ECONOMIA II

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ECONOMIA II
José Aires Trigo
Mestre em Educação (UFRJ)
Economista (UERJ)
Especialista em Educação Matemática (FSJT)
Licenciado em Matemática (UCB)
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Sumário
Apresentação
Unidade I – Princípios de Macroeconomia
Unidade II – Contabilidade Social
Unidade III – Níveis de Atividade em uma Economia
Unidade IV – Introdução à Teoria Monetária
Unidade V – Inflação
Unidade VI – Câmbio e Balanço de Pagamentos
Considerações Finais
Bibliografia
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Palavra do professor
A compreensão da Macroeconomia, enlevadas as suas particularidades com
base em discussões sobre o instrumental disponibilizado pelas teorias, é de
fundamental importância para um profissional da área de Administração. As
atividades desse profissional, independente do setor específico em que trabalhe,
exigem com maior ou menor magnitude, a compreensão dos sinais apontados pela
economia e possíveis desdobramentos, para facilitar sua tomada de decisão.
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Unidade I
Princípios de Macroeconomia
Objetivo da Unidade: Esta introdução tem como objetivo apresentar algumas
questões básicas e certos aspectos metodológicos que são importantes no estudo
dos modelos de estudo da Macroeconomia com base no viés de análise agregada
de curto prazo, preocupando-se em captar as inter-relações entre os diversos
mercados na economia; permitindo que se analise e se compreenda o papel das
políticas
monetária
e
fiscal
na
determinação
dos
diversos
agregados
macroeconômicos.
1 Introdução
Como visto em Economia I, a Teoria Econômica pode ser dividida em duas
partes: microeconomia e macroeconomia. Presumi-se que a primeira estuda o
comportamento dos consumidores e das empresas em seus mercados, as razões
que levam os consumidores a comprar mais, ou menos, de um determinado produto
e a pagar mais, ou menos, por ele. Estuda também os motivos que levam uma
empresa a produzir maior ou menor quantidade de uma mercadoria e de que forma
seus preços são determinados. Consideram os mercados os mercados nos quais as
empresas e consumidores atuam. Estes tópicos formam o foco da disciplina
Economia I.
Neste momento passaremos a perceber a Economia com o foco voltado para
os preceitos da Teoria Macroeconômica. A Macroeconomia preocupa-se com o
conjunto de decisões de todos os agentes econômicos, seus reflexos, tal como uma
maior ou uma menor produção e suas consequências no nível de emprego. Outro
elemento importante no estudo da Macroeconomia é a Inflação, sua relação com a
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taxa de juros e o nível geral de emprego. Em um aspecto mais amplo, outro
elemento importante é a taxa de câmbio, juntamente com a análise do crescimento
econômico. Para entender de uma forma geral, estuda-se também, as decisões
tomadas pelo formulador de política econômica do país.
A macroeconomia estuda a realidade econômica de forma global. Ela se
preocupa com a relação entre os agentes econômicos e o funcionamento da
economia em seu conjunto. Procurando obter uma visão simplificada da economia,
utilizando um número reduzido de variáveis, como: produto agregado; demanda
agregada; consumo; emprego; investimento; nível geral de preços; equilíbrio geral;
crescimento econômico etc.
1.1 Ciclo e Crescimento Econômico
Em Economia I estudamos elementos importantes sobre como o preço de um
produto é determinado, como são obtidas as demandas e as ofertas individuais e
como é possível a partir destas obter a demanda e a oferta de mercado e,
finalmente, como a interação entre oferta e demanda permite obter o equilíbrio de
mercado.
A importância desse tipo de estudo é percebido visto que nos fornece
elementos para saber porque, eventualmente, um par de sapatos vale mais do que
uma camisa ou o que acontecerá se o governo cobrar mais impostos de
determinadas segmentos da economia. Entretanto muitas vezes ao acompanharmos
o noticiário econômico as referências são feitas à economia de um país inteiro e não
a um mercado específico.
Desta forma é muito comum nos referirmos a economia americana como
sendo mais rica do mundo e que a economia chinesa cresce com maiores taxas que
a brasileira. Também vemos com facilidade, notícias que afirmam que a taxa de
juros no Brasil é muito alta e, por isto, a economia não volta a crescer e o
desemprego permanece alto. Outras vezes lemos que o consumo está caindo e,
desta forma, não devemos esperar que as coisas melhorem no próximo ano.
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Note-se que na primeira afirmativa não especificamos quais famílias
americanas são mais ricas do que as brasileiras. Quando falamos de taxa de juros
não nos referirmos sobre que setor da economia pede dinheiro emprestado e em
quais circunstâncias, da mesma forma não definimos se o desemprego é de
administradores ou de padeiros. Por fim nada foi dito se o consumo que está caindo
é o do ramo imobiliário ou o de alimentos.
Em todas as ponderações colocadas anteriormente nos referimos a economia
de um país como um todo, ou seja, simplesmente não nos preocupamos em
diferenciar as famílias e as firmas que residem no mesmo país. De certa forma é
como se estivéssemos falando da soma de todas as famílias e todas as firmas de
um determinado país.
Aprender a medir os agregados econômicos é um passo importante para entender o
que se quer dizer quando nos referimos a uma economia como um todo, assim,
partiremos do pressuposto de que quando um economista fala de agregado
econômico ele está se referindo a uma variável que representa a soma de decisões
de várias famílias ou firmas. Porém em algum momento podemos pode surgir a
curiosidade sobre a possibilidade de elaborar uma teoria que busque explicar o
comportamento destas variáveis agregadas. Os macroeconomistas costumam
estudar problemas como o crescimento econômico, a existência de recessões, a
inflação, o desemprego e etc. A análise é sempre feita para a economia como um
todo, não existindo a preocupação com os comportamentos individuais de cada
agente.
O estudo da Macroeconomia pelos agregados macroeconômicos facilita a
identificação de Ciclos Econômicos, muito comuns nas economias contemporâneas.
Variações da economia são muito comuns. Uma economia pode estar
subindo ou descendo, ou dito de outra forma, uma economia pode estar forte ou
fraca. Para analisar estes elementos, os economistas criaram um vocabulário próprio
para se referir ao comportamento observado de uma sociedade e sua economia.
Desde que a Economia se tornou uma Ciência, com base em modelos e na
observação da realidade, a queda, a recuperação ou um crescimento de uma
determinada economia é um aspecto puramente temporário. Em conjunto com os
acontecimentos econômicos, temos acontecimentos mais lentos, ou de longo prazo,
tais como crescimento populacional, o progresso tecnológico, ou ainda, a cada vez
mais enlevada, condição ambiental.
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Ciclo econômico é o termo usado para designar as mudanças ocorridas na
economia. A partir da Revolução Industrial, o nível da atividade financeira dos países
capitalistas e industrializados tem flutuado, com reflexos na economia. Não há dois
ciclos iguais, variam tanto na intensidade quanto na duração. Não é fácil prever a
duração ou o exato momento da ocorrência, embora seja possível prever suas
fases. Para simplificar nosso entendimento vamos pressupor a dinâmica dos ciclos
como a alternância de períodos de recessão e expansão, apesar de muitos
economistas citarem quatro fases: o auge, a recessão, a depressão e a
recuperação.
As flutuações apresentam períodos de recessão, que são caracterizados por
quedas do nível de produto e emprego, e de queda da taxa de desemprego.
Perceber como funcionam os mecanismos determinantes dessas flutuações
agregadas é um ponto central no estudo da macroeconomia.
Se o estudo dos ciclos se apoiar em observações puramente empíricas, a
percepção que teremos é de que as flutuações não são igualmente distribuídas
entre os componentes do produto agregado da economia. Os gastos que despontam
como sendo mais sensíveis aos ciclos são os investimentos e o consumo privado de
bens duráveis, em contrapartida os mais estáveis são o consumo privado de bens
não-duráveis e de serviços, o consumo do governo e a demanda internacional por
exportações. Além disso, os movimentos do produto são assimétricos, no que tange
a sua intensidade no tempo. Dessa forma, não raro, ocorrem períodos longos de
trajetória próxima à média entremeados por breves períodos de oscilações mais
intensas.
O entendimento trazido por algumas teorias sobre os ciclos econômicos
revela que a alternância entre períodos de recessão e de expansão ocorre com uma
determinada regularidade, com movimentos pendulares e autocausadores. Essas
hipóteses sendo denominadas de teorias dos ciclos endógenos. No entanto, como
ainda não se tem uma comprovação da regularidade dessas flutuações, abre-se
espaço cada vez maior para aceitar as chamadas teorias de ciclos exógenos.
Segundo essa visão, a economia é perturbada em intervalos aleatórios de tempo por
choques de vários tipos e intensidades, os quais se propagam por seus diversos
setores. Assim, muitas das diferenças existentes entre as correntes de pensamento
macroeconômico fundamentam-se na discussão das hipóteses a respeito da
natureza dos choques econômicos e dos seus mecanismos de propagação.
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No Brasil alguns estudos relevantes são provenientes dos esforços do
Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da Fundação Getulio Vargas (FGV) que
através da criação do Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (CODACE) busca
estabelecer uma cronologia de referência para os ciclos econômicos brasileiros.
Composto por sete membros com notório conhecimento no assunto, o CODACE
teve como primeira missão datar os períodos de expansão e recessão da economia
brasileira a partir do primeiro trimestre de 1980. Os pressupostos sobre a evolução
dos ciclos econômicos, utilizado pelo CODACE estão apoiados nos argumentos de
Burns e Mitchell (1946) de que uma expansão, ocorrendo aproximadamente ao
mesmo tempo em muitas atividades econômicas, seguidas de fases gerais similares
de recessões, contrações e recuperações, as quais se consolidam em uma fase de
expansão do próximo ciclo, formam uma sequência de mudanças recorrente, mas
não periódica, sendo que em termos de duração, os ciclos econômicos variam de
mais de um ano a dez ou doze anos.
Fonte: IBRE – Fundação Getúlio Vargas
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O caso é: como podemos planejar os atos estratégicos, com uma razoável
confiança quanto às expectativas?
Voltando a uma análise com escopo internacional, temos que nos últimos 20
anos, as flutuações da economia dos Estados Unidos foram ficando cada vez
maiores e mais irregulares, até a culminância da crise mundial decorrente do
“estouro da bolha” do mercado imobiliário americano, decorrente de problemas no
mercado de subprimes (hipotecas de alto custo). A crise instalada compara-se à da
Grande Depressão dos anos 30, também fruto de um “estouro da bolha”, só que do
mercado de ações nos Estados Unidos.
Não é difícil perceber que as consequências desses dois eventos históricos
trouxeram transtornos de maior magnitude, devido à importância e do peso da
economia dos Estados Unidos, dado o fato ser uma parceira comercial de vários
países do mundo.
Entender como esses fatos se sucederam e como um fato local atingiu de
forma tão catastrófica a economia mundial, associa-se a necessidade de respostas,
não só para justificar ou compreender, mas como forma de o mundo se proteger e
se antecipar em situações vindouras, principalmente em um mundo cada vez mais
globalizado.
Sendo assim, na macroeconomia, é útil distinguir dois horizontes temporais:
um curto, ideal para analisar os ciclos econômicos e as políticas de estabilização. E
um longo, para analisar o crescimento econômico e a convergência.
Apesar de uma explanação não muito controversa até o momento,
comumente podemos observar conflitos provenientes de duas principais óticas da
Macroeconomia
moderna,
curiosamente
extremamente
antagônicas,
o
Keynesianismo, que tem seu nome devido ao seu precursor John Maynard Keynes
(1936) e o monetarismo, representado por Milton Friedman (1953).
Até ao início do século XX, acreditava-se que a economia se corrigia
automaticamente: havendo desemprego, os salários desceriam, as empresas iriam
procurar mais trabalhadores e o desemprego acabaria por ser absorvido. À luz
dessa doutrina (Teoria Clássica, inspirada em Adam Smith, 1776), a função
estabilizadora do Estado não tinha razão de ser. A crise de 1929 veio pôr em
discussão o pensamento clássico. O fato de a Grande Depressão não passado com
esse ajustamento automático preconizado pelos Clássicos levou alguns economistas
a desconfiar da tese dessa sistemática. Entre eles, entre eles podemos destacar Sir
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John Maynard Keynes (1936), que defendeu que o Estado deveria estar atento ao
desemprego e agir de modo a atenuar as flutuações da atividade econômica. Em
termos simples, a ideia era o Estado baixar os impostos e aumentar o investimento
público em tempo de crise, como forma de estimular a economia. Assim que a
atividade econômica recuperasse, os impostos deveriam voltar a aumentar, para
equilibrar as contas públicas.
Apesar da simplicidade da ideia, ela não foi consensual. Abrindo espaço para
a Escola Monetarista, com Milton Friedman (1953) argumentando que a intervenção
do Estado pode ter efeitos perversos: tal como não é aconselhável um ouvinte de
rádio estar sempre com o dedo no botão à procura da melhor sintonia (pois se
arrisca a nunca ouvir algo de fato queira), o melhor que os governos têm a fazer é
aceitar a frequência dos choques tal como ela ocorre e dedicar o seu tempo
buscando formas de se proteger, diminuindo os impactos desses ciclos.
1.2 Políticas Macroeconômicas
A política econômica tem como determinante um conjunto de medidas
governamentais, que afetam a Economia do país. A dinâmica consiste na
determinação dos setores ou pólos econômicos, que devem ser priorizados com o
intuito de impulsionar e desenvolver, mediante apoio técnico, financeiro ou fiscal.
Dado o fato de que não é possível atuar de forma efetiva em todos os campos da
Economia, o governo deve apontar suas atenções para determinados setores que
mais necessitam da ação do Estado canalizando recursos orçamentários que darão
apoio a uma ação, que deve ser minuciosamente estudada para que os recursos
sejam aplicados de forma eficiente.
Além das funções sociais de educação, saúde e justiça, o governo detém
responsabilidade sobre a economia do país, mesmo quando o sistema dominante é
o de mercado, ou liberal.
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1.2.1 Metas de política macroeconômica
As principais metas de políticas macroeconômicas estão associadas a busca
por:
Alto nível de emprego;
Estabilidade de preços;
Distribuição de renda socialmente justa;
Crescimento econômico.
Inicialmente podemos separar os estudos macroeconômicos em dois
horizontes temporais, o curto prazo e o longo prazo. As questões relativas ao
emprego e à inflação são consideradas como conjunturais, de curto prazo e são
consideradas a “preocupação central” das chamadas políticas de estabilização. As
questões relativas ao crescimento são predominantemente de longo prazo,
enquanto o problema da distribuição de renda envolve aspectos de curto e longo
prazo.
Alguns autores acrescentam às metas anteriormente citadas, a meta referente
ao equilíbrio no balanço de pagamentos. Em nossa abordagem aceitaremos que o
equilíbrio no balanço de pagamentos não apresenta um objetivo em si mesmo, mas
um meio, um instrumento para se atingir as quatro metas assinaladas.
Antes de darmos prosseguimento no restante da obra, traçaremos um
arrazoado dos itens assinalados.
Alto nível de emprego: Com a crise instalada pela quebra da Bolsa de Nova
Iorque ocorrido em 1929, passamos a ter mais enlevo na questão do desemprego,
permitindo um aprofundamento da análise macroeconômica. Em maio a esse
cenário surgiu o livro de John Maynard Keynes – Teoria Geral do Emprego, dos
Juros e da Moeda –, em 1936, que forneceu aos governantes os instrumentos
necessários para que a economia recuperasse seu nível de emprego potencial ao
longo do tempo.
Deve-se salientar que antes da crise dos anos 30, a questão do desemprego
não preocupava a maioria dos economistas, pelo menos nos países capitalistas.
