissionais brancos, elitistas e na maioria das vezes sulistas sem
espaço para diversidade cultural. “Quando falamos de pessoas que pertencem a diferentes
culturas, estamos portanto nos referindo a um tipo de diferença muito básico entre elas,
sugerindo que há variedades específicas do fenômeno humano”.( WAGNER, Roy. , 2012. p
28)
Este trabalho pretende explanar como o negro está inserido na mídia ressaltando
que não se tem a intenção de esgotar o assunto, mas de problematizar, tendo como
objetivo geral, entender como temática da negritude está sendo abordada nas mídias
pelos profissionais da Comunicação Social. Pretende-se, ainda, estimular a ampliação
da percepção do racismo camuflado nas mídias e que isso possa incomodar, uma parte
da sociedade e os profissionais da área para que possam modificar suas posturas diante
da realidade das redações jornalísticas.
No Brasil a maior parcela da população é negra, segundo o IBGE, mas é visível
sem nenhuma pesquisa oficial através da mídia os espaços que os afrodescentes ocupam
na sociedade. Portando, o negro quando consegue chegar as redações ficam em espaços
de pouca representatividade social ou se tornam pautas que na maioria das vezes são
retratados de formas negativas.
Para compreender mais sobre a negritude é necessário buscar bibliografias
específicas sobre racismo, preconceito, mídia brasileira, entre outros assuntos
relacionados ao artigo. O objetivo específico deste trabalho é oportunizar uma reflexão
sobre os espaços em que os negros estão inseridos nas mídias. Pretende-se entender qual
o espaço que o negro ocupa nas mídias diante dos problemas raciais e sócias que
diariamente criminalizam a negritude.
Mídia e Negritude
No Brasil a cor da pele ainda persiste ser fator discriminatório mesmo após
Abolição da Escravatura em 1888, sobretudo, na mídia. Com o fim da escravidão, os
negros não conseguiram serem inseridos socialmente por não terem acesso saúde,
educação, política, empregos continuando a ocupar os mesmos espaços à margem da
sociedade e vivendo em péssimas condições sociais.
O Brasil nunca estabeleceu oficialmente uma segregação racial colocando o pais
na situação de exemplo de integração racial. Ao mesmo tempo, que as autoridades
incentiva a entrada de estrangeiros no pais com o objetivo de fazer uma limpeza urbana
visual.Com isso, criando no imaginário social que existe a integração racial resultando
na democracia racial após a escravidão.
Há, diante desse problema de importância cada vez maior para os povos
modernos o da mestiçagem, o das relações de europeus com pretos, pardos,
amarelos – uma atitude distintamente, tipicamente, caracteristicamente
portuguesa, ou melhor, luso-brasileira, lusoasiática, luso-africana, que nos
torna uma unidade psicológica e de cultura fundada sobre um dos
acontecimentos, talvez se possa dizer, sobre uma das soluções humanas de
ordem biológica e ao mesmo tempo social, mais significativas do nosso
tempo: a democracia social através da mistura de raças (FREYRE, 1998 p.
14)
Os movimentos negros surgiram no período de redemocratização do pais como
Frente Negra Brasileira e o Teatro Experimental do Negro no Rio de Janeiro.Com isso,
tornam-se de extrema importância para que a negritude questionasse a mídia brasileira
por espaços de representatividade visual e intelectual.
Este processo, no entanto, não teve significações efetivas para as autoridades do
Brasil. Portanto, a miscigenação e mestiçagem passa a camuflar o mascaramento da
população negra a partir da falsa ideia de integração racial.
negros nascem com peso inferior a brancos, têm maior probabilidade de
morrer antes de completar um ano de idade, têm menor probabilidade de
freqüentar uma creche e sofrem de taxas de repetência mais altas na escola, o
que leva a abandonar os estudos com níveis educacionais inferiores aos dos
brancos. Jovens negros morrem de forma violenta em maior número que
jovens brancos e têm probabilidades menores de encontrar um emprego. Se
encontrarem um emprego, recebem menos da metade do salário recebido
pelos brancos, o que leva a que se aposentem mais tarde e com valores
inferiores, quando o fazem. Ao longo de toda a vida, sofrem com o pior
atendimento no sistema de saúde e terminam por viver menos e em maior
pobreza que brancos'. (IPEA 2007, p. 281 )
De fato, os veículos de comunicação passaram a reproduzir na mídia o que
acredita ser lucrativo e para que isso seja possível negam diversidade racial brasileira
principalmente na Televisão.Isso, acontece porque a maioria dos profissionais da
Comunicação são homens, brancos, sulistas e elitista.
