Especialização em Gestão Pública Programa Nacional de Formação em Administração Pública JOSÉ VALDECIR SANCHES DESAFIOS À GESTÃO DE ONGs Maringá 2011 Especialização em Gestão Pública Programa Nacional de Formação em Administração Pública JOSÉ VALDECIR SANCHES Trabalho de Conclusão de Curso do Programa Nacional de Formação em Administração Pública, apresentado como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Gestão Pública, do Departamento de Administração da Universidade Estadual de Maringá. Orientador: Profª Neuza Corte de Oliveira Maringá 2011 Especialização em Gestão Pública Programa Nacional de Formação em Administração Pública JOSÉ VALDECIR SANCHES DESAFIOS À GESTÃO DE ONGs Trabalho de Conclusão de Curso do Programa Nacional de Formação em Administração Pública, apresentado como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Gestão Pública, do Departamento de Administração da Universidade Estadual de Maringá, sob apreciação da seguinte banca examinadora: Aprovado em ___/___/2011 Professora ............................................................., Dra. (orientadora) Assinatura Professor........................................................., Dr. Assinatura Professora .........................................................,Dra. Assinatura Maringá 2011 Especialização em Gestão Pública Programa Nacional de Formação em Administração Pública DESAFIOS À GESTÃO DE ONGs JOSÉ VALDECIR SANCHES1 Formado em Administração pela Faculdade Dom Bosco de Ubiratã. RESUMO No Terceiro Setor os recursos privados, oriundos de pessoas físicas ou jurídicas, são investidos com objetivos públicos. Neste setor o lucro não é o objeto financeiro, seus ideais vão além, pois representam a razão de ser, de salvar, de mudar realidades. As organizações Não Governamentais (ONGs), Institutos, Fundações, têm se dedicado a projetos nas áreas ambiental, social e cultural, mudando os cenários das localidades, dos estados e dos países, com trabalhos de relevância e excelência, com reconhecimento em vários níveis, inclusive em âmbito internacional. As maiorias das organizações apresentam desafios na gestão, com dificuldade de manterem as suas obras, independente de se direcionarem a saúde, educação, meio ambiente, segurança, entre outros, indicando um sério problema em relação à gestão. Por outro lado, percebe-se que as organizações estão buscando qualificação, fazendo parcerias com empresas e universidades para o enriquecimento de seu quadro de profissionais e voluntariado, vislumbrando o entendimento e aquisição de competências, hoje essenciais para o bom desempenho do setor. Diante de tal constatação o presente artigo visa averiguar a realidade vivenciada pela ONG, do Município de Goioere identificando as dificuldades da gestão, sob o ponto de vista de seus dirigentes ou gestores. Para tal averiguação adotouse quanto ao objetivo pesquisa exploratória e quanto aos procedimentos técnicos estudo de caso. A pesquisa delimitou-se a cinco áreas da administração: planejamento estratégico, captação e gestão de recursos, marketing, gestão de pessoas e governança do Município de Goioere Estado do Paraná. O Observatório Social do Brasil em Goioerê é pessoa jurídica de direito privado, de fins não econômicos regido pelo seu estatuto, pela Lei n. 9.790/99 e pelas disposições legais aplicáveis, podendo se configurar como uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP, o qual busca colaborar com a gestão pública, participando de aberturas de licitações, acompanhando as ações da prefeitura e envolvendo líderes da comunidade no sentido de contribuírem na correta e transparente aplicação dos recursos públicos. Palavras-Chave: Terceiro Setor, ONGs, Desafios de Gestão. 4 Especialização em Gestão Pública Programa Nacional de Formação em Administração Pública 1. INTRODUÇÃO As políticas sociais públicas são uma das respostas privilegiadas à questão social, ao lado de outras formas, acionadas para enfrentamento por distintos segmentos da sociedade civil, que possuem programas de atenção à pobreza, como corporações empresárias, organizações não governamentais, além de outras, de organização das classes subalternas, para fazer frente aos níveis crescentes de exclusão social a que se encontram submetidas (IAMAMOTO, 2004). Ao contextualizar as políticas sociais e o desenvolvimento do voluntariado e da solidariedade FAGUNDES (2006, p. 14) comenta que atual sociedade constitui uma importante reflexão sobre