Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255 TEM ATUALIDADE A PROPOSTA EDUCATIVA KANTIANA? Hudson Ribeiro1 Moramey Regattieri2 Resumo O presente trabalho pretende refletir sobre o conhecimento a partir da perspectiva filosófica, notadamente as idéias Kantianas, destacando os conceitos centrais do apriorismo. A Filosofia é uma reflexão crítica, radical e global sobre o cosmos, o homem e toda a realidade. Revisando a obra Kantiana podemos afirmar que o Filósofo defende, como proposição primeira, a ideia de que todas as disposições naturais de uma criatura estão destinadas a um dia se desenvolver completamente e conforme um fim, por isso afirma que o homem é a única criatura que precisa ser educada. Os princípios da ética kantiana são imperativos categóricos, incondicionados. A ética de Kant não é uma ética que dita conteúdos, mas sim normas formais. Palavras-chave: Teoria. Filosofia. Conhecimento. Educação. Esclarecimento. Mestrando em Educação, professor da Rede Municipal de Vitória , e-mail: [email protected] 2 Mestranda em Educação, servidora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do ES, e-mail: [email protected] 1 Castelo Branco Científica - Ano II - Nº 04 - julho/dezembro de 2013 - www.castelobrancocientifica.com.br 1 Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255 TODAY IS THE PROPOSED EDUCATIONAL KANTIAN? Abstract The text aims to reflect on the knowledge from the philosophical perspective, notably the Kantian ideas, highlighting the central concepts of apriorism. Philosophy is a critical, radical and comprehensive about the cosmos, man and all reality. The Philosopher argues, as the first proposition, the idea that all natural dispositions of a creature are destined to one day develop fully as an end and therefore asserts that man is the only creature who needs to be educated. The principles of ethics are Kantian categorical imperatives, unconditioned. Kant’s ethics is not an ethics that dictates content, but formal rules. Key words: Theory. Philosophy. Knowledge, Education. Clarification. INTRODUÇÃO Somos capazes de conhecer a verdade? É possível ao sujeito apreender o objeto? Afinal, quais são as possibilidades do conhecimento humano? As respostas dadas a essas questões levaram ao surgimento de duas correntes básicas e antagônicas na história da filosofia: O Ceticismo que diagnostica a impossibilidade de conhecermos a verdade e o Dogmatismo que defende a possibilidade de conhecermos a verdade. O Criticismo desenvolvido pela filosofia de Kant no século XVIII representa uma tentativa de superação do impasse criado pelo ceticismo e o dogmatismo. A deontologia Kantiana apoia-se nos princípios éticos da liberdade e da vida e tem como fundamentação teórica a razão prática e a vontade. 2 Castelo Branco Científica - Ano II - Nº 04 - julho/dezembro de 2013 - www.castelobrancocientifica.com.br Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255 JUÍZOS KANTIANOS Toda a dissertação do filósofo moderno Immanuel Kant gira em volta da resposta à pergunta sobre o esclarecimento (aufklärung). Esclarecimento significa a saída do homem de sua minoridade, pela qual ele próprio é responsável. A minoridade é a incapacidade de se servir de seu próprio entendimento sem a tutela de um outro. As principais causas que impedem o esclarecimento estão no comodismo, na preguiça e na covardia. Por isso é que os homens não sabem como lidar com a liberdade isto é, a de fazer um uso público de sua razão em todos os domínios; essa liberdade os levariam ao Esclarecimento. A liberdade humana é o fundamento de nossas ações e princípio de vida, fazendo parte essencial na prática moral. A doutrina moral de Kant é independente de qualquer sentido religioso. Sua moral exclui a noção de intenção como elemento de uma alma pura, e o dever não é uma obrigação a ser seguida em virtude de um ente superior. Intenção e dever (em Kant) dependem do sujeito epistemológico (eu transcendental) e não do eu psicológico (indivíduo). Para Kant, o sujeito transcendental trata-se de uma maquinaria (aparelho cognitivo) subjetiva, universal e necessária (presente em todos os homens, em todos os tempos e em todos os