APLICAÇÕES DE CÁLCULO DIFERENCIAL E INTEGRAL I NA ENGENHARIA ELÉTRICA Paola C. Franzini – [email protected] Denise H. L. Ferreira – [email protected] Pontifícia Universidade Católica de Campinas Centro de Ciências Exatas, Ambientais e de Tecnologias Rodovia D. Pedro I, km 136 – Parque das Universidades CEP 13086-900 Campinas, SP Resumo: Muitas pesquisas têm mostrado que os alunos do curso das engenharias normalmente apresentam muitas dificuldades na disciplina de Cálculo Diferencial e Integral I, é possível que uma das razões esteja relacionada com as dificuldades em conteúdos matemáticos que trazem consigo de séries anteriores e, também por outro lado, por vivenciarem muitas vezes um ensino descontextualizado da realidade. Nesse sentido, abordamos neste trabalho algumas aplicações reais do curso de Engenharia Elétrica relacionadas à disciplina em questão de forma que o aluno possa visualizar a vinculação com o curso escolhido e ao mesmo tempo auxiliar o docente em suas atividades Palavras-chave: Ensino e aprendizagem, Cálculo I, Engenharia Elétrica 1 INTRODUÇÃO Tendo em vista as dificuldades apresentadas pelos diversos alunos das engenharias no ensino e aprendizagem na disciplina de Cálculo Diferencial e Integral I, parece oportuno investir em problemas relacionados com a área de engenharias, na tentativa de dar mais sentido a essa aprendizagem. Na tentativa de minimizar esse problema, torna-se necessário investir em outras estratégias de ensino e aprendizagem, como por exemplo, a Modelagem Matemática, pois a utilização dessa estratégia possibilita o tratamento de situações reais, resgatando a investigação, a construção dos conteúdos matemáticos, a reflexão e a argumentação crítica. Nessa linha, Skovsmose (2001) afirma que um dos objetivos da Educação Matemática é habilitar os alunos em aplicar a Matemática na sociedade, utilizando-a no entendimento da realidade. A sua preocupação está voltada para a formação de alunos com poder de argumentação através do pensamento reflexivo, com comprometimento com a realidade. Para o autor, trazer essa perspectiva para as aulas de Matemática pode desenvolver a capacidade de perceber a importância da Matemática na estrutura social e política da sociedade, focada na formação da cidadania e das consciências política e social do estudante, que busca valorizar as habilidades individuais necessárias para uma efetiva participação em uma sociedade democrática. Para Bassanezi (2002, p. 16), “A Modelagem Matemática consiste na arte de transformar problemas da realidade em problemas matemáticos e resolvê-los, interpretando suas soluções na linguagem do mundo real”. Nesse ambiente, as ações são voltadas a experimentação, visualização, interpretação, previsão. Além disso, a Modelagem Matemática pode auxiliar os alunos a identificarem aplicações em outras áreas do conhecimento e em diferentes contextos. Muitas das habilidades requeridas para o engenheiro, tais como: raciocinar, analisar e argumentar com clareza, demonstrar idéias, lidar com informação e tecnologia podem ser favorecidas através do desenvolvimento de atividades de aprendizagem dessa natureza, pois requer interação, colaboração, cooperação, participação ativa, envolvimento em atividades de estudo, socialização de idéias, capacidade de argumentação e síntese, capacidade de expressar idéias próprias, disposição para rever resultados obtidos. É comum os alunos utilizarem várias ferramentas matemáticas no cotidiano sem se dar conta disso. Contudo, quando esses conceitos são formalizados matematicamente, tudo