compromisso efetivo das políticas sociais. Segundo o autor o cenário é contraditório e paradoxal, ao mesmo tempo em que se precisa de uma perspectiva que valorize a sociedade civil, tornando-a protagonista. É necessário transpor os interesses particulares e aproximando-os dos interesses da população. Para Fagundes (2006) a dimensão política da sociedade civil precisa ser construída de tal forma que vincule o espaço público democrático, e construa o espaço de disputa, como posição efetiva de emancipar a construção de estratégias que se oponha à dominação representada pelo capital. De acordo com MONTAÑO (2002) as ONGs nos anos 1970 e 1980 tinham um claro papel de articuladoras ao lado dos movimentos sociais e captadoras de recursos para estes. Ou seja, as ONGs surgiram com a missão de contribuir para a melhoria da organização interna, a articulação e a transferência de recursos captados de organismos internacionais para os movimentos sociais. Porém, as ONGs começaram a ocupar o lugar dos movimentos sociais nos anos 1990. O autor ressalta que atualmente as ONGs tornaram-se o ator principal na negociação com o Estado, o que acarretou enfraquecimento dos movimentos sociais, deslocando a lógica das lutas e das reivindicações para o caminho da parceria e da negociação. Para Yazbek (2001), vive-se um movimento de refilantropização, que visa à substituição da lógica da cidadania, tendo como base o não reconhecimento dos direitos sociais historicamente conquistados, pois está alicerçada num discurso 5 Especialização em Gestão Pública Programa Nacional de Formação em Administração Pública humanitário da solidariedade e da filantropia, alavancado por uma moralidade de ajuda aos necessitados. É preciso frisar ainda que esta perspectiva fortalece a lógica do favor em detrimento do direito. No Brasil, o favor perpassou o conjunto da existência nacional nas relações entre homens livres, sendo que o favor foi nossa principal mediação nas relações sociais. Até agora, as ONGs têm ajudado na executar das ações que compete ao gestor público no gerenciamento dos recursos para atender os cidadãos. Assim, a questão que se coloca é: quais as dificuldades da gestão pública, sob o ponto de vista de seus dirigentes ou gestores no planejamento estratégico, captação e gestão de recursos, marketing, gestão de pessoas e governança do Município de Goioere Estado do Paraná? Pretende-se desenvolver um ensaio teórico, no qual serão buscados referenciais conceituais envolvendo o conceito e gerenciamento das ONGs, a fim de avaliar o desafio a gestão. Este artigo é composto dos seguintes tópicos: Referencial Teórico, no qual será contextualizado o histórico e a natureza jurídica, a caracterização das ONGs e OSCIPs, Análise e Conclusões, em que se tecerão considerações críticas a respeito dessas organizações. 2. CONTEXTO HISTÓRICO E NATUREZA JURÍDICA DAS ONGs A divisão de responsabilidades e de ações entre governo e sociedade tem possibilitado a construção de um novo espaço público, permitindo um novo papel a ser exercido pelos movimentos oriundos da sociedade civil. Isso porque os diversos segmentos e organizações sociais passam a fazer parte na definição da agenda do governo, direcionando as ações a serem priorizadas, tendo em vista uma maior adequação entre demandas sociais e políticas públicas. A partir destas novas práticas sociais, inúmeros trabalhos têm se dedicado a discutir os benefícios trazidos por tais experiências, destacando as dificuldades e os obstáculos para a consolidação de um novo modo de governar (CRUZ, 2003). 6 Especialização em Gestão Pública Programa Nacional de Formação em Administração Pública A Constituição de 1988, que num amplo processo de mobilização social, promoveu melhorias no que diz respeito ao aumento dos direitos de cidadania política e princípios da descentralização na promoção de políticas sociais. Adicionalmente, houve muitas pressões dos movimentos populares, através dos chamados “lobbies populares” no congresso, a fim de que emendas populares fossem aprovadas. É inegável que a Nova Constituição representou um avanço no que diz respeito a política social no Brasil. (TEIXEIRA, 2000). Em 1995 ocorreu a Reforma da Gestão Pública, que veio contribuir para a formação no Brasil de um aparelho de Estado forte e eficiente. Ela compreende três dimensões: a) uma dimensão institucional-legal, voltada à descentralização da estrutura organizacional do aparelho do Estado através da criação