A IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA E DA EDUCAÇÃO NA FORMAÇÃO DOCENTE Eliette Cardoso Siqueira1 Isabella Tolentino Prates2 Késia Rodrigues Silveira Porto3 RESUMO: O presente trabalho cujo tema: “A Importância da Filosofia e da Educação na Formação Docente”, tem como principal objetivo compreender a importância da filosofia e da educação na formação docente, objetivando conceituar a filosofia e a educação; Compreender a finalidade da filosofia e da educação sem aprofundar no contexto histórico de cada uma delas; Abordar a questão da relação entre Filosofia e Educação e, uma pequena ponderação de como ela acontece na prática educativa; Saber a concepção dos filósofos acerca do assunto, e por fim, enfatizar o que alguns autores discorreram sobre essas temáticas. O procedimento metodológico utilizado foi à revisão de literatura. O referencial teórico fundamentou-se nos autores: Aranha (1993), Aranha (1996), Freire (2004), Gadotti (1995), Giles (1983), Luckesi (1990), dentre outros. Para entender a Filosofia e a Educação, fez-se necessário conceituá-las. Para melhor compreender, buscou-se saber as suas finalidades sem aprofundar no seu contexto histórico. Por fim, abordou-se a questão da relação entre elas, fazendo uma pequena ponderação de como acontece na prática educativa e, sua importância na formação do educador. Enfatizou-se, a concepção dos filósofos e de alguns autores sobre Filosofia e Educação. Após a interpretação do resultado, concluiu-se que a filosofia e a educação são importantes na formação docente, confirmando a hipótese de que, a filosofia juntamente com a educação possibilita ao educador fazer uma reflexão crítica permanente sobre a sua prática, através da qual o educador avalia o seu próprio fazer com os educandos. Palavras-chave: Educação, Filosofia e Prática Educativa. 1 Graduada em Licenciatura Plena-Pedagogia na Universidade Estadual de Montes Claros/Unimontes. Pós-graduanda em Didática e Metodologia do Ensino Superior na Universidade Estadual de Montes Claros/Unimontes. E-mail: [email protected] ou [email protected] 2 Graduada em Licenciatura Plena-Pedagogia na Universidade Estadual de Montes Claros/Unimontes. Pós-graduanda em Didática e Metodologia do Ensino Superior na Universidade Estadual de Montes Claros/Unimontes. E-mail: [email protected] 3 Graduada em Licenciatura Plena-Letras Português na Universidade Estadual de Montes Claros/Unimontes. Pós-graduanda em Didática e Metodologia do Ensino Superior na Universidade Estadual de Montes Claros/Unimontes. E-mail: [email protected] 2 INTRODUÇÃO O presente trabalho cujo tema: “A Importância da Filosofia e da Educação na Formação Docente”, tem como principal objetivo compreender a importância da filosofia e da educação na formação docente. Quando nos questionamos sobre a real necessidade da Filosofia, acabamos por descobrir que é um meio de se conseguir preceitos indispensáveis para a vida em sociedade. Mas, sua importância está ligada ao fato de que ela nos dá base para questionar, duvidar, refletir, raciocinar e, assim, despertar o senso crítico. A Filosofia tem por objetivo levar conhecimento às pessoas, tornando-as conscientes e capazes de refletir criticamente a realidade, no entanto, essa insistência sobre a utilidade da Filosofia passa a impressão de um conhecimento desinteressado, o que não existe. E isso acaba por “destruir” a Filosofia, tornando-a ideológica e difícil. O surgimento da Filosofia corresponde, portanto, à busca de bases para essas dimensões autênticas, tais como: Quais os princípios da razão? O que é verdade? Com base em que critério pode-se justificar aquilo que se diz? É nesse sentido que, podemos entender o contexto histórico de surgimento do discurso filosófico, e o contexto histórico da Filosofia que encontra seu apogeu nos séculos V-VI a.C. Estes problemas dizem primeiramente respeito à Filosofia, também, podemos dizer que os grandes filósofos como Platão, Aristóteles, Santo Agostinho, Tomás de Aquino, Montaigne, Hegel, Comte, Hobbes, Locke, Rousseau, Kant, Spencer, Nietzsche, Dewey, e dentre outros, abordaram o problema da educação. A educação, portanto, mantém viva a memória de um povo e dá condições para a sua sobrevivência. Por isso falamos que, ela é uma instância mediadora tornando possível a reciprocidade entre indivíduo e sociedade. Consiste, essencialmente, na formação do caráter humano, sendo um processo vital conjugado pela ação consciente do educador e pela vontade do educando. Por ser uma atividade criadora possibilita o ser humano a realização das suas potencialidades, não se reduzindo a preparação para fins apenas práticos, nem para desenvolvimento de características parciais da personalidade, mas, abrangendo o homem integralmente. Enfim, a educação é posta como uma problematização, e assim sendo, um problema passa a ser um assunto da filosofia tornando-se uma reflexão filosófica. 3 Esta pesquisa surgiu através das aulas de Filosofia e Educação durante o Curso de Pós-Graduação. A necessidade de saber se a Filosofia e a Educação são importantes na Formação Docente, uma vez que estão vinculadas no tempo e no espaço. A pesquisa foi de grande relevância para nossa formação docente, uma vez que possibilitou novas reflexões e um maior conhecimento acerca da filosofia e da educação e a sua importância no processo educativo. Nesta pesquisa, foram abordados os objetivos específicos: Conceituar a Filosofia e a Educação; Compreender a finalidade da Filosofia e da Educação sem a intenção de aprofundar no contexto histórico de cada uma delas; Abordar a questão da relação entre Filosofia e Educação, e uma pequena ponderação de como ela acontece na prática educativa; Saber a concepção dos filósofos acerca do assunto, e por fim, enfatizar o que alguns autores discorreram sobre Filosofia e Educação. A hipótese deste trabalho foi pautada na importância que a filosofia e a educação têm na formação docente. O procedimento metodológico utilizado foi à revisão de literatura, dando subsídios para entender o tema em questão. A partir dos pressupostos teóricos dos autores que estudam o assunto, buscando a condição necessária para a interpretação e a compreensão dos aspectos abordados. A revisão de literatura foi elaborada a partir de material já publicado, constituído principalmente de livros e artigos periódicos. Para compreender o