Isso porque predominava o pensamento liberal que acreditava que os mercados,
sem interferência do Estado, conduziam a economia ao pleno emprego de seus
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recursos, ou a seu produto potencial: milhões de consumidores e milhares de
empresas, como que guiados por uma “mão invisível”, um termo cunhado por Adam
Smith em sua obra “A riqueza das nações” para descrever como numa economia de
mercado, apesar da inexistência de uma entidade coordenadora do interesse
comunal, organiza a interação dos indivíduos que parece resultar numa determinada
ordem, como se houvesse uma "mão invisível" que os orientasse, que
desencadearia na determinação dos preços e a produção de equilíbrio, e, desse
modo, nenhum problema surgiria no mercado de trabalho.
Os economistas que viveram o período final do século XVIII, até o início do
século XX, testemunharam que o mundo econômico parece ter funcionado sem
grandes distúrbios no equilíbrio econômico. Assim podemos entender que o nível de
produto não teve grandes alterações e com isso não surgiam problemas com a
alocação de recursos. Essa situação ficou conhecida como pleno emprego. O
funcionamento dos sistemas econômicos baseado nesse paradigma foi sintetizado
pela Lei de Say, que afirma que a oferta cria sua própria demanda. A dinâmica
apontada pela Lei de Say está apoiada na ideia de que os fatores produtivos são
contratados para a produção, e que sua remuneração vai se constituir na demanda
pelos bens e serviços que eles próprios produziram. Entretanto, a evolução da
economia mundial trouxe em seu bojo, novas variáveis, como o surgimento dos
sindicatos dos trabalhadores, os grupos econômicos e o desenvolvimento do
mercado de capitais e do comércio internacional, de sorte a complicar e trazer
incertezas sobre o funcionamento da economia. A ausência de políticas econômicas
levou à quebra da Bolsa de Valores de Nova York em 1929, e uma crise de
desemprego atingiu todos os países do mundo ocidental nos anos seguintes. Até
esse evento, os pequenos “desvios de trajetória” ocorridos na economia eram
conhecidos como vazamentos da Lei de Say.
Lei de Say: a oferta cria sua própria demanda, ou seja, tudo que é produzido é
consumido.
Com a contribuição de Keynes e dos trabalhos de Michael Kalecki, fincaramse as bases da nova Teoria Macroeconômica, e da intervenção do Estado na
economia de mercado, com apoio da teoria conhecida como Princípio da demanda
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efetiva.
Na
verdade,
Keynes
praticamente
inaugurou
uma
questão
da
macroeconomia que perdura até hoje – qual deve ser o grau de intervenção do
Estado na economia e, em que medida ele deve ser produtor de bens e serviços. A
corrente de economistas liberais (hoje neoliberais) prega a saída da produção de
bens e serviços, enquanto outra corrente de economista apregoa um maior grau de
atuação do Estado na atividade econômica.
Demanda Efetiva: inverte o conceito associado à Lei de Say, passando a
compreender que a demanda é que determina o nível de produção
Estabilidade de preços: Define-se inflação como um aumento contínuo e
generalizado no nível geral de preços, acarretando distorções, principalmente sobre
a distribuição de renda, sobre a expectativa dos agentes econômicos e sobre o
balanço de pagamentos. Quando a inflação chega a zero dizemos que houve uma
estabilidade nos preços.
Basicamente podemos dividir A inflação pode ser dividida em:
Inflação de Demanda: É quando há excesso de demanda agregada em
relação à produção disponível. As chances da inflação da demanda acontecer
aumenta quando a economia produz próximo do emprego de recursos.
Inflação de Custos: É associada à inflação de oferta. O nível da demanda
permanece e os custos aumentam. Com o aumento dos custos ocorre uma
retração da produção fazendo com que os preços de mercado também
sofram aumento.
Distribuição equitativa de renda: A economia brasileira cresceu de forma
bastante acelerada entre o fim dos anos 60 e a maior parte da década de 1970,
período que ficou conhecido como o “milagre brasileiro”. Com a onde de
crescimento, verificou-se uma disparidade muito acentuada de nível de renda,
ferindo sobremaneira o sentido de equidade ou justiça.
No Brasil, os críticos do “milagre” argumentavam que havia piorado a
concentração de renda do país, nos anos de 1967-1973, devido a uma política
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deliberada do governo baseada em, crescer primeiro para depois distribuir (a
chamada Teoria do Bolo).
A posição oficial era de que certo aumento na concentração de renda seria
inerente ao próprio desenvolvimento capitalista, dada as transformações estruturais
que ocorrem, tais como êxodo rural e o aumento da proporção de jovens, por
exemplo. Outro fator que colaborou com a concentração de renda foi a baixa
qualificação da mão-de-obra. Nessa consecução de fatos gera-se uma demanda por
mão-de-obra qualificada, a qual, por ser escassa, obtém ganhos extras. Assim, o
fator educacional seria a principal causa da piora distributiva.
Deve ser observado que, embora tenha ocorrido no Brasil uma concentração
de renda naquele período, a renda média de todas as classes aumentou. O
problema é que, embora o pobre tenha ficado menos pobre, o rico ficou
relativamente mais rico no período considerado.
Crescimento Econômico: Partindo-se da premissa de que existe a
concomitância de desemprego e capacidade ociosa, o produto nacional pode ser
aumanetado através de políticas econômicas que estimulem a atividade produtiva.
Mas, feito isso, há um limite à quantidade que se pode produzir com os recursos
disponíveis.
Aumentar o produto além desse limite exigirá:
a) Ou um aumento nos recursos disponíveis;
b) Ou um avanço tecnológico (ou seja, melhoria tecnológica, novas maneiras
de organizar a produção, qualificação de mão-de-obra).
Quando falamos em crescimento econômico, estamos pensando no
crescimento da renda nacional per capita, ou seja, em colocar à disposição da
coletividade uma quantidade de mercadorias e serviços que supere o crescimento
populacional.
Renda per capita: é a renda de um país, por período de tempo, dividida pelo
número de habitantes do país.
Inter-relação
e
conflitos
entre
objetivos:
Os
objetivos
não
são
independentes uns dos outros, podendo inclusive trazer conflitos quanto à prioridade
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ou quanto a resultados ambíguos, mesmo sabendo que atingir uma meta pode
ajudar a alcançar outra. O crescimento pode facilitar a solução dos problemas da
pobreza, pois se podem abrandar conflitos sociais sobre a divisão do bolo produtivo
quando ele aumenta. Nesse sentido, poder-se-ia aumentar a renda dos pobres sem
diminuir a dos ricos.
Entretanto no Brasil, e em outros países em desenvolvimento, as metas de
crescimento e a equidade distributiva têm-se mostrado conflitantes, uma vez que o
aumento do nível de poupança (necessário para aumentar os investimentos
geradores de crescimento) parece ser mais facilmente obtido através de uma
distribuição desigual de renda – (especificamente aumentando a parte dos lucros e
da poupança dos mais ricos na renda nacional).
Outro conflito pode ser observado entre as metas de redução de desemprego
e a estabilidade de preços. É fato observável que, quando o desemprego diminui e a
economia aproxima da plena utilização dos recursos, passam a ocorrer pressões por
aumentos de preços, principalmente nos setores fornecedores de insumos básicos
(aço, embalagens, matérias-primas), o que explica o freqüente controle do
crescimento do consumo pelas autoridades para não provocar inflação.
1.2.2 Instrumentos de política macroeconômica
A política macroeconômica envolve a atuação do governo sobre a capacidade
produtiva e despesas planejadas, com objetivo de permitir que a economia opere a
pleno emprego, com baixas taxas de inflação e uma distribuição justa de renda. As
ferramentas comumente usadas com vistas a atingir esses objetivos são as Políticas
Fiscais, Cambiais, Monetárias, Comerciais e de Renda.
Política macroeconômica é o conjunto de medidas governamentais que tentam
influenciar o andamento da economia em seu conjunto. Os objetivos-chave da
política econômica costumam ser a produção, o emprego e a estabilidade dos
preços.
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Política Fiscal: São todos os instrumentos que o governo dispõe para
arrecadação de tributos e o controle de suas despesas. Se considerarmos que o
objetivo da política econômica é reduzir a taxa de inflação, as medidas fiscais
normalmente utilizadas são a diminuição de gastos públicos e/ou o aumento da
carga tributária, com o intuito de inibir o consumo.
Política Monetária: É a atuação do governo sobre a quantidade de moeda e de
títulos públicos. Os instrumentos disponíveis para regular essa quantidade são:
a) emissões
b) reservas compulsórias
c) open market (compra e venda de títulos públicos)
d) redescontos (empréstimos do Banco Central aos bancos comerciais);
Vantagem: Apresenta maior eficácia quando o objetivo é uma melhoria na
distribuição de renda.
Políticas Cambial e Comercial: A política cambial refere-se à atuação do
governo sobre a taxa de câmbio. A política comercial diz respeito aos instrumentos
de incentivos às exportações e/ou estímulo ou desestímulo às importações, ou seja,
refere-se aos estímulos fiscais.
Política de Rendas: refere-se à intervenção direta do governo na formação de
renda (salários, aluguéis), através de controle e congelamentos de preços.
1.3 Atividades de auto-avaliação
1 – O que é ciclo econômico?
2 – Quais as duas principais óticas do pensamento macroeconômico?
3 – Quais são as metas das políticas macroeconômicas?
4 – Qual é o ponto central da Lei de Say?
5 – O que é o princípio da demanda efetiva?
6 – O que é renda per capta?
7 – Quais os elementos chave da política macroeconômica?
17
8 – Quais são as principais políticas macroeconômicas?
Conclusão
Após
a
tomada
de
conhecimento
dos
aspectos
introdutórios
de
Macroeconomia, e que dão base ao estudo mais aprofundado da macroeconomia
partiremos para a compreensão da Contabilidade Social. O vocabulário específico
da Ciência econômica associado a percepção e à relação da teoria com os
acontecimentos cotidianos, trazem um nível de contextualização propício à facilitar o
prosseguimento dos nossos estudos.
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Unidade II
Contabilidade Social
Objetivo da unidade: Conhecer A parte da macroeconomia que trata da
mensuração dos agregados econômicos e como são registradas todas as atividades
produtivas do país, ao longo de um período de tempo, normalmente de um ano.
2 Pressupostos iniciais
A contabilidade social, também conhecida como contabilidade nacional, nos
dá, em termos quantitativos, o desempenho global de uma economia. Sua inserção
na macroeconomia moderna se dá com o objetivo de fornecer os meios para uma
análise do conjunto da economia de uma sociedade.
Dado que a produção é contínua no tempo e os produtos vão sendo
consumidos e produzidos de forma constante, ocorre a necessidade de se
estabelecer o período a que as contas irão corresponder. Outro elemento importante
é que os produtos são diferentes entre si, o que dificulta a contagem em padrões tão
diferidos. Para resolver essas duas questões tão importantes ficou estabelecido que
o período é o de um ano, mais especificamente, o correspondente ao ano civil, ou
seja, de janeiro a dezembro. Quanto ao problema da desigualdade dos padrões de
contagem, optou-se pela mensuração em termos monetários, dos valores finais dos
produtos.
Em resumo temos que:
a) São computados valores produzidos apenas no período corrente. Não são
considerados resultados obtidos em períodos anteriores. É, portanto, um
sistema de fluxos;
b) Os registros seguem um sistema de partidas dobradas. A cada crédito em
uma conta, correspondem um ou mais débitos em outras e vice-versa;
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c) Qualquer atividade que agregue valor, como comércio e transporte, é
considerada uma atividade produtiva;
d) Transações puramente financeiras (como depósito e empréstimos
bancários), que nada acrescentam ao produto real da economia não são
consideradas na contabilidade social;
e) A moeda na contabilidade social é apenas um padrão de medida. Não é
considerado um bem, um ativo em si.
2.1 As óticas da contabilidade social
A primeira ótica é a do produto, que está baseada no conceito de que o
produto de uma economia é a soma dos valores monetários dos bens e serviços
voltados para o consumo final e produzidos em um determinado período de tempo.
Para que possamos entender melhor, lançaremos mão do conceito de bens e
serviços agregados na produção de um automóvel, por exemplo.
Nem todo faturamento da empresa representa resultado de sua produção.
Para gerar o produto final, as empresas normalmente precisam adquirir de outras
empresas matérias-primas e materiais de processo, denominados normalmente de
bens intermediários. Assim, o resultado da produção das empresas é o valor por
elas agregado, isto é, o valor das vendas de seus produtos, menos a compra de
bens intermediários de outras empresas. Assim, no exemplo de um automóvel temos
o emprego de vários fatores produtivos tal como chapas de aço, pneus, serviços de
pintura etc. No entanto, eles não são computados no cálculo do produto da
economia, pois são bens e serviços intermediários. Apenas o número de automóveis
produzidos multiplicado pelo preço é que vai entrar nesse cálculo, para evitar o
problema da dupla contagem, pois o preço dos bens e serviços intermediários já
estão incluídos no preço final do automóvel.
Quando as firmas criam produto, elas adicionam valor aos insumos ou bens
intermediários que elas utilizam. Para se medir a contribuição da firma na produção,
subtrai-se o valor dos bens intermediários que ela compra do valor total de seu
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produto, sendo essa diferença chamada de valor adicionado. Por exemplo, uma
papelaria que compra um caderno por 5 reais e o revende por 8 reais contribui com
3 reais para o valor adicionado do caderno.
Outra ótica comumente usada seria a mensuração da atividade econômica pela
renda. Lembrando que a renda é a soma das remunerações pagas aos fatores da
produção durante o processo produtivo. Desta forma, para a obtenção da renda de
um país num determinado período, somam-se os salários, os aluguéis, os juros e os
lucros, que são os pagamentos feitos aos fatores produtivos durante o período
considerado.
Para facilitar nossa compreensão, vamos considerar um sistema econômico
simplificado, que se constitui apenas por empresas e consumidores e nessa
economia são produzidos apenas bens de consumo e bens de capital. Os bens de
consumo são aqueles adquiridos pelas famílias ou consumidores para seu uso
pessoal, tais como automóveis, roupas, eletrodomésticos e alimentos. Os bens de
capital ou bens de investimento são aqueles usados na produção de outros bens,
tais como máquinas e equipamentos, estradas e móveis de escritórios.
Como visto em Economia I temos um fluxo circular da atividade econômica
$
Famílias
Poupança $
Mercado de fatores de
produção
Mercado
Monetário
$
Empresas
Investimento
Mercado de bens e
serviços
$
Fluxo real
Fluxo nominal
21
Acrescentamos a esse fluxo o mercado monetário, considerando que as
empresas eventualmente precisam buscar recursos no mercado financeiro para
fazer novos investimentos. Esse novo elemento do fluxo circular tem uma dinâmica
que se baseia na hipótese de que os consumidores não gastam toda sua renda na
aquisição de bens e serviços e assim parte da sua renda é poupada, de forma que
esses recursos se direcionam ao mercado monetário, que por sua vez os canalizam
para a produção de bens de capital, tais como fábricas e maquinários. Esse
direcionamento da renda das famílias para o investimento, viabilizado através das
poupanças, é de fundamental importância para a economia, pois aumenta o estoque
de capital e gera crescimento econômico para o país.
Podemos perceber então, que nesse sistema econômico simplificado, as
vendas dos empresários corresponde ao consumo das famílias mais os
investimentos das empresas. Com essas vendas, as empresas pagam seus sócios,
aos trabalhadores, aos fornecedores, aos proprietários das instalações, por
exemplo. Assim, podemos dizer que o produto da economia se esgota na
remuneração dos fatores produtivos, de onde podemos concluir que se chamarmos
a remuneração dos fatores produtivos de renda, e toda a renda é gasta com
produtos, chegamos a identidade fundamental da teoria macroeconômica: a renda é
igual ao produto (Y = P).