de novos formatos organizacionais, como as agências executivas, regulatórias, e as organizações sociais; b) uma dimensão gestão, definida pela maior autonomia e a introdução de três novas formas de responsabilização dos gestores – a administração por resultados, a competição administrada por excelência, e o controle social – em substituição parcial dos regulamentos rígidos, da supervisão e da auditoria, que caracterizam a administração burocrática; e c) uma dimensão cultural, de mudança de mentalidade, visando passar da desconfiança generalizada que caracteriza a administração burocrática para uma confiança maior, ainda que limitada, própria da administração gerencial. Ocorre então a formação do Terceiro Setor e dentro deles várias organizações, entre elas estão as ONGs (Organizações Não Governamentais), entidades filantrópicas, OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, organizações sem fins lucrativos e outras formas de associações civis sem fins lucrativos (FERNANDES, 1994). Constata-se nas últimas décadas um crescimento quantitativo e qualitativo do Terceiro Setor como um todo, em especial das ONGs (Organizações-NãoGovernamentais). Com a consolidação democrática, através das pluralidades partidárias, formação de sindicatos e fortalecimentos de movimentos sociais urbanos e rurais, abre-se espaço para uma atuação mais efetiva das ONGs (DELGADO, 2004). Surgem aqui as ONGS que se fortalecem quando definem com clareza sua função social; quando se articulam com a escola pública complementando sua ação 7 Especialização em Gestão Pública Programa Nacional de Formação em Administração Pública educativa. O trabalho das ONGs acontece tanto no âmbito educativo comunitário e infrafamiliar, destacando ainda a importância das ONGs como agencias que possuem Know-How em metodologias, estratégias e programas de ação. Elas aumentam em número em um momento de crise econômica e tem como um de seus diferencias a competência técnica, é possível dizer que a educação no Brasil se expande, como campo teórico, a educação aparece como esfera importante nos movimentos presentes na sociedade, destacando a participação da população na luta sobre as conquistas de direitos (PARK, 2007). As ONGs podem ser qualificadas como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público perante o Ministério da Justiça, a fim de firmar TERMO DE PARCERIA com o Poder Público e obter repasses de recursos para o fomento destas atividades, observados os dispositivos previstos na Lei nº 9.790, de 23/03/99 e Decreto nº 3.100, de 30/06/99. 2.1 CARACTERIZAÇÃO DE ONG As Organizações Não Governamentais (ONGs) estruturam-se como associações civis sem fins lucrativos – o que as distingue das empresas privadas, cujo objetivo é o lucro – que têm como objetivo o desenvolvimento de atividades de interesse público. Nessa condição, as ONGs operam de acordo com as regras do Direito privado e, por desempenharem funções de interesse público, passaram também a reivindicar recursos públicos para desempenhar suas atividades, além dos recursos oriundos da iniciativa privada, que desde o seu surgimento vinham garantindo o seu funcionamento (COELHO, 2009). Caracterizam-se por serem organizações sem fins lucrativos, autônomas, isto é, sem vínculo com o governo, voltadas para o atendimento das necessidades de organizações de base popular, complementando a ação do Estado. Têm suas ações financiadas por agências de cooperação internacional, em função de projetos a serem desenvolvidos, e contam com trabalho voluntário. Atuam através da promoção social, visando a contribuir para um processo de desenvolvimento que supõem transformações estruturais, da sociedade. Sua sobrevivência independe de mecanismos de mercado ou da existência de lucros (TENÓRIO, 2005). 8 Especialização em Gestão Pública Programa Nacional de Formação em Administração Pública Desse modo as ONGs pretendem lidar com consensos emergentes, não com interesses; propõem-se a promover e a representar esses consensos; e esperam que a sua legitimidade venha por brotarem da vida cotidiana e comunitária da sociedade, sem manipulação ou artificialismo (DUPAS, 2005). 