UNIVERSIDADE FEDERAL DE CATALÃO UNIDADE ACADÊMICA DE HISTÓRIA E CIÊNCIAS SOCIAIS CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS POBRE DE DIREITA: UMA ANÁLISE DA CLASSE TRABALHADORA E A REORGANIZAÇÃO DAS NOVAS DIREITAS NO BRASIL. Catalão Agosto /2021 UNIVERSIDADE FEDERAL DE CATALÃO UNIDADE ACADÊMICA DE HISTÓRIA E CIÊNCIAS SOCIAIS CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS POBRE DE DIREITA: UMA ANÁLISE DA CLASSE TRABALHADORA E A REORGANIZAÇÃO DAS NOVAS DIREITAS NO BRASIL. Projeto de pesquisa apresentado no curso de graduação em ciências sociais da UFCAT, como pré-requisito para qualificação e conclusão da disciplina de TCC I, sob orientação do Prof. Dr. José de Lima Soares. Catalão Agosto /2021 WATUZI REBELO DA SILVA POBRE DE DIREITA: UMA ANÁLISE DA CLASSE TRABALHADORA E A REORGANIZAÇÃO DAS NOVAS DIREITAS NO BRASIL. _______________________________________________. Vinicius Oliveira Santos Examinador _______________________________________________. Dr. José de Lima Soares Orientador Catalão, de agosto de 2021. Resultado: _________________. RESUMO No Brasil o desenvolvimento de políticas públicas que promoveram importantes mudanças na estrutura social, engendrou comportamentos bastantes peculiares entre as classes, principalmente na classe trabalhadora. Esse processo tem sido acompanhado por uma expansão de políticas da chamada direita alternativa (Alt-Right). As proposições iniciais da política de extrema direita brasileira são reveladas mais fortemente durante o governo do PT, com forte apelo antidemocrática e fascista. A classe trabalhadora tem sido bombardeada por uma mídia imparcial e elitizada, bem como as fake News que embaçam a compreensão acerca de temas primordiais para o pleno desenvolvimento social. E a partir daí se dá o encetamento e o fortalecimento de discursos de extrema direita. Seus adeptos passam a demonstrar cada vez mais e sem nenhum pudor seus discursos antidemocrático, reacionário e conservador. É importante ressaltar que esses discursos ganham a adesão de diversos segmentos sociais de grande relevância e influência. Em contrapartida está a esquerda brasileira, e que tem no cerne de sua política a busca por uma sociedade mais democrática com indivíduos mais combativos, vê o esvaziamento de seu discurso diante de uma direita radicalizada que viu na internet um campo livre para sua articulação. PALAVRAS-CHAVE: Extrema Direita, Fake News, Fascismo, Esquerda. Sumário 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................... 6 2. OBJETIVOS ............................................................................................ 9 2.2. Objetivo Geral ................................................................................... 9 2.3. Objetivos Específicos ........................................................................ 9 3. JUSTIFICATIVA ................................................................................. 10 4. CAPITULO 1 ........................................................................................ 12 A Formação das Classes no Brasil ...................................................... 12 4. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ............................................... 17 1. INTRODUÇÃO Com as jornadas de junho de 2013, pode-se testemunhar nos anos seguintes um crescimento cada vez maior de manifestações que ocuparam as ruas por todo o país, tais eventos que tradicionalmente são articulados por movimentos sociais politicamente alinhados à esquerda, passam a ter também como protagonistas grupos de direita com discursos neoconservador e neoliberal. Tais grupos vão ao longo do tempo ganhando diversas denominações, como observa SOLANO (2018) “Rótulos para denominar a reorganização de grupos conservadores e/ou da direita radicalizada que tem abrangência mundial e, como não poderia ser diferente, com fortes reflexos no Brasil”. E a partir desse contexto que a antiga descrença na política, ganha força e o alvo do descrédito passar a ser direcionado aos partidos da direita tradicional e mais moderada, e como já de costume, os de esquerda. A redemocratização ocorrida pós ditadura civilmilitar, que contou com articulação de movimentos sociais e partidos de esquerda. Vem nos últimos anos sofrendo