Produto (P): é a soma dos valores monetários de todos os bens e serviços finais
produzidos em uma economia num determinado período de tempo.
Renda (Y): é a soma de todas as remunerações feitas aos fatores produtivos
utilizados durante o processo em um determinado período de tempo.
2. 2 Os principais agregados macroeconômicos
Agregado macroeconômico é uma expressão empregada para designar,
genericamente, os resultados da mensuração da atividade econômica considerada
como um todo. A referência básica é a soma de todas as transações, realizadas por
22
todos os agentes, na totalidade dos mercados. É a dimensão total, o todo, não as
partes isoladamente consideradas, estando intimamente ligado ao conceito de renda
nacional.
A geração do produto nacional ocorre simultaneamente com os pagamentos
que totalizam a renda nacional. Isto porque produto e custo dos fatores são,
também, expressões equivalentes.
O processo de produção está dividido em três etapas: suprimentos,
processamento e saídas.
Suprimentos: a as empresas recebem suprimentos originários de outras
empresas,
podendo
ser
citados
como
exemplos
as
matérias-primas,
os
componentes semi-elaborados, os materiais de embalagem, a energia, os serviços
de comunicações e transportes e outras formas características de insumos. Através
desses suplementos temos a origem das transações entre as empresas,
denominadas as transações intermediárias. Empresas pagam a empresas por esses
suprimentos, ou simplificando, são pagamentos entre pessoas jurídicas, sob a forma
de preços e tarifas.
Processamento: normalmente as empresas mobilizam fatores de produção
pertencentes a unidades familiares, para o processamento dos insumos adquiridos
de outras empresas. Os fatores básicos de produção são o trabalho, o capital e a
predisposição empresarial do investidor. Estas unidades familiares recebem das
empresas pagamentos, sob a forma de remunerações, constituídos por salários,
aluguéis, arrendamentos, juros e lucros, dependendo da associação existente entre
a oferta de insumos e o produto em si. Além do pagamento dessas remunerações,
as
empresas
remuneram
seus
capitais
imobilizados
próprios
através
de
depreciações, sendo as depreciações correspondentes a diminuição progressiva de
valor, legalmente contabilizável, do capital fixo de uma empresa (imóveis,
equipamentos, instalações, etc.), devida ao desgaste físico.
Este conjunto de
remunerações pagas aos fatores de produção é que totaliza o valor agregado pelas
empresas no processamento da produção.
Saídas: estão definidas pela produção realizada e vendida. As saídas podem
destinar-se de novo para a utilização como insumos ou atender as duas categorias
básicas da demanda final, o consumo e a acumulação.
Dessa forma, na tentativa de sintetizar temos:
23
→ O valor adicionado e remunerações pagas aos fatores de
produção são expressões equivalentes.
→ As remunerações pagas aos fatores de produção são fluxos de
renda que saem das empresas e se destinam às unidades
familiares.
→ Renda nacional é a soma das remunerações pagas aos fatores
de produção. É uma grande totalização dos custos dos fatores.
→ Como o valor é acionado é igual ao produto, que também é
igual ao custo dos fatores, que por sua vez é igual à renda,
podemos então dizer que o produto nacional e a renda nacional
são, em termos líquidos, expressões que se equivalem.
2.2.1 Produto Interno Bruto (PIB)
O primeiro agregado macroeconômico é o Produto Interno Bruto, que tem seu
conceito correspondido ao de produto de uma economia, lembrando que o produto é
a soma dos valores monetários dos bens e serviços finais, produzidos a partir de
fatores de produção que estão dentro das fronteiras geográficas do país.
O fluxo de produção anual de um país é composto de uma infinidade de bens e
serviços, dos mais variados tipos. Podemos separa-los em: bens de consumo, tal
como relógios, verduras, legumes e canetas, comprados pelas famílias para seu uso
pessoal e os bens de capital ou bens de investimento, tais como equipamentos e
prédios de escritórios, utilizados no processo de produção de outros bens, figurando
nesse cenário com ressaltada importância para o crescimento econômico de um
país. Esses bens de consumo e de investimento que compõem o PIB podem ser
tanto públicos quanto privados, ou seja, os governos locais, estaduais e federais
também consomem bens e serviços, como móveis de escritório, carros e telefones e
investem em estradas, escolas e hospitais. Toda essa produção pública, quer para o
consumo ou para investimento, é usualmente chamada de gastos do governo.
24
O gasto público é o realizado pelo setor público em bens e serviços e compreende
todos os desembolsos do setor público destinados a pagar os salários de seus
empregados mais os custos dos bens (estradas, ferrovias etc.) e os serviços (de
consultoria, financeiros, sanitários etc.) que compra do setor privado. Esse gasto
público de consumo e investimento equivale ao aporte do setor público para o PIB.
Com o intuito de fazer face aos gastos citados acima, o Estado necessita de
dinheiro, que é conseguido mediante a tributação (impostos e taxas), que incide
sobre determinadas atividades econômicas.
Alguns impostos, mesmo sendo gerados pela produção dos bens e serviços,
são pagos pelos consumidores, sendo adicionados ao preço final do produto pelos
fabricantes. Esse tipo de imposto, que é transferido do produtor para o consumidor é
denominado imposto indireto. Em economias onde as desigualdades sociais ou a
ineficiência de algum setor trazem a necessidade de uma intervenção do Estado,
devido a algum interesse específico, não raro é dada a concessão os chamados
subsídios. Os subsídios são estímulos que visam diminuir o custo de produção de
um bem ou de um serviço.
Os subsídios são transferências do setor público às empresas e, portanto, reduzem
o custo real da produção.
Dada a presença do Estado em um sistema econômico, há duas maneiras de
medir o Produto Interno Bruto de uma economia:
Produto Interno Bruto a preços de mercado (PIBpm): a soma dos valores
monetários dos bens e serviços produzidos, computando-se os impostos
indiretos e subtraindo-se os subsídios.
Produto Interno Bruto a custo dos fatores (PIBcf): a soma dos valores
monetários dos bens e serviços produzidos, subtraindo-se os impostos
indiretos e somando-se os subsídios.
Visto que a presença do Estado em um sistema econômico, dependendo da
necessidade, tem a possibilidade de modificar a dinâmica de estabelecimento dos
25
preços finais dos bens e serviços em um mercado, enleva-se a importância do
conceito de e da mensuração do produto interno bruto a preços de mercado e do
produto interno bruto a custo de fatores, com o intuito de dimensionar e avaliar a
presença do governo no sistema econômico.
Exemplo:
Supondo um país onde haja quatro entes econômicos: as empresas, os
consumidores, o governo e o setor externo, consideremos que durante o
período contábil de um ano, esse país tenha tido produto interno bruto a
preços de mercado (PIBpm) de 25 bilhões. Nesse mesmo período os impostos
indiretos somaram 5 bilhões e os subsídios 4 bilhões. Ao calcular os produto
interno bruto a custo de fatores (PIBcf) temos:
25 bilhões
(PIBpm)
- 5 bilhões
(Impostos indiretos)
+ 4 bilhões
(subsídios)
24 bilhões
Total
2.2.1.1 Deficiência do PIB como Medidor da Produção Global
Apesar da maioria dos bens e serviços serem facilmente avaliados a preços
de mercado, existem alguns que não são vendidos e que, consequentemente, não
possuem preços de mercado. Nesse caso, há necessidade, de se imputar ou
estimar um valor para esses bens. Um exemplo são os proprietários de imóveis, que
não pagam aluguéis. Uma pessoa que aluga uma casa ou apartamento paga um
aluguel em contrapartida, sendo esse aluguel computado no PIB.
Para o dono de uma casa ou apartamento, é necessário estimar o que seria o
preço de mercado desse imóvel e acrescenta-lo no cômputo do PIB, como se o
proprietário estivesse pagando um aluguel para ele mesmo.
O valor dos serviços oferecidos pelo governo (como corpo de bombeiro e
polícia) ou pelo congresso (deputados e senadores) também é difícil de ser
26
mensurado, por não existir um preço de mercado para eles. Assim, eles são
incluídos no PIB com base em seus salários, com a pressuposição implícita de que
esses salários captam adequadamente o valor da produção que eles geram.
O PIB é particularmente deficiente como medidor da produção em países que
possuem uma economia informal grande. Economia informal é a parte da economia
que produz ou vende mercadorias ou serviços sem obedecer às leis vigentes, ou
seja, sem pagar impostos e sem registrar adequadamente seus assalariados e suas
vendas. Camelôs, sacoleiras e produções caseiras de mel, geléia e biscoitos são
alguns exemplos de economia informal.
Como variável que se propõe a captar o total da produção de um país, o PIB
tem também a desvantagem de ter a inflação embutida nele. Ou seja, quando o PIB
aumenta, pode ser porque a quantidade de bens e serviços realmente aumentou.
Mas pode também ocorrer da quantidade física de bens e serviços ter permanecido
constante e somente ter havido um aumento generalizado nos preços. Esse
problema, no entanto, é facilmente solucionável, bastando que se utilize o conceito
de PIB real ao invés de PIB nominal, como se verá adiante.
Há naturalmente muitas atividades produtivas que, por razões de simplicidade
e praticidade, acabam não sendo computadas no PIB. É o caso, por exemplo, das
refeições caseiras, produzidas e consumidas nas residências pela dona de casa. Em
síntese, o PIB deve ser encarado como um medidor aproximado da atividade
produtiva da economia.
PIB brasileiro de 1999 até 2008
PIB em milhões de reais Crescimento Anual do PIB
Ano
1999
973 845,49
2000
1 101 254,92
2001
1 198 736,19
2002
1 346 027,78
2003
1 556 181,83
2004
1.766.621,03
2005
1.937.598,29
2006
2.300.133,20
2007
2.558.000,00
2008
2.889.719,00
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
0,8%
4,3%
1,3%
2,7%
1,1%
5,7%
3,2%
4,0%
5,7%
5,1%
27
2.2.1.2 PIB Nominal versus PIB Real
Uma das principais desvantagens do PIB nominal é que ele pode aumentar
sem que tenha havido um efetivo aumento de produção, bastando que os preços da
economia se elevem. Isso faz do PIB nominal um indicador de produção
extremamente deficiente em países de alta inflação. No entanto, o PIB nominal ou
de preços correntes pode facilmente ser substituído pelo PIB real ou de preços
constantes e, consequentemente, não ser influenciado pela inflação. Para se
computar o PIB real, escolhe-se um ano-base, por exemplo 2000, e calcula-se o
valor da produção de todos os bens e serviços finais durante 2009 usando-se esses
preços constantes de 2000.
Supondo uma economia que produza somente pão, carne e bananas, o PIB
nominal em 2009 seria:
PIB nominal
(Quantidade de pão produzida em 2009 x Preço do pão em 2009)
+
(Quantidade de carne produzida em 2009 x Preço da carne em 2009)
+
(Quantidade de banana produzida em 2009 x Preço da banana em 2009)
=
PIB nominal de 2009
Como o PIB está relacionado com o preço vigente, o PIB nominal pode dobrar
caso os preços dobrem em 2009, em relação a 2000.
O PIB real usando-se 2000 como ano base seria:
PIB real
(Quantidade de pão produzida em 2009 x Preço do pão em 2000)
+
(Quantidade de carne produzida em 2009 x Preço da carne em 2000)
+
(Quantidade de banana produzida em 2009 x Preço da banana em 2000)
=
PIB real
28
Como os preços do PIB real são mantidos constantes, ou seja, aos valores de
2000, ele só varia de ano para ano se realmente houver aumento nas quantidades
produzidas de bens finais. Em suma, o PIB real ou constante calcula o valor dos
bens produzidos aos preços dos bens produzidos no ano-base; o PIB nominal ou
corrente calcula o valor dos bens produzidos aos preços vigentes na época da
produção dos bens. A diferença entre taxas de crescimento do PIB real e nominal
existe por causa da inflação. Para se fazer comparações entre as estatísticas de PIB
de vários anos, os economistas usam o PIB real, de tal maneira que ele reflita as
modificações nas quantidades da produção e não modificações de preços. Quando
o PIB real diminui, diz-se que a economia está num estado de recessão. Uma
recessão severa é chamada de depressão.
No Brasil é comum o uso do IPC como índice para a medida de inflação, ele
representa o custo de uma cesta de bens e serviços consumida por uma economia
doméstica representativa, Os índices de preços são médias ponderadas dos
preços de cada período nos quais cada bem ou serviço é valorado, de acordo com
seu ‘peso’ ou importância para o produto total.
O índice de preços ao consumidor é uma medida dos preços agregados, calculada
como uma média ponderada dos bens de consumo finais. O gasto da família média
em cada bem constitui a ponderação utilizada.
A inflação, medida pelo IPC, é a taxa de variação percentual que esse índice
experimenta no período de tempo considerado.
Alguns dos motivos que levam a um aumento do PIB real são:
Aumentos na disponibilidade dos fatores de produção. Por exemplo, a
força de trabalho ou o estoque de capital aumentam, aumentando
consequentemente o produto;
Variação no emprego de recursos disponíveis à produção. Nem todo
capital e trabalho disponíveis na economia são, na realidade, utilizados o
tempo todo. Por exemplo, se a utilização da mão-de-obra aumenta, o PIB real
pode aumentar;
29
Eficiência dos fatores de produção. Os mesmos fatores de produção
podem produzir mais com o passar do tempo. Esses aumentos na eficiência
da produção são consequência de mudanças do conhecimento e da
tecnologia. O uso de sementes selecionadas pelos agricultores, que induz a
uma maior produtividade da terra e a consequentes aumentos na produção,
por exemplo.
2.2.1.3 Produto Potencial versus Produto Efetivo
O produto real potencial consiste numa estimativa do nível que o PIB real
atingiria se houvesse pleno emprego. O produto real efetivo é o PIB real
propriamente dito, ou seja, o produto que é realmente produzido. A diferença entre o
PIB potencial e efetivo chama-se hiato e serve como medida da folga na atividade
econômica ou do desperdício de recursos produtivos. Em períodos de recessão e de
desemprego alto, os hiatos são grandes, ou seja, o produto potencial é
significativamente maior que o produto efetivo.
O PIB potencial é o nível máximo de produção que a economia pode alcançar
mantendo a inflação estável.
2.2.1.4 PIB versus PNB
Atualmente, existe uma grande integração entre os diversos países. Do ponto
de vista econômico, essa integração se dá através do deslocamento de fatores de
produção de um país para outro. O caso mais significativo é o do fator capital.
Quando uma grande empresa abre uma filial em outro país, ele está deslocando
parte de seu capital para esse país, pois estará adquirindo instalações,
equipamentos, etc. No entanto, a renda gerada por esse investimento em outro país
acaba retornando, pelo menos em parte, ao país de origem, onde estão os
30
proprietários do capital de produção. Em última análise, e do ponto de vista que
interessa à contabilidade social, a integração econômica entre os países se dá
através da transferência de renda de um país para outro.
O PIB ou Produto Interno Bruto difere do PNB ou Produto Nacional Bruto, por
incluir as parcelas de renda geradas internamente e transferidas para o exterior. No
caso do PIB, ele exprime o valor da produção a preços de mercado realizada dentro
das fronteiras geográficas do país, independentemente da nacionalidade dos
proprietários das unidades de produção desses bens e serviços.
A diferença entre o PIB e o PNB decorre do fato de uma parte dos fatores de
produção empregados internamente ser de propriedade de residentes no exterior, e
de que esse mesmo país também tem investimentos em outros países.