o que parecia trivial passa a ser encarado como uma situação complexa, gerando insegurança e incertezas. Esse fato freqüentemente ocorre com os alunos ingressantes na disciplina de Cálculo Diferencial e Integral I. Nos últimos anos, alguns livros de Cálculo Diferencial e Integral como os de Anton, Bivens e Davis (2007), Stewart (2006) e Thomas et al (2005) abordam aplicações da matemática em situações do cotidiano. Sobretudo para o aluno de Engenharia, a aprendizagem de conceitos matemáticos pode ser auxiliada ao trabalhar com a aplicação desses conceitos em problemas reais através do uso da tecnologia, dando mais sentido para essa aprendizagem. Zbiek e Conner (2006) destacam alguns objetivos a serem alcançados ao se trabalhar com a Modelagem Matemática em sala de aula, como, por exemplo, preparar os alunos para trabalhar profissionalmente com a Modelagem, motivar os alunos mostrando para eles as aplicabilidades das idéias matemáticas no mundo real, e fornecer oportunidades para que os estudantes a integrem com outras áreas do currículo. Os apontamentos acima nos levaram a interagir com professores da área para levantar dados, informações e problemas relacionados especificamente com a área de Engenharia Elétrica com a finalidade de construir modelos matemáticos que utilizam conceitos do Cálculo Integral e Diferencial I. Na seção 3 detalhamos duas aplicações da Engenharia Elétrica relacionadas com a disciplina Cálculo Diferencial e Integral I. 2 OBJETIVOS O objetivo principal deste trabalho é favorecer o processo de ensino e aprendizagem da disciplina de Cálculo Diferencial e Integral I, sobretudo para alunos do curso da Engenharia Elétrica, por intermédio de assuntos relacionados com a realidade do curso. Podemos destacar como objetivos complementares: Promover relações entre diferentes disciplinas presentes no currículo; Auxiliar o docente no processo de ensino. Deixar o aluno mais motivado para a aprendizagem da disciplina 3 APLICAÇÕES Para esse trabalho abordamos duas aplicações relacionadas com a área de Engenharia Elétrica. A primeira delas envolveu um experimento realizado para estudar a lei de Ohm e a segunda foi feita a análise de dados da temperatura e potência levantados por um docente da Faculdade de Engenharia Elétrica. A seguir detalhamos as duas aplicações. 3.1 Lei de Ohm Quando uma corrente elétrica é estabelecida em um condutor metálico, um número muito elevado de elétrons livres passa a se deslocar nesse condutor. Nesse movimento, os elétrons colidem entre si e também contra os átomos que constituem o metal. Portanto, os elétrons encontram uma certa dificuldade para se deslocar, isto é, uma resistência elétrica, que pode ser definida como a capacidade de um corpo qualquer se opor à passagem de corrente elétrica pelo mesmo. Seu cálculo é dado pela Lei de Ohm. Neste experimento, discutiremos a Lei de Ohm para resistores ôhmicos e não ôhmicos, através de gráficos e alguns questionamentos relacionados ao Cálculo Diferencial I. Os instrumentos utilizados no experimento foram: multímetro e o apinel de acrílico. O multímetro é destinado a medir e avaliar grandezas elétricas, um Multímetro ou Multitester é um instrumento que pode ter mostrador analógico (de ponteiro) ou digital. Aparelho utilizado como voltímetro, amperímetro e ohmímetro por padrão. A função do Multitester pode ser escolhida através da chave seletora localizada abaixo do painel. O painel de acrílico para associações de resistores é uma mesa auxiliadora para a utilização de resistores e outros cálculos