ID: 60146437 14-07-2015 Tiragem: 14617 Pág: 16 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 26,00 x 31,22 cm² Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 1 de 2 Dívidas por cobrar em tribunal caem para 4,7 mil milhões de euros Paulo Figueiredo Dívidas Acções executivas que chegam aos tribunais estão a cair desde 2012. Ainda assim, as dívidas por cobrar em 2014 representavam 3% do PIB. Lígia Simões [email protected] A dívida por cobrar nos tribunais atingiu 4,7 mil milhões de euros em 2014, menos 17% face ao ano anterior. Uma quantia que representa cerca de 3% da riqueza produzida no país e que se refere às novas acções executivas que deram entrada em 2014 (mais de 137 mil). Nos primeiros seis meses deste ano, o valor dos processos executivos já soma 1,8 mil milhões de euros. Os dados revelados ao Diário Económico pela Câmara dos Solicitadores dão conta da evolução no número de processos executivos e respectivos valores de dívidas de particulares e empresas que ainda não foram recuperadas e que estão a ser reclamadas nos tribunais pelos credores. Em causa estão, por exemplo, dívidas a fornecedores, instituições financeiras (banca e seguros), créditos ao consumo, arrendamentos ou dívidas a empresas de serviços públicos essenciais (água e luz) e telecomunicações. Os montantes por pagar têm, ainda assim, vindo a cair: registaram-se 6,8 mil milhões de euros em 2012, passando para 5,6 mil milhões em 2013 (menos 18%) e 4,7 mil milhões em 2014 (menos 17%). O primeiro semestre de 2015 mantém a tendência, apesar do ligeiro aumento do número de processos (73 mil, contra 72 mil em Junho de 2014). Entre Janeiro e Junho, estavam por cobrar nos tribunais 1,8 mil milhões de euros, menos 35% face aos 2,8 mil milhões em igual período de 2014. O presidente da Câmara dos Solicitadores realça que, em três anos, os montantes de dívidas para cobrança judicial caíram 31%, um sinal de que “a economia está a ficar mais saudável, ainda que lentamente”, diz José Carlos Resende. O fiscalista Samuel Almeida considera, porém, que o valor por cobrar “continua elevado, gerando dificuldades adicionais aos operadores económicos”. Acresce a estes montantes, re- corda, os créditos não reclamados pelo facto do devedor estar na lista pública de execuções (sem bens penhoráveis). “Trata-se de um problema grave da nossa economia que teremos de resolver a médio prazo, a começar pelo Estado que continua a manter prazos (nalguns sectores) de pagamento inaceitáveis”, alerta o fiscalista. José Carlos Resende explica que “uma percentagem elevada [das dívidas] está afecta a processos de insolvência”. Ou seja, dos 4,7 mil milhões de euros de dívidas referentes a 137 mil novos processos que deram entraDÍVIDAS POR COBRAR Entre 2012 e 2014 as dívidas para cobrança judicial caíram 18%. 8 6 4 2 0 2012 2013 Fonte: Câmara dos Solicitadores; Unidade: M€ 2014 da nos tribunais em 2014, uma “parte significativa é incobrável devido a insolvências, fundamentalmente de empresas “. O presidente da Câmara dos Solicitadores junta ainda outro factor, o efeito bola de neve: uma dívida pode dar lugar a diversos processos de execução. Por exemplo: se um cliente não pagar um determinado serviço prestado por uma empresa, esta pode ter que ficar a dever a um fornecedor e esse mesmo fornecedor corre o risco de não conseguir pagar a uma qualquer outra entidade. Maior eficácia e mais penhoras Na redução da dívida executiva, José Carlos Resende destaca o aumento de eficácia do processo de execução e dos custos processuais para recuperação de créditos, bem como o impacto ao nível da redução de empréstimos bancários para compra de casa, numa evolução também explicada pelo “maior rigor na concessão de crédito”. “Nos últimos três anos, assistiu-se a uma significativa redução no número de processos de execução, sendo reflexo de um conjunto alargado de factores”, afirma José Carlos Resende. Dá como exemplo o papel das penhoras electrónicas, nomeadamente sobre depósitos bancários ou valores mobiliários que, desde Setembro de 2013 e até Maio deste ano, ascenderam a 402 milhões de euros. Outro factor apontado incide no Procedimento Extrajudicial Pré-Executivo, um mecanismo que permite ao credor saber se o devedor tem bens penhoráveis que justifiquem avançar para a acção executiva. Além das novas regras do processo executivo, Samuel Almeida aponta “a diminuição drástica do consumo e do crédito concedido” como tendo desempenhado um papel crítico nesta tendência”. Carlos Resende considera também que “a significativa redução da actividade económica tem a sua quota-parte de responsabilidade”. ■ Uma elevada percentagem das dívidas que se encontram para cobrança judicial não deverá ser recuperada pelos credores devido a insolvências de empresas, que, entretanto, ocorreram. Grandes litigantes reduzem acções em 48% O número de processos executivos que deu entrada nos tribunais diminuiu cerca de 50% em dois anos: em 2012 deram entrada 269 mil processos e, em 2014, 137 mil. No ano passado, a queda de processos foi de praticamente 40% face aos 224.313 processos registados em 2013. Na evolução do número de processos executivos há ainda que distinguir os grandes e pequenos litigantes. No caso em que os credores são sociedades comerciais (tenham intentado mais de 200 acções, procedimentos ou execuções em 2014), segundo a Câmara dos Solicitadores, “nota-se uma evolução algo surpreendente, uma vez que os grandes litigantes reduziram em 7% o número de processos de 2012 para 2013, sendo que, para 2014, a redução foi de 48%”. Telecomunicações, banca e seguros continuam a ser os principais clientes dos tribunais que em 2011 foram confrontados com o agravamento em 51% das custas das acções executivas. Medida que visou travar o ritmo a que algumas empresas recorrem à justiça. Quanto aos litigantes de baixo volume, a diminuição em 2013 foi de 20% e, em 2014, de 29%. ID: 60146437 14-07-2015 Tiragem: 14617 Pág: 1 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 6,72 x 6,89 cm² Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 2 de 2 Dívidas em cobrança judicial atingem 4,7 mil milhões Em 2014 entraram em tribunal acções de execução de dívidas representando 3% do PIB. Ainda assim, os valores estão a cair desde 2012, graças ao menor volume de crédito e à maior eficácia na execução. ➥ P16