2.2 ONGs NO BRASIL e OSCIPs Devido à pluralidade e a heterogeneidade destas organizações é difícil atribuir-lhes uma definição única e precisa. Porém, existem alguns critérios que podem ser adotados para se designar um ator social como ONG, embora nem sempre sejam fáceis de serem estabelecidos, que são: não pertencer ao governo, embora possam atuar em parceria com ele; não fazer parte do setor privado tradicional (empresas); não possuir fins lucrativos e empregar seus recursos nas atividades-fim; possuir certa organização formal (registro legal além de uma racionalidade baseada em documentos, estatutos, assembléias, etc); envolver algum nível de trabalho voluntário; apresentar um caráter público (BOVO, 2002). O termo ONG surgiu na década de 1980, importado da Cooperação Internacional Não Governamental, refere-se às organizações que recebiam ajuda financeira na realização de projetos de interesse público (SCHEPERS, 2006). O poder de influência das ONGs cresceu na medida em que foram se profissionalizando e ocupando mais espaço na mídia. Muitas ONGs se organizaram para defender direitos de comunidades contra o poder de grandes corporações, quanto aos direitos trabalhistas de mulheres e contra o trabalho infantil; outras impulsionaram iniciativas globais para que as grandes corporações tivessem um código de conduta sobre as relações trabalhistas mantidas em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento (WINSTON, 2002). As entidades sem fins lucrativos (ONGs), após a edição da Lei 9.790/99 – Marco Legal do Terceiro Setor no Brasil, buscam adaptar-se aos requisitos legais estabelecidos, com a finalidade de obter a necessária qualificação como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público - OSCIP, tendo em vista que a qualificação possibilita às ONGs acesso a recursos públicos para a realização de 9 Especialização em Gestão Pública Programa Nacional de Formação em Administração Pública projetos mediante a celebração de Termo de Parceria, nova figura jurídica instituída pela referida lei, que prevê procedimentos simplificados (SILVA, 2006). Em 1999, foi promulgada a Lei nº 9.790, intitulada de A Lei das OSCIPs, que apresentou uma caracterização específica das Entidades de Interesse Social perante o Estado: a qualidade de interesse público. Este conceito altera o de Utilidade Pública, pois cria dois tipos de organizações sociais: as declaradas de interesse público para fins de relações com o Governo, e aquelas de qualidade social não-declaradas de interesse público. A Lei nº 9.790/99 relacionou as atividades sociais que são admitidas para homologação de uma organização social como de interesse público. O intuito era restringir o acesso generalizado aos recursos públicos de ações sociais, canalizando-os de maneira mais direcionada para as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIPs, dando uma direção orçamentária mais controlada no âmbito do Poder Público (BARBOSA, 2003). Os principais benefícios da qualificação de OSCIP segundo (BARBOSA, 2003) são: a) a possibilidade da celebração de termo de parceria com o Poder Público para o recebimento de recurso; b) a possibilidade de o doador – pessoa jurídica – deduzir do cálculo do lucro real e da base de cálculo da Contribuição Social sobre o Lucro, até o limite de 2% sobre o lucro operacional, o valor das doações efetuadas, conforme previsto no art. 59, da Medida Provisória nº 2.158-34, de 28/7/2001. Para as entidades qualificadas como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIPs, a Lei n° 9.790, de 23/3/1999 determina que as normas para prestações de contas a serem observadas pela entidade devem constar do estatuto e deverão conter, no mínimo (BARBOSA, 2003): 10 Especialização em Gestão Pública Programa Nacional de Formação em Administração Pública a) a observância dos Princípios Fundamentais de Contabilidade e das Normas Brasileiras de Contabilidade; b) que se dê publicidade por qualquer meio eficaz, no encerramento do exercício fiscal, ao relatório de atividades e das demonstrações contábeis da entidade, incluindo-se as certidões negativas de débitos com INSS e FGTS, colocando-os à disposição para exame de qualquer cidadão; c) a realização de auditoria, inclusive por auditores externos; se for o caso, a aplicação dos eventuais recursos objeto do termo de parceria; d) a prestação de contas de todos os recursos e bens de origem pública recebidos pela OSCIP será feita conforme determina o parágrafo único do art. 70 da Constituição Federal, segundo o qual “prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiro, bens e valores públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária”. 