O imaginário social é bombardeado de informações que falam positivamente de
pessoas brancas e negativamente de pessoas negras. De modo geral, “Quando precisam
mostrar uma família, um jovem ou uma criança, todos os meios de comunicação social
usam quase que exclusivamente o modelo branco”(BENTO, 2002, p.30).
Não é difícil concordar com o fato de que, do ponto de vista sociológico, toda
e qualquer identidade È construída. A principal questão, na verdade, diz
respeito a como, a partir de que, por quem e para que isso acontece. A
construção de identidades vale-se da matéria-prima fornecida pela história,
geografia, biologia, instituições produtivas e reprodutivas, pela memória
coletiva e por fantasias e por fantasias pessoais, pelos aparatos de poder e
revelações de cunho religioso. Porém, todos esses materiais são processados
pelos indivíduos, grupos sociais e sociedades, que reorganizam seu
significado em função de tendências sociais e projetos culturais enraizados
em sua estrutura social. (CASTELLS, 1999 p. 23).
A diversidade cultural não tem espaço nos meios de produções hegemônicos e a
consequência disso é dificuldade que profissionais principalmente negros enfrentam de
emplacar conteúdos sobre negritude fora das datas simbólicas do calendário brasileiro.
De fato, é comum nas redações jornalistas os repórteres, produtores, editores
chefes dentre outras funções serem ocupado por pessoas brancas. Estas não têm empatia
pelo assunto por não sofrem na pele a exclusão social por conta da cor da pele ou
quando tem interesse pelo assunto tenta dar sua visão. “Os casos de ascensão social de
pessoas de cor não enriqueciam o grupo social dos negr.os, uma vez que as pessoas de
cor que ‘subiam um degrau’ eram encaradas como ‘negros de alma branca’”
(FERNANDES, 1965)
Falar sobre a participação e a representação do negro na mídia é evidenciar as
contradições que a sociedade brasileira tenta camuflar, pois condena quem tem praticas
racista, mas pratica ações racistas. Portanto,o negro precisa esforçar-se duas vezes mais
para executar uma função mesmo tendo capacidade para exercer o que lhe foi destinado.
Com isso, a cor da pele torna-se a justificativa para que as pessoas brancas possam
justificar, questionar a capacidade dos afrodescendentes quando acontece algo de
errado.
(...) o orgulho negro supõem, propõem, e promove uma coesão, ou uma
espécie de solda, entre os indivíduos que se reconhecem como iguais,
operando como uma base fomentadora de vínculos, ligações, cimentando e
conformando o grupo étnico consciente de si mesmo – do fato de ser negro –
e, dessa forma, simultaneamente, se fortalecendo no próprio processo de sua
difusão (GIACOMINI, 2006, p. 210 ).
O negro na maioria das vezes tem a imagem estereotipada de que gostam de
samba, pagodes ou são personagens de matérias sendo os responsáveis pelas violências
urbanas. De acordo com Souza (2009), uma relação de cumplicidade e confiança é
estabelecida com o público, aferindo poder à mídia, sendo que esse poder é legitimado
pelo próprio público, através da audiência. Souza (2009) ainda afirma que quanto maior
a audiência, maior o poder midiático, daí o fenômeno massivo e poderoso que é a
televisão.
A mídia se mostra ainda mais eficiente em atingir a sociedade quando esta não
tem a possibilidade de construir a sua própria opinião sem ser induzida a um
pensamento através de informações de alguma plataforma de comunicação. Isto
acontece devido tanto ao alcance massivo que o primeiro conseguiu quanto à
confiabilidade adquirida no decorrer da História pelo segundo. “A mídia só é poder, por
causa dos efeitos causados na sociedade, cuja parte afetada é justamente aquela que se
submete à programação televisiva.” (GUARESCHI, 2007, p.13, apud Souza,2009).
Devido ao poder que exerce perante o público, a mídia desenvolve capacidade
de fiscalizar até os poderes Legislativo, Judiciário e Executivo, sendo assim chamada
por alguns autores de Quarto Poder.
Os meios de comunicação, principalmente a imprensa, durante vários
séculos exerceram um papel importante na denúncia dos abusos do
poder, dos atropelos e discriminações de muitos governos e
sociedades autoritárias. A história da imprensa foi, até certo ponto,
marcada por essas lutas em prol da democracia e da liberdade de
expressão de todos os cidadãos. (GUARESCHI, 2007 P.14)
Por outro lado, Souza (2009) nos diz que a mídia, ao lado do jornalismo,
também tem papel essencial na regulamentação das instituições e da sociedade.
