Terapia do Esquema – O que são e como surgem? Quando nascemos dependemos de um adulto para suporte tanto físico quanto emocional. Sem um adulto a criança morre. Porém essa criança é cuidada por um adulto imperfeito que vem carregado de seus esquemas aprendidos na sua infância ou juventude. E esse adulto não consegue ser suficientemente bom e acaba deixando marcas na criança que cuida, seja por falta ou excesso de algo. Uma combinação de fatores de temperamento e de necessidades emocionais não satisfeitas poderá levar a criança ou adolescente a construir formas de atingir essas necessidades. Assim essa criança vai criando esquemas para se proteger desse excesso ou dessa falta que o cuidador apresenta. Disso surgem os esquemas, que são modos de funcionamento da pessoa expressos em seus comportamentos, sentimento e atuação no mundo. Apesar desses esquemas, conhecidos com Esquemas Iniciais Desadaptativos, começarem na infância, sua natureza disfuncional se torna mais evidente na idade adulta na interação com as pessoas. Tais estratégias são estilos de respostas comportamentais defensivas que as pessoas desenvolvem desde muito cedo em suas vidas para enfrentar emoções intensas e pesadas geradas por experiências nocivas e difíceis para uma criança. Criam um conjunto de crenças e sensações negativas sobre nós mesmos, sobre o mundo e sobre as relações. E são vistos como verdades absolutas. E de alguma forma funcionou na infância, mas que hoje não funciona mais. No entanto, as estratégias de enfrentamento acabam, ao longo do tempo, se tornando rígidas e disfuncionais, trazendo prejuízos e problemas para a vida da pessoa. Impedem que a pessoa atinja as necessidades básicas de autodeterminação, independência, relação interpessoal, espontaneidade e limites realistas. São sentidos como certos e por serem autoperpetuantes são altamente resistentes a mudanças. São 18 os Esquemas Iniciais Disfuncionais, também conhecidos como EIDs, distribuídos em 5 domínios. Cada domínio é formado a partir uma atmosfera familiar encontrada por essa pessoa na sua infância e adolescência e possui suas necessidades emocionais básicas. São eles: ➢ Desconexão ou rejeição: formado por uma atmosfera familiar onde os cuidadores são individualistas, frios, rejeitadores, explosivos, imprevisíveis ou abusivos. As necessidades emocionais da pessoa que se encontra nesse domínio são de vínculos seguros com outras pessoas. ➢ Autonomia e desempenhos prejudicados: os pais são emaranhados afetivamente e comportamentalmente aos filhos, minando a confiança e o superprotegendo. As necessidades emocionais desse domínio são de autonomia, competência e sentido de identidade. ➢ Limites Prejudicados: há uma excessiva permissividade dos cuidadores, com abuso ou falta de direção, e que com isso inflamam um senso de superioridade. As necessidades emocionais aqui são de liberdade de expressão das emoções e validação das necessidades. ➢ Orientação para o outro: os cuidadores baseiam sua relação com a criança de uma aceitação condicional. A criança precisa suprimir aspectos importantes de si para ganhar amor, atenção e aprovação. As necessidades emocionais são de espontaneidade e lazer. ➢ Supervigilância e inibição: Os cuidadores foram cruéis exigentes e até punitivos. O desempenho, o dever, perfeccionismo, seguimentos de regras, ocultação de emoções e evitação de erros predominam sobre o prazer, alegria e relaxamento. As necessidades emocionais desse domínio são de limites realistas e autocontrole. Através da Terapia de Esquemas a pessoa consegue fazer seu auto monitoramento. Pensar sobre os processos e identificar quais são os gatilhos que ativam os EIDs. Bem como quais são os indicadores de que esses esquemas estão sendo ativados e quais os mecanismos que irão inibir a ativação desses EDIs. Esquemas Iniciais Desadaptativos 1 Desconexão e rejeição: A necessidade emocional básica desse domínio é o vínculo seguro com outras pessoas. A criança cresce em uma atmosfera familiar onde percebeu os cuidadores de forma individualistas, frios, rejeitadores, explosivos, imprevisíveis ou abusivos. Com isso criam uma expectativa de que as próprias necessidades de segurança, estabilidade, cuidados, aceitação e respeito não serão atendidas de forma constante e previsível. 1 Abandono e instabilidade: É um EID muito comum . É uma percepção, uma crença, que a pessoa tem de uma completa ou parcial indisponibilidade dos outros para lidarem com ela. Existe uma crença de que a qualquer momento ela pode ser abandonada. Essa ideia causa um sofrimento muito grande por ser uma necessidade básica do ser humano que é o ser cuidado. Com isso essa pessoa pode não se aproximar das pessoas com a crença de que mais cedo ou mais tarde será abandonada. E esse processo pode acarretar em uma relação de extrema dependência , e de manipulação para que não ocorra o abandono ou relações interpessoais de distanciamento e isolamento. 