Assim:
PNB
PIB
-
renda líquida enviada ao exterior
+
renda líquida recebida do exterior
=
PNB
Ou
PIB
PNB
+
renda líquida enviada ao exterior
-
renda líquida recebida do exterior
=
PIB
Exemplo:
31
Suponhamos um determinado país A que tem um PIB de 20 bilhões e que tenha
enviado ao exterior a quantia de 3 bilhões a título de remuneração dos fatores de
produção estrangeiros, e recebido 2 bilhões como remuneração de fatores de
produção, de seus cidadãos, que se encontram no exterior. Ao calcular os Produto
Nacional Bruto temos:
20 bilhões
- 3 bilhões
(PIB do país A)
(renda enviada o exterior)
+ 2 bilhões (renda recebida do exterior)
19 bilhões
PNB do país A
Quando o PIB é maior que o PNB, o país está mandando mais renda para o
exterior do que recebendo. Quando o PIB é menor que o PNB, o país está
mandando menos renda para o exterior do que recebendo. No Brasil, o PIB tem sido
tradicionalmente maior que o PNB, porque envia mais renda líquida ao exterior do
que recebe.
O PIB real é o indicador de produção mais adequado, por ser usado pela
maioria dos países e também pelo fato dos aumentos de produção brasileira no
exterior praticamente não afetarem as condições de emprego no Brasil.
2.2.2 Demais agregados macroeconômicos
Produto Líquido: Durante o processo de produção, as máquinas,
equipamentos e instalações vão se desgastando e, consequentemente, fazendo o
processo produtivo perder qualidade. Portanto, esses itens devem ser reparados ou
substituídos com certa regularidade, para que não ocorra uma diminuição
substancial dos resultados econômicos. Contabilmente, a parcela do produto que se
destina à reposição e ao reparo dos equipamentos denomina-se depreciação.
Depreciação é a diminuição do valor dos bens tangíveis ou intangíveis, por
desgastes, perda de utilidade por uso, ações da natureza ou obsolescência.
32
A seguir temos alguns exemplos de taxas de depreciação, com base na
legislação pertinente.
Taxa anual de depreciação de equipamentos e
material permanente
Material ou equipamento
Taxa anual
• Aeronaves
5%
• Aparelhos de medição
10 %
• Aparelhos e equipamentos de Comunicação
10 %
• Aparelhos e equipamentos de Medicina, Odontologia e
10 %
Laboratórios Hospitalares
• Embarcações
5%
• Máquinas e equipamentos de natureza industrial
10 %
• Máquinas e equipamentos energéticos
20 %
• Máquinas e equipamentos gráficos
10 %
• Equipamentos de processamento de dados
20 %
• Máquinas, instalações e utensílios de escritório
10 %
• Máquinas, ferramentas e utensílios de oficina
10 %
• Máquinas e equipamentos agrícolas e rodoviários
20 %
• Mobiliário em geral
10%
Produto Interno Líquido (PIL): Se subtrairmos do Produto Interno Bruto a
parcela correspondente à depreciação, obteremos o Produto interno Líquido,
também conhecido como Renda Interna.
Exemplo:
Suponhamos um determinado país que tem um PIB de 20 bilhões e que tenha
apresentado uma quantia de 5 bilhões a título de depreciação dos fatores de
produção. Ao calcular o Produto Interno Líquido temos:
20 bilhões
(PIB)
- 5 bilhões (Depreciação)
15 bilhões
PIL
Produto Nacional Líquido (PNL): Lembrando que a diferença entre o PIB e
o PNB decorre do fato de uma parte dos fatores de produção empregados
33
internamente ser de propriedade de residentes no exterior, e de que esse mesmo
país também tem investimentos em outros países. Buscamos então, por analogia,
mostrar a diferença do PIL e do PNL.
O Produto Nacional Líquido é o Produto Nacional Bruto subtraído do montante
destinado à reposição da depreciação do sistema econômico.
Renda Pessoal (RP): Levando em consideração que a presença do Estado,
em nossa análise é um pressuposto já solidificado, temos que a sua intervenção
também está associada à questão da tributação. Ao subtrairmos do PNL, ou renda
nacional, os impostos diretos das empresas, e as contribuições feitas à previdência
social e somarmos as transferências do governo, ou seja, as despesas do governo
com inativos, pensionistas, salário-família, bolsa-escola e outros benefícios ou
programas sociais do governo, mais os juros pagos pelo governo, teremos a Renda
Pessoal, que é o agregado macroeconômico destinado aos consumidores residentes
no país.
Exemplo:
Suponhamos um determinado país que tem um PIB de 20 bilhões, onde o governo
recolhe 6 bilhões de imposto de renda e de contribuições para a previdência social.
Ao mesmo tempo o governo destina a essa economia um montante da ordem de 3
bilhões a título de pagamento de juros, de benefícios de programas sociais e de
previdência. Ao calcular a Renda Pessoal temos:
20 bilhões
(PIB)
- 6 bilhões
(imposto de renda e de contribuições para a
previdência social)
+ 3 bilhões
(juros, de benefícios de programas sociais e
de previdência)
17 bilhões
Renda Pessoal
34
Renda Pessoal Disponível (RPD): este conceito procura medir o quanto da
renda gerada no processo econômico fica em poder das famílias. Partindo da Renda
Nacional Líquida a custo dos fatores - RNLcf ou Renda Nacional, temos que deduzir
os lucros retidos pelas empresas para reinvestimento, pois apesar dessa parcela da
renda se encontrar de posse das empresas, não é transferida de imediato às
famílias. Temos ainda que deduzir os impostos diretos e as contribuições
previdenciárias pagas pelas famílias e empresas ao governo. Finalmente temos que
deduzir as demais receitas correntes do governo e adicionar as transferências
correntes do governo (aposentadorias) às famílias.
Um dos campos de interesse dos economistas, e também do governo, é o
nível de bem estar dos habitantes de um país. Esse nível de bem estar, apesar de
ser um conceito subjetivo, pode ser aproximado através da quantidade de bens e
serviços disponíveis aumentou de um ano para outro, mais do que o aumento da
população, pode-se dizer que aumentou o bem estar das pessoas desse país. Isso
aconteceria se o aumento do produto tivesse sido distribuído igualmente entre as
pessoas.
2.3 Distribuição de Renda
O conceito de Renda é entendido sob o aspecto macroeconômico, de
forma que a nação foi agente organizador e executor, responsável por produzir, e
através do emprego dos recursos produtivos é agente formador do total da Renda
Nacional pertencente ao país.
Os bens, produtos e serviços já prontos e elaborados constituem-se
riquezas, pois uma vez processados participaram do processo produtivo que, os
agregou de valor econômico. O esforço humano utilizado para seu processamento
também possui valor, denominado como um custo, e desta forma também agregará
valor econômico àqueles bens, produtos e serviços produzidos.
As riquezas econômicas são os totais dos bens, produtos e serviços finais
que estão à disposição dos indivíduos que participam do sistema. Considerando-se
também, os que pertencem aos estoques acumulativos.
35
A renda per capita ou rendimento per capita é um indicador que ajuda a saber o
grau de desenvolvimento de um país ou região e consiste na divisão da renda
nacional (produto nacional líquido menos os impostos indiretos) pela sua população.
Faz-se
necessário
destacar
a
diferença
entre
crescimento
e
o
desenvolvimento econômico, os quais se encontram relacionados. Enquanto o
crescimento econômico está relacionado ao aumento do nível da renda nacional ou
per capita, o desenvolvimento econômico consiste em melhorias gerais dos padrões
de qualidade de vida. O desenvolvimento não existe sem crescimento, sendo este
um dos aspectos do processo de desenvolvimento econômico. O grau de
investimento e industrialização está relacionado com o desenvolvimento, em
contexto limitado sobre o desenvolvimento, ressalta-se que um país cresce e se
desenvolve quando possui um Produto Interno Bruto/PIB ou Produto Nacional
Bruto/PNB superavitário atingido através da industrialização.
O crescimento é importante, mas não significa que a renda esteja sendo
distribuída
de
forma
igualitária.
O
crescimento
da
renda
não
implica
necessariamente que o padrão de qualidade de vida da nação tenha se ampliado,
neste sentido quando os indicadores socioeconômicos indicam que não houve
melhoria na qualidade de vida da nação, compreende-se que houve concentração
de renda e riqueza, provocando ruptura no tecido social.
Considerando que os resultados obtidos pelas contas nacionais são uma
aproximação da realidade, temos uma limitação que se reflete na incapacidade de
expressar, com maior precisão, de que forma o produto é distribuído entre os
habitantes do país. Isso nos faz perceber que, a economia pode apresentar um
significativo crescimento, sem que ele esteja distribuído igualmente entre as
pessoas. Apesar das limitações apontadas, a contabilidade serve como importante
parâmetro de mensuração da atividade econômica.
2.4 Atividades de auto-avaliação
1 – Quais os objetivos da Contabilidade Social?
36
2 – Explique o conceito de valor agregado.
3 – Quais são os principais agregados macroeconômicos?
4 – O que é “gasto público”?
5 – O que são subsídios?
6 – Qual a diferença entre PIB nominal e PIB real?
7 – Qual é a diferença entre o conceito de crescimento econômico e o conceito de
desenvolvimento econômico?
8 – Como o PIB de um país se reflete no nível geral de renda?
Conclusão
Considerando que uma boa contabilidade transforma dados em informação,
estudamos contabilidade social por duas razões. Em primeiro lugar, porque fornece
a estrutura formal para os nossos modelos macroeconômicos. A segunda razão para
estudar contabilidade nacional é o conhecimento de números que ajudam à
caracterização dos rumos de uma economia.
37
Unidade III
Níveis de Atividade em uma Economia
Objetivo da unidade: apresentar os conceitos de demanda e de oferta agregada e
suas consequências na mensuração da atividade econômica, com base nos
pressupostos Keynesianos da demanda efetiva.
3.1 Demanda e Oferta Agregada
Os economistas dos séculos XVIII e XIX acreditavam que o nível de produção
não sofreria grandes alterações, e todos os fatores de produção estariam ocupados
na produção de bens e serviços que formam a renda. Isto formaria o chamado
estado de "pleno emprego" dos fatores de produção. Assim, acreditava-se que toda
a renda distribuída no ato da produção se dirigiria ao mercado para adquirir bens e
serviços, apoiando-se na Lei de Say que afirma que “toda oferta cria sua própria
demanda".
Keynes desenvolve sua teoria baseado no pressuposto de que é necessária a
intervenção do estado na economia, pois o mercado, devido a vazamentos como a
formação de estoques e redução de produção, não seria capaz de coordená-la.
Para trazer um contraponto em relação a lei de Sey, Keynes cria uma teoria,
que ficou conhecida como o Princípio da Demanda Efetiva, a qual afirma que a
demanda é que determina o nível do produto.
Sua primeira suposição foi a existência de desemprego. Os antigos
economistas acreditavam apenas no desemprego voluntário. Keynes, ao contrário,
acreditava que a economia estaria funcionando abaixo de seu potencial, deixando
assim uma capacidade ociosa.
Assim, considera a Oferta Agregada (OA) como o somatório da renda
disponível na economia, enquanto chama de Oferta Potencial a máxima produção
da economia com pleno-emprego dos fatores de produção. A Oferta Agregada
38
Efetiva é aquela efetivamente colocada no mercado, o que pode ocorrer sem a plena
utilização dos fatores de produção.
A Demanda Agregada (DA) seria o somatório do consumo total da economia
com os investimentos, os gastos governamentais e as exportações, subtraindo-se as
importações.
Demanda agregada é a quantia total que os diferentes setores da economia
estão dispostos a gastar durante um período de tempo. Os componentes da
demanda agregada são o consumo (C ), o investimento (I ), o gasto público
(G) e as exportações líquidas (NX).
O que se vê é que o produto ou renda de equilíbrio (onde a oferta agregada é
igual à demanda agregada) não é o mesmo que o produto ou renda de pleno
emprego.
3.1.2 As curvas de demanda e de oferta agregada
Com base na análise Keynesiana, uma das principais ferramentas da
macroeconomia passou a ser o diagrama da demanda e oferta agregadas (Preços
P (nível de Preços)
vs. Produto (consumido ou ofertado)).
OA
DA
Q (produção real)
39
O raciocínio é o mesmo para um bem isolado, entretanto as mudanças e
deslocamentos são analisados de uma forma agregada.
Pressupostos sobre a demanda agregada:
A curva da demanda agregada mostra que quando há uma queda no nível de
preços, a demanda total real aumenta.
Os mecanismos envolvidos estão descritos abaixo:
Efeito sobre a riqueza real: quando o preço cai, menos dinheiro será
necessário para a aquisição de bens e serviços, aumentando a demanda
agregada.
Efeito dos juros reais: quando o preço cai, o dinheiro estará mais
disponível, provocando uma queda da taxa de juros, incentivando o
investimento e um aumento da demanda agregada.
Efeito do comércio exterior: quando o preço cai internamente, os
bens nacionais se tornam mais baratos, elevando a demanda externa com um
aumento consequente da demanda agregada.
Pressupostos sobre a oferta agregada no curto prazo:
No curto prazo a curva de oferta agregada tem inclinação positiva, pois alguns
fatores são rígidos, como os salários, por exemplo. Da produção nula até o nível em
que os fatores começarem a atingir o pleno emprego, ou tornassem mais escassos,
ficando mais dispendioso produzir mais uma unidade, a curva de oferta é paralela ao
eixo da produção. Ou seja, é possível aumentar a produção sem aumentar os
preços. Quando a economia atinge o pleno emprego, ou está muito próxima disto,
então a curva de oferta agregada é vertical.
3.1.3 Os efeitos dos deslocamentos na demanda e na oferta agregadas
40
P (nível de Preços)
Deslocamentos da demanda
OA
DA
DA’
Q (produção real)
Os efeitos dependem em que nível de oferta agregada está a economia.
Quanto mais próxima do pleno emprego mais os preços vão subir e menos a
produção vai aumentar.
P (nível de Preços)
Deslocamentos da oferta
OA
OA’
DA
Q (produção real)
Uma redução da oferta agregada causa o que se chama estagflação
(aumento de preço e queda da produção).
41
Para darmos prosseguimento aos nossos estudos, será necessário nos
abstermos de algumas complicações e reduzir o problema ao mínimo possível. Os
complicadores irão se juntar ao modelo paulatinamente até que se possa entender o
modelo por completo. Por exemplo, inicialmente só se considera as famílias, sem
investimento, depois vai-se inserindo as firmas com os investimentos, depois o
governo com seu consumo e seu investimento, etc... até completar o modelo.
3.2 Teoria da Determinação da Renda
A oferta agregada de bens e serviços é o valor total da produção de uma
economia, colocada a disposição da coletividade em um determinado período de
tempo.
Oferta agregada = Renda Nacional = Produto Nacional
Quando a demanda aumenta pode haver três tipos de reações dos agentes
responsáveis pela oferta:
Aumentam a produção física, sem aumento dos preços. Associado ao
desemprego dos fatores de produção;
Aumentam a produção e elevam os preços. Associado ao fato de alguns
fatores estarem desempregados e outros não;
Apenas elevam os preços. Este é o caso do pleno emprego dos fatores de
produção.
O gráfico abaixo ilustra essas reações:
42
0
Inflação
Nível Geral de Preços
OA
Estabilidade de Preços
Renda de Pleno
Emprego (YPE)
Desemprego
Renda Nacional
YPE
Até YPE a oferta é infinitamente elástica em relação aos preços. Uma vez que
YPE é atingida a oferta passa a ser infinitamente inelástica. No primeiro caso há
desemprego e no segundo, apenas aumento no nível de preços.
Cabe ressaltar que essas reações só serão válidas se:
O desemprego for conjuntural (a demanda é insuficiente para absorver a
oferta).
A tecnologia e os estoques de capital e de mão-de-obra permanecerem
constantes.
O nível de utilização dos fatores capital e de mão-de-obra, poderem variar.
Ou seja, isso ocorre apenas no curto prazo.
