Curso de Fisioterapia Bruna Paz Rodrigues ABORDAGEM FISIOTERAPÊUTICA NA INCONTINÊNCIA URINÁRIA DE ESFORÇO NA MULHER IDOSA Rio de Janeiro 2008.01 2 BRUNA PAZ RODRIGUES ABORDAGEM FISIOTERAPÊUTICA NA ICONTINÊNCIA URINÁRIA DE ESFORÇO NA MULHER IDOSA Monografia de Conclusão de Curso apresentada ao Curso de Fisioterapia da Universidade Veiga de Almeida, como requisito para obtenção do título de Fisioterapeuta. Orientador: Profª Ivone Brauns. Rio de janeiro 2008.01 3 BRUNA PAZ RODRIGUES ABORDAGEM FISIOTERAPÊUTICA NA INCONTINÊNCIA URINÁRIA DE ESFORÇO NA MULHER IDOSA Monografia de Conclusão de Curso apresentada ao Curso de Fisioterapia da Universidade Veiga de Almeida, como requisito para obtenção do título de Fisioterapeuta. Aprovada em: ____/____/2008. BANCA EXAMINADORA Prof. Universidade Veiga de Almeida - Presidente da Banca Examinadora. Prof. Universidade Veiga de Almeida - Membro da Banca Examinadora. Prof. Universidade Veiga de Almeida - Membro da Banca Examinadora. 4 Agradeço aos meus pais que tiveram extrema importância na realização e conclusão deste trabalho, por não permitirem que eu desistisse do curso, por me apoiarem e terem me dado forças nos momentos de fragilidade. Agradeço a minha irmã, a minha avó e aos meus amigos pela compreensão. Agradeço também a minha tia Marialba e a Deus, pois sem eles nada seria possível, principalmente o término do meu curso de Fisioterapia ao qual dedicarei toda a minha vida. 5 À minha querida orientadora, Professora Ivone Brauns, pelos conselhos sempre úteis e precisos com que, sabiamente, conduziu este trabalho. 6 “Para conhecermos os amigos é necessário passar pelo sucesso e pela desgraça. No sucesso, verificamos a quantidade e, na desgraça, a qualidade.” Confúcio 7 RESUMO A incontinência urinária (IU) é um problema que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, principalmente mulheres. A incontinência urinária de esforço (IUE) é o tipo mais comum de IU, sendo que diversos estudos têm demonstrado a alta incidência desta patologia, principalmente com o avançar da idade e em mulheres multíparas. Existem diversas opções para o tratamento da IUE, dentre elas a terapia cirúrgica, farmacológica e as técnicas utilizadas pela fisioterapia. O objetivo deste estudo é comprovar a eficácia de uma das técnicas mais simples e baratas para o tratamento da IUE: os exercícios cinesioterapêuticos. E, além disso, trazer maiores esclarecimentos acerca deste problema tão comum, bem como melhorar a qualidade de vida das pacientes tratadas. Palavras-chave: Incontinência Urinária, cinesioterapia, assoalho pélvico. 8 ABSTRACT The Urinary Incontinence (UI) is a disease that affects million of people in all the world, mainly women. The Stress Urinary Incontinence (SUI) is the most common kind of UI, and many studies have been demonstrated the high incidence of this pathology, mainly at advanced age and multipary women. There are a lot of options for the SUI treatment, including the surgical treatment, the pharmacological therapy and the techniques used by the physical therapy. The aim of this study is to prove the efficacy of one of the simplest and cheapest techniques for the SUI treatment – the kinesiotherapics exercises. Besides, bring more enlightenment about this such common disease, as well improve the life´s quality of the patients. Key-words:Urinary Incontinence, kinesiotherapy, pelvic floor. 9 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ..................................................................................................................10 CAPÍTULO 1 - INCONTINÊNCIA URINÁRIA............................................................11 1.1 A Incontinência Urinária e o Envelhecimento...........................................................18 1.1.1 Anatomia Funcional do Assoalho Pélvico ..................................................................20 1.1.2 Considerações Anátomo Funcionais da Fáscia Endopélvica e suas Complicações....23 CAPÍTULO 2 - INCONTINÊNCIA URINÁRIA DE ESFORÇO.................................26 2.1 Classificação da Incontinência Urinária de Esforço .................................................27 2.1.1 Avaliação Pré-operatória do Prolapso de Cúpula Vaginal..........................................30 2.1.2 Classificação dos Defeitos do Assoalho Pélvico.........................................................34 2.2 Correção Cirúrgica do Prolapso de Cúpula Vaginal................................................39 2.2.1 Tratamento Cirúrgico ..................................................................................................43 2.2.2 Justificativa Para a Realização Laparoscópica............................................................44 CAPÍTULO 3 - ABORDAGEM FISIOTERAPÊUTICA DA I. U. E............................50 3.1 Cinesioterapia ...............................................................................................................51 3.1.1 Exercícios Para a Musculatura do Assoalho Pélvico ..................................................55 3.1.2 Eletroestimulação ........................................................................................................60 3.2 Recursos Reparadores e Avaliadores de Força do Assoalho Pélvico ......................63 CONCLUSÃO ....................................................................................................................69 REFERÊNCIAS .................................................................................................................70 10 INTRODUÇÃO Para a International Continence Society, a incontinência urinária é a perda involuntária de urina, demonstrável objetivamente e que constitui um problema higiênico e social. Tem causa multifatorial, sendo elemento gerador de exclusão social, interferindo na saúde física e mental da paciente e comprometendo sua qualidade de vida. A incontinência urinária de esforço (IUE) é o tipo mais freqüente de perda involuntária de urina na mulher. Fatores de risco citados para o desenvolvimento da IUE incluem idade avançada, obesidade, partos vaginais, deficiência estrogênica, condições associadas a aumento de pressão intra-abdominal, tabagismo, doenças do colágeno, neuropatias e histerectomia prévia (GUARISIA, 2001). Há uma prevalência de incontinência urinária de 15% a 30% nas mulheres com idade acima de 60 anos. Porém, a incidência de IUE pode estar sendo subestimada, devido à relutância das pacientes em procurar assistência médica, ou por se sentirem constrangidas, ou por acharem que esse problema não é suficientemente grave para necessitar de avaliação médica. Na tentativa de solucionar este problema, diversas técnicas de tratamento têm sido estudadas. O tratamento padrão para a IUE feminina tem sido a cirurgia (MARTINS, 2000). No entanto, desde 1999 a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a assistência fisioterapêutica em pacientes com incontinência urinária de esforço de leve a moderada como primeiro tratamento, sendo que após aproximadamente três meses, é que se deve avaliar a necessidade das alternativas cirúrgicas ou farmacológicas (O COFFITO, 2002). Um tratamento eficaz para a incontinência urinária requer a abordagem da mulher como um todo, levando-se em consideração não apenas a patologia, mas também os aspectos sociais e emocionais envolvidos, assim como ter um conhecimento sólido da anatomia e fisiologia feminina. (POLDEN, 2002) Justifica-se a presente pesquisa pelo grande número de mulheres que são acometidas pela incontinência urinária de esforço, muitas das quais não sabem que este problema pode ser tratado através de técnicas simples, e que por isso muitas vezes não procuram ajuda especializada. O reforço muscular e a reeducação perineal adquiridos através dos exercícios cinesioterapêuticos, constituem uma forma interessante de tratamento para estas pacientes, visto que podem evitar (ou ao menos adiar) a necessidade de uma cirurgia ou do uso de fármacos pelo resto da vida para voltar a ter uma continência normal. 11 CAPÍTULO 1 - INCONTINÊNCIA URINÁRIA A incontinência urinária pode ser definida de forma simples como o comprometimento nos mecanismos de armazenamento e de esvaziamento de urina. Tal comprometimento tem se mostrado freqüente no sexo feminino, no entanto, não deve ser considerado como um processo natural do envelhecimento. A Sociedade Internacional de Continência definia a incontinência urinária como “a perda involuntária de urina, que determina um desconforto social ou higiênico, podendo ser demonstrável de modo objetivo”. No entanto, recentemente, a Sociedade Internacional de Continência retirou o fragmento da definição que se refere a um problema social, por considerá-lo inadequado para definir o sintoma e decidiu definir a qualidade de vida como um assunto independente da incontinência urinária. Desse modo, segundo a nova definição, a incontinência urinária é caracterizada por qualquer perda involuntária de urina (VIANA, 2001). O extravasamento indesejável de urina é classificado como uma das queixas médicas mais antigas. Atualmente a estatística demonstra a continuidade desse sintoma, afetando cerca de milhões de homens e mulheres nos Estados Unidos. A prevalência nas mulheres é duas vezes maior que nos homens, afetando todos os grupos etários com uma porcentagem de 15 a 30%. Mesmo apresentando alta incidência, ainda há um grande número de mulheres que não buscam auxílio médico. Muitas mulheres não consideram a perda urinária como um problema, o que pode ser confirmado em pesquisa realizada nos Países Baixos e Estados Unidos, quando as mulheres utilizam-se de recursos como protetores, no entanto, não buscam tratamento (BEZERRA, 2008). A incontinência urinária não é um diagnóstico, mas sim um sintoma. Os idosos formam o grupo com maior probabilidade para sofrer de incontinência urinária, todavia esta condição não está diretamente ligada ao envelhecimento. O impacto causado pelo envelhecimento está relacionado à diminuição da complacência uretral ou ausência de contratilidade do detrusor. Além disso, a idade tende a diminuir o suporte do colo vesical, o comprimento da uretra e a competência do assoalho pélvico que oferece suporte suplementar à uretra. Desse modo, há coexistência de fatores exteriores ao trato urinário, que afetam a continência e que são mais freqüentes nos idosos (GUCCIONE, 2002). A etiologia da incontinência urinária feminina é, com constância, multifatorial e além da idade, acima mencionada, podemos citar outro fator mais comum, o parto 12 vaginal. A literatura demonstra que o parto vaginal provoca trauma neuromuscular e/ou deslocamento da fáscia pubocervical. Ao mesmo tempo, o parto vaginal pode provocar o estiramento e compressão dos nervos da junção uretrovesical e dos músculos elevadores do ânus, estiramento e cisalhamento sobre os ligamentos da fáscia endopélvica entre a vagina, bexiga, as sustentações uretrais e as fáscias da linha alba. Durante a gestação, o peso do bebê associado à placenta promove uma sobrecarga durante vários meses sobre o assoalho pélvico materno. Ainda na gestação, o aumento da pressão intra-abdominal se transmite à bexiga, e pelo novo posicionamento da porção proximal da uretra, ocorre a dificuldade na transmissão da pressão intra-abdominal à uretra, pelo aumento do volume uterino, provocando incontinência urinária (SOUZA, 2002). A deficiência do estrogênio também pode ser um fator predisponente da incontinência urinária, uma vez que o trato urinário inferior é rico em receptores de estrogênio. A ação do estrogênio provoca o aumento do fluxo sanguíneo, e como conseqüência, promove uma melhor coaptação da mucosa uretral, aumentando sua pressão e promovendo a continência. A diminuição do estrogênio na menopausa pode atuar contribuindo para a incontinência urinária neste período. Outros fatores podem ser citados como contribuintes para a incontinência urinária. O tabagismo pode ser referido pelos danos causados pela sustentação frente à tosse crônica, pelas contrações induzidas pela nicotina no músculo detrusor e pelas alterações na síntese e qualidade do colágeno. Além do tabagismo, as cirurgias ginecológicas, constipação, levantamento constante de peso, deficiência hormonal, fatores neurológicos, defeitos congênitos ou adquiridos, bem como a obesidade que não provoca diretamente a incontinência, todavia, aumenta a pressão intra-abdominal pelo aumento do volume da parede abdominal (BEZERRA, 2008). O diagnóstico diferencial da incontinência urinária em mulheres abrange várias categorias. Diversos autores citam classificações ou subclasses da incontinência urinária de forma diferenciada. Para a perda na incontinência urinária de urgência existem duas causas principais: a urgência sensorial e a urgência motora. A urgência sensorial se refere à hipersensibilidade dos receptores da parede da bexiga, e às vezes da uretra, causada por alguma patologia. Desse modo, assim que a bexiga enche contrações precoces e não desejadas do detrusor são produzidas. Quando a urgência é motora, ocorrem contrações involuntárias do músculo detrusor durante a fase de enchimento, 13 sendo essas aparentemente espontâneas ou provocadas por atividades como caminhar ou tossir, podendo neste caso a incontinência urinária de urgência ser confundida com a incontinência urinária de esforço (POLDEN, 2002). Circunstancialmente, Souza (2002) faz a seguinte ressalva: “Esta condição deriva de uma lesão parcial da medula espinhal ou do tronco cerebral que interrompe a maioria dos sinais inibitórios, ou por hipersensibilidade a acetilcolina, aumento das fibras sensitivas na submucosa, ativação dos reflexos medulares(...) Portanto, impulsos facilitatórios passando continuamente ao longo da medula, mantêm os centros sacrais tão excitáveis que mesmo uma pequena quantidade de urina provoca um reflexo da micção incontrolável...” A incontinência urinária mista é definida como a combinação da incontinência urinária de esforço e de urgência. A hiperpressão abdominal e a contração não inibida do detrusor, que são as duas forças de expulsão, podem superar as forças de retenção. E a elevada freqüência da incontinência urinária mista é decorrente da fraqueza esfincteriana. A urgência miccional é clinicamente predominante, sendo a mais desconfortável socialmente (VIANA, 2001). A incontinência urinária por hiperfluxo pode ser definida como a distensão excessiva da bexiga, apresentando uma variedade de sinais e sintomas, que inclui o gotejamento freqüente ou constante, bem como sinais de incontinência urinária de esforço e de urgência (SOUZA, 2002). A incontinência urinária por hiperfluxo pode ser causada por obstrução da via de saída ou ser secundária a um músculo destrusor não contrátil ou hipocontrátil. A obstrução de saída pode ser conseqüente a procedimentos cirúrgicos, procedimento uretral ou prolapso pélvico grave. A falta