relacionados a estes. Os procedimentos realizados estão listados abaixo. Procedimento 1 Medir dez valores de V (diferença de potencial) entre 1,0 e 10,0 volts e obter o valor de I (corrente na escala mA) no amperímetro (Tabela 1) e o gráfico correspondente obtido no Excel (Figura 1). Tabela 1- Dados referentes ao procedimento 1 Va Iab b (V) (mA) 1,0 9,9 20, 2,0 6 29, 3,0 7 39, 4,0 6 49, 5,0 2 58, 6,0 8 68, 7,0 5 77, 8,0 7 87, 9,0 1 10, 96, 0 6 Vab (V) X Iab (mA) 12,0 10,0 Vab (V) 8,0 6,0 4,0 2,0 0,0 0 20 40 60 80 100 120 Iab (mA) Figura 1 – Gráfico relacionando tensão e corrente entre os pontos a e b Este procedimento pode suscitar as seguintes questões: 1) Ache o coeficiente angular e linear da reta: Coeficiente linear (onde a reta intercepta o eixo y) = 0 Coeficiente angular = ΔV / ΔI = V – Vo / I – Io = 8 - 2,4 / 77,7 - 24 = 0,104 2) Qual é a equação da reta? f(x) = ax + b f(x) =0,104*x + 0 onde, o f(x) é a voltagem entre a e b (Vab) e o x é a corrente entre a e b (Iab). Logo, a equação da reta é V(I) = 0,104*I . Pela Primeira Lei de Ohm, sabemos que a diferença de potencial, V, dividido pela corrente eléctrica, I , é resistência do resistor, R (1). (1) Então pela equação da reta obtida, deduzimos que o coeficiente angular dela (0,104) é o valor da resistência, já que esta grandeza é constante. E podemos também observar que se multiplicarmos a voltagem com a corrente experimentais, a resistência obtida será valores próximos ao do coeficiente angular. Procedimento 2 Integrando uma lâmpada ao circuito, fazer uma nova tabela envolvendo voltagem e corrente (Tabela 2) e o gráfico correspondente obtido no Excel (Figura 2). Tabela 2- Dados referentes ao procedimento 2 Vab (V) Iab (A) 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0 9,0 10,0 0,32 0,57 0,74 0,83 0,98 1,06 1,16 1,28 1,38 1,48 Vab (V) X Iab (A) 12,0 10,0 Vab (V) 8,0 6,0 4,0 2,0 0,0 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 1,6 Iab (A) Figura 2 – Gráfico relacionando tensão e corrente entre os pontos a e b com a presença de uma lâmpada Qual a diferença entre os gráficos da Figura 1 e Figura 2? O gráfico da Figura 1 é uma reta, logo obedece a Lei de Ohm (R = constante), já o gráfico da Figura 2 não obedece esta lei, pois sua resistência é variável, devido a presença da lâmpada. Através de estudos experimentais, Georg Simon Ohm concluiu que, mantendo-se a temperatura constante, a resistência elétrica de alguns condutores, como os metais e a grafite, não variam quando se modifica a tensão nos seus terminais. Tais condutores são denominados condutores ôhmicos ou lineares. Os demais condutores são denominados não ôhmicos ou não lineares, como, por exemplo, gás contido em um tubo de iluminação. Qual o valor da resistência da lâmpada? O aumento da temperatura no filamento da lâmpada aumenta a sua resistência, pois a curva de U x I acentua-se à medida que a corrente aumenta. Isto se deve ao fato que o filamento sofre um aquecimento, pois ele é basicamente um metal, este aquecimento aumenta sua resistividade elétrica. O experimento permite concluir que certos tipos de materiais não obedece à lei de Ohm, isto é, não possuem um comportamento linear. 