fortes ataques por meio dos discursos propagados pelas novas direitas, paralelamente, a esquerda colhe os frutos dessa ascensão, sendo cada vez mais aviltada pelas novas classes consumidoras nas redes socais e aplicativos de mensagens instantâneas. Um notável aspecto sobre as novas direitas é a sua fundamental ferramenta para articulação de seu discurso, a internet. Um ambiente ainda muito propicio para a disseminação de fake news, que tem por objetivo principal, atacar adversários políticos. O usos de memes1 também tem sido uma nova maneira de se fazer política, o que tem possibilitado a distorção de temas que envolvem a discussão sobre gênero, sexualidade, racismo, feminismo, legitimando a crescente onda fascista que ataca as minorias, e que tem servido também como estratégia política. Temos como exemplo, o Deputado Federal, “De modo bem objetivo, compreendemos atualmente os memes como uma linguagem ou um gênero comunicativo próprio do ambiente digital, e que costuma ser materializado na forma de uma imagem legendada, um vídeo viral, um bordão engraçado, ou uma animação extravagante. Além disso, grande parte da riqueza dos memes está expressa em sua característica intertextual. Eles frequentemente trazem referências à cultura pop, uma novela, uma série de tevê, um reality, ou o último acontecimento político do noticiário. Próprios do universo das comunidades online, os memes são geralmente lidos como conteúdos efêmeros, vulgarmente encarados como “besteirol" ou “cultura inútil", fruto de sua interpenetração com a linguagem do humor.” Museu dos Memes. 2015. Disponível em: https://museudememes.com.br/. Acesso em: 28 jul. 2021. 1 Kim Kataguiri que elencou dois funcionários que tinham como função a criação de memes2. Logo as narrativas produzidas pela nova direita tem sido absorvidas por uma parcela importante da sociedade, principalmente, a classe trabalhadora. Ganhando destaque uma emblemática figura, o Pobre de Direita. Além deste, muitos outros termos tem sido utilizados para criticar indivíduos que enxergam nas políticas da extrema direita alternativas para suprir suas demandas. Isto abriu espaço para políticos da extrema direita, como Jair Bolsonaro, embasarem sua fala na ideia de que a velha política reproduzida historicamente pelos partidos de esquerda e direita, são a fonte dos problemas que assolam o país, e dessa maneira se apresentam como membros de uma nova política. Tendo em vista, ainda que gradualmente e distante do ideal, no Brasil pós ditadura, diversas medidas foram tomadas para a promoção do combate da desigualdade social, respeito aos direitos humanos e o fortalecimento da democracia. Também ocorreram mudanças na estrutura econômica no Brasil nas últimas duas décadas, como diminuição da taxa de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza, aumento da taxa de emprego e o surgimento de uma nova classe trabalhadora. Resultando em um novo arranjo entre as classes mais pobres, conforme analisa POCHMANN (2015) “na incorporação de trabalhadores de baixa renda no padrão tardio de consumo fordista, equivocadamente associado à ascensão social de classe média”. Esse dinamismo teve seu ápice no governo do PT, no entanto, isto não impediu que se desenvolvesse uma forte crise institucional que marca o segundo mandato de Dilma Rousseff (PT), coincidindo com crises econômicas globais, altos índices de desemprego, grandes escândalos de corrupção na política, resultando no seu impeachment. Como destaca SOLANO (2018) “A anomia política instaura-se no cotidiano, levando a uma degradação muito rápida e a uma perda de confiança das bases representativas da sociedade brasileira.”. Resumidamente, os eleitores que elegeram o PT, também foram os responsáveis pela derrocada do mesmo, bem como de suas políticas assistencialistas. Dessa forma, VITORIO, Tamires. "Departameme": conheça o novo departamento de Kim Kataguiri. 2019. Revista Exame. Disponível em: https://exame.com/brasil/departameme-conheca-o-novo-departamento-dekim-kataguiri/. Acesso em: 01 ago. 2021. 