de contração do detrusor pode ser ocasionada pelo uso de certos medicamentos, pela impactação fecal, após cirurgia pélvica radical e doenças neurológicas. A incontinência urinária de esforço, também conhecida como 14 incontinência por estresse, é explicada através do mecanismo de hiperpressão abdominal. O aumento de pressão abdominal referido ocorre através de manobras de esforço, como tossir, levantar peso, dar gargalhadas, espirrar, subir escadas, entre outros (VIANA, 2001). A incontinência urinária de urgência é caracterizada pela perda involuntária de urina, via uretral, que ocorre simultaneamente a um forte desejo de micção, acompanhada de contração do detrusor. Neste tipo de incontinência ocorre a contração involuntária ou instabilidade do detrusor, bem como o relaxamento involuntário do esfíncter. As contrações que ocorrem no detrusor são involuntárias e durante a fase de enchimento vesical. Normalmente tais contrações não deveriam ocorrer ou a mulher deveria ser capaz de extinguir o desejo de micção por alguns minutos. O volume de urina perdido no mecanismo de instabilidade vesical, outra denominação para a incontinência urinária de urgência, está diretamente relacionado com a intensidade da urgência e o volume existente na bexiga (SOUZA, 2002). Segundo Guccione (2002), a incidência e a prevalência da incontinência urinaria são extremamente variáveis, dependendo da faixa etária e da população estudada. Considera-se que a IU é um sintoma cuja prevalência é maior na população idosa, que tende a crescer na maioria dos países, tendo evoluído quanto em desenvolvimento, é lícito supor que este problema tende a se agravar. No Brasil, segundo as projeções estatísticas da Organização Mundial da Saúde, entre 1950 a 2025, a população de idosos no país crescerá 16 vezes contra 5 vezes da população total, o que nos colocará em termos absolutos com a sexta população de idosos do mundo. Vários trabalhos corroboram um aumento da prevalência de IU com a idade; apesar de haver diferente opiniões quanto ao padrão desse aumento. Com o avançar da idade uma série de problemas de origem orgânica começa a surgir. Muitos deles estão implicados como causadores ou facilitadores da IU, ficando por vezes difícil estabelecer uma relação causa/efeito, em que pese o fato de que a IU é considerada hoje uma condição multifatorial. Dentre os diversos aspectos sublinhados pelos autores, vale ressaltar que as mulheres experimentam a IU com uma freqüência duas vezes mais que os homens, com 15 a 30% das mulheres afetadas em todos os grupos etários e étnicos, visto que há razões para a caracterização destas como uma “população especial” frente aos sintomas da Incontinência Urinária. Sendo observados os seguintes dados relacionados ao perfil das mulheres que sofrem de incontinência urinária: 15 Raça: Wilbur et al, avaliando características sociodemográficas, fatores biológicos e sintomas em mulheres com idade entre 35 e 69 anos, observaram nas de raça branca um aumento significativo de queixas de perda urinária em relação às negras. Paridade: Milson e cols avaliaram 2.168 mulheres entre 36 e 46 anos de idade e perceberam uma prevalência de 7,7% e 5,5 % de perda urinaria entre nulíparas de 36 e 46 anos. Quando observarão as mulheres com três ou mais partas (normais), essas taxas elevaram com o terceiro parto. Van Geelen et al19 verificaram, pelo questionário enviado a 2.157 mulheres com idade entre 50 e 74 anos, que as mulheres histerectomizadas relatavam queixas urogenitais moderadas e severas mais freqüentemente do que as não histerectomizadas. Comparando-se esse estudo resultado aos dados encontrados por Milson15 com relação à paridade (11%), é possível inferir que a gravidez a termo, por si só, predispõe a IUE. A prevalência em mulheres histerectomizadas (20,8%), comparativamente às não histerectomizadas (16,4%). Índice de Massa Corpórea: Existe uma correlação positiva entre o índice de massa corporal (IMC) e a prevalência de incontinência urinária. Onde o índice de massa corporal foi significativamente maior no grupo de mulheres incontinentes comparados com as mulheres continentes. A obesidade pode ser um possível fator de risco para a perda urinária, influindo negativamente sobre o controle da micção, uma vez que eleva a pressão exercida sobre o conteúdo vesical, potencializando ainda mais a ineficiência dos mecanismos de compensação do assoalho pélvico (Guccione, 2002). Menopausa: Há uma clara relação entre o aumento da prevalência de IU com a idade, não obstante fica difícil estabelecer se a maior prevalência é decorrente da queda de estrógeno na menopausa ou apenas parte do envelhecimento. O referido autor analisou a influência da menopausa em mulheres de 46 e 56 anos que não faziam reposição hormonal. Quando comparadas no geral, apresentavam a mesma prevalência de IU (12,1 %). Entre 1.142 mulheres com 56 anos, apenas 54 eram prémenopáusicas, comparadas com 1.257 de 1.416 mulheres com 46 anos de idade (SOUZA, 2002). 16 Constipação: Os padrões intestinais também podem ser úteis no exame da IU, principalmente para identificar qualquer constipação crônica que possa levar à desenervação muscular devido ao estiramento excessivo do nervo pudendo, resultando em desmielinização. A constipação intestinal crônica tem sido associada à Incontinência Urinária, e a regularização de hábito intestinal teria um provável efeito benéfico sobre a continência urinária (Guccione, 2002). O processo de envelhecimento faz com que as pessoas fiquem mais vulneráveis às doenças. E estes fatores somados acabam por trazer uma diminuição da qualidade de vida do idoso. Uma das alterações referidas nessa idade é a incontinência urinária. Segundo a International Continence Society (Sociedade Internacional de Continência), a incontinência urinária é a perda involuntária de urina. Essa condição, embora não represente risco à vida, gera grandes repercussões psicossociais nas pessoas portadoras, trazendo modificações negativas nos seus hábitos de vida, e podendo provocar até um isolamento social. A IU relaciona-se a comprometimento físico e psicossocial. Há evidências de que os incontinentes experimentam sentimentos de solidão, tristeza e depressão mais expressivos que os continentes e que a influência da IU na qualidade de vida varia de acordo com o tipo de incontinência e com a percepção individual do problema. Muitas mulheres na pós-menopausa acreditam que a incontinência urinária é inerente à idade, não sendo passível de tratamento. Outras se sentem constrangidas pela afecção e omitem seus sintomas dos familiares e dos médicos. Ainda assim, existem aquelas que procuram atendimento médico, porém, esbarram no custo ou na desinformação a respeito dos recursos diagnósticos e, não é raro receberem apenas tratamentos paliativos. As pacientes mais idosas podem sofrer graves seqüelas que advêm da perda de urina constante, tais como escaras e celulites, sendo esta causa freqüente de internação em casas de repouso (CARVALHO, 2000). A população idosa tem aumentado cada vez mais, principalmente pelo fato do declínio das taxas de natalidade e mortalidade (transição demográfica). Outro aspecto importante é a mudança nas taxas de morbidade e mortalidade, isto é, as doenças infecto-contagiosas estão dando lugar às doenças crônicas (transição epidemiológica). Portanto torna-se cada vez mais importante pensar em prevenir problemas da musculatura do assoalho pélvico, abandonando o hábito de prestar atenção nas disfunções quando os sintomas aparecem. Sabe-se que o número de pessoas com IUE vem acompanhando o aumento da longevidade da população, além disso, é freqüente ocorrer lesão dos músculos pélvicos durante um parto; redução dos níveis hormonais da 17 menopausa, dentre outros citados. Esses músculos, ao contrário de outros em nosso organismo, não movimentam um membro ou uma articulação, por esta razão sua atuação não é percebida e não se faz nenhuma ação no sentido de preservar a suas funções (XHARDEZ, 2001). A prevenção visa à realização de exercícios que aumenta a força do esfíncter externo da bexiga fortalecer a musculatura pélvica, mais especificadamente o músculo elevador do ânus; evitar contraturas; manter a tonicidade muscular; melhorar a capacidade de recrutamento da musculatura, melhorar a transmissão de pressões na uretra e também a coordenação reflexa durante o esforço; reforçando assim o mecanismo de continência e a coordenação reflexa durante o esforço (XHARDEZ, 2001). A reeducação pélvica perineal, a contração do intróito vaginal contra a resistência, exercícios descontraturantes; exercícios de Kegel e outros são algumas técnicas Fisioterapêuticas que podem ser utilizadas de forma preventiva. O fortalecimento desses músculos é muito importante não só na gestão da incontinência urinária, mas sim durante toda a vida; pois os mesmos agem como uma rede para apoiar o útero, a bexiga, intestinos e outros órgãos do arcabouço pélvico (VIANA, 2001). Diversos estudos científicos indicam uma correlação positiva da Fisioterapia na abordagem de pacientes com IUE, demonstrando que esta é perfeitamente passível de tratamento conservador, sendo a primeira opção de escolha por 2/3 das mulheres com IUE se informadas sobre as alternativas não cirúrgicas e cirúrgicas. Essa modalidade terapêutica vem sendo utilizada como uma nova opção no tratamento da IU, seja no préoperatório de modo adjuvante, naqueles casos de falhas do tratamento cirúrgico ou como tratamento isolado na expectativa de uma melhor qualidade de vida. O fisioterapeuta não está apenas qualificado para cuidar do cliente individual, ele também pode ser ativo na educação dos membros da comunidade sobre os mecanismos de continência e incontinência, e os possíveis fatores que possam interferir neste mecanismo, visto que a tendência contemporânea é a abordagem integral do paciente. Assim, o interesse em elaborar estratégias para resolver o problema, vem sendo renovado e buscando técnicas de baixo custo e menor risco para os pacientes (POLDEN, 2002). 18 1.1 - A Incontinência Urinária e o Envelhecimento O envelhecimento da população brasileira é um fenômeno relativamente novo em nosso país. Como ele é um evento multifatorial acarreta profundas transformações na vida das pessoas, especialmente na saúde, nas relações interpessoais, sociais, econômicas, entre outras. Tudo isso vem alterar a qualidade de vida das pessoas em processo de envelhecimento, especialmente, no que tange a independência e autonomia (GLASHAN, 2002). No Brasil, esse fenômeno de envelhecimento populacional vimos ocorrer especialmente a partir da década de 50 do século passado. Segundo as projeções estatísticas da Organização Mundial de Saúde (OMS), realizadas em 1991, entre 1950 e 2025 a população de idosos no Brasil crescerá 16 vezes, colocando o país, em termos absolutos, como a sexta população de idosos no mundo. Se essas projeções se confirmarem, o Brasil contará com mais de 32 milhões de pessoas com 60 anos ou mais.Assim, a proporção de idosos, em relação ao total da população do país, passará de 7,3%, em 1991 (11 milhões), para cerca de 15%, em 2025. Paralelamente ao aumento da longevidade na população brasileira, verificamos uma crescente preocupação, por parte do governo, em criar políticas que atendam as demandas desse segmento da população. Dados apresentados na Política Nacional de Saúde do Idoso, Portaria nº 1.395/99, afirmam que, em menos de 40 anos, o Brasil passou de um perfil de morbimortalidade típico de uma população jovem, para um caracterizado por enfermidades crônicas, próprias das faixas etárias mais avançadas, com custos diretos e indiretos mais elevados. Segundo informações contidas na Política Nacional de Saúde do Idoso (1999), essa mudança de perfil epidemiológico pode vir a gerar aumento de despesas médico-hospitalares, tornando-se desta forma, um grande desafio para as autoridades sanitárias no sentido da criação de estratégias para enfrentamento do problema (O COFFITO, 2002). Por outro lado, para o idoso, a sua saúde acaba sendo melhor estimada, conforme seu nível de independência e autonomia. Segundo essa perspectiva, verificase uma crescente necessidade de atenção especial à saúde do idoso, de tal forma que promova uma assistência integral e lhe possibilite manter ou reabilitar sua independência e autonomia, tanto quanto possível. No entanto, vale lembrar que o envelhecimento humano vem acompanhado de um desgaste físico funcional do corpo e 19 da mente, bem como de uma diminuição das respostas fisiológicas às ações do meio. Muitas alterações ficam bem evidentes: perda de peso, diminuição da estatura, mobilidade reduzida, pensamentos mais lentos e aprendizagem mais demorada. Essas alterações físicas e psicológicas geralmente acabam afetando a independência do idoso, e contribuindo, assim, para uma qualidade de vida menor. Daí o motivo pelo qual o envelhecimento é visto, muitas vezes, como doença, embora certas alterações apresentadas pelo idoso sejam inerentes ao processo fisiológico do envelhecimento (GÉO, 2002). Os problemas de saúde considerados “típicos da terceira idade”, e que apresentam uma alta taxa de prevalência, foram denominados por Bernard Isaacs como os gigantes da geriatria: imobilidade, instabilidade, insuficiência cerebral, iatrogenia e incontinência”. Dentre as alterações citadas, comuns às pessoas idosas, dar-se-á foco, no projeto de pesquisa que será apresentado a seguir, à incontinência urinária, que, além de possuir múltiplas etiologias grande complexidade terapêutica, gera um enorme impacto sobre a qualidade de vida dessas pessoas. Sua abordagem, por esses motivos, também é considerada um desafio para a fisioterapia (GLASHAN, 2002). A incontinência urinária traz ao indivíduo importantes repercussões físicas e sociais, na forma como se manifesta, e segundo conceito da International Continence Society, trata-se de uma perda involuntária de urina, que é um problema social ou higiênico. Contudo, nem todos que possuem incontinência procuram ajuda profissional. Estima-se que uma a cada três pessoas que sofrem de incontinência sintam-se constrangidas em falar sobre o assunto com familiares, amigos ou com um profissional de saúde, fazendo com que essas pessoas convivam com o problema por muitos anos, sem procurar ajuda, e o considerem “normal”. Sabe-se, no entanto, que tais distúrbios acabam por afetar diversos aspectos da vida, não só o físico, como também o social, psicológico, ocupacional, doméstico e sexual (GÉO, 2002). O trauma psicológico pode ser difícil de ser detectado pelas pessoas próximas e mesmo pelo indivíduo que se acostuma a conviver com o problema. É comum surgirem sensações de humilhação, ansiedade, solidão e culpa. Esses sentimentos podem ser reforçados pela reação dos amigos, médicos e enfermeiros, diante do problema. Muitos idosos acabam mudando sua rotina de vida diária