2.3 IMPORTÂNCIA DAS ONGS NO CONTEXTO DA GESTÃO PÚBLICA ATUAL A Participação Popular na fiscalização dos atos do Estado, acompanhando os atos praticados pelos poderes executivo, legislativo, judiciário – em âmbito Federal, Estadual ou Municipal – é de fundamental importância para a melhoria da qualidade e eficácia dos serviços prestados pela Gestão Pública. Fiscalizando e verificando se os atos do setor público estão adequados ao que determina os variados diplomas legislativos que regem nosso Estado Democrático e Constitucional de direito, exercemos nossos direitos de cidadãos. 2.3.1 Principais desafios na constituição e gestão das ONGs A administração de uma Organização Não Governamental (ONG), não se diferencia de uma empresa convencional. As exigências legais são mais complexas 11 Especialização em Gestão Pública Programa Nacional de Formação em Administração Pública e exigem uma estrutura de gestão que não se restringe apenas aos documentos básicos (estatuto, CNPJ, regimento interno, ata de diretoria, ata de fundação), a estrutura de gestão de uma ONG deverá ser profissionalizada sem perder o conceito de Organização Não Governamental (LEWIS, 2003). Mesmo estando inseridas num contexto comum às demais organizações, e sofrendo assim, todas as influências que as demais, as ONGs ainda contam com certas particularidades que podem caracterizar sua gestão. Diferentes dimensões culturais, a possibilidade de estarem situadas em áreas de conflito ou de risco político e o desenvolvimento de diferentes tarefas: todos essas aspectos podem ser relevantes para determinar sua forma de gerenciamento. Pode-se dizer, assim, que a gestão de ONGs é distinta à de outros setores e que ela pode se diferenciar também, em função da área de atuação de cada entidade (LEWIS, 2003). Além dessas particularidades, que podem determinar desafios de gestão, a colaboração efetiva entre as entidades não governamentais, empresas com fins lucrativos e governos, foi considerada como o grande desafio, segundo pesquisa desenvolvida por Drucker et al. (2002), com líderes dos três setores. O Estado nem sempre tem respondido com a necessária eficiência na construção desta parceria. A redução de recursos orçamentários em áreas vitais para o desenvolvimento; a ação restrita a macro-programas que verticalizam as ações acabam por obstaculizar a descentralização administrativa; o investimento pequeno em aperfeiçoar os procedimentos de parceria e em desenvolver os parceiros, são alguns fatores que merecem análise e tratamento (FISCHER & FALCONER, 1998). 12 Especialização em Gestão Pública Programa Nacional de Formação em Administração Pública 3. OBSERVATÓRIO SOCIAL DO BRASIL Algumas ações realizadas por empresários da Associação Comercial e Empresarial de Maringá (ACIM), pelo Programa de Orientação para o Estágio (Instituto PROE) e pela Federação das Associações Comerciais do Paraná (Faciap) em 2004, convergiram para a criação do Movimento Pela Cidadania Fiscal em 2005, no meio empresarial de Maringá e no bojo de um contexto nacional de diversas iniciativas pela qualidade na aplicação dos recursos públicos, em favor da redução da carga tributária e pela educação fiscal. O Movimento tomou corpo em 2005 a partir da XV Convenção Estadual da FACIAP – Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Paraná, cujo tema foi “Micro e Pequena Empresa e a Cidadania Fiscal”, evento que fechou uma série de ações da Federação nas diversas regiões do Estado, como a realização de palestras, concurso de redação e feirões do imposto. A missão do Movimento é "despertar o espírito de cidadania fiscal pró-ativa, via a sociedade organizada, em cada cidadão, tornando-o atuante, na vigilância social em sua comunidade”. Inserida numa visão de futuro que almeja “toda a sociedade brasileira consciente de seus deveres e direitos como contribuintes e cidadãos, praticando a vigilância social, assegurando a justiça social". Como valores, o Movimento privilegia o apartidarismo; a livre adesão da sociedade organizada; visão de longo prazo e comprometimento com o resultado. E seu objetivo geral é "conscientizar a comunidade sobre a importância dos tributos para a construção da verdadeira justiça social e dotá-la de instrumentos capazes de assegurar a Vigilância Social da aplicação dos recursos públicos". O Movimento se consolidou a partir da criação do Observatório Social de Maringá, em 2006, instalando uma ferramenta concreta de monitoramento das licitações públicas e de educação fiscal. Com a criação do OSB – Observatório Social do Brasil, o Movimento foi