Enviado por Do utilizador10796

LIVRO FILOSOFIA E LÓGICA

Propaganda
2ª edição
Filosofia e Lógica
Filosofia e Lógica
Delmo Mattos
Filosofia e Lógica
DIREÇÃO SUPERIOR
Chanceler
Joaquim de Oliveira
Reitora
Marlene Salgado de Oliveira
Presidente da Mantenedora
Jefferson Salgado de Oliveira
Pró-Reitor de Planejamento e Finanças
Wellington Salgado de Oliveira
Pró-Reitor de Organização e Desenvolvimento
Jefferson Salgado de Oliveira
Pró-Reitor Administrativo
Wallace Salgado de Oliveira
Pró-Reitora Acadêmica
Jaina dos Santos Mello Ferreira
Pró-Reitor de Extensão
Manuel de Souza Esteves
Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Marcio Barros Dutra
DEPARTAMENTO DE ENSINO A DISTÂNCIA
Gerência Nacional do EAD
Gestor Acadêmico
Bruno Mello Ferreira
Diogo Pereira da Silva
FICHA TÉCNICA
Direção Editorial: Diogo Pereira da Silva e Patrícia Figueiredo Pereira Salgado
Texto: Delmo Mattos
Revisão: Lívia Antunes Faria Maria e Walter P. Valverde Júnior
Projeto Gráfico e Editoração: Andreza Nacif, Antonia Machado, Eduardo Bordoni e Fabrício Ramos
Supervisão de Materiais Instrucionais: Janaina Gonçalves de Jesus
Ilustração: Daniel Mattos
Capa: Eduardo Bordoni e Fabrício Ramos
COORDENAÇÃO GERAL:
Departamento de Ensino a Distância
Rua Marechal Deodoro 217, Centro, Niterói, RJ, CEP 24020-420
www.universo.edu.br
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universo – Campus Niterói
M444f
Mattos, Delmo .
Filosofia e lógica. Delmo Mattos ; revisão de Lívia
Antunes Faria Maria e Walter P. Valverde Júnior. – 2.ed.
- Niterói, RJ: UNIVERSO, 2010.
218p. ; il.
1. Filosofia. 2. Lógica. I- Maria, Lívia Antunes Faria. IIValverde Júnior, Walter P. III- Título.
CDD 100
Bibliotecária: Ana Marta Toledo Piza Viana – CRB/ 7 - 2224
© Departamento de Ensi no a Dist ância - Universidade Salgado de Oliveira
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, arquivada ou transmitida de nenhuma forma
ou por nenhum meio sem permissão expressa e por escrito da Associação Salgado de Oliveira de Educação e Cultura, mantenedora
da Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO).
Filosofia e Lógica
Palavra da Reitora
Acompanhando as necessidades de um mundo cada vez mais complexo, exigente
e necessitado de aprendizagem contínua, a Universidade Salgado de Oliveira
(UNIVERSO) apresenta a UNIVERSO EAD, que reúne os diferentes segmentos do ensino a
distância na universidade. Nosso programa foi desenvolvido segundo as diretrizes do
MEC e baseado em experiências do gênero bem-sucedidas mundialmente.
São inúmeras as vantagens de se estudar a distância e somente por meio dessa
modalidade de ensino são sanadas as dificuldades de tempo e espaço presentes nos
dias de hoje. O aluno tem a possibilidade de administrar seu próprio tempo e gerenciar
seu estudo de acordo com sua disponibilidade, tornando-se responsável pela própria
aprendizagem.
O ensino a distância complementa os estudos presenciais à medida que permite
que alunos e professores, fisicamente distanciados, possam estar a todo momento
ligados por ferramentas de interação presentes na Internet através de nossa plataforma.
Além disso, nosso material didático foi desenvolvido por professores
especializados nessa modalidade de ensino, em que a clareza e objetividade são
fundamentais para a perfeita compreensão dos conteúdos.
A UNIVERSO tem uma história de sucesso no que diz respeito à educação a
distância. Nossa experiência nos remete ao final da década de 80, com o bemsucedido projeto Novo Saber. Hoje, oferece uma estrutura em constante processo
de atualização, ampliando as possibilidades de acesso a cursos de atualização,
graduação ou pós-graduação.
Reafirmando seu compromisso com a excelência no ensino e compartilhando
as novas tendências em educação, a UNIVERSO convida seu alunado a conhecer o
programa e usufruir das vantagens que o estudar a distância proporciona.
Seja bem-vindo à UNIVERSO EAD!
Professora Marlene Salgado de Oliveira
Reitora
Filosofia e Lógica
Filosofia e Lógica
Sumário
Apresentação da disciplina ............................................................................................................................................ 6
Plano da disciplina ............................................................................................................................................................. 9
Unidade 1: A importância da investigação filosófica. .......................................................................................... 13
Unidade 2: As diversas formas de interpretação da realidade: senso comum, conhecimento
científico e o conhecimento filosófico. ...................................................................................................................... 29
Unidade 3: O nascimento da filosofia e o seu estabelecimento enquanto
conhecimento racional. .................................................................................................................................................... 47
Unidade 4: A filosofia conta a sua história: os principais períodos da história
da filosofia............................................................................................................................................................................... 63
Unidade 5: Os principais campos de investigação do conhecimento filosófico. ..................................... 81
Unidade 6: O problema do conhecimento e a reflexão acerca da verdade. .............................................. 95
Unidade 7: A teoria do conhecimento: a explicação filosófica acerca das possibilidades
do conhecimento humano.............................................................................................................................................. 143
Unidade 8: Os conceitos fundamentais da lógica clássica e a sua aplicabilidade
no campo da matemática e da ciência....................................................................................................................... 127
Unidade 9: A epistemologia e a filosofia da ciência.............................................................................................. 145
Unidade 10: A filosofia moral: ética, moral e valores humanos ....................................................................... 161
Unidade 11: A filosofia política. ..................................................................................................................................... 177
Unidade 12: Filosofia no brasil: a questão sobre a existência de uma filosofia
genuinamente brasileira................................................................................................................................................... 193
Considerações finais........................................................................................................................................................... 207
Conhecendo o autor .......................................................................................................................................................... 208
Referências ............................................................................................................................................................................. 209
Anexos ...................................................................................................................................................................................... ‘211
Filosofia e Lógica
Apresentação da Disciplina
Você acaba de receber o Livro de Estudo da disciplina Filosofia e Lógica.
Este livro foi elaborado página a página pensando em você e nas suas
necessidades. Por isso, leia-o sempre e reflita sobre cada assunto. O estudo
constante lhe garantirá maior segurança e aprendizado.
Você já parou para refletir sobre a sua condição de estudante universitário? Em
geral, o que um estudante universitário está procurando é um curso que o
transforme em um profissional qualificado. Por isso, este se dispõe a ficar alguns
anos por conta de obter o diploma que lhe dará crédito no mercado de trabalho.
Neste sentido, a universidade é só um meio para alcançar essa ansiada meta: ser
profissional para entrar no mercado de trabalho e ter sucesso na vida. Trata-se,
portanto, de uma perspectiva individualista que segue uma lógica bastante
evidente: eu passei para a universidade, eu devo passar em cada uma das
disciplinas, eu devo passar em cada um dos semestres, eu devo fazer minha
monografia, eu devo obter meu título ou a minha graduação.
Pensando assim, o terceiro grau é um vago episódio na nossa vida. Ela é
somente um “ente” que nos confere um título. Usando a experiência universitária
neste sentido, jogamos fora a grande chance que a universidade nos dá: pertencer
a uma longínqua tradição. Tradição de pensamento, tradição de conhecimento,
tradição de busca, tradição de sentimento. Perdemos a oportunidade de vivenciar
a experiência de pertencer a uma teia que tem raízes muito profundas na história
humana, pois o conhecimento, em qualquer das áreas de especialização, não é
outra coisa que o resultado dos esforços de milhares de homens e mulheres que,
ao longo dos milênios, acumularam saber e o transmitiram de geração em geração
até o presente e o farão no futuro.
Assim, a disciplina de Filosofia será apresentada sob esta forma de ver nosso
percurso pela universidade: eu chego à faculdade onde serei iniciado numa
tradição de conhecimento que está, por sua vez, conectada intimamente com a
história do pensamento e do conhecimento da humanidade. Ao final disso, serei
um iniciado capaz de perpetuar essa tradição, transmitindo e ampliando seus
conteúdos. Tornar-me-ei um membro legítimo de um grupo de seres humanos que
durante milênios perseguiram o seu desejo de conhecer o mundo que os rodeia, a
sociedade e a si mesmos.
6
Filosofia e Lógica
Como a Filosofia é uma instituição que tem uma tradição e uma história de
mais de vinte e cinco séculos, nada mais coerente com o nosso propósito de
estudar a disciplina Filosofia é travar um debate com a sua própria história. Assim, a
melhor maneira de se estudar Filosofia é refazermos o percurso percorrido pela
história da Filosofia desde o seu nascimento. Sem vivenciar o passado filosófico,
sem examinar a sua problemática através de uma prévia visão retrospectiva do seu
evoluir histórico, é quase impossível compreendê-la. Porque de todos os saberes
nenhum é tão comprometido como o seu passado histórico do que a Filosofia.
Outros saberes ou ciências aceitam os resultados da sua evolução histórica,
bastando apenas o aproveitamento destes sem a necessidade de se reportar a sua
própria história. A Filosofia, ao contrário de outras ciências, historicamente se
constitui, em parte, em si mesma, porque a construção histórica da Filosofia já é um
filosofar e, portanto, é já Filosofia. Por isso, a necessidade de ao estudar a Filosofia
tenha necessariamente que iniciar por refazer minuciosamente a sua própria
história para compreender a sua problemática, a sua importância e finalidade como
também reconhecer que o que somos e o que temos é resultado de uma grande
aventura que se chama: história da humanidade.
Levando em conta tudo o que foi dito acima, a nossa disciplina tem por
finalidade principal:

Capacitação para um modo especificamente filosófico de formular e
propor soluções a problemas nos diversos campos do conhecimento;

Capacidade de desenvolver uma consciência crítica sobre conhecimento,
razão e realidade sócio-histórico-política;

Estimular a aquisição de competências adequadas ao exercício
profissional compromissado com o “aprender a aprender”, possibilitando
o crescimento pessoal e o amadurecimento intelectual;

Compreensão da importância das questões acerca do sentido e da
significação da própria existência e das produções culturais;

Percepção da integração necessária entre a Filosofia e a produção
científica, artística, bem como com o agir pessoal e político;
7
Filosofia e Lógica

Capacidade de relacionar o exercício da crítica filosófica com a promoção
integral da cidadania e com o respeito à pessoa, dentro da tradição de
defesa dos direitos humanos.

Capacitar o discente a interpretar, discutir e relacionar logicamente os
conceitos e dados de cada disciplina específica.
Aceite esse desafio que lhe convidamos agora, mergulhe de cabeça neste
imenso oceano do pensamento e do raciocínio, e deixe o resto por conta de sua
competência e destreza. Bom estudo!
Não
esqueça
de se organizar! Reserve um horário
para
leituras
complementares, fazer seus exercícios, garantindo assim um ótimo desempenho.
Desejamos que você tenha um excelente estudo e alcance o sucesso!
8
Filosofia e Lógica
Plano da Disciplina
Esta disciplina foi elaborada tendo em vista fornecer um quadro geral de
uma determinada questão filosófica, o que facilita o seu estudo em profundidade,
pois permite facilmente uma visão segura do campo geral em que está colocada
cada questão particular da Filosofia. Desta forma, não se constitui em uma síntese
esquemática e sufocante para os estudantes, mas oferece uma exposição que
realça o que é de essencial sobre uma determinada questão ou assunto, deixando
outras para que você tenha iniciativa de investigá-las por conta própria. Há assim
uma unidade que se manifesta no equilíbrio da exposição, na proporção e
hierarquia dos assuntos apresentados. Além disso, a elaboração do conteúdo desta
disciplina tem por objetivo fazer com que você se contagie pelo gosto do
raciocínio e utilização da reflexão crítica, pois veremos que esta disciplina lhe trará
satisfação e liberdade.
Segue abaixo um pequeno resumo acerca de cada unidade para que você
possa ter uma visão global daquilo que irá estudar.
UNIDADE 1: A IMPORTÂNCIA DA INVESTIGAÇÃO FILOSÓFICA.
Objetivo: Procuramos através desta unidade mostrar a relevância e a
necessidade do estudo da disciplina Filosofia, focando, sobretudo, o seu aspecto
questionador como um exercício da liberdade da humana. Por outro lado, faz-se
necessário investigar a sua necessidade diante das especificidades da sociedade
em que vivemos.
UNIDADE 2: AS DIVERSAS FORMAS DE INTERPRETAÇÃO DA REALIDADE:
SENSO COMUM, CONHECIMENTO CIENTÍFICO E O CONHECIMENTO
FILOSÓFICO.
Objetivo: Compreender que a interpretação
humana da realidade se dá
12
através de várias formas, sendo estas formas as relações que o homem
compreende e interpreta o mundo. Caracterizar cada uma dessas formas de
interpretação da realidade, Senso Comum, Conhecimento Científico e
Conhecimento Filosófico indicando suas características marcantes a fim de
problematizar o que as distinguem uma das outras.
9
Filosofia e Lógica
UNIDADE 3: O NASCIMENTO DA FILOSOFIA E O SEU ESTABELECIMENTO
ENQUANTO CONHECIMENTO RACIONAL.
Objetivo: Compreender as condições que permitiram o surgimento de uma
nova forma de pensar denominada de Filosofia. Problematizar a discussão,
inicialmente, em torno do pensamento mítico, mostrando que a Filosofia se inicia a
partir deste pensamento. Mostrar as principais características da Filosofia em seu
nascimento na Grécia, e o que especulavam os primeiros filósofos.
UNIDADE 4: A FILOSOFIA CONTA A SUA HISTÓRIA: OS PRINCIPAIS PERÍODOS
DA HISTÓRIA DA FILOSOFIA.
Objetivo: Compreender a evolução da Filosofia através dos principais
períodos da sua história. Trata-se, portanto, de percorrer a história da Filosofia
através dos seus momentos e dos tipos de abordagem que variam ao longo da
história da humanidade.
UNIDADE 5: OS PRINCIPAIS CAMPOS DE INVESTIGAÇÃO DO CONHECIMENTO
FILOSÓFICO.
Objetivo: Procuramos através desta unidade delinear algumas das principais
disciplinas ou ramos da Filosofia. Nosso objetivo principal é mostrar o
desdobramento da Filosofia em vários campos de conhecimento.
UNIDADE 6: O PROBLEMA DO CONHECIMENTO E A REFLEXÃO ACERCA DA
VERDADE.
Objetivo: O objetivo desta unidade é fornecer uma introdução ao problema
do conhecimento. Procuramos destacar alguns aspectos iniciais acerca deste
problema, tais como: o conceito de verdade e a questão da relação entre o sujeito e
o objeto, à medida que fornecemos uma preparação para a próxima unidade em
que analisaremos a teoria do conhecimento propriamente dita.
UNIDADE 7: A TEORIA DO CONHECIMENTO: A EXPLICAÇÃO FILOSÓFICA
ACERCA DAS POSSIBILIDADES DO CONHECIMENTO HUMANO.
Objetivo: Pretende-se apresentar o desenvolvimento histórico do tema e dos
problemas da teoria do conhecimento pelo estudo dos problemas filosóficos
relativos ao alcance, limite e origem do conhecimento.
10
Filosofia e Lógica
UNIDADE 8: OS CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA LÓGICA CLÁSSICA E A SUA
APLICABILIDADE NO CAMPO DA MATEMÁTICA E DA CIÊNCIA.
Objetivo: Através do exame de um ramo específico da Filosofia denominada
de Lógica, iremos analisar os conceitos fundamentais da Lógica Clássica, como
também a sua aplicabilidade no campo da matemática e da ciência. Com isto,
pretendemos conduzi-lo a uma abordagem que contemple tanto o aspecto da
lógica no sentido filosófico, como também a sua aplicabilidade e funcionalidade no
âmbito das ciências exatas.
UNIDADE 9: A EPISTEMOLOGIA E A FILOSOFIA DA CIÊNCIA
Objetivo: O objetivo desta unidade é de examinar a constituição da
Epistemologia e da Filosofia da Ciência e fornecer uma apreciação mais ampla dos
argumentos que transformaram o debate sobre a ciência numa discussão sobre os
valores e o compromisso do conhecimento científico para com a sociedade.
UNIDADE 10: A FILOSOFIA MORAL: ÉTICA, MORAL E VALORES HUMANOS
Objetivo: Esta unidade constitui uma reflexão sobre o significado dos
conceitos de ética e moral. Começaremos por apresentar o significado dos valores
morais, para a partir desses, examinarmos os conceitos de moral e de ética.
UNIDADE 11: A FILOSOFIA POLÍTICA.
Objetivo: Fornecer uma análise dos problemas fundamentais da filosofia
política com base em alguns temas e autores relevantes que apresentam
problemas que continuam sendo fundamentais na reflexão sobre o poder, o
Estado, as instituições sociais e as relações entre os seres humanos.
UNIDADE 12: FILOSOFIA NO BRASIL: A QUESTÃO SOBRE A EXISTÊNCIA DE
UMA FILOSOFIA GENUINAMENTE BRASILEIRA.
Objetivo: Esta unidade possui como objeto apresentar uma reflexão acerca da
genuinidade da reflexão de uma filosofia brasileira. Procura mostrar alguns
aspectos do debate sobre a originalidade da filosofia no Brasil, como também,
delineia a trajetória da formação de um pensamento filosófico no Brasil, seja ele
genuíno ou não.
Filosofia e Lógica
Filosofia e Lógica
1
A Importância da
Investigação Filosófica
O que é Filosofia e por que é necessário estudá-la?
A utilidade da reflexão Filosófica.
Filosofia e Lógica
Caro aluno,
Seja bem-vindo a nossa primeira unidade. Ela visa delinear a configuração do
pensamento filosófico. Para isso, buscamos compreender a questão acerca da sua
utilidade através de uma breve explicação da relevância da Filosofia como atitude
de questionamento da realidade. Espero que por intermédio desta explicação você
se sinta mais confortável ao se introduzir no espetacular “mundo da Filosofia”.
Objetivos da unidade:
Reconhecer a relevância e a necessidade do estudo da disciplina Filosofia,
focando, sobretudo, o seu aspecto questionador como um exercício da liberdade
humana e investigar a sua necessidade diante das especificidades da sociedade em
que vivemos.
Plano da unidade:

O que é Filosofia e por que é necessário estudá-la?