e isolando-se. Deixam de freqüentar festas, casas de amigos e familiares; muitas vezes impedem visitas a sua própria casa, com receio de que as pessoas percebam o odor de urina. Outro aspecto importante, é que os idosos com doenças crônicas podem considerar a IU como um problema menor 20 diante de sua saúde fragilizada, e muitos o encaram como decorrente do processo natural de envelhecimento, inclusive os profissionais da área da saúde pouco informados (GLASHAN, 2002). A incontinência urinária leva, muitas vezes, à institucionalização do idoso, e calcula-se que esse distúrbio contribua para a internação de até 50 a 60% dos pacientes que moram em casas de repouso, já que torna muito difícil para as famílias continuarem cuidando do paciente em casa. Vários relatos indicam, considerando somente a população com mais de 60 anos de idade, que 20 a 30% dela é constituída por portadores de incontinência urinária que moram em casa. Não há estabelecidas a real incidência e prevalência de IU no Brasil, todavia estima-se que nossos dados sejam semelhantes aos dos EUA, em termos percentuais. Assim, acredita-se que a prevalência de IU em idosos seja de 15 a 30% na comunidade e 50% em instituições asilares. Nos EUA, esses dados representam 12 milhões de pessoas, com gastos na ordem de 10 bilhões de dólares por ano (GLASHAN, 2002). Embora a incontinência urinária não seja uma conseqüência normal do envelhecimento, alterações do trato urinário relacionadas à idade predispõem a pessoa idosa à incontinência. Os rins são os principais responsáveis pela regulação do volume de líquido e dos sólidos solúveis do corpo. É sabido que, com a idade, ocorrem mudanças na composição do corpo, diminuindo o conteúdo de água enquanto aumenta a concentração de gordura. Os rins diminuem de tamanho e perdem a capacidade de concentrar a urina, especialmente à noite. A bexiga apresenta menor capacidade e perda do tônus muscular. Ela pode não mais se esvaziar completamente durante o ato de urinar. Com a idade, a capacidade vesical diminuindo, aumentam as contrações involuntárias e, em especial para as mulheres, a redução fisiológica do estrogênio contribui significativamente para a diminuição do tônus muscular. Essas alterações fisiológicas acarretam alguns distúrbios urinários, incluindo a incontinência e a infecção, sendo essas patologias responsáveis por gerarem muitos transtornos na qualidade de vida do idoso (GÉO, 2002). 1.1.1 - Anatomia Funcional do Assoalho Pélvico O assoalho pélvico é um conjunto de partes moles que fecham a pelve, sendo formado por músculos, ligamentos e fáscias. Suas funções são de sustentar e suspender 21 os órgãos pélvicos e abdominais, mantendo as continências urinária e fecal. Os músculos do assoalho pélvico também participam da função sexual e distendem-se em sua porção máxima na passagem do produto conceptual. Atualmente, entende-se como assoalho pélvico todo o conjunto de estruturas que dá suporte às vísceras abdominais e pélvicas. O assoalho pélvico consiste dos músculos coccígeos e elevadores do ânus, que conjuntamente são chamados de diafragma pélvico, que é atravessado à frente pela vagina e uretra e ao centro pelo canal anal. A musculatura estriada do assoalho pélvico, juntamente com a fáscia endopélvica, exerce papel fundamental no suporte dos órgãos pélvicos e na manutenção da continência urinária (OLIVEIRA & LOPES, 2008). O músculo levantador do ânus se divide em pubococcígeo, ileococcígeo e puborretal, os músculos bulbocavernoso, transverso superficial do períneo e o isquiocavernoso compõem o diafragma urogenital, e também a fáscia endopélvica que é composta pelos ligamentos pubo-vesical, redondo do útero, úterossacro e ligamento cervical transverso e são importantes para manter a estruturas pélvicas em suas posições. Os músculos do assoalho pélvico são constituídos de 70% de fibras do tipo I (fibras de contração lenta) e 30% de fibras do tipo II (fibras de contração rápida). Assim as fibras do tipo I são responsáveis pela ação antigravitacional dos músculos do assoalho pélvico, mantendo o tônus constante e também na manutenção da continência no repouso. E as do tipo II são recrutadas durante aumento súbito da pressão abdominal contribuindo assim para o aumento da pressão de fechamento uretral (POLDEN, 2002). Segue abaixo a figura 01, onde se observa a musculatura do assoalho pélvico. FIGURA 01 – Períneo e Diafragma Urogenital: Sexo Feminino Fonte - NETTER, F. H. Atlas Interativo de Anatomia Humana, Artmed, 1999. 22 A bexiga urinária está localizada posteriormente à sínfise púbica e anteriormente ao reto, e nas mulheres está em contato com o útero e a vagina. A bexiga é um órgão pélvico muscular côncavo que possui quatro camadas: mucosa, submucosa, muscular e serosa (adventícia). A mucosa é composta de epitélio, que diminui em espessura quando a bexiga enche-se e as células são distendidas. A camada submucosa serve para dar suporte à mucosa. A parte muscular é constituída por um músculo liso denominado detrusor, e a camada serosa (externa) é constituída de gordura e tecido conjuntivo, e aparece apenas na face superior da bexiga. A uretra feminina apresenta em média quatro centímetros de comprimento e também é composta por fibras musculares lisas (esfíncter interno) e estriadas (esfíncter externo). As fibras lisas têm pouca variedade de contração espasmódica, possibilitando que se mantenha uma pressão de fechamento e, assim, a continência urinária por período prolongado sem fadiga, e as fibras estriadas está sob o controle voluntário do sistema nervoso e pode ser usado para impedir conscientemente a micção, mesmo quando controles involuntários estão tentando esvaziar a bexiga (OLIVEIRA & LOPES, 2008). A submucosa constituída de tecido conjuntivo frouxo misturado com feixes de fibras musculares lisas é um elaborado plexo vascular, cria um efeito vital para o mecanismo de continência. Sob o ponto de vista funcional, a integridade da camada de músculo liso circundante mantém esse mecanismo, direcionando as pressões submucosas de expansão para dentro, em direção à mucosa. A integridade do músculo liso e do tecido esponjoso vascular da uretra fornece uma importante contribuição para o mecanismo de fechamento, possuindo, portanto, grande importância para a continência urinária passiva normal. As fibras de músculo estriado, extrínsecas à uretra no nível do diafragma urogenital, fornecem atividade esfincteriana reflexa e voluntária, contribuindo principalmente para a continência ativa (SIMÃO, 2001). Quando os músculos são mais requisitados do que o normal, eles são forçados a um trabalho extra para superar uma resistência ou carga. Este trabalho conduz a um aumento de força, pois o músculo se contrai e a síntese de proteínas musculares é estimulada. Após um período de descanso e recuperação, novas proteínas são construídas tornando as fibras musculares maiores em diâmetro e força (JUNQUEIRA, 2004). 23 Segue abaixo a figura 02 contendo a orientação e sustentação da bexiga. FIGURA 02 – Bexiga Urinária: Orientação e Sustentação. Fonte - NETTER, F. H. Atlas Interativo de Anatomia Humana, Artmed, 1999. 1.1.2 - Considerações Anátomofuncionais da Fáscia Endopélvica e suas Complicações A vagina pode ser considerada um tubo de tecido conjuntivo e fibromuscular coberta internamente por mucosa vaginal, e externamente pela fáscia endopélvica. O mecanismo de sustentação da vagina provém de dois diferentes sistemas: a musculatura estriada do assoalho pélvico que dá o suporte ativo (músculo elevador do ânus) e a fáscia endopélvica que fornece o suporte passivo. A musculatura em situações de sobrecarga, como partos, aumento excessivo de peso etc, pode ser alongada, e a mucosa vaginal acompanha, mas a fáscia não possui elasticidade, portanto rompe-se ou 24 desprende-se de onde estava inserida, temos então a formação de verdadeiras hérnias, que nada mais são que os diferentes defeitos do assoalho pélvico (GOLDBERG, 2001). Existem três níveis de sustentação da vagina, segundo Goldberg, 2001: Nível I – responsável pela sustentação da parte superior da vagina, constituído pelo complexo cardinal útero sacro inserido a ela em sentido vertical. Nível II - fixação da parte média da vagina provém da fixação lateral da fáscia pubocervical ao arco tendíneo da fáscia pélvica anteriormente e posteriormente pela fixação do septo reto vaginal à fáscia do músculo ileococcígeo. Nivel III - A porção inferior é sustentada pela fusão da fáscia pubocervical ao diafragma urogenital e o septo reto vaginal mistura-se ao corpo perineal,além disso lateralmente a vagina está fixada à fáscia do pubococcígeo. Sendo assim uma ruptura no nível I resultaria num prolapso de cúpula vaginal ou prolapso uterino e uma enterocele, segundo Goldberg, 2001: Uma lesão no nível II: • Se anterior uretro-cistocele • Se posterior retocele No nível III: • uretrocele ou deficência do corpo perineal. Para entender como estas estruturas se dispõem espacialmente é necessário estudar o conceito dos eixos vaginais e conexões. I ) Eixo Vertical Superior : Seu trajeto passa quase que verticalmente da junção sacro ilíaca até a espinha isquiática, seguindo alinhamento com os vasos ilíacos internos. A sustentação se faz pelo complexo ligamentar cardinal útero sacro que traciona o ápice da vagina, a cérvice e o segmento inferior do útero posteriormente, em direção ao sacro posicionando as visceras sobre a placa dos elevadores. II) Eixo Horizontal Médio: Resultado do espessamento da fáscia endopélvica a fáscia paravaginal a qual dá sustentação horizontal à bexiga e 2/3 superiores de vagina e reto. Na realidade se 25 continua com o complexo cardinal-úterossacro. Ao contrário das longas fibras deste último as fibras paravaginais são curtas e firmes conectando a fáscia endopélvica que circunda bexiga, vagina e reto ao arco tendíneo da fáscia pélvica (GOLDBERG, 2001). A fáscia endopélvica superiormente (entre bexiga e vagina) é chamada fáscia pubocervical e inferiormente (entre vagina e reto) septo reto vaginal. Sua inserção superior ao redor da porção supra vaginal da cérvice forma o anel pericervical. A segunda plataforma horizontal é constituida pelo septo reto vaginal ou fáscia de Denonvilliers. O septo reto vaginal se funde inferiormente ao corpo perineal suspendendo-o em direção ao sacro e superiormente ao anel pericervical e ligamentos útero sacros sua integridade impede a formação da retocele (GOLDBERG, 2001). III) Eixo Vertical Inferior: Eixo responsável pela orientação quase vertical da uretra, 1/3 inferior de vagina e canal anal. Atravessa perpendicularmente o hiato dos elevadores e períneo, incluindo ambos os triângulos urogenital e anal. O corpo perineal se encontra em posição central entre os triângulos urogenital e anal e serve de ponto de fusão para a fáscia de cobertura e os músculos de compartimento superficial e profundo do triangulo urogenital o qual contém estruturas de apoio para a uretra e vagina distais (GOLDBERG, 2001). O septo reto vaginal funde-se ao corpo perineal , a integridade deste ajuda a manter a competência dos hiatos vaginais. Quando a mulher está em pé os dois terços superiores da vagina são mantidos pelos sistemas de sustentação próximo da posição horizontal repousando sobre o músculo elevador do ânus (GOLDBERG, 2001). 26 CAPÍTULO 2 – INCONTINÊNCIA URINÁRIA DE ESFORÇO A incontinência urinária de esforço é a perda involuntária da urina resultante de qualquer atividade que leve a um aumento da pressão intra-abdominal excedendo a pressão de fechamento uretral. O termo incontinência de “esforço” foi cunhado inicialmente por Sir Eardley, o qual definiu essa condição como “perda de urina através da uretra intacta, sob certas condições que causam aumento da pressão intraabdominal” (FREITAS, 2006). A incontinência urinária de esforço é uma situação bastante comum, entre mulheres, particularmente durante e após as gestações. Ao contrário do que popularmente se acredita, a incontinência urinária não é incomum entre a população feminina com menos de 40 anos. Atualmente, esse termo é empregado para descrever tanto um sintoma quanto um diagnóstico. Como sintoma, se refere meramente à perda da urina associada a qualquer atividade que aumente a pressão intra-abdominal, tais como tosse, espirro ou realização de esforços (SILVEIRA, 2002). Atualmente, esse termo é empregado para descrever tanto um sintoma quanto um diagnóstico. Como sintoma, se refere meramente à perda da urina associada a qualquer atividade que aumente a pressão intra-abdominal, tais como tosse, espirro ou realização de esforços. Quando se refere a um diagnóstico, pode significar qualquer tipo de disfunção miccional, incluindo a incontinência urinária de esforço verdadeira, a instabilidade do detrusor, a incontinência por transbordamento, a hipotonicidade do detrusor e a instabilidade uretral. O termo incontinência urinária de esforço verdadeira é utilizado nos casos em que existe dificuldade de enchimento da bexiga, cuja etiologia é unicamente uretral, ou seja, o enchimento da bexiga é impedido pela falha no mecanismo de fechamento uretral (MARTINS, 2000). Quando se refere a um diagnóstico, pode significar qualquer tipo de disfunção miccional, incluindo a incontinência urinária de esforço verdadeira, a instabilidade do detrusor, a incontinência por transbordamento, a hipotonicidade do detrusor e a instabilidade uretral. O termo incontinência urinária de esforço verdadeira é utilizado nos casos em que existe dificuldade de enchimento da bexiga, cuja etiologia é unicamente uretral, ou seja, o enchimento da bexiga é impedido pela falha no mecanismo de fechamento uretral (RIBEIRO E ROSSI, 2000). 27 A incontinência urinária de esforço é a causa mais freqüente de incontinência urinária, com incidência variando de 14 a 52%. Estima-se que cerca de 40% da população feminina apresenta algum tipo de incontinência urinária. Dentre estas, cerca de 50% tem incontinência urinária de esforço. A prevalência de incontinência urinária de esforço aumenta com a idade e paridade de forma independente, e diversos fatores podem contribuir para agravar o quadro, além de destacarem que as condições que produzem aumento crônico na pressão intra-abdominal predispõem a todas as formas de distúrbio do assoalho pélvico, sobrecarregando os tecidos já danificados. Os fatores de risco incluem constipação, tosse crônica do fumante ou doença pulmonar, obesidade e ocupações que exigem levantamento crônico de peso (RIBEIRO E ROSSI, 2000). 