Determinação de enterobactérias de mamíferos silvestres em

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REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA
ISSN 1519-5228
Volume 11 - Número 2 - 2º Semestre 2011
Determinação de enterobactérias de mamíferos silvestres em criadouro
conservacionista
Camila Moreira Barreto Gomes1; Karoliny da Silva Batista2; Solange Alves Oliveira3; Lucilândia Maria Bezerra4
RESUMO
Os animais silvestres, particularmente os mantidos em cativeiro, estão em contato constante com
bactérias tanto no meio ambiente como em seu organismo. As enterobactérias possuem grande
importância para o funcionamento normal do organismo de animais silvestres uma vez que
compõem a microbiota natural. O presente trabalho que teve como o objetivo descrever
qualitativamente enterobactérias, presentes nas cinco famílias de mamíferos: Cebidae, Canidae,
Mustelideae, Felidae e Tayassuidae pertencentes ao plantel do Terraquarium – Centro de
Convivência e Educação Ambiental, Criadouro Conservacionista do Centro Universitário Luterano
de Palmas/ULBRA, município de Palmas/TO.
Palavras-chave: Enterobactérias, bactérias Gram-positivo e Gram-negativo, mastofauna, cativeiro.
Determination of Enterobacteria in wild mammals kept in captivity
ABSTRACT
The wild animals, particularly those kept in captivity, are in constant contact with bacteria of the
environment and their organisms. The enterobacteria are very important in the normal function of
the organism of wild animals because they constitute the natural flora. The present work had the
objective of describing enterobacteria in five mammal families: Cebidae, Canidae, Mustelideae,
Felidae and Tayassuidae. They belong to Terraquarium –Center of Contact and Environmental
Education, Conservationist breeding of the “Centro Universitário Luterano de Palmas/ULBRA”, in
the municipality of Palmas, State of Tocantins.
Keywords: Enterobacteria, bacteria Gram-positive e Gram-negative, mammalian species, captivity.
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1 INTRODUÇÃO
Os animais silvestres, particularmente os
mantidos em cativeiro, estão em contato
constante com bactérias, que são amplamente
distribuídas tanto no meio quanto na microbiota
intestinal (Levinson & Jawetz, 1996). Tais
microorganismos possuem grande importância
para o funcionamento normal do organismo
destes animais compondo a microbiota natural
(Queiroz, 2008). Porém, em condições
específicas, como por exemplo, níveis de
estresse elevado e baixa resistência, podem
levar ao desenvolvimento de patologias
(Queiroz, 2008). Tais informações fornecem
base para a elaboração de um programa de
prevenção de doenças mais eficaz. Por isso, nos
animais silvestres mantidos em cativeiro, as
bactérias são continuamente estudadas com a
finalidade de se encontrar um manejo ideal que
possibilite o controle microbiológico nas
diferentes espécies, vulneráveis a esses
microorganismos (Coles, 1984; Queiroz, 2008).
As enterobactérias representam quase a
totalidade das bactérias Gram negativas de
importância clínica tanto humana quanto
veterinária médica como veterinária, sendo
isolada na rotina microbiológica e das
septicemias em humanos e animais silvestres
(Meyer Júnior, et al., 2006). Ambos, tipos de
bactérias, Gram positivas e Gram negativas, são
amplamente dispersas no ambiente e
encontradas em locais onde há presença de
animais silvestres ou domésticos, dejetos
humanos ou em qualquer local que tenha algum
tipo de contaminação fecal. Podem sobreviver
por muito tempo em solo úmido, água, fezes,
alimentos e superfícies com matéria orgânica, e
por isso, a contaminação pode ocorrer por
vários meios (Nunes, 2007 e Nunes, et al.,
2010).