A utilidade da reflexão Filosófica.
Bem-vindo à primeira unidade de estudo.
Sucesso!
14
Filosofia e Lógica
O que é filosofia e por que é necessário estudá-la?
Uma definição precisa do real significado do que é Filosofia é quase
impraticável. Difícil se torna entender a definição de Filosofia sem se possuir uma
vivência, por mais insignificante que seja, acerca dos seus “problemas”
fundamentais. Dessa forma, o significado ou a simples definição do que é Filosofia,
formulado no início de qualquer compêndio ou tratado,
só passa adquirir pleno sentido e profunda ressonância
no entendimento do estudante de Filosofia, quando este,
assimiladas certas questões fundamentais, pode aplicálas a situações concretas e deduzir daí como procede a
Compêndio: Estudo
introdutório e
sintetizado de uma
determinada disciplina
ou assunto.
reflexão filosófica. Pois bem, afinal de contas, por que é
necessário estudar Filosofia?
Segundo Porta (2002, p. 25), “para quem não se dedicou a um estudo
sistemático da filosofia e tem um contato primário com essa disciplina, a impressão
de um certo caos é inevitável”. A Filosofia, neste sentido, é compreendida como
uma disciplina em que cada Filósofo ou autor pode dizer o que quiser sobre o
conteúdo e o discurso filosófico. Porém, esta impressão é falsa, ou seja, a reflexão
filosófica não pode ser compreendida assim. Se o
estudante de Filosofia não entende o que os
Filósofos
dizem,
acreditando
que
cada
um
meramente diz “o que quer”, isso pode ser explicado
pelo fato de que não se entende o “problema” que
os Filósofos apresentam ou, ainda, porque não
constata que existam “problemas”. Esse é um dos
motivos principais que nos faz entender o motivo básico da falta de interesse pelo
estudo da Filosofia.
15
Filosofia e Lógica
IMPORTANTE
No entanto, a Filosofia está repleta de “problemas”, e mais, a lista
dos “problemas” filosóficos está submetida a uma constante revisão, que
nunca tem fim. Ora, pode-se dizer que se a Filosofia se faz com “problemas”,
quando este não há, tampouco pode haver Filosofia propriamente dita. Isto é
lógico! Bom, se a Filosofia se faz com “problemas”, você já deve estar se
perguntando: quais são os “problemas” da Filosofia? Por incrível que pareça os
“problemas” fundamentais da Filosofia se originam do “espanto” e da
“perplexidade” que temos diante das coisas que parecem ser comuns a nós.
Espanto - Usa-se o termo “espanto” no sentido de admiração e inquietação
diante da realidade. A primeira virtude do Filósofo, afirmava Platão, é o espanto (em
grego: thaumázein) que significa a capacidade de admirar e problematizar as coisas.
Assim, na visão de Garcia Morente (1970, p. 33-34):
Para abordar a Filosofia, para entrar no território da
Filosofia, é absolutamente indispensável uma primeira
disposição de ânimo. É absolutamente indispensável que
o aspirante a filósofo sinta a necessidade de levar a seu
estudo uma disposição infantil. Quem quiser ser filósofo
necessitará infantilizar-se, transformar-se em menino.
Esta afirmação paradoxal de Garcia Morente nos coloca diante do mais
importante ou o ponto de partida de todos os “problemas” que irão permear o
estudo da Filosofia, ou seja, o “espanto” ou a “perplexidade” como o início de todo
o processo da reflexão filosófica.
16
Filosofia e Lógica
O que significa este “espanto” e tal “perplexidade” para com as coisas, com a
realidade em que estamos inseridos? Ora, a capacidade de se
espantar diante das coisas, de se admirar é uma característica
própria de todo ser humano. Do “espanto” e da “perplexidade”
surge a nossa capacidade de interrogação, ou seja, de uma
busca incessante de uma explicação plausível para os fatos sobre
os quais nos deparamos, pelas coisas que vivemos, sentimos, da
nossa realidade e das coisas que ainda podemos esperar. Esta atitude é comparada
com a de uma criança ou um menino, como vimos na citação de Morente.
Doravante, o sentido de que a disposição do ânimo que se faz presente na origem
do processo da reflexão filosófica deve consistir necessariamente em perceber e
sentir por onde quer que for, tanto no âmbito de nossas vidas, tanto no âmbito da
realidade que participamos, um sentimento de admiração, espanto e de uma
curiosidade insaciável, como a de uma criança que inicialmente não compreende
nada e para quem tudo está repleto de “problemas”.
É neste sentido que a etimologia da palavra
Filosofia
é
compreendida.
O
termo
“Filosofia”
significava originariamente “amante da sabedoria”,
tendo surgido com a famosa réplica de Pitágoras aos
que o chamavam de “sábio”. Insistia Pitágoras em que
sua sabedoria consistia unicamente em reconhecer sua
ignorância, não devendo, portanto, ser chamado de
“sábio”, mas apenas de “amante da sabedoria”. Nesta
A palavra filosofia é grega. É
composta por duas outras:
philo e sophia. Philo deriva de
philia, que significa amizade,
amor fraterno, respeito entre
os iguais. Sophia quer dizer
sabedoria e dela vem a
palavra sophos, sábio.
acepção, a Filosofia apresenta-se como uma busca
Pitágoras - Atribui-se ao
incessante pelo saber, através do “espanto” originário
filósofo grego Pitágoras de
de todo ser humano. Com efeito, a Filosofia mantém
Samos (que viveu no século V
acesa a capacidade humana de espantar-se com tudo,
antes de Cristo) a invenção
na medida em que chama a nossa atenção de que nada
da palavra filosofia. Pitágoras
é tão óbvio assim e que todas as coisas são passíveis de
teria afirmado que a
“espanto” e “perplexidade”. Nada pode escapar ao olhar
sabedoria plena e completa
crítico de quem se espanta com os fatos. Quem se
pertence aos deuses, mas
“espanta” também possui a capacidade de questionar,
que os homens podem
de duvidar, pois o “espanto” e a “perplexidade” são a
desejá-la ou amá-la,
base para a atitude questionadora da Filosofia.
tornando-se filósofos.
17
Filosofia e Lógica
Dizia Pitágoras que três tipos de pessoas compareciam aos jogos olímpicos (a
festa mais importante da Grécia): as que iam para comerciar durante os jogos, ali
estando apenas para servir aos seus próprios interesses e sem preocupação com as
disputas e os torneios; as que iam para competir, isto é, os atletas e artistas (pois
durante os jogos também havia competições artísticas: dança, poesia, música,
teatro) e as que iam para contemplar os jogos e torneios, para avaliar o
desempenho e julgar o valor dos que ali se apresentavam. Este terceiro tipo de
pessoa, dizia Pitágoras, é como o filósofo.
Se você percebeu, através do que apresentamos acima, delineamos a principal
característica da Filosofia, talvez o seu postulado fundamental, que é o seu caráter
de questionamento. Através desta caracterização, podemos, enfim, entender a
importância e a finalidade de se estudar a Filosofia.
De acordo com Iglesias (2002, p. 17):
Ora, quando uma sociedade em que as explicações estão
prontas, onde as normas são aceitáveis sem discussão, a
tendência é estagnar. As alterações, inevitáveis em
qualquer comunidade humana, ficam por conta de fatores
externos: mudanças climáticas, cataclismas, guerras,
invasões... Mas onde há questionamento de tudo existe
um princípio interno de transformação, e existe a
permanente possibilidade de mudança.
Como se pode notar pela citação da autora acima, na maioria das vezes a
sociedade, em seu cotidiano, é repleta de crenças, muitas vezes “silenciosas”, em
que as explicações “prontas” nos fazem aceitar as coisas e as ideias como sendo
óbvias e naturais. Isso pode ser explicado porque em nossa “experiência cotidiana”
na sociedade, surge uma série de concepções que são aceitas de modo que se
tornam um consenso entre os seus membros. Ao acharmos como óbvias tais
concepções, estas se tornam uma verdade incontestável, mas na verdade elas
escondem ideias e valores falsos, parciais e preconceituosos.
18
Filosofia e Lógica
Mas por que razão acreditamos nestas crenças e nestes valores? Acreditamos
porque não nos espantamos e nem temos uma perplexidade diante deles. Apenas
acreditamos, na medida em que fazemos parte de uma sociedade que não
estimula aquela curiosidade insaciável tal como a de uma criança. Pois, aquele para
quem tudo resulta muito natural e óbvio, nunca poderá compreender que há uma
falta de fundamentação, uma ambiguidade e uma incompatibilidade entre os fatos
do cotidiano, isto é, da “experiência cotidiana”.
Desta forma, a Filosofia pressupõe uma “não-aceitação” às crenças e aos
preceitos da “experiência cotidiana”. Quando não aceitamos mais as coisas como
óbvias, introduzimos na nossa atitude com a realidade certo distanciamento
daquilo que é consenso, daquilo que é aceito por todos. Por esta atitude, somos
instigados a questionar as crenças e os valores da “experiência cotidiana” e, ao
questionarmos, exigimos respostas e justificações para as crenças e valores que
dominam a sociedade.
Segundo Chauí (2005, p. 18):
Para Platão, o discípulo de Sócrates, a Filosofia começa com a
admiração ou, como escreve seu discípulo Aristóteles, a
Filosofia começa com o espanto ‘... pois os homens começam
e começaram sempre a filosofar movidos pelo espanto (...)
Aquele que se coloca uma dificuldade e se espanta
reconhece a sua própria ignorância (...) De sorte que, se
filosofaram, foi para fugir da ignorância.
Lembra que dissemos acima que o “espanto” e a “perplexidade” são a base
para a atitude questionadora da Filosofia? Pois então, aí está sinalizado o caminho
para compreendermos porque precisamos estudar
Filosofia. O “espanto” e a “perplexidade” que temos das
coisas significam nada mais do que o reconhecimento
da nossa ignorância e, ao reconhecê-la, já estamos nos
pondo diante de sua superação. Se nos espantamos
com algo é porque este nos produz uma inquietação.
Tal inquietação, certamente, nos conduzirá a um
amontoado de questionamentos e indagações a respeito de algo, isto, portanto, só
é possível na medida em que tomamos distância da “experiência cotidiana”,
fugindo assim do consenso, daquilo que é aceito por todos sem uma prévia
indagação.
19
Filosofia e Lógica
Desta forma, esse distanciamento configura-se como uma diferenciação, não
aceitar o costumeiro é se distanciar do consenso, do comum, isto é, daquilo que
não contém a atitude questionadora da Filosofia. Já vimos que a Filosofia tem
como base a função de questionar, de refletir sobre os “fatos do cotidiano”. Assim,
através da Filosofia, podemos conhecer a fundo a nossa capacidade de refletir e
questionar. Você deve estar se perguntando em que sentido o estudo da Filosofia
pode te levar a avaliar a sua capacidade reflexiva. A resposta é que ao utilizarmos a
nossa capacidade de questionar e refletir, podemos exercer o poder de transformar
a realidade que nos cerca e a nós mesmos, pois ao questionarmos ou nos
espantarmos com certas coisas que são tidas como óbvias, estamos praticando
nada mais do que o exercício de liberdade. Ora, sem questionarmos as coisas, não
poderíamos ser de modo algum livres. Considerar as coisas, a “experiência
cotidiana” sem um prévio questionamento é não ser dono de nossas próprias
ações na medida em que se é movido por causas que não são as nossas. Essa é a
diferença entre quem estuda Filosofia e aqueles que vivem imersos em valores e
crenças do cotidiano. Estes não possuem o poder de reflexão e, por isso mesmo,
não podem escolher por si mesmo o curso de ação que irão adotar.
É neste momento que fica bastante claro a necessidade de se estudar Filosofia.
A atitude de questionamento e de indagação é a condição de possibilidade para
nos tornarmos livres. Se for assim, então o estudo da Filosofia está muito próximo
da liberdade. Assim, se o questionamento e a indagação levam-nos a liberdade, e
se a Filosofia nos permite usar essa capacidade de questionar as coisas com mais
profundidade tal como a atitude de uma criança, então a Filosofia pode ser
compreendida como uma ferramenta primordial para o exercício de nossa
liberdade, pois nos leva a refletir sobre as coisas mais claramente, resultando no
uso de nossa capacidade de escolha com mais plenitude.
20
Filosofia e Lógica
Eis, então, a resposta para a pergunta da necessidade de se estudar Filosofia,
ou seja, o exercício e o estudo da Filosofia é a expressão mais profunda e plena da
nossa liberdade. Ela representa a liberdade do refletir, do pensar e que, portanto,
nos conduz a agirmos livremente. O estudo da Filosofia pressupõe que reflitamos e
indagamos o sentido de nossas vidas, nossas ações e a realidade que nos rodeia, a
situação do nosso país, os valores e as crenças da nossa sociedade etc.
A utilidade da reflexão filosófica
Há uma questão que muita gente formula de imediato quando ouve falar da
Filosofia: qual a utilidade da Filosofia? Podemos ver acima que a principal
característica da Filosofia consiste no caráter questionador e no exercício da
liberdade. Será que estas características da Filosofia estão em conformidade com a
realidade da nossa sociedade? Qual seria a utilidade da Filosofia em relação a esta
realidade?
Ora, na nossa sociedade atual é considerado útil aquilo que possui uma
finalidade prática e imediata. Tudo se processa ou tem razão de existir se tiver uma
aplicação prática que forneça algum resultado imediato, não é isso? Um exemplo
deste fato é que todo mundo sabe que todo aquele que estuda engenharia, de
uma maneira geral, irá participar da construção de edifícios, ruas, bairros, cidades
etc. Todos sabem que a utilidade de se filmar um roteiro cinematográfico é, senão,
para que as pessoas vejam o tal enredo sendo encenado e que ao assistirem ao
filme pronto se emocionem, que se tal filme for bem aceito pelo público, seja
merecedor de um Oscar e que ao ser visto por milhões de telespectadores, ele
retorne em dividendos para seus produtores. Tudo hoje em dia é visto sob este
aspecto finalístico, em que tudo que é feito possui uma razão de ser.
Segundo Chauí (2005, p. 24):
“(...) Nossa sociedade considera útil o que nos dá prestígio,
poder, fama e riqueza. Julga o útil pelos resultados visíveis
das coisas e das ações, identificando sua possível
utilidade, como na famosa expressão ‘levar vantagem em
tudo. ’”
21
Filosofia e Lógica
Sobre este aspecto, não há, certamente, expectativa
alguma de que a Filosofia contribua para a produção de
riqueza material. Contudo, a menos que suponhamos
que a riqueza material seja a única coisa de valor, a
incapacidade da Filosofia de promover este tipo de
riqueza não implica em que não haja sentido prático em
filosofar. Ora, se a Filosofia não traz riquezas, em muito
menos nos dá prestígio ou poder. Por que, então há pessoas que se dedicam a essa
atividade? Para que serve a filosofia?
Para respondermos a tal indagação, faz-se necessário, em primeiro lugar,
refletir sobre a expressão “para que serve?”. Primeiramente, devemos nos ater que
a própria questão acerca do que “para que serve?” já é o começo de toda atitude
filosófica, isto é, o ato de refletir.
A questão acerca do que “para que serve?”, de antemão, pressupõe uma visão
utilitária das coisas. No entanto, no sentido utilitário das coisas, não há como
vislumbrar para que serviria a Filosofia. Aí então, poderíamos dizer a célebre
expressão: a Filosofia não serve para nada! Mas, tal expressão só poderia fazer
sentido se limitássemos a pensar a Filosofia através da possibilidade de que com
ela se poderia obter uma utilidade econômica, isto é, obter lucro com a sua
utilização. Se for assim, a Filosofia sempre permanecerá no direito de se manter
inteiramente inútil.
Se ao contrário, pensássemos a utilidade da Filosofia sem a visão utilitária que
permeia a nossa sociedade, isto é, sem a visão do que o que é útil pressupõe uma
finalidade, uma utilidade prática, poderíamos pensar a utilidade da Filosofia de
uma outra forma. Você deve estar ansioso para saber qual seria a utilidade da
Filosofia, não é? Então vamos lá!
A utilidade da Filosofia se faz presente quando, com e para com ela
abandonamos as crenças e os valores pré-concebidos. Ela se faz útil quando
através dela exercemos nossa capacidade de ser livre. Ser livre, neste sentido é não
aceitar que os valores e as crenças sem fundamentos possam governar nossas
vidas. Além disso, a Filosofia está disposta a recuperar a unidade do saber na
medida em que em nossos dias, o saber se “pulveriza” em uma gama de
22
Filosofia e Lógica
especializações que resulta em uma perda de visão mais ampla do conhecimento
humano. Ao recuperar esta visão perdida sobre a visão unitária do conhecimento, a
Filosofia procura questionar a validade dos métodos e critérios adotados pelas
ciências. A Filosofia torna-se útil quando busca compreender e investigar as
respostas à finalidade, ao sentido e ao valor da vida e de toda a realidade. Por este
aspecto, ela torna-se o mais útil de todos os saberes que a humanidade foi capaz
de conceber.
Enfim, podemos agora com toda a clareza afirmar que a Filosofia possui uma
utilidade, mas que a sua utilidade nada tem a ver com o sentido de utilidade que a
nossa sociedade é regida. No entanto, ainda pode haver alguém que discorde
dessa ideia e nos convença de que a Filosofia é o contrário de tudo o que dissemos,
ou seja, “ela é justamente a ciência com a qual, ou sem a qual, o mundo continua
tal e qual!”.
LEITURA COMPLEMENTAR:
JASPERS, Karl. Introdução ao pensamento filosófico. 3ª ed. São
Paulo: Cultrix, (1980). 188p.
BLACKBURN, S. Dicionário Oxford de Filosofia. Trad. Desidério Murcho: Rio
de Janeiro: Jorge Zahar, 1997. 437p.
É HORA DE SE AVALIAR!
Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de estudo. Elas
irão ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia
no processo de ensino-aprendizagem.
Chegamos ao final desta unidade. Esperamos que você tenha compreendido a
relevância do estudo da Filosofia através dos argumentos apresentados acima e
que a partir desta unidade, você se sinta estimulado a prosseguir com mais
confiança e segurança ao exame dos problemas fundamentais da Filosofia. Então,
te espero na próxima unidade. Ainda temos muito que estudar!
23
Filosofia e Lógica
Exercícios – unidade 1
1. Complete a frase a abaixo.
“A __________ da Filosofia se faz presente quando, com e para com ela
__________ as crenças e os valores pré-concebidos. Ela se faz útil quando através
dela exercemos nossa capacidade de ser livre. _____ , neste sentido, é não aceitar
que os valores e as crenças sem __________ possam governar nossas vidas. Além
disso, a Filosofia está disposta a __________ do saber na medida em que em
nossos dias, o saber se “pulveriza” em uma gama de especializações que resulta em
uma perda de visão mais ampla do _______________”.
a)
Utilidade - abandonamos - ser livre - fundamento - recuperar a unidade conhecimento humano.
b)
Inutilidade - abandonamos - ser bom - esquecimento - recuperar a unidade conhecimento desumano.
c)
Utilidade - achamos - ser mau - esquecimento - recuperar a inutilidade conhecimento humano.
d)
Inutilidade - abandonamos - ser livre - fundamento - enumerar e unidade conhecimento insano.
e)
Utilidade - abandonamos - ser bom - esquecimento - recuperar a unidade conhecimento inato.
2. Marque a única resposta incorreta:
a)
Uma definição precisa do real significado do que é Filosofia é quase
impraticável.
b)
Do “espanto” e da “perplexidade” surge a nossa capacidade de interrogação.
c)
A questão acerca do que “para que serve?”, de antemão, pressupõe uma visão
não-utilitária das coisas dos princípios.
d)
A Filosofia pressupõe uma “não-aceitação” às crenças e aos preceitos da
“experiência cotidiana”.
e)
Na nossa sociedade atual é considerado útil aquilo que possui uma finalidade
prática e imediata.
24
Filosofia e Lógica
3. Dizia Pitágoras que três tipos de pessoas compareciam aos jogos Olímpicos (a
festa mais importante da Grécia): as que iam para comerciar durante os jogos, ali
estando apenas para servir aos seus próprios interesses e sem preocupação com as
disputas e os torneios; as que iam para competir, isto é, os atletas e artistas (pois
durante os jogos também havia competições artísticas: dança, poesia, música,
teatro); e as que iam para contemplar os jogos e torneios, para avaliar o
desempenho e julgar o valor dos que ali se apresentavam. Este terceiro tipo de
pessoa, dizia Pitágoras, é o:
a)
Sofista.
b)
Hermeneuta.
c)
Médico.
d)
Filósofo.
e)
Atleta.
4. Coloque (V) se a questão for verdadeira ou (F) se for falsa:
(
) A utilidade da filosofia é facilmente perceptível.
(
) A inutilidade da filosofia proclamada pelo senso comum decorre dele não
tomar o significado de útil como aquilo que traz vantagem imediata.
(
) A diferença entre ser útil e inútil depende do significado atribuído à
palavra “útil”.
(
) Muitas vezes o senso comum só percebe como útil aquilo que é
empregado no seu dia-a-dia.
(
) O senso comum só utiliza a filosofia quando esta é atualizada.
a)
F – F – V- V- F
b)
V- F- V-V- V
c)
F - F- F- F- V
d)
V-V-V-F-F
e)
V-V-F-V-V
25
Filosofia e Lógica
5. Sabemos que os “problemas” fundamentais da Filosofia possuem uma origem
bastante precisa. Quais são estes problemas fundamentais pelos quais a Filosofia se
principia?
a)
O inesperado e o absurdo.
b)
O próprio ato de discordar.
c)
O “espanto” e a “perplexidade”.
d)
A dúvida em relação ao existir.
e)
O espanto e da falta de clareza das coisas.
6. Sabemos que Filosofia se opõe ao pensamento mítico. O que se pode entender
por mito?
a)
Um conjunto de livros e doutrinas, ou seja, o mito caracteriza-se por
oferecer uma explicação da realidade através de um conjunto de relatos
físicos por intermédio de uma linguagem simbólica e misteriosa.
b)
Um conjunto de narrativas e doutrinas, ou seja, o mito caracteriza-se por
oferecer uma explicação da realidade através de um conjunto de relatos
físicos por intermédio da linguagem matemática.
c)
Um conjunto de livros e doutrinas, ou seja, o mito caracteriza-se por
oferecer uma explicação da realidade através de um conjunto de obras
filosóficas por intermédio de uma linguagem simbólica e misteriosa.
d)
Um conjunto de narrativas e doutrinas, o mito caracteriza-se por oferecer
uma explicação da realidade através de um conjunto de relatos racionais
por intermédio de uma linguagem simbólica e misteriosa.
e)
Um conjunto de narrativas e doutrinas, ou seja, o mito caracteriza-se por
oferecer uma explicação da realidade através de um conjunto de relatos
fantasiosos por intermédio de uma linguagem simbólica e misteriosa.
7. Qual o significado da palavra “Filosofia”?
a)
Amigo dos preconceitos.
b)
Liberdade de pensamento.
c)
Amante da sabedoria.
d)
Questionamento.
e)
Amante da disputa.
26
Filosofia e Lógica
8. Marque a única afirmativa correta:
a)
b)
Filosofia torna-se útil quando busca compreender e investigar as respostas
à finalidade, ao sentido e ao valor da vida e de toda a realidade.
Filosofia torna-se útil quando busca compreender e investigar porque o
consenso é útil para nossas vidas.
c)
Filosofia torna-se útil quando busca compreender e investigar as respostas
à finalidade, ao sentido e ao valor da consciência física e de toda a
irrealidade.
d)
Filosofia torna-se útil quando busca compreender e investigar as respostas
à finalidade daquilo que não precisa possuir finalidade.
e)
Filosofia torna-se inútil quando busca compreender e investigar as
respostas à finalidade, ao sentido e ao valor da vida e de toda a realidade.
9. Para Garcia Morente (1970, p. 33-34):
“Para abordar a Filosofia, para entrar no território da Filosofia, é absolutamente
indispensável uma primeira disposição de ânimo. É absolutamente indispensável
que o aspirante a filósofo sinta a necessidade de levar o seu estudo uma disposição
infantil. Quem quiser ser filósofo necessitará infantilizar-se, transformar-se em
menino”.
Comente a afirmação de Morente, procurando evidenciar o aspecto de todo o
processo da reflexão filosófica.
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
27
Filosofia e Lógica
10. Relacione a expressão “para que serve?” com a concepção do que é útil e do
que é inútil na sociedade em que vivemos ?
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
28
Filosofia e Lógica
2
As diversas formas de
interpretação da realidade: senso
comum, conhecimento científico e
o conhecimento filosófico
As formas de interpretação da realidade.
O senso comum e sua caracterização.
O conhecimento científico e a sua caracterização.
O conhecimento filosófico e a sua caracterização.
29
Filosofia e Lógica
Na unidade anterior, compreendemos a importância e a utilidade da Filosofia.
Vimos que pensar filosoficamente é possível a qualquer um, bastando apenas certo
distanciamento do “pensar ingênuo”, comum ao dogmatismo e que sejam
colocadas questões fundamentais sobre a realidade. Nesta unidade, veremos quais
são as formas humanas de interpretação da realidade.
Objetivos da unidade:
Compreender que a interpretação humana da realidade se dá através de várias
formas, sendo tais formas as relações que o homem compreende e interpreta o
mundo; caracterizar cada uma dessas formas de interpretação da realidade: o
senso comum, o conhecimento científico e o conhecimento filosófico, indicando
suas características marcantes, a fim de problematizar o que as distinguem.
Plano da unidade:

As formas de interpretação da realidade.

O senso comum e sua caracterização.

O conhecimento científico e a sua caracterização.

O conhecimento filosófico e a sua caracterização.
Bem-vindo à segunda unidade de estudo.
Bons estudos!
30
Filosofia e Lógica
As formas de interpretação da realidade
O nosso objetivo nesta disciplina é o estudo da Filosofia em geral. No entanto,
devemos ressaltar que a Filosofia não é a única forma de saber ou de
conhecimento. Existem outras formas sob as quais interpretamos a realidade e
buscamos respostas para nossos problemas. A partir deste momento, iremos
conhecer as outras formas de interpretação da realidade, de modo que possamos
distingui-las umas das outras e buscar compreender o papel da Filosofia diante de
outras formas de interpretação da realidade. Cercado pelas coisas do mundo no
convívio com seus semelhantes, o homem é um ser que, diferentemente dos
demais, problematiza a realidade que o rodeia, colocando perguntas e
investigando possíveis respostas. O homem não se contenta em simplesmente
estar ou transitar entre as coisas, mas procura esclarecer o seu significado, seu
porquê, ou seja, as causas das coisas.
Para Buzzi (1992, p. 73),
A diferença do animal que vive no puro aberto, que não vê
espaço e o tempo, o homem vê sempre dentro de uma
moldura, define e delimita as coisas. Isso é o seu espaço. As
coisas são vistas a partir desse espaço. São colhidas dentro
de um determinado horizonte. Surge daí aquilo que
chamamos de mundo, história, cultura, sociedade. Não
vemos jamais as coisas puras em si, vemos a partir de uma
representação, nas malhas de uma interpretação.
IMPORTANTE
Todo indivíduo, ao nascer, já se encontra imediatamente inserido em um
mundo previamente interpretado. Desde o nascimento, encontramos
um “sistema” de coisas com uma significação definida, transmitida pela cultura de
uma determinada sociedade. A interpretação da realidade é uma necessidade
essencial do ser humano, pois surge da necessidade de resolver certos problemas
impulsionados pelos mais variados interesses. Assim, de acordo com certos
interesses, o homem interpreta a realidade das mais variadas formas.
31
Filosofia e Lógica
Há muitos modos de se conhecer e interpretar a realidade que dependem da
postura do homem frente às suas necessidades fundamentais. De acordo com esta
postura, a interpretação da realidade pode ser explicada através do mito, do Senso
Comum, da Ciência, da Filosofia e da Arte. Todos eles são formas de conhecimento,
pois cada um, a seu modo, oferece uma resposta para os mais variados interesses
do homem, atribuindo-lhes um sentido.
Sendo assim, o mito é um modo de interpretação da realidade em que ocorre
o apelo ao sagrado na medida em que fornece segurança e conforto ao homem. O
Senso Comum ou “conhecimento espontâneo” é a primeira compreensão do
mundo resultante da herança do grupo a que pertencemos e das experiências
atuais que continuam sendo efetuadas. A ciência procura descobrir o
funcionamento da natureza através, principalmente, das relações de causa e efeito,
busca o conhecimento objetivo e lógico, através de métodos desenvolvidos para
manter a coerência interna de suas afirmações. Dotada de aplicabilidade, pode
resultar em tecnologias que permitem ao homem intervir na natureza. A Filosofia,
por sua vez, propõe oferecer um tipo de conhecimento que busca, com todo o
rigor, a origem dos problemas, relacionando-os a outros aspectos da vida humana,
numa abordagem “totalizante”, e o conhecimento proporcionado pela Arte nos dá
não o conhecimento de um objeto, mas de um mundo interpretado pela
sensibilidade do artista e traduzido numa obra individual.
Como vimos, podemos conhecer e interpretar a realidade de diversas
maneiras. A seguir, iremos examinar os três tipos básicos de interpretação da
realidade: Senso Comum, Conhecimento Científico e a Filosofia. Deixaremos o mito
para uma outra unidade e a Arte, não entraremos no mérito da questão.
O senso comum e sua caracterização
No seu cotidiano, o homem adquire espontaneamente um modo de entender
e atuar sobre a realidade que o cerca. Algumas pessoas, por exemplo, não passam
por baixo de escadas, porque acreditam que dão azar, outras acham que se
quebrarem um espelho podem ter sete anos de azar. Algumas confeiteiras sabem
que o forno não pode ser aberto enquanto o bolo está assando, senão ele “sola”,
sabem também que determinados pratos, feitos em “banho-maria”, deve-se
acrescentar algumas gotas de limão para que a vasilha em que está inserido não
32
Filosofia e Lógica
fique escura. Como estas pessoas aprendem tais informações? Elas foram
transmitidas de geração para geração. Elas não só foram assimiladas como também
transformadas, contribuindo assim para uma compreensão da realidade. Em todos
os tempos, o homem se defronta com dificuldades de ordem prática que
necessitam de soluções imediatas e imprescindíveis para a sua sobrevivência e seu
bem-estar.
IMPORTANTE
Com efeito, podemos perceber que este tipo de conhecimento é
um produto de uma prática que se faz social e historicamente. Todas as
explicações para a vida, para as regras de comportamento, para o trabalho, para os
fenômenos da natureza etc., passam a fazer parte das explicações para tudo o que
observamos e “experimentamos”. Todos estes são elementos assimilados ou
transformados de forma espontânea. Por isso, raramente há questionamento sobre
outras possibilidades de explicações para a realidade. Acostumamos-nos a uma
determinada compreensão de mundo e não mais questionamos, nos tornamos
“conformistas de algum conformismo”.
Aos que não detêm o conhecimento científico, resta buscar a resolução de
seus problemas cotidianos sem a ajuda das construções racionais e metódicas da
ciência, sem os instrumentos que a ciência desenvolveu para que se atinja uma
melhor compreensão do mundo. Dotados de informações e interpretações que
adquirem com a experiência de vida, os “homens comuns” procuram dar respostas
às questões e às necessidades de seu mundo baseados num “conhecimento” cujo
conjunto de formulações a ciência denomina: senso comum ou conhecimento
espontâneo. Portanto, podemos dizer que o senso comum é o modo comum,
corrente e espontâneo de conhecer e interpretar a realidade, que se adquire no
trato direto com as coisas e os seres humanos; é o saber que prevalece em nossas
vidas diárias, aquele que é sem comprovação ou estudo, sem a aplicação de um
estudo (método) mais cuidadoso e sem se haver refletido sobre algo que é
afirmado como verdade.
33
Filosofia e Lógica
Muitas das concepções do senso comum transformam-se em frases feitas ou
ditados populares, como por exemplo: “homem que é homem não chora”, “filho de
peixe, peixinho é”, “Deus ajuda a quem cedo madruga”. Frases como estas,
repetidas irrefletidamente no cotidiano, na verdade escondem ideias falsas,
parciais e preconceituosas. Mas, o que caracteriza basicamente as ideias
provenientes do senso comum não é a sua verdade ou falsidade, mas uma falta de
fundamentação. Ou seja, não nos preocupamos com o porquê destas ideias. Elas
são aceitas, repetidas e até defendidas, mas não sabemos explicá-las. Trata-se,
portanto, de um conhecimento adquirido sem uma base crítica ou de
questionamento.
Isto explica o motivo pelo qual o senso comum apresenta-se como um
conhecimento superficial adquirido espontaneamente, sem preocupação com o
método, com a crítica ou com a sistematização. Desta forma, o senso comum é
indisciplinar e ametódico; não resulta de uma prática especificamente orientada
para o produzir, reproduz-se espontaneamente no suceder quotidiano da vida. Por
último, o senso comum é retórico e metafórico; não ensina, persuade.
As principais características do senso comum são:
•
Subjetivo: Só exprime sentimentos e opiniões individuais de um
determinado grupo, variando de indivíduo para indivíduo, conforme as
condições em que se vive;
•
Natural: Transmitido de “pai para filho” quase da mesma forma como se
transmitem as características genéticas - sem qualquer esforço
consciente, sem intenção nem intervenção da vontade;
•
Conservador: O novo, as mudanças, o desconhecido é evitado, pois
exigiria maior empenho do pensamento e uma mudança de hábitos;
•
Preconceituoso: Não há o costume de verificar e checar as informações,
os valores e os comportamentos que são repetidos pela maioria.
•
Fragmentário: Não percebe os fatos relacionados entre si, embora
diferentes na aparência. Assim, as ideias desenvolvem-se
independentemente umas das outras, opiniões contrárias são
submetidas ao mesmo tempo; algo dito agora, pode ser negado por
outra coisa dita logo depois;
34
Filosofia e Lógica
Espontâneo ou intuitivo: Surge como se não obedecesse a nenhuma
determinação da razão, se faz por imitação e da associação por analogias.
Porém, é importante assinalar que o senso comum é uma forma válida de
conhecimento e explicação da realidade, pois o homem precisa dele para se
orientar, resolver ou superar suas necessidades imediatas do cotidiano.
Os pais, por exemplo, educam seus filhos mesmo não sendo psicólogos ou
pedagogos e nem sempre os filhos de pedagogos ou psicólogos são mais bem
educados.
Levando em conta a reflexão feita até aqui, podemos considerar o senso
comum como sendo uma visão de mundo, uma explicação precária e fragmentada
da realidade. Mesmo possuindo o seu valor enquanto processo de construção e
explicação do conhecimento e da realidade, ele deve ser superado por um tipo de
explicação que o incorpore, que se estenda a uma concepção crítica e coerente e
que possibilite, até mesmo, o acesso a um saber mais elaborado, como a ciência e a
Filosofia.
Mostraremos a você, no próximo tópico, o que é e o que caracteriza o
conhecimento científico.
O conhecimento científico e a sua caracterização
Quando nos deparamos com o tema ciência, uma polêmica logo se faz
presente quanto ao significado que se quer dar ao termo. Assim, para o senso
comum, a ciência significa uma coisa, como significou outra coisa para Aristóteles e
Platão. Tem ainda um significado bem específico para os filósofos e cientistas da
contemporaneidade. Para o senso comum, a ciência pode significar habilidade na
execução de uma tarefa específica ou uma informação mais apurada sobre um
determinado assunto. Nos dias atuais, a ciência reveste-se de um caráter especial:
não é simplesmente uma habilidade especial, nem um conhecimento obtido com
o uso da razão sobre um objeto qualquer, mas sim um conhecimento rigoroso,
sistematizado e demonstrado metodicamente.
35
Filosofia e Lógica
É neste sentido que trataremos de examinar o
A
Ciência
é
um
conhecimento científico, ou seja, através do seu caráter
conhecimento
sistemático, metodológico e do seu rigor. Diferentemente do
racional,
senso comum que concebia o mundo fragmentado, a ciência
verificável
ou o conhecimento científico passa a conceber os fatos do
sistemático que visa
mundo através de uma explicação investigativa, cuja causa
estabelecer relações
deve ser explicada e comprovada. Explicar uma causa é
necessárias entre as
resolver um problema sobre o porquê de um fato. No entanto,
coisas.
metódico,
no caso do conhecimento científico, somente se pode explicar
um fato através da utilização de um método adequado.
IMPORTANTE
A palavra método tem sua origem na língua grega (em grego, ‘meta’
quer dizer ‘através de’, ‘por meio’ de e ‘hodós’, ‘caminho’). O método,
portanto, sinaliza para a ciência que suas especulações precisam seguir um
caminho para se obter resultados seguros, embora este caminho não lhe traga
garantias de que os resultados esperados sejam realmente o que buscamos. É
como você ter uma receita e querer fazer um bolo. A receita é o método e o bolo é
a solução do problema que você irá resolver. Na ciência, tudo se passa como se
alguém perguntasse se o “bolo está bom”, e você respondesse que ele está
delicioso porque você seguiu perfeitamente a receita. Ou seja, você não pode
aperfeiçoar seu bolo com toques especiais na preparação, não pode pôr seus
preconceitos e sentimentos, e muito menos suas crenças pessoais. A ciência quer
somente que seu bolo seja conforme a receita diz.
Tudo bem que a receita pode, em certos casos, ser omissa, mas neste,
você pode fazer o que quiser, sem ficar em desacordo com o método.
O método é um estranho caminho que nos leva a um
lugar, mas não temos certeza que lugar é este. Assim, o
método configura-se como um “roteiro de pesquisa”, ou
seja, uma orientação que guia a ciência na busca das
explicações sobre os fatos. No entanto, é importante notar
que a utilidade do método para a ciência não consiste em
36
e
Filosofia e Lógica
chegar a conclusões dos seus problemas mais gerais, mas, sobretudo, em evitar
que a sua atividade se perca enquanto procura resolver seus problemas. Ou seja, o
método não garante que se chegue lá aonde se quer chegar, mas garante que não
se assumam certos procedimentos em desacordo com o procedimento científico.
O método científico pode ser resumido em quatro momentos principais: a
observação, a hipótese, a experimentação e a generalização. Veja cada um a seguir:
A observação científica: Observar é uma das atitudes mais comuns de todo ser
humano. Observarmos o comportamento dos outros, como se vestem, como
falam, como comem, observamos o clima, entre outras coisas. Este tipo de
observação, normalmente, ocorre de uma forma superficial e aleatória, isto é,
observamos por acaso, sem uma preocupação de levarmos isso a diante, pois esta
observação é própria de nossa consciência espontânea ou natural. Ao contrário da
observação natural, a observação científica só se dá numa consciência
anteriormente preparada para a pesquisa científica. Portanto, a observação
científica pressupõe um conjunto de conhecimentos e informações prévias daquilo
que se está observando.
A hipótese científica: A observação científica pode originar uma hipótese
científica. Por hipótese, deve-se entender uma explicação provisória que necessita