2.1 - Classificação da Incontinência Urinária de Esforço A incontinência urinária de esforço, historicamente, era classificada em duas categorias: congênita e adquirida. A grande maioria das pacientes se encaixava na última categoria, dentro de subgrupos tais como pós-parto, pós-menopausa e pósoperatória. As causas congênitas da incontinência urinária de esforço são constituídas pelas raras deformidades uretrais. Mais recentemente, na tentativa de se criar uma classificação mais quantitativa e passível de reprodução, incorporaram-se os achados urodinâmicos a esses esquemas, como visto nas classificações de McGuire e de Blaivas e Olsson conforme abaixo na tabela 1. Tabela 1 – Classificação da Incontinência Urinária de Esforço. Blaivas e Olsson Tipo McGuire Ausência de IUE verdadeira. Tipo 0 TIPO I TIPO II TIPO III Colo vesical e uretra abertos sem evidências objetivas de IUE. IUE com mínima hipermobilidade da IUE objetiva demonstrada, colovesical e uretra uretra, pressão de fechamento uretral >20 abertos, que sofrem um prolapso de menos de 2 cmH2O na posição supina em repouso, com cm durante o esforço, cistocele mínima ou ausente. ou sem a coexistência de cistocele. IUE com marcante hipermobilidade uretral, com prolapso e rotação, resultando em posicionamento horizontal da uretra durante o esforço, pressão de fechamento uretral >20 cmH2O na posição supina em repouso. a) IUE objetiva demonstrada, colo vesical e uretra abertos, que sofrem um prolapso de mais de 2 cm durante o esforço, com cistocele. b) IUE objetiva demonstrada, colo vesical e uretra abaixo da sínfise em repouso, que podem ou não sofrer maior com o esforço. Incapacidade prévia de suspensão do colo IUE objetiva demonstrada, colo vesical e uretra vesical, ou pressão de fechamento uretral aberta, em repouso e sem esforço. <20 cmH2O na posição supina em repouso. Fonte: WEI, J.; RAZ, S.; YOUNG, G. P. H. Fisiopatologia da Incontinência Urinária de Esforço. In: RUBINSTEIN, I. Urologia Feminina. São Paulo: BYK, 1999. 28 Raz et al. (apud WEI et al., 1999) propuseram uma classificação mais clinicamente relevante para a incontinência urinária de esforço. Consiste de duas categorias: alterações anatômicas e disfunção esfincteriana intrínseca. No grupo anatômico estão as pacientes que apresentam mau posicionamento de uma unidade esfincteriana intacta, e no grupo da disfunção esfincteriana intrínseca estão as pacientes com disfunção do esfíncter, que pode ou não ser acompanhada de hipermobilidade. Grande parte das pacientes apresenta algum componente de alteração anatômica e de disfunção esfincteriana intrínseca, mas alguns casos possuem predomínio do primeiro mecanismo e outros, do segundo. Toma-se como exemplo uma mulher que sofreu uma lesão pélvica inicial durante o parto. Na época, ela adquiriu essa alteração anatômica devido ao enfraquecimento pélvico, mas pôde não manifestar incontinência urinária de esforço durante várias décadas. Ocorrerá incontinência urinária de esforço quando houver progressão do componente de disfunção esfincteriana intrínseca (GOMES, 2000). Várias manobras de esforço, como a tosse, levantar peso ou subir escada, levam ao aumento da pressão intra-abdominal e, por continuidade anatômica, ao aumento da pressão na bexiga. Nestas situações de estresse, o aumento súbito e momentâneo da pressão do conteúdo vesical tem que ser correspondido por aumento concomitante e proporcional da pressão de fechamento uretral. Quando isso não ocorre, há perda involuntária de urina. Um dos mecanismos pelo qual a uretra procura compensar esse aumento pressórico súbito é com a rápida contração da musculatura estriada de seu esfíncter externo, porém na mulher esse mecanismo não tem tanta eficiência quanto no homem. A mulher se vale de outros mecanismos, dentre eles a transmissão da pressão intra-abdominal também à uretra, transmissão essa facilitada pela localização relativamente intra-abdominal da uretra. Dessa forma equilibram-se as pressões intravesical e de fechamento uretral, não permitindo a saída da urina. Quando esses mecanismos de compensação uretral não funcionam, há desequilíbrio entre as pressões, permitindo haver escape da urina pela uretra e devido ao seu mecanismo esfincteriano uretral, a mulher é mais sujeita a ter esse tipo de disfunção do que o homem (RIBEIRO E ROSSI, 2000). A incontinência urinária de esforço ocorre em duas situações distintas. Na primeira situação, que corresponde à grande maioria dos casos, a uretra conserva a função de esfíncter. Em repouso, a pressão uretral é maior que a pressão vesical, 29 mantendo acontinência. No entanto, durante os esforços ocorre um aumento da pressão intraabdominal que não é transmitido igualmente para a uretra e para a bexiga, de maneira que a pressão vesical torna-se maior que a pressão uretral, ocorrendo perda urinária. A transmissão desigual da pressão intra-abdominal ocorre devido à hipermobilidade do colo vesical e da uretra proximal, que decorre do relaxamento do assoalho pélvico ou defeitos do suporte pélvico. Na segunda condição, ocorre a lesão do mecanismo esfincteriano próprio da uretra. A pressão uretral é constantemente baixa e a perda da urinária ocorre geralmente aos mínimos esforços. Nesta situação, pode não existir hipermobilidade do colo vesical, que em geral se encontra fixo com a uretra fibrosada (SILVEIRA, 2002). De acordo com Ribeiro e Rossi (2000), essa condição caracteriza-se por uma alteração no fechamento uretral, que pode ser diagnosticada por pressão de perda inferior a 60 cmH2O (ou pressão máxima de fechamento uretral inferior a 20 cmH2O). Várias condições podem determinar insuficiência esfincteriana: fibrose por cirurgias para correção de incontinência urinária de esforço, trauma, radiação, lesão congênita (meningomielocele, epispádias) e deficiência estrogênica. A hipermobilidade do colo vesical é a causa de incontinência urinária de esforço em 90% dos casos e o restante decorre da insuficiência esfincteriana associada ou não à hipermobilidade. A fonte mais comum de deficiência do suporte pélvico parece estar relacionada ao trauma na infância e/ou histerectomia. O parto está associado a 2-6% da taxa de incontinência de esforço a longo prazo, e o parto vaginal está relacionado a uma incidência significativamente maior de incontinência urinária de esforço em comparação ao parto cesáreo Do mesmo modo, as mulheres que apresentam rupturas de períneo e episiotomias possuem chances 3,8 vezes maiores de desenvolver incontinência. A cirurgia ginecológica e a cirurgia pélvica radical podem levar ao prolapso dos órgãos pélvicos ou à denervação da unidade esfincteriana. Alguns autores enfatizaram a importância da denervação da musculatura do assoalho pélvico na gênese do relaxamento pélvico (RIBEIRO e ROSSI, 2000). Tem-se atribuído a IUE à ausência de pulsações vasculares uretrais em um pequeno grupo de pacientes. Essa explicação é adicionalmente comprovada pelo achado de que o uso de estrogênio aumenta o diâmetro do lúmen vascular uretral e suas pulsações e esse pode ser em parte o mecanismo pelo qual esse hormônio pode diminuir a incontinência em algumas pacientes. As mulheres nulíparas podem apresentar 30 sintomas gênito-urinários relacionados ao relaxamento do assoalho pélvico devido à atrofia tecidual pós-menopausa. O fato de a incontinência urinária de esforço e outras manifestações do comprometimento do suporte pélvico ocorrerem com maior freqüência durante ou após a menopausa, ao invés de na época do trauma obstétrico ou ginecológico, implica adicionalmente alterações tróficas advindas de mudanças hormonais na perda do suporte pélvico (SILVEIRA, 2002). O reparo cirúrgico dos problemas uretrais pode por si só resultar em lesão do mecanismo esfincteriano. A uretrotomia interna e a uretroplastia são procedimentos que podem levar à incontinência (MOREIRA, 2001). 2.1.1– Avaliação Pré-operatória do Prolapso de Cúpula Vaginal Urodinâmica A urodinâmica é definida como o estudo dos fatores normais e anormais na armazenagem, transporte e esvaziamento de urina da bexiga e uretra por meio de qualquer método apropriado. A avaliação urodinâmica serve primordialmente para distinguir a incontinência de esforço pura de outras variedades associadas com contrações do detrusor (LINSENMEYER e STONE, 2002). Urofluxometria A urofluxometria mede o volume de urina eliminado por unidade de tempo (fluxo urinário), sendo geralmente expresso em ml/s. O fluxo urinário (F) depende da pressão vesical e da resistência uretral. A pressão vesical pode ser afetada por contração detrusora e/ou elevação da pressão intra-abdominal. Na mulher, a resistência uretral depende basicamente do calibre e da extensão da zona de resistência uretral ao fluxo, o colo vesical e a uretra (GOMES, 2000). A urofluxometria é uma maneira simples e não invasiva de integrar a atividade vesical e uretral na fase de esvaziamento. Na avaliação específica de queixa de incontinência, esse exame, por si só, tem pouco valor, podendo indicar alguma anormalidade miccional coexistente ou causadora da incontinência (GOMES, 2000). 31 As pacientes devem se apresentar para o exame com a bexiga confortavelmente cheia. Os valores de fluxo variam com o volume vesical, de tal forma que, em adultas, volumes de 200 a 400 ml resultam em valores mais confiáveis. Quando o enchimento vesical é inferior a 150 ml, o valor do exame é reduzido (GOMES, 2000). Na tabela 02, encontram-se os parâmetros fluxométricos normais. Tabela 02 – Parâmetros Fluxométricos Normais Fluxo urinário Pressão de micção Urina residual > 15 ml/s < 50 cmH2O < 50 ml Contração voluntária e mantida do detrusor Fonte: RIBEIRO, R. M.; ROSSI, P. Incontinência urinária de esforço. In: HALBE, H. W. Tratado de Ginecologia. 3ª ed. São Paulo: Roca, 2000. De um modo geral, o fluxo urinário é normal e contínuo até a bexiga estar vazia; a velocidade máxima do fluxo deve exceder de 15 ml/s. Mesmo com a verdadeira incontinência urinária de esforço, pode existir alguma variação, e a interpretação deve ser feita considerando-se todos os dados físicos. Por exemplo, a presença de uma cistocele pode interferir com o esvaziamento normal da bexiga, e produzir velocidades diminuídas do fluxo (LINSENMEYER e STONE, 2002). Cistometria A cistometria é a modalidade urodinâmica mais importante em pacientes com incontinência urinária, examinando a fase de enchimento/reservatório vesical. Consiste na medição simultânea da pressão vesical (Pves) e do volume infundido, gerando curvas pressão-volume vesical. A Pves é a pressão total dentro da bexiga, e corresponde à soma da pressão gerada por eventos da parede vesical (Pdet) à pressão advinda de fontes extravesicais (Pabd) (LINSENMEYER e STONE, 2002). A Pdet é influenciada por mecanismos ativos (contração detrusora) e passivos (resultantes da elasticidade da parede vesical), nem sempre facilmente diferenciados, já 32 que alterações da elasticidade vesical podem ocorrer em virtude da contração detrusora (GOMES, 2000). As técnicas da cistometria compreendem desde um exame simples à beira do leito a sofisticados estudos videourodinâmicos com medição simultânea em múltiplos canais. A cistometria feita no leito, após a micção, envolve encher a bexiga com água através de uma sonda de Foley. Esta é geralmente presa por meio de um conector Y a um manômetro, que é usado para avaliar a elevação na pressão da água. Durante o enchimento vesical, a paciente é orientada para não urinar nem tentar inibir a micção (LINSENMEYER e STONE, 2002). Na tabela 03 podem ser observados os valores normais dos parâmetros Cistométricos Tabela 03 – Parâmetros Cistométricos Normais. Primeiro desejo 150 – 250 ml Forte desejo Somente após 250 ml Capacidade cistométrica máxima 400 – 600 ml Complacência 20 – 100 cmH2O Ausência de contrações não inibidas Ausência de perda aos esforços Às manobras Ausência de perda por urgência Provocativa Fonte: RIBEIRO, R. M.; ROSSI, P. Incontinência urinária de esforço. In: HALBE, H. W. Tratado de Ginecologia. 3ª ed. São Paulo: Roca, 2000. De regra, a prova de função do detrusor é normal, e se caracterizará por um ajuste ao volume vesical crescente, enquanto mantém baixa a pressão intravesical, a ausência de contrações involuntárias do detrusor e a capacidade para iniciar voluntariamente a micção pela contração do detrusor; durante a micção a pressão verdadeira do detrusor aumentará para 40-50 cmH2O (LINSENMEYER e STONE, 2002). A sensibilidade da bexiga também deve ser normal, segundo os mesmos autores. A paciente será capaz de perceber alterações da temperatura intravesical, o primeiro desejo de urinar ocorrerá quase sempre com cerca de 150 ml, e uma forte premência para urinar ocorrerá quando a capacidade da bexiga alcançar mais ou menos 450 ml. A 33 verdadeira pressão do detrusor deve permanecer baixa durante o enchimento da bexiga, e qualquer atividade do detrusor que ocorra à medida que a bexiga alcança sua capacidade deve ser voluntariamente suprimida (RIBEIRO e ROSSI, 2000). Residual Pós-micção Um dos testes de análise mais simples para avaliar o esvaziamento da bexiga é o residual pós-micção; contudo, não deve ser usado para caracterizar um tipo específico de disfunção de micção. O teste de urina residual pode ser determinado com cateterização ou ultra-som de bexiga (LINSENMEYER e STONE, 2002). O esvaziamento da bexiga é quase sempre normal, e a urina residual geralmente é pouca ou nula. Por outro lado, mesmo entre as pacientes com verdadeira incontinência de esforço, a presença de uma grande cistocele pode estar associada com um esvaziamento vesical deficiente e uma elevada urina residual (RIBEIRO e ROSSI, 2000). Perfil Uretral O comprimento total da uretra e, sobretudo, o comprimento funcional é caracteristicamente diminuído na verdadeira incontinência de esforço, em geral bem abaixo de 3 cm. A pressão uretral máxima estará diminuída não só na posição de decúbito dorsal como ereta (GOMES, 2000). O exame é realizado por tração mecânica contínua do cateter de pressão da bexiga através da uretra, com velocidade constante de 1 mm/s, mantendo-se uma infusão mínima de líquido pelo cateter, para que a pressão seja transmitida adequadamente. O estudo é repetido durante a manobra de esforço, observando se ocorre um reforço da pressão. A resposta fisiológica do aumento da pressão intraabdominal é o aumento da pressão uretral (RIBEIRO e ROSSI, 2000). Como teste isolado seu valor é pequeno, uma vez que a pressão uretral diminui após a menopausa, não necessariamente levando a incontinência urinária de esforço. O perfil uretral é um exame estático, enquanto que a incontinência urinária de esforço é 34 uma alteração dinâmica, apresentando baixa especificidade no diagnóstico de incontinência urinária de esforço. Quando a pressão uretral máxima é muito baixa (< 20 – 30 cmH2O) pode auxiliar no diagnóstico de insuficiência intrínseca do esfíncter (GOMES, 2000). 