tema, fez-se necessário, um referencial teórico fundamentado nos seguintes autores: Aranha (1993-1996), Brandão (1995), Freire (2004) Gadotti (19951996), Giles (1983), Ghiraldelli (2008), Gramsci (1978), Luckesi (1990), Piletti (1986), Redden e Rian (1973), Saviani (1973) e Teixeira (1969). Primeiramente, para entender a Filosofia e a Educação, fez-se necessário conceituá-las. Para uma melhor compreensão da Filosofia e da educação, buscamos conhecer suas finalidades sem aprofundar no seu contexto histórico. Por fim, abordamos a questão da relação entre elas, fazendo uma pequena ponderação de como ocorre na prática educativa e sua importância na formação do educador. Portanto, algumas considerações finais foram feitas acerca da pesquisa realizada, pontuando alguns resultados relevantes, e por fim, propondo implicações para que se possa refletir sobre a importância que a filosofia e a educação desempenham na formação docente e a sua contribuição na prática educativa. 4 A IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA E DA EDUCAÇÃO A Filosofia vem trazer uma linguagem racional, que propõe desvelar a realidade. A definição de que, Filosofia significa “amigo do saber”, devido ao fato da palavra “filosofia” estar constituída do termo filon, que equivale a amigo, e do termo sofia, que equivale a sabedoria. A etimologia da palavra Filosofia, confirma o acerto da atitude de Kant de acordo com Piletti (1986:19), quando diz que, “O vocábulo, originário do verbo grego philosophein, significa, em sua estrutura verbal, amor à sabedoria, entendida como reflexão do homem acerca da vida e do mundo”. De acordo com o mesmo autor, “A filosofia, portanto, não é a sofia mesma, ciência e sabedoria ao mesmo tempo. É somente o desejo, a procura dessa sofia. A essência da Filosofia é a procura do saber e não a sua posse”. Entende-se que, a Filosofia é uma reflexão filosófica, uma vez que é a procura e não a posse do saber. Assim, com auxílio da etimologia, pode-se vê que a Filosofia não é puro logos, pura razão, ela é a procura amorosa da verdade. Os autores Redden e Rian (1973) vêm discutir acerca da temática “Filosofia” como o principal objetivo da filosofia ser a formulação, interpretação e explicação de toda a realidade, estabelecendo assim, para esse indivíduo uma conduta humana, valores e significados. Em sua interpretação histórica, segundo Redden e Rian (1973:17-18), a Filosofia, “Pode ser encarada como o estudo que orienta o indivíduo tanto na aquisição da concreta visão da vida, seus valores e significado, seus fins próximos e últimos, quanto sobre a conduta humana, em geral”. Muitas definições de educação podem ser repetidas, terem pontos de vistas de diferentes autores, entretanto, esta variedade de interpretações do termo educação, conforme explicita Redden e Rian (1973): Tem sido usado com vários significados quanto a seus objetivos e funções. Esses significados vão desde aqueles que interpretam a educação no sentido amplo até os que limitam seu escopo a determinado aspecto, como: instrução, adaptação, habilidades ou formação de hábitos. Resulta daí tal confusão, que, não raro, se perde de vista o verdadeiro significado do termo educação. (REDDEN; RIAN, 1973:27-28). Partindo do princípio de que, a educação, também pode ser definida parcialmente como adaptação ao meio, como aquisição de conhecimento, como processo de crescimento e desenvolvimento de capacidades. Ainda dentro desse contexto, ao definir educação, temos que ter em mente que, pode-se tratar também da educação informal, isto é, a qual o indivíduo 5 adquire por si mesmo, ou da educação formal. Para Redden e Rian (1973:29), “A palavra educação, como qualquer outra, tem significado amplo e restrito”. Percebe-se que, a educação informal abrange as experiências do indivíduo através da aquisição de conhecimento. Enquanto que, para os mesmo autores a educação formal, em sentido restrito, “é conscientemente planejada e sistematicamente aplicada, realizada por várias instituições sociais de educação e, principalmente, pela escola”. Nesse sentido, a educação é realizada por instituições de ensino. No que concerne à educação, segundo Glhiraldelli (2008), o termo: “Educação” tem sua origem em duas palavras do latim: educere e educare. A primeira quer dizer “conduzir de fora”, “distinguir exteriormente”, a segunda indica “sustentar”, “alimentar”, “criar”. O sentido comum é o de “instruir” e “ensinar”, mas com conotações diferentes que já indicam posturas pedagógicas diferentes. (GHIRALDELLI, 2008:13). (Grifo do Autor). Deste modo, a palavra “Educação” é tomada nos dois sentidos pedagógicos que a etimologia fornece, mas com significados diferentes. Para Luckesi (1990:21), “A educação é uma prática humana direcionada por uma determinada concepção teórica”. No que se refere à prática pedagógica, ela articula-se com a pedagogia que significa uma concepção filosófica da educação. Se a Filosofia é essencialmente teórica, isso não significa que ela esteja à margem do mundo ou saber acabado, ou seja, um conjunto de conhecimentos estabelecidos. Segundo Aranha (1993:88), para Platão, “a primeira virtude do filósofo é admirar-se. Essa é a condição para problematizar, o que marca a filosofia não como posse da verdade, mas como sua busca”. Prosseguindo essa linha de raciocínio, o filósofo alemão do Século XVIII Kant diz que, “não há filosofia que se possa aprender; só se pode aprender a filosofar”. Dessa forma, percebe-se que, o filósofo é capaz de se superar com o óbvio e questionando as verdades dadas, aceitará a dúvida como desencadeadora desse processo crítico. Significa que a Filosofia é um conhecimento instituinte no sentido de questionar o saber instituído. É, sobretudo, uma atitude, sendo um pensar permanente. Pautada na fala de Saviani (1973:68) que, “conceitua a Filosofia, como uma reflexão radical, rigorosa e de conjunto sobre os problemas que a realidade apresenta”, entende-se que, a Filosofia instiga o pensamento, visando tornar o homem um ser preocupado em esclarecer e participar da realidade em que vive. No sentido radical, quando busca explicitar os conceitos relevantes usados em todos os campos do pensar e do agir, a Filosofia é rigorosa, pois o filósofo dispõe de métodos filosóficos fundamentados a partir da 6 argumentação, coerente em suas diferentes partes e, portanto, sistêmica procedendo com