2 passam a atrair-se pela eloquente fala de políticos da extrema direita, o que demonstra o aspecto fluído do eleitorado brasileiro. Conforme observa a autora acima citada. A raiva antipestista tem um de seus fundamentos nesta reordenação social. Igualmente, o fato do PT ter se transformado no partido do governo durante um ciclo extenso afastou-o progressivamente das camadas populares, provocando novas preferências eleitorais em algumas destas novas classes consumidoras que, frequentemente, se auto enquadram como “classes médias” e se distanciam da identidade com o petismo. (SOLANO, 2018, p. 4) É importante salientar, ainda que não seja o foco deste trabalho, um fator que pode ter exercido influência sobre o comportamento da classe trabalhadora, é o papel da mídia hegemônica, que polemizou intensamente, e agiu por diversos momentos de maneira parcial, nos casos de corrupção envolvendo o partido dos trabalhadores (PT). O que possibilitou o descrédito deste partido diante da população. Neste contexto surge o maior dos questionamentos, sobre como uma sociedade que historicamente engendra grandes abismos sociais e econômicos, pode crer nos discursos da nova extrema direita? Disto também emergem críticas à falta de consciência da classe trabalhadora, e à esquerda, que tem seu discurso enfraquecido, frente a uma sociedade pautada pelo consumo, com altas taxas de desemprego. Levando a esta perder seu principal integrante, a classe trabalhadora. Como que diante do avanço do neoliberal esta classe tem se tornado cada vez mais despolitizada? Esta preferência realmente é política, ou fatores sociais e históricos exercem força ainda maior neste posicionamento? Logo este trabalho se concentra em verificar os desígnios dos que são identificados como pobres de direita, e alguns fatores que a prior podem creditar essa postura contraditória à classe trabalhadora. Salientando alguns aspectos da formação histórica das classes socias no Brasil. Analisando também o incomodo reproduzidos pelas novas classes consumidoras, que ao se beneficiarem por diversas políticas públicas, passando a repeli-las. Seguindo o perfil da classe média tradicional, que sente-se acuada com determinados avanços sociais que diminuem a sua distância social com relação a classe trabalhadora. Dessa maneira este trabalho se estrutura da seguinte forma. Na primeira parte traça brevemente, os primeiros aspectos que constituem as classes sociais no Brasil. Na segunda traça a conjuntura que permeia a construção do pobre de direita. Na parte final esboça a alinhamento da classe consumidora aos discursos ideológicos assentados no pensamento neoliberal e neoconservador utilizado pela extrema direita. A metodologia utilizada nesse trabalho será feita através dos método qualitativo e pesquisa bibliográfica. Ainda que diante que uma limitada bibliografia especifica sobre o tema Pobre de direita, é possível encontrar em pelo menos dois autores um estudo mais aprofundado sobre essa questão. Já que o juízo direcionado a esses indivíduos, é se faz quase exclusivamente por memes. Portanto o que se espera deste trabalho são conclusões ainda não definitivas, possibilitando algumas perspectivas para pesquisas futuras. 2. OBJETIVOS 2.1. Objetivos Gerais: Identificar os principais pontos que constroem o discurso da extrema direita e quais fatores possibilitaram a escalada desses discursos ente a classe trabalhadora brasileira, contextualizando fatores que contribuíram fazendo a analise através das manifestações e protestos ocorridos a partir de 2015 destacando os principais argumentos utilizados pelos manifestantes. 2.2. Objetivos Específicos 2.2.1. Analisar os principais fatores que moldam as classes sociais, e mais especificamente aspectos que compõe a classe trabalhadora; 2.2.2. Analisar o perfil dos indivíduos identificados como “Pobre de Direita” e seu discurso de legitimação da extrema direita no Brasil; 2.2.3. Verificar as implicações no âmbitos social, cultural e político que possibilitaram a eleição de políticos com discursos extremistas no executivo e legislativo. 