lugares). Assim, todo ser saudável possui tal aparato, formado por três campos: a razão, o entendimento (categorias) e a sensibilidade (formas puras da intuição-espaço e tempo). Em Kant, a razão (faculdade das ideias) é que preserva os princípios que articulam intenção e dever conforme a autonomia do sujeito. Desse modo segue-se que tais princípios não podem ser negados sem autocontradição. Daí deriva a ideia de liberdade kantiana, de um caráter sintético a priori, Castelo Branco Científica - Ano II - Nº 04 - julho/dezembro de 2013 - www.castelobrancocientifica.com.br 3 Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255 sendo que sem liberdade não pode haver nenhum ato moral; para sermos livres, precisamos ser obrigados pelo dever de sermos livres. O caminho do esclarecimento passa pela mudança de pensamento das pessoas. Tal como o dogmatismo, acredita na possibilidade do conhecimento, mas se pergunta pelas reais condições nas quais seria possível esse conhecimento. Trata-se de uma posição crítica diante da possibilidade de conhecer. O resultado da análise de Kantiana é a distinção entre o que nosso entendimento pode conhecer e o que não pode. Assim o criticismo admite a possibilidade de conhecer, mas esse conhecimento é limitado e ocorre sob condições específicas, apresentadas por Kant na obra Crítica da razão pura (entre a experiência e a razão). Apresenta-se a posição filosófica conhecida como Apriorismo Kantiano que busca um meio termo para as distintas visões filosóficas: empirismo (considera a experiência) e o racionalismo (afirma ser a razão humana a verdadeira fonte do conhecimento). Kant afirma que todo conhecimento começa com a experiência, mas que a experiência sozinha não nos dá o conhecimento. É preciso um trabalho do sujeito para organizar os dados da experiência. Kant buscou saber como é o sujeito a priori, isto é, o sujeito antes de qualquer experiência, e conclui que existem no homem certas faculdades ou estruturas (as quais ele denomina formas da sensibilidade e do entendimento) que possibilitam a experiência e determinam o conhecimento. Para Kant a experiência forneceria a matéria do conhecimento (os seres do mundo), enquanto a razão organizaria essa matéria de acordo com suas formas próprias, estruturas existentes a priori no pensamento (daí o nome apriorismo). 4 Castelo Branco Científica - Ano II - Nº 04 - julho/dezembro de 2013 - www.castelobrancocientifica.com.br Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255 A REVOLUÇÃO KANTIANA: O SER COGNESCENTE Para refletirmos acerca da contribuição kantiana na área da educação, necessário se faz percebê-la não como algo fortuito, mas sim, como desdobramento do seu sistema filosófico, que elevou a razão a um patamar nunca antes alcançado, ao realizar a síntese entre a concepção racionalista e a concepção empirista em torno do problema da origem do conhecimento, contribuição esta que teve repercussões fundamentais tanto no campo ético, como no campo estético. Problemática que se desenrolava desde os primórdios da Filosofia com Parmênides e Heráclito, e o debate acerca da mobilidade ou imobilidade do ser; perpassando Platão e Aristóteles, eternizado na pintura do genial italiano Rafael Sanzio, onde o filósofo da Academia aparece apontado para o céu, em uma referência ao mundo das ideias e o Estagirita, indicando a Terra, emblematizando uma das suas famosas sentenças quando diz que nada há no intelecto, que não tenha passado pela experiência. Na Idade Moderna tal embate encontrará nas figuras do francês Descarte (Penso, logo existo) e do inglês Locke (a mente como tábula rasa) os seus expoentes maiores. E mais tarde, por outros desdobramentos da mesma questão, o suíço Rousseau (enaltecerá a paixão) e o francês, Voltaire (apologizará a razão). A questão se encontrava como que em uma gangorra filosófica, ora vigorava o Dogmatismo, a crença absoluta na capacidade cognoscível do ser humano; ora vigorava o Ceticismo, a negação radical da possibilidade do ser humano alcançar o conhecimento. O próprio Kant admite que foram as reflexões do escocês Hume, que o arrancaram do sono dogmático, quando este invalidou a associação de ideias, principalmente