rigor. Enquanto as ciências são particulares e abordam “recortes” da realidade, a Filosofia é globalizante, uma vez que examina os problemas sob a perspectiva de conjunto, relacionando os diversos aspectos entre si, visando à totalidade. Cabe salientar que, o termo Filosofia é muito utilizado. Assim, Luckesi (1990) ressalta que: Na história do pensamento, que a humanidade vem construindo ao logo do tempo, muitos foram os pensadores e pesquisadores que deram uma definição ou um conceito para a Filosofia. Por vezes, esses conceitos foram complexos, por vezes simples; por vezes rebuscados e quase incompreensíveis. (LUCKESI, 1990:22). Situando a questão do termo, percebe-se que os conceitos apontados foram muito utilizados pelos pensadores e pesquisadores, de uma forma simples ou complexa. Entretanto, muitas pessoas preferem dizer, conforme cita Luckesi (1990:22), “que a Filosofia é um “jogo inútil e estéril de palavras”, ou que é “muito difícil e só serve e interessa a pessoas especiais e muito inteligentes”. (Grifo do autor). Diante da dificuldade das pessoas entenderem a filosofia, muitas preferem colocá-la como algo “inútil” que só interessa aqueles capazes de entendê-la. De acordo com o mesmo autor, “a Filosofia é uma ciência com a qual ou sem a qual o mundo continua tal e qual. Ou seja, podemos passar muito bem com ou sem a filosofia”. Dessa maneira, significa que é uma ciência da qual o mundo com ou sem ela permanece o mesmo. Luckesi (1990:22) tenta conceituá-la, “de uma forma simples e existencial, de tal forma que possamos compreender o que ela é e verificar o seu significado para a vida humana”. Nesse contexto, a Filosofia é conceituada como um corpo de entendimento que compreende e dá significado ao mundo e a existência. Para reforçar o exposto acima, o autor Luckesi (1990) inicia dizendo que: A filosofia é um corpo de conhecimento, constituído a partir de um espaço que o ser humano vem fazendo de compreender o seu mudo e dar-lhe um sentido, um significado compreensivo. Corpo de conhecimento, em Filosofia, significa um conjunto coerente e organizado de entendimento sobre a realidade. Conhecimentos estes que expressam o entendimento que se tem do mundo, a partir de desejos, anseios e aspirações. (LUCKESI, 1990:22). Diante disso, compreende-se que, a Filosofia é o meio pelo qual o homem se torna crítico, a partir do momento em que passa a pensar, refletir, analisar, ele passa a compreender o mundo, dando-lhe um significado. Para Luckesi (1990: 23), “A Filosofia se manifesta ao ser 7 humano como uma forma de entendimento que tanto propicia a compreensão de sua existência [...]”. Contudo, a Filosofia oferece um direcionamento para a sua ação, ou seja, um meio de se lutar por ela. No que concerne às finalidades da Filosofia, Luckesi (1990) ressalta que: Nós não “agimos por agir”. Agimos, sim, por uma certa finalidade, que pode ser mais ampla ou mais restrita. As finalidades restritas são aquelas que se referem à obtenção de benefícios imediatos, tais como: comprar um carro, assumir um cargo. As finalidades mais amplas são aquelas que se referem ao sentido da existência: buscar o bem da sociedade, lutar pela emancipação dos oprimidos, lutar pela emancipação de um povo etc. (LUCKESI, 1990:23). (Grifo do autor). Deste modo, não se aceita unicamente o que nos é colocado como algo certo a ser seguido. Prosseguindo a ideia de Luckesi (1990:23), ao citar que, “A Filosofia é esse campo de entendimento que, quando nos apropriamos dele, nos sentimos refletindo sobre a cotidianidade dos seres humanos”. Então, quando se começa a filosofar, começa-se também a ponderar a existência dos seres humanos. Assim, Luckesi (1990:23) pontua que, “A Filosofia traduz o sentir, o pensar e o agir do homem”. Portanto, a Filosofia possibilita ao ser humano a compreensão e o direcionamento da sua existência humana em várias dimensões. Nesta perspectiva, pode-se inferir que a Filosofia seria realmente “inútil”, ou seja, não serve para nenhuma alteração imediata de ordem pragmática? Então, onde está a finalidade da Filosofia? A Filosofia é considerada “inútil”, por ser alteradora da ordem, e por isto, pertuba e incomoda. Quanto a sua finalidade de acordo com Aranha (1993): Está no fato de que, por meio da reflexão [...], a filosofia nos permite ter mais de uma dimensão, além da que é dada pelo agir imediato no qual o “indivíduo prático”, se encontra mergulhado. É a que dá o distanciamento para a avaliação dos fundamentos dos atos humanos e dos fins a que eles se destinam; reúne o pensamento fragmentado da ciência e o reconstrói na sua unidade; retoma a ação pulverizada no tempo e procura compreendê-la (ARANHA, 1993:75). (Grifo da Autora). A Filosofia possibilita ao ser humano, exercer sua capacidade de superar a situação dada e não escolhida, impedindo-o de estagnar, visto que pela transcendência, o homem é capaz de construir o seu destino. Sendo assim, o distanciamento vai possibilitar a aproximação maior do homem com a vida. No que diz respeito à finalidade da educação, para Redden e Rian (1973:15), é portanto, “Orientar o homem no sentido de poder ele atingir o fim para que foi criado”. A educação tem por finalidade a orientação do ser humano possibilitando-o alcançar os objetivos aos quais foram destinados. No que refere ao preconceito em relação à filosofia, Gramsci (1978) diz que: 8 Deve-se destruir o preconceito, muito difundido, de que a filosofia seja algo muito difícil pelo fato de ser a atividade intelectual própria de uma determinada categoria de cientistas especializados ou de filósofos profissionais e sistemáticos. (GRAMSCI, 1978:11). Deste modo, faz-se necessário, destruir o preconceito existente de que a Filosofia seja algo “inútil”, tão difícil e complicado, que fosse tarefa só para aqueles ultraespecializados. No âmbito da educação, enfocaremos a questão da relação entre Filosofia e Educação e, um breve respaldo de como ela se dá no processo educativo. Contudo, Giles (1983) enfatiza que: A Filosofia (o questionamento radical e implacável) e a Educação (processo que visa a tornar o homem realmente humano, levando-o para o plano de autorealização na dimensão pessoal e intersubjetiva) esbarram necessariamente na ideologia, porque estão intimamente ligadas num contexto que a provoca, alimenta e contesta. (GILES, 1983, p.32). Percebe-se que, como foi citado