2 Desconfiança e abuso: Tem a expectativa de que as pessoas irão magoar, humilhar, trair, abusar e que em algum momento o outro vai fazer mal a ela. O esquema tem uma atitude de abrangência global e generalizada em suas relações interpessoais. Quando criança aprendeu que não confiar nos outros era necessário para que as formas de dano não fossem vivenciadas. 3 Privação emocional: Diz respeito ao fato de que minhas necessidades básicas de afeto, cuidado, amor, amparo e proteção de alguma maneira não foram atendidos e isso faz com que não pode esperar que as pessoas estejam disponíveis para ela. Nunca se sente apoiado, compreendido nas suas dificuldades e ainda onde sente-se exposta e desprotegida em relação aos outros. 4 Isolamento social e alienação: É quando o contato e aproximação com outras pessoas é visto como desagradável, intrusivo e sem grande valor. É um sentimento de estar isolado dos outros, do mundo e que não faz parte de nenhum grupo. Percepção de que não precisa dos outros. Que os outros não conseguem suprir minhas necessidades. 5 Defectividade e vergonha: Percebe-se incapaz de ser amado. Crença de que é indesejável, inferior e que não tem as qualidades mínimas para ser amado pelos outros. E que se mostrar o seu eu verdadeiro será excluído pelos outros. 2 Autonomia e desempenhos prejudicados: A necessidade emocional básica desse domínio é a autonomia, competência e sentido de identidade. A criança cresce em uma atmosfera familiar onde os cuidadores estão emaranhados efetiva e comportamentalmente a ela, minando a confiança e o superprotegendo. Isso prejudica a ação autônoma e de avanço em sua vida. Seja através das relações interpessoais ou de trabalho. 1 Dependência / incompetência: Senso de incompetência. Crença de que se fizer as coisas por ele mesmo não terá sucesso. Estratégia utilizada: Com isso faz tudo buscando checagem com os outros ou não fazendo escolha para que não seja responsável por um possível fracasso. 2 Vulnerabilidade ao dano ou à doença: Esse EID pode abrir para vários tipos de vulnerabilidade, como dano ou doença (hipocondria) e também a catástrofe ou ruina. Um medo exagerado de que a qualquer momento tudo pode mudar para uma situação muito ruim. Estratégia utilizada: controle excessivo para tentar adiar ou se proteger para quando isso acontecer. 3 Emaranhamento / self subdesenvolvido: É um esquema mais incomum. É um envolvimento emocional a uma ou duas pessoas significativas. Pode ser o pai, a mãe, irmão, cônjuge, amigo, enfim, qualquer pessoa significativa. Fazendo com que a simbiose com essa pessoa seja elevada. Tem a sua identidade fundida com esse outro. Gerando uma dificuldade em se individualizar e ter a sua identidade. Sentimento de vazio e de completa desrealização e despersonalização. Estratégia utilizada: 4 Fracasso: É o esquema que estabelece a crença de que vai inevitavelmente fracassar em qualquer área de realização que a pessoa estabeleça. Pode ser em relação ao trabalho, mas também de relacionamentos e lazer. A pessoa se percebe não talentoso, menos bem sucedido, que é ignorante, embora as evidências mostrem o contrário o paciente invalida essas evidências. 3 Limites prejudicados: A necessidade emocional básica desse domínio é liberdade de expressão das emoções e validação das necessidades. A criança cresce em uma atmosfera familiar onde tem excessiva permissividade dos cuidadores , abuso ou falta de direção e por inflamarem um senso de superioridade. 1 Autocontrole e autodisciplina insuficiente: Percebe-se nessas pessoas uma grande dificuldade em exercer o autocontrole e autodisciplina e ter tolerância a uma frustação. O retorno sobre as tarefas executadas ou afetivo tem que ser imediatas. Tem um funcionamento quase que birrento e infantil ao querer as coisas instantaneamente e não conseguir medir as consequências de seus atos a longo e médio prazo. Esse quadro é encontrado comumente em situações de abuso, seja por droga, sexo, jogo, dependência de internet. A busca é por gratificação, satisfação ou alivio sem se dar conta das consequências negativas para si e para os outros. Outra característica é a dificuldade de controlar ou frear a exposição de alguns sentimentos que podem lhe ser prejudiciais a médio e longo prazo. É o super sincero sem ter a noção de que pode ser danoso seu gesto. Também tende a viver a vida focalizada em uma evitação do desconforto. 2 Merecimento ou grandiosidade: Crença de ser superior e não se subjulgar as regras da sociedade. Com forte tendência a querer ser ou ter até mesmo o que não se pode obter instantaneamente e que depende dos outros. São pessoas arrogantes, presunçosos e com dificuldade de reciprocidade e empatia para com os outros. Transtorno de personalidade narcisista. Acredita ser superior, melhor que os outros e com regras especiais para ele , diferentemente dos outros. Não aceitam não como respostas e querem conseguir as coisas em uma dimensão de tempo que ele suporta e que geralmente é muito curto. 