3.3 Demanda Agregada em uma economia fechada e com governo
Com vistas a simplificar os estudos, neste momento iremos lançar mão de
uma simplificação do modelo econômico, suprimindo a existência do setor externo.
Sendo assim, com base nesse pressuposto, termos uma economia composta pela
demanda de bens de consumo das famílias (C), pela demanda de investimento das
firmas (I), pela demanda do governo por bens e serviços (G).
43
DA = C + I + G
3.4 Consumo e Poupança
As economias domésticas compram bens e serviços, e o fazem conforme a
renda disponível. A parte da renda disponível não consumida se destina a
poupança, de forma que, quando as economias domésticas decidem quanto querem
consumir, simultaneamente estão determinando quanto desejam poupar.
Essa relação entre consumo e poupança é determinada por vários fatores,
sendo o mais relevante, a renda familiar atual.
Dando foco à poupança, a diferença entre a renda (Y) e o que se consome
(C) é a poupança (S), que pode ser, inclusive, negativa (despoupança),
dependendo, por exemplo, de gastos com empréstimos ou poupanças passadas.
Y-C=S
Dando prosseguimento a essa análise, vamos recorrer a um exemplo
numérico.
Relação entre renda disponível, consumo e poupança
Renda disponível
consumo
poupança
A
600
880
-280
B
2.000
2.000
0
C
3.000
2.800
200
D
3.800
3.440
360
44
Podemos então observar a relação que existe e é decorrente da renda
disponível. Graficamente temos um plano cartesiano com o eixo das ordenadas
assinalado para o consumo e o eixo das abscissas associado à poupança. Para
enfatizar se o consumo é maior, menor ou igual à renda, usamos uma bissetriz no 1º
quadrante, com uma distância de 45º entre os dos eixos do plano, onde Y = C.
Função Consumo
C
Poupança
Ponto de
nivelament
o
Despoupança
Função
Consumo
Consumo
Y
Observando o gráfico anterior, temos que em qualquer ponto ao longo da reta
de 45º,o consumo é exatamente igual à renda, assim, não ocorre poupança. Quando
a função consumo está acima da reta de 45º, temos um consumo maior que a renda,
trazendo uma poupança negativa ou despoupança, enquanto se a função consumo
estiver abaixo da reta de 45º, temos uma poupança positiva. Concluímos então que
a medida do nível de poupança é dada pela diferença vertical entre a reta de 45º e a
função consumo.
Retomando então, o nosso exemplo numérico, podemos perceber aonde
temos os casos de ponto de nivelamento, poupança positiva e de poupança
negativa.
45
Relação entre renda disponível, consumo e poupança
Renda disponível
consumo
poupança
A
300
440
-140
despoupança
B
1.000
1.000
0
ponto de
nivelamento
C
1.500
1.400
100
poupança
D
1.900
1.720
180
poupança
3.3.1 Propensão Marginal a Consumir (PMC) e a Poupar (PMS)
A propensão marginal a consumir é a quantidade adicional que os indivíduos
consomem quando recebem um real adicional de renda disponível, ou seja, indica o
consumo adicional decorrente de um aumento da renda. Keynes supôs que o
consumo aumenta junto com a renda, mas em uma proporção menor, o que é
percebido quando observamos que conforme a renda aumenta, maior a parcela
destinada à poupança.
Propensão Marginal a Consumir
PMC =
Variação no Consumo
∆C
=
∆Y
Variação na Renda
Propensão Marginal a Poupar
PMS =
Variação na Poupança
∆S
=
∆Y
Variação na Renda
46
Renda, consumo e propensões marginais a consumir e a poupar
Renda
Consumo
Poupança
PMC
PMS
Y
C
S
∆C
∆Y
∆S
∆Y
300
440
- 140
-
-
1000
1000
0
1000 − 440
= 0,8
1000 − 300
0 − ( − )140
= 0,2
1000 − 300
1500
1400
100
1400 − 1000
100 − 0
= 0,8
= 0,2
1500 − 1000
1500 − 1000
1900
1720
180
1720 − 1400
180 − 100
= 0,8
= 0,2
1900 − 1500
1900 − 1500
A PMC mostra a tendência que cada família tem de gastar em bens de
consumo. Assim, se PMC = 0,7 então 70% de um aumento na renda será destinado
ao consumo.
A propensão marginal a consumir (PMC) é a quantidade adicional que os indivíduos
consomem quando recebem um real adicional de renda disponível.
Ao analisar o fato de que a propensão marginal a consumir mede a variação
no consumo, em decorrência de uma variação na renda, temos que o que não for
gasto tenderá a ser poupado. Assim, matematicamente temos:
PMC + PMS = 1
Ou ainda
PMS = 1 - PMC
47
Exemplo:
Sabendo que a propensão marginal a consumir é de 75%, qual é a propensão
marginal a poupar?
PMS = 1 – 0,75 = 0,25
A propensão marginal a consumir é de 25%.
3.3.2 Propensão Média a Consumir (PMeC) e a Poupar (PMeS)
Com base no conceito de propensão marginal a consumir e a poupar,
podemos introduzir outro conceito que é o de propensão média.
A propensão média a consumir é definida, para cada nível de renda, como a
razão entre consumo total e renda total.
PMeC =
Consumo C
=
Renda
Y
De acordo com Keynes, essa propensão era decrescente, de maneira que,
como porcentagem da renda, a quantia destinada ao consumo deveria diminuir
conforme ocorresse um aumento na renda. No entanto, estudos mais recentes
mostram que a propensão média ao consumo só é decrescente em uma análise no
curto prazo, pois, o surgimento de novos bens e serviços juntamente com a
complementaridade entre esses bens e serviços, e com o aumento da riqueza das
famílias, faz com que, no longo prazo a propensão média ao consumo seja
razoavelmente constante.
Já a propensão média a poupar é definida, para cada nível de renda, como a
razão entre a poupança total e a renda total.
PMeS =
Poupança S
=
Renda
Y
48
3.4 As Funções Consumo e Poupança da Economia
A função Consumo
A teoria Macroeconômica coloca que a renda é o fator que, tomado
isoladamente, mais influencia na determinação do consumo em uma economia.
Temos como premissa então, que a teoria econômica nos mostra uma íntima
relação entre o consumo e a renda pessoal disponível.
A função consumo, mostra a relação entre consumo e renda, indicando o nível de
consumo planejado ou desejado correspondente a cada nível de renda pessoal
disponível.
O formato da função consumo (f(Y)) varia em decorrência dos dados, no
entanto, para estudos pode-se supor uma função linear C = C0 + bY onde C0 é um
consumo mínimo de subsistência, b é a PMC. Com essa simplificação podemos
fazer análises básicas e explicar vários fenômenos econômicos.
Se aceitarmos a hipótese Keynesiana de que existe uma relação empírica
estável entre consumo e renda, podemos explicar o nível de consumo, de forma
determinada e previsível, pelo nível de renda. Vale ressaltar que a renda que de fato
influencia o consumo, não é somente a renda do exato momento em questão, e sim
a tendência do nível de renda dos indivíduos, ao que chamamos de renda
permanente.
Renda permanente é o nível de renda auferida por uma família, tendo sido
eliminadas as influências temporais ou transitórias, tal como uma grande seca, uma
crise acentuada ou lucros totalmente imprevistos. Segundo a teoria da renda
permanente, o consumo responde mais a essa renda tendencial ou permanente do
que à renda disponível de cada ano.
49
A Função Poupança
Uma vez que cada real disponível será consumido ou poupado, nossa análise
da poupança será análoga à do consumo.
Como Y = C + S então S = Y – C ou S = Y – f(Y).
No caso de uma função linear temos:
S = Y – C0 – bY
Ou
S = - C0 +(1- b)Y
(1 – b) é a PMS e C0 é a despoupança da economia ou a poupança no nível de
renda nulo.
3.4.1 A Determinação do Equilíbrio da Renda considerando apenas o consumo
O ponto de equilíbrio é o único em que o PIB ou renda é igual ao gasto total
planejado, ou seja, ao investimento mais o gasto com o consumo. Para tanto
devemos ter a oferta agregada (AO) igual à demanda agregada (DA) o que nos leva
à condição de que a renda (Y) é igual ao consumo (C).
OA = DA
como OA= Y e DA = C
então Y = C
No caso de uma análise linear, temos que C = C0 + bY então Y= C0 +bY.
 1 
Ye = 
 (C O )
1 − b 
Sendo Ye = nível de renda de equilíbrio
50
Substituindo este nível na função consumo tem-se o nível de consumo no equilíbrio
Ce = C0 +bYe
C($)
C = Y = OA = DA
C = C0 +bY
E
e
e
C
C0
Ye
Y= OA($)
3.4.2 A Determinação do Equilíbrio da Renda considerando o investimento
Se considerarmos o investimento como sendo constante o equilíbrio gráfico
será o mesmo com a demanda agregada se deslocando um pouco mais para cima
devido à soma com o investimento.
Considerando o caso linear temos:
Y = C + I = C0 + bY + I
assim
 1 
Ye = 
 (CO + I )
1 − b 
O equilíbrio é atingido quando a poupança é igual ao investimento.
Uma variação no investimento faz a curva se deslocar mais para cima
aumentando a oferta de equilíbrio.
Ao juntarmos na análise o consumo e o invetimento, temos a chamada
análise do gasto total agregado, onde o equilíbrio é alcançado quando a soma do
51
gasto em consumo planejado pelas famílias como o gasto em investimento
planejado pelas empresas é igual ao produto ou renda nacional.
O gasto total agregado é a quantia que todas as unidades de gasto da economia
planejam gastar em bens e serviços nacionais. Essas unidades de gasto, em nosso
modelo simplificado, são as famílias, via consumo, e as empresas, via investimento.
O equilíbrio com a poupança sendo igual ao investimento
C($)
Y = OA = DA
C+I
E1
C
E0
Ce
C0
Ye
Y= OA($)
Determinação do equilíbrio da renda
Produção
Consumo
planejado
Investimento Gasto total
planejado
planejado
Y – (C+I )
Variação
não
desejada
de
estoques
Tendência
resultante
na
produção
Y
C
I
C+I
600
880
200
1080
- 480
Diminuem Expansão
2000
2000
200
2200
- 200
Diminuem Expansão
3000
2800
200
3000
0
Não variam Equilíbrio
3800
3440
200
3640
160
Aumentam Contração
4500
4000
200
4200
300
Aumentam Contração
52
3.5 O multiplicador
Com vistas á facilitar a compreensão, vamos supor que determinada empresa
tenha decidido expandir sua planta de produção através de um investimento no valor
de R$ 500.000,00. Esse montante servirá para pagar a todos os trabalhadores
diretamente envolvidos no processo e também as empresas contratadas.
Lembrando da propensão marginal a consumir, vamos supor, nesse caso, que ela
seja de 80%. Dessa forma, a parte gasta pelos elementos remunerados será 80% de
R$ 500.000,00, ou seja, R$ 400.000,00. Como as pessoas que receberam esses R$
400.000,00 vão gastar 80%, teremos então uma nova remuneração de outra parte
da sociedade no valor de R$ 320.000,00. Até o momento o investimento inicial da
empresa, somado aos novos gastos, está em R$ 1.220.000,00 e esse valor será
somado aos novos gastos sucessivamente até que não haja mais o que gastar.
Podemos perceber então que o gasto inicial de R$ 500.000,00 será
multiplicado por um coeficiente que em matemática chamamos de soma dos termos
de uma progressão geométrica infinita ou PG convergente, ou seja, que tende a
zero.
Até o momento temos que Qualquer variação na renda ( ∆Y ), deve ser igual a
variação no consumo ( ∆C ) somada a variação no investimento ( ∆I ).
∆Y = ∆C + ∆I
sendo K o multiplicador temos
K=
1
1 − PMC
Como a propensão marginal a poupar é complementar a propensão marginal
a consumir, a expressão multiplicador deixa evidente que ele aumenta junto com a
propensão marginal a consumir, o que também pode ser percebido através da
diminuição da propensão marginal a poupar.
53
O tamanho do multiplicador depende do tamanho da PMC, isto é, da inclinação da
função consumo. Quanto mais inclinada for a função, maior será o multiplicador.
3.5.1 O efeito do gasto público na renda de equilíbrio.
Ao introduzirmos o governo no modelo, passaremos a analisar seus
dispêndios totais, tanto de consumo quanto de investimento. Os dispêndios
governamentais agem na economia da mesma forma que os investimentos.
No nosso estudo, os gastos do governo serão considerados autônomos em
relação à renda. Desta forma seu valor é fixo e independente do nível da renda.
Com a introdução do governo em nossa análise, a demanda agora é dada por:
DA = C + I + G
C consumo planejado
I investimento planejado
G gastos do governo
3.5.2 A Determinação do Equilíbrio da Renda considerando o governo
Como os gastos governamentais são fixos (constantes) o equilíbrio gráfico
será o mesmo com a demanda agregada novamente deslocada um pouco mais
acima devido à soma com o estes gastos.
Para o caso linear temos:
Y = C + I +G = C0 + bY + I + G
assim,
 1 
Ye = 
 (C O + I + G )
1 − b 
Verifica-se que a inclusão de gastos do governo na economia eleva o nível de
equilíbrio da renda num múltiplo dos gastos realizados.
54
O multiplicador do gasto público é o aumento do PIB provocado por um incremento
das compras em bens e serviços por parte do Estado.
C($)
Y = OA = DA
E1
C + I +G
C+I
E0
Ce
C0
Ye
Y= OA($)
Questões para auto-avaliação
1 - Qual a definição de Oferta Agregada? E de Demanda Agregada?
2 - A curva da demanda agregada mostra que quando há uma queda no nível de
preços, a demanda total real aumenta. Explique como funcionam os mecanismos
envolvidos.
3 – Como se chama a redução da Oferta Agregada?
4 – Explique o conceito de despoupança.
5 – O que é a propensão marginal a consumir?
6 – O que é a propensão média a consumir?
7 – O que é a função consumo?
8 – O que é “renda permanente”?
9 – Explique o conceito central do multiplicador Keynesiano.
10 – Qual é o efeito do gasto público na renda de equilíbrio?
55
Conclusão
Ao entendermos a dinâmica do lado real da economia,
percebemos que a busca pelo equilíbrio é uma meta de constante
ajuste. Compreender a magnitude dos atos do governo em uma
economia leva enxergar fatos do dia a dia com uma outra ótica.
56
Unidade IV
Introdução à teoria monetária
Objetivos: Proporcionar o conhecimento referente a moeda e suas funções,
debatendo sobre a existência e a importância dos setores Real e Financeiro da
economia.
4.1 O monetarismo
É a parte da Teoria macroeconômica que se ocupa de analisar a oferta
monetária. Identifica-se com uma interpretação da forma como a oferta de dinheiro
afeta outras variáveis, como os preços, a produção e o emprego, contrapondo-se ao
keynesianismo.
A ‘teoria quantitativa do dinheiro’ de Irving Fisher prevaleceu no monetarismo
durante o século XX e formalizou-se em uma equação onde o nível geral de preços
equivalia à quantidade de dinheiro multiplicada por sua ‘velocidade de circulação’ e
dividida pelo volume de transações. Durante a década de 1970, analisava-se a
demanda de dinheiro dos indivíduos da mesma forma que a de qualquer outro bem,
dependendo da riqueza de cada indivíduo e do preço relativo do bem em questão.
O monetarismo analisa em conjunto a demanda total de dinheiro e a oferta
monetária, observando os níveis desejados de saldos monetários reais e sua
tendência a variar com lentidão, enquanto as mudanças dos saldos nominais são
instantâneos e dependem da atuação das autoridades monetárias. Esta afirmação
implica que as variações dos preços ou as receitas nominais respondem,
obrigatoriamente, a alterações na oferta de dinheiro, o que constitui o ponto de
partida da tese de Milton Friedmam segundo a qual a inflação é apenas um
fenômeno monetário.