anteriormente, a Filosofia é o questionamento radical na medida em que busca explicitar os conceitos fundamentais usados em todos os campos do pensar, ou seja, vai até a raiz do objeto, ao fundamento a ser questionado. Porém, a educação visa levar o homem a auto-realização. Em relação à ideologia, Aranha (1993:76) fala que, “A filosofia é, portanto, a crítica da ideologia, enquanto forma ilusória de conhecimento que visa a manutenção de privilégios”. Deste modo, a Filosofia é o desvelamento do que está encoberto pela ideologia, ou seja, pelo convencional, pelo poder e pelo costume. Nesse sentido, Gadotti (1995) discorre que: Se a filosofia é concebida como uma reflexão radical e crítica sobre a realidade dos homens, sobre seus trabalhos, o que concerne à educação, a filosofia deve responder, antes de mais nada, à questão: para que serve à educação, em que sentido o homem se educa? Por que e para que o homem precisa educar-se? (GADOTTII, 1995:63). Cabe salientar que, a filosofia como reflexão radical sobre todos os domínios da existência humana, coloca em questão a educação ao questionar o seu contexto educacional (em que consiste, a sua utilidade, o seu sentido e, por que e para que o homem precisa da educação?). A Filosofia é um processo de reflexão e elaboração crítica de uma concepção de mundo, enquanto totalidade e o compromisso com a sua realização prática, ou seja, a postura do homem sujeito, que num esforço de compreensão de si no mundo, em oposição à fragmentação da “pseudo-concreticidade” do cotidiano, consubstanciado no senso comum 9 passa a questionar, conforme Luckesi (1990), a crítica e a reelaboração das concepções e valores que explicam e orientam a sua vida, em todas as relações que estabelece este mesmo homem consigo mesmo, com a sociedade, desde seus aspectos mais simples aos mais complexos. Partindo desse pressuposto Luckesi (1990:29) afirma que, “A crítica é um modo de penetrar dentro desses valores, descobrindo-lhes sua essência. É uma forma de colocá-los em xeque e desvendar-lhe os seus segredos”. Assim, através da crítica passa-se a compreender e orientar a existência individual dentro de uma sociedade. Para abordar a questão da educação, Luckesi (1990), ressalta que: A educação é um tipo “que-fazer” humano, ou seja, um tipo de atividade que se caracteriza fundamentalmente por uma preocupação, por uma finalidade a ser atingida. A educação dentro de uma sociedade não se manifesta como um fim em si mesma, mas sim como um instrumento de manutenção ou transformação social. Assim sendo, ela necessita de pressupostos, de conceitos que fundamentem e orientem os seus caminhos. A sociedade dentro da qual ela está deve possuir alguns valores norteadores. (LUCKESI, 1990:.30-31). (Grifo do autor). Compreende-se que, a educação não se manifesta como um fim pré-determinado, mas sim, como uma ferramenta de transformação social. Porém, necessita de meios que orientem os seus caminhos, uma vez que, toda sociedade possui valores norteadores de sua prática educacional. Prosseguindo a ideia de Luckesi (1990:31), quando se refere à prática, “não é nem pode ser a prática educacional que estabelece os seus fins. Quem o faz é a reflexão filosófica sobre a educação dentro de uma dada sociedade”. No mesmo diálogo, logo, percebe-se que, não é esta que estabelecerá os seus fins, mas, a reflexão filosófica que se faz dentro de determinada sociedade. Nesta perspectiva, Luckesi (1990:31), aborda as relações entre Educação e Filosofia, “Parecem ser quase “naturais”. Enquanto a educação trabalha com o desenvolvimento dos jovens e das novas gerações de uma sociedade, a filosofia é a reflexão sobre o que e como devem ser ou desenvolver estes jovens e esta sociedade”. (Grifo do autor). Portanto, enquanto a Educação trabalha com o desenvolvimento das novas gerações de uma sociedade, a Filosofia vai refletir a respeito deste desenvolver. Teixeira (1969) enfatiza a respeito da filosofia e da educação que: Muito antes que as filosofias viessem expressamente a ser formuladas em sistemas, já a educação, como processo de perpetuação da cultura, nada mais era do que o 10 meio de se transmitir a visão do mundo e do homem, que a respectiva sociedade honrasse e cultivasse. (TEXEIRA, 1969, p.9). Deste modo, a Filosofia é posta pelo autor como forma de vida de um povo, onde através da educação, transmitia-se a visão do mundo e do homem. Conforme a concepção de Gadotti (1995), a respeito da educação: Na educação e por seu intermédio, os homens de uma época, de uma sociedade historicamente situada, se exprimem em relação àquilo que convém ser, que convém fazer e agem em conseqüência; nela, é toda uma sociedade que se encontra empenhada, implica. (GADOTTI, 1995:47). Nesse sentido, a educação por mediação, os homens de uma sociedade historicamente situada manifestavam-se em relação do que convém ser e fazer, agindo em consequências dos seus atos. De acordo com Gadotti (1995), a educação: [...] Torna-se por sua vez, um lugar posto em questão, um lugar de tensão e de debate. Nesse sentido, ela se constrói num espaço político-pedagógico e de liberdade, em que os homens preocupados em situar podem, portanto, lutar por uma sociedade mais justa. A nossa sociedade, a educação vacilam e procuram; a dúvida filosófica anuncia-se então como uma resposta pronta a esse desafio e como abertura em direção de uma educação e de uma sociedade com aspecto mais humano. (GADOTTI, 1995:47). A educação é uma questão que vem sendo debatida deste os tempos antigos até a atualidade, é um lugar de tensão por filósofos e educadores, partindo do ponto que, a educação é responsável pela formação moral, intelectual e física do ser humano. Constitui-se num espaço político-pedagógico, onde através da liberdade podem lutar por uma vida mais autêntica e uma sociedade mais igualitária. Logo, exponha-se que, a educação em nossa sociedade vacila e, busca o questionamento crítico como um saber pronto a esse desafio e, possibilitando assim, uma abertura em direção a uma educação e sociedade mais compassiva. A propósito, Luckesi (1990:32), cita a respeito da Filosofia e da Educação, como sendo, “dois fenômenos que estão presentes em todas as sociedades. Uma como interpretação teórica das aspirações, desejos e anseios de um grupo humano, a outra como instrumento de veiculação dessa interpretação”. Deste modo, compreende-se