3. JUSTIFICATIVA A pretensão para a construção deste trabalho se deu por dois motivos. A primeira foi pelas jornadas de junho de 2013, já que não havia se testemunhado uma mobilização social dessa magnitude no Brasil. Ainda que apresentasse alguns aspectos nebulosos, no contexto geral, parecia que estava se testemunhando uma articulação que promoveriam maiores avanços sociais do que até então estava acontecendo. Era inquestionável que os avanços promovidos pelo PT repercutiam de maneira a permitir tais mobilizações. Contudo, os pequenos grupos com um tímido discurso antidemocrático na época foram ganhando força. O que mais chamou atenção foram os sujeitos responsáveis por tais atos e suas reinvindicações, a classe média. Que vinha sofrendo as consequências de crises econômicas, mas sobretudo com a inédita redistribuição de renda e o ensejamento de políticas sociais que permitiram a entrada de indivíduos das classes pobres e trabalhadoras nas universidades públicas, ou até mesmo passar a viajar de avião. Isso são só simples exemplos, outros mais importantes serão citado neste trabalho. Percebendo que tais protestos se espalham por toda a sociedade, e mais contraditoriamente, pela classe trabalhadora. Uma acirrada discussão se estabelece dentro de famílias, grupos de amigos, vizinhos, colegas de trabalho e etc. O ponto crucial da discussão é sobre como o PT instaurou o caos social, político e econômico. Preconizando com suas políticas de esquerda o fim da moral cristão, da ética do trabalho, dos preceitos familiares e etc. Simultaneamente a mídia transformava numa espetacularização os casos de corrupção do Partido dos Trabalhadores, tema recorrente e ainda não superado pela sociedade brasileira. Já que a forma que é colocada indica que este é o maior dos males do Brasil. Voltando ao intenso debate, acima citada, na internet surge o famigerado personagem tema deste trabalho, o pobre de direita. À primeira vista é notário o ranço que se tem por este indivíduo, mas é neste ponto que entra a minha segunda motivação. Tendo realizado bons estudos na disciplina de sociologia brasileira, e até mesmo escrevendo um artigo, que foi a bases para o estudo deste trabalho, pude notar que historicamente, não é tão contraditória e nem novidade a emergência de sujeitos com o perfil do pobre de direita. Talvez isso tenha ficado mais evidente pela popularização da internet, lugar inclusive que permite a qualquer pessoa opinar sobre tudo sem qualquer embasamento. Dessa forma isso me provocou um grande incômodos e muitos questionamentos, já que a sociedade brasileira que foi alicerçada num sistema escravocrata e que por séculos e exemplo de desigualdade e exclusão social, e que não obstante, foi palco de muita luta visando combater tal condição. E ao ter vislumbre de caminharmos em direção a uma sociedade menos desigual, com mais civilidade e avanços nos direitos civis, é inundada por uma onda conservadora e neoliberal. Onde predomina a defesa do politicamente incorreto, se tornou necessária e mais que urgente a compreensão de todos esses fenômenos. Capitulo 1 A Formação das Classes Sociais no Brasil Nesta primeira parte pretende-se iniciar um breve debate acerca de pontos crucias da formação histórica do Brasil, para que dessa maneira se possa ingressar ao tema proposto. Especialmente pelo escasso material bibliográfico que envolve especificamente este objeto de estudo. Pois, ele reflete um fator bastante problemático e importante no processo de construção da sociedade brasileira, o sistema escravocrata. À primeira vista, essa relação não é tão evidente, mas ao olhar com maior profundida, é possível observar que este processo, tem suscitado anos de exclusão social e econômica a maior parte da população brasileira. Segundo SOUZA (2018) tanto os negros escravizados quanto os indivíduos livres estavam de fato fora do sistema produtivo, embora estes últimos não participassem ativamente da economia, tornam-se “agregados” dos senhores de engenho e com isso era possível acumular certos privilégios. Nesse sentido afirma SOUZA (2018) “o agregado vai formar a primeira classe intermediária entre proprietários e despossuídos.”