2.1.2 - Classificação dos Defeitos do Assoalho Pélvico A história sugere, mas não fornece diagnóstico diferencial dos defeitos existentes. Uma paciente que relate uma protrusão ou o aparecimento de uma “bola” aos esforços ou ao evacuar, incontinência urinária aos esforços ou ainda a necessidade de reduzir com os dedos uma massa posterior para evacuar nos levam ao exame ginecológico cuidadoso avaliando cada compartimento separadamente (MOREIRA, 2001). Existem várias classificações possíveis de serem adotadas para sistematizar o grau de lesão dos defeitos do assoalho pélvico, a maioria das classificações se baseia no grau de prolapso da cúpula vaginal ou do útero. Tais classificações levam em conta o aspecto anatômico e às vezes funcional dos prolapsos. Porém, parece mais importante identificar qual defeito do aparelho de sustentação que causa determinada alteração, do que simplesmente classificar o grau de prolapso (RAMOS, 2000). Para facilitar, os defeitos do assoalho pélvico podem ser classificados, segundo Ramos, 2000, da seguinte forma: • Anterior - ruptura da fáscia pubocervical (uretrocele e cistocele ) – Figura 3 • Posterior - ruptura do septo reto vaginal (retocele) – Figura 4. • Apical - ruptura do complexo ligamentar cardinal útero sacral do anel pericervical. (prolapso uterino ou cúpula vaginal, enterocele) – Figura 5. • Distal - (alargamento do hiato vaginal e destruição do corpo perineal), diminuição da distância vagina-ânus, mudança na orientação da placa dos elevadores, eixo do útero apontando para o hiato, facilitando o descenso – Figura 6. 35 Deve-se sempre lembrar que o exame clínico é completamente diferente na paciente em repouso ou na paciente em posição semi-sentada (ângulo do encosto entre 40 a 60 graus), esta última nos parece a mais adequada para a avaliação (FEBRASGO, 2004). Durante a laparoscopia após a realização do pneumoperitônio o aumento da pressão intra-abdominal promove uma exacerbação dos defeitos observados previamente na avaliação pré-operatória (FEBRASGO, 2004). Figura 03 - Defeito anterior Fonte: www.endoscopiaemginecologia.com.br/consenso Utilizando-se uma válvula de um espéculo para afastar a parede vaginal posterior é possível avaliar melhor o compartimento anterior(CURI, 2004). Existem 3 defeitos no compartimento anterior que podem resultar em cistouretrocele - Defeito Central Ruptura da fáscia pubocervical em sentido longitudinal debaixo da bexiga, ao longo da parede vaginal anterior, resultando na herniação da bexiga através desta falha tecidual. Neste tipo de cistocele a rugosidade habitual da parede vaginal desaparece. Quando este tipo de defeito é suspeitado podemos fazer o teste do cateter, que consiste na introdução de sonda de nelaton vesical e palpação da base vesical e uretra onde temos a sensação que existe apenas mucosa vaginal entre o dedo que examina e o cateter, não se percebendo nenhuma outra estrutura mais consistente. Colocando-se uma pinça de De Lee com as hastes abertas nos sulcos vaginais e empurrando-se a vagina 36 acima, se observarmos ao esforço da paciente a descida da parede anterior existe defeito central (FEBRASGO, 2004). - Defeito Lateral ou Paravaginal É resultado da separação da fáscia pubocervical da parede pélvica (arco tendíneo da fáscia pélvica), é seguramente o tipo de defeito mais comum, na gênese da cistocele. Este defeito pode ser uni ou bilateral. Repetindo-se a manobra da Pinça de DeLee, porém colocando-a agora fechada na região central da parede vaginal anterior (suburetral) e elevando-a se com o esforço a parede volta a descer, temos um defeito paravaginal, uni ou bilateral. Além disso, a palpação e lateralização da uretra durante esforço podem dar uma idéia da existência do defeito paravaginal (CURI, 2004). - Defeito Transverso É a separação da fáscia pubocervical do anel pericervical. O colo vesical normalmente tem um bom suporte neste tipo de defeito, a base da bexiga pode herniar obliterando o fundo vaginal anterior. Este defeito não interfere com a mobilidade do colo vesical, sendo assim este tipo de defeito não está relacionado à incontinência urinária e sim à dificuldade de esvaziamento vesical. A diferenciação entre estes três tipos de defeitos é importante para o planejamento cirúrgico (CURI, 2004). Figua 04 - Defeito posterior Fonte: www.endoscopiaemginecologia.com.br/consenso 37 Procede-se ao exame conforme descrito acima apenas rodando-se a válvula do espéculo para a parede anterior da vagina. Retocele Alta A parede vaginal posterior é sustentada pela fáscia de Denonvillier ou septo reto vaginal o qual se liga acima com a base do complexo cardino útero sacral e peritônio do fundo de saco de Douglas e de cada lado com a fascia do m. levantador do ânus, quando a ruptura ocorre neste nível teremos uma retocele alta , a qual pode se associar à uma enterocele (CURI, 2004). Retocele Baixa É causada pela separação do septo reto vaginal do corpo perineal. Quando intacto o septo reto vaginal sustenta o fundo de saco e a parede vaginal posterior prevenindo a formação de enterocele e retocele (CURI, 2004). Figura 05 - Defeito apical Fonte: www.endoscopiaemginecologia.com.br/consenso Ruptura da inserção do complexo cardinal útero sacral do anel pericervical levando ao prolapso uterino ou de cúpula vaginal, por trás deste pode haver uma enterocele. Frequentemente o prolapso de cúpula vaginal está associado e escondido por uma grande cistocele ou retocele (FEBRASGO, 2004). Enterocele pode, em geral, ser diagnosticada por exame retovaginal e aparece como um saco acima da retocele, quando se realiza a manobra de Valsalva o mesmo é 38 evidenciado. Elevando-se o útero ou a cúpula vaginal e deprimindo-se a parede posterior enquanto a paciente faz força a enterocele salta no fundo de saco posterior. O exame retal permite avaliar a existência de retocele, sentindo-se a frouxidão da parede vaginal posterior e a procidência do reto para dentro da vagina quando se faz força (FEBRASGO, 2004). Figura 06 - Defeito Distal Fonte: www.endoscopiaemginecologia.com.br/consenso - Alargamento do Hiato Vaginal e Cestruição do Corpo Perineal Ocorre nestes casos uma destruição do corpo perineal, com mudança na orientação da placa dos elevadores e eixo do útero apontando para o hiato, aumentando as chances de descenso. Quando a retocele ocorrer por separação do corpo perineal do septo reto vaginal, ocorre uma descida do corpo perineal ao esforço de mais de 3 cm por hipermobilidade. O exame do corpo perineal é importante para se diferenciar uma retocele verdadeira de uma pseudoretrocele, à qual é causada por uma deficiência do corpo perineal (FEBRASGO, 2004). O entendimento que múltiplos defeitos podem ocorrer em mais de um compartimento, leva a resultados melhores no pós-operatório. De modo geral a correção 39 somente de um compartimento pode levar ao agravamento e/ou aparecimento de outras lesões. A correta identificação dos defeitos leva na maioria dos casos à correção múltipla de defeitos de sustentação do assoalho pélvico (CURI, 2004). 2.2 – Tratamento Cirúrgico A cirurgia de reconstrução pélvica tem sido considerada como um dos maiores desafios dentro das patologias benignas. Deve buscar três objetivos interligados, porém distintos: restaurar a anatomia, manter ou restaurar a função urinária e vesical normal e manter a capacidade da vagina para o relacionamento sexual (MOREIRA, 2001). O tratamento cirúrgico da Incontinência urinária de esforço baseia-se na correção da hipermobilidade do colo vesical quando houver alteração anatômica do soalho pélvico, ou no aumento da resistência uretral quando houver lesão esfincteriana intrínseca da uretra. Pode haver também a associação de ambos, exigindo o uso de técnicas para a correção conjunta dos dois componentes da incontinência (RIBEIRO E ROSSI, 2000). Na correção da hipermobilidade do colo vesical, o objetivo é manter o colo vesical em posição intra-abdominal, seja através de sua suspensão ou através do reforço do soalho pélvico (RIBEIRO E ROSSI, 2000). Existem três abordagens diferentes: • Via Vaginal - A correção de distopias através da via vaginal pela cirurgia de Kelly-Kennedy é largamente difundida e baseia-se na plicatura do tecido parauretral, com índices de sucesso progressivamente menores durante o seguimento. Atualmente admite-se que o suporte do soalho pélvico torna-se novamente inadequado em médio prazo após a utilização desta técnica (BARACHO, 2002). • Via Suprapúbica - Representada por duas técnicas. Na técnica de MarshallMarchetti-Krantz realiza-se a sutura do tecido periuretral e da bexiga ao periósteo do púbis. O sucesso referido é da ordem de 85% durante seguimento prolongado, admitindo-se como principais inconvenientes a possibilidade de angulação e a conseqüente obstrução uretral, e, mais raramente, o comprometimento do mecanismo 40 esfincteriano pelas suturas periuretrais e a osteíte do púbis. A outra técnica é representada pela Colpossuspensão a Burch, que se baseia na realização de suturas envolvendo a fáscia perivaginal e a parede vaginal distante da uretra, as quais são ancoradas no ligamento de Cooper. Dessa forma, as complicações potenciais descritas com a técnica anterior seriam evitadas. De maneira geral, os índices de sucesso obtidos são semelhantes (BARACAT e MONTELLATO, 2000). • Via Combinada sob Controle Endoscópico - Baseia-se na confecção de suturas de apoio envolvendo seja a parede vaginal ou os tecidos periuretrais, seguidas de ancoragem em nível da aponeurose do músculo reto abdominal, utilizando-se agulhas especiais para a tração dos fios. Assim, obtêm-se o alongamento da uretra e a suspensão do colo vesical, que é mantido fixo durante o esforço abdominal. O controle endoscópico permite a identificação de perfurações vesicais inadvertidas, além da avaliação da tração ideal sobre o colo vesical (BARACHO, 2002). Representantes dessa modalidade de correção são as técnicas de Stamey, Raz e Gittes. Todas têm em comum a ancoragem da suspensão na parede vaginal sujeita a lacerações na dependência de alterações tróficas hormônio-dependentes ou secundárias a cirurgias anteriores. Apesar de satisfatórios no início, os resultados se mostraram desapontadores no seguimento com prazos entre cinco e sete anos, com índices de cura por volta de 50% (BARACAT e MONTELLATO, 2000). Injeções Periuretrais - Podem ser utilizadas no tratamento da incontinência urinária de esforço esfincteriana sem hipermobilidade do colo vesical associada. O objetivo do tratamento é a injeção de substâncias biocompatíveis entre a submucosa uretral e o envelope muscular da uretra a fim de produzir coaptação uretral. As substâncias mais utilizadas para esse fim são a pasta de teflon, o colágeno bovino purificado e estabilizado, a lipoinjeção autóloga e, mais recentemente, os balões periuretrais (BARACHO, 2002). “Slings” - Os “slings” pubovaginais foram descritos há muito tempo como alternativa para o aumento da resistência uretral. A tensão, propositadamente colocada ao nível da uretra, foi responsável pela alta incidência de retenção urinária pósoperatória. Recentemente, a utilização de retalhos mais longos de aponeurose, bem como a utilização de materiais sintéticos ou absorvíveis, permitiu a abordagem 41 combinada por via abdominal e vaginal, simplificando o procedimento e melhorando os resultados. Com essa técnica, obtém-se uma alça pubovaginal ou “sling” que dará apoio posterior e coaptará a mucosa uretral quando da sua descida fisiológica durante o esforço. É importante não tracionar a alça para evitar retenção urinária no pósoperatório devido à compressão da junção uretrovesical, melhorando assim os resultados obtidos (BARACAT e MONTELLATO, 2000). Tendo em vista os bons resultados obtidos com os “slings” aponeuróticos nos casos complexos de incontinência urinária de esforço, acredita-se que deva ser essa a conduta de escolha nos casos de incontinência urinária de esforço por lesão esfincteriana intrínseca, bem como naqueles casos cujo risco de insucesso é grande, como nas pacientes obesas, com doença pulmonar obstrutiva crônica e radioterapia pélvica (BARACHO, 2002). Recentemente simplificações dos “slings” têm sido realizadas, destacando-se o suporte tendíneo vaginal (STV), no qual uma fita aponeurótica sintética é ancorada aos arcos tendíneos bilateralmente, sem necessidade de perfurar a fáscia endopélvica. Outra opção de procedimento microinvasivo e passível de ser realizada com anestesia local e em nível ambulatorial é o TVT (“Tension-free vaginal tape”). Trata-se de uma fita de prolen que possui uma agulha em cada extremidade passada da região vaginal para a suprabúbica ao nível do terço médio da uretra, conforme mostram as figuras 08 e 09, deixando livre o colo vesical para se abrir durante a micção (MOREIRA, 2001). Não há necessidade de se fixar a fita na aponeurose dos retos e tampouco de cateter uretral no pós-operatório. Trata-se de um procedimento inovador com bons resultados no seguimento inicial (BARACHO, 2002). Figura 08 - Sling Pubovaginal. Fonte: www.miklosandmoore.com/images/tvtcough.jpg 42 Figura 09 – Procedimento para Implantação do Sling Pubovaginal. Fonte: www.miklosandmoore.com/images/tvtcough.jpg 43 2.2.1 - Correção Cirúrgica do Prolapso de Cúpula Vaginal O prolapso de cúpula vaginal é evento com incidência variável entre 0,2 a 4,5%, acredita-se que a causa mais comum deste defeito do assoalho pélvico seja a fraqueza inerente ao tecido conjuntivo ou uma lesão pós-traumática (FEBRASGO, 2004). A incapacidade de o cirurgião fazer adequada suspensão da cúpula vaginal após realizar a histerectomia, certamente é outro importante fator. Ao cirurgião cabe diagnosticar e corrigir no ato operatório, os defeitos por ventura existentes, assim como prever o aparecimento de futuros defeitos realizando sua prevenção (CURI, 2004). Os princípios cirúrgicos que orientam a correção do prolapso uterino ou do prolapso de cúpula vaginal são os mesmos. Habitualmente a remoção do útero é realizada no tratamento do prolapso, mas não é obrigatória, (exceto na histerectomia vaginal) deve-se levar em consideração o desejo da paciente preservar seu útero, não obstante a idade, a manutenção do útero ao contrário do que se possa pensar não piora os resultados cirúrgicos (FEBRASGO, 2004). Estratégias Cirúrgicas para Correção do Prolapso. Cirurgias abdominais e vaginais para esse fim podem oferecer à paciente excelente chance de cura. Nenhuma via sozinha é perfeita como em geral estamos diante de mais de um defeito, nos parece que maior sucesso será alcançado com a associação de mais de uma via (CURI, 2004). A colpectomia e a colpoclise podem ser utilizadas na paciente idosa, sem interesse em preservar a atividade sexual. Já a colpopexia sacral abdominal e a fixação vaginal ao ligamento sacro espinhoso são atualmente os padrões cirúrgicos na correção do prolapso de cúpula vaginal (RAMOS, 2000). A fixação ao ligamento sacro espinhoso foi descrita inicialmente por Sederl (1958), introduzida nos EUA por Randall e Nichols em 1971 e popularizada em 1982, quando da publicação por Nichols de um estudo retrospectivo com 163 pacientes e com índice de sucesso de 97%. Em 1988, Morley e DeLancey relataram resultados de 90% de sucesso em 100 mulheres submetidas ao procedimento (DEL ROY, 2005) Arthure e Savage (1957) descreveram a fixação da cúpula vaginal diretamente ao sacro e Lane (1962) descreveu a suspensão da vagina até o sacro por meio de uma 44 ponte de material de prótese arterial. Desde então vários materiais foram utilizados, tais como fáscia do reto abdominal, fáscia lata, Dacron, Marlex,Gortex, Mercilene. Em comparação com a sacrocolpopexia abdominal que a fixação vaginal ao sacro espinhal tem as seguintes vantagens, segundo Del Roy, 2005; • Menor tempo de hospitalização • Menor porte da cirurgia • Evita-se incisão abdominal • Possibilidade de correção de cistocele e retocele pela mesma via • Resultados comparáveis aos procedimentos abdominais. Vantagens da colpopexia sacral: • Posição anatômica mais correta da vagina • Acesso a outros procedimentos abdominais como Burch, correção do defeito paravaginal e correção de enteroceles. A culdoplastia de McCall parece ser o procedimento mais completo pois repara o anel pericervical por sutura dos cotos encurtados do complexo cardinal útero-sacro ao septo reto vaginal. Permitindo a obliteração do Douglas, a suspensão da vagina no seu segmento superior resultando uma vagina de comprimento adequado (DEL ROY, 2005). 