que, a filosofia apresenta como interpretação teórica dos anseios de uma sociedade, enquanto que, a educação visa transmitir essa interpretação. De acordo com o mesmo autor, “a Filosofia fornece à educação uma reflexão sobre a sociedade na qual está situada, sobre o educando, o educador e para onde esses elementos podem caminhar”. Assim, compreende-se que, a Filosofia permiti a educação 11 meios de refletir acerca da sociedade na qual está inserida, e do processo educativo possibilitando-o um direcionamento. Neste sentido, Luckesi (1990) ressalta que: Nas relações entre Filosofia e Educação só existem realmente duas opções; ou se pensa e se reflete sobre o que se faz e assim se realiza uma ação educativa; ou não se reflete criticamente e se executa uma ação pedagógica a partir de uma concepção mais ou menos obscura e opaca existente na cultura vivida do dia-a-dia e assim se realiza uma ação educativa com baixo nível de consciência. (LUCKESI, 1990: 32). Deste modo, entende-se que, se a reflexão filosófica não for realizada de forma consciente e crítica, ela será sob a forma de “senso comum”, assimilada ao longo da convivência de um grupo. Se a ação pedagógica não se refletir a partir de conceitos e valores explícitos, ou seja, quando não refletimos sobre a educação, ela se processa dentro de uma cultura que não muda. (Grifo nosso). Conforme já relatado acerca da Educação e da Filosofia, Redden e Rian (1973) enfatiza a relação íntima entre essas temáticas: Torna-se necessário, apenas, apontar o grande o número de filósofos, entre os quais Aristóteles, Sto. Tomás de Aquino, Locke, Rousseau, Kant, Herbert, Spencer e Dewey, que estudaram e escreveram sobre educação, no decorrer da história da educação. Em cada caso, a filosofia fundamental baseava-se nas idéias individuais sobre educação. (REDDEN; RIAN, 1973:23). Como já citamos, percebe-se serem intimamente relacionadas à Filosofia e a Educação, segundo o grande número de filósofos que estudaram e escreveram sobre esse contexto. Para entender um pouco mais, faz-se necessário conhecer a concepção que os filósofos possuem acerca do assunto e, para uma melhor compreensão é de suma importância saber o que os autores discorreram sobre essa questão. Segundo afirma Giles (1983): Desde a transmissão dos costumes tribais até a utilização da cibernética, defrontamo-nos com o processo que se resume na palavra “educação”. Desde os tempos mais remotos discute-se a questão dos meios mais adequados (adestramento, aprendizagem, iniciação) para alcançar os fins desse processo, que também são constantemente discutidos (formar o cidadão ideal, o profissional, o conformista, o questionador, o revolucionário temporário, permanente, etc.). (GILES, 1983:11). (Grifo do autor). Assim, a educação se constitui universalmente pelo fato de que em todas as sociedades, desde as comunidades tribais até os tempos mais remotos, se discutem os meios adequados de treinamento, aprendizagem e a catequização de alcançar os fins desse processo educativo na formação do cidadão. Em relação ao objetivo do processo educativo, Giles (1983) pontua que para Sócrates: 12 O objetivo único do processo educativo é a formação moral do homem, fundamentando-se está no conhecimento e na prática das virtudes. É impossível que o conhecimento destas não leve à sua prática. Portanto, o sábio será virtuoso. O mal moral é fruto da ignorância. SÓCRATES defende a existência de uma verdade válida para todos os homens em todas as circunstâncias e lugares [...]. (GILES, 1983:65). Constata-se que, o objetivo maior da educação é educar para a virtude, ou seja, a formação moral, a formação do caráter do ser humano e do educador consiste nesse princípio. Assim sendo, esta formação moral fundamenta-se tanto no conhecimento e na prática das virtudes. Portanto, quando a pessoa tem acesso ao conhecimento das virtudes, ela é instruída, conhecendo-as, necessariamente, irá praticá-la. O mal é praticado por ignorância do bem. A filosofia favorece, portanto, a vida moral do homem, porque conhecer o bem e praticá-lo é a mesma coisa, assim como a maldade provém da ignorância, haja vista que, ninguém é mal voluntariamente. Quanto à questão do saber Giles (1983), pondera da seguinte forma: O saber é um poder divino; a tarefa do homem consiste em procurar alcançar esse saber. A função do educador é ajudar o educando nesse processo mediante a maiêutica, que o leva a reconhecer a Verdade que já existe nele. Nesse sentido, o educador ocupa, um lugar de auxiliar e não transmissor. (GILES, 1983:65). Todavia, o saber é o poder divino, sendo assim, a tarefa do homem consiste em alcançar esse saber. Cabe ao educador a função na mediação do conhecimento que levará o educando a reconhecer a verdade existente nele. Assim, o educador desempenhará a função de auxiliar esse conhecimento e não de transmitir. No que tange a concepção de educação para Platão, Giles (1983:65) cita que, “A educação é um processo de descobrimento gradativo da Verdade que já se encontra na alma do educando, e é de acordo com essa Verdade que deve viver”. Entende-se que, a educação possibilita ao educando conhecer a verdade já existente dentro de si e, de acordo com essa verdade é que se deve viver. Portanto, educar não é levar o conhecimento de fora para dentro, mas despertar no indivíduo o que ele já sabe, proporcionando ao corpo e a alma a realização do bem e da beleza que eles possuem e não tiveram momento de manifestar. Em relação à concepção de Aristóteles sobre a educação, Giles (1983), pontua que: A educação parte da imitação e visa levar o educando a adquirir hábitos que formarão nele uma segunda natureza. Entretanto, trata-se de um processo que exige, como condição prévia a existência de disposições capazes de se desenvolverem, como também de meios para fazê-lo. (GILES, 1983:66). 