4.1.1 O conceito de moeda
57
Moeda é um bem ativo especial. É tudo aquilo que serve como meio de troca
num sistema econômico. Imaginemos as dificuldades de um sistema em que não
houvesse a moeda. Um marceneiro, por exemplo, necessita, além de fabricar
móveis, precisa de roupas, de alimentos, de uma casa e de diversos outros bens
para poder sobreviver. Se não houvesse a moeda, esse marceneiro precisaria
encontrar outras pessoas que produzissem os bens de que necessita e propor a elas
a troca dos seus móveis que por esses bens.
Dada a dificuldade de transporte de seus móveis e ainda da coincidência de
encontrar alguém que, necessariamente quisesse trocar, exatamente a combinação
que lhe interessaria, o escambo mostra-se pouco prático. A solução achada foi a
criação de algo que tivesse valor intrínseco e que pudesse representar transações
em qualquer montante, com a segurança de honrar este pagamento.
Inicialmente usou-se o metal, principalmente ouro e prata, para servir a esse
propósito, dando início ao uso do conceito de moeda mercadoria.
Moeda mercadoria é um bem que tem o mesmo valor como unidade monetária e
como mercadoria.
A moeda representa o instrumento por excelência da troca, ou denominador
comum de valores. Quando se compra, trocam-se indiretamente objetos ou serviços
por outros objetos ou serviços, empregando-se uma mercadoria intermediária, que é
a moeda.
A moeda é mercadoria ou riqueza de aceitação geral, quer pela confiança
que oferece em matéria de troca de objetos ou serviços, quer por sua qualidade de
medida comum de valores.
As principais características que a moeda deve ter são:
Durabilidade: não pode ser altamente perecível;
Transportabilidade: o valor da moeda deve ser grande em relação ao seu
peso e tamanho, com vistas a facilitar o transporte;
Divisibilidade: deve ter a propriedade de ser divisível para facilitar o
pagamento de pequenos valores;
Homogeneidade: qualquer parte ou porção deve ter exatamente as
mesmas características das demais;
58
Oferta limitada: o bem deve ser escasso para que tenha valor.
O do uso do papel-moeda, ou moeda fiduciária remonta da dificuldade em
carregar grandes quantias, visto o metal se muito pesado. Para solucionar esse
problema, os cunhadores de moeda, que tinham cofres seguros, passaram a
guardar o metal e emitir recibos que atestavam a existência desse metal e de que
ele era de propriedade do portador do recibo. Dada a confiança adquirida por esse
procedimento, tornou-se cada vez mais comum carregar os recibos ao invés de
carregar o próprio metal, dando origem ao papel-moeda.
A moeda fiduciária é um bem que vale muito pouco como mercadoria, mas que
mantém seu valor como meio de troca porque as pessoas têm confiança de que o
emissor responderá pelas tiras de papel ou pelas moedas cunhadas e cuidará para
que a quantidade emitida seja limitada.
Esses cunhadores de moeda, que logo ficaram conhecidos como banqueiros,
logo perceberam que sempre havia uma quantidade de metal guardada
razoavelmente maior do que a necessária para os saques. Surgiu então outro tipo
de moeda, a moeda escritural, que permitiu aos banqueiros fazerem negócios
lucrativos, como emprestar dinheiro a juros e comprar títulos, por exemplo.
Podemos então perceber que o sistema bancário atual funciona da mesma
forma, no entanto, a autoridade máxima desse sistema é o Banco Central, o qual
determina, por lei, o nível de moeda e o percentual de reserva que os bancos devem
ter junto ao banco central como garantia dos depósitos existentes, o chamado
encaixe ou compulsório.
Reservas são ativos que os bancos mantêm na forma de moeda em espécie ou de
fundos depositados no banco central. Os bancos mantêm algumas reservas para
fazer frente às necessidades financeiras diárias, mas a maior parte tem como
objetivo cumprir os requisitos legais de reservas.
59
Os recolhimentos compulsórios: são usualmente impostos aos bancos através
de uma taxa aplicada à média diária dos saldos dos depósitos a vista, com as
seguintes finalidades:
Controlar a massa de crédito;
garantir a liquidez do sistema;
controlar a oferta de moeda.
A razão entre o montante de dinheiro que os bancos recebem em depósitos
ou captam com a venda de títulos e o montante de dinheiro que os bancos aplicam é
determinada pelo multiplicador do sistema bancário, que é a relação entre o volume
de recursos que eles captam e ao volume de dinheiro aplicado por eles.
Suponhamos que o Banco Central do Brasil, para fazer frente a um
determinado pagamento tenha colocado em circulação R$ 1.000,00 e o detentor
desse dinheiro deposite o valor em um banco A. Este inicialmente terá um depósito
de R$ 1.000,00 e, consequentemente, reservas de R$ 1.000,00, sem que tenha
emprestado esse dinheiro a ninguém.
Na posição inicial, o depósito inicial está 100 por cento respaldado pelas
reservas, ou seja não houve criação de moeda e assim tivemos um efeito neutro na
oferta monetária. No entanto, suponhamos que 20 por cento do depósito de R$
1.000,00 tenham sido depositados junto ao Banco Central e os 80 por cento
restantes usados para conceder um empréstimo á uma empresa. Esse valor sendo
usado pela empresa será depositado em outro banco B. Assim o banco B recebeu
um depósito de R$ 800,00 e irá depositar junto ao Banco Central 20 por cento, ou
seja, seguindo essa dinâmica, 80 por cento vão para outro banco (R$ 640,00). Esse
ciclo ocorrerá até que no banco central tenhamos um montante de depósitos
compulsórios igual ao primeiro depósito no banco A.
60
Cadeia de expansão monetária
Posição do banco
Novos depósitos
Novos empréstimos
Novas reservas
Banco A
1.000
800
200
Banco B
800
640
160
Banco C
640
512
128
Banco D
512
410
102
Banco E
410
328
82
Soma das 5
3.362
2690
672
1.638
1.310
328
5.000
4.000
1.000
primeiras etapas
Soma das demais
etapas
Total
Resumindo, esse processo de expansão continua até que o excesso de
reservas seja emprestado, gerando, em cada etapa, valores cada vez menores até
não existir mais a criação de valores. Matematicamente, temos, novamente, uma
soma dos termos de uma progressão geométrica convergente, a exemplo do
multiplicador Keynesiano visto na Unidade anterior.
Podemos ver então, que o processo de expansão múltipla dos depósitos
bancários compõe-se de duas partes:
1a) o banco central determina a quantidade de reservas que os bancos
comerciais devem manter e;
2a) tomando essas reservas como ponto de partida, o sistema bancário as
transforma numa quantidade muito maior de moeda bancária.
Com base nessas etapas dá-se início ao processo do multiplicador de moeda
bancária, visto na tabela anterior.
O multiplicador da moeda bancária é igual ao quociente entre os novos depósitos
e o aumento das reservas.
61
A magnitude do multiplicador bancário é inversamente proporcional à taxa global
de encaixes, recolhimentos e retenções.
Os bancos podem expandir o volume de depósitos bancários pelo processo
de expansão múltipla dos depósitos bancários, alimentado pela concessão de novos
créditos. A explicação desse processo é que os bancos mantêm líquida somente
uma porcentagem dos depósitos.
Efeito multiplicador:
Do ponto de vista de um banqueiro, os depósitos geram empréstimos
Do ponto de vista do sistema bancário, os empréstimos geram depósitos.
4.2 Funções da Moeda
A moeda as funções de servir como instrumento de troca, servir como medida
comum de valor; medida para pagamentos diferidos e como instrumento de reserva
de valor.
A Moeda Como Instrumento de Troca
A moeda funciona como meio de pagamento, ou seja: é aceita pelo consenso
geral, como meio de extinguir dívidas. Pode ser utilizada para realizar qualquer tipo
de pagamento e assegura ao seu detentor o direito de exigir da sociedade quaisquer
bens de valor correspondente.
Assim, a moeda tem a capacidade de generalizar o poder de compra de seu
possuidor, intermediando as transações comerciais e favorecendo mais a
especialização e a divisão do trabalho.
A Moeda Como Denominador Comum de Valores
62
Em segundo lugar, a moeda funciona como denominador comum de valores.
Torna-se um padrão único de avaliação de todos os bens e serviços que são postos
no mercado.
O próprio mercado é a realização de um sistema de preços relativos ou de
relações de trocas, segundo qual, uma heterogeneidade de bens e serviços podem
ser trocados entre si.
Instrumento Para Pagamentos Diferidos
A moeda serve como instrumento para pagamentos futuros, facilitando assim
a criação do crédito, ou seja: que as dívidas sejam transferidas para uma data futura
definida. A renda futura de uma pessoa pode assim tornar-se em consumo atual, por
exemplo.
Reserva de Valor
É comum pessoas "entesourarem" moedas (como guardá-las em cofres ou
"debaixo do colchão") para exercer os direitos que sua posse permite no futuro.
Obviamente não é a melhor maneira de se realizar uma poupança. Muitas pessoas o
fazem com moedas estrangeiras, como o dólar norteamericano, apostando em
câmbio favorável na hora de seu dispêndio.
4.3 Política Monetária
A Política Monetária age diretamente sobre o controle da quantidade de
dinheiro em circulação, visando defender o poder de compra da moeda. Tal prática
pode ser expansionista ou restritiva.
Em uma política monetária restritiva, a quantidade de dinheiro em circulação é
diminuída, ou mantida estável, com o objetivo de “desaquecer” a economia e evitar o
aumento dos preços.
Em uma política monetária expansionista, a quantidade de dinheiro em
circulação é aumentada, com o objetivo de aquecer a demanda e incentivar o
63
crescimento econômico. Cabe ressaltar que a política monetária expansionista visa
criar condições para o crescimento econômico, porém não o determina.
Para fazer política monetária, o governo dispõe de cinco instrumentos
básicos:
Incentivo/Restrição ao Crédito
Por ter efeito direto sobre determinados setores da economia, o incentivo ou a
restrição
ao
crédito
são
utilizados
pelo
governo
como
instrumentos
de
desenvolvimento microeconômico. Assim, se o governo deseja expandir o
agronegócio, cria incentivos para a concessão de créditos aos produtores rurais.
Se deseja restringir o consumo de determinado segmento de produtos, são
criados instrumentos que restrinjam o acesso ao crédito para compra de produtos
desse segmento.
Por não ser gerenciado pelo Banco Central, este deve levar em conta os
efeitos produzidos pelo incentivo ou pela restrição ao crédito na quantidade de
dinheiro em circulação, para poder calibrar a utilização dos outros instrumentos no
cumprimento dos seus objetivos.
Compra/Venda de Títulos Públicos
Através da compra e da venda de títulos públicos, o Banco Central afeta
diretamente a quantidade de dinheiro em circulação. Ao comprar títulos do público, o
banco central promove política monetária expansionista, pois entrega dinheiro em
troca dos títulos.
Ao contrário, para enxugar a liquidez do sistema, o Banco Central pode
vender títulos de sua carteira própria, entregando papéis e recebendo dinheiro, que
é tirado de circulação.
Depósitos Compulsórios
Parte dos depósitos efetuados pelos clientes não bancários nos bancos
comerciais deve ser recolhido ao Banco Central, compulsoriamente.
Esse instrumento tem o objetivo de diminuir o poder que os bancos
comerciais possuem de multiplicar o dinheiro em circulação através dos
64
empréstimos, possibilitando ao Banco Central manter o controle da quantidade de
moeda em circulação na economia.
Taxa do Redesconto
Taxa exigida pelo Banco Central para cobrir os eventuais "buracos" nos
caixas dos bancos comerciais. Se a taxa é baixa e o prazo é longo, os bancos
podem se expor a riscos maiores, aumentando os empréstimos e, por conseqüência,
a quantidade de dinheiro em circulação.
Se a taxa é alta e o prazo é curto, os bancos precisam exigir riscos menores,
diminuindo os empréstimos e, por conseqüência, a quantidade de dinheiro em
circulação.
Taxa de Juros
Na teoria, a taxa de juros tem efeito direto sobre a poupança, influenciando a
remuneração do capital, e sobre os investimentos, influenciando o custo do capital.
Assim, se o objetivo é uma política monetária restritiva, a elevação da taxa de
juros irá diminuir a quantidade de dinheiro em circulação, ao estimular a poupança e
elevar os custos dos investimentos e ao contrário, para estimular o consumo e os
investimentos, as taxas de juros devem ser mais baixas.
Os movimentos induzidos de expansão ou de contração no setor monetário
transmitem-se para o setor real da economia através da taxa de juros
a contração da oferta monetária força a subida da taxa de juros
a escansão da oferta de moeda força a queda da taxa de juros
4.3.1 Oferta de Moeda
Partindo da premissa que emissão ou oferta de moeda é atribuição do
governo através do Banco Central, percebemos que a oferta de moeda não depende
da taxa de juros, mas sim da política econômica do governo.
Apesar de a emissão de moeda não depender da taxa de juros, existem
critérios bem definidos que regulamentam a oferta monetária. Em síntese, a emissão
65
de moeda está condicionada pelo crescimento do produto da economia, pois se em
um determinado momento, a quantidade de dinheiro for superior ao crescimento do
produto, termos o fenômeno conhecido como excesso de liquidez que tende a
gerar inflação.
Em contrapartida, se a oferta de moeda for menor que o crescimento do
produto, podemos ter, entre outros acontecimentos, uma cries econômica conhecida
como crise da liquidez, gerada pela dificuldade em consolidar as transações
ocasionando uma queda no produto.
A liquidez, em um sistema econômico, é a relação entre a quantidade de moeda em
circulação e a quantidade de bens e de serviços produzidos, num determinado
período de tempo.
A oferta de moeda é representada graficamente como uma reta vertical em
um plano cartesiano que em seus eixos tem associado, nas abscissas, a oferta de
moeda (Mo) e nas ordenadas a taxa de juros (i).
Oferta de Moeda
i
O
Mo
B
Mo
O segmento OB, no eixo horizontal, significa a quantidade de moeda emitida pelo
goevrno. A oferta de moeda é vertical, demosntrando que não é alterada pelas
variações na taxa de juros.
66
4.3.2 Equilíbrio no mercado monetário
No que diz respeito à demanda de moeda, partiremos do pressuposto de que
essa demanda respeita as condições de lei da demanda vista em microeconomia, ou
seja, sendo o “preço” do dinheiro cotado pela taxa de juros, quanto maior é o preço,
menor é a demanda por moeda. A curva de demanda por moeda (MD) tem inclinação
negativa e o ponto de equilíbrio (ie) é a interseção dessa curva decrescente, com a
reta vertical, que representa a oferta de moeda.
O mercado monetário
i
i
Mo
Mo
MD
ie
O
B
Mo
O
B
Mo/MD
O equilíbrio do mercado monetário é determinado pelo desejo do público de ter
moeda (representado pela curva de demanda de moeda) e pela política monetária
do banco central, representada por uma oferta monetária fixa. A interdependência
entre esses dois fatores determina a taxa de juros de mercado, ie.
Alterações no mercado monetário
Um aumento na produção ou no nível de preços do país desloca a curva de
demanda de moeda para a direita e eleva as taxas de juros. Em contrapartida se
ocorrer uma diminuição na produção ou no nível de preços, temos um deslocamento
67
da curva de demanda por moeda para a esquerda. Em ambas as situações, o
objetivo do mercado é se ajustar, buscando um novo ponto de equilíbrio.
Variações na renda real
Aumento da renda real
i
Diminuição da renda real
i
Mo
i’e
Mo
M’D
MD
ie
MD
ie
M’D
i’e
O
B
MO/MD
O
B
Mo/MD
A política monetária resume as decisões que as autoridades monetárias
tomam com vistas a alterar o equilíbrio no mercado monetário, ou seja, a fim de
modificar a quantidade de moeda ou a taxa de juros.