2.2.2 Justificativa Para a Realização Laparoscópica A laparoscopia permite identificar com vantagens as linhas fasciais e estruturas a serem dissecadas e reconectadas. É menos invasiva e permite que se realizem todos os procedimentos que antes exigiam uma laparotomia com a mesma eficácia. Como sabemos a coexistência de múltiplos defeitos é regra sendo assim a laparoscopia nos permite associar a colpopexia a outros procedimentos tais como a colpossuspensão retropúbica, a correção do reparo paravaginal e das enteroceles de modo eficaz (NIEMINEN, 2001). 45 As técnicas acima citadas, Colpofixação ao ligamento sacro espinhoso e Colpopexia sacral e McCall, podem ser realizadas por via laparoscópica. Mas exigem do cirurgião domínio de técnica de sutura laparoscópica sendo cirurgias com alto grau de dificuldade de execução (RAMOS, 2000). Na figura 10 observa-se a técnica de suspensão com fixação laparoscópica. Figura 10 - Suspensão laparoscópica com fixação ao ligamento sacroespinhoso Fonte: www.endoscopiaemginecologia.com.br/consenso Após visualização laparoscópica o cirurgião palpa através de toque bi digital a espinha isquiática direita então laparoscopicamente localiza-se o ligamento sacro espinhoso. Coloca-se então o probe retal e leva-se o reto para a esquerda, faz-se então uma incisão longitudinal no peritônio que está sobre o ligamento sacro espinhoso. Disseca-se o espaço para retal à direita em direção ao sacro. Usa-se então fio inabsorvível número 1 (Prolene) passando pela vagina tendo a certeza de estar passando pelo septo reto vaginal (fáscia e não somente pela mucosa) o fio então é passado pelo ligamento sacro espinhoso 2 a 3 cm mediais á espinha isquiática para se evitar lesão dos vasos e nervos pudendos realiza-se dupla passada por cada estrutura. Realiza-se nó extra corpóreo, enquanto se aperta o nó através do empurrador de nó, o assistente suspende a vagina em direção à espinha isquiática, diminuindo a tensão e facilitando assim o 46 trabalho do cirurgião. Habitualmente a correção é realizada por via vaginal com instrumental adequado (NIEMINEN, 2001). Colpopexia Sacral Laparoscópica A colpopexia sacroespinhal foi inicialmente descrita na Europa em meados do século passado e posteriormente difundida nos Estados Unidos. Apesar de ter sido originalmente proposta para tratamento do prolapso de cúpula vaginal póshisterectomia, também tem sido sugerido seu emprego durante a histerectomia vaginal para tratamento do prolapso uterovaginal, pois nestes casos o encurtamento dos paramétrios durante a histerectomia pode ser insuficiente para a suspensão adequada da cúpula. Assim, atualmente a maioria dos trabalhos preconiza a utilização da colpopexia sacroespinhal tanto na correção do prolapso de cúpula, como de forma adjuvante no tratamento do prolapso uterovaginal (GUNER, 2001). Segue abaixo descrição da técnica, segundo Guner, 2001: 1 - Preparação da Vagina: A vagina é empurrada em direção cranial e abre-se o peritônio que recobre a vagina até se localizar a fáscia pubocervical e o septo reto vaginal, a bexiga é dissecada anteriormente e o reto posteriomente até que se consiga a exposição de 3 a 4 cm de vagina (fáscia). 2 - Preparação da Área Sacral: O sigmóide é puxado para o lado esquerdo. O peritônio que recobre o promontório é incisado longitudinalmente. O espaço pré sacral é exposto e localizam-se os ligamentos úterosacros. 47 3 - Sutura da Tela Sintética: Na parede vaginal posterior com fio inabsorvivel ou grampeador pegando tecido vaginal de modo substancial sem pegar a mucosa. Pelo menos 3 a 5 suturas separadas são necessárias para prender a tela à vagina 4 - Sutura da Tela ao Ligamento Longitudinal Pré-sacral: São necessários 3 a 5 pontos separados de material inabsorvível ou grampos para se fixar a tela ao sacro. 5 - Fechamento do Peritônio na Região Sacral: O peritônio é fechado acima da tela que prende a vagina ao sacro, para prevenir a formação de aderências densas. A colpopexia sacral é mais trabalhosa e apresenta maior incidência de complicações quando comparada a outras técnicas (osteomielite do sacro, rejeição ao material utilizado para se fixar a vagina ao sacro, sangramentos importantes de vasos pré–sacrais). Cirurgia de McCall Inicia-se o procedimento dissecando-se os ureteres bilateralmente, separando-os lateralmente e com isso identificando-se em posição medial, a estes os ligamentos útero sacros. Coloca-se um probe vaginal elevando-se a vagina e permitindo a identificação e tratamento prévio de enterocele caso exista. O ligamento útero sacro esquerdo é então suturado com fio inabsorvível de nº 1 (prolene), sutura contínua não ancorada e à seguir segue–se com a mesma sutura passando-se pela vagina após dissecar-se o peritônio que recobre o saco herniário e localizar-se a fáscia ( septo reto vaginal) , após segue-se com a mesma sutura para o ligamento útero sacro direito (CURI, 2004). Tal procedimento pode ser observado na figura 11, abaixo: 48 Figura 11 – Técnica Cirúrgica de McCall. Fonte: www.endoscopiaemginecologia.com.br/consenso Realizam-se mais duas suturas idênticas aproximadamente 0,5 e 1,0 cm superiores em direção ao fundo vaginal, a sutura passa então novamente através do peritônio das fossas para-retais direita e esquerda e retorna ao útero sacro esquerdo. Aperta-se a sutura e realiza-se um nó extra-corpóreo. Nas pacientes com prolapso uterino, pode-se ou não realizar-se previamente a histerectomia laparoscópica. Deve-se salientar que a presença ou ausência do útero em nada altera a técnica acima descrita (CURI, 2004). A colpopexia sacral é mais trabalhosa e apresenta maior incidência de complicações quando comparada às outras técnicas (osteomielite do sacro, rejeição ao material utilizado para se fixar a vagina ao sacro, sangramentos importantes de vasos pré–sacrais). Quanto à colposuspensão ao sacro espinhoso, apesar de ser exeqüível por via laparoscópica é menos anatômica proporcionando, desvio e encurtamento importantes da vagina (CURI, 2004). Entre todas as técnicas descritas, parece ser a técnica de McCall a que preserva mais a anatomia, além de apresentar seguintes vantagens: segurança, posição mais fisiológica da vagina, e manutenção da profundidade vaginal. Conforme citado anteriormente, os defeitos são em geral múltiplos sendo assim raramente os cirurgiões 49 deixam de fazer além da correção do defeito apical (prolapso de cúpula),a correção associada dos defeitos das porções médias e inferiores da vagina (RAMOS, 2000). Terço Médio Duas estruturas devem ser consideradas: a fáscia pubocervical e o septo reto vaginal. Se a fáscia pubocervical está separada lateralmente do arco tendíneo é necessário reparar o defeito para-vaginal, sutura em pontos separados de fio inabsorvível nº1. Se houver separação do septo reto vaginal da fáscia abaixo da linha do ileococcígeo o mesmo deve ser suturado para não haver o risco de aparecimento de uma retocele. A correção da retocele evidentemente pela sua localização é realizada de forma eficaz e mais facilmente por via vaginal (CURI, 2004). Terço Inferior Separações da fáscia pubocervical da borda medial do músculo pubococcígeo e do septo reto vaginal do corpo perineal, são melhor realizadas por via vaginal (CURI, 2004). 50 CAPÍTULO 3 - ABORDAGEM FISIOTERAPÊUTICA NA INCONTINÊNCIA URINÁRIA DE ESFORÇO Desde 1999 a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a assistência fisioterapêutica em pacientes com incontinência urinária de esforço de leve a moderada como primeiro tratamento, sendo que após a intervenção fisioterapêutica, por aproximadamente três meses, é que se deve avaliar a necessidade das alternativas cirúrgicas ou farmacológicas. (O COFFITO, 2002). A força muscular é a quantidade máxima de força que um músculo ou grupo muscular pode gerar em um padrão específico de movimento e em uma determinada velocidade. O termo treinamento de força tem sido usado para descrever um tipo de exercício que requer que os músculos se movam (ou tentem se mover). O grau de benefício que um programa de treinamento de força pode transferir para o desempenho de um exercício e está muito relacionado ao treinamento de potência muscular e este está em função da velocidade de execução de movimento e da força desenvolvida pelo músculo, caracterizando assim a definição de potência como sendo a velocidade em que se desempenha o trabalho, sendo esta altamente dependente da força. Muitos são os trabalhos que evidenciam a importância da força e potência muscular. Os treinamentos destas variáveis têm-se demonstrado efetivos na melhoria de várias capacidades físicas, bem como o aumento da massa muscular (SIMÃO, 2001). Então esses treinamentos visam a melhora na coordenação muscular e na flexibilidade o que garantirá menor risco de lesão E esses ganhos de força ocorrem devido à capacidade dos músculos de desenvolverem tensão e do sistema nervoso de ativá-los, o que desencadeará um maior recrutamento de unidades motora. O diâmetro do músculo corresponde ao volume da fibra e são através de exercícios elaborados especificamente para desenvolver força que o tamanho dessas fibras musculares esqueléticas pode ser aumentado. Isso é chamado de hipertrofia (JUNQUEIRA, RIBEIRO & SCIANNI, 2004). Todos os exercícios de fortalecimento promovem: hipertrofia devido ao aumento no tamanho das fibras musculares, que acontece por aumento na síntese protéica e diminuição da degradação de proteínas, fenômeno que leva de seis a oito semanas para ocorrer; maior eficiência de recrutamento de fibras musculares pelos mecanismos de neurofacilitação (ou aprendizado motor); aumento da capacidade oxidativa e volume 51 das mitocôndrias; aumento da densidade óssea, do conteúdo mineral ósseo e de hidroxiprolina; alterações nas células do corno anterior da medula espinhal e aumento da resistência de tendões e ligamentos. Como as fibras do tipo I (que representa 70% da musculatura do assoalho pélvico) são responsáveis pela ação antigravitacional dos músculos do assoalho pélvico e as do tipo II (que representa os restantes 30%) são recrutadas durante aumento súbito da pressão abdominal contribuindo assim para o aumento da pressão de fechamento uretral, os exercícios que trabalham com essa musculatura podem melhorar sua função e essa sustentação do fortalecimento muscular se deve à mudança funcional das fibras musculares. A força muscular é então adquirida através da prática de exercícios específicos para o assoalho pélvico baseados no preceito de que os movimentos voluntários repetidos proporcionam aumento da força muscular e seus efeitos benéficos incluem desenvolvimento, melhora, restauração ou manutenção da força, da resistência, da mobilidade, da flexibilidade, do relaxamento, da coordenação e da habilidade através dos movimentos (MACHADO, 2008). O fisioterapeuta tem sido um membro importante da equipe de obstetrícia durante anos, na verdade, desde 1912. Assim a terapeuta Mennie Randall junto com o obstetra J. S. Fairbairn no Hospital St. Thomas desenvolveram interesses especiais no tratamento da gravidez, parto e puerpério. Mais tarde o campo de interesse estendeu-se a casos ginecológicos. Por volta dos anos 50, Arnold Kegel, médico ginecologista, foi o primeiro a introduzir o treinamento da musculatura do assoalho pélvico feminino para tratar a incontinência urinária. Em seu primeiro estudo ele obteve 84% de cura de mulheres com incontinência urinária, onde o protocolo incluía palpação vaginal e observação clínica da contração voluntária da musculatura do assoalho pélvico e o uso do biofeedback para mensurar a pressão vaginal durante os exercícios. Hoje existe uma variedade de aparelhos de biofeedback usados na prática clínica para ajudar no treinamento da musculatura do assoalho pélvico feminino (POLDEN, 2002). 