13 Dessa forma, a educação é entendida como parte da reprodução que leva o aluno a adquirir costumes que formarão nele uma segunda atitude. Mas, faz-se necessário, condição prévia para a adaptação e meios adequados para serem desenvolvidos. O educando só pode realizar possibilidades a ele inerentes. Deste modo, o processo educativo o levará a realizar essas possibilidades. Diante disso, Aristóteles enfatiza a ação da vontade, exercitada pela repetição, que conduz ao hábito: só é virtuoso o homem que tem o hábito da virtude. Daí ser a imitação o instrumento por excelência desse processo, segundo o qual se educa repetindo os atos de vida dos adultos, adquirindo hábitos que vão formar uma segunda natureza. Essa aprendizagem se faz no esforço de buscar por livre escolha o justo meio entre dois vícios, que representem os extremos por falta ou por excesso. Entretanto, Giles (1983:67) ressalta que, “Segundo Aristóteles, a educação deve ser pública e comum, porque só o Estado pode garantir essa formação integral do educando”. Desta maneira, a educação tem que ser acessível e igual para todos, porque somente o Estado pode assegurar o desenvolvimento total do educando, encarregando-se da formação para a cidadania. A finalidade do Estado é estimular e promover o bem-estar de seus cidadãos. A educação na concepção dos filósofos, segundo Aranha (1996), menciona que é vista como: Para Platão é o instrumento para desenvolver no homem tudo o que implica sua participação na realidade ideal, tudo o que define sua essência verdadeira, embora asfixiada por sua existência empírica. Também segundo Aristóteles, a educação é um processo que auxilia a passagem da potência para o ato, pela qual atualizamos a forma humana. (ARANHA, 1996:54). A educação na concepção de Platão é um instrumento no qual, possibilita desenvolver no homem habilidades necessárias a sua participação na realidade, o que define sua essência verdadeira, embora sufocada pela experiência. Em relação à concepção de Aristóteles, a educação deve levar em conta o fato de o homem estar em constante devir. Assim, a educação tem como finalidade ajudar o homem a alcançar a plenitude e a realização do seu ser, a atualizar as forças que tem em potência. A educação pretende levar o homem a “tornar-se o que deve ser”. (Grifo nosso). A educação pode ser entendida também, como um processo de humanização ao longo da vida de um indivíduo, que acontece através do surgimento da escola, ou seja, com o aparecimento do sistema escolar, cada vez mais a educação institucionaliza-se para orientar e controlar o desenvolvimento humano. Nesse contexto, Brandão (1995) discorre sobre a 14 educação, “como um processo de humanização que se dá ao longo de toda a vida, podendo ocorrer em casa, na rua, no trabalho, na igreja, na escola e de muitos modos diferentes”. A educação pode ocorrer onde não há escola e, em toda parte pode existir redes sociais de transferência de saber. A realização da prática, segundo Brandão (1995), confirma-se desde os primórdios das organizações humanas, fazendo-se como a transmissão da tradição, dos costumes, dos valores, de maneira informal, sem a sistematização da prática por uma pessoa destinada a desenvolver este conhecimento. O ensino se fazia por meio da imitação, da instrução, assimilando a cultura típica dos grupos. As habilidades adquiridas eram passadas dos mestres aos aprendizes os saberes da prática. De acordo com Redden e Rian (1973:32), ao ressaltar que a instrução, “embora seja apenas um dos meios da educação, ela é muito útil e sua importância nunca deve ser subestimada”, percebe-se que a instrução é considerada um dos meios de educação importante, e a aprendizagem por meio da experiência tornam-se, também, uma forma de se educar. Tratando a aprendizagem por meio de exemplo ou imitação, constitui-se um meio de educação do qual Redden e Rian (1973), enfoca que: Esse tipo de aprendizagem ressalta a necessidade de um professor com maturidade e especialmente treinado, cuja vida e caráter exemplares não somente convidam à imitação, como também definitivamente influenciam o caráter e a personalidade do educando. (REDDEN; RIAN, 1973, p.32). Para esse tipo de aprendizagem, entende-se que não reside sempre no que o professor conhece ou afirma, mas, sobretudo no que ele é. O seu caráter e suas atitudes frente à vida são refletidas nas vidas dos educandos, servindo-lhes como maneira de reprodução. Quanto à questão do condicionamento da Educação a Filosofia, conforme Redden e Rian (1973) ponderam que: Somente uma verdadeira e total perspectiva do homem, de sua origem, é que torna incontestavelmente evidente a subordinação necessária da educação à filosofia. Essa relação necessária reflete-se, intimamente, no campo de objetivos, conteúdos e métodos. Os objetivos da educação devem ser sempre determinados pelos objetivos da vida, predeterminados pela filosofia. A educação proporciona os meios pelos quais os objetivos da vida podem realizar-se. (REDDEN; RIAN, 1973:36). Nesse sentido, a educação determina os objetivos da vida que, por sua vez, a filosofia predetermina, ou seja, os objetivos da vida são primeiramente, predeterminados pela filosofia e, depois determinados pela educação que os realizam. No âmbito das práticas educacionais para que o professor tenha bons métodos, até mesmo na relação aluno e 15 professor, faz-se necessário, uma verdadeira filosofia na orientação da sua prática educativa. Contudo, Redden e Rian (1973:37) destacam que, “Tal filosofia é básica na formação profissional do professor e dos dirigentes escolares, porque em tal filosofia, se encontram a significação correta do processo educativo e os objetivos últimos para os quais deve a educação ser orientada”. Percebe-se que, tal filosofia leva a compreensão do processo educativo, como tal, para que a construção dos objetivos e os meios sejam mais coerentes com a formação profissional do professor e dos dirigentes escolares. Reconhecendo a relação de interdependência entre filosofia e a educação, Redden e Rian (1973:37) relatam que “não, há verdadeiramente, qualquer aspecto da educação que não dependa da filosofia e nenhum professor pode descurar da integral relação entre filosofia e educação, sem comprometer não só a criança como a sociedade de que ela é membro”. Conclui-se que, a educação depende da Filosofia, e o professor jamais pode desprezar a importância dessa relação sem afetar toda a sociedade. Para Aranha (1993:75) no que diz respeito à Filosofia, fala que, “recupera o processo perdido no imobilismo das coisas feitas (mortas porque já ultrapassadas)”. Com isso, a Filosofia recupera aquilo perdido, o impedido de estagnar. Questionando a educação para explicitar de antemão os fins a serem atingidos no processo educativo, a autora Aranha (1996:16) ressalta que “a educação, como prática, precisa estar em constante abertura para a teoria, porque é o vaivém