de um amadurecimento maior e uma averiguação posterior.
A experimentação científica: A característica da hipótese consiste em não
concluir a certeza ou a evidência, pois assim não seria mais considerada uma
hipótese, mas um postulado. Uma vez lançada a hipótese, a ciência prepara as
condições necessárias para a sua verificação. Enquanto no primeiro momento a
observação se dá in loco, aqui a observação se faz a partir de um artifício, pois o
cientista forja uma situação em que o objeto de seu estudo pode receber um
tratamento mais minucioso. Além disso, a ciência faz uso dos instrumentos que
considera adequado para o controle do mesmo.
A Generalização: Uma vez confirmada a hipótese, o cientista chega ao
momento mais almejado: a generalização da sua hipótese, ou seja, a conclusão
obtida em que seja aplicada a situações semelhantes àquela particularmente
testada.
37
Filosofia e Lógica
As generalizações são, portanto, o ponto de chegada de uma pesquisa
científica. No entanto, esta deve proceder de uma linguagem apropriada. Isto quer
dizer que a ciência possui uma linguagem extremamente rigorosa cujos conceitos
são definidos, a fim de evitar ambiguidades. Desta forma, a linguagem científica
torna-se cada vez mais precisa, na medida em que utiliza a matemática como a
linguagem específica da ciência. A matematização da ciência se inicia a partir do
século XVII com Galileu Galilei. Depois deste, os acontecimentos do mundo são
interpretados e representados matematicamente, portanto, experimentados e
medidos.
As principais características do Conhecimento científico são:
•
Sistematização: A ciência organiza-se sob a forma sistêmica, isto é,
em sistemas. Por sistema entende-se o caráter orgânico e coerente
em que as hipóteses e conclusões da ciência estão dispostas;
•
Verificação: As conclusões científicas são passíveis de verificação.
Em certos casos, através destas experiências, uma hipótese é
comprovada, tornando-se, por sua vez, uma teoria;
•
Operatividade: Consiste no postulado de que todo e qualquer
conceito científico somente tem valor científico se for definido
mediante uma série de operações físicas, experiências e medidas
idealmente possíveis;
•
Objetividade: Capacidade de distanciamento de todo elemento
afetivo e subjetivo, isto é, tendência a ser independente dos
“sentimentos pessoais”. A objetividade da ciência quer dizer,
sobretudo, que o seu conhecimento tem um caráter universal.
No próximo tópico mostraremos a você o que é e o que caracteriza o
conhecimento filosófico.
38
Filosofia e Lógica
O conhecimento filosófico e a sua caracterização
A Filosofia é uma forma de interpretação da realidade
como a ciência e o senso comum. Diferentemente da ciência,
a Filosofia não assenta em experimentações nem em
observação, sua especificidade está no pensamento. Ao
contrário do senso comum, a Filosofia não surge da
necessidade de se enfrentar as circunstâncias imediatas sem a
necessidade de uma prévia discussão ou fundamentação.
De uma maneira geral, o que diferencia o conhecimento filosófico das outras
formas de conhecimento é a maneira como problematiza as coisas. A Filosofia é
uma forma de reflexão, ou melhor, uma reflexão crítica acerca dos fundamentos de
todas as coisas. Ela pode ser considerada uma ciência, mas uma ciência que possui
a pretensão de obter as explicações mais complexas e profundas sobre todas as
coisas, a partir de suas causas e seus fins últimos. Não vá pensando que os mesmos
problemas da ciência sejam os problemas da Filosofia. A ciência pretende alcançar
a determinação constante dos nexos, ou seja, a regularidade dos fenômenos, com
a descrição do que acontece na realidade e suas causas próprias, suscetíveis de
serem registradas pela experiência. A experiência permite fornecer uma
uniformidade às investigações científicas, de modo que esta adquire mais
objetividade. Ao contrário, a Filosofia pretende saber as razões últimas de todos os
seres, sem a preocupação de uma referência à experiência, pois a Filosofia parte da
experiência vivida o que permite ir além da mera constatação científica.
IMPORTANTE
O conhecimento filosófico é um saber crítico e conceitual. A
exigência da crítica é própria do ideal da Filosofia. Trata-se de um
conhecimento que se assenta em base crítica, mas não basta apenas a crítica para
caracterizar a Filosofia. Esta é uma atividade de investigação e questionamento
permanente. A atitude filosófica exige uma insatisfação constante para a abertura
de novos horizontes, a fim de solucionar os problemas mais gerais que se impõe
aos homens. Enfim, podemos concluir que a Filosofia é uma forma de
conhecimento que, a partir da reflexão rigorosa, radical e totalizante sobre o real,
procura construir um conhecimento cada vez mais verdadeiro através da sua
atitude questionadora, a fim de ultrapassar o caráter finito e óbvio da interpretação
superficial que apresenta o saber comum.
39
Filosofia e Lógica
As principais características do conhecimento filosófico são:
•
A Filosofia é uma atividade racional, pois exige a utilização do
pensamento. Por sua vez, o uso da razão torna viável a reflexão e a
crítica, cuja principal finalidade é a procura da verdade e do sentido da
existência humana. O uso da razão permite ainda a autonomia e a
independência intelectual, ou seja, pensar por si mesmo;
•
A Filosofia procura os fundamentos, as causas fundamentais da
realidade de modo a encontrar a sua essência. Procura a razão de ser
das coisas, o seu sentido geral, a verdade que se encontra por trás das
aparências. Esta, portanto, implica em um questionamento e uma
problematização constante. Exige uma solução para as perguntas que
vai ao “por que” último das coisas;
•
A Filosofia pressupõe inquietações que interessam a todos os homens.
Desta forma, os temas da Filosofia são temas universais, pois exprimem
inquietações próprias de toda a humanidade.
LEITURA COMPLEMENTAR:
GARCIA MORENTE, Manuel. Fundamentos de filosofia. 8ª edição.
São Paulo: Mestre Jou, 1980. 324p.
CORBISIER, Roland. Introdução à filosofia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1986, 288p.
REALE, Miguel. Introdução à Filosofia. 4ª ed. São Paulo, Saraiva, 1994 2002.
322p.
É HORA DE SE AVALIAR!
Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de estudo. Elas irão
ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de
ensino-aprendizagem.
Nesta unidade foram apresentadas as diferentes formas de interpretação da
realidade. Cada uma delas é um modo como o homem interpreta a realidade que o
cerca. Espero que você tenha compreendido a questão acerca dos modos como
interpretamos a realidade. Na próxima unidade, vamos analisar o surgimento da
Filosofia, ou seja, o seu nascimento na Grécia antiga. Até lá!
40
Filosofia e Lógica
Exercícios – unidade 2
1. Qual das alternativas abaixo é concernente à caracterização do caráter
“subjetivo” do senso comum?
a)
Só exprime sentimentos e opiniões individuais de um determinado grupo,
variando de indivíduo para indivíduo, conforme as condições em que se vive.
b)
Transmitido de “pai para filho” quase da mesma forma como se transmitem as
características genéticas - sem qualquer esforço consciente, sem intenção
nem intervenção da vontade.
c)
O novo, as mudanças, o desconhecido é evitado, pois exigiria maior empenho
do pensamento e uma mudança de hábitos.
d)
Não há o costume de verificar e checar as informações, os valores e os
comportamentos que são repetidos pela maioria.
e)
Não percebe os fatos relacionados entre si, embora diferentes na aparência.
Assim, as ideias desenvolvem-se independentemente umas das outras,
opiniões contrárias são submetidas ao mesmo tempo; algo dito agora, pode
ser negado por outra coisa dita logo depois.
2. Complete a frase abaixo.
No seu cotidiano, __________ adquire __________ um modo de entender e atuar
sobre a _______ que o cerca.
a)
O animal, criticamente, realidade.
b)
O homem, criticamente, realidade.
c)
O homem, espontaneamente, realidade.
d)
O animal, reflexivamente, realidade.
e)
O homem, reflexivamente, realidade.
41
Filosofia e Lógica
3. Dentre as alternativas abaixo, qual delas caracteriza a “hipótese científica”?
a)
Deve-se entender como uma “explicação científica” provisória que necessita
de um amadurecimento maior e uma averiguação posterior.
b)
Deve-se entender como uma verificação inconsequente e imprevisível.
c)
Consiste no postulado de que todo e qualquer conceito científico somente
tem valor científico se for definido mediante uma série de operações físicas,
experiências e medidas idealmente possíveis.
d)
Consiste em uma hipótese, ou seja, uma conclusão obtida em que seja
aplicada a situações semelhantes àquela particularmente testada.
e)
Deve-se entender como uma atividade racional que exige a retrospectiva do
pensamento.
4. Qual das alternativas a seguir refere-se à caracterização de “generalização”.
a)
Capacidade de distanciamento de todo elemento afetivo e subjetivo, isto é,
tendência a ser independente dos “sentimentos pessoais”.
b)
Entende-se o caráter orgânico e coerente em que as hipóteses e conclusões
da ciência estão dispostas.
c)
Uma conclusão obtida em que seja aplicada a situações semelhantes àquela
particularmente testada.
d)
Entende-se o caráter orgânico e coerente em que as falácias e conclusões da
ciência estão dispostas.
e)
Capacidade de congestionamento de todo elemento afetivo e objetivo, isto é,
tendência a ser independente dos “sentimentos impessoais”.
42
Filosofia e Lógica
5. Das alternativas abaixo, qual delas reapresenta uma característica do
conhecimento filosófico?
a)
Espontâneo.
b)
Fragmentário.
c)
Impreciso.
d)
Procura da verdade e do sentido da existência humana.
e)
Desonesto.
6. Há muitos modos de se conhecer e interpretar a realidade que dependem da
postura do homem frente às suas necessidades fundamentais. Quais são eles?
a)
A hipótese, a lei, a generalização e a memorização.
b)
O mito, o Senso Comum, a Ciência, a Filosofia e a Arte.
c)
O mito, o senso comum, a ciência, a memorização e a arte.
d)
A lei, a regra, a generalização e a arte.
e)
O mito, a hipótese, a generalização e a ciência.
7. Para Buzzi, o que diferencia o animal do homem?
a)
Para Buzzi, o animal vive no puro aberto e não vê o espaço e o tempo. O
homem, por sua vez, vê sempre dentro de uma moldura pela qual define e delimita
as coisas.
b)
Para Buzzi, o animal vive no puro aberto no qual estabelece uma relação
com o espaço e o tempo. O homem, por sua vez, vê sempre dentro de uma
moldura pela qual define e delimita as coisas.
c)
Para Buzzi, o animal vive no puro aberto no qual estabelece uma relação
com o espaço e o tempo. O homem, por sua vez, é limitado à estrutura irracional.
d)
Para Buzzi, o animal vive no puro aberto no qual não estabelece uma
relação com o espaço e o tempo. O homem, por sua vez, vê sempre dentro de uma
moldura pela qual define e delimita as coisas.
e)
Para Buzzi, o animal, apesar de não viver no puro aberto, estabelece uma
relação com o espaço e o tempo. O homem, por sua vez, não consegue ver dentro
de uma moldura pela qual define e delimita as coisas.
43
Filosofia e Lógica
8. Complete a seguinte frase:
“O ______ é um estranho caminho que nos leva a um lugar, mas não temos certeza
que lugar é este. Assim, o método configura-se como ____________, ou seja, uma
orientação que guia _______ na busca das explicações sobre os fatos. No entanto,
é importante notar que a utilidade do método para a ciência não consiste em
chegar a _________ dos seus problemas mais gerais, mas, sobretudo, em evitar que
a sua atividade se perca enquanto procura resolver seus problemas”.
a)
Método, um “roteiro de pesquisa”, a ciência, conclusões.
b)
Vocabulário, um “roteiro de pesquisa”, a ciência, conclusões.
c)
Sentido, um “roteiro de pesquisa”, a ciência, conclusões.
d)
Método, um “roteiro de pesquisa”, o senso comum, conclusões.
e)
Vocabulário, um “roteiro de pesquisa”, a ciência, conclusões.
9. Atente ao texto que se segue:
“Quando uma pessoa faz um bolo, segue a receita e incorpora uma série de
informações para melhor sucesso do seu trabalho. Sabe que ao bater as claras dos
ovos, elas crescem e tornam-se esbranquiçadas; sabe que não convém abrir o forno
quando o bolo começa a cozinhar senão ele sola: que medida adequada de fermento
faz o bolo crescer. Se fizer um pudim em “Banho-Maria”, sabe que uma rodela de limão
na água evita o crescimento deste na vasilha, o que facilitará o trabalho posterior. Essa
pessoa sabe tudo isso, mas não sabe explicar o porquê e como ocorrem esses
fenômenos, não conhecendo as suas causas constitutivas”. (Autor desconhecido).
44
Filosofia e Lógica
A) Identifique o tipo de conhecimento a que o texto se refere.
_____________________________________________________________________
B) Cite duas características deste tipo de conhecimento.
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
10. O que significa a “operatividade” e a “objetividade” no conhecimento
científico?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
45
Filosofia e Lógica
46
Filosofia e Lógica
3
O nascimento da filosofia e
o seu estabelecimento
enquanto conhecimento
racional
A origem da Filosofia.
A questão do Mito.
O nascimento da Filosofia: a passagem do Mito para a Razão.
47
Filosofia e Lógica
Na unidade anterior, compreendemos que a Filosofia é apenas uma forma de
compreender a realidade. Nesta unidade, vamos mostrar a você como a Filosofia
nasceu e as condições para o seu surgimento na Grécia no século VI a.C..
Preparado? Vamos lá!
Objetivos da unidade:
Compreender as condições que permitiram o surgimento de uma nova forma
de pensar denominada de Filosofia; problematizar a discussão, inicialmente, em
torno do pensamento mítico, mostrando que a Filosofia se inicia a partir deste
pensamento; mostrar as principais características da Filosofia em seu nascimento
na Grécia e o que especulavam os primeiros filósofos.
Plano da unidade:

A origem da Filosofia.