3.2 Temperatura e potência A Tabela 3 apresenta os dados referentes às variações na potência e na temperatura ao longo do tempo obtidas por um sensor instalado na praça da alimentação da universidade em questão no dia 08 de outubro de 2008. O evento 0 corresponde a hora 17,26, o evento 1 corresponde a 17, 27 e assim por diante. Tabela 3 – Dados da temperatura e potência medidos por alunos da Engenharia Elétrica Evento Temperatura média Potência média(W) Potência média (dBm) 0 21,0667 7,92383E-09 1 21,16 9,02023E-09 -52,16666667 -51 2 21,2 9,58866E-09 -50,2 3 21,2 1,04315E-08 -49,83333333 4 21,2 9,52023E-09 -50,4 5 21,2667 6,02449E-09 -53,5 6 21,2 3,77204E-10 -64,4 7 21,2 4,90149E-10 -63,2 8 21,2 4,57391E-10 -64,16666667 9 21,2 2,73992E-09 -57,4 10 21,24 3,95043E-09 -56,6 11 21,2 3,69848E-09 -54,5 12 21,2 5,11863E-09 -53 13 21,2 4,18821E-09 -53,83333333 14 21,2 3,35972E-09 -54,8 15 21,2 4,44677E-09 -53,6 16 21,1667 3,87994E-09 -54 17 21,2 3,4898E-09 -54,6 18 21,2 2,30524E-09 -56,4 19 21,2 5,11897E-09 -54 20 21,12 8,76597E-09 -50,6 21 21,12 0,00000001 -50 22 21,2 1,00888E-08 -50 23 21,16 1,06244E-08 -49,8 24 21,1 1,00888E-08 -50 25 21,12 8,76597E-09 -50,6 26 21,16 1,10357E-08 -49,6 27 21,1 1,12946E-08 -49,5 28 21,2 2,16719E-09 -57,6 29 21,12 4,26288E-09 -54,4 30 21,1334 5,66072E-09 -52,5 31 21,12 6,63632E-09 -51,8 32 21,08 6,96306E-09 -51,6 33 21,0334 6,30957E-09 -52 34 21,08 6,30957E-09 -52 35 21,0667 5,54492E-09 -52,66666667 36 21,12 4,43579E-09 -53,6 37 21 2,04393E-09 -63,4 38 21,0334 1,23936E-11 -84 39 21,04 7,51832E-12 -84,5 40 20,96 6,70729E-12 -85,2 41 21,4857 3,75721E-11 -75 42 21,76 2,80944E-11 -80,2 43 21,92 1,53438E-11 -83,2 44 22 8,78549E-12 -82,5 45 22 6,39256E-12 -86,6 46 22,04 4,08675E-11 -75,8 47 22 7,27815E-10 -69,33333333 48 22 8,92917E-10 -66,2 49 22 0,000166667 -57,5 Com esses dados em mão, primeiramente tentamos explorar a possibilidade de relacionar temperatura e potência através da opção análise de tendência da planilha Excel. Entretanto, a análise mostrou nenhuma relação entre essas variáveis, fato que pode ser confirmado com o docente responsável pelos dados. Diante dessa situação, decidimos analisar essas variáveis separadamente por intermédio de gráficos obtidos na planilha Excel (Figura 3 e Figura 4). Evento X Temperatura (ºC) 22,2 22 Temperatura (ºC) 21,8 21,6 21,4 21,2 21 20,8 0 10 20 30 40 50 60 Eventos Figura 3 – Gráfico relacionando a temperatura ao longo do tempo Eventos X Potência (dBm) 0 0 10 20 30 40 50 60 -10 -20 Potência (dBm) -30 -40 -50 -60 -70 -80 -90 -100 Eventos Figura 4 – Gráfico relacionando a potência (intensidade de sinal) ao longo do tempo Algumas questões foram formuladas: 1) O gráfico da temperatura em função do tempo sugere a forma analítica de uma função? Qual? Caso não seja possível, a função por partes pode ser considerada? 2) A função é periódica? É contínua? 3) Em quais intervalos a função é crescente ou decrescente? 4) Qual o ponto de mínimo e de máximo? 5) Calcule os limites à direita e à esquerda em alguns períodos de tempo. Analogamente, essas questões podem ser formuladas para o gráfico da potência em função do tempo. Além das questões propostas acima, decidimos validar que o valor médio de uma função contínua (supondo neste caso as funções temperatura e potência) no intervalo [a,b] é dado por (2). b M( f ) 1 f ( x )dx b a a (2) Supondo que não temos a foram analítica da função que representa os dados de temperatura da Tabela 3 vamos aproximar a integral pela Regra do Trapézio, dada por (3). b T f ( x)dx a h f ( x0 2 f ( x1 ) 2 f ( x2 ) .... 2 f ( xn1 ) f ( xn )) 2 (3) onde h é a diferença entre os intervalos de tempo Através da Regra do Trapézio obtemos (4). T = 1/2 ( 21,0667 + 2*21,16 + 2*21,2 + . . .