a da causa e efeito, como fonte segura do conhecimento concebendo-a apenas como resultante do costume dos fatos reiteradamente acontecidos. Castelo Branco Científica - Ano II - Nº 04 - julho/dezembro de 2013 - www.castelobrancocientifica.com.br 5 Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255 Não se pode compreender o sistema do filósofo prussiano, sem entender a revolução análoga à realizada pelo polonês Copérnico com a teoria Heliocêntrica. Assim como o físico colocou o sol no centro do sistema planetário, Kant centralizou no ser humano o aparato apriorístico possibilitador do conhecimento. Nas próprias palavras do autor da revolução gnosiológica “nenhum conhecimento em nós precede a experiência, e todo conhecimento começa com ela. Mas embora todo o nosso conhecimento precede da experiência, nem por isso todo ele se origina justamente da experiência” (Kant, 1980, p.23), podemos facilmente identificar a grande síntese realizada entre a proposta de Platão e a de Aristóteles em relação à aquisição do conhecimento. Isto significa dizer que a participação do ser humano na elaboração é ativa, ao contrário do que apregoava a tradição filosófica, essa descoberta é tão significativa para todos os ramos do conhecimento, que não é por acaso que da elaboração kantiana foi que germinou tanto as concepções de Hegel e, posteriormente de Marx, como também as propostas positivistas de Comte, e no campo educacional encontraremos o construtivismo de Piaget, baseado na participação ativa do ser humano no ato de conhecer. Porque segundo a tradição racionalista o ser humano nasce com algumas ideias inatas, por outro lado, a corrente empirista defende a tese de que a mente do ser humano recém-nascido é como uma tábula rasa, uma folha em papel em branco, que será preenchida ao longo da vida com as diversas experiências. Desse modo é que temos como desdobramentos da tese de Locke, da tábula rasa, concepções de outros filósofos britânicos, que detalharam a maneira como a experiência é a matriz das ideias. Por exemplo, Thomas Hobbes defende que as ideias são reflexos do corpo e do movimento, George Berkeley afirma que as ideias são percepções e David Hume, precisa ainda mais essa percepção, localizando-a na impressão. 6 Castelo Branco Científica - Ano II - Nº 04 - julho/dezembro de 2013 - www.castelobrancocientifica.com.br Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255 O SER HUMANO PARA KANT: ENTRE O PRETENDIDO E O ALCANÇADO A síntese que Kant vai realizar entre o empirismo e o racionalismo é propor que, como seres humanos, somos dotados de faculdades mentais apriorísticas, que possibilitam a aquisição do conhecimento sensível, este sempre adquirido de modo à posteriori, ou seja, o ser humano se dinamiza através dessas duas vertentes; a subjetiva, relacionada ao conhecimento empírico mediante a experiência, e a objetiva, como aquisição da atividade mental possibilitada pelas faculdades inerentes a todo ser humano. É embasado na crença de que o ser humano é um ser naturalmente racional, que Kant vai erguer seu edifício filosófico, com reflexos coerentes em sua proposta educacional. Claro que ao falarmos em reinado da razão na atualidade, onde ciência e técnica já não se distinguem, soa como algo estranho, pois as especializações do conhecimento fragmentaram de tal modo a realidade, que chegamos ao ponto de algumas correntes filosóficas questionarem o próprio sentido da realidade e o da racionalidade. Por isso que é fundamental ao estudar a filosofia kantiana, contextualizá-la no horizonte do Iluminismo, uma corrente de pensamento que instaurou uma nova era no estágio evolutivo da humanidade ao destituir a Teologia de sua hegemonia, após séculos de orientação católica romana, também conhecida como a Idade das Trevas, pelas consequências maléficas provocadas. Enquanto o Iluminismo instaurou a nova ordem, guiado pela máxima SUPERE AUDE! (Tem coragem de servir-te do seu intelecto!). A Revolução Francesa foi orientada por essa máxima, alcançando o ápice da elaboração racional em seu lema sobejamente conhecido: Liberdade, Igualdade e Fraternidade, e que até hoje serve como parâmetro para exemplificar o desejo de uma vida