Políticas monetárias
Política expansionista
i
Mo
Política restritiva
i
M’o
Mo
i’e
ie
MD
i’e
O
M’o
B
B’
Mo/MD
ie
O
MD
B’
B
Mo/MD
Os efeitos de uma política monetária expansionista se refletem em uma
queda na taxa de juros e em um aumento da quantidade do estoque de moeda,
68
enquanto uma política monetária restritiva leva a uma redução na demanda por
moeda.
4.4 Questões para auto-avaliação
1 – O que é o monetarismo?
2 - Qual é o conceito de moeda e quais as suas principais características?
3 – Explique o conceito de depósito compulsório, também conhecido como encaixe.
4 – Como funciona a cadeia de expansão monetária?
5 – Quais as funções da moeda?
6 – Qual é o objetivo da política monetária?
7 – Explique o fenômeno conhecido como “excesso de liquidez”.
8 – Explique os efeitos de uma política monetária expansionista.
9 – Explique os efeitos de uma política monetária restritiva.
Conclusão
A busca pelo equilíbrio em Macroeconomia tem seu principal desafio em
atingi-lo mesmo em um cenário com forças tão difíceis de manobrar, como o lado
real da economia, visto na unidade anterior, e o lado monetário, visto nesta unidade.
A compreensão das políticas monetárias traz para o profissional de finanças,
a capacidade de antecipar ações e assim melhorar sua capacidade gerencial.
69
Unidade V
Inflação
Objetivos: Explicar o que é inflação, como ela é mensurada, apresentado suas
causas e principais consequências para a economia.
5.1 O que é inflação
A inflação é essencialmente um fenômeno de caráter monetário, que se
caracteriza pela elevação de preços e pela equivalente depreciação do valor da
moeda. A inflação é uma preocupação mundial e, em muitos países, ela se tornou
uma ocorrência crônica, apesar de apresentar intensidade variada.
O início do processo está relacionado a uma multiplicidade de causas. A
inflação se manifesta de muitas formas e se expressa pelos mais variados ritmos,
produzindo efeitos que desequilibram as formas convencionais da economia.
Quando prolongada e muito intensa, ela tem a capacidade de modificar as relações
estruturais, padrões de comportamento e regras transacionais. Só há inflação
quando se verifica elevação do nível geral de preços, à qual corresponde uma
redução de magnitude equivalente no valor da moeda corrente. Embora a variação
dos preços possa ter grande dispersão em torno de um índice geral, todos se
movimentam para cima, ou seja, há uma alta generalizada dos preços.
A inflação não se limita a um grupo específico de bens ou serviços. Ela
alcança, quando se instala efetivamente, todo o produto, ainda que com
intensidades variadas. É um processo dinâmico de preços em alta, não sendo uma
situação estática de preços altos. É, também, um processo de alta persistente e
continuada. A cada período de tempo, deteriora-se o valor da moeda.
A inflação é definida como uma situação em que há um aumento contínuo e
generalizado nos preços dos bens e serviços produzidos em uma economia.
70
5.2 Principais tipos de inflação
Como pôde ser percebido, a inflação é prejudicial à economia de um país. Por
essa razão, os governos procuram, sempre que possível, combate-la através de um
conjunto de medidas conhecidas como políticas de estabilização.
Essas políticas, para serem eficientes, demandam o conhecimento de suas
causas. A Teoria Econômica acata a existência de várias teorias que são capazes
de explicar todos os tipos de inflação; geralmente sendo diferenciados por
características que remetem às causas, às magnitudes dos processos de alta e a
suas características visíveis. Em nossos estudos iremos considerar as quatro
principais bases teóricos:
Inflação de demanda
Um dos principais argumentos da teoria econômica sobre a inflação aponta
que as altas generalizadas de preços são decorrentes de uma demanda agregada
excessiva em relação à capacidade de oferta da economia. A inflação proveniente
de gastos agregados excessivos pode originar-se tanto no setor real, quanto no
setor monetário.
Esse excesso de demanda pode estar associado a seguintes principais
causas:
- Pode estar associado a expectativas sobre insuficiências nas cadeias
de suprimento, ou seja, o consumidor passa a consumir mais com
medo que faltem suprimentos.
- Pode estar associado a um aumento excessivo dos gastos públicos
sem correspondência de poupança do governo.
- Pode estar associado à condução inadequada da política monetária,
conduzindo à prostração da oferta de moeda e à multiplicação dos
meios de pagamento em escala mais que proporcionais à capacidade
efetiva de geração de bens e serviços. Trata-se, portanto, de um tipo
de inflação fortemente correlacionada à expansão da moeda.
71
Inflação de custos
São movimentos de alta originários da expansão dos custos dos fatores
relacionados ao processamento da procura de bens e serviços, podendo ser
também um processo inflacionário gerado pela elevação dos custos de produção,
especialmente dos salários ou dos preços de importação. Além de ser explicada
pela variação nas taxas salariais, a inflação de custos pode ser resultado de
acréscimos nos preços de matérias-primas de alta participação na estrutura de
custos das principais indústrias da economia.
Pressões que decorrentes de elevações salariais desse tipo são, geralmente,
associadas às negociações coletivas conduzidas por sindicatos organizados e
poderosos e da capacidade de esses setores influenciarem os sindicatos menos
organizados. A base desse argumento supõe que elevações de custos de produção
se incorporem como regra geral, aos preços de mercado.
Inflação inercial
A abordagem chamada “inercialista” fundamenta-se na capacidade de autopropagação da inflação e na prática generalizada da indexação, ou seja, é um
processo inflacionário muito intenso, gerado pelo reajuste pleno de preços, de
acordo com a inflação, observado no período imediatamente anterior. Com isso,
ocorre a indexação generalizada dos preços, os contratos e os preços passam a se
reajustar num período cada vez menor. A indexação generalizada e outros
mecanismos iniciais de manutenção da inflação dificilmente são controláveis pelos
instrumentos tradicionais da política monetária.
Inflação estrutural
A inflação é denominada estrutural quando ela ocorre devido a problemas
com fatores estruturais básicos, relacionados essencialmente com a inelasticidade
da oferta de produtos agrícolas, com o desequilíbrio crônico no comércio exterior,
com a distribuição desigual da renda e com a rigidez dos orçamentos públicos.
A teoria estrutural contém muitos elementos das outras teorias. A
originalidade está em ser voltada para países em desenvolvimento. Foi desenvolvida
por pesquisadores da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe
(CEPAL), órgão da Organização das Nações Unidas. Em resumo, a origem da
72
inflação nos países pobres decorre de características particulares da estrutura dos
países em desenvolvimento, quais sejam:
- Inelasticidade da oferta agrícola. Na América Latina, temos uma estrutura
fundiária concentrada (terra em poucas mãos), o setor agrário é
tecnologicamente atrasado e a região está em processo de urbanização
(parcelas crescentes da população dependem da oferta de produtos
agrícolas). O resultado é o aumento de preço dos produtos agrícolas.
-
Desequilíbrio
crônico
no
comércio
exterior.
Os
países
em
desenvolvimento, em geral, são importadores de bens de capital
(máquinas e equipamentos), objetivando aparelhar seu parque industrial.
Os bens de capital são comercializados em moedas fortes (dólar, libra
esterlina, marco alemão, franco suíço, iene), gerando desequilíbrios no
balanço de comércio (importações maiores do que as exportações) dos
países em desenvolvimento.
- Distribuição desigual de renda. Com a produção de novos produtos, os
grupos assalariados de baixa renda pressionam para a ampliação de sua
capacidade aquisitiva. Obtendo êxito, teremos pressões inflacionárias de
custo, desde que as empresas tentem manter as margens de lucro. Por
conta dos aumentos salariais, manter o lucro significa aumentar os preços.
A solução seria a aceitação, por parte dos setores empresariais, da nova
distribuição de renda mais favorável aos assalariados de baixa renda.
- Rigidez do orçamento público. Nos países de crescimento acelerado, o
governo assume responsabilidades na implantação de infra-estrutura
industrial (abastecimento de água, energia, esgoto e transportes). Em
geral, não existe um mercado no qual a colocação de títulos do governo
financie a infra-estrutura. A solução seria a emissão de moeda (fabricação
de dinheiro), aumentando o dinheiro em circulação, origem monetária da
inflação. No caso da existência do mercado de títulos, via de regra, o
volume disponível de recursos é pequena diante das necessidades do
governo e dos empresários privados. O resultado da disputa por recursos
escassos é um aumento na remuneração dos proprietários dos recursos
(aumento da taxa de juros). Nesse caso, quem recorreu a empréstimos
aumenta preços em função do aumento na parcela a ser paga aos
credores.
73
5.4 Mensuração da inflação
A principal forma de mensurar a inflação está baseada no conceito de índice
de preços. Os índices de preços correspondem a valores médios de diferentes
preços em uma economia e medem as mudanças no nível geral de preços entre
dois períodos, sendo essas variações, geralmente, expressas em percentagem.
São particularmente úteis quando se tem a intenção de distinguir as
modificações reais das modificações nominais de certas variáveis. Os índices de
preços são utilizados como indicadores de inflação e servem também para
deflacionar variáveis nominais, eliminando assim os efeitos dos aumentos de preço
nas variáveis econômicas. Por exemplo, lembrando da Unidade II temos que o PIB
nominal mede o valor da produção à preços de mercado a preços correntes, ou seja,
no período em que o produto é produzido. Já o PIB real mede o produto de qualquer
período a preços constantes, ou seja, utilizando-se os preços de algum ano-base.
Como o ano de 1990 foi de inflação alta, o PIB nominal de 1990, que mostra o
total do valor da produção desse ano, reflete não somente os aumentos na produção
ocorridos nesse ano, mas também os aumentos de preço observados ao longo de
1990. Nesse caso, torna-se necessário deflacionar o PIB nominal, ou seja, eliminar o
efeito dos aumentos de preço e obter o PIB real. Só assim se chega a conhecer o
verdadeiro aumento de produção ocorrido em 1990.
Os índices de preços tem, portanto, duas funções fundamentais:
- medir a inflação, indicando se o nível geral de preços cresceu muito ou
pouco naquele mês,
- deflacionar ou eliminar o efeito da inflação das variáveis nominais,
transformando-as em variáveis reais.
Os principais índices de preço usados no Brasil são:
- Os índices do IBGE incluem o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor
Amplo) e o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). O IPCA é o
índice mais relevante do ponto de vista da política monetária, já que foi
escolhido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) como referência para o
sistema de metas para a inflação, tendo sido implementado em junho de
1999, enquanto o INPC tem sua importância pautada no fato de ser muito
74
utilizado em dissídios salariais, pois mede a variação de preços para quem
está na faixa salarial de até 8 salários mínimos;
- Os índices gerais da FGV incluem o Índice Geral de Preços - Disponibilidade
Interna (IGP-DI) e o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M), além de seus
componentes: o Índice de Preços por Atacado (IPA), o Índice de Preços ao
Consumidor (IPC-Br) e o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC). O
IGP-DI é um índice bastante tradicional (sua história remonta a 1944) e foi
entre janeiro de 1960 a outubro de 1985 a medida oficial de inflação no Brasil.
Atualmente, é utilizado contratualmente para a correção de determinados
preços administrados. O IGP-M é o índice mais utilizado como indexador
financeiro, inclusive para títulos da dívida pública federal (NTN-C). Servindo
também para corrigir os preços administrados, como, por exemplo, energia
elétrica1.
IPCA e IGPI – Variações anuais – 1995 - 2005 (%)
As principais consequências da inflação passam primeiramente pela
observação quanto ao grau e da intensidade com que ela ocorre. Tememos como
exemplo dois países, um com uma inflação anual de 5%, ou seja, aumentos médios
1
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
75
de 5% nos bens e serviços dessa economia, e outro país onde a inflação é de 100%
ao ano. Provavelmente a inflação de 5% pode ser até considerada apenas um
realinhamento de preços, já no país onde a inflação é de 100% ao ano, ao
pensarmos que o poder de compra da população caiu pela metade, em um ano,
provavelmente deve ser um cenário muito mais preocupante.
Em linhas gerais, vamos estudar as principais consequências da inflação:
sobre a distribuição de renda
Os trabalhadores saem perdendo, pois seus salários são reajustados
periodicamente, ao passo que os preços de bens e serviços sobem quase
que diariamente. Os empresários defendem seus ganhos repassando o
aumento dos seus custos para o consumidor, através da elevação do preço
dos seus produtos. Por outro lado, os donos de imóveis têm suas
propriedades valorizadas, enquanto os profissionais liberais podem aumentar
seus honorários quando quiserem.
sobre a balança comercial
Com a inflação, os preços dos bens e serviços produzidos internamente
tendem a ficar mais caros que os importados, fazendo com que as pessoas
aumentem suas compras de mercadorias importadas, o que causa um déficit
na balança comercial. A alta taxação desses produtos é uma forma de o
governo evitar esse desequilíbrio, o que traria em contrapartida um
desconforto na comunidade econômica internacional.
sobre as expectativas
Em um processo inflacionário, as incertezas dos empresários a respeito de
sua lucratividade futura fazem com que diminuam os investimentos, reduzindo
a capacidade produtiva do sistema econômico.
5.5 indexação e inércia inflacionária
76
A chamada “indexação” é um processo que tem por base o reajuste dos
preços em combinação com determinados índices escolhidos previamente. No caso
brasileiro, ainda no governo militar, a indexação se originou da criação do instituto
da correção monetária, que tinha como objetivo servir de parâmetro de reajuste
para alguns preços da economia por um tempo determinado. Ao longo dos anos,
entretanto, esse instrumento se generalizou pela economia brasileira, dado o
aumento constante da inflação.
Dada essa generalização, a inflação brasileira passou a contar com um
componente inercial, ou seja, a inflação futura era, no mínimo, igual à inflação
passada, somada a eventuais choques de oferta e demanda.
Indexação: é o reajuste do valor das parcelas dos contratos, como salários,
aluguéis, prestações, pela inflação do período passado, com base em índices préestabelecidos.
O problema gerado pela indexação é que os instrumentos clássicos de
combate à inflação, tais como as políticas monetária e fiscal, têm pouca ou nenhuma
funcionalidade para lidar com a “inércia inflacionária”.
O que ocorre é que a cada período a inflação tende a ser, no mínimo, igual à
inflação anterior, por força do reajuste dos contratos, trazendo uma memória
inflacionária. Essa resistência da inflação às políticas de estabilização que atacam
as causas primárias do aumento dos preços é chamada de inércia inflacionária.
Inércia inflacionária: é a resistência que os preços de uma economia oferecem às
políticas de estabilização que atacam as causas primárias da inflação.
Para lidar com esse problema é preciso, primeiro, zerar a “memória
inflacionária” dos agentes econômicos, de modo que eles eliminem esse
componente inercial e passem a considerar somente demanda e oferta para compor
os preços da economia.
77
5.6 Questões para auto-avaliação
1 - Qual a definição de inflação?
2 – O que são políticas de estabilização?
3 – Quais os principais tipos de inflação?
4 – Quais as principais consequências da inflação?
5 – Como é mensurada a inflação?
6 – O que é um índice inflacionário?
7 – O que é inércia inflacionária?
8 – O que é o processo de indexação?
Conclusão
Para entender a inflação como fenômeno monetário temos que entender os
conceitos de oferta e demanda de moeda, e equilíbrio monetário. A sequência dos
nossos estudos então passaram pelo lado real da economia, o lado monetário e
agora vimos como o desequilíbrio afeta o nível de preços e, consequentemente o
nível de renda.