institucionalizado e passou a disseminar a instalação de Observatórios Sociais no Paraná e em outros Estados, formando a Rede (OSB) de Controle Social, com metodologia padronizada e ações integradas. É pessoa jurídica de direito privado, de fins não econômicos regido pelo seu estatuto, pela Lei n. 9.790/99 e pelas disposições legais aplicáveis, podendo se 13 Especialização em Gestão Pública Programa Nacional de Formação em Administração Pública configurar como uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP, com prazo de duração indeterminado tendo como objetivo: I. Atuar como organismo de apoio à comunidade para pesquisa, análise e divulgação de informações sobre o comportamento de entidades e órgãos públicos com relação à aplicação dos recursos, ao comportamento ético de seus funcionários e dirigentes, aos resultados gerados e à qualidade dos serviços prestados. II. Congregar, localmente, representantes da sociedade civil organizada, executivos e profissionais liberais de todas as categorias, sem vinculação político-partidária, dispostos a contribuir no processo de difusão do conceito de cidadania fiscal, servindo a seu grupo profissional e à sociedade em geral. III. Possibilitar o exercício do direito de influenciar as políticas públicas que afetam a comunidade, conforme está assegurado pelo artigo 1° da Constituição Federal de 1988: "todo poder emana do povo". VI. Incentivar e contribuir com o aprimoramento pessoal e profissional de membros da comunidade e de profissionais ligados às áreas de interesse do OS, através de cursos, seminários, palestras, debates, grupos de estudos, entre outras atividades. V. Incentivar e promover eventos artísticos e culturais que possam contribuir para a criação da cultura da cidadania fiscal e popularização das ferramentas de participação dos cidadãos na avaliação e monitoramento da gestão dos recursos públicos. VI. Contribuir, diretamente, para que haja maior transparência na gestão dos recursos públicos, de acordo com o previsto no artigo 5º, incisos XIV e XXXIV; no artigo 37, parágrafo 3º da Constituição Federal de 1988. 14 Especialização em Gestão Pública Programa Nacional de Formação em Administração Pública VII. Estimular a participação da sociedade civil organizada no processo de avaliação da gestão dos recursos públicos, visando defender e reivindicar a austeridade necessária na sua aplicação, dentro de princípios éticos com vistas à paz e à justiça social. VIII. Incentivar e promover o voluntariado nas ações educativas e operacionais em favor dos direitos do cidadão e contra a corrupção. IX. Realizar e divulgar estudos relativos a atividades governamentais e empresaria de interesse da comunidade. X. Participar da Rede da Cidadania Fiscal como forma de facilitar o cumprimento das ações locais de Educação Fiscal e Controle dos Gastos Públicos. XI. Reverter o quadro de desconhecimento, por parte de indivíduos, empresas e entidades, de mecanismos capazes de possibilitar o exercício da cidadania fiscal e o controle da qualidade na aplicação dos recursos públicos. XII. Apresentar propostas para o desenvolvimento de projetos, atividades, estudos, que contemplem a promoção de mudanças fundamentais e essenciais no processo de gestão dos recursos públicos, principalmente nas áreas de saúde, educação, recursos humanos, licitações, gastos do poder legislativo e assistência social. 3.1 PROGRAMAS E PROJETOS DE CIDADANIA Os programas e projetos do Observatório Social do Brasil envolvem vários campos de atuação, desde o que busca qualidade na aplicação dos recursos públicos até ações diretas de educação nas escolas e com a comunidade em geral, utilizando principalmente arte e cultura para conscientizar. 15 Especialização em Gestão Pública Programa Nacional de Formação em Administração Pública A qualidade na aplicação dos recursos públicos monitoramento sistemático dos recursos humanos, licitações, receitas do município, diárias da Câmara de Vereadores, benefícios obtidos para a comunidade, entregas de produtos/serviços e estoques municipais dos poderes Executivos e Legislativos, além do andamento de processos judiciais abertos contra gestores de recursos públicos e órgãos públicos. Com relação ao Programa Semeando a Cidadania Fiscal, foram abertos o Concurso de Redação, cujo objetivo é ampliar o conhecimento e envolver jovens com a cidadania fiscal além de propor maneiras de acompanhar a correta aplicação dos recursos públicos despertando nos