Os maiores problemas evidenciados
relacionando as enterobactérias em animais de
cativeiro, devem-se ao fato destes viverem em
grupo e às alterações de manejo higiênico e
alimentar. Os microorganismos, à medida que
se sobrepõem à microbiota normal, podem
causar doenças como alterações intestinais de
origem inflamatória (enterites ou infecções
severas) (Pelczar Júnior, et al.,1996).
O estado clínico destes animais deve ser
relacionado
com
a
proporção
de
microorganismos encontrados no lúmen
intestinal. A proximidade e contato com fezes a
alimentos contaminados ou quando os animais
silvestres passam por alterações ambientais,
com novas adaptações (como por exemplo,
quando são retirados do seu ambiente natural
para cativeiro, nível de estresse), podem ser um
fator determinante para um desencadeamento de
doenças (Queiroz, 2008 e Coles, 1984).
O presente trabalho teve como o objetivo
descrever qualitativamente enterobactérias,
presentes em mamíferos mantidos em cativeiro
relacionando-o com o estado geral de saúde
desses animais.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
O presente estudo foi conduzido no
plantel do Terraquarium – Centro de
Convivência e Educação Ambiental, Criadouro
Conservacionista (registrado pelo IBAMA) do
Centro
Universitário
Luterano
de
Palmas/ULBRA,
município
de
Palmas,
Tocantins.
Para qualificar as enterobactérias foram
coletadas em novembro de 2007, amostras de
fezes (coprocultura) das cinco famílias de
mamíferos pertencentes ao plantel: Cebidae,
Canidae, Mustelideae, Felidae e Tayassuidae.
As fezes foram coletadas da região anal com
swab estéril, após limpeza prévia da região com
algodão e água. Para o exame microbiológico
foi realizada semeadura em placas com meio de
cultura Ágar Mc Conkey, por ser um meio
seletivo para o isolamento de bacilos Gram
negativos e Gram positivos em especial as
enterobactérias (Oliveira, 1995; Maciel, 1999 e
Santos, 1999). Após o crescimento da cultura
foram feitos esfregaços em lâminas de
microscopia
para
exame
bacteriológico
(bacterioscopia). As lâminas foram coradas pelo
método de Gram para determinação dos grupos
de microrganismos da microbiota intestinal em
Gram Positivas ou Gram negativas (Oliveira,
1995; Maciel, 1999 e Santos, 1999).
74
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3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Foram analisadas fezes de 10 indivíduos
pertencentes a cinco famílias de mamíferos
(Tabela 1) (figuras 1 a 6).
Tabela 1 - Famílias de mamíferos existentes no criadouro, suas respectivas espécies e número de
indivíduos estudados.
Taxonomia
Ordem Família
Espécie
Nome em
português
Artiodactyla
Tayassuidae
Pecari tajacu (Linnaeus, 1758)
Cateto
Carnivora
Canidae
Cerdocyon thous (Linnaeus,
Cachorro do
1766)
mato
Felidae
Leopardus pardalis (Linnaeus,
1758)
Jaguatirica
Mustelidae
Galictis vittata (Scherber, 1818)
Furão
Primates
Cebidae
Alouatta caraya (Humboldt,
1812)
Bugio
Cebus apella (Linnaeus, 1758)
Macaco prego
Nomenclatura segue: Reis, et.al., 2006; Costa, et.al., 2005; IUCN, 2011
Figura 1 - Cateto (Pecari tajacu)
Número de
Indivíduos
3
2
1
1
1
2
Figura 2 - Cachorro do mato (Cerdocyon thous)
74
76
Figura 3 - Jaguatirica (Leopardus pardalis)
Figura 5 - Bugio (Alouatta caraya)
Foi observada grande prevalência de
bactérias Gram negativas, sendo registradas
cinco espécies: Enterobacter sp., Escherichia
coli, Klebsiela sp., Pseudomonas sp.,
Salmonella sp.. Foram também registradas duas
espécies
de
bactérias
gram
positivas
(Staphylococcus sp. e Streptococcus sp.). O
maior número de bactérias foi encontrado na
Família Canidae: Enterobacter sp. (N=1),
Escherichia coli (N=1), Klebsiela sp. (N=1),
Pseudomonas sp. (N=2) e Salmonella sp. (N=2);
(“N” representa o número de indivíduos em que
a bactéria estava presente nas amostras). Em
Cebidae, Alouatta caraya (N=1) e Cebus apella
(N=2) encontramos a bactéria Streptococcus sp.