Prossegue afirmando que uma denúncia é capaz de prejudicar a imagem da pessoa ou da
instituição que cometeu erros ou infringiu normas. Sendo assim, vale ressaltar a
relevância do código de ética para uma conduta desejável do profissional da
comunicação social.
“O negro é descoberto como consumidor pela indústria e pela mídia, mas ainda
longe de ser cidadão” (MARTINS, 2009/2010, p. 123). Isso, porque os negros não estão
incluídos socialmente em nenhum segmento de representatividade social porque
continuam ocupar os mesmo espaços escravocratas.
De fato, o discurso midiático, forma opinião, modifica valores por conta das
relações pessoais dos indivíduos. Portanto, para que o receptor da mensagem possa
formular uma opinião a partir das realidades que ver é necessário que a pluralidade e
representatividade estejam presentes nas plataformas midiáticas. . “Os sujeitos assumem
identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao
redor de um “eu” coerente.” (HAAL, 1992.p102).
A mídia de uma forma geral, e não apenas O globo, procura sempre
que possível, destacar a violência e o ambiente hostil das comunidades
pobres.Assim, os veículos de comunicação priorizam. os aspectos
negativos da realidade social desses grupos e concedem maior
visibilidade aos acontecimentos , produzindo um discurso sobre os
moradores
dessas
regiões
como
seres
ameaçadores.
Consequentimente, reforça a existência de uma realidade cada vez
mais fragmentada, na qual os habitantes de áreas pobres, uma vez
identificados como membros de uma comunidade, são frequentemente
associados
à
sua
imagem
negativa
e
à
violência.( NÓRA;PAIVA,2008.p23)
..
“Se em um vertente percebemos que os aspectos da cultura juvenil da periferia
relacionados à violência e ao banditismo são pontos de vista que, prioritariamente,
parecem interessar à grande mídia, principalmente em cobertura jornalísticas” (ALVIM
E PAIM, 200). Portanto, as mazelas que a negritude enfrenta diariamente tornam-se
pautas jornalistas de repórteres muitas vezes branco que não fazem geralmente uma
contextualização da realidade das pessoas negras.
Segundo , Maia “Nenhum individuo constrói suas significações a partir do nada.
Cada ser ingressa em um mundo pré fabricados, em que certas coisas são importantes e
outras não, de modo que conveniências estabelecidas trazem certas coisas para a luz e
deixam outras sombras.” Portanto, entender os estereótipos de um grupo que surgem nas
comunidades pobres é compreender como são formuladas as características desse local.
Os discursos sobre esses espaços de alguma forma, sempre determinan
as politicas públicas , praticas culturais, socais e econômicas e o
“ consenso”-sobretudo liderado pela grande mídia-sobre o que é
aceitave , tolerável, correto,o “ nos’ e os “ os outros”,o dentro e o fora
a cerc do direito à cidade.Portanto, sem a participação nesta disputa,
os movimento sócias e demais atores comprometidos com a
transformação social têm sua voz e ação reduzidas e sem
amplificação(NASCIMENTO, Luis.Henrique.OBSERVATORIO DA
FAVELA.2012.p13)
“Os processos de mudanças social são influenciados não apenas grupos
majoritários, mas também por grupos minoritários”, segundo Moscovice. Portanto, a
participação dos indivíduos na construção das matérias torna-se imprescindível por
conta do olhar que cada um tem diante da realidade.
O ser humano parece que cria uma repulsa em conviver com pessoas ou grupos
com características que diferentes das suas. De fato, os indivíduos brancos negam-se a
aceitar a mistura de povos de diferentes etnias a partir de uma construção social de
segmentação influenciada pelas mídias. A identidade torna-se uma celebração móvel:
formada transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos
representados ou interpretados nos sistemas culturais que nos rodeiam (Hall,1987).
Nesse sentido, quando os grandes veículos de comunicação falam sobre qualquer
assunto da periferia. Estes a partir de um olhar privilegiado, Pois quando seleciona o
foco de suas informações escolhe a quem vai dar a voz e vez e como será retratada na
mídia. .
Dentro de nós há identidades contraditórias, empurrando em diferentes
direções , de tal modo que nossas identificações estão sendo continuamente
deslocadas.Se sentimos que temos uma identidade unificada desde o
nascimento até a morte é apenas porque construímos uma cômoda sobre nós
mesmo ou uma confortadora “narrativa do eu” (veja , Hall,1990)
Resistência da negritude na mídia Branca
Na história do pais o homem branco sempre ocupou os espaços de maior
visibilidade por disseminar que seu biótipo apresenta características superiores e
positivas. Portanto, a cor branca ainda se faz presente no imaginário social como
exemplo de representação da espécie humana paralelo ao negro sendo o oposto., “signo
presente de um passado ausente” (Sodré, 1999, p.118)
De fato, falar de branquitude implica debater opressões em todos os setores
sócias. Diante disso, é inegável, que os espaços que até os dias atuais ocupados pelo
negro tem uma visão branca justamente como estes acreditam que o negro deve ser
retratado na mídia ”modelo branco de beleza, que considerado como padrão, pautava o
comportamento e a atitude de muitos negros assimilados” (DOMINGUES, 2002, p.