A questão do Mito.

O nascimento da Filosofia: a passagem do Mito para a Razão.
Bem-vindo à terceira unidade de estudo.
Bons estudos!
48
Filosofia e Lógica
A origem da filosofia
A questão sobre a origem da Filosofia pergunta como a Filosofia começa, ou
seja, como ocorre o seu nascimento. A tendência de todo e qualquer estudioso no
assunto é responder a esta questão através da exposição sobre o antigo “mundo
grego” e um relato das questões que intrigavam os gregos, entre os séculos VI a.C.
e IV a.C, na Ásia menor. Essa tendência imediata é fundamental para a
compreensão histórica do surgimento da Filosofia.
O nascimento da Filosofia pressupõe uma ruptura com certo modo de
pensamento predominante na Grécia Antiga. Alguns historiadores da Filosofia
costumam afirmar que a Filosofia surge quando se abandona o mito, substituindoo pela “explicação racional”. A “explicação racional” de que
falamos é aquilo que o logos expressa, isto é, a razão. Assim,
a Filosofia surge, pois, quando o logos (razão) substitui o
Logos – Essa palavra
sintetiza vários
significados em
mito na função de explicação da realidade.
português, como por
Esse novo modo de interpretar a realidade é
exemplo, narrar,
considerado oposto ao pensamento mítico (mito). É como
proferir, falar, refletir,
se na Grécia, no século VI a.C., os homens tomassem
mas daremos
consciência de que a realidade que os cercava não era algo
preferência ao seu
de tão misterioso, celestial e divino, mas ao contrário, podia
ser perfeitamente conhecido através da razão ou de um
significado como razão.
discurso racional. O descrédito com que a explicação mítica
apresentava-se dentro da sociedade grega é, portanto, o que tornará possível o
nascimento de uma nova forma de interpretação da realidade: a Filosofia.
49
Filosofia e Lógica
Vejamos como isto aconteceu.
A questão do mito
Na antiguidade, antes do estabelecimento da Filosofia enquanto saber
racional, os mitos eram a principal forma de compreensão da realidade, da origem
do universo e do funcionamento da natureza. Originalmente
em grego, Mythos designa uma palavra formulada, quer se
Mito vem da palavra
trata de uma narrativa, de um diálogo ou de uma
grega Mythos que
anunciação. Dessa forma, o mito é um conjunto de
significa discurso,
narrativas e doutrinas tradicionais dos poetas ou rapsodos
rumor, palavra
(aedos) acerca do mundo, do homem e de Deus. Como um
proferida, conselho e
conjunto de narrativas e doutrinas, isto é, o mito caracterizaprescrição.
se por oferecer uma explicação da realidade através de um
conjunto de relatos fantasiosos por intermédio de uma
linguagem simbólica e misteriosa.
Para Eliade (1986, p. 7):
(...) o mito narra como, graças às façanhas dos entes
sobrenaturais, uma realidade que passou a existir, seja ela
uma realidade total, isto é, o Cosmo ou apenas um
fragmento: uma ilha, uma espécie vegetal, um
comportamento humano, uma instituição. É sempre,
portanto, uma narrativa de uma “criação”: Ele relata de que
modo foi produzido e começou a ser. O mito fala apenas do
que realmente ocorreu, do que se manifestou plenamente.
50
Filosofia e Lógica
Conforme
a
citação
acima,
os
mitos
descrevem
essencialmente a origem de alguma coisa (o universo, o homem,
Genealogia:
o mal, o trabalho, as estações do ano, etc.) através de uma
Essa palavra na
linguagem própria e não-racional. A narração sobre a origem é
terminologia
designada de genealogia, ou seja, uma narrativa acerca da
grega génos,
geração, do nascimento de algo.
significa
nascimento,
Consideremos um exemplo da narrativa mítica a obra do
poeta Grego Hesíodo (séc. VIII-VII a.C.) ‘Teogonia’. Nessa obra,
Hesíodo declama que é a partir do “caos primordial” que surgem
as divindades Eros (amor) e Gaia (terra). Esta, portanto, dá origem
tempo, origem,
lugar e
condição do
nascimento.
a Urano (céu) e Pontos (mar) sozinha, isto é, por meio da
segregação. Depois, unindo-se a Urano graças à influência de
Eros – princípio da coesão do universo -, Gaia dá início às gerações divinas. O
trecho a seguir expõe a explicação mítica para a origem da noite, da dor e dos
combates:
Noite pariu hediondo Lote, Sorte negra e Morte, pariu Sono e
pariu a grei dos Sonhos. A seguir, Escárnio e Miséria cheia de
Dor. Com nenhum conúbio divino pariu-os a Noite trevosa.
As Hespérides que vigiam além do ínclito Oceano Belas
macas de ouro e as árvores frutificantes Pariu e as Partes e as
Sortes que punem sem dó: Fiadeira, Distributiz e Inflexível
que os mortais tão logo nascidos dão haveres de bem e de
mal (...)” (HESÍODO Apud SOUZA, 1995, p. 40).
Percebeu como a linguagem mítica é repleta de símbolos sobrenaturais
através dos quais as “forças emergentes” vão se transformando em divindades: a
Terra é Gaia, o Céu é Urano, o Tempo é Cronos. Esses seres nascem, portanto, ora
da segregação, ora pela intervenção de Eros (Amor). Através desse exemplo,
podemos perceber que o pensamento mítico apela para uma explicação da
realidade fazendo uso do sobrenatural e do mistério. São os Deuses, as divindades
que governam a realidade, a natureza e o próprio homem. O mito não pode ser
desprezado enquanto uma interpretação da realidade, ele possui uma função
muito importante dentro de uma cultura específica.
51
Filosofia e Lógica
Segundo Buzzi (1992, p. 81),
O conhecimento expresso em mitos traduz uma intelecção
do ser de validade originária e primária, que se coloca num
plano diferente da lógica racional, mas dotado de igual
dignidade.
Na visão de Buzzi, o mito apesar de se contrapor à razão (lógica racional)
também possui a sua função coerente dentro do contexto da cultura Grega.
Podemos considerar como papel do mito acomodar e tranquilizar o ser humano
diante dos acontecimentos do mundo, fornecendo uma base de sustentação para
o bem viver.
De acordo com Marcondes (2001, p. 21),
De fato, desse ponto de vista, o pensamento mítico tem uma
característica até certo ponto paradoxal. Se, por um lado,
pretende fornecer uma explicação da realidade, por outro,
recorre nessa explicação ao mistério e ao sobrenatural, ou
seja, exatamente aquilo que não se pode explicar, que não se
pode compreender por estar fora do plano da compreensão
humana. A explicação dada pelo pensamento mítico esbarra
assim no inexplicável, impossibilidade do conhecimento.
Isto justifica porque a explicação mítica vai perdendo sua relevância dentro da
sociedade grega que tem como consequência o nascimento da Filosofia. O
aparecimento da Filosofia tem a ver com um rompimento com o pensamento
mítico à medida que este não satisfaz plenamente a uma explicação coerente e
racional sobre a realidade.
No próximo tópico analisaremos como se dá exatamente esse rompimento
com o pensamento mítico e como a partir dele nasce a Filosofia.
52
Filosofia e Lógica
O nascimento da filosofia: a passagem do mito à razão
Foi utilizando o significado do mito na Grécia que afirmamos que o
nascimento da Filosofia representa um rompimento, uma passagem do
pensamento mítico para o pensamento racional. No entanto, devemos ressaltar
que a Filosofia não nasceu na Grécia repentinamente, de uma hora para outra, mas
é fruto de um longo processo o qual teve início com o pensamento mítico.
Devemos, neste instante, nos perguntar: O que tornou possível o surgimento da
Filosofia na Grécia no século VI a.C.? Quais as condições para que tal fato
acontecesse?
53
Filosofia e Lógica
IMPORTANTE
Podemos apontar alguns fatores que levaram os Gregos a filosofar.
Dentre eles, o comércio assume importância definitiva, possibilitando o
desenvolvimento da moeda. A viagem entre os Gregos possibilitou a aquisição de
novos conhecimentos técnicos e geográficos através do contato com outras
civilizações e diferentes formas de vida. Nas mentes mais despertas, a sabedoria
popular, representada pelos ensinamentos rotineiros dos poetas, começa a
aparecer inadequada. No que diz respeito à moral, os valores bélicos e
aristocráticos encontram-se defasados, já que as relações comerciais exigem
normas de justiça e de direito como base para as trocas. O conhecimento dos
outros povos pelos gregos cria a convicção de que cada povo e cada raça
representavam de maneira diversa os deuses. Em suma, todos esses motivos levam
os gregos a acreditar que a interpretação da realidade e da convivência humana
deve assentar-se em bases inteligíveis e racionais.
É nesse sentido que o pensamento mítico vai
paulatinamente perdendo sentido e deixando de
satisfazer às necessidades de uma nova sociedade,
preocupada, sobretudo, com a realidade concreta e com a
atividade política intensa à medida que cria as condições
favoráveis para o surgimento de um pensamento mais
racional.
Explicação causal Princípio fundamental da
razão aplicada segundo o
qual “todo o fenômeno
possui uma causa”, “tudo o
que acontece ou começa a
ser supõe, antes dele, algo
A explicação racional (logos) começa quando a ideia
do qual resulta segundo
de uma explicação divina sobre as coisas cede lugar a uma
uma regra” (Kant).
explicação proveniente da própria natureza. Portanto, foi
o mundo natural que despertou nos primeiros filósofos o
exercício de uma especulação racional. Por esta razão é que Aristóteles denomina
os primeiros filósofos de físicos na medida em que as suas especulações buscam
fornecer uma explicação causal dos processos e dos fenômenos naturais a partir
de causas genuinamente naturais, ou seja, no âmbito da natureza e não em mundo
sobrenatural e divino como as explicações míticas. É sob essa perspectiva que se
permite compreender tanto a originalidade como a transcendência histórica da
interrogação dos primeiros filósofos gregos sobre a arché ou o princípio último.
54
Filosofia e Lógica
De início, o princípio único que os primeiros filósofos buscavam, isto é, a arché
(princípio fundamental), é retirada da natureza, embora tendo um valor ideal,
mantém, por assim dizer, uma consistência concreta. As especulações em busca
das causas (arché) são, portanto, o objeto de investigação e preocupação dos
primeiros filósofos, denominados de Pré-socráticos. No entanto, como a procura da
arché não poderia ser de ordem sobrenatural e misteriosa, esta reporta
necessariamente aos eventos naturais. Tais eventos são denominados por estes
filósofos originários de physis (natureza). Diante disso, é possível compreender que
a própria interrogação acerca da arché (princípio) nos remeta para a ideia de physis
e esta abarque as ideias de origem, substrato e causa primeira. Aquilo que os Présocráticos procuravam como arché nada mais poderia ser do que a própria physis,
ou seja, um princípio natural, proveniente da natureza.
Assim com uma originalidade estupenda, Tales de Mileto, considerado o
primeiro a especular a realidade sobre bases naturais, portanto, o primeiro filósofo
propriamente dito de que se tem notícia, sustentou ser a arché um princípio
puramente natural (physis), ou seja, a água. Temos, então, a água como um
princípio imanente, natural e concreto no qual tudo se origina. Segundo Tales, a
água, ao se resfriar, torna-se densa e dá origem a terra; ao se aquecer transforma-se
em vapor e ar, que retornam como chuva quando novamente resfriada. Sugestão:
inserir figura de representação da água.
Para Marcondes (2001, p. 25),
É claro que a água tomada como primeiro princípio é muito
diferente da água de nossa experiência comum, que
bebemos ou que encontramos em rios, mares, e lagos. Tratase realmente de um princípio, tomado aqui como
simbolizando um elemento líquido ou fluido real como o
mais básico, mais primordial; ou ainda a água como
elemento presente em todas as coisas em maior e menor
grau.
55
Filosofia e Lógica
O que Marcondes quer dizer é que não possui importância a escolha de Tales
no que diz respeito à água como a sua physis, mas sim sua contribuição de
formulação em bases próprias a ideia de um elemento primordial que fornece uma
explicação não-divina ou sobrenatural como faziam os mitos, mas unicamente
natural.
Sobre esse ponto, vejamos o comentário de Nietzsche na sua obra A Filosofia
na idade trágica dos Gregos (1995, p. 27):
A filosofia grega parece começar com a ideia absurda, com a
proposição de que a água é a origem de todas e o seio
materno de todas as coisas. Será realmente necessário parar
aqui e levar esta ideia adiante? Sim, e por três razões:
primeiro, porque a proposição sugere algo acerca da origem
das coisas; em segundo lugar, porque faz isso sem imagens e
fábulas; e, finalmente, porque contém, embora em estado de
crisálida, a ideia de que tudo é um. A primeira dessas três
razões ainda deixa Tales na comunidade dos homens
religiosos e supersticiosos, a segunda separa-o dessa
sociedade e mostra-o como investigador da natureza, a
terceira faz de Tales o primeiro filósofo grego.
A busca da arché, um princípio originário, conflita com forças que, por sua vez,
precisam ser enquadradas em um princípio diferente. Essa dificuldade não é
exclusividade de Tales, é da própria Filosofia, que se desenvolve tentando resolvêla. Se Tales aparece como iniciador da Filosofia, é porque seu esforço em busca de
um princípio único da explicação da realidade não só constitui o ideal da Filosofia
como também lhe forneceu o impulso para se desenvolver. Diferentes pensadores
buscaram, portanto, o princípio explicativo para a questão da arché e da physis,
assim, por exemplo, os sucessores de Tales, Anaximandro e Anaxímenes
compreenderam que a physis era o ar e o apeíron. Para Pitágoras era o número.
Heráclito dizia ser o fogo o princípio primeiro de todas as coisas. Demócrito, o
átomo e assim sucessivamente.
56
Filosofia e Lógica
A interrogação dos filósofos gregos acerca do princípio ou princípios da
totalidade do real representa, pois, uma dupla característica: a sua radicalidade, na
medida em que pretende alcançar o princípio ou os princípios últimos e originários
e a sua universalidade, em que aspira atingir o princípio ou os princípios do real.
Trata-se, portanto, de uma interrogação filosófica ou, mais exatamente, trata-se da
interpretação com a qual se inicia a Filosofia.
Na visão de Marcondes (2001, p. 27):
Um dos aspectos mais fundamentais do saber que se
constitui nessas primeiras escolas de pensamento,
sobretudo na escola jônica, é o seu caráter crítico. Isto é, as
teorias aí formuladas não o eram de forma dogmática, não
eram apresentadas como verdades absolutas e definitivas,
mas como formulações e propostas alternativas. Como se
trata de construções do pensamento humano, de ideias
de um filósofo – e não de verdades reveladas, de caráter
divino ou sobrenatural. Estão sempre abertas à discussão,
à reformulação, a correções. O que pode ser ilustrado pelo
fato de que, na escola de Mileto, os dois principais
seguidores de Tales, Anaxímenes e Anaximandro, não
aceitaram a ideia do mestre de que a água seria o
elemento primordial, postulando outros elementos,
respectivamente o ar e o apeíron, como tendo esta
função. Isso pode ser tomado como um sinal de que nessa
escola filosófica o debate, a divergência e a formulação de
novas hipóteses eram estimuladas.
Na verdade, quando esse debate foi instaurado em lugar da transmissão
dogmática dos mitos, esses filósofos demonstraram nada mais do que a principal
característica da Filosofia, isto é, a atitude crítica.
57
Filosofia e Lógica
Atitude crítica - A palavra crítica vem do grego e significa capacidade de julgar,
discernir e decidir corretamente. Também significa a atividade de examinar e
avaliar detalhadamente uma ideia, um valor ou um costume.
LEITURA COMPLEMENTAR:
VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. 4ª
Edição. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1992. 360 p.
NIETZSCHE, F. A Filosofia na idade trágica dos Gregos. 1ª
edição. Lisboa: Edições 70, 1995. 112p.
VÍDEO
Fúria de Titãs. Diretor: Desmond Davis. Duração: 117 min.
Hécules. Diretor: John Musker e Ron Clements. Duração: 117 min.
É HORA DE AVALIAR:
Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de estudo. Elas irão
ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de
ensino-aprendizagem.
Nessa unidade, entendemos a explicação sobre o nascimento da Filosofia.
Vimos que este fato está diretamente ligado à ruptura com o pensamento mítico.
Dessa forma, ao romper com o mito, a Filosofia cria uma nova forma de
interpretação da realidade construída em bases puramente racionais. Na próxima
unidade, convidamos você a conhecer como esse tipo de pensamento se
desenvolveu ao longo da história. Trata-se de conhecer as divisões fundamentais
da história da filosofia. Encontro você na próxima unidade!
58
Filosofia e Lógica
Exercícios – unidade 3
1. O que a problemática sobre a origem da filosofia pressupõe?
a)
A pergunta como a Filosofia terminou, ou seja, como ocorre a sua finalização.
b)
A pergunta como os Romanos não conseguiram inventar uma nova atitude de
pensamento.
c)
A indagação de como a Filosofia começa, ou seja, como ocorre o seu
nascimento.
d)
A pergunta sobre como a Filosofia não se desenvolveu no Brasil.
e)
A pergunta sobre como a Filosofia iniciou-se juntamente com os mitos.
2. “Alguns historiadores da Filosofia costumam afirmar que a Filosofia surge
quando se abandona o mito, substituindo-o pela “explicação racional.”
Qual das alternativas abaixo explica a afirmação acima?
a)
Isto quer dizer que o nascimento da Filosofia não pressupõe uma ruptura com
nenhum modo de pensamento.
b)
Isto quer dizer que o nascimento da Filosofia pressupõe uma ruptura com um
modo de pensamento predominante na Grécia.
c)
Isto quer dizer que o nascimento da Filosofia não interferiu em nada na
estrutura predominante na Grécia.
d)
Isto quer dizer que o nascimento da Filosofia nada tem a ver com uma ruptura
na estrutura predominante na Grécia.
e)
Isto quer dizer que o nascimento da Filosofia pode ser interpretado como uma
convergência entre a poesia e a razão.
59
Filosofia e Lógica
3. Pode-se dizer que a filosofia surge quando:
a)
o logos (razão) substitui o mito na função de explicação da realidade.
b)
Tales observa que o fogo é o princípio de toda a realidade.
c)
o logos (razão) substitui os Gregos na função de explicação da realidade.
d)
a realidade passa a ser interpretada com um cunho fundamentalmente
religioso.
e)
a realidade passa a ser interpretada com um cunho fundamentalmente
surreal.
4. Dentre as alternativas abaixo, qual delas é diz respeito à caracterização de
“Mito”?
a)
Um conjunto de narrativas e doutrinas. O mito caracteriza-se por oferecer uma
explicação da realidade através de um conjunto de relatos racionais, por
intermédio de uma linguagem simbólica e misteriosa.
b)
Um conjunto de narrativas e doutrinas, ou seja, o mito caracteriza-se por
oferecer uma explicação da realidade através de um conjunto de relatos
fantasiosos por intermédio de uma linguagem simbólica e misteriosa.
c)
Um conjunto de livros e doutrinas, ou seja, o mito caracteriza-se por oferecer
uma explicação da realidade através de um conjunto de relatos físicos, por
intermédio de uma linguagem simbólica e misteriosa.
d)
Um conjunto de narrativas e doutrinas, ou seja, o mito caracteriza-se por
oferecer uma explicação da realidade através de um conjunto de relatos
físicos, por intermédio da linguagem matemática.
e)
Um conjunto de livros e doutrinas, ou seja, o mito caracteriza-se por oferecer
uma explicação da realidade através de um conjunto de obras filosóficas, por
intermédio de uma linguagem simbólica e misteriosa.
5. A relação entre o pensamento racional e o mítico é entendida de que forma?
a)
Uma relação de dependência.
b)
Uma relação de assimetria.
c)
Uma relação de identidade.
d)
Uma relação de oposição.
e)
Uma relação de consignação.
60
Filosofia e Lógica
6. Qual o correto significado do termo “genealogia”?
a)
O uso genético de uma explicação.
b)
A genética enquanto explicação misteriosa.
c)
Um discurso racional acerca da geração.
d)
Uma narrativa acerca da geração.
e)
O uso fantasioso de uma causa racional.
7. Por que para Marcondes (2001) o mito é uma explicação paradoxal?
a)
Porque se por um lado pretende fornecer uma explicação da realidade, por
outro, recorre nessa explicação ao mistério e ao racional, ou seja, exatamente
aquilo que não se pode explicar, que não se pode compreender por estar fora
do plano da compreensão humana.
b)
Porque se por um lado pretende fornecer uma explicação da realidade, por
outro não consegue uma explicação suficiente do mistério e do sobrenatural,
ou seja, exatamente aquilo que não se pode explicar, que não se pode
compreender por estar fora do plano da compreensão humana.
c)
Porque se por um lado pretende fornecer uma explicação da racionalidade
humana, por outro recorre nessa explicação ao mistério e ao sobrenatural, ou
seja, exatamente aquilo que não se quer explicar, pois não pode compreender
aquilo que está fora do plano da compreensão humana.
d)
Porque se por um lado pretende fornecer uma explicação da realidade, por
outro recorre nessa explicação ao mistério e ao sobrenatural, ou seja,
exatamente aquilo que não se pode explicar, que não se pode compreender
por estar fora do plano da compreensão humana.
e)
Porque se por um lado não pretende fornecer uma explicação da realidade,
por outro pretende recorrer a uma explicação diferente do mistério e do
sobrenatural, ou seja, exatamente aquilo que não se pode explicar, que não se
pode compreender por estar fora do plano da compreensão humana.
61
Filosofia e Lógica
8. Sobre o que se interrogavam os primeiros filósofos, podemos afirmar que:
a)
os primeiros filósofos gregos buscavam compreender como a filosofia se
emancipou do mito.
b)
os primeiros filósofos gregos interrogam sobre a arché ou o princípio último.
c)
os primeiros filósofos gregos buscavam compreender como a água era o
princípio fundamental.
d)
os primeiros filósofos gregos buscavam compreender porque o Eros e não o
sol era o princípio das coisas.
e)
os primeiros filósofos gregos buscavam compreender porque ora a água era
um princípio ora o fogo era uma espécie de mito.
9. Alguns fatores possibilitaram que a Filosofia surgisse na Grécia. Quais são os
fatores que levaram os gregos a filosofar?
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
10. Qual foi a importância de Tales de Mileto no desenvolvimento da Filosofia?
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
62
Filosofia e Lógica
4
A filosofia conta a sua
história: os principais
períodos da história da
filosofia
Os períodos da Filosofia ao longo da História.
A Filosofia Antiga: Os períodos da Filosofia grega.
A Filosofia Medieval e o Cristianismo: O conflito entre Fé e Razão.
A Filosofia Moderna e a Nova Atitude Científica.
A Filosofia Contemporânea: problemas e questões fundamentais.
63
Filosofia e Lógica
Como ciência, a Filosofia pode ser estudada no seu desenvolvimento e
evolução no tempo, o que chamamos de História da Filosofia. O estudo da História
da Filosofia não pode substituir o estudo da filosofia propriamente dita, mas é um
precioso auxílio para compreender como as diversas correntes filosóficas
desenvolveram-se no tempo e chegaram a determinadas conclusões. Assim, o
estudo da história deve andar lado a lado com o estudo da Filosofia sistemática.
Convido você a acompanhar conosco a evolução histórica da Filosofia. Então,
vamos lá!
Objetivo da unidade:
Compreender a evolução da Filosofia através dos principais períodos da sua
história. Trata-se, portanto, de percorrer a história da Filosofia através dos seus
momentos e dos tipos de abordagem que variam ao longo da história da
humanidade.
Plano da unidade:

Os períodos da Filosofia ao longo da História.

A Filosofia Antiga: Os períodos da Filosofia grega.

A Filosofia Medieval e o Cristianismo: O conflito entre Fé e Razão.

A Filosofia Moderna e a Nova Atitude Científica.

A Filosofia Contemporânea: problemas e questões fundamentais.
Bem-vindo à quarta unidade de estudo.
Bons estudos!
64
Filosofia e Lógica
Os períodos da filosofia ao longo da história
A partir do seu nascimento e ao longo dos séculos, a Filosofia teve um
conjunto de preocupações, indagações e interesses que são peculiares de cada
época e de cada filósofo. Examinemos, brevemente, os conteúdos que a Filosofia
apresentou no decorrer de vinte e cinco séculos. Comecemos, então pela Filosofia
Antiga.
A filosofia antiga: os períodos da filosofia grega
Para Chauí (2005, p. 38), “a história da Grécia costuma ser dividida pelos
historiadores em quatro grandes fases ou épocas”:
•
“A da Grécia homérica, correspondente aos 400 anos narrados pelo poeta
Homero, em seus dois grandes poemas, Ilíada e Odisséia”;
•
“A da Grécia arcaica ou dos sete sábios, do século VII ao século V antes de
Cristo, quando os gregos criam cidades como Atenas, Esparta, Tebas,
Megara, Samos, etc., e predomina a economia urbana, baseada no
artesanato e no comércio”;
•
“A da Grécia clássica, nos séculos V e IV antes de Cristo, quando a
democracia se desenvolve, a vida intelectual e artística entra no apogeu e
Atenas domina a Grécia com seu império comercial e militar”;
•
“A época helenística, a partir do final do século IV antes de Cristo, quando a
Grécia passa para o poderio do império de Alexandre da Macedônia, e,
depois, para as mãos do Império Romano, terminando a história de sua
existência independente. Os períodos da Filosofia não correspondem
exatamente a essas épocas, já que ela não existe na Grécia homérica e só
aparece nos meados da Grécia arcaica. Entretanto, o apogeu da Filosofia
acontece durante o apogeu da cultura e da sociedade grega; portanto,
durante a Grécia clássica. Os quatro grandes períodos da Filosofia grega,
nos quais seu conteúdo muda e se enriquece são”:
65
Filosofia e Lógica
• “Período pré-socrático ou cosmológico, do final do século VII ao
final
do
século
V
a.C.,
quando
a
Filosofia
se
ocupa
fundamentalmente com a origem do mundo e as causas das
transformações na Natureza”. Os historiadores da filosofia costumam
dividir a Filosofia grega em dois períodos: antes e depois de
Sócrates. Assim, os filósofos anteriores a Sócrates são denominados
de pré-socráticos e escreveram obras que, no entanto, não foram
conservadas. Tudo aquilo que se sabe sobre estes filósofos é
indireto, ou seja, baseado em pequenos trechos de seus escritos,
citados por outros filósofos que vieram depois deles (os fragmentos
dos pré-socráticos) e em descrições feitas por autores posteriores a
Sócrates (os comentários ou doxografias).
As principais escolas filosóficas do período pré-socrático foram:
• Filósofos da Escola Jônica: a Escola Jônica, assim chamada por ter
florescido nas colônias jônicas da Ásia Menor. A escola jônica é
também a primeira do período naturalista, preocupando-se os seus
expoentes em achar a substância única, a causa, o princípio do
mundo natural, múltiplo e mutável (physis). Essa escola floresceu
precisamente em Mileto, colônia grega do litoral da Ásia Menor,
durante todo o VI século, até a destruição da cidade pelos persas no
ano de 494 a.C., prolongando-se, porém, ainda pelo V século.
Os mais conhecidos filósofos desta escola são:
• Tales de Mileto (625-558 a.C.): Tales foi comerciante de sal e de
azeite de oliva e enriqueceu como proprietário de prensas de
azeitona durante uma safra promissora. Sabe-se que Tales previu um
eclipse ocorrido em 585 a.C. De suas ideias quase nada é conhecido.
Aristóteles o denomina de fundador da filosofia e lembra que a sua
doutrina baseia-se na água como o elemento primordial de todas as
coisas (physis, fonte originária, gênese), e que para suportar as
transformações e permanecer inalterada, a água deveria ser um
elemento eterno. Atribui-se a Tales a afirmação de que “todas as
66
Filosofia e Lógica
coisas estão cheias de deuses”. Essa afirmação representa não um
retorno a concepções míticas, mas simplesmente a ideia de que o
universo é dotado de animação, de que a matéria é viva (hilozoísmo).
Além disso, elaborou uma teoria para explicar as inundações do Nilo,
e atribui-se a Tales a solução de diversos problemas geométricos
(exemplo: teorema de Pitágoras). Tales, com essa afirmação, queria
descobrir um elemento físico que fosse constante em todas as
coisas. Algo que fosse o princípio unificador de todos os seres.
Principais fragmentos do seu pensamento: “(...) a água é o princípio de todas
as coisas(...)”; (...) todas as coisas estão cheias de deuses(...)”; “(...) a pedra magnética
possui uma alma porque move o ferro(...)”
•
Anaximandro de Mileto (610-546 a.C.): Discípulo e sucessor de
Tales. Anaximandro recusa-se a ver a origem do real em um
elemento particular; todas as coisas são limitadas e o limitado não
pode ser, sem injustiça, a origem das coisas. Do ilimitado surgem
inúmeros mundos e estabelece-se a multiplicidade; a gênese das
coisas a partir do ilimitado é explicada através da separação dos
contrários em consequência do movimento eterno. Para
Anaximandro o princípio das coisas, isto é, arché - não era algo
visível -; era uma substância etérea ou infinita. Chamou a essa
substância de apeíron (indeterminado, infinito). O apeíron seria uma
“massa geradora” dos seres, contendo em si todos os elementos
contrários. Anaximandro tinha um argumento contra Tales: o ar é
frio, a água é úmida, e o fogo é quente, e essas coisas são
antagônicas entre si, portanto, um elemento primordial não poderia
ser um dos elementos visíveis, teria que ser um elemento neutro,
que está presente em tudo, mas está invisível. Esse filósofo foi o
iniciador da astronomia grega. Foi o primeiro a formular o conceito
de uma lei universal presidindo o processo cósmico totalmente. De
acordo com ele, para que o vir-a-ser não cesse, o ser originário tem
de ser indeterminado. Estando, assim, acima do vir-a-ser e
garantindo, por isso, a eternidade e o curso do vir-a-ser. O seu
fragmento refere-se a uma unidade primordial, da qual nascem
todas as coisas e à qual retornam todas as coisas. Anaximandro
recusa-se a ver a origem do real em um elemento particular.
67
Filosofia e Lógica
Principais fragmentos do seu pensamento: “(...) o ilimitado é eterno(...)”; ”(...) o
ilimitado é imortal e indissolúvel(...)”
•
Heráclito de Éfeso (540-476 a.C.): Heráclito nasceu em Éfeso,
cidade da Jônia, de família que ainda conservava prerrogativas
reais, isto é, descendentes do fundador da cidade. Seu caráter altivo,
misantrópico e melancólico ficou marcado em toda a antiguidade.
Recusou-se sempre a intervir na política. Além disso, manifestou
desprezo pelos antigos poetas, contra os filósofos de seu tempo e
até contra a religião. Sem ter sido mestre, Heráclito escreveu um
livro Sobre a Natureza, em prosa, no dialeto jônico, mas de forma tão
concisa que recebeu o cognome de Skoteinós, o Obscuro. Por conta
disso, Heráclito é por muitos considerados o mais eminente
pensador pré-socrático, por formular com vigor o problema da
unidade permanente do ser diante da pluralidade e mutabilidade
das coisas particulares e transitórias. Estabeleceu a existência de
uma lei universal e fixa o Lógos regedora de todos os
acontecimentos particulares e fundamento da harmonia universal.
Harmonia feita de tensões: “como a do arco e da lira”.
Principais fragmentos do seu pensamento: “(...) Todas as coisas estão em
movimento(...)”;
“(...) O movimento se processa através de contrários(...)” ; ”(...)
Tudo se faz por contraste; da luta dos contrários nasce a mais bela
harmonia(...)”;”(...) descemos e não descemos no mesmo rio; somos e não
somos(...)”
• Filósofos da Escola Itálica: Pitágoras de Samos, Filolau de Crotona e
Árquitas de Tarento;
•
Filósofos da Escola Eleata: Parmênides de Eléia e Zenão de Eléia;
•
Filósofos da Escola da Pluralidade: Empédocles de Agrigento,
Anaxágoras de Clazômena, Leucipo de Abdera e Demócrito de
Abdera.
68
Filosofia e Lógica
•
“Período socrático ou antropológico, do final do século V e todo o
século IV a.C., quando a Filosofia investiga as questões humanas,
isto é, a ética, a política e a técnica (em grego, ântropos quer dizer
homem; por isso o período recebeu o nome de antropológico)”. O
principal representante dessa fase da filosofia foi Sócrates. Ele
nasceu em Atenas, provavelmente no ano de 470 a.C. e tornou-se
um dos principais pensadores da Grécia Antiga. Podemos afirmar
que Sócrates fundou o que conhecemos hoje por filosofia ocidental.
Foi influenciado pelo conhecimento de um outro importante
filósofo grego: Anaxágoras. Seus primeiros estudos e pensamentos
discorrem sobre a essência da alma humana. Conhecemos seus
pensamentos e ideias através das obras de dois de seus discípulos:
Platão e Xenofontes. Infelizmente, Sócrates não deixou por escrito
seus pensamentos. Ele não foi muito bem aceito por parte da
aristocracia grega, pois defendia algumas ideias contrárias ao
funcionamento da sociedade. Criticou muitos aspectos da cultura
grega, afirmando que muitas tradições, crenças religiosas e
costumes não ajudavam no desenvolvimento intelectual dos
cidadãos gregos.
•
“Período sistemático, do final do século IV ao final do século III a.C. ,
quando a Filosofia busca reunir e sistematizar tudo quanto foi
pensado sobre a cosmologia e a antropologia, interessando-se,
sobretudo, em mostrar que tudo pode ser objeto do conhecimento
filosófico, desde que as leis do pensamento e de suas
demonstrações estejam firmemente estabelecidas para oferecer os
critérios da verdade e da ciência”.
•
“Período helenístico ou greco-romano, do final do século III a.C. até
o século VI depois de Cristo. Nesse longo período, que já alcança
Roma e o pensamento dos primeiros padres da Igreja, a Filosofia se
ocupa, sobretudo, com as questões da ética, do conhecimento
humano e das relações entre o homem e a Natureza e de ambos
com Deus. Pode-se perceber que os dois primeiros períodos da
Filosofia grega têm como referência o filósofo Sócrates de Atenas,
donde a divisão em Filosofia pré-socrática e socrática”.
69
Filosofia e Lógica
A filosofia medieval e o cristianismo:
o conflito entre fé e razão
Ao longo do século V d.C., o Império Romano do Ocidente sofreu constantes
ataques dos povos bárbaros. Do confronto desses povos com a civilização romana
decadente, desenvolveu-se uma nova forma de vida social, política e econômica na
Europa correspondente ao período medieval. Em meio ao esmagamento do
Império Romano, decorrente, em parte, das invasões germânicas, a igreja católica
conseguiu manter-se como instituição social organizada. A igreja consolidou a sua
estrutura religiosa e difundiu o cristianismo entre os povos “bárbaros”, preservando
vários elementos da cultura pagã greco-romana. Nesse contexto, surge a filosofia
cristã – bastante influenciada pelo cristianismo, predominou no Ocidente,
principalmente na Europa, entre os séculos I ao século XIV d.C. Sugestão: inserir
figura do período Medieval.
Alguns historiadores da Filosofia costumam dividir a Filosofia cristã em duas
grandes épocas: a primeira, que se inicia no século I d.C. e vai até o século V d.C.,
denominada de Filosofia Patrística; a segunda, por sua vez, inicia-se no século X
d.C. e vai até o século XIV, e corresponde a chamada Filosofia Escolástica ou
Medieval, propriamente dita.
IMPORTANTE
Para Silveira da Costa (2002, cap. 2, p. 88),
“O problema central da filosofia cristã é o da conciliação das
exigências da razão humana com a revelação divina. O modo de
abordar e solucionar esse problema caracteriza suas duas etapas e,
mais particularmente, a constituição e dissolução da escolástica
medieval.”
Os principais filósofos da Filosofia Patrística são:
•
•
São Justino: Estabelece um elo entre a filosofia pagã e o cristianismo;
Tertuliano: Para Tertuliano, não há uma concordância entre a razão
humana e a revelação divina;
70
Filosofia e Lógica
•
Santo Agostinho: Nascido em Tagaste, província da África,
Agostinho fora profundamente influenciado pelos clássicos,
principalmente, por Platão. Entre as suas obras mais importantes
está a Cidade de Deus que, influenciou decisivamente o rumo da
cristandade medieval.
Os principais filósofos da filosofia escolástica medieval são:
•
Santo Anselmo de Canterbury: Considerado o verdadeiro fundador da
escolástica. Seu intuito era o de retomar e inovar o projeto de Santo Agostinho de
compreender a razão como revelação. Santo Anselmo foi o formulador do célebre
“argumento ontológico”, que caracteriza muito bem o estilo dos filósofos
medievais de filosofar e o tratamento fornecido às questões que dizem respeito à
aproximação entre a teologia e a filosofia.
•
Pedro Abelardo: Aberlardo, juntamente com Santo Anselmo, é
considerado um dos fundadores da escolástica. Seu esforço dirige-se no sentido de
explicar racionalmente as verdades da fé, ultrapassando os limites aceitos pela
ortodoxia ao submeter os dogmas às exigências críticas da dialética.
•
Santo Tomás de Aquino: A sua Filosofia representa uma verdadeira
aproximação entre o cristianismo e o aristotelismo. Ao contrário de Santo
Agostinho, São Tomás aproximou-se do pensamento de Platão, conseguindo, com
isso, uma abertura de um novo rumo para o desenvolvimento da escolástica.
•
John Duns Scot: A Filosofia de Duns Scot representou uma das várias
reações ao pensamento de São Tomás, que, segundo ele, implicava concessões em
demasia à razão humana.
•
Guilherme Ockham: Representante legítimo do final da escolástica. Sua
Filosofia se desenvolveu em torno da tese da separação entre fé e razão.
Bem, traçamos de uma forma geral a Filosofia medieval. No tópico seguinte,
você terá a oportunidade de examinar as características e os principais
representantes da Filosofia Moderna.
71
Filosofia e Lógica
A filosofia moderna e a nova atitude científica
A Filosofia Moderna tem início com o pensamento de Descartes e o dos
empiristas ingleses. É claro que a Filosofia moderna não nasceu de uma hora para
outra, seu nascimento possui suas origens no humanismo do século XVI e pelas
concepções científicas da época.
A ideia de modernidade, segundo Marcondes (2001, p. 139) “está sempre
relacionado para nós ao “novo”, àquilo que rompe com a tradição”. Trata-se de um
termo ligado à transformação, à mudança. Ainda segundo Marcondes (2001, p.
141), “a etimologia de “moderno” parece ser o advérbio latino “modo”, que
significa “agora mesmo”; “neste instante”; “no momento”, portanto, designando o
que nos é contemporâneo, e é este o sentido que “moderno” capta, opondo-se ao
que é anterior e traçado, por assim dizer, uma linha ou divisão entre os dois
períodos”
Os principais filósofos do período da filosofia moderna são:
•
Renné Descartes: Considerado um dos “pais da filosofia moderna”,
Descartes, aplicando a “dúvida metódica”, chegou à célebre conclusão: “penso,
logo existo”. Através dessa conclusão, enquanto postulado fundamental da sua
filosofia, Descartes construiu de forma sólida o edifício do conhecimento filosófico
da sua época.
1- Os Empiristas:
•
Francis Bacon: Considerado um dos fundadores do método indutivo da
investigação científica. Conhecido pela sua frase “conhecer é poder”, criticava o
pensamento escolástico considerando-o meramente especulativo e abstrato.
Bacon valorizava a pesquisa científica experimental;
•
John Locke: Afirmava que o homem, ao nascer, seria uma “tábua rasa”,
ou seja, um papel em branco sem nenhuma ideia previamente escrita. Assim, a tese
de Locke é que não existe nada em nossa mente que não tenha origem nos
sentidos. Todas as ideias que possuímos são adquiridas pelo exercício da
experiência sensorial;
72
Filosofia e Lógica
•
David Hume: Para Hume, tudo o que conhecemos são impressões (dados
dos sentidos) ou ideias (representações mentais derivadas das impressões). Seu
pensamento dirige-se ao questionamento da validade do raciocínio indutivo,
afirmando que a repetição de um fato não nos possibilita concluir, pela lógica, que
ele continuará a repetir-se indefinidamente;
•
George Berkeley: Defendeu a tese de que “ser é perceber e ser
percebido”, reduzindo assim a realidade material à ideia que fazemos dela.
2- Os Racionalistas: A filosofia de Descartes influenciou uma nova forma de
pensamento na época moderna denominada de Racionalismo. O Racionalismo
caracteriza-se como uma reflexão que enfatiza a razão humana como primordial no
processo de conhecimento.
•
Pascal: Profundamente ligado ao movimento de Port-Royal, pretende
conciliar a razão e a experiência religiosa;
Sugestão: inserir figura de Pascal.
•
Spinoza: Formulador de uma “metafísica monista” baseada, sobretudo,
na ideia de substância integrando metafísica e ética;
•
Leibiniz: Considera a lógica como o verdadeiro caminho para uma
fundamentação do conhecimento, afastando-se da epistemologia e do
racionalismo, como também, do empirismo.
1-
Os teóricos políticos da modernidade: Os principais pensadores da
tradição política são Hobbes, Locke e Rousseau. São os formuladores do
denominado “contrato social” como fundamento da sociedade organizada
racionalmente.
2-
Kant e o kantismo: Immanuel Kant foi o formulador da filosofia crítica.
Kant valorizou a importância dos “juízos sintéticos a priori” como o único capaz de
ampliar o conhecimento humano. Além do mais, defendeu a tese da
impossibilidade de conhecimento das coisas que estão além da experiência
sensível.
73
Filosofia e Lógica
3-
G.W.F. Hegel: O mais importante filósofo do idealismo alemão e principal
crítico do sistema kantiano. Considerado o último pensador da filosofia moderna,
Hegel pensa a história inserida no centro do seu sistema filosófico, mostrando o
modo filosófico de compreender a realidade baseada no conhecimento da
evolução da história.
4-
Karl Marx: De início, profundamente influenciado pelo pensamento de
Hegel, Marx desenvolve a sua filosofia como uma crítica ao idealismo através do
método por ele criado, denominado de “materialismo histórico”;
5-
Idealismo alemão pós-kantiano: caracterizado, sobretudo, por indicar
um novo rumo às ideias de Kant, ao abandonar o seu sentido crítico. Os principais
representantes dessa corrente são:
•
Schopenhauer: Privilegia a vontade como um lugar central da interpretação
da realidade;
•
Kierkegaard: Para Kierkegaard, a existência humana divide-se em três
estágios: o estético, o ético e o religioso.
Considerado o fundador do
existencialismo e é um dos seus principais representantes.
•
F. Nietzsche: O principal crítico da tradição e de seus valores reais.
Desenvolveu um niilismo baseado na afirmação da “morte de Deus”, ou seja, na
rejeição à crença dos valores absolutos. O niilismo de valores faz surgir o “niilismo
existencial”. No entanto, Nietzsche acreditava na possibilidade de superação de tal
niilismo através de uma “transmutação dos valores” tradicionais e a criação de uma
nova ordem capaz de gerar valores afirmativos da vida.
Diante desse panorama geral que traçamos sobre o período moderno da
Filosofia, no próximo tópico, examinaremos as principais características da
denominada Filosofia contemporânea.
74
Filosofia e Lógica
A filosofia contemporânea: problemas e questões fundamentais
A contemporaneidade Filosófica caracteriza-se, sobretudo, como uma
tentativa de encontrar respostas para a crise do projeto filosófico da era moderna.
As principais correntes que a constitui visam atualizar o racionalismo e o
fundacionismo característico da filosofia moderna, assim seu objetivo é o de
romper com essa tradição através de uma crítica à subjetividade como o ponto de
partida para a fundamentação do conhecimento e da ética.
Em vez
de caracterizarmos os filósofos principais desse período,
consideraremos algumas correntes teóricas que surgiram na contemporaneidade,
tais como:

Filosofia analítica da linguagem;

Semiótica;

Positivismo lógico;

A hermenêutica;

O estruturalismo;

A Fenomenologia;

O existencialismo;

A escola de Frankfurt.
75
Filosofia e Lógica
Espero que você tenha compreendido os principais períodos da filosofia. Na
próxima unidade, analisaremos os principais ramos de conhecimento em que a
filosofia se divide. Até a próxima!
LEITURA COMPLEMENTAR:
DELACAMPAGNE, Cristian. História da filosofia no séc. XX. 1ª edição.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997. 308p.
NUNES, Benedito. A filosofia contemporânea: trajetos iniciais. 2ª edição.
São Paulo: Ática, 1991. 142p.
VÍDEO
O Nome da rosa. Diretor: Jean Jaques Annaud. Duração: 130 minutos.
É HORA DE SE AVALIAR
Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de estudo. Elas
irão ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo
de ensino-aprendizagem.
76
Filosofia e Lógica
Exercícios – unidade 4
1. Qual dos filósofos abaixo é reconhecidamente um legítimo representante do
período antigo da filosofia?
a)
b)
c)
d)
e)
Sócrates.
Hegel.
Kant.
Karl Marx.
Kierkegaard.
2. Na divisão da história da filosofia, o período considerado “helenístico ou grecoromano” compreende:
a)
b)
c)
d)
e)
o longo período em que já alcança Roma e o pensamento dos primeiros
Padres da Igreja. A Filosofia se ocupa, sobretudo, com as questões da ética,
do conhecimento humano e das relações entre o homem e a Natureza e de
ambos com Deus.
o período em que a Filosofia investiga as questões humanas, isto é, a ética,
a política e as técnicas (em grego, ântropos quer dizer homem; por isso o
período recebeu o nome de antropológico).
do final do século IV ao final do século III a.C.
o período em que o problema central da filosofia é o da conciliação das
exigências da razão humana com a revelação divina.
O período que se caracteriza como uma tentativa de encontrar respostas
para a crise do projeto filosófico da era moderna.
3. Qual das correntes filosóficas abaixo é representante do período contemporâneo
da filosofia?
a)
b)
c)
d)
e)
Período pré-socrático.
Positivismo lógico.
Escola da Pluralidade.
Empirismo.
Escola Eleata.
77
Filosofia e Lógica
4. Qual das questões abaixo não diz respeito ao problema central tratado pela
filosofia cristã?
a)
b)
c)
d)
e)
Explicação racional sobre as verdades da fé.
Influência direta do cristianismo.
O “argumento ontológico”.
A interdependência entre a subjetividade teológica e a razão pragmática.
A conciliação das exigências da razão humana com a revelação divina.
5. Qual dos filósofos abaixo apresentou uma das várias reações ao pensamento de
São Tomás?
a)
b)
c)
d)
e)
John Duns Scot.
Aristóteles.
Kierkegaard.
G.W.F. Hegel.
Pascal.
6. Dentre os filósofos abaixo, qual pode ser considerado um legítimo representante
do pensamento do empirista inglês?
a)
b)
c)
d)
e)
Pascal.
Descartes.
Foucault.
Locke.
Tales de Mileto.
7. Dentre as questões abaixo, qual delas é concernente com o núcleo central do
pensamento dos filósofos políticos da modernidade?
a)
b)
c)
Formulação crítica do denominado “contrato social” como fundamento da
sociedade organizada racionalmente.
Visam atualizar o racionalismo e o fundacionismo característico da filosofia
moderna, assim seu objetivo é o de romper com essa tradição através de
uma crítica à subjetividade como o ponto de partida para a fundamentação
do conhecimento e da ética.
Formulação acrítica do denominado “contrato social” como fundamento da
sociedade organizada racionalmente.
78
Filosofia e Lógica
d)
e)
Visam desatualizar o irracionalismo e o fundacionismo característico da
filosofia moderna, assim seu objetivo é o de romper com essa tradição
através de uma crítica à subjetividade como o ponto de partida para a
fundamentação do conhecimento e da ética.
Defesa intransigente da tese da impossibilidade de conhecimento das
coisas que estão no âmbito da experiência sensível.
8. Dentre os fragmentos abaixo, qual deles diz respeito a uma das questões
fundamentais de Heráclito de Éfeso?
a)
b)
c)
d)
e)
“(...) a pedra magnética possui uma alma porque move o ferro (...)”.
“ser ou não ser, eis a questão”.
“sei que nada sei”.
“(...) descemos e não descemos no mesmo rio; somos e não somos (...)”.
“(...) o ilimitado é imortal e indissolúvel (...)”.
9. Cite duas correntes primordiais da Filosofia contemporânea e em seguida
caracterize-a
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
10. Quais são as duas grandes vertentes da filosofia medieval?
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
79
Filosofia e Lógica
80
Filosofia e Lógica
5
Os Principais Campos de
Investigação do
Conhecimento Filosófico
Antropologia Filosófica.
A Ética.
Filosofia da Mente.
Ontologia ou Metafísica.
Filosofia da Ciência.
Epistemologia.
Estética.
Filosofia Política.
Filosofia da História.
Filosofia da linguagem.
Lógica.
História da Filosofia.
81
Filosofia e Lógica
Após termos estudado, na unidade anterior, a evolução da Filosofia através da
história, abordaremos, nesta unidade, os diversos ramos que constitui a Filosofia
enquanto disciplina sistemática. Vamos lá?
Objetivos da unidade:
Identificar algumas das principais disciplinas ou ramos da Filosofia;
Reconhecer o desdobramento da Filosofia em vários campos de conhecimento.
Plano da unidade:

Antropologia Filosófica.

A Ética.

Filosofia da Mente.

Ontologia ou Metafísica.

Filosofia da Ciência.

Epistemologia.

Estética.

Filosofia Política.

Filosofia da História.

Filosofia da linguagem.

Lógica.

