DISCURSO – DEP. CARLOS MELLES COMISSÃO GERAL – DEBATER RENEGOCIAÇÃO DE DÍVIDAS DOS PRODUTORES RURAIS ENDIVIDAMENTO RURAL Senhor Presidente, Senhoras e Srs. Deputados e representantes de entidades do setor agropecuário, cooperativista e sindicatos. Srs. Produtores, Não é de hoje que crises financeiras e econômicas quando atingem o campo, afetam diretamente a renda e com isso, a sustentabilidade da atividade do produtor rural e isso, decorre, principalmente, em função do aumento do custo de produção, redução dos preços, e com isso vem as dificuldades dos produtores em honrar seus compromissos. Importante destacar que, além da falta de uma política eficaz e consistente – que dê sustentação e assegure ao produtor rural um mínimo de renda e pelo menos cubra o custo de produção, os produtores ainda enfrentam sérias adversidades climáticas. Precisamos de políticas que assegurem os pilares fundamentais para a atividade rural, como preços mínimos e garantia (de acordo com o Estatuto da Terra), de estoques reguladores, de crédito no volume, tempo e hora certos. Em decorrência dessas sérias dificuldades, ao longo dos anos o Congresso Nacional tem apoiado o setor produtor, inclusive com iniciativas no sentido de propor medidas para, em período de crise, que os problemas de dívidas e falta de renda sejam minimizados, sejam nos programas de sustentação de preços, seja com medidas de prorrogação e alongamento de prazos para as dívidas de custeio e de investimentos. Exemplos eficientes dessas políticas públicas, realizadas no passado recente e que precisam ser reeditadas, são a securitização das dívidas, o Pesa, e o Recoop – no caso das cooperativas de produção agropecuária. O alongamento das dívidas até 2025, deixa patente que o setor rural está sem renda para honrar os seus compromissos. Muitas vezes, se imagina que o efeito de medidas dessa natureza estão focadas no produtor, o que naturalmente é verdadeiro, entretanto, o que às vezes não se noticia, são os efeitos benéficos para toda a sociedade graças ao incremento de produção. Inadimplência restringe o crédito, penaliza o produtor, e com isso lavouras deixam de ser plantadas, recursos que movimentam a economia deixam de ser investidos, vem o desemprego, sem contar ainda, que a redução de crédito implica redução de área e redução de oferta, podendo comprometer o abastecimento interno e favorecer a inflação. Há ainda o problema da criminalidade nas áreas produtoras, impactada pela falta de renda que gera toda sorte de prejuízos, notadamente na área social. Parece que foi ontem, mas já faz 20 anos, quando em 1995, o governo Fernando Henrique promoveu a primeira grande renegociação de dívidas rurais, a chamada securitização, responsável pela regularização de dívidas de pequenos produtores da ordem de R$ 8,5 bilhões em todo País. E voltando ao passado, lembramos-nos de personalidades que sempre estiveram conosco em defesa do setor rural, como exemplo o saudoso Jonas Pinheiro, Carlos Melles, Hugo Bihel, Abelardo Lupion, Valdir Colatto, Nelson Marquezelli, Augusto Nardes, Ronaldo Caiado entre tantos outros, que ainda hoje, como nós, continua nessa luta, defendendo esse setor tão importante para a nossa economia. Apesar de importante para a economia, dos números grandiosos em relação ao PIB, geração de empregos, superávit na balança comercial, que são dados macroeconômicos, muitos dos que aqui estão, ou mesmo nos bastidores do executivo, esquecem que é um setor formado por mini, pequenos e médios produtores, que via de regra, na sua simplicidade de vida de homem do campo, tem ajudado a transformar o país e alimentar o mundo. Está público, ano após ano, que o superávit da balança comercial é bancado pelo setor rural, assim como todos os planos econômicos na história do país. É a chamada “âncora verde”. Ao longo desses 20 anos, acompanhando as crises internas e as crises internacionais, o Congresso Nacional e o Poder Executivo sempre estiveram atentos aos problemas do setor, tanto que em 1997, promoveu a renegociação de dívidas do Funcafé, em 1998 implementou o PESA, em 1999 concedeu descontos para a Securitização e o Pesa e prorrogou o vencimento de parcelas de 1999 e 2000 e por fim, em 2001, estabeleceu novos mecanismos para as dívidas alongadas de Securitização, Pesa e Funcafé, com aplicação de bônus e redução de taxas de juros. Fundamental ainda relembrar os amplos benefícios que conquistamos ao criarmos o Pronaf, ou seja, fizemos no passado políticas de começo, meio e fim. Precisam agora ser reeditadas. Foram ações que ajudaram o setor produtivo a sair da crise, lembrando que entre 2001 a 2010, outras medidas também foram implementadas para permitir a renegociação das dívidas, a exemplos das medidas para renegociar as dívidas inscritas na Dívida Ativa da União. É fato que o setor rural sempre responde bem quando o Poder Executivo adota medidas que apoiam o seu fortalecimento e, nesse momento de escassez de crédito, incertezas em relação ao futuro das commodities e aumento dos custos de produção, é importante o debate sobre renegociação de dívidas rurais, pois o estoque da dívida, o perfil da mesma e a redução na rentabilidade do setor pode comprometer a próxima safra por conta da liquidez desses ativos. Apenas para ilustrar a situação do endividamento do setor rural brasileiro, dados do Banco Central do Brasil dão conta que em 31/12/2014, o débito consolidado nos bancos somavam, entre custeio, investimento e comercialização, o total de R$ 290,7 bilhões de reais, dos quais R$ 175,2 bilhões referem-se a investimentos, sem contar o saldo remanescente de dívidas de securitização, Pesa, Funcafé e Dívida Ativa da União, e custeios prorrogados que podem elevar esse saldo para valores próximos de R$ 230 bilhões. Em relação à Cafeicultura, os dados são alarmantes e mereceu atenção especial de Comissão Geral que tratou do endividamento rural, pois somente no Banco do Brasil, segundo dados fornecido por aquela instituição, o débito do segmento café, inclusive industrial, é da ordem de R$ 11,13 bilhões, consolidados em abril de 2015, assim distribuídos: - Dívidas com Risco do banco ................................ – R$ 8,6 bilhões - Dívidas com Risco do banco (Funcafé) ................ – R$ 0,7 bilhão - Dívida com Risco de Terceiros ............................. – R$ 1,03 bilhão - Dação Tesouro – Risco de Terceiros (Funcafé) .... – R$ 0,8 bilhão E para encerrar, creio que o momento é oportuno e dado o volume das dívidas aqui relatadas, é importante que esta Casa, através dessa Comissão Geral, possa propor medidas que antecipem problemas futuros. Custos e alta, redução dos preços recebidos pelos produtores, liquidez da atividade que reduz a oferta de crédito, são problemas sinais que indicam baixa capacidade de pagamento e por isso, é preciso trabalhar a questão do endividamento, antes que ele se apresente como um problema crônico, pois se tornará mais difícil e oneroso para a sua solução. Oportuno relembrar ser fundamental uma auditoria nas dividas rurais, para que todos tenham uma visão real e transparente dessa questão, conforme foi publicamente oficializado em 2009 durante o movimento SOS Café, que realizamos na Câmara dos Deputados. Era o que tínhamos a dizer e já nos colocando a disposição para ajudar na construção de propostas viáveis para o setor produtivo brasileiro. Dep. Carlos Melles - DEM/MG