78
Unidade VI
Câmbio e Balanço de Pagamentos
Objetivos: Explicar a estrutura do balanço de pagamentos, sua a importância como
referência em políticas de estabilização, dado o mecanismo de estabelecimento das
taxas de câmbio em um sistema econômico.
6.1 A Teoria da Vantagens Comparativas
As nações não são auto-suficientes, elas engajam em comércio internacional,
ou seja, exportações e importações de bens e serviços, motivadas principalmente
pela estrita ausência de determinados bens e/ou serviços ou pela simples falta de
vocação daquela economia em produzir esses bens e/ou serviços.
Assim, podemos citar como situações dessas:
diferenças climáticas e de dotação de recursos naturais.
Temos como exemplo as frutas cítricas, o cacau e o café, os quais requerem
determinadas condições climáticas não existentes em todos os países. A
extração de minérios e petróleo, por outro lado, depende da existência desses
recursos naturais no país.
diferenças de tradições e costumes.
Como exemplo, podemos citar a Suíça, tendo se tornado conhecida na
produção de relógios e no oferecimento de serviços bancários de diversos
tipos. Outro exemplo seria o Japão, conhecido pela produção de eletroeletrônicos. Tradições de trabalho e conhecimento são, dessa forma,
passados de geração para geração, dando ao país certa vantagem em
determinadas produções de bens ou serviços.
Os países se especializam na produção de determinados bens ou serviços
devido às vantagens especiais que eles têm ao procederem dessa forma. Essas
vantagens são chamadas pelos economistas de vantagens comparativas e podem
79
ser consequência de melhores condições tecnológicas, existência de recursos
naturais, maior qualificação da mão de obra, etc.
A teoria das vantagens comparativas, elaborada por Adam Smith e depois
aperfeiçoada por David Ricardo, parte do princípio de que os países que
comercializam entre si aumentam o nível de bem estar social, dada a maior
disponibilidade de bens e serviços oferecidos para os consumidores daquelas
economias. O comércio é, portanto, fundamentalmente determinado pelas diferentes
vantagens comparativas dos países.
Teoria das Vantagens Comparativas: os países devem especializar-se na
produção dos bens em que possuam vantagens comparativas, para trocá-los por
bens produzidos nas mesmas condições em outros países, o que traz um aumento
no nível de bem estar dos países envolvidos no comércio internacional.
6.2 Balanço de Pagamentos
Um balanço de pagamentos apresenta o registro das transações econômicas
do país com o resto do mundo, tendo essas operações de compra e venda
agrupadas em duas grandes categorias, a conta corrente e a conta de capital.
Conta Corrente
A conta corrente é uma sub-conta do balanço de pagamentos a qual registra
o comércio de bens e serviços e as transferências de pagamentos. Os elementos da
conta corrente do balanço de pagamentos são os seguintes:
Balança comercial
- Exportações
- Importações
Balança de serviços
- Viagens internacionais
- Transportes
80
- Seguros
- Rendas de capitais
- Serviços governamentais
- Serviços diversos
Transferências unilaterais
Balança Comercial
A balança comercial corresponde à diferença entre exportações e
importações de produtos. Normalmente reúne os valores mais altos do balanço de
pagamentos. Um conceito importante é o de superávit e déficit na balança
comercial. Ter um superávit significa que as exportações do país foram maiores
que as importações e ter um déficit na balança comercial, por outro lado, significa
que as exportações foram menores que as importações.
Balança de Serviços
A balança de serviços corresponde à diferença existente entre as exportações
e importações de serviços diversos. As viagens internacionais, por exemplo,
englobam como receitas os gastos de turistas e homens de negócios do exterior e
temporariamente em viagens pelo país. Os gastos dos residentes do país, no caso
brasileiros, em viagens ao exterior são computados como despesas. Os serviços de
transportes envolvem as receitas e despesas com fretes. As rendas de capitais
referem-se a juros, lucros e dividendos decorrentes de empréstimos e investimentos
internacionais. Os serviços governamentais englobam, por exemplo, a manutenção
de militares e diplomatas no exterior.
Transferências Unilaterais
As transferências unilaterais referem-se aos donativos voluntários ou
compulsórios, privados ou governamentais, de um país para outro, podendo ser
também relacionado a valores recebidos ou dados a título de herança, por exemplo.
Geralmente os países menos desenvolvidos tem superávit nessas transferências,
dada uma quantidade maior de imigrantes que saem desses países. Em
contrapartida os países mais desenvolvidos têm déficit, pelo motivo oposto, ou seja,
receberem uma maior quantidade de imigrantes.
81
Quando se fala em superávit em conta corrente, significa que o saldo da
soma da balança comercial, balança de serviços e transferências unilaterais é
positivo. Há déficit em conta corrente quando o saldo da soma da balança comercial,
balança de serviços e transferências unilaterais é negativo.
Conta de Capital
A conta de capital é outra sub-conta do balanço de pagamentos e registra as
entradas e saídas de ativos. Os elementos da conta de capital do balanço de
pagamentos são os seguintes:
- Investimentos estrangeiros líquidos;
- Empréstimos a médio e longo prazos;
- Empréstimos a curto prazo;
- Amortizações.
Investimentos Estrangeiros Líquidos
Os investimentos estrangeiros líquidos correspondem ao ingresso de capital
no
país.
Geralmente
correspondem
aos
investimentos
estrangeiros
de
multinacionais.
Empréstimos a médio e longo prazos
Os empréstimos a médio e longo prazos são operações para financiar
projetos de altos custos e longo prazo de maturação, quer sejam privados ou quer
sejam governamentais.
Empréstimos a curto prazo
Os empréstimos a curto prazo são resultantes de eventuais desajustamentos
temporários.
Amortizações
As amortizações são pagamentos totais ou pagamentos parciais de
empréstimos de curto, médio e longo prazos contraídos no exterior. Quando os
países são credores de residentes de outros países, as amortizações implicam em
ingresso de divisas.
82
Um superávit na conta de capital significa que as receitas provenientes de
investimentos, empréstimos e amortizações são maiores que as respectivas
despesas. Já um déficit na conta de capital corresponde a um saldo negativo na
soma de investimentos, empréstimos e amortizações.
6.3 Taxa de Câmbio
A taxa de câmbio é o preço das moedas estrangeiras em termos de moeda
nacional. Sua cotação está relacionada a duas premissas diferentes, a de taxa de
câmbio nominal e a taxa de câmbio real.
Taxa de Câmbio Nominal
É o conceito de taxa de câmbio que os jornais apresentam diariamente. Ela
corresponde ao preço relativo das moedas de dois países, sendo que em geral, a
taxa de câmbio é definida como o número de unidades em moeda estrangeira.
Exemplos:
Na França: 3 francos equivalem a 1 marco alemão
Na Alemanha: 0,33 marcos equivalem a 1 franco
No Brasil: 1,7 reais equivalem a 1 dólar
Cabe ressaltar que em alguns países (Estados Unidos e Inglaterra,
principalmente), não é utilizado esse conceito de taxa de câmbio e sim o contrário,
ou seja, o número de unidades de moeda estrangeira necessário para adquirir uma
unidade de moeda nacional.
Exemplo:
Nos EUA: 105 ienes/1 dólar
Associado ao conceito de taxa de câmbio, temos os conceitos de valorização
e desvalorização da moeda.
83
Valorização e Desvalorização Nominal da Moeda
As taxas de câmbio podem ter variações diárias e essas quedas ou elevações
na taxa de câmbio são conhecidas por valorização e desvalorização.
Supondo uma taxa de câmbio nominal E, igual ao número de Reais
necessários para adquirir 1 Dólar, temos:
Valorização
Valor do Real
nº de Reais por
Câmbio nominal
(nominal)
SOBE
Dólar
(E)
DESCE
DESCE
do Real
Desvalorização
Valor do Real
nº de Reais por
Câmbio nominal
(nominal)
DESCE
Dólar
(E)
SOBE
SOBE
do Real
A valorização (nominal) do Real corresponde a uma queda na taxa de câmbio
(nominal) e, em contrapartida a desvalorização (nominal) do Real refere-se à
elevação da taxa de câmbio (nominal).
Taxa de Câmbio Real
Na tomada de decisão das firmas e consumidores, entre comprar produtos
estrangeiros ou nacionais, deve-se levar em consideração preço dos bens
estrangeiros em relação aos bens nacionais, o que é chamado taxa de câmbio real.
A taxa de câmbio real é, portanto, definida como o preço relativo dos bens em dois
países.
Um exemplo pode ajudar a compreensão de como se chega à taxa de câmbio
real. Suponha que um consumidor tenha a possibilidade de comprar um produto, por
exemplo, um computador no Brasil ou nos Estados Unidos. Para decidir onde
comprar o computador basta fazer uma comparação do preço do computador nos
dois países.
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Valorização e Desvalorização Real da Moeda
Levando em conta o fato de que a taxa de câmbio real corresponde à taxa de
câmbio nominal vezes a relação de preços de produtos estrangeiros e nacionais,
ocorre valorização ou desvalorização real da moeda Real.
Assim, a valorização (real) da moeda Real corresponde a uma queda na taxa
de câmbio (real), quando os produtos estrangeiros ficam relativamente mais baratos
que os produtos nacionais brasileiros, e a desvalorização (real) da moeda Real
corresponde a uma elevação na taxa de câmbio (real), o que faz com que os
produtos nacionais brasileiros fiquem relativamente mais baratos.
É fácil perceber, portanto, que uma valorização da taxa de câmbio real
estimula as importações (porque os produtos estrangeiros estão mais baratos) e
desestimula as exportações (já que os produtos nacionais estão mais caros). Uma
desvalorização da taxa de câmbio real, por outro lado, estimula as exportações (já
que os produtos nacionais estão mais baratos), desestimulando, consequentemente,
as importações (porque os produtos estrangeiros estão mais caros).
Taxas de Câmbio Fixa e Flexível
Existem, basicamente, dois sistemas cambiais: o sistema de taxas de
câmbio fixas, onde os Bancos Centrais ficam a postos, para intervir no mercado,
com ações de compra e venda de suas moedas a um preço fixo em termos de
dólares, e o regime de taxas de câmbio flexíveis, em que os Bancos Centrais
permitem que a taxa de câmbio se ajuste para equilibrar a oferta e a demanda por
moeda estrangeira.
Em síntese, a oferta de moeda estrangeira é suprida pelos turistas
estrangeiros, exportadores de bens e serviços, receptores de investimentos externos
e tomadores de empréstimos e financiamentos do exterior. Do lado da demanda, os
agentes são os turistas brasileiros, os investidores brasileiros no exterior, os
importadores de bens e serviços, as empresas que repatriam investimentos externos
ou pagam lucros e dividendos sobre eles e aquelas que amortizam ou pagam juros
de empréstimos captados no exterior.
No regime de taxas flexíveis, o balanço de pagamentos equilibra-se
automaticamente: respeitado o método de partidas dobradas, a soma algébrica dos
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saldos de transações correntes e do movimento de capitais autônomos é igual
à zero.
Nas figuras a seguir temos a representação gráfica da diferença entre os dois
regimes cambiais.
Regime Cambial Fixo
Taxa de Câmbio
R$/US$
S1
S2
e1
D2
D1
0
Q1
Q2
Divisas estrangeiras
Suponha que o sistema cambial seja fixo em e1. Caso, por alguma razão, a
demanda por divisas estrangeiras aumente de D1 para D2, passa a haver uma
demanda por divisas estrangeiras superior à oferta (0Q2 > 0Q1). Para manter a taxa
de câmbio fixa em e1, o Banco Central vende divisas no mercado interno, diminuindo
suas reservas num montante correspondente ao excesso de demanda de mercado.
Nas operações cambiais com taxa de câmbio fixa, o Banco Central troca
moeda nacional por estrangeira (ou vice-versa) para estabilizar a taxa de câmbio.
Quando
o
Banco
Central
compra
ou
vende
reservas
estrangeiras,
há
consequentemente uma variação na base monetária. Em outras palavras, a oferta
de moeda vai aumentar ou diminuir quando o Banco Central troca moeda nacional
por estrangeira, para que a taxa de câmbio permaneça constante. Assim, o Banco
Central perde autonomia na condução da política monetária quando o sistema
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cambial e fixo. O Banco Central é também forçado a manter um volume adequado
de reservas para atender aos eventuais excessos de demanda por divisas.
No regime cambial flexível, por outro lado, a taxa de câmbio varia quando há
um aumento de demanda por divisa estrangeira, como se vê na figura a seguir:
Regime Cambial Flexível
Taxa de Câmbio
R$/US$
S
e2
e1
D2
D1
0
Q1
Q2
Divisas estrangeiras
Se a demanda por divisas estrangeiras aumenta de D1 para D2, esse
desequilíbrio é corrigido com uma desvalorização da moeda do país, ou seja, com
uma elevação da taxa de câmbio de e1 para e2. O novo ponto de equilíbrio
corresponde à interseção de D2 com S.
Num regime cambial flexível, o Banco Central não tem nenhum compromisso
para apoiar uma determinada taxa de câmbio. Todas as flutuações na demanda e na
oferta de moeda estrangeira acomodam-se por meio de alteração de preço da
moeda estrangeira em relação à moeda nacional. O Banco Central tem autonomia
para definir a oferta monetária sem nenhum compromisso com uma taxa de câmbio
específica, permitindo que ela flutue livremente em resposta aos distúrbios
econômicos.
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Bandas de Câmbio
A banda de câmbio é um regime cambial, que pode ser considerado como
intermediário, e que tem características do regime cambial fixo e flexível. A taxa de
câmbio pode flutuar livremente dentro dos limites inferior e superior da banda de
câmbio.
A figura a seguir ilustra o regime de bandas de câmbio com flutuações dentro
de limites preestabelecidos pelo Banco Central.
Regime de Bandas de Câmbio
Taxa de Câmbio
R$/US$
S
e2
e0
e1
D
0
Q0
Divisas estrangeiras
Pelo conceito de bandas de câmbio, as forças de mercado podem atuar
livremente no intervalo das taxas de câmbio e1e2. Se o mercado levar o câmbio para
acima do limite superior e2, o Banco Central compra divisas, ou seja, retira divisas do
mercado, o que aumenta as suas reservas e aumenta a quantidade de Reais em
circulação, o que provoca uma queda na taxa de juros. Se, por outro lado, o
mercado conduzir a taxa de câmbio para abaixo do limite inferior e1, o Banco Central
vende divisas, ou seja, coloca divisas no mercado, o que diminui as reservas do país
e diminui a quantidade de Reais em circulação, provocando uma elevação na taxa
de juros.
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Em síntese, no regime de bandas de câmbio o Banco Central fixa uma zona
e1 e2 de flutuação para a taxa de câmbio, e qualquer tentativa de superação dos
extremos e1 e2 da banda desencadeia intervenções do Banco Central que, dessa
forma, mantém o câmbio dentro dos limites desejados.
6.4 Questões para auto-avaliação
1 – Em síntese, o que é a teoria das vantagens comparativas?
2 – Quais são as principais categorias do Balanço de Pagamentos?
3 – Qual é o item mais importante do Balanço de Pagamentos e por quê?
4 – O que são as transferências unilaterais?
5 – Explique o que é déficit e o que é superávit.
6 – Qual a função da taxa de câmbio?
7 – O que acontece com as importações se houver um aumento do Real frente ao
Dólar?
8 – Qual a diferença entre taxa de câmbio fixa e taxa de câmbio flexível?
Conclusões
Entender
as
políticas
cambiais
como
um
instrumento
de
política
macroeconômica é de grande importância para gestores. As oscilações do câmbio e
as consequências delas no comércio internacional e na competitividade de um país
em relação à outro, impactam profundamente nas decisões das empresas,
principalmente se estas tiverem relações comerciais mais diretas no mercado
internacional.
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