573)
A televisão brasileira é um meio de comunicação em que se encontram casos de
negros branqueados. Isso, porque a estética negra não serve comercialmente por
exemplo à jornalista Gloria Maria apresenta a estética de cabelos lisos, nariz afilado.
Os profissionais negros de jornalismo mesmo quando conseguem alcançar
cargos de representatividade mesmo assim sofre o racismo. Isso , porque o conflito
etcno racial brasileiro não está associado ao financeiro, mas a forma de construção da
história do pais de uma raça superior a outra.
Quando se fala em televisão brasileira, raramente associa-se o negro com
alguma função de destaque nas telenovelas, jornais, e ainda muito menos frequente, um
negro como sendo protagonista. Diante desse contexto, é paradoxal a postura da mídia
com os profissionais que trabalham na comunicação porque ao mesmo tempo que dar
espaço ao profissional negro é o mesmo que recrimina, marginaliza e reafirma o
preconceito.
No Brasil, como se sabe, aconteceu uma Abolição da Escravatura sem direito
ao trabalho, sem reforma agrária e sem uma estrutura político-partidária que
reorientasse os conflitos. A mesma matriz social da Colônia reeditou-se no
Império, reforçando a segregação, as barreiras sociais. Como a
industrialização, cresceu a mobilidade social, acentuada durante o próprio
Estado Novo, que ensejou uma mobilidade da clássica organização
burocrático-estatal. (SODRÉ, 1998).
A cor da pele no Brasil geralmente é associada aos problemas socioeconômicos
que existem no pais. Diante disso,refletir a negritude a partir dos questionamentos dos
espaços que o branco está inserido de forma econômica e intelectual faz com que se
descontrua visão da mídia sobre a negritude.
De Fato, falar sobre braquitude implica debater como estes veem o resto da
sociedade brasileira e também como descontruir os próprios privilégios que são
reforçados todos os dias na mídia. É valido lembrar que mesmo a pessoa branca aberta
ao diálogo está não deixa de usufruir os privilégios que tem sua cor. “Em uma
abordagem culturalista, a Ênfase não É colocada sobre a herança biológica,não mais
considerada como determinante, mas na herança cultural, ligada a socialização do
indivíduo no interior de seu grupo cultural (CUCHE, 1999 p. 179).
É assim que a propaganda, a moda, o consumo, a televisão e a cultura da
mídia estão constante mente desestabilizando identidades e contribuindo para
produzir outras mais instáveis, fluidas, mutáveis e variáveis no cenário
contemporâneo. No entanto, também vemos em funcionamento os
implacáveis processos de mercadorização. A segmentação do mercado em
diversas campanhas e apelos publicitários reproduz e intensifica a
fragmentação, desestabilizando as identidades ‡s quais os novos produtos e
as novas identificações estão tentando devolver estabilidade (KELLNER,
2001 p. 329)
Os próprios veículos de comunicação por ter interesses que difere do social são
também contribuidores da manutenção do racismo quando não vem a negritude como
consumidores dos seus clientes que fazem anúncios. “ a imprensa brasileira, apesar de
incipiente, também desempenhou um papel importante na construção de uma imagem
pejorativa e subalternizada do negro” (SCHWARCZ, 2001 citado por MARTINS, 2010,
p. 42).
Os meios de mídia não dando visibilidade à verdadeira composição racial
brasileira acabam por compactuar severamente com a tendência que ainda
percebe-se em uma parcela de negros, que buscam uma identificação com a
parcela de brancos, que se dá pela identidade de branquitude, praticando
assim, uma grande negação da diversidade racial brasileira. A mídia absorve,
reelabora e transmite o imaginário coletivo nas representações sociais. Como
fica o negro na mídia? Não muito diferente da sua realidade social. É verdade
que a realidade está se modificando, o problema é que essa mudança é muito
lenta. Enquanto isso os afro-brasileiros que estão à margem da sociedade
desde a abolição da escravatura (e durante a escravidão), agora continuam
marginalizados nas favelas, com acesso precário ao estudo e emprego e
também sem ser representados na sociedade (cargos político) e na mídia
(jornalistas, atores e personagens que realmente identifiquem os afrobrasileiros), (LAHNI, 2007 p. 83).