. Isso provoca uma forte distinção social, dentro do mesmo grupo de excluídos economicamente. Sendo assim, tanto no passado com a escravidão, como atualmente com uma acentuada tensão social, que produz a legitimação de políticas que atacam os direitos trabalhistas e a fomentação da desigualdade social, tem provocado grandes controvérsias entre as classes sociais no Brasil. Segundo Souza tano na colonização do Brasil, e com o advento do Estado Moderno, a produção de riquezas e o poder estavam concentradas nas mãos de poucos, isto é, a posição social ainda são bem definidas, e o projeto de nação está restrito aos ricos e poderosos. Bem como, todas as mudanças econômicas e sociais que ocorrem viabilizam somente o desenvolvimento das classes dominantes. Entretanto, junto com o nascimento do Estado Moderno, surge a oportunidade para o progresso de uma classe intermediaria. Essa virada acontece por meio do conhecimento técnico. Com o crescimento das cidades e as burocracias objetivadas por esse aditamento, a demanda por novas profissões se faz necessária, não obstante, essa movimentação continua restrita as classes ricas. Diz o autor: Os ex-escravos também continuam marginalizados, de forma aberta ou velada, como prestadores de serviços pessoais. As classes modernas do capitalismo, tanto a burguesia industrial nascente quanto a moderna classe trabalhadora, são formadas pelos recém-chegados imigrantes. A outra classe moderna do capitalismo, a classe média, apresenta uma composição de origem variada, com prevalência do componente nativo, sobretudo os filhos da alta classe média de profissionais liberais. (SOUZA; 2018. p.) Desse modo, a estruturação das classes socias não pode ser entendida de maneira simplista. Isso diz respeito ao entendimento geral que se tem sobre classe social, que considera sua estruturação advinda do consumo, ou seja, no momento em que um determinado extrato social adquire novos gastos, teoricamente alcançaria um novo patamar social, o que retrata o pensamento corrente no Brasil. POCHMANN (2015) aponta que as classes sociais possuem um caráter conflituoso, tendo em vista que sua estruturação é feita através das ordens econômica, política, cultural e ideológica. Ele expõe que essa ocorrência foi interpretada de outra forma nos países desenvolvidos economicamente: A inclusão da classe trabalhadora nos frutos do crescimento econômico não levou ao entendimento de que se tratava de uma mudança na estrutura de classes da sociedade, tampouco à ascensão de uma nova classe média. O que houve foi a interpretação de que a força política dos trabalhadores, por meio de suas organizações de interesses (associações, sindicatos e partidos políticos), tornara possível a elevação do padrão de vida com acesso aos direitos sociais e trabalhistas. (POCHMANN, 2019, p.49) Essa concepção foi viabilizada pela consagração de mobilizações de sindicais e da classe trabalhadora, que produziram efeitos significativos na aquisição de maiores salários e direitos. No Brasil a ascensão de políticas sociais produzidas pelo Partidos dos Trabalhadores (PT), coincidiu com uma incontestável distribuição de renda e o fortalecimento de instituições democráticas. Contudo trouxe à tona uma intensa polarização política entre esquerda e a direita, com feitos bastante dubitáveis ao longo do mandato do PT. Resultando em um incomodo crescente por parte das classe média historicamente estabelecida, e outros setores, como a mídia. Todavia, isso repercutiu na nova classe consumidora que manifesta-se contra essas mudanças sociais, SOLLANO indica: Esta mobilidade provocou novos comportamentos nas regiões que, previamente, estavam mais empobrecidas e que conseguiram ter níveis de renda e formalidade maiores e, também, uma reação m boa parte das elites e, sobretudo, das tradicionais classes médias, que pensam seus privilégios ameaçados com a ascensão das camadas populares. A raiva antipetista tem um de seus fundamentos nesta reordenação social. Igualmente, o fato do PT ter se transformado no partido do governo durante um ciclo extenso afastou-o progressivamente das camadas populares, provocando novas preferências eleitorais em algumas destas novas classes consumidoras que, frequentemente, se auto enquadram como novas classes médias e se distanciam da identidade com o petismo. (SOLLANO; 2018, P.4) O que possibilitou o surgimento de um personagem bastante contraditório e emblemático no cenário político e social brasileiro o “Pobre de Direita”. Esta figura tem sido encarnada, principalmente na internet de uma forma caricata. A internet é o lugar no qual se proliferam severos juízos a este grupo, todavia, toda crítica é construído basicamente em forma de memes, e sem nenhum aprofundamento em tal questão. Por isso neste trabalho ela ganha destaque, já que reflete a forte