livre e soberana, ou em outras palavras, mais afeitas ao pensamento kantiano, em uma vida movida e orientada pela autonomia. Castelo Branco Científica - Ano II - Nº 04 - julho/dezembro de 2013 - www.castelobrancocientifica.com.br 7 Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255 Agora abordaremos um ponto sempre suscetível de muitas celeumas,, mas extremamente importante para o assunto que ora está sendo exposto, uma vez que a proposta kantiana de educação é criticada pelo sua muita fé na grandeza humana, a saber: Por que ideias e ideais tão nobres são conspurcados quando praticados? Para melhor dimensionar tal problemática devemos lembrar que Kant concebe o ser humano dotado naturalmente da capacidade de se relacionar com o mundo através da sensibilidade, mas o que dá o arcabouço para a possibilidade de tal relacionamento se realizar são as categorias apriorísticas da racionalidade. De modo que no ser humano encontramos tanto as potencialidades dos sentidos, como também, as capacidades mentais apriorísticas. Os conceitos puramente racionais de valor universal são conquistas da humanidade mediante a alguns seres humanos no exercício da autonomia da maioridade intelectual, por isso que essas elaborações não são alcançadas plenamente, pois quando efetivadas ocorrem problemas relacionados à socialização e as lutas por interesses particulares, que na vertente dos sentidos, diferentemente da vertente racional, aparecem multifacetados, contrários, contraditórios, discordantes, confusos, incompletos, desconexos, refletindo o modo que o sentidos se apropriam da aparição fenomênica. Portanto a Revolução Francesa, ao trilhar o caminho do terror, não significou como muitos acreditam um descaminho da razão, na verdade, tanto o terror da Revolução Francesa, como o das Grandes Guerras Mundiais, como também, a sofisticação do genocídio nazista e todas as formas de controle social em detrimento da sublimidade humana, não são atos guiados pela racionalidade como expressão da sua maioridade intelectual, mas sim, raciocínios ainda obtusos fixados apenas pela apreensão do sensível. Explicamos melhor essa assertiva. Se a razão em sua maioridade intelectual trata das coisas, dos fatos e das pessoas e até de si mesma de maneira universal, guiando-se pelas faculdades apriorísticas, por conseguinte as 8 Castelo Branco Científica - Ano II - Nº 04 - julho/dezembro de 2013 - www.castelobrancocientifica.com.br Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255 ideias e ideais elaboradas nessa dinâmica alcançam o estatuto excelente da liberdade e da responsabilidade indo muito além do que é alcançado pelas elaborações efetuadas pela minoridade intelectual onde as coisas, as pessoas, os fatos e até mesmo a própria racionalidade é concebida apenas no âmbito do subjetivo fenomênico. E isso explica o porquê do distanciamento entre o pensado e o realizado; uma vez que o realizado se locomove sob a orientação do que é apreendido pelos sentidos. Então, podemos concordar com os filósofos da escola de Frankfurt, quando esses alertam para o fato de que a razão não se desencaminhou como uma capacidade insuficiente, pelo contrário, os equívocos praticados em nome da razão, com consequências nefastas para toda a humanidade, deveram-se ao uso incorreto da razão, ou seja, a razão não fracassou, apenas não foi efetivada de modo perfeito Os ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade ainda permanecem como um farol a iluminar e orientar a luta por um mundo melhor. Kant ao conceituar a Ideia concebe-a como algo perfeito que ainda não encontrou meios para se concretizar na experiência. Ou seja, o ainda irrealizado não pode ser traduzido como o já irrealizável. A CONCEPÇÃO EDUCACIONAL DE KANT Como consequência da sua concepção filosófica Kant vai preconizar a ideia de que o ser humano é a única criatura que pode e deve ser educada. Pode ser educado pelas capacidades com que é provido pela natureza e deve ser educado como garantia de assegurar a sua passagem do estado de minoridade para a maioridade intelectual alcançando desse modo a autonomia, pois como ele mesmo afirma: o ser humano sem educação é um selvagem, mantendo mais