+ 2*22 + 22) (4) T = 1042,6393 Pelo valor médio temos (5). M(f ) 1 T , onde a = 0 e b = 49 ba (5) Assim, M(f) =1042,6393 / (49 – 0), ou seja, M(f) = 21,1702 Então, a média da temperatura através da Regra do Trapézio é 21,1702°C. Se considerarmos todos os pontos, obtemos que a temperatura média é 21,283454°C. Podemos observar que os valores obtidos (pelo teorema e pela média) são bastante próximos. Repetindo o raciocino acima para a potência (intensidade de sinal) em dBm, temos que: Através da Regra do Trapézio obtemos (6). P = 1/2 (-52,1667+ 2*(-51) + 2* (-50,2)+ . . .+ 2*(-66,2) + (-57,5) ) P = -2918,4667 (6) Pelo valor médio temos (7). M(f ) 1 P , onde a = 0 e b = 49 ba (7) Assim, M(f) = - 2918,4667 /(49 – 0), ou seja, M(f) = - 59,5605449. Se considerarmos todos os pontos, obtemos que a potência média é -59,466 dBm. Podemos observar que os valores obtidos (pelo teorema e pela média) são bastante próximos. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho é fruto de algumas inquietações a respeito do ensino e aprendizagem da disciplina de Cálculo I nas engenharias. É comum encontrarmos elevados índices de reprovação nessa disciplina pelos alunos desses cursos. Dessa forma, se faz necessário investir em outras estratégias de ensino e aprendizagem, como por exemplo, o uso das tecnologias e da Modelagem Matemática. O uso das tecnologias, porque cada vez mais essa área nos surpreende com diversas inovações, úteis para o aprendizado. A utilização da Modelagem Matemática se justifica porque possibilita o tratamento de situações reais, resgatando a investigação, a construção dos conteúdos matemáticos, a reflexão e a argumentação critica. Como destaca Blum (1995), a motivação para aprender matemática, a facilitação para essa aprendizagem, a preparação para a utilização da matemática em diferentes áreas do conhecimento, e o desenvolvimento de habilidades gerais de exploração e compreensão do papel da matemática na sociedade, são argumentos favoráveis para a abordagem da modelagem matemática na sala de aula. E nessa mesma linha, Zbiek e Conner (2006), além de reforçar a motivação para a aprendizagem, a partir da visualização das aplicabilidades da matemática no mundo real, vêem na preparação dos alunos para trabalhar profissionalmente com a modelagem e na possibilidade da integração da matemática com outras áreas do conhecimento, outros fatores que contribuem favoravelmente para a adoção da modelagem como estratégia pedagógica. Nessa direção, entramos em contato com professores do curso de Engenharia Elétrica que ministram disciplinas da área para obter problemas e dados da área. Este contato c permitiu contextualizar alguns conteúdos da disciplina de Cálculo Diferencial e Integral I. Ao mesmo tempo que o processo da Modelagem Matemática proporcionou ter uma visão de caráter prático e utilitário da Matemática, desenvolvendo uma visão crítica quanto ao resultado obtido. Embora seja bastante presente o desejo dos alunos pela associação entre a realidade e os conteúdos matemáticos vistos na sala de aula (FERREIRA; BRUMATTI, 2009a), é também grande a dificuldade de concretizar essa associação. Essa dificuldade pode ser explicada por diversos motivos, como por exemplo, a carga excessiva de trabalho do professor; a dificuldade dos alunos em conteúdos matemáticos (FERREIRA; BRUMATTI, 2009b); a exigência do ambiente de trabalho, restando pouco tempo para os afazeres escolares. Relacionar o conteúdo matemático com o dia-a-dia do trabalho não é uma tarefa fácil, já que, além da rigidez que em geral caracteriza os currículos, tal relacionamento exige, dos alunos, tempo disponível para atividades externas (pesquisas, trabalhos em grupo, visitas a empresas ou entidades, etc.) que extrapolam