rejeição a projetos que visam um desenvolvimento social, o que demonstra a desmistificação da ideia que a classes média e populares tem como preferência governos assistencialistas De um lado estão os críticos do pobre de direita, e que por inferência alinhamse ao pensamento da esquerda, para estes o pobre de direita se refere a indivíduos que se auto-enquadram membros da classe média, e assim seguem o comportamento das classes médias tradicionais, passando a rejeitar qualquer semelhança com as classes populares. No entanto, este termo e tanto outros como coxinha, bolsominion e etc. que tem sido utilizados para se referir a eleitores, apoiadores e simpatizantes de partidos de direita e suas pautas, são ainda vagos diante dos impactos que produzem ao apostarem suas fichas em segmentos que compõem a crescente onda da extrema direita. Sem dúvida o pobre de direita endossa um discurso que está alicerçado na ideologia da meritocracia, isso se agrava devido a condição histórica do Brasil, fruto do entrelaçamento de um sistema escravocrata, que estimulou a desumanização de indivíduos e criou um abismo social entre as classes sociais, em favor da expansão da capitalista. Esse pensamento vai em favor dos discursos das novas direitas em ascensão. Segundo Solano (2018) a reestruturação da direita representa um grande risco à democracia e as liberdades individuais, temas que se tornam sensíveis dentro do contexto da ainda recente redemocratização estabelecida pós ditadura militar. As novas direitas estão fundamentadas através aliança entre o neoliberalismo e neoconservadorismo. Um importante aspecto que se levanta é sobre heterogeneidade de seus adeptos, ou seja, não há uma fidelidade partidária. Desde as jornadas de junho de 2013, observa-se uma forte crise com relação aos partidos políticos, onde tanto partidos de esquerda e como os de direita, como o PSDB, são atrelados a escândalos de corrupção. De acordo com MIGUEL (2018), a unificação desses vários grupos se dá por uma percepção da existência entre eles de um “inimigo incomum”. E esse inimigo é insuflado pela esquerda, que fomenta a igualdade, levantando a bandeira de movimentos feministas, negro, LGBTQI+. A posição a favor do discurso do politicamente incorreto é o ponto que aproxima as narrativas da extrema direita e do pobre de direita. Ordinariamente essas declarações são manipuladas para que seu real caráter não seja exposto e para que possa ser absorvida e justificada pelas classes médias. São fomentadas às margens dos meios de comunicação convencionais, acarretando um novo meio de fazer propaganda política, a partir principalmente das fake news. Esses e muitos outros fatores foram um terreno fértil para o avanço da extrema direita antidemocrática, dominasse as eleições em 2018, promovendo a onda fascista crescente no Brasil. As proposições iniciais da política de extrema direita brasileira são reveladas mais fortemente durante as manifestações contra de Dilma Rousseff após sua reeleição. Embora a maioria dos integrantes tivessem como discurso principal a defesa da democracia, e seus protestos se direcionavam ao combate da corrupção na política, o impeachment da presidenta e o fim dos Partido dos Trabalhadores. Todavia, ainda que de modo tímido, pedidos de intervenção militar e movimentos como o MBL (Movimento Brasil Livre), Vem Pra Rua e o Bolsonarismo ganham a adesão cada vez maior de diversas frações socais. E a partir daí se dá o encetamento e o fortalecimento de discursos de extrema direita, e seus adeptos passam a demonstrar cada vez mais e sem nenhum pudor seus discursos antidemocrático, reacionário e conservador. É importante ressaltar que figuras públicas como pastores neopentecostais, artistas, jornalistas, esportistas e muitas outras celebridades tornaram-se porta vozes desses discursos. Em contrapartida está a esquerda brasileira, e que tem no cerne de sua política a busca por uma sociedade mais democrática com indivíduos mais combativos, que sejam capazes de exercer seu senso crítico e que impactem que de forma real na política. Vivendo sob uma forte crise representativa, a esquerda tem seu discurso esvaziado diante da explosão de uma direita radicalizada que vem construindo uma narrativa que tem se conectado às classes médias e