afinidade com a animalidade do que com a racionalidade. Castelo Branco Científica - Ano II - Nº 04 - julho/dezembro de 2013 - www.castelobrancocientifica.com.br 9 Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255 Importante ressaltar que na visão kantiana as potencialidades racionais do ser humano, se realiza de modo cada vez mais completo, não no plano individual, mas no geral, ou seja, a racionalidade vai se iluminando como conquista da espécie humana ao longo do tempo. Podemos identificar aí, o gérmen do Espírito absoluto de Hegel, como também, de modo invertido o Materialismo Dialético de Marx e Engels. Nessa perspectiva toda ação educativa deve ser nos sentido de tornar pleno no ser humano o que já se encontra como potências, ou seja, é uma defesa de uma educação baseada na ciência, posto ser essa a expressão racional do conhecimento, proposta esta que não passará despercebida a Auguste Comte na formulação do Positivismo. Quanto mais científica for a prática educativa, mais ela estará contribuindo para que o ser humano ultrapasse os limites da ação apenas instintiva e alcance os desígnios da natureza. Os designos da natureza que já se fazem presente no ser humano, para Kant tratam-se da faculdade racional, a nossa capacidade de pensar e a liberdade da vontade. Sendo coerente com a sua filosofia Kant formula a sua proposta educativa direcionando-a no sentido desta ser a mediadora através da qual o ser humano alcançará o seu patamar de perfeição, sendo isto alcançado, quando todos os seres humanos mediante ao uso correto das suas faculdades racionais exercerem a liberdade visando o bem comum, o que nos remete ao lema da revolução francesa; Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Evidentemente que como todo em percurso filosófico, a proposta kantiana também tem os seus percalços, que o pensador alemão fazendo jus a sua excelência leva em consideração e as supera com soluções inovadoras, por exemplo, quando alerta que as contradições no modo de ser humano, nada mais são que a maneira da natureza desenvolver as suas potencialidades ao grau de perfeição. 10 Castelo Branco Científica - Ano II - Nº 04 - julho/dezembro de 2013 - www.castelobrancocientifica.com.br Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255 Para se entender melhor essa passagem, necessário se faz nos determos no que Kant denominou insociável sociabilidade, a capacidade do ser humano em aceitar a sociabilidade, mas com a forte tendência à desagregação, o que, por conseguinte, ameaça constantemente a integridade da sociedade. Essa contradição traz consequências positivas, pois se a insociabilidade é a responsável pelas conquistas criativas da humanidade, também enseja a necessidade de se disciplinar a maneira dos homens se socializarem, mais uma vez encontramos a ideia originária da ordem e do progresso que depois o Comte tornará lema do Positivismo e que por caminhos tortuosos acabará na bandeira brasileira, mesmo que na prática o que se alcança em nossas terras, seja exatamente o contrário. De modo que, segundo Kant, encontramos no ser humano duas vertentes (a insociabilidade e a sociabilidade), e cabe à ação educativa harmonizar essas duas instâncias, mediante uma disciplina positiva, uma vez que é utilizada no intuito de formar e instruir de maneira o ser humano para o exercício da liberdade responsável. O que é exigido dos educadores afinados com as ideias de Kant é que cuidem zelosamente das suas atividades, tendo sempre a consciência da compertinência entre as atividades desenvolvidas e o horizonte ético e estético. Um educador despreparado fala muito e nada diz. Apenas aquele educador consciente das exigências para se alcançar a excelência da sua prática usa a fala para dizer algo, e o seu dizer, tanto em relação ao conteúdo que são os aspectos éticos, como à forma, que são os aspectos estéticos, propicia a educação esclarecedora. O diálogo é reflexo direto da abrangência da informação. Em termos de educação kantiana, abrangência refere-se tanto à extensão quanto à profundidade; tanto ao universal como ao singular; tanto ao geral como ao particular. Um diálogo que não se move nessa dinâmica, não passa de