o cotidiano da sala de aula. Essa situação se agrava em cursos noturnos, onde a maioria dos alunos trabalha durante o dia e não dispõe de tempo para atividades extraclasse. Acreditamos, entretanto, que, mesmo com essas dificuldades, esse relacionamento entre a matemática curricular e a realidade do aluno, além de atender a alguns dos anseios da comunidade estudantil, contribui para tornar a aprendizagem mais significativa e, conseqüentemente, proporciona melhores resultados acadêmicos. A pesquisa apenas está iniciando com a apresentação de conteúdos da disciplina de Cálculo Diferencial e Integral I com assuntos da Engenharia Elétrica. Os exemplos ilustrados na seção 3 podem ser úteis tanto para os docentes da disciplina como para os alunos do curso. Entretanto, a pesquisa deve continuar na direção de construir outros exemplos, bem como envolver os alunos no ambiente da Modelagem Matemática, para que eles mesmos possam construir os seus próprios modelos, favorecendo a construção de um ambiente onde os alunos façam simulações e analogias, na medida em que um mesmo modelo pode ser útil na representação de diferentes situações, auxiliando os alunos na identificação de aplicações em outras áreas do conhecimento e em diferentes contextos. 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANTON, H.; BIVENS, I.; DAVIS, S. Cálculo: um novo horizonte, 8 ed., Porto Alegre: Bookman, 2007. 581 p. BASSANEZI, R. C. Ensino-Aprendizagem com Modelagem Matemática: uma nova estratégia. São Paulo: Contexto, 2002. 389 p. BLUM, W. Applications and Modeling in mathematics teaching and mathematics education – some important aspects of practice and of research. In: SLOYER, C. et al (Eds.). Advances and perspectives in the teaching of Mathematical modeling and Applications. Yorklyn, DE: Water Street Mathematics, 1995, p. 1-20. FERREIRA; D. H. L.; BRUMATTI, R. N. M. Vantagens e dificuldades em trabalhar com problemas reais no ensino da Matemática, Anais do VI Congresso Iberoamericano de Educación Matemática, Puerto Montt, Chile, 2009a, p. 1692-1698 FERREIRA, BRUMATTI, R. N. M. Um olhar voltado para alunos com dificuldades em Matemática num curso de Engenharia Elétrica, Anais do VI Congresso Iberoamericano de Educación Matemática, Puerto Montt, Chile, 2009b, p. 949-955. SKOVSMOSE, O. Educação Matemática Crítica, Papirus, 2001. 160 p. STEWART, J. Cálculo. 5 ed. São Paulo: Pioneira, 2006. 581 p. THOMAS, G. B.; FINNEY, R. L.; WEIR. M. D.; GIORDANO, F. R. Cálculo. 10 ed. São Paulo: Addison Wesley, 2005. 660 p. ZBIEK, R. M., CONNER, A. Beyond Motivation: exploring mathematical modeling as a context for deepening students’ understanding of curricular mathematics. Educational Studies in Mathematics. v. 63, n. 1, p. 89-112, 2006. DIFFERENTIAL AND INTEGRAL CALCULUS I IN ELECTRICAL ENGINEERING Abstract: Many researches have show that the Engineering Course students usually present many difficulties at the discipline of Differential and Integral Calculus I, it is possible that one of the reasons for that is related to the difficulties in mathematical contents brought in from previous education levels and, on the other hand, for having being taught at an out of reality context. In such sense, we approach in the article some real applications at the Electrical Engineering Course related to the subject discipline in such a way that the student can envision the connection with the chosen course and, at the same time help the teacher on its activities. Key words: Teaching and learning, Calculus I, Electrical Engineering