DISCURSO – DEP. CARLOS MELLES COMISSÃO GERAL – DEBATER RENEGOCIAÇÃO DE DÍVIDAS DOS PRODUTORES RURAIS ENDIVIDAMENTO RURAL Senhor Presidente, Senhoras e Srs. Deputados e representantes de entidades do setor agropecuário, cooperativista e sindicatos. Srs. Produtores, Não é de hoje que crises financeiras e econômicas quando atingem o campo, afetam diretamente a renda e com isso, a sustentabilidade da atividade do produtor rural e isso, decorre, principalmente, do aumento do custo de produção, redução dos preços por conta da redução da demanda e com isso, vem as dificuldades de honrar seus compromissos. Em decorrência dessas dificuldades, o Congresso Nacional em apoio ao setor produtivo, ao longo dos anos, tem apoiado e até tomado iniciativas no sentido de propor medidas para, em período de crise, problemas de dívidas e renda sejam minimizados, sejam nos programas de sustenta de preços, seja com medidas de prorrogação e alongamento de prazos para as dívidas de custeio e de investimentos. Muitas vezes, se imagina que o efeito de medidas dessa natureza estão focadas no produtor, o que é verdadeiro, entretanto, o que às vezes não se noticia, são os efeitos benéficos para a sociedade graças ao incremento de produção. Inadimplência restringe o crédito, e com isso, lavouras deixam de ser plantadas, recursos que movimentam a economia deixam de ser investidos, vem o desemprego, sem contar ainda, que a redução de crédito implica redução de área e redução de oferta, podendo comprometer o abastecimento interno e favorecer a inflação. Parece que foi ontem, mas já faz 20 anos, quando em 1995 se promoveu a primeira grande renegociação de dívidas, a chamada securitização, responsável pela regularização de dívidas da ordem de R$ 8,5 bilhões em todo País. E voltando ao passado, lembramos-nos de personalidades que sempre estiveram conosco em defesa do setor rural, como o saudoso Jonas Pinheiro, dos Hugo Bihel e Abelardo Lupion e do Deputado Valdir Colatto e Ronaldo Caiado, que ainda hoje, como nós, continua nessa luta, defendendo esse setor tão importante para a nossa economia. Apesar de importante para a economia, apesar dos números grandiosos em relação ao PIB, geração de empregos, superávit na balança comercial, que são dados macroeconômicos, muitos dos que aqui estão, ou mesmo nos bastidores do executivo, esquecem que é um setor que na sua maioria, toda essa riqueza é produzida por mini, pequenos e médios produtores, que via de regra, na sua simplicidade de vida de homem do campo, tem ajudado a transformar o país e alimentar o mundo. Ao longo desses 20 anos, acompanhando as crises internas e as crises internacionais, o Congresso Nacional e o Poder Executivo sempre estiveram atentos aos problemas do setor, tanto que em 1997, promoveu a renegociação de dívidas do Funcafé, em 1998 implementou o PESA, em 1999 concedeu descontos para a Securitização e o Pesa e prorrogou o vencimento de parcelas de 1999 e 2000 e por fim, em 2001, estabeleceu novos mecanismos para as dívidas alongadas de Securitização, Pesa e Funcafé, com aplicação de bônus e redução de taxas de juros. Foram ações que ajudaram o setor produtivo a sair da crise, lembrando que entre 2001 a 2010, outras medidas também foram implementadas para permitir a renegociação das dívidas, a exemplos das medidas para renegociar as dívidas inscritas na Dívida Ativa da União. É fato que o setor rural sempre responde bem quando o Poder Executivo adota medidas que apoiam o seu fortalecimento e, nesse momento de escassez de crédito, incertezas em relação ao futuro das commodities e aumento dos custos de produção, é importante o debate sobre renegociação de dívidas rurais, pois o estoque da dívida, o perfil da mesma e a redução na rentabilidade do setor pode comprometer a próxima safra por conta da liquidez desses ativos. Apenas para ilustrar a situação do endividamento do setor rural brasileiro, dados do Banco Central do Brasil dão conta que em 31/12/2014, o débito consolidado nos bancos somavam, entre custeio, investimento e comercialização, o total de R$ 290,7 bilhões de reais, dos quais R$ 175,2 bilhões referem-se a investimentos, sem contar o saldo remanescente de dívidas de securitização, Pesa, Funcafé e Dívida Ativa da União, e custeios prorrogados que podem elevar esse saldo para valores próximos de R$ 230 bilhões. Em relação à Cafeicultura, os dados são alarmantes e merece atenção especial de Comissão Geral que irá tratar do endividamento rural, pois somente no Banco do Brasil, segundo dados fornecido por aquela instituição, o débito do segmento café, inclusive industrial, é da ordem de R$ 11,13 bilhões consolidados em abril de 2015, assim distribuídos: - Dívidas com Risco do banco ................................ – R$ 8,6 bilhões - Dívidas com Risco do banco (Funcafé) ................ – R$ 0,7 bilhão - Dívida com Risco de Terceiros ............................. – R$ 1,03 bilhão - Dação Tesouro – Risco de Terceiros (Funcafé) .... – R$ 0,8 bilhão E para encerrar, creio que o momento é oportuno e dado o volume das dívidas aqui relatadas, é importante que esta Casa, através dessa Comissão Geral, possa propor medidas que antecipem problemas futuros. Custos e alta, redução dos preços recebidos pelos produtores, liquidez da atividade que reduz a oferta de crédito, são problemas sinais que indicam baixa capacidade de pagamento e por isso, é preciso trabalhar a questão do endividamento, antes que ele se apresente como um problema crônico, pois se tornará mais difícil e oneroso para a sua solução. Oportuno relembrar ser fundamental uma auditoria nas dividas rurais, para que todos tenham uma visão real e transparente dessa questão, conforme foi publicamente oficializado em 2009 durante o movimento SOS Café, que realizamos na Câmara dos Deputados. Era o que tínhamos a dizer e reafirmamos a disposição de continuarmos trabalhando em parceria na construção de propostas viáveis para o setor produtor brasileiro. Dep. Carlos Melles - DEM/MG