3.1 - Cinesioterapia O exercício terapêutico é uma das ferramentas-chave que um fisioterapeuta usa para restaurar e melhorar o bem-estar musculoesquelético ou cárdiopulmonar do paciente. Uma meta importante que pode ser alcançada através do exercício terapêutico é o desenvolvimento, melhora ou manutenção da força, que é a habilidade que tem um 52 músculo ou grupo muscular para desenvolver tensão e força resultantes em um esforço máximo, tanto dinâmica quanto estaticamente, em relação às demandas feitas a ele (KISNER e COLBY, 2005). A resistência do músculo à fadiga, que é a capacidade de um músculo de contrair-se repetidamente ou gerar tensão e sustentar aquela tensão em um período prolongado de tempo, pode também ser melhorada ou mantida com o exercício terapêutico. À medida que a resistência aumenta, um músculo estará apto a desempenhar um número maior de contrações ou sustentações contra carga em um período extenso de tempo (KISNER e COLBY, 2005). Os exercícios devem fazer parte de um programa de tratamento com prescrição apropriada e que resulte em melhora da função muscular. Os exercícios utilizados como terapia baseiam-se na hipótese de que os músculos se adaptam as sobrecargas a que são submetidos. Desta forma, para que ocorra um aumento na força, este músculo deve ser requisitado repetidamente contra uma resistência cada vez maior, sem produzir trauma. O propósito final de um programa de exercícios é melhorar a função ou atuação de um músculo ou grupo muscular (STEPHENSSON, 2004). A mais antiga menção da cinesioterapia para o tratamento da incontinência urinária ocorreu num texto médico na Swedish Work publicado em 1861, mas não eram descritos os exercícios utilizados. Arnold Kegel foi o primeiro a descrever, de modo sistemático, um método de avaliação e um programa de exercícios para o fortalecimento dos músculos do assoalho pélvico (MOREIRA, 2000-2001). Os exercícios perineais, também conhecidos como exercícios de Kegel, constituem uma opção simples e barata, porém é preciso salientar a necessidade de motivação para a obtenção de bons resultados (POLDEN, 2002). Kegel, acreditando que a musculatura do assoalho pélvico era responsiva a medidas que promovessem sua contração, estudou e aplicou clinicamente por 17 anos o que denominou de terapia fisiológica. Esta consistia em exercícios para o fortalecimento dessa musculatura. Kegel ainda enfatizava a importância da motivação da paciente devido a necessidade dos exercícios serem realizados diariamente. Para isso, utilizava o perineômetro por este fornecer resultados visíveis do esforço realizado pela paciente durante o exercício. A paciente era orientada a realizar os exercícios diariamente durante vinte minutos, três vezes ao dia e a manter anotações diárias dos períodos de exercícios e dos valores registrados no manômetro. Segundo ele, um aumento de 2 a 5 mm na leitura do manômetro era indicativo de um excelente progresso. A paciente 53 deveria ser bem orientada e adquirir consciência da musculatura perineal, para evitar contrações acessórias de músculos abdominais, adutores de quadril e glúteos (MOREIRA, 2000-2001). Amaro e Gameiro, 2001 demonstraram que uma supervisão adequada pode melhorar os resultados obtidos pelos exercícios perineais; já que existe, segundo eles, uma relação de dependência entre os exercícios perineais e a continência urinária, ou seja, os insucessos são maiores nas pacientes que não seguem adequadamente o protocolo dos exercícios. O primeiro passo para realizar os exercícios perineais é a identificação dos músculos responsáveis pela interrupção do jato urinário. A maneira de ensinar esse passo à paciente consiste em orientá-la a sentar no vaso sanitário, iniciar a micção e contrair os músculos para interrompê-la. Caso não consiga da primeira vez, a paciente deve ser estimulada a tentar novamente, até obter sucesso. O erro mais comum nesses exercícios é a contração dos músculos errados, geralmente os abdominais, os adutores ou glúteos. Para evitá-lo, a paciente pode ser orientada a introduzir um ou dois dedos na vagina e contrair os músculos perineais, percebendo que eles estão “apertando” seus dedos. A outra mão deve ser colocada sobre o abdome para ajudar a mantê-lo relaxado (POLDEN, 2002). Quando não for possível interromper o jato ou quando a paciente não sentir a contração dos músculos ao redor dos dedos introduzidos na vagina, provavelmente a musculatura encontra-se muito enfraquecida. Portanto, a paciente precisará exercitar-se por um período mais prolongado até obter os resultados esperados (PORTER, 2005). A orientação verbal, na primeira sessão, deve ser seguida por acompanhamento freqüente, além da monitorização do uso do grupo muscular certo, pois em até 30% das pacientes a contração é feita de forma incorreta, caracterizando a manobra contrária – Valsalva (RIBEIRO e ROSSI, 2000). A cinesioterapia é então, uma terapia através dos movimentos, onde estes são utilizados como forma de tratamento, tendo como base de que os movimentos voluntários repetidos proporcionam o aumento da força muscular, uma resistência à fadiga, melhorando a mobilidade, a flexibilidade e a coordenação muscular. E baseado neste preceito das contrações repetidas, esses exercícios têm sido indicados em alguns casos de incontinência urinária, devido ao aumento do tônus das fibras musculares lentas ou tipo I (que constituem 70% e que promovam sustentação e resistência na 54 contração muscular) e das fibras musculares rápidas ou tipo II (os 30% restantes, que promovem contrações fortes e breves) (AMARO & GAMEIRO, 2001). Mas com o passar do tempo os exercícios para o assoalho pélvico foram sendo esquecidos. A partir daí as cirurgias foram a melhor opção para o tratamento de incontinência urinária, porém as recidivas foram aparecendo com freqüência submetendo assim as pacientes as mesmas condições iniciais de perda urinária, ou até mesmo a piora do prognóstico. Até que no ano de 1992, a Sociedade Internacional de Continência validou cientificamente as técnicas de reabilitação do assoalho pélvico para tratamento de distúrbios perineais, e como conseqüência o reconhecimento e a valorização foram crescendo cada vez mais (MORENO, 2004). A atuação do fisioterapeuta na reeducação perineal do assoalho pélvico, tem como finalidade melhorar a força de contração das fibras musculares, promover a reeducação abdominal e um rearranjo estático lombopélvico através de exercícios, aparelhos e técnicas. Assim estes poderão ajudar a fortalecer os músculos necessários para manter a continência urinária (SOUZA, 2002). A reeducação da musculatura do assoalho pélvico torna-se imperativo no programa de exercícios atribuídos para pacientes vindos sob forma preventiva ou até mesmo curativa da patologia, além de melhorar a função sexual. Porém, os melhores resultados do tratamento fisioterapêutico da incontinência urinária são obtidos nos casos leve ou moderado (POLDEN, 2002). A cinesioterapia do assoalho pélvico compreende basicamente na realização dos exercícios de Kegel que objetiva trabalhar a musculatura perineal para o tratamento da hipotonia do assoalho pélvico. Mas estudos mostram que 30% das mulheres não conseguem exercitar corretamente a musculatura do assoalho pélvico, então se preconizou que os músculos abdominais, glúteos e adutores, devem ficar em repouso ou em tensão constante na tentativa de evitar a contração conjunta (POLDEN, 2002). Segundo Santos (2008), a maioria das mulheres é incapaz de realizar uma contração somente pela simples instrução verbal, por isso é importante um controle palpatório intravaginal e a presença de um fisioterapeuta. A informação e a conscientização representam uma fase essencial na reeducação. A contração correta dos músculos do assoalho pélvico, principalmente os elevadores do ânus, tem sido muito eficaz no tratamento de incontinência urinária, apresentando melhora no controle esfincteriano, no aumento do recrutamento das fibras musculares tipo I e II, no estímulo da funcionalidade inconsciente de contração simultânea do diafragma pélvico 55 aumentando assim o suporte das estruturas pélvicas e abdominais prevenindo futuras distopias genitais. De acordo com Souza (2002), a cinesioterapia para o assoalho pélvico é isenta de efeitos colaterais e morbidade, ao contrário das cirurgias. Por isso, hoje o tratamento fisioterapêutico está sendo cada vez mais utilizado devido ao seu resultado positivo no tratamento da incontinência urinária feminina, porém depende de uma boa avaliação do paciente e da escolha da técnica e parâmetro de tratamento para cada tipo de patologia que será tratada. Existem várias formas de aplicação da cinesioterapia para o tratamento da incontinência urinária feminina, dentre eles o trabalho com a bola suíça. A bola suíça é um instrumento utilizado para o retreinamento dos músculos enfraquecidos como a hipotonia dos músculos do assoalho pélvico. Os exercícios são funcionais e podem ser realizados de várias maneiras, pois a bola suíça é considerada como um instrumento indispensável e intermediário ideal para os movimentos no treino dessa musculatura (POLDEN, 20002). Já o biofeedback descrito por Kegel em 1948 é essencialmente toda e qualquer abordagem que o fisioterapeuta utiliza para conscientizar um paciente de seu corpo e suas funções, sejam estímulos táteis, visuais, auditivos ou elétricos (perineômetro, toque digital ou cones vaginais). Então é um aparelho que mensura, avalia e trata as disfunções neuromusculares, sendo eficiente na avaliação dos músculos do assoalho pélvico por monitorar o tônus em repouso, a força, a sustentação e outros padrões de atividade, mostrando-se efetivo na orientação da paciente a melhorar as contrações voluntárias dessa musculatura, favorecendo também o treino do relaxamento. Enfim, a cinesioterapia para o assoalho pélvico compreende exercícios para a normalização do tônus muscular, sendo empregada tanto para o fortalecimento de áreas hipotônicas como para o relaxamento de áreas hipertônicas (MORENO, 2004). 3.1.1 - Exercícios para a Musculatura do Assoalho Pélvico. Exercícios de Propriocepção Esse tipo de exercício consiste na conscientização da musculatura envolvida, já que ela não é usualmente treinada pelas mulheres. Esse procedimento facilitará a 56 realização, desempenho e sucesso nos exercícios de fortalecimento da musculatura pélvica. Um exemplo simples de exercício de propriocepção nesse caso é uma mulher sentada ou em pé imaginar que está urinando e procurar segurar o jato urinário para não deixar que a urina escape (POLDEN, 2002). Exercícios Perineais (Exercícios de Kegel) Introduzidos por Kegel na década de 40, consistem em contrações controladas e sistematizadas dos músculos do assoalho pélvico (sem contrair outros músculos corporais) que permitem o aumento da capacidade de contração reflexa e voluntária dos grupos musculares, melhorando a função esfincteriana. As contrações devem ser fortes e repetitivas, sendo mantidas pelo maior tempo possível; enquanto o fisioterapeuta avalia a ausência ou não de contração dos músculos abdominais, quadris e glúteos. Quanto ao tratamento, acrescenta Souza (2002): “Como acontece com toda reeducação, a paciente precisa de estímulo regular para aumentar a extensão, intensidade e número de contrações repetidas. Deve ser usado um certo número de posições, trabalhando as mais difíceis. Para obter o melhor resultado possível (...) precisa ser realizado dentro de um período de três a seis meses” Segue abaixo descrição dos exercícios de Kegel e suas respectivas ilustrações, conforme descrito em www.efdeportes.com/efd76/mulheres.htm. 1. Em pé, pernas semiflexionadas e pouco afastadas mãos nas nádegas, pressioná-las enquanto realiza contração da musculatura pélvica. 57 2. Em pé, pernas afastadas e semiflexionadas, permanecer em contração estática ou isométrica da musculatura pélvica. 3. Com cotovelos e joelhos apoiados, realizar contração isométrica da musculatura pélvica. 4. Com joelhos e mãos apoiadas, realizar contração isométrica ou estática da musculatura pélvica. No momento da contração, as costas deverão curvar-se, e no momento do relaxamento voltar à sua posição normal. 58 5. Sentada com a coluna ereta e as pernas cruzadas, contrair a musculatura pélvica. Exercícios Específicos Para a Musculatura Pélvica 1. Decúbito dorsal, pernas semifletidas, pés no chão, expirar, colocar a pelve em retroversão e em seguida elevar as nádegas mantendo a retroversão. Repousar lentamente inspirando, desenrolando lentamente a região lombar até o solo. 2. Decúbito dorsal, nádegas ligeiramente elevadas com uma almofada, pernas flexionadas e cruzadas, pés no chão; sustentar entre as faces internas do joelho uma bola: • Elevar assento o mais alto possível expirando, • Voltar à posição de partida inspirando 59 3. Decúbito dorsal, nádegas apoiadas no chão, colocar entre as pernas uma bola e elevar as duas pernas semi-estendidas. 4. Decúbito dorsal, nádegas ligeiramente elevadas, perna de apoio flexionada e que fará a elevação estendida. Realizar o exercício com as duas pernas. 5. Em pé, com uma bola entre as faces internas da coxa, ficar na ponta dos pés, contraindo o períneo e relaxando-o ao voltar com as plantas dos pés no chão. 6. Sentada com as duas pernas estendidas realizar contrações da musculatura perineal. 7. Em pé, encontrada em uma parede realizar retroversão da pelve com a musculatura pélvica contraída. 60 3.1.2 - Eletroestimulação As primeiras utilizações da estimulação elétrica no tratamento da incontinência urinária datam dos anos 60. Tratava-se de estimuladores implantáveis, e seus resultados eram relativamente modestos. Foi principalmente a escola sueca, com os trabalhos de M. Fall, que lançou as bases experimentais da eletroestimulação nas incontinências urinárias no início dos anos 70. Essa técnica é um dos componentes do trabalho reeducativo global e suas modalidades dependem do diagnóstico e da evolução da paciente. Foi nesse contexto que a estimulação se revelou um meio muito eficaz para a conscientização do assoalho pélvico, mesmo que sua finalidade principal seja a inibição do detrusor e o reforço muscular (GROSSE e SENGLER, 2002). Recentemente, a estimulação tornou-se popular no tratamento da IUE através de eletroestimuladores pequenos e práticos, intravaginais ou transanais. A eletroestimulação é um meio utilizado para propiciar a contração passiva da musculatura perineal, também apresenta grande importância na conscientização da contração desta musculatura em pacientes que têm dificuldade de identificar a mesma. Pode ser realizada através de eletrodos endovaginais conectados a um gerador de impulsos elétricos, os quais promovem a contração do períneo (MOREIRA et al,20002001). O mecanismo de ação pelo qual a estimulação elétrica age sobre o assoalho pélvico ainda não está completamente esclarecido. Observa-se que impulsos eferentes dos nervos pudendos promovem contração reflexa da musculatura estriada que envolve a uretra e, concomitantemente, acompanha-se de reflexo inibitório da contração do músculo detrusor. É obviamente necessário que a inervação pudenda esteja total ou parcialmente íntegra para que haja condução do estímulo nervoso até o efetor. É descrita a participação de fibras eferentes do plexo hipogástrico (simpático), causando inibição da musculatura vesical e estimulando a musculatura lisa periuretral, agindo, portanto, sinergicamente no mecanismo de continência (LOW, 2001). Quando aplicados estímulos com freqüências inferiores a 30 Hz (fibras lentas), não há necessidade fisiológica de tempo de repouso e a corrente pode ser permanente. Para qualquer freqüência superior a 30 Hz (fibras rápidas) deve haver necessariamente uma alternância entre o tempo de passagem da corrente e o tempo de repouso. Atualmente, na reeducação perineal, a eletroestimulação para fortalecer os músculos utiliza uma corrente de tensão média nula alternada ou bifásica com uma freqüência de 61 50 Hz e uma largura de pulso de 0,2 a 0,5 ms. O tempo de repouso corresponde, no início, a pelo menos duas vezes o tempo de passagem da corrente. (GROSSE e SENGLER, 2002). A eletroestimulação também tem apresentado resultados satisfatórios quando associada a outras técnicas. Num estudo feito em 1992, foram tratadas 36 pacientes portadoras de IUE com seis sessões de eletroestimulação e seis sessões de biofeedback. A resposta subjetiva positiva, após 16 semanas, foi de 89%. (LOW, 2001). Num estudo com sete pacientes submetidas a um tratamento de eletroestimulação endovaginal e cinesioterapia por 14 semanas, Amaro et al (2002), obtiveram 50% de bons resultados, sendo que em 33% dos casos houve desaparecimento das perdas urinárias, e em 17% persistiram apenas perdas