cidadãos o entendimento sobre os malefícios da sonegação e pirataria. Busca principalmente conscientizar dos jovens que os impostos arrecadados são utilizados em benefício da própria população e que eles têm o direito e o dever de fiscalizar o dinheiro público e onde estão sendo aplicados. Já o Projeto Festival de Música, além de difundir a música como um meio de expressão cultural e de conscientização sobre cidadania, tem como objetivo induzir, potencializar, dinamizar e estimular a consciência dos jovens e da comunidade quanto à política fiscal do país, promovendo o intercâmbio cultural e valorizando novos talentos. O Concurso de Monografia foi criado com o objetivo de incentivar alunos das instituições de ensino de graduação (Universidades e Faculdades) do Estado, nas áreas de Economia, Administração, Contabilidade, Direito e afins, pesquisar e desenvolver trabalhos com temas que envolva as questões dos gastos públicos, tributos, lei de responsabilidade fiscal, contas públicas, corrupção e outros. E ainda, pesquisa anual sobre cidadania fiscal com aplicação de questionário padrão. Destaca-se também, dinamizando a cidadania, cujo objetivo é potencializar os Conselhos Municipais capacitando e trabalhando em conjunto na busca de soluções, além de aumento da competitividade nas licitações municipais divulgando, convidando e facilitando a participação das micro e pequenas empresas nos processos licitatórios, no cumprimento da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa. Com relação a prestação de contas quadrimestral do OS local a sociedade. Com apresentação do sistema de monitoramento dos vereadores e divulgação e acompanhamento das audiências públicas de prestação de contas do município e 16 Especialização em Gestão Pública Programa Nacional de Formação em Administração Pública convite aos deputados estaduais e federais para prestação de contas de projetos e verbas parlamentares. Tais ações impactaram no eleitoral consciente o registro em cartório de títulos e documentos do plano de governo do candidato a prefeito em cartório de títulos e documentos do município. Na aprovação da lei municipal que exige o cumprimento do plano de governo e prestação de contas e na sensibilização dos candidatos à prefeitura e à câmara para que sejam solidários aos trabalhos do Observatório Social. Além desses programas os serviços do observatórios adapta, constrói, formata, sistematiza, regulamenta, normatiza, padroniza e disponibiliza conteúdos necessários para o desenvolvimento das ações, programas e projetos referentes à cidadania fiscal. As ações do OSB são disponibilizadas através de um sistema operacional via intranet www.observatoriosocialdobrasil.org.br. Quanto a sensibilização social promoveu-se palestras para mobilização e criação de organismo capaz de acompanhar a gestão pública, cuja organização capacitou a equipe técnica através de cursos, treinamentos, eventos, workshop, fóruns, seminários, palestras e congressos, além de fornecer suporte à gestão dos OS. O monitoramento capacita além de acompanhar e avaliar a produção legislativa municipal e acompanhar os processos judiciais contra agentes e órgãos públicos. O suporte jurídico capacita e orienta sobre legislação das licitações, elaboração de documentos, registro e legalização dos OS, além de cadastro e filiação destes a Rede. Já a sustentabilidade tem por objetivo orienta sobre captação de mantenedores e fornece projeto de apresentação da entidade, estatuto, requerimento de filiação e termo de manutenção. E a prestação de contas é a metodologia e treinamento para apresentação da prestação de contas dos OS e mecanismos para avaliar as prestações de contas dos agentes públicos. Com relação a capacitação dos conselhos municipais ocorre por meio de metodologia e indicadores para a implantação de políticas públicas, tendo como orientação para das micro e pequenas empresas para a efetiva participação nas licitações. Não basta orientação e capacitar houve também a necessidade da assistência em tecnologia oferecendo soluções em software e assistência à distância para a padronização dos OS e dos processos como o sistema informatizado de 17 Especialização em Gestão Pública Programa Nacional de Formação em Administração Pública monitoramento das licitações além de buscar a comunicação para oferece canais de relacionamento com todas as partes envolvidas. Desse modo houve o apoio a sustentabilidade da gestão pública, ao desenvolver e disponibilizar indicadores de desenvolvimento econômico e social para embasar o trabalho dos OS e metodologia para gestão dos processos. Além de promover os talentos humanos construindo indicadores para a análise dos mesmos empregados na gestão pública. E buscam por meio de pesquisa, estudo e proposta de novas metodologias capazes de melhorar o desempenho. E por último a avaliação social com monitorando as ações dos OS e emite certificado anual de validação. 