entre o agir e o pensar que dinamiza a ação, evitando as formas esclerosadas da ideologia”. Sobretudo, a autora explicita a relação entre a prática (o agir) e a teoria (o pensar) que resulta na ação, ou seja, na prática educacional. Ainda dentro dessa perspectiva, Aranha (1996:16) enfatiza a importância da Filosofia na prática educativa, “a filosofia oferece uma importante contribuição, ao acompanhar reflexiva e criticamente a práxis educativa”. Na formação docente, é imprescindível o papel que a Filosofia desempenha. Prosseguindo a ideia de Aranha (1996) constata-se que; O filósofo da educação investiga parte do conhecimento do contexto vivido, a fim de fazer a crítica dos valores decadentes, bem como a dos novos valores, indagando a respeito de que homem se quer formar naquela determinada sociedade e naquele tempo específico. (ARANHA, 1996:17). Tendo em vista que, a filosofia não trabalha com conceitos abstratos, o filósofo investiga os conceitos subjacentes à ação educativa que nem sempre estão explicitados. Quanto à importância da Filosofia na formação docente, Saviani (2004:9) faz algumas reflexões: “[...] Mas em que se baseia essa importância concedida à filosofia? [...] Será que o educador precisa realmente da filosofia? [...] Em outros termos: que é que leva o educador a 16 filosofar?”. Pautando-se, na importância da Filosofia, o autor faz alguns questionamentos pertinentes, que leva-nos a refletir enquanto educadores o significado e a função da Filosofia na formação docente. Nesse sentido, Saviani (2004:9) ressalta que, “[...] Admite-se também que a filosofia desempenha papel imprescindível na formação do educador”. Sabe-se que a Filosofia tem uma dimensão filosófica na educação que, por sua vez, a educação também, possui uma orientação filosófica de grande relevância na formação do educador. O conhecimento filosófico tem por objetivo a compreensão do processo educativo na teórica e na prática, para que o educador tenha capacidade de enfrentar as questões que surgirem ao decorrer do processo, acompanhando reflexivamente e criticamente a prática educativa na busca de transformações. Destarte, Freire (2004) pondera que: O que importa, na formação docente, não é a repetição mecânica do gesto, este ou aquele, mas a compreensão do valor dos sentimentos, das emoções, do desejo, da insegurança a ser superada pela segurança, do medo que, ao ser “educado”, vai gerando a coragem. (FREIRE, 2004, p.45) (Grifo do Autor). Na percepção do autor, entende-se que, o que realmente importa na formação docente é a compreensão dos valores sentimentais, e a superação do medo da aprendizagem que vai determinando a coragem. Conforme afirma Freire (2004:39) a respeito da prática, “Por isso é que, na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensada criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática”. Assim, a Filosofia juntamente com a Educação desenvolve uma das tarefas mais importantes da prática educativa-crítica, onde o ensinar exige reflexão crítica sobre a prática. Ensinar exige compreender que a educação é uma forma de intervenção e de tomada consciente de decisões no mundo, assim Freire (2004:109) expõe que, “Quando falo em educação como intervenção me refiro tanto à que aspira a mudanças radicais na sociedade [...]”. Sendo assim, a educação posta pelo autor como intervenção é aquela que almeja transformações radicais no contexto social, cultural, econômico e político. No âmbito da educação, a filosofia coloca para o educador as questões antropológicas, axiológicas e epistemológicas, e políticas. Assim, essa investigação radical torna a ação educacional mais lúcida. Ao analisar todos os questionamentos sobre o que é educação, Aranha (1996:17) pontua que, “a filosofia contribui para que ela não resulte em adestramento ou qualquer tipo de pseudo-educação, nem que a pedagogia se torne dogmática”. Entende-se que, a Filosofia contribui com a educação para que ela não se torne simplesmente uma forma de treinamento. 17 A esse propósito, ao denunciar as formas ideológicas com que utilizam a educação como instrumento do poder, nota-se, a importância da filosofia da educação. Em suma, concorda-se com Aranha (1996:19) quando afirma que, “a educação não é um fenômeno neutro, mas sofre os efeitos da ideologia, por estar de fato envolvida na política”. Assim, as questões de educação são geradas nas relações que os homens estabelecem ao produzirem sua existência. A educação é talvez a avaliação decisiva do pensamento filosófico. Ela permite discernir o sentido humano dos debates filosóficos além dos aspectos técnicos, colocando os conceitos mais abstratos à prova da prática, apontando que a Filosofia não é somente tarefa de especialistas que detém todo um conhecimento. CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta pesquisa buscou entender a Filosofia e a Educação, sendo necessário conceituá-las. Com o objetivo de uma melhor compreensão da Filosofia e da Educação, buscamos saber as suas finalidades sem aprofundar no seu contexto histórico. Por fim, abordamos a questão da relação entre elas, fazendo uma pequena ponderação de como ocorre na prática educativa, e sua importância na formação do educador, enfatizando-se, também, a concepção dos filósofos e de alguns autores sobre Filosofia e Educação. Assim, fizemos um breve apanhado sobre a Filosofia, a Educação e a Prática Educativa na Formação Docente, e a partir desse contexto teceremos as considerações finais. Pode-se vê que a Filosofia e a Educação são dois conceitos que geram amplas e complexas discussões. O mais importante é aprender a filosofar, que significa retomar, reconsiderar os dados disponíveis, revisar, examinar detidamente, prestar atenção e analisar com cuidado, e não aprender uma série de definições e teorias. Segundo Saviani (1973), para que uma reflexão possa ser chamada filosófica é necessário, a radicalidade, o rigor e a globalidade. Já se vê que, a Filosofia é uma ciência radical no sentido em que ela vai às raízes das questões, onde as outras ciências se dão por satisfeitas, ela continua a indagar e a perscrutar. Quanto à utilidade da filosofia, trata-se da ampla esfera dos problemas filosóficos. “Uma concepção geral do mundo da qual decorre uma forma de agir”. Quanto a sua prática, a Filosofia no seu sentido (existência) amplo está presente em todas as ações humanas, pois 