monólogo, deve a sua insuficiência à informação comprometida com o autoritarismo ou a licenciosidade, quando não a ambos Castelo Branco Científica - Ano II - Nº 04 - julho/dezembro de 2013 - www.castelobrancocientifica.com.br 11 Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255 CONSIDERAÇÕES FINAIS Pelo alcance das reflexões kantianas no delineamento da modernidade, e como a atualidade é herdeira direta dessa tradição, mesmo que no momento esteja sofrendo com os vários tipos de ataques, podemos constatar a influência de Kant nos mais diversos ramos do conhecimento humano, algumas vezes como desdobramentos das suas percepções relacionadas ao subjetivo, e outras vezes às suas contribuições em relação aos aspectos objetivos, e no campo educacional não é diferente, embora que, como foi dito acima, o ideal da revolução francesa descambou para um modo de vida onde se visa apenas o lucro, se locomovendo na dinâmica apenas do raciocínio e não do pensamento, mas são as ideias e os ideais que fazem a humanidade avançar cada vez. Podemos constatar isso na proposta da pedagogia ideal, onde são conjugadas a disciplina social com a formação de um caráter autônomo, como também, a proposta piagetiana, denominada de construtivismo, onde o sujeito participa ativamente do processo de aprendizagem, devem-se às reflexões kantianas, fazendo uso das suas próprias palavras “uma ideia não é outra coisa senão o conceito de uma perfeição que ainda não se encontra na experiência”, e mesmo em um tempo onde a razão é reiteradamente execrada, lembrando dos conceitos de insociabilidade e sociabilidade em Kant, podemos ter esperança no sentido de conceber essas execrações como manifestações contraditórias de algo novo se engendrando, dentro mesmo das críticas que visam menosprezar a racionalidade humana como uma capacidade insuficiente, e não como uma poderosa aliada da natureza para enfim realizar o seu intuito de tornar a humanidade perfeita em seu uso correto da força de vontade e da liberdade, mas para isso a educação deve se nortear pelas diretrizes delineadas pelo pensador prussiano que veremos com mais detalhes num próximo artigo . 12 Castelo Branco Científica - Ano II - Nº 04 - julho/dezembro de 2013 - www.castelobrancocientifica.com.br Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255 Bibliografia ABBAGNO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2000. 4ª ed. ARANHA, M. L.de A e MARTINS, M. H. P. Filosofando: Introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna, 2009,4ª ed. ASSIS, S de. Ética, Direitos Humanos e a Profissão do Historiador. Brasil Escola: Disponível em http://meuartigo.brasilescola.com/ CHAUI, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática: 2003. 17 edição. KANT, I. Fundamentação da Metafísica dos Costumes e Outros Escritos. São Paulo: Martin Claret: 2004. KANT, I. Crítica da Razão Pura. Os pensadores Vol. I. São Paulo: Nova Cultural, 1987. KANT, I. Crítica da Razão Pura. Os pensadores Vol. II. São Paulo: Nova Cultural, 1988. KANT, I. Crítica da Razão Prática. São Paulo. Escala. Coleção Grandes Obras do Pensamento Universal, 1988 Castelo Branco Científica - Ano II - Nº 04 - julho/dezembro de 2013 - www.castelobrancocientifica.com.br 13 Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255 PAVIANI, J. Filosofia e Educação, Filosofia da Educação: Aproximações e Distanciamentos. In: DALBOSCO, C. A.; CASAGRANDA, E. A.; MÜHL, E. H. (Orgs.). Filosofia e pedagogia: aspectos históricos e temáticos. Campinas, SP: Autores Associados: 2008. p. 5-21. REALE, G. e ANTISERI, D. História da Filosofia. Vol 3. São Paulo: Paulus, 2004, 3ª edição. SAVIANI, D. Educação: do Senso Comum à Consciência Filosófica. Campinas, SP: Autores Associados: 2009, 17 edição. SILVEIRA, F.L. da. A teoria do conhecimento de kant: o idealismo transcendental. In Caderno Brasileiro de Ensino de Física, Florianópolis, v.19, número especial: p. 28-51, jun. 2002. SOUZA, L.L. de e VASCONCELOS, M. S. Juízo e ação moral: desafios teóricos em psicologia. In Revista Psicologia & Sociedade; ABRAPSO 21 (3): 343-352, 2009 14 Castelo Branco Científica - Ano II - Nº 04 - julho/dezembro de 2013 - www.castelobrancocientifica.com.br