populares. A esquerda tem exigido uma consciência de classe que não condiz com a conjuntura política atual da sociedade brasileira, residindo nesse aspecto a crítica que ela faz ao pobre de direita. Contudo o acirramento das crises econômicas globais que reverberam nas classes médias e concomitantemente as classes trabalhadoras, acarretando o seu empobrecimento e a queda de seu poder de consumo, tem constituído um cenário de desalento e frustração, onde a direita tem obtido sucesso em seu projeto de despolitizar a sociedade e obstaculizar o surgimento de sujeitos críticos e combativos das políticas econômicas e sociais que visam os interesses das classes dominantes. Segundo FERNANDES (2019) a despolitização corrente, é marcada anteriormente por uma forte politização pós ditadura e com fortes lideranças protagonizadas pela esquerda através de movimentos sociais como a CUT (Central Única dos Trabalhadores), MST (Movimento dos Sem Terra) e o Partido dos trabalhadores, e ainda segundo a autora a esquerda tem como papel principal promover a politização social, enquanto que a despolitização é um impedimento para o engendramento de tal processo. Desse modo é evidente que a esquerda não tem alcançado seus objetivos, enquanto a sociedade brasileira encontra-se numa intensa disputa política. Paralelamente, no campo social e cultural a luta por direitos civis e sociais é ameaçado, após um período de consolidação. 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDERSON, Perry. Balanço do Neoliberalismo. In: SADER, Emir & GENTILI, Pablo (org.). Pós-neoliberalismo: as políticas sociais e o Estado democrático. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995. p. 9-23. Análise de Conjuntura - 22 de março de 2020. 2020. Escola de Formação Socialista. Disponível em: http://escoladeformacaosocialista.blogspot.com/. Acesso em: 01 jan. 2021. BULGARELLI, Lucas. Moralidades, direitas e direitos LGBTI nos anos 2010. In: SOLLANO, Esther (org.). O Ódio como Política: a reinvenção das direitas no brasil. São Paulo: Boitempo, 2018. Cap. 13. p. 101-107. CHAGAS, Viktor (Rio de Janeiro). Diretor e Coordenador Geral Professor Doutor (Uff) (ed.). Museu dos Memes. 2015. Disponível em: https://museudememes.com.br/. Acesso em: 28 jul. 2021. COGGIOLA, Osvaldo. De Lula a Bolsonaro: trajetórias políticas do brasil contemporâneo. Trajetórias Políticas do Brasil Contemporâneo. Disponível em: https://www.academia.edu/37847799/DE_LULA_A_BOLSONARO_Trajet%C3%B3ri as_Pol%C3%ADticas_do_Brasil_Contempor%C3%A2neo. Acesso em: 02 mar. 2021. FERNANDES, Sabrina. Sintomas Mórbidos: a encruzilhada da esquerda brasileira. São Paulo: Autonomia Literaria, 2019. MAZZEO, Antônio Carlos. Estado e Burguesia no Brasil: origens da autocracia burguesa. 3. ed. São Paulo: Boitempo, 2015. MIGUEL, Luís Felipe. A Reemergência da Direita Brasileira. In: SOLANO, Esther (org.). O Ódio como Política: a reinvenção das direitas no brasil. São Paulo: Boitempo Editorial, 2018. Cap. 1. p. 15-27. MIGUEL, Luís Felipe. Colapso da Democracia no Brasil: da constituição ao golpe de 2016. São Paulo: Expressão Popular, 2019. POCHMANN, Márcio. O Mito da Grande Classe Média: capitalismo e estrutura social. São Paulo: Boitempo, 2015. SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. 23. ed. São Paulo: Cortez Editora, 2007. SOLLANO, Esther. Crise da Democracia e Extremismos de Direita. Fundação Friedrich Ebert: FES, São Paulo, v. 42, n. 1, p. 1-29, maio 2018. Disponível em: https://brasil.fes.de/publicacoes?tx_digbib_digbibpublicationlist%5BpageIndex%5D=8 &cHash=a9d8b7a6d7f5d60c57cbd61007bbe277. Acesso em: 30 jul. 2021. SOUZA, Jesse de. A Classe Média no Espelho: sua história, seus sonhos e ilusões, sua realidade. Rio de Janeiro: Estação Brasil, 2018. SOUZA, Jesse de. A Ralé Brasileira: quem é e como vive. Belo Horizonte: Ufmg, 2009. VITORIO, Tamires. "Departameme": conheça o novo departamento de Kim Kataguiri.2019. Revista Exame. Disponível em: https://exame.com/brasil/departamemeconheca-o-novo-departamento-de-kim-kataguiri/. Acesso em: 01 ago. 2021. Crise da Democracia e Extremismos de Direita. Fundação Friedrich Ebert: FES, São Paulo, v. 42, n. 1, p. 1-29, maio 2018. Disponível em: https://brasil.fes.de/publicacoes?tx_digbib_digbibpublicationlist%5BpageIndex%5D=8 &cHash=