18 todos agem de acordo com uma determinada concepção de mundo. No sentido mais estrito, uma reflexão crítica sobre o sentido da vida, das coisas, das ações. Quanto à Educação, questiona-se o seu significado e a sua relação com a Filosofia. A Educação é um problema filosófico quando indagamos: Qual a utilidade da educação? Onde e como é praticada? Em que condições? Quanto à relação da Filosofia e da Educação, questiona-se. “A educação é um ato político”. O que tem a ver com a filosofia? Essas considerações nos advertem que a educação não pode ser definida como neutro, uma vez que se encontra intrinsecamente ligado aos problemas econômicos, políticos e sociais. De acordo com o que vimos, podemos conceituar a Filosofia como sendo uma reflexão (radical, rigorosa e de conjunto) sobre os problemas que a realidade apresenta. Quanto à tarefa da Filosofia da Educação é colocar-se à escuta, formar-se e informar-se, tomar o sentindo da situação da educação e de seus problemas. Refletir, criticar, problematizar a situação constatada. Quanto à finalidade da Educação são diálogos interdisciplinares (antropologia, política, economia, etc). A quem essa educação deve se dirigir; como deve se dirigir. Colocar os recursos e as possibilidades de execução; Levantar novas pistas e apresentar novos projetos; Considerar reflexões realizadas em outros contextos contemporâneos ou dialogando com o passado. A ideia da filosofia é levantar a situação, refletir para transformar. O desenvolvimento da pesquisa proporcionou uma compreensão acerca da temática filosofia, educação e prática educativa, uma vez que deixa explícita a relação interdependente entre Filosofia e Educação, pontuando a Filosofia como forma de conhecimento, e a reflexão crítica que elas possibilitam na prática educativa. Assim, a pesquisa possibilitou a articulação teoria-prática, na resolução de situações problemas e na reflexão sobre a formação docente. Dessa forma, nota-se a importância das temáticas nos cursos de formação de professores e no aprofundamento do assunto, buscando compreender a importância da filosofia e da educação na formação do educador. Com o resultado da pesquisa, foi possível confirmar a hipótese levantada no início desse trabalho. Após esse resultado, concluiu-se a importância da filosofia e da educação na formação docente. A filosofia possibilita ao educador fazer uma reflexão crítica permanente sobre a sua prática, através da qual o educador avalia o seu próprio fazer com os educandos. Assim, o educador estará diminuindo a distância entre o discurso e a prática. A Filosofia da Educação é considerada indispensável na formação do educador, quando é encarada como uma reflexão radical, rigorosa e de conjunto sobre os problemas que a realidade educacional apresenta. No âmbito educacional, a Filosofia 19 possibilita refletir criticamente, questionar a realidade natural e humana em sua dimensão existencial, política, social, e no campo educativo busca fazer uma reflexão crítica acerca das práticas educativas. Podemos através do desenvolvimento dessa pesquisa, explicitar a importância da Filosofia, o sentido e a tarefa da filosofia na educação. Por fim, os problemas que o educador encontra ao realizar a prática educativa o levam a filosofar. Dessa forma, a Filosofia possibilita aos educadores uma maneira de reflexão, permitindo-lhes encarar os problemas educacionais, aprofundando-os na sua complexidade para a solução de eventuais questões. A Filosofia da educação sendo uma reflexão sobre os problemas que surgem nas atividades educacionais, enquanto educadores ela pode contribuir para que alcancemos o nosso objetivo, ajudando-nos a entender melhor o fenômeno educacional. Assim, toda educação tem uma orientação filosófica. Entretanto, a partir de tais questionamentos que fazemos, estamos procurando determinar aquilo que provoca o surgimento dessa atitude não comum e, não espontânea à vivência humana. Desta maneira, nos descobrimos existindo no mundo, existência esta que é agir, pensar, sentir. Tal existência deriva normalmente, até que algo interrompe o seu curso, interfere no processo alterando a sua ordem natural. Então, somos levados a nos questionarmos, apreendermos e examinarmos em busca desse algo. Entretanto, o ponto de partida da Filosofia são os problemas que nos levam a filosofar, ou seja, os problemas que encontramos no decurso de nossa vida. Então, a Filosofia é o afrontamento dos problemas que a realidade apresenta, é primeiramente uma atitude tomada perante a esse fato que respondemos com a reflexão. E como a educação visa o homem, é conveniente começar por uma reflexão sobre a realidade humana. Destarte, a tarefa da Filosofia da Educação será oferecer aos educadores um método de reflexão que lhes permita encarar os problemas educacionais, penetrando na sua complexidade e encaminhando a solução de questão. A relação entre os meios e os fins na educação, ou seja, como usar os meios antigos em função de objetivos novos? A relação entre teoria e prática, ou seja, como a teoria pode dinamizar ou cristalizar a prática educacional? A questão problemática da atividade educacional é o que explica a importância e a necessidade da reflexão filosófica parar o educador. Portanto, é de grande relevância que o educador tenha desenvolvido uma capacidade de refletir profundamente, rigorosamente, senão suas possibilidades de êxito estarão diminuídas. 20 REFERÊNCIAS ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. MARTINS, Maria Helena Pires. FILOSOFANDO: Introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna Editora, 1993. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação. 2 ed. São Paulo: Moderna, 1996. BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação? 30º Edição. São Paulo: Brasiliense, 1995. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários a prática educativa. 30 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2004. GADOTTI, Moacir. Pedagogia da Práxis. São Paulo: Cortez, 1995, p.47-63. GADOTTI, Moacir. Histórias das Idéias Pedagógicas. 4º ed. São Paulo: Ática, 1996. GILES, Thomas Ranson. Filosofia da Educação. São Paulo: EPU, 1983, p.11-66. GHIRALDELLI JUNIOR, Paulo. Introdução: Infância escola e filosofia da educação. In:_______. História da educação brasileira. São Paulo: Cortez, 2008, p.13. 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