assim como para Felidae representada por
Leopardus pardalis (N=1). Em Mustelideae
(N=1)
registramos
Pseudomonas
sp.,
Figura 4 - Furão (Galictis vittatas)
Figura 6 - Macaco prego (Cebus apella)
Staphylococcus sp. e Salmonella sp. e na
Família Tayassuidae encontramos Pseudomonas
sp.(N=3), Staphylococcus sp. (N=3), Salmonella
sp. (N=2) (Gráfico 1).
Em três das cinco famílias amostradas
(Canidae,
Mustelidae
e
Tayassuidae)
prevaleceram as bactérias Pseudomonas sp.,
Salmonella sp. (Gráfico 1). Na família Canidae
foram encontradas bactérias Gram negativas. Na
Cebidae e Felidae foram encontradas bactérias
Gram
positivas
de
mesma
espécie
(Streptococcus sp.). Nas famílias Mustelidae e
Tayassuidae foram encontradas bactérias Gram
negativas, assim como gram positivas, sendo
estas de mesma espécie (Staphylococcus sp.).
74
77
Gráfico 1 - Enterobactérias registradas em coproculturas das famílias de mamíferos silvestres pertencentes ao
Plantel do Terraquarium.
Em trabalhos realizados anteriormente
neste criadouro conservacionista com grupos de
animais silvestres mais abundantes, entre eles o
mesmo grupo de Cerdocyon thous, Gomes
(2004) encontrou nas amostras duas das mesmas
espécies de bactérias: Enterobacter sp. e
Klebesiella sp. Em sua coleta foi amostrada
também a bactéria Serratia sp. não encontrada
no presente estudo. Nota-se também que este
grupo apresentou outras três novas espécies de
bactérias.
Alguns gêneros de bactérias Gram
negativas
possuem
maior
relevância
acometendo a saúde animal: Salmonella,
Pseudomonas, Klebsiella, Aeromonas, Proteus,
Escherichia, Pasteurella e Yersinia (Hidasi,
2010; Queiroz, 2008). Entre as bactérias Gram
positivas que promovem infecções secundárias
encontram-se Staphylococcus, Streptococcus e
Enterococus (Queiroz, 2008). O elevado índice
de isolamento de enterobactérias nos recintos
dos animais silvestres no presente estudo pode
ser relacionado com higiene inadequada, já que
estas bactérias são em sua maioria comensais do
intestino, encontradas nas fezes dos animais,
como pudemos verificar na família Canidae. O
ambiente mal higienizado é favorável à
proliferação
destas
bactérias
causando
consequentemente infecção se os animais
estiverem
imunologicamente
debilitados
(Hidasi, 2010; Queiroz, 2008).
A Pseudomonas sp. é uma bactéria Gram
negativa, patogênica, que possui distribuição
mundial. Raramente causa doenças em um
sistema imunológico saudável, mas explora
eventuais fraquezas do organismo para
estabelecer um quadro de infecção (Queiroz,
2008). Salmonella sp. pode ser encontradas em
aves, mamíferos (roedores, canídeos) e
principalmente em répteis, que geralmente
apresentam-se assintomáticos por servirem
como reservatórios (Nunes, 2007 e Nunes, et al.,
2010). A principal via de transmissão das
infecções é fecal-oral, através de contato com
outros animais ou pela ingestão de alimentos e
água contaminados, por exemplo, dentro de um
recinto onde possuam muitos animais. Assim
como as Pseudomonas, caso o organismo esteja
saudável, não provocam um desequilíbrio na
microbiota intestinal, mas mudanças na dieta ou
privação de comida e água podem facilitar a
multiplicação e fixação da Salmonella na parede
intestinal (Queiroz, 2008).