3.1.1 Observatório Social de Goioere Segundo o coordenador do Observatório Social de Goioerê, Roberto Cavalcante, a entidade busca colaborar com a gestão pública, participando de aberturas de licitações, acompanhando as ações da prefeitura e envolvendo líderes da comunidade no sentido de contribuírem na correta e transparente aplicação dos recursos públicos. “A sociedade precisa se envolver e colaborar, gradativamente, para a aplicação mais coerente e acertada do dinheiro público”, disse, ressaltando que o Brasil arrecada uma quantia vultosa, no entanto, a corrupção, vícios em processos de licitação, de contratação de servidores e compra de mercadorias faz com que essa espantosa soma de recursos não seja suficiente. O coordenador do Observatório Social lembra que os prefeitos devem ver a entidade como aliada, como uma ferramenta de gestão e instrumento com a missão de colaborar com as gestões públicas. “O Observatório Social é uma entidade preocupada com a lisura dos processos de licitações e aplicação do dinheiro público. É um instrumento de apoio e aliado do poder público”, disse. É importante lembrar que para pertencer ao órgão a pessoa não pode estar filiada ou pertencer a partido político. 18 Especialização em Gestão Pública Programa Nacional de Formação em Administração Pública 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Existe uma série de vantagens nos serviços prestados pelas ONG’s e eles auxiliam no desenvolvimento de algumas pessoas, porém existe uma falta de estruturação devido à inexistência de apoio de alguns setores que participam direta ou indiretamente destas instituições, fazendo com que as ONG´s criem certo “ambiente de sustentação”, desta forma não conseguindo alcançar os objetivos traçados em relação à inserção dos alunos no mercado de trabalho. Pode-se dizer que sem uma parceria sincronizada e de peso e com os mesmos objetivos, as ONG’s não vão conseguir o seu sonhado e nobre objetivo de dar uma condição para as pessoas que realmente precisam. Desta forma não conseguindo com a mesma eficiência a inserção destas pessoas no mercado de trabalho. Mas por outro lado, só de oferecer a estas pessoas o conhecimento, alfabetização e uma oportunidade faz das ONG’s um das mais nobres instituições do mundo, pois enfrentam todas essas dificuldades, sem remuneração, apenas com um ideal, ter um país mais justo e igual para todos. O momento histórico atual possibilita as ONGs tornar o Estado mais democrático, porém para que isso aconteça à sociedade precisa se organizar, sem excluir as diferenças, mas juntar conceitos e ocupar esse espaço. As ONGs devem sim discutir as idéias pelas quais não concordam, sendo isto uma chave para que essa mudança realmente aconteça. Quanto ao preparo dos representantes das ONGs, é fundamental que eles contribuam no sentido de valores sociais, aos seus problemas, aos grupos nos quais estão sendo inseridos, é extremamente importante que não fiquem presos a rotinas, que sejam consumidos pelo cotidiano, para que possam tornar educadores eficientes. 19 Especialização em Gestão Pública Programa Nacional de Formação em Administração Pública REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARBOSA, A. G. Manual de procedimentos contábeis e prestação de contas das entidades de interesse social / Conselho Federal de Contabilidade. - - Brasília : CFC, 2003. FAGUNDES, H. S. O voluntariado, a solidariedade e as políticas sociais. In: Revista virtual Textos & Contextos, ano V, n. 6, dez. 2006. p. 14. http://www.observatoriosocialdobrasil.org.br/boletim/1.pdf IAMAMOTO, M. V. O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2001. MONTAÑO, C. Terceiro setor e questão social: crítica ao padrão emergente de intervenção social. São Paulo: Cortez, 2002. SILVA, F. M. Q. OSCIP – Marco Legal do Terceiro Setor. Revista virtual Textos & Contextos, n. 8. Jan. 2006. YAZBEK, M. C. Pobreza e exclusão social: expressões da questão social no Brasil. Temporalis, Porto alegre, ano II, n. 3, 2001.