O problema não é o branco está inserido nos espaços midiáticos, mas quando
estes tentam sobrepor sobre os diferentes fenótipos criando formas de manutenções de
privilégios por conta da cor da pele através da mídia como por exemplo: os personagens
das matérias serem brancos, repórteres, apresentadores, assessores, diretores sempre
brancos.
A ausência de debate em todos os setores sócias da importância da inclusão dos
negros em todos estes espaços contribui para que a mídia continue a ter uma visão
unilateral dentro dos veículos de comunicação. Portanto, os espaços que os
afrosdecentes querem ocupar também devem ser ocupados por diferentes identidades.
Não é difícil concordar com o fato de que, do ponto de vista sociológico, toda
e qualquer identidade È construída. A principal questão, na verdade, diz
respeito a como, a partir de que, por quem e para quÍ isso acontece. A
construção de identidades vale-se da matéria-prima fornecida pela história,
geografia, biologia, instituições produtivas e reprodutivas, pela memória
coletiva e por fantasias e por fantasias pessoais, pelos aparatos de poder e
revelações de cunho religioso. Porém, todos esses materiais são processados
pelos indivíduos, grupos sociais e sociedades, que reorganizam seu
significado em função de tendências sociais e projetos culturais enraizados
em sua estrutura social. (CASTELLS, 1999 p. 23).
Ser branco exige pele clara, feições europeias, cabelo liso; ser branco é uma função
social, implica desempenhar um papel que carrega em si uma certa autoridade,
permitindo trânsito, baixando barreiras. Sob certas condições econômicas e sociais, esse
papel social pode ser concedido a não brancos, o que contribui para a aceitação do valor
da branquitude por setores subalternos predominantemente negros e negro-mestiços,
pois a exclusão racial fala em duas vozes: o valor da branquitude e a noção de que cor e
raça são de importância relativa. (SOVIK, 2002, p. 6)
A mídia por construir a sua história na ótica da branquitude faz com que suas
características sejam associadas a tudo de positivo do indivíduo. Nesse sentido, os
negros que conseguem chegar nas redações jornalísticas passam por um processo de
embranquecimento e estes passam a reproduzir comportamentos e absorver a visão do
branco por conta de influência do meio
O problema racial nos veículos de comunicação não é um problema apenas da
negritude, mas da relação dos brancos com os negros e principalmente como os
privilégios da branquitude sejam extintos no próprio ambiente de trabalho pelos colegas
de profissão.Isso, por que ser branco pode estar associado “ser poder e estar no poder
“(CARDOSO, 2008, p. 204-210).
A branquitude tem privilégios mesmo que os indivíduos tenham consciência da
existência dos problemas sócias por conta da cor da pele, pois é simbólico e subjetivo e
muitas vezes impalpáveis os privilégios que colaboram e reafirmam a reprodução dos
preconceitos raciais.Com isso, a mestiçagem camufla a existência de conflitos entre os
negros e brancos por conta dos espaços que estes ocupam socialmente.
Se é comum afirmar o valor da mestiçagem, mais raro é um branco identifi
car-se como negro. Embora raro, acontece na música popular, onde não
produz estranhamento (SOVIK 2005, p. 176
Conclusão
O diálogos sobre a resistência da negritude dentro dos veículos de comunicação
pode ajudar a esclarecer as formas de racismos socialmente aceito na visão branca nas
mídias .Portanto , a branquitude faz parte de uma criação imaginaria de identidade que
tem um parcela da população que em ações faz a segmentação racial a partir dos
espaços que ocupam.
Espera-se que este estudo possa incomodar os profissionais brancos de
comunicação social e os negros possam aprofundar o debate dentro das redações
jornalísticas fazendo o enfretamento intelectual da importância de ocupar mais espaços
dentro dos veículos de comunicação.
A mídia não é nada democrática e está longe de compreender a importância da
pluralidade de vozes dentro dos veículos de comunicação. Portanto, é importante que se
pressione as autoridades por marco civil mais democrático.
A negritude há anos luta por representatividade midiática, social e contra o
racismo. É inegável que não como mudar essa realidade sem politicas públicas e
mudança comportamental da branquitude brasileira.
De fato, provocar qualquer debate sobre assunto de negritude a partir de um
olhar negro não é nada fácil, sobretudo na mídia. Isso, por que na maioria das vezes os
referenciais teóricos são escassos resultado da falta de acesso da negritude do ensino
superior.
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