4 Supervigilângia e Inibição: É um domínio centralizado na ideia de que as pessoas vão errar e que serão punidas pelo erro. Assim torna-se mais importante controlar a realidade do que expressar-se de forma natural. A necessidade emocional básica desse domínio são limites realistas e autocontrole. 1 Negativismo e pessimismo: O que caracteriza uma pessoa com esse esquema altamente ativado é o fato de estar voltada para os aspectos negativos do seu dia a dia. A distorção cognitiva presente aqui é abstração seletiva, ou seja a pessoa tende a enfatizar em todas as situações os pontos negativos mesmo sendo muito menores em relação aos pontos positivos. Cria uma expectativa de que as coisas naturalmente ocorram mal, não evoluindo de uma maneira positiva. 2 Inibição emocional: Consiste em uma hiper inibição da ação expontânea, dificuldade em comunicar as coisas que lhe agradam, para garantir um senso de controle e segurança e de que não vai cometer erros. As emoções mais inibidas são as emoções negativas, principalmente a raiva, mas também a tristeza. Isso porque a raiva não é bem vista socialmente e tristeza pode ter sido aprendida que precisa ser minimizada. A pessoa sente, mas não expressa afim de garantir um controle e uma racionalidade sobre sua vida. 3 Padrões inflexíveis e hiper-responsabilização: Crença de que a pessoa deve se esforçar para atingir padrões ultra elevados de comportamento e desempenho. Esse controle é no campo da ação, do pensamento e da emoção. Um controle excessivo de seus comportamentos e também do que pode pensar ou sentir. Isso gera um desgaste emocional muito grande. Tem como características um perfeccionismo excessivo, regras muito rígidas para consigo mesmo e para com os outros. E ainda preocupação com tempo, eficiência e lucratividade. Talvez você esteja se perguntando: mas isso não é positivo? Vivemos em um mundo competitivo e com uma velocidade acelerada de informações. Seria... desde que não em excesso, porque atrapalha a capacidade de ser feliz, espontâneo e respeitar o seu desejo e limites. É uma tentativa heroica de manter o controle das situações e de se manter a cima de um nível mediano de funcionamento. Quando agirmos assim pode surgir a procrastinação, pois nada está suficientemente bom. E também pode gerar ansiedade para que consiga alcançar a expectativa gerada. 4 Caráter Punitivo: Crença de que as pessoas deveriam ser severamente punidas por terem cometido algum erro. Uma intolerância muito grande ao erro contra si mesmo e contra os outros. Comum em pacientes com TOC. 5 Orientação para o outro: A necessidade emocional básica desse domínio é espontaneidade e lazer. A criança cresce em uma atmosfera familiar onde os cuidadores baseiam sua relação com as crianças em aceitação condicional. A criança suprimiu aspectos importantes de si para ganhar amor, atenção e aprovação. Pode funcionar de maneira condicional. A pessoa se subjulga, faz o auto sacrifício ou busca o reconhecimento dos outros como uma forma de não se defrontar com os esquemas mais primitivos como abandono, privação emocional, abuso e defectividade. 1 Subjulgação: representa completa rendição aos desejos dos outros . Seu comportamento é de satisfazer os outros e não correr risco de ser abandonado, negligenciado. Dois tipos: - subjulgação das necessidades básicas da vida: pessoa que prefere dar o seu alimento ao outro, ou se prejudicar para que o outro tenha a sua necessidade suprida, a suprir a sua própria necessidade. Quando o outro então não te supre minimamente a tristeza, a raiva, a frustração chega em grande intensidade. - subjulgação das emoções: expressa as emoções que acredita que o outro suporta. Se a percepção for de que o outro irá de alguma forma se incomodar com o sentimento a ser expressado, seja ele negativo ou positivo, a pessoa não o expressa e guarda para si, mesmo que traga prejuízo a ela própria. 2 Auto sacrifício: Crença de que é fundamental fazer uma satisfação voluntária das necessidades do outro, não porque deixa a pessoa feliz, e sim para evitar a possível dor, crítica ou mesmo ter uma culpa por ter sido egoísta ao não considerar as necessidades dos outros. Tanto o auto sacrifício de menos quanto o de mais é prejudicial. A virtude está no equilíbrio. 3 Busca de aprovação e reconhecimento: Ênfase excessiva na busca de reconhecimento, aprovação e de atenção por parte dos outros. Sentido de auto-estima e auto conceito da pessoa, ao invés de estar vinculado às suas próprias inclinações pessoais, seus próprios anseios e necessidades, está mais voltado as consideração e feedback dos terceiros. O comportamento constante de buscar o feedback dos outros é característico da pessoa com esse EID apesar de muitas vezes causar um prejuízo e desgaste energético muito acentuado.