eventuais. As contra-indicações para o tratamento com eletroestimulação endovaginal são: gravidez, infecções vaginais, diminuição da percepção sensorial da vagina, infecção urinária, arritmia cardíaca e menstruação (LOW, 2001). Parâmetros Elétricos Para a Eletroestimulação: - Freqüência: varia de acordo com os sintomas; de 50 a 100 Hz para aumentar o tônus do assoalhopélvico, enquanto que os reflexos inibitórios do detrusor são obtidos com freqüências em 5 e 20 Hz. - Intensidade da corrente: 30 a 100 ma (máxima). - Largura de pulso: 0,2 a 0,5 ms. - Tempo: 20 a 30 minutos, uma a três vezes ao dia, no período de quatro a 12 semanas (RAMOS, 2006). Inicialmente a eletroestimulação era utilizada com baixa intensidade em longos períodos, sendo substituída por menores intensidades em espaços de tempo menores. Apesar dos resultados promissores na porcentagem de cura ou melhora parcial – incontinência leve (71%), moderada (33%) e grave (25%) – e dos poucos efeitos colaterais, o uso clínico ainda é utilizado em pequena escala. Além de todos os métodos descritos, existem medidas complementares que podem acelerar o procedimento de cura, segundo afirma Tarnay (2002) apud. Ramos [et al.] (2006): 62 “Algumas medidas gerais podem ser recomendadas como auxiliares no tratamento dos diversos distúrbios que levam à IU. Deve-se corrigir a obesidade e tratar eventuais doenças predisponentes, como a bronquite crônica. Modificações dietéticas, como diminuição do consumo de cafeína e bebidas alcoólicas, devem ser estimuladas. Restrição hídrica adequada às necessidades de cada paciente, no caso de patologias crônicas, pode ajudar no controle urinário.” Segue abaixo a figura 11, onde se vê o aparelho para eletroestimulação e seu correto posicionamento no canal vaginal, conforme www.santalucia.com.br/urologia. Figura 11 - Aparelho para eletroestimulação e seu correto posicionamento no canal vaginal. Fonte: www.santalucia.com.br/urologia 63 3.2 – Recursos Reparadores e Avaliadores de Força do Assoalho Pélvico. - Cones Vaginais Este método foi desenvolvido por Plevnik em 1985. Ele demonstrou que a mulher pode melhorar o tônus da musculatura pélvica introduzindo na cavidade vaginal cones de material sintético, exercitando a musculatura do períneo na tentativa de reter os cones e aumentando progressivamente o peso dos mesmos (POLDEN, 2002). Os cones consistem de uma série de cinco a nove cilindros pequenos, de peso variável, que vão de 20 a 100g. Eles são feitos de chumbo coberto com plástico e são do tamanho aproximado de um tampão com um cordão de nylon ligado a uma ponta um tanto afilada (figura 12). Os fabricantes alegam que o cone age forçando para baixo os músculos do assoalho pélvico, e essa sensação de soltar o cone faz os músculos se contraírem em torno dele, para retê-lo (POLDEN, 2002). Quando o cone de peso adequado é inserido na vagina, ele tende a deslizar causando uma sensação de perda que irá proporcionar um biofeedback tátil e cinestésico, fazendo com que o assoalho pélvico se contraia de forma reflexa na tentativa de retê-lo. O uso de cones vaginais além de aumentar força muscular torna a atividade fisiológica do assoalho pélvico mais coordenada com contrações, aumentando assim o recrutamento de unidades motoras, tanto do tipo I quanto do tipo II. As indicações para este tratamento são: IU de esforço, urge-incontinência, assoalho pélvico fraco, pós-parto, disfunção sexual, pouca propriocepção pélvica e incoordenação da contração pélvica. As contra-indicações são: presença de infecções no trato-urogenital, durante a menstruação, paciente com distúrbio psiquiátrico, durante ou imediatamente após relação sexual, gravidez, retenção/obstrução urinária (SOUZA, 2002). Figura 12 - Cones vaginais Fonte: GROSSE, D.; SENGLER, J. Reeducação perineal. 1.ed. São Paulo: Manole, 2002. 64 A Escolha do Cone Adequado O cone mais leve é inserido na vagina pela mulher, na posição semi-abaixada ou deitada de lado, ou em pé com um pé sobre uma cadeira, com a ponta afilada do cone e o cordão apontando para baixo. O cone deve ser inserido bastante afastado para ficar verticalmente acima do nível do assoalho pélvico. Uma vez estando o cone em uma posição, a paciente começa a andar. Se o cone puder ficar retido por um minuto, a paciente passa para o cone seguinte, que é um pouco mais pesado, e assim por diante até que um cone saia, após decorrido um minuto. O cone mais pesado que puder ficar retido por um minuto é usado para o exercício (POLDEN, 2002). A Sessão de Tratamento Duas vezes por dia a paciente insere um cone, e anda durante 15 minutos. Se o cone sair, ele é empurrado de volta. Desde que o cone possa ficar retido durante 15 minutos sem sair, passa-se para o cone seguinte. É recomendado fazer isso durante um mês (POLDEN, 2002). - Biofeedback Em 1970, Basmajan definiu o biofeedback como uma "técnica que utiliza um equipamento habitualmente eletrônico para revelar aos seres humanos, de maneira contínua e instantânea, alguns acontecimentos fisiológicos internos normais ou anormais, em forma de sinais visuais ou auditivos. Ele consiste, então, em aprender a manipular esses acontecimentos involuntários ou inconscientes, manipulando os sinais representados" (WILSON, apud FREITAS, MENKE e RIVOIRE, 2002). O objetivo do biofeedback é, portanto, modificar uma resposta fisiológica inadequada ou propiciar a aquisição de uma nova resposta fisiológica. Em pacientes com IUE, o método é empregado para o reconhecimento da musculatura esquelética envolvida no relaxamento e na contração uretral e da musculatura indiretamente envolvida no ato da micção (abdome, nádegas e coxas) (GROSSE e SENGLER, 2002). 65 A maioria dos equipamentos existentes dispõe de um sensor eletrônico que é introduzido na vagina para registrar a atividade dos músculos pélvicos e eletrodos que são colados na parede abdominal para monitorizar sua atividade e informar se essa musculatura está relaxada. Assim, quando a paciente contrai corretamente a musculatura perineal haverá uma representação auditiva ou visual (por exemplo, acendendo luzes) informando se os músculos corretos estão sendo contraídos, e também a intensidade das contrações (FREITAS, MENKE e RIVOIRE, 2002). Com o auxílio do biofeedback, a aprendizagem será feita em três etapas. A primeira é a detecção, amplificação de uma função pela aparelhagem e. tradução em um sinal visual e/ou sonoro imediatamente disponível para o paciente. A segunda etapa consiste em mostrar ao paciente que ele pode, por um ato voluntário, reforçar, atenuar ou manter a função que lhe é mostrada pelos sinais visuais ou auditivos. Essa função, de que ele não tem conhecimento (assoalho pélvico) lhe é mostrada por sinais que ele pode, então, manipular. É a etapa de conscientização, papel essencial, e mesmo exclusivo do biofeedback. A terceira etapa é a automatização dessa função, obtida pelo trabalho manual de bloqueio perineal sob esforço. Nessa fase, o biofeedback é um controle rápido e confortável da integração da função (assoalho pélvico) ao esquema corporal da paciente. Os resultados aparecem depois de 5 semanas, com exercícios realizados uma ou duas vezes por semana. Em alguns países existem modelos mais simples e portáteis que podem completar o tratamento em nível domiciliar (GROSSE e SENGLER, 2002). - Cateter Foley ou Tampão Um cateter com manga e inflado é usado por alguns fisioterapeutas, como um meio de fornecer à mulher um biofeedback para as contrações do assoalho pélvico. A idéia é de que, além do estímulo provocado pela presença do cateter na vagina e ameaça de retirada, uma tração suave pode ser aplicada para forçar e estirar os músculos do assoalho pélvico, e ser correlacionado com uma contração voluntária, para atuar como uma resistência. Um cateter com manga inflado (por exemplo, um cateter Foley, conforme mostra a figura13) é inserido na vagina, de preferência pela própria mulher. Ela é então instruída a enrijecer os músculos do seu assoalho pélvico para resistir à retirada do cateter pelo fisioterapeuta. A tração é suave de início, mas é aumentada de acordo com a tensão que a paciente é capaz de criar. Além disso, podem-se fazer 66 tentativas para reter o cateter em posição durante aquelas atividades que possam causar vazamento urinário, por exemplo, tosse, inclinação do corpo ou levantamento de peso, reforçando assim o conselho para contrair o assoalho pélvico antes de tais atividades (GROSSE e SENGLER, 2002). Figura 13 – Cateter Foley Fonte: www.medicinageriatrica.com.br/.../07/sonda.JPG Teste do Absorvente ou “Pad-test” ou Teste da Almofada Este teste consiste na utilização de absorventes para demonstrar e quantificar a perda urinária. A paciente, após a micção, coloca um absorvente com fundo impermeável, previamente pesado, e ingere 500 ml de líquido em um período de até 15 minutos. Após 15 minutos sentada, deve andar, subir e descer degraus por 15 minutos. No tempo restante, deve sentar e levantar-se 10 vezes, tossir 10 vezes, correr no mesmo lugar por um minuto, pegar objetos no solo e lavar as mãos em água corrente por um minuto para observar sensação de urgência com este estímulo sensorial. Ao final de uma hora de teste, o absorvente é pesado novamente e a paciente urina espontaneamente, com medida da urina residual (RIBEIRO e ROSSI, 2000). Um acréscimo de até duas gramas no peso final do absorvente é considerado normal, podendo ser causado por transpiração ou secreção vaginal. Perdas urinárias de 2 a 10 gramas são consideradas leves a moderadas, 10 a 50 gramas severas e acima de 50 muito severas (RIBEIRO e ROSSI, 2000). Recentemente, um teste de almofada de 24 e 48 horas foi concebido no qual a paciente usa almofadas perineais previamente pesadas continuamente por 24 a 48 horas, 67 retirando-se somente para urinar ou trocá-las. As almofadas descartadas são colocadas diretamente em sacos de plástico autovedantes individuais, e estes podem ser pesados imediatamente pela paciente usando-se uma balança de molas ou ser levados à clínica. A paciente pode também ser solicitada a manter um diário miccional. Fora isto, a paciente prossegue em suas atividades normais. Este testetem algumas vantagens ao medir a paciente em circunstâncias mais normais e sobre um longo período de tempo (POLDEN, 2002). Teste do Cotonete ou “Q-tip Test” ou Teste de Chrystle Permite a avaliação do grau de mobilidade do colo vesical. A sua realização obedece às seguintes seqüências e padronização: paciente em posição ginecológica; anti-sepsia dos órgãos genitais externos, principalmente o meato uretral; introdução da extremidade de cotonete estéril, lubrificado com gel anestésico, no meato uretral externo até ultrapassar o colo vesical; medida do ângulo de inclinação da haste em relação ao plano horizontal; manobra de esforço realizada pela paciente, observando-se a mudança do ângulo aferida em graus (RIBEIRO e ROSSI, 2000). Não há uma referência para a interpretação do resultado, porém considera-se, de acordo com os mesmos autores, que um ângulo inferior a 30º em repouso/esforço sugere integridade do suporte anatômico e superior a 30º hipermobilidade do colo vesical. Um ângulo maior de 20º indica hipermobilidade. Nos casos normais o ângulo é inferior a 20 graus. Estes valores devem ser analisados em conjunto aos dados clínicos, uma vez que o teste tem 20 a 30% de resultados falsos-positivos, ou seja, mulheres continentes com hipermobilidade (RIBEIRO e ROSSI, 2000). Teste de Estresse em Pé A paciente deve estar com a bexiga completamente repleta, de pé sobre uma folha de papel ou toalha, com os pés afastados como a distância entre os ombros, a paciente é solicitada a tossir repetidamente, a fazer força como numa evacuação e a realizar movimentos únicos e fortes de tosse, ver figura 07 (RETZKY e ROGERS, 1995). 68 Uma perda imediata de urina confirma o diagnóstico de incontinência genuína por estresse, na ausência de contração vesical. Se nenhum vazamento de urina for observado, a bexiga da paciente pode não estar suficientemente cheia. O atraso no vazamento e o vazamento prolongado sugerem um tipo de instabilidade do detrusor provocada pela tosse e a paciente deve fazer testes mais complexos (RETZKY e ROGERS, 1995). Figura 07 – Teste de estresse em pé. Fonte: RETZKY, S. S.; ROGERS, R. M. A incontinência urinária na mulher. Clinical Symposia, vol. 47, n. 3, 1995. Teste de Bonney Consiste na elevação digital do colo vesical, através de toque vaginal, estando a paciente com a bexiga cheia. Se, durante o esforço, a manobra impedir a perda da urina, o teste é positivo. No entanto, Bathia e Bergman (apud RIBEIRO e ROSSI, 2000) contestaram a eficiência deste teste. Com o objetivo de determinar a validade do teste na IUE, estes autores estudaram as funções uretral e uretrovesical em repouso e esforço. Os resultados obtidos foram semelhantes quando a paciente se sujeitava ao teste ou a uma oclusão uretral intencional. Depreende-se que a perda não ocorria pela oclusão da uretra durante o toque vaginal. 69 CONCLUSÃO A incontinência urinária é uma condição muito freqüente em nossa sociedade, atingindo milhões de pessoas, principalmente mulheres, que por diversos fatores, tais como idade, deficiência estrogênica, multiparidade, entre outros, acabam por desenvolver esta patologia. Como discutido anteriormente, a resolução deste problema muitas vezes é fácil, mas na maioria das vezes não ocorre devido ao fato de as próprias pacientes subestimarem o problema, aceitando-o como uma condição normal do envelhecimento; em outros casos, por medo ou ignorância, as pacientes acabam não procurando ajuda dos profissionais de saúde, passando a conviver com os constrangimentos gerados pela incontinência. A fisioterapia dispõe de muitos recursos para combater a IUE, e tem demonstrado ser muito eficaz no tratamento desta patologia. Além disso, a eficácia do tratamento fisioterapêutico parece ultrapassar os limites fisiológicos e trazer benefícios também no campo sócio-psicológico, influenciando no bem-estar, na auto-estima e na qualidade de vida das pacientes. Desta forma, pode-se concluir que este estudo veio a confirmar que o exercício cinesioterapêutico é um método barato, simples e satisfatório para curar, ou ao menos, melhorar significativamente a incontinência urinária de esforço em mulheres idosas; e que os exercícios do assoalho pélvico são eficazes no tratamento da incontinência urinária de esforço feminina. Entretanto, é importante salientar que muitos estudos ainda são necessários, afim de melhor compreender esta patologia e de encontrar formas cada vez mais eficazes de tratá-la. Para isto, é preciso que sejam realizadas pesquisas sérias, com metodologia adequada e resultados comprovados, para que os protocolos e técnicas sejam cientificamente comprovados. 70 Referências Bibliográficas 1. AMARO, J. 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