História da Filosofia.
Bem-vindo à quinta unidade de estudo.
Bons estudos!
82
Filosofia e Lógica
A antropologia filosófica
É uma disciplina filosófica ou movimento filosófico que tem relações com as
intenções e os trabalhos de M. Scheler, mas não está unido ao conteúdo específico
desse autor. A antropologia encarada metafisicamente é antes aquela parte da
Filosofia que investiga a estrutura essencial do homem. Contudo, este ocupa o
centro da especulação filosófica, na medida em que tudo se deduz a partir dele, na
medida em que ele torna acessíveis as realidades que o transcende nos modos de
seu existir relacionados com essas realidades. Ou seja, a antropologia filosófica é
uma antropologia da essência e não das características humanas. Ela se distingue
da antropologia mítica, poética, teológica e científico natural ou evolucionista por
fornecer uma interpretação basicamente ontológica do homem.
A ética
A ética do latim “ethica”, do grego “ethiké”, é um ramo da filosofia e um subramo da axiologia que estuda a natureza do que consideramos adequado e
moralmente correto. Pode-se afirmar também que Ética é, portanto, uma Doutrina
Filosófica que tem por objeto a moral no tempo e no espaço, sendo o estudo dos
juízos de apreciação referentes à conduta humana. A ética pode ser interpretada
também como um termo genérico que designa aquilo que é frequentemente
descrito como a “ciência da moralidade”, isto é, suscetível de qualificação do ponto
de vista do bem e do mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja de
modo absoluto. Na filosofia, o comportamento ético é aquele que é considerado
bom e, sobre a bondade, os antigos diziam que: o que é bom para a leoa, não pode
83
Filosofia e Lógica
ser bom à gazela. E, o que é bom à gazela, fatalmente não será bom à leoa. Este é
um dilema ético típico. Portanto, a ética juntamente com outras áreas tradicionais
de investigação filosófica e devidas subjetividades típicas em si, ao lado da
metafísica e da lógica, não pode ser descrita de forma simplista. Dessa forma, o
objetivo da teoria da ética é determinar o que é bom tanto para o indivíduo como
para a sociedade como um todo. Os filósofos antigos adotaram diversas posições
na definição do que é bom, sobre como lidar com as prioridades em conflito dos
indivíduos versus o todo, sobre a universalidade dos princípios éticos versus a
“ética de situação”. Nesta, o que está certo depende das circunstâncias e não de
uma lei geral qualquer e sobre se a bondade é determinada pelos resultados da
ação ou os meios pelos quais os resultados são alcançados.
A filosofia da mente
A Filosofia da Mente é o estudo filosófico dos fenômenos mentais, incluindo
investigações sobre a natureza da mente e dos estados mentais em geral. A
Filosofia da Mente é, na verdade, um conjunto de estudos metafísicos sobre o
modo de ser da mente, sobre a natureza dos estados mentais e sobre a
consciência. Além disso, a filosofia da mente envolve estudos epistemológicos
sobre o modo como a mente conhece a si mesma e sobre a relação entre os
estados mentais e os estados de coisa que os mesmos representam
(intencionalidade), incluindo estudos sobre a percepção e outros modos de
aquisição de informação, como a memória, o testemunho (fundamental para a
aquisição da linguagem) e a introspecção. Envolve ainda a investigação de
questões éticas como a questão da liberdade, normalmente considerada
impossível caso a mente siga, como tudo o mais, leis naturais.
A investigação filosófica sobre a mente não implica nem pressupõe que exista
alguma entidade – uma alma ou espírito – separada ou distinta do corpo ou do
cérebro e está relacionada a vários estudos da ciência cognitiva, da neurociência,
da linguística e da inteligência artificial.
84
Filosofia e Lógica
A ontologia ou metafísica
A Metafísica é uma divisão da filosofia que se ocupa do estudo da realidade,
dos primeiros princípios (filosofia primeira) e do ser (ontologia). Os problemas
centrais da metafísica são ontológicos, principalmente o ser enquanto ser. O
sentido da palavra metafísica deve-se a Aristóteles e a Andrônico de Rodes.
Aristóteles nunca utilizou esta palavra, mas escreveu sobre temas relacionados à
physis e sobre temas relacionados à ética e política, entre outros semelhantes.
Andrônico, ao organizar os escritos de Aristóteles, organizou os escritos de forma
que, espacialmente, aqueles que tratavam de temas relacionados à physis vinham
antes dos outros. Assim, eles vinham depois da física (metha = depois, além; physis =
física). Assim, conscientemente ou não, Andrônico organizou os escritos de forma
análoga à classificação dos dois temas. Ética, política, etc., são assuntos que não
tratam de seres físicos, mas de seres não-físicos existentes, apesar da sua
imaterialidade. Portanto, a Metafísica trata de problemas sobre o propósito e a
origem da existência e dos seres. Especulações em torno dos primeiros princípios e
das causas primeiras do ser. Muitas vezes ela é vista como parte da Filosofia, outras,
a esta se confunde.
A filosofia da ciência
A Filosofia da Ciência tem por função analisar de
forma crítica as diferentes formas de ciência, ou seja, as
ciências exatas e humanas na busca por compreender a
avaliação dos seus métodos e dos seus resultados. Possui
a pretensão de examinar as relações entre as ciências e
cientificismo e a aplicação prática da ciência, ou seja, a
técnica.
85
Filosofia e Lógica
A epistemologia
Epistemologia ou Teoria do Conhecimento (do grego episteme – ‘ciência’;
‘conhecimento’, logos – ‘discurso’) é um ramo da filosofia que trata dos problemas
filosóficos relacionados à crença e ao conhecimento. Podemos dizer que a
epistemologia se origina em Platão. Ele opõe a crença ou opinião ( doxa, em grego)
ao conhecimento. A crença é um determinado ponto de vista subjetivo. O
conhecimento é crença verdadeira e justificada. A epistemologia também estuda a
evidência (entendida não como mero sentimento que temos da verdade do
pensamento, mas sim no sentido forense de prova), isto é, os critérios de
reconhecimento da verdade.
A estética
Em sua origem, o conceito de Estética é atribuído à palavra grega aisthetiké,
que se refere a tudo aquilo que pode ser percebido pelos sentidos (COTRIM, 1993).
O primeiro a utilizar-se deste termo no sentido que conhecemos até os nossos dias
foi Alexander Baumgarter. Ele referia-se à Estética como a teoria do belo e das suas
manifestações pela arte. Como tal, a Estética pretende alcançar um conhecimento
específico que pode ser capturado pelos sentidos, pois parte da experiência
sensorial, da sensação, da percepção sensível. Seu principal objeto de investigação
é a “obra de arte”. Podemos citar a Estética ao lado da Filosofia da Arte, mas neste
caso caberia à Filosofia da Arte investigar o desenvolvimento artístico na busca
pelo seu sentido no contexto da história da arte.
86
Filosofia e Lógica
A filosofia política
Cabe à Filosofia Política enquanto uma ramificação da Filosofia, o estudo sobre
a questão da natureza do poder e, principalmente, as teorias que retratam o
nascimento do Estado, a ideia de direito, justiça e lei.
A filosofia da história
A Filosofia da História busca compreender a “dimensão temporal da existência
humana” sob o ponto de vista sociocultural. Seus temas variam entre as teorias do
progresso, evolução e descontinuidade dos processos históricos à historicidade da
condição humana. A periodização da história, tal como a concebemos hoje, tem
origem com o filósofo Alemão Hegel. Este foi o primeiro a elaborar uma Filosofia da
História, ou seja, uma tentativa de compreender a história da filosofia como uma
questão central da própria Filosofia e não como um relato histórico das doutrinas
ou correntes do passado.
IMPORTANTE
A Filosofia da Linguagem
A Filosofia da Linguagem ou Filosofia Analítica amadureceu durante a virada
deste século, quando Frege, Bertrand Russel e Ludwig Wittgenstein desenvolveram
importantes reflexões acerca da Linguagem.
Segundo Costa (2002, p. 7), “A
expressão “filosofia da linguagem” possui duas acepções principais, uma mais
estrita e outra mais ampla”. Na visão deste, na acepção estrita, a Filosofia da
linguagem é uma investigação filosófica acerca da natureza e do funcionamento
da linguagem, “sendo por vezes chamada de “análise da Linguagem” (Ibidem,
idem). Na segunda acepção, Costa afirma que a Filosofia da Linguagem diz respeito
a qualquer abordagem crítica de “problemas filosóficos metodologicamente
orientada por uma investigação da linguagem”, sendo por vezes, denominada de
“crítica da linguagem”.
87
Filosofia e Lógica
A lógica
A Lógica é o ramo da Filosofia que cuida das regras
do bem-pensar ou do pensar correto, sendo, portanto,
um instrumento do pensar. A aprendizagem da lógica
não constitui um fim em si. Ela só tem sentido enquanto
meio de garantir que nosso pensamento proceda
corretamente, a fim de chegar a conhecimentos
verdadeiros. Podemos, então, dizer que a lógica trata dos
argumentos, isto é, das conclusões a que chegamos
através da apresentação de evidências que a sustentam.
O principal organizador da Lógica Clássica foi Aristóteles,
com sua obra chamada Órganon.
A história da filosofia
Essa ramificação da Filosofia possui como objetivo analisar os diferentes
períodos da Filosofia, os principais filósofos de cada período e os problemas que
são abordados por estes nas diferentes épocas que constitui a Filosofia ao longo da
história.
88
Filosofia e Lógica
Esses são alguns dos principais ramos em que a Filosofia se desdobra. Claro,
existem outras ramificações que não mencionamos aqui, mas acreditamos que as
mencionadas sintetizam e fornecem a você um panorama dos principais
problemas da filosofia. Espero que você tenha compreendido os aspectos
principais desta. Na próxima unidade, começaremos a examinar alguns dos
problemas apresentados aqui. Portanto, o nosso trabalho está apenas começando.
Não desanime! Espero você na próxima unidade!
LEITURA COMPLEMENTAR:
MARÍAS, Julían. História da Filosofia. Tradução Alexandre Pinheiro
Torres. 2ª ed. Porto: Sousa e Almeida 1988. 560 p.
É HORA DE SE AVALIAR
Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de estudo. Elas
irão ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo
de ensino-aprendizagem.
89
Filosofia e Lógica
Exercícios – unidade 5
1. A Metafísica pressupõe:
a)
b)
c)
d)
e)
problemas sobre o propósito e a origem da existência e dos seres.
analisar de forma crítica as diferentes formas de ciência, ou seja, as ciências
exatas e humanas, na busca em compreender a avaliação dos seus métodos
e dos seus resultados.
um determinado ponto de vista subjetivo.
alcançar um conhecimento específico que pode ser capturado pelos
sentidos, pois parte da experiência sensorial, da sensação, da percepção
sensível.
o estudo sobre a questão da natureza do poder e, principalmente, as
teorias que retratam o nascimento do Estado.
2. A Metafísica disciplina constitui-se em uma subdivisão da filosofia que se ocupa
do estudo da realidade, dos primeiros princípios (filosofia primeira) e do ser
(ontologia). O sentido da palavra metafísica deve-se a qual dos pensadores
abaixo?
a)
b)
c)
d)
e)
Baumgarter e Kant.
Andrônico de Rodes e Baumgarter.
Aristóteles e Platão.
Aristóteles e Andrônico de Rodes.
Aristóteles e Tales de Mileto.
3. Qual das alternativas abaixo diz respeito aos problemas fundamentais da
filosofia da mente?
a)
b)
Envolve estudos monetários sobre o modo como a mente conhece a si
mesma e sobre a relação entre os estados mentais e os estados de coisa
que os mesmos representam.
Envolve estudos epistemológicos sobre o modo como a democracia
estabelece relações entre os poderes institucionais e sobre a relação entre
os estados mentais e os estados de coisa que os mesmos representam.
90
Filosofia e Lógica
c)
d)
e)
Envolve estudos sobrenaturais sobre o modo como a mente conhece a si
mesma e sobre a relação entre os estados mentais e os estados de coisa
que os mesmos representam.
Envolve estudos políticos sobre o modo como a mente conhece a si mesma
e sobre a relação entre os estados mentais e os estados de coisa que os
mesmos representam.
Envolve estudos epistemológicos sobre o modo como a mente conhece a si
mesma e sobre a relação entre os estados mentais e os estados de coisa
que os mesmos representam.
4. Por Epistemologia diz-se que é o:
a)
b)
c)
d)
e)
ramo da filosofia que trata dos problemas filosóficos relacionados à política
e ao conhecimento dos universais.
ramo da filosofia que trata dos problemas filosóficos relacionados à política
e ao conhecimento dos fatos sobrenaturais.
ramo da filosofia que trata dos problemas filosóficos relacionados à busca
dos problemas relacionados aos poderes constitucionais.
ramo da filosofia que trata dos problemas filosóficos relacionados à política
e ao conhecimento dos fatos sobrenaturais.
ramo da filosofia que trata dos problemas filosóficos relacionados à crença
e ao conhecimento.
5. Qual das alternativas abaixo NÃO pode ser considerada um problema específico
da ética?
a)
b)
c)
d)
e)
Uma Doutrina Filosófica que tem por objeto a moral no tempo e no espaço,
sendo o estudo dos juízos de apreciação referente à conduta humana.
O comportamento ético é aquele que é considerado bom e, sobre a
bondade, os antigos diziam que: o que é bom para a leoa, não pode ser
bom à gazela.
A questão dos universais.
Estuda a natureza do que consideramos adequado e moralmente correto.
O comportamento humano.
91
Filosofia e Lógica
6. Qual dos filósofos abaixo é um dos principais expoentes da filosofia da
linguagem ou filosofia analítica?
a)
b)
c)
d)
e)
Karl Popper.
Ludwig Wittgenstein.
Fichte.
Baumgarter.
Platão.
7. Dentre as alternativas abaixo, qual delas NÃO pertence ao leque de ramificações
que compõem a Filosofia enquanto estudo crítico e racional?
a)
b)
c)
d)
e)
Filosofia da história.
Doxografia.
Estética.
Ética.
Antropologia filosófica.
8. Pode-se afirmar que a Ética:
a)
b)
c)
d)
e)
pode ser compreendida como mais uma fase da metafísica.
constitui-se, também, como doutrina Filosófica que tem por objeto a moral
no tempo e no espaço, sendo o estudo dos juízos de apreciação referentes
à conduta humana.
pode ser interpretada como um termo atípico que designa aquilo que
nunca é descrito como a “ciência da moralidade”, isto é, suscetível de
qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente a
determinada sociedade, seja de modo absoluto.
não se constitui, também, como doutrina Filosófica que tem por objeto a
moral no tempo e no espaço, sendo o estudo dos juízos de apreciação
referentes à conduta humana.
pode ser interpretada como um termo anormal que designa aquilo que
nunca é descrito como a “ciência da causalidade”, isto é, suscetível de
qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente a
determinada sociedade, seja de modo absoluto.
92
Filosofia e Lógica
9. A citação abaixo diz respeito a um ramo de conhecimento da filosofia. Qual seria
este ramo?
“O ramo da Filosofia que cuida das regras do bem pensar ou do pensar correto,
sendo, portanto, um instrumento do pensar”.
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
10. O que diferencia a antropologia filosófica da antropologia mítica, poética,
teológica, científico natural ou evolucionista?
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
93
Filosofia e Lógica
94
Filosofia e Lógica
6
O problema do
conhecimento e a reflexão
acerca da verdade
O que significa filosoficamente “conhecer”?
A estrutura do conhecimento e o conhecimento como processo.
Mas afinal, o que é o conhecimento?
95
Filosofia e Lógica
Nesta unidade, abordaremos o problema do conhecimento em Filosofia. Você
já parou para pensar sobre este assunto? Então, convido você a caminhar junto
conosco neste intrigante mundo do conhecimento. Vamos lá!!
Objetivo da unidade:
Destacar alguns aspectos iniciais acerca do problema do conhecimento, tais
como o conceito de verdade e a questão da relação entre sujeito e do objeto.
Plano da unidade:

O que significa filosoficamente “conhecer” ?

A estrutura do conhecimento e o conhecimento como processo.

Mas afinal, o que é o conhecimento?
Bem-vindo à sexta unidade de estudo.
Bons estudos!
96
Filosofia e Lógica
O que significa filosoficamente “conhecer”?
Um dos problemas fundamentais apresentados pela tradição filosófica
ocidental é o que se refere à possibilidade de conhecermos a realidade. Ao longo
da história, à medida que o homem supre as suas necessidades, ele produz
conhecimento, pois nas suas atividades práticas ele busca respostas para as suas
inquietações. Desta forma, o conhecimento se torna um elemento interpretativo e
elucidativo do real, ou seja, por meio do conhecimento a intenção do homem é
chegar à verdade. Filósofos e cientistas têm se ocupado nesta busca, encontrando
diferentes possibilidades de verdade ao longo dos tempos. Ao refletirmos sobre o
conhecimento e a sua relação com a verdade, a primeira dificuldade é a de saber
de que tipo de conhecimento pode-se falar. Com efeito, podemos distinguir:

Um conhecimento que nos chega através da percepção sensorial
(conhecimento sensível) e um conhecimento fruto já da elaboração do
entendimento (conhecimento racional);

Um conhecimento que se satisfaz com a descrição superficial das coisas
(conhecimento vulgar) e um tipo de conhecimento que aspira a dar conta
da razão de ser profunda das coisas, explicando-as (conhecimento
científico);

Um conhecimento direto ou imediato (conhecimento intuitivo) e um
conhecimento a que se chega através de uma cadeia de raciocínios
(conhecimento discursivo).
Com isto, devemos proceder a seguinte indagação: se há diferentes
possibilidades de verdade, então não existe uma única verdade? Você já parou
para refletir sobre o que é a verdade? Comecemos então pelos dicionaristas,
apresentando dois significados do termo verdade:
Verdade: [do latim veritae] S.f. 1. Conformidade com o real;
exatidão, realidade: verdade do ocorrido. 2. Franqueza,
sinceridade. 3. Coisa verdadeira ou certa: A verdade foi
escamoteada por todos (...) Filo. Verdade que é contingente e
cujo oposto é impossível. Verdade de razão. Filos. Verdade
necessária e cujo oposto é impossível (...). (FERREIRA, Aurélio
Buarque de Holanda, 1986, p. 1975).
97
Filosofia e Lógica
De outro modo, veremos o seguinte conceito de verdade:
Verdade. 1. Classicamente, a verdade se define como
adequação do intelecto ao real. Pode-se dizer, portanto, que
a verdade é uma propriedade dos juízos, que podem ser
verdadeiros ou falsos, dependendo da correspondência
entre o que afirmam ou negam e a realidade de que falam. 2.
Há, entretanto, várias definições de verdade e várias teorias
que pretende explicar a natureza da verdade (...). 3. Diz-se
daquilo que corresponde à verdade, à realidade, ao existente
e como tal se impõe à aceitação. Real, evidente. Ex. juízo
verdadeiro. Autêntico, sincero. Ex. o verdadeiro motivo, o
verdadeiro patriota. “Jamais aceitar alguma coisa como
verdadeira que não a conhecesse evidentemente como tal”.
Descartes, Discurso do método (...). (JAPIASSU, Hilton;
MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia, 1995, pp.
241-42).
IMPORTANTE
Bem, de acordo com as definições dos dicionaristas, podemos
enunciar algumas conclusões acerca da concepção de verdade:
1. Existem várias definições de verdade e várias teorias que
pretendem explicar a natureza da verdade;
2. De uma maneira geral, a verdade é concebida como
adequação ou correspondência;
3. A verdade é o que é verdadeiro em contraposição ao
que é falso.
A partir dessas três conclusões retiradas dos dicionários podemos, portanto,
refletir acerca da concepção de verdade, como também fornecer uma definição
plausível para os nossos propósitos.
98
Filosofia e Lógica
Na primeira conclusão (1), diz-se que existem várias definições de verdade. Se
nos voltarmos para a primeira definição, a do dicionário Aurélio, constataremos
que a palavra ‘verdade’ em seu sentido etimológico refere-se a ‘veritas’. Dessa
forma, ‘veritas’ é o termo latino que significa ‘verdade’. Nessa acepção, ‘verdade’
quer dizer precisão, rigor e exatidão “de um relato, no qual se diz com detalhes, por
menores e fidelidade o que realmente aconteceu” (CHAUÍ, 2005, p. 96). O
verdadeiro, neste caso, deve corresponder, portanto, a um fato real, a um
acontecimento verdadeiro. Assim, uma ideia verdadeira é aquela que corresponde
à realidade que é o conteúdo da verdade, que existe fora do nosso pensamento, ou
seja, não está em nós. Chegamos à segunda conclusão (2), a verdade concebida
como ‘correspondência’. Na concepção de verdade como ‘correspondência’ é
aquela que afirma que o que é verdadeiro só pode ser através do acordo entre o
pensamento e a realidade. Mas, como o pensamento e a realidade podem estar de
acordo? Estão de ‘acordo’ quando a verdade do nosso pensamento se adequada às
coisas representadas por ela ou quando as coisas se adequam ao nosso
pensamento. A terceira conclusão (3), diz respeito àquilo que é oposto ao
verdadeiro, ou seja, o falso. Como podemos distinguir o falso do verdadeiro? Ora,
como vimos, o verdadeiro é aquilo que corresponde à realidade. No entanto, se
não existe ‘acordo’ entre o nosso pensamento e a realidade, é claro que não pode
haver um conhecimento verdadeiro, e sim, um conhecimento falso. O falso e o
verