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Pré Projeto - Pobre de direita

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CATALÃO
UNIDADE ACADÊMICA DE HISTÓRIA E CIÊNCIAS SOCIAIS
CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
POBRE DE DIREITA: UMA ANÁLISE DA CLASSE
TRABALHADORA E A REORGANIZAÇÃO DAS NOVAS DIREITAS
NO BRASIL.
Catalão
Agosto /2021
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CATALÃO
UNIDADE ACADÊMICA DE HISTÓRIA E CIÊNCIAS SOCIAIS
CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
POBRE DE DIREITA: UMA ANÁLISE DA CLASSE
TRABALHADORA E A REORGANIZAÇÃO DAS NOVAS DIREITAS
NO BRASIL.
Projeto de pesquisa apresentado no curso
de graduação em ciências sociais da
UFCAT, como pré-requisito para
qualificação e conclusão da disciplina de
TCC I, sob orientação do Prof. Dr. José
de Lima Soares.
Catalão
Agosto /2021
WATUZI REBELO DA SILVA
POBRE DE DIREITA: UMA ANÁLISE DA CLASSE
TRABALHADORA E A REORGANIZAÇÃO DAS NOVAS DIREITAS
NO BRASIL.
_______________________________________________.
Vinicius Oliveira Santos
Examinador
_______________________________________________.
Dr. José de Lima Soares
Orientador
Catalão,
de agosto de 2021.
Resultado: _________________.
RESUMO
No Brasil o desenvolvimento de políticas públicas que promoveram importantes
mudanças na estrutura social, engendrou comportamentos bastantes peculiares entre as
classes, principalmente na classe trabalhadora. Esse processo tem sido acompanhado por
uma expansão de políticas da chamada direita alternativa (Alt-Right).
As proposições iniciais da política de extrema direita brasileira são reveladas mais
fortemente durante o governo do PT, com forte apelo antidemocrática e fascista. A classe
trabalhadora tem sido bombardeada por uma mídia imparcial e elitizada, bem como as
fake News que embaçam a compreensão acerca de temas primordiais para o pleno
desenvolvimento social.
E a partir daí se dá o encetamento e o fortalecimento de discursos de extrema
direita. Seus adeptos passam a demonstrar cada vez mais e sem nenhum pudor seus
discursos antidemocrático, reacionário e conservador. É importante ressaltar que esses
discursos ganham a adesão de diversos segmentos sociais de grande relevância e
influência. Em contrapartida está a esquerda brasileira, e que tem no cerne de sua política
a busca por uma sociedade mais democrática com indivíduos mais combativos, vê o
esvaziamento de seu discurso diante de uma direita radicalizada que viu na internet um
campo livre para sua articulação.
PALAVRAS-CHAVE: Extrema Direita, Fake News, Fascismo, Esquerda.
Sumário
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................... 6
2. OBJETIVOS ............................................................................................ 9
2.2. Objetivo Geral ................................................................................... 9
2.3. Objetivos Específicos ........................................................................ 9
3. JUSTIFICATIVA ................................................................................. 10
4. CAPITULO 1 ........................................................................................ 12
A Formação das Classes no Brasil ...................................................... 12
4. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ............................................... 17
1. INTRODUÇÃO
Com as jornadas de junho de 2013, pode-se testemunhar nos anos seguintes um
crescimento cada vez maior de manifestações que ocuparam as ruas por todo o país, tais
eventos que tradicionalmente são articulados por movimentos sociais politicamente
alinhados à esquerda, passam a ter também como protagonistas grupos de direita com
discursos neoconservador e neoliberal. Tais grupos vão ao longo do tempo ganhando
diversas denominações, como observa SOLANO (2018) “Rótulos para denominar a
reorganização de grupos conservadores e/ou da direita radicalizada que tem abrangência
mundial e, como não poderia ser diferente, com fortes reflexos no Brasil”.
E a partir desse contexto que a antiga descrença na política, ganha força e o alvo
do descrédito passar a ser direcionado aos partidos da direita tradicional e mais moderada,
e como já de costume, os de esquerda. A redemocratização ocorrida pós ditadura civilmilitar, que contou com articulação de movimentos sociais e partidos de esquerda. Vem
nos últimos anos sofrendo fortes ataques por meio dos discursos propagados pelas novas
direitas, paralelamente, a esquerda colhe os frutos dessa ascensão, sendo cada vez mais
aviltada pelas novas classes consumidoras nas redes socais e aplicativos de mensagens
instantâneas.
Um notável aspecto sobre as novas direitas é a sua fundamental ferramenta para
articulação de seu discurso, a internet. Um ambiente ainda muito propicio para a
disseminação de fake news, que tem por objetivo principal, atacar adversários políticos.
O usos de memes1 também tem sido uma nova maneira de se fazer política, o que tem
possibilitado a distorção de temas que envolvem a discussão sobre gênero, sexualidade,
racismo, feminismo, legitimando a crescente onda fascista que ataca as minorias, e que
tem servido também como estratégia política. Temos como exemplo, o Deputado Federal,
“De modo bem objetivo, compreendemos atualmente os memes como uma linguagem ou um gênero
comunicativo próprio do ambiente digital, e que costuma ser materializado na forma de uma imagem
legendada, um vídeo viral, um bordão engraçado, ou uma animação extravagante. Além disso, grande parte
da riqueza dos memes está expressa em sua característica intertextual. Eles frequentemente trazem
referências à cultura pop, uma novela, uma série de tevê, um reality, ou o último acontecimento político do
noticiário. Próprios do universo das comunidades online, os memes são geralmente lidos como conteúdos
efêmeros, vulgarmente encarados como “besteirol" ou “cultura inútil", fruto de sua interpenetração com a
linguagem do humor.” Museu dos Memes. 2015. Disponível em: https://museudememes.com.br/. Acesso
em: 28 jul. 2021.
1
Kim Kataguiri que elencou dois funcionários que tinham como função a criação de
memes2.
Logo as narrativas produzidas pela nova direita tem sido absorvidas por uma
parcela importante da sociedade, principalmente, a classe trabalhadora. Ganhando
destaque uma emblemática figura, o Pobre de Direita. Além deste, muitos outros termos
tem sido utilizados para criticar indivíduos que enxergam nas políticas da extrema direita
alternativas para suprir suas demandas. Isto abriu espaço para políticos da extrema direita,
como Jair Bolsonaro, embasarem sua fala na ideia de que a velha política reproduzida
historicamente pelos partidos de esquerda e direita, são a fonte dos problemas que
assolam o país, e dessa maneira se apresentam como membros de uma nova política.
Tendo em vista, ainda que gradualmente e distante do ideal, no Brasil pós ditadura,
diversas medidas foram tomadas para a promoção do combate da desigualdade social,
respeito aos direitos humanos e o fortalecimento da democracia. Também ocorreram
mudanças na estrutura econômica no Brasil nas últimas duas décadas, como diminuição
da taxa de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza, aumento da taxa de emprego e o
surgimento de uma nova classe trabalhadora. Resultando em um novo arranjo entre as
classes mais pobres, conforme analisa POCHMANN (2015) “na incorporação de
trabalhadores de baixa renda no padrão tardio de consumo fordista, equivocadamente
associado à ascensão social de classe média”.
Esse dinamismo teve seu ápice no governo do PT, no entanto, isto não impediu
que se desenvolvesse uma forte crise institucional que marca o segundo mandato de
Dilma Rousseff (PT), coincidindo com crises econômicas globais, altos índices de
desemprego, grandes escândalos de corrupção na política, resultando no seu
impeachment. Como destaca SOLANO (2018) “A anomia política instaura-se no
cotidiano, levando a uma degradação muito rápida e a uma perda de confiança das bases
representativas da sociedade brasileira.”.
Resumidamente, os eleitores que elegeram o PT, também foram os responsáveis
pela derrocada do mesmo, bem como de suas políticas assistencialistas. Dessa forma,
VITORIO, Tamires. "Departameme": conheça o novo departamento de Kim Kataguiri. 2019.
Revista Exame. Disponível em: https://exame.com/brasil/departameme-conheca-o-novo-departamento-dekim-kataguiri/. Acesso em: 01 ago. 2021.
2
passam a atrair-se pela eloquente fala de políticos da extrema direita, o que demonstra o
aspecto fluído do eleitorado brasileiro. Conforme observa a autora acima citada.
A raiva antipestista tem um de seus fundamentos nesta reordenação social.
Igualmente, o fato do PT ter se transformado no partido do governo durante
um ciclo extenso afastou-o progressivamente das camadas populares,
provocando novas preferências eleitorais em algumas destas novas classes
consumidoras que, frequentemente, se auto enquadram como “classes médias”
e se distanciam da identidade com o petismo. (SOLANO, 2018, p. 4)
É importante salientar, ainda que não seja o foco deste trabalho, um fator que pode
ter exercido influência sobre o comportamento da classe trabalhadora, é o papel da mídia
hegemônica, que polemizou intensamente, e agiu por diversos momentos de maneira
parcial, nos casos de corrupção envolvendo o partido dos trabalhadores (PT). O que
possibilitou o descrédito deste partido diante da população. Neste contexto surge o maior
dos questionamentos, sobre como uma sociedade que historicamente engendra grandes
abismos sociais e econômicos, pode crer nos discursos da nova extrema direita?
Disto também emergem críticas à falta de consciência da classe trabalhadora, e à
esquerda, que tem seu discurso enfraquecido, frente a uma sociedade pautada pelo
consumo, com altas taxas de desemprego. Levando a esta perder seu principal integrante,
a classe trabalhadora. Como que diante do avanço do neoliberal esta classe tem se tornado
cada vez mais despolitizada? Esta preferência realmente é política, ou fatores sociais e
históricos exercem força ainda maior neste posicionamento?
Logo este trabalho se concentra em verificar os desígnios dos que são
identificados como pobres de direita, e alguns fatores que a prior podem creditar essa
postura contraditória à classe trabalhadora. Salientando alguns aspectos da formação
histórica das classes socias no Brasil. Analisando também o incomodo reproduzidos pelas
novas classes consumidoras, que ao se beneficiarem por diversas políticas públicas,
passando a repeli-las. Seguindo o perfil da classe média tradicional, que sente-se acuada
com determinados avanços sociais que diminuem a sua distância social com relação a
classe trabalhadora.
Dessa maneira este trabalho se estrutura da seguinte forma. Na primeira parte traça
brevemente, os primeiros aspectos que constituem as classes sociais no Brasil. Na
segunda traça a conjuntura que permeia a construção do pobre de direita. Na parte final
esboça a alinhamento da classe consumidora aos discursos ideológicos assentados no
pensamento neoliberal e neoconservador utilizado pela extrema direita. A metodologia
utilizada nesse trabalho será feita através dos método qualitativo e pesquisa bibliográfica.
Ainda que diante que uma limitada bibliografia especifica sobre o tema Pobre de direita,
é possível encontrar em pelo menos dois autores um estudo mais aprofundado sobre essa
questão. Já que o juízo direcionado a esses indivíduos, é se faz quase exclusivamente por
memes. Portanto o que se espera deste trabalho são conclusões ainda não definitivas,
possibilitando algumas perspectivas para pesquisas futuras.
2. OBJETIVOS
2.1. Objetivos Gerais:
Identificar os principais pontos que constroem o discurso da extrema direita e quais
fatores possibilitaram a escalada desses discursos ente a classe trabalhadora
brasileira, contextualizando fatores que contribuíram fazendo a analise através das
manifestações e protestos ocorridos a partir de 2015 destacando os principais
argumentos utilizados pelos manifestantes.
2.2. Objetivos Específicos
2.2.1. Analisar os principais fatores que moldam as classes sociais, e mais
especificamente aspectos que compõe a classe trabalhadora;
2.2.2. Analisar o perfil dos indivíduos identificados como “Pobre de Direita” e seu
discurso de legitimação da extrema direita no Brasil;
2.2.3. Verificar as implicações no âmbitos social, cultural e político que
possibilitaram a eleição de políticos com discursos extremistas no executivo e
legislativo.
3. JUSTIFICATIVA
A pretensão para a construção deste trabalho se deu por dois motivos. A primeira
foi pelas jornadas de junho de 2013, já que não havia se testemunhado uma mobilização
social dessa magnitude no Brasil. Ainda que apresentasse alguns aspectos nebulosos, no
contexto geral, parecia que estava se testemunhando uma articulação que promoveriam
maiores avanços sociais do que até então estava acontecendo. Era inquestionável que os
avanços promovidos pelo PT repercutiam de maneira a permitir tais mobilizações.
Contudo, os pequenos grupos com um tímido discurso antidemocrático na época
foram ganhando força. O que mais chamou atenção foram os sujeitos responsáveis por
tais atos e suas reinvindicações, a classe média. Que vinha sofrendo as consequências de
crises econômicas, mas sobretudo com a inédita redistribuição de renda e o ensejamento
de políticas sociais que permitiram a entrada de indivíduos das classes pobres e
trabalhadoras nas universidades públicas, ou até mesmo passar a viajar de avião. Isso são
só simples exemplos, outros mais importantes serão citado neste trabalho.
Percebendo que tais protestos se espalham por toda a sociedade, e mais
contraditoriamente, pela classe trabalhadora. Uma acirrada discussão se estabelece dentro
de famílias, grupos de amigos, vizinhos, colegas de trabalho e etc. O ponto crucial da
discussão é sobre como o PT instaurou o caos social, político e econômico. Preconizando
com suas políticas de esquerda o fim da moral cristão, da ética do trabalho, dos preceitos
familiares e etc.
Simultaneamente a mídia transformava numa espetacularização os casos de
corrupção do Partido dos Trabalhadores, tema recorrente e ainda não superado pela
sociedade brasileira. Já que a forma que é colocada indica que este é o maior dos males
do Brasil. Voltando ao intenso debate, acima citada, na internet surge o famigerado
personagem tema deste trabalho, o pobre de direita.
À primeira vista é notário o ranço que se tem por este indivíduo, mas é neste ponto
que entra a minha segunda motivação. Tendo realizado bons estudos na disciplina de
sociologia brasileira, e até mesmo escrevendo um artigo, que foi a bases para o estudo
deste trabalho, pude notar que historicamente, não é tão contraditória e nem novidade a
emergência de sujeitos com o perfil do pobre de direita. Talvez isso tenha ficado mais
evidente pela popularização da internet, lugar inclusive que permite a qualquer pessoa
opinar sobre tudo sem qualquer embasamento.
Dessa forma isso me provocou um grande incômodos e muitos questionamentos,
já que a sociedade brasileira que foi alicerçada num sistema escravocrata e que por
séculos e exemplo de desigualdade e exclusão social, e que não obstante, foi palco de
muita luta visando combater tal condição. E ao ter vislumbre de caminharmos em direção
a uma sociedade menos desigual, com mais civilidade e avanços nos direitos civis, é
inundada por uma onda conservadora e neoliberal. Onde predomina a defesa do
politicamente incorreto, se tornou necessária e mais que urgente a compreensão de todos
esses fenômenos.
Capitulo 1
A Formação das Classes Sociais no Brasil
Nesta primeira parte pretende-se iniciar um breve debate acerca de pontos crucias
da formação histórica do Brasil, para que dessa maneira se possa ingressar ao tema
proposto. Especialmente pelo escasso material bibliográfico que envolve especificamente
este objeto de estudo. Pois, ele reflete um fator bastante problemático e importante no
processo de construção da sociedade brasileira, o sistema escravocrata. À primeira vista,
essa relação não é tão evidente, mas ao olhar com maior profundida, é possível observar
que este processo, tem suscitado anos de exclusão social e econômica a maior parte da
população brasileira.
Segundo SOUZA (2018) tanto os negros escravizados quanto os indivíduos livres
estavam de fato fora do sistema produtivo, embora estes últimos não participassem
ativamente da economia, tornam-se “agregados” dos senhores de engenho e com isso era
possível acumular certos privilégios. Nesse sentido afirma SOUZA (2018) “o agregado
vai formar a primeira classe intermediária entre proprietários e despossuídos.”. Isso
provoca uma forte distinção social, dentro do mesmo grupo de excluídos
economicamente. Sendo assim, tanto no passado com a escravidão, como atualmente com
uma acentuada tensão social, que produz a legitimação de políticas que atacam os direitos
trabalhistas e a fomentação da desigualdade social, tem provocado grandes controvérsias
entre as classes sociais no Brasil.
Segundo Souza tano na colonização do Brasil, e com o advento do Estado
Moderno, a produção de riquezas e o poder estavam concentradas nas mãos de poucos,
isto é, a posição social ainda são bem definidas, e o projeto de nação está restrito aos ricos
e poderosos. Bem como, todas as mudanças econômicas e sociais que ocorrem viabilizam
somente o desenvolvimento das classes dominantes. Entretanto, junto com o nascimento
do Estado Moderno, surge a oportunidade para o progresso de uma classe intermediaria.
Essa virada acontece por meio do conhecimento técnico. Com o crescimento das cidades
e as burocracias objetivadas por esse aditamento, a demanda por novas profissões se faz
necessária, não obstante, essa movimentação continua restrita as classes ricas. Diz o autor:
Os ex-escravos também continuam marginalizados, de forma aberta ou velada,
como prestadores de serviços pessoais. As classes modernas do capitalismo,
tanto a burguesia industrial nascente quanto a moderna classe trabalhadora, são
formadas pelos recém-chegados imigrantes. A outra classe moderna do
capitalismo, a classe média, apresenta uma composição de origem variada,
com prevalência do componente nativo, sobretudo os filhos da alta classe
média de profissionais liberais. (SOUZA; 2018. p.)
Desse modo, a estruturação das classes socias não pode ser entendida de maneira
simplista. Isso diz respeito ao entendimento geral que se tem sobre classe social, que
considera sua estruturação advinda do consumo, ou seja, no momento em que um
determinado extrato social adquire novos gastos, teoricamente alcançaria um novo
patamar social, o que retrata o pensamento corrente no Brasil. POCHMANN (2015)
aponta que as classes sociais possuem um caráter conflituoso, tendo em vista que sua
estruturação é feita através das ordens econômica, política, cultural e ideológica. Ele
expõe que essa ocorrência foi interpretada de outra forma nos países desenvolvidos
economicamente:
A inclusão da classe trabalhadora nos frutos do crescimento econômico não
levou ao entendimento de que se tratava de uma mudança na estrutura de
classes da sociedade, tampouco à ascensão de uma nova classe média. O que
houve foi a interpretação de que a força política dos trabalhadores, por meio
de suas organizações de interesses (associações, sindicatos e partidos
políticos), tornara possível a elevação do padrão de vida com acesso aos
direitos sociais e trabalhistas. (POCHMANN, 2019, p.49)
Essa concepção foi viabilizada pela consagração de mobilizações de sindicais e
da classe trabalhadora, que produziram efeitos significativos na aquisição de maiores
salários e direitos. No Brasil a ascensão de políticas sociais produzidas pelo Partidos dos
Trabalhadores (PT), coincidiu com uma incontestável distribuição de renda e o
fortalecimento de instituições democráticas. Contudo trouxe à tona uma intensa
polarização política entre esquerda e a direita, com feitos bastante dubitáveis ao longo do
mandato do PT. Resultando em um incomodo crescente por parte das classe média
historicamente estabelecida, e outros setores, como a mídia. Todavia, isso repercutiu na
nova classe consumidora que manifesta-se contra essas mudanças sociais, SOLLANO
indica:
Esta mobilidade provocou novos comportamentos nas regiões que,
previamente, estavam mais empobrecidas e que conseguiram ter níveis de
renda e formalidade maiores e, também, uma reação m boa parte das elites e,
sobretudo, das tradicionais classes médias, que pensam seus privilégios
ameaçados com a ascensão das camadas populares. A raiva antipetista tem um
de seus fundamentos nesta reordenação social. Igualmente, o fato do PT ter se
transformado no partido do governo durante um ciclo extenso afastou-o
progressivamente das camadas populares, provocando novas preferências
eleitorais em algumas destas novas classes consumidoras que, frequentemente,
se auto enquadram como novas classes médias e se distanciam da identidade
com o petismo. (SOLLANO; 2018, P.4)
O que possibilitou o surgimento de um personagem bastante contraditório e
emblemático no cenário político e social brasileiro o “Pobre de Direita”. Esta figura tem
sido encarnada, principalmente na internet de uma forma caricata. A internet é o lugar no
qual se proliferam severos juízos a este grupo, todavia, toda crítica é construído
basicamente em forma de memes, e sem nenhum aprofundamento em tal questão. Por
isso neste trabalho ela ganha destaque, já que reflete a forte rejeição a projetos que visam
um desenvolvimento social, o que demonstra a desmistificação da ideia que a classes
média e populares tem como preferência governos assistencialistas
De um lado estão os críticos do pobre de direita, e que por inferência alinhamse ao pensamento da esquerda, para estes o pobre de direita se refere a indivíduos que se
auto-enquadram membros da classe média, e assim seguem o comportamento das classes
médias tradicionais, passando a rejeitar qualquer semelhança com as classes populares.
No entanto, este termo e tanto outros como coxinha, bolsominion e etc. que tem sido
utilizados para se referir a eleitores, apoiadores e simpatizantes de partidos de direita e
suas pautas, são ainda vagos diante dos impactos que produzem ao apostarem suas fichas
em segmentos que compõem a crescente onda da extrema direita.
Sem dúvida o pobre de direita endossa um discurso que está alicerçado na
ideologia da meritocracia, isso se agrava devido a condição histórica do Brasil, fruto do
entrelaçamento de um sistema escravocrata, que estimulou a desumanização de
indivíduos e criou um abismo social entre as classes sociais, em favor da expansão da
capitalista. Esse pensamento vai em favor dos discursos das novas direitas em ascensão.
Segundo Solano (2018) a reestruturação da direita representa um grande risco à
democracia e as liberdades individuais, temas que se tornam sensíveis dentro do contexto
da ainda recente redemocratização estabelecida pós ditadura militar. As novas direitas
estão fundamentadas através aliança entre o neoliberalismo e neoconservadorismo. Um
importante aspecto que se levanta é sobre heterogeneidade de seus adeptos, ou seja, não
há uma fidelidade partidária. Desde as jornadas de junho de 2013, observa-se uma forte
crise com relação aos partidos políticos, onde tanto partidos de esquerda e como os de
direita, como o PSDB, são atrelados a escândalos de corrupção.
De acordo com MIGUEL (2018), a unificação desses vários grupos se dá por
uma percepção da existência entre eles de um “inimigo incomum”. E esse inimigo é
insuflado pela esquerda, que fomenta a igualdade, levantando a bandeira de movimentos
feministas, negro, LGBTQI+. A posição a favor do discurso do politicamente incorreto é
o ponto que aproxima as narrativas da extrema direita e do pobre de direita.
Ordinariamente essas declarações são manipuladas para que seu real caráter não
seja exposto e para que possa ser absorvida e justificada pelas classes médias. São
fomentadas às margens dos meios de comunicação convencionais, acarretando um novo
meio de fazer propaganda política, a partir principalmente das fake news. Esses e muitos
outros fatores foram um terreno fértil para o avanço da extrema direita antidemocrática,
dominasse as eleições em 2018, promovendo a onda fascista crescente no Brasil.
As proposições iniciais da política de extrema direita brasileira são reveladas
mais fortemente durante as manifestações contra de Dilma Rousseff após sua reeleição.
Embora a maioria dos integrantes tivessem como discurso principal a defesa da
democracia, e seus protestos se direcionavam ao combate da corrupção na política, o
impeachment da presidenta e o fim dos Partido dos Trabalhadores. Todavia, ainda que de
modo tímido, pedidos de intervenção militar e movimentos como o MBL (Movimento
Brasil Livre), Vem Pra Rua e o Bolsonarismo ganham a adesão cada vez maior de
diversas frações socais.
E a partir daí se dá o encetamento e o fortalecimento de discursos de extrema
direita, e seus adeptos passam a demonstrar cada vez mais e sem nenhum pudor seus
discursos antidemocrático, reacionário e conservador. É importante ressaltar que figuras
públicas como pastores neopentecostais, artistas, jornalistas, esportistas e muitas outras
celebridades tornaram-se porta vozes desses discursos. Em contrapartida está a esquerda
brasileira, e que tem no cerne de sua política a busca por uma sociedade mais democrática
com indivíduos mais combativos, que sejam capazes de exercer seu senso crítico e que
impactem que de forma real na política.
Vivendo sob uma forte crise representativa, a esquerda tem seu discurso esvaziado
diante da explosão de uma direita radicalizada que vem construindo uma narrativa que
tem se conectado às classes médias e populares. A esquerda tem exigido uma consciência
de classe que não condiz com a conjuntura política atual da sociedade brasileira, residindo
nesse aspecto a crítica que ela faz ao pobre de direita.
Contudo o acirramento das crises econômicas globais que reverberam nas classes
médias e concomitantemente as classes trabalhadoras, acarretando o seu empobrecimento
e a queda de seu poder de consumo, tem constituído um cenário de desalento e frustração,
onde a direita tem obtido sucesso em seu projeto de despolitizar a sociedade e obstaculizar
o surgimento de sujeitos críticos e combativos das políticas econômicas e sociais que
visam os interesses das classes dominantes.
Segundo FERNANDES (2019) a despolitização corrente, é marcada
anteriormente por uma forte politização pós ditadura e com fortes lideranças
protagonizadas pela esquerda através de movimentos sociais como a CUT (Central Única
dos Trabalhadores), MST (Movimento dos Sem Terra) e o Partido dos trabalhadores, e
ainda segundo a autora a esquerda tem como papel principal promover a politização
social, enquanto que a despolitização é um impedimento para o engendramento de tal
processo. Desse modo é evidente que a esquerda não tem alcançado seus objetivos,
enquanto a sociedade brasileira encontra-se numa intensa disputa política. Paralelamente,
no campo social e cultural a luta por direitos civis e sociais é ameaçado, após um período
de consolidação.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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2018.
Disponível
em:
https://brasil.fes.de/publicacoes?tx_digbib_digbibpublicationlist%5BpageIndex%5D=8
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