A bactéria Staphylococcus sp. são cocos
gram positivos encontrados tanto no ambiente
quanto no trato respiratório e pele de pessoas e
animais silvestres e domésticos sadios, sendo,
considerados parte da microbiota normal
(Queiroz, 2008). O Streptococcus sp é
considerado parte da microbiota normal da pele
e mucosas dos tratos digestivo, respiratório e
reprodutivo. A transição de bactéria da
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78
microbiota normal para agente patogênico
depende de fatores predisponentes como
imunossupressão, infecções concomitantes e
situações de estresse (Queiroz, 2008).
4 CONCLUSÕES
Embora tenha sido isolada uma
diversidade de microrganismos nos animais
silvestres no presente estudo, os mesmos se
encontram em bom estado de saúde. No entanto,
a presença de uma variedade significativa de
bactérias indica que o manejo sanitário do
criadouro deve ser revisto sob risco de surgirem
problemas de infecções nesses animais.
Segundo Nunes (2007), as fontes de transmissão
mais frequentes em animais silvestres, podem
ser através do contato direto com animais
hospedeiros e/ou de forma indireta, através da
água, alimentos contaminados e fezes (Nunes,
2007 e Nunes, et al., 2010).
Nunes (2007) ressalta em seus estudos
que, animais silvestres oriundos de apreensão
e/ou tráfico, como no caso deste Criadouro
conservacionista,
tornam-se
potenciais
transmissores de zoonoses mesmo que se
apresentem saudáveis. Neste contexto torna-se
relevante
monitorá-los
continuamente,
principalmente os recém chegados ao criadouro.
A presença de gram negativas e gram
positivas nos meios utilizados associado ao bom
estado de saúde dos animais sugerem que estas
bactérias fazem parte da microbiota intestinal
normal, sendo importante, a avaliação
microbiológica
periódica
das
espécies
estudadas. Os cuidados profiláticos deverão ser
rigorosamente monitorados para que a
composição de microrganismos não se torne
ameaça à sobrevivência dos animais. A
ocorrência de doenças exerce uma influência
considerável sobre o sucesso ou o fracasso de
programas de manutenção de espécies silvestres
em cativeiro. Melhoria do bem-estar animal e
estocagem de alimento correta, água abundante
e trocada diariamente podem auxiliar também
no controle a fim de evitar enfermidades nos
plantéis (Nunes, 2007 e Nunes, et al., 2010).
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a Doutoranda
em Ecologia e Evolução da UFG (Universidade
Federal de Goiás), Nathália Machado pelo
incentivo e orientação concedida a 1ª autora.
Posterior agradecimento ao Centro Universitário
Luterano de Palmas/ULBRA, pelo apoio na
publicação e onde por seis anos a 1ª autora
dedicou-se aos seus trabalhos no Setor
Terraquarium (Criadouro conservacionista)
pertencente à Instituição.
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______________________________________
[1] e [2] – Bióloga, Consultora Ambiental, Graduada em
Biologia pelo Centro Universitário Luterano de
Palmas/ULBRA,
Palmas–TO,
e-mail:
[email protected].
[3] – Bióloga, Prefeitura Municipal de Palmas/TO e
Professora de Biologia, Posteriormente Coordenadora do
Terraquarium – Criadouro Conservacionista, do Centro
Universitário Luterano de Palmas/ULBRA, Palmas–TO.
[4] – Médica Veterinária do Terraquarium – Criadouro
Conservacionista, do Centro Universitário Luterano de
Palmas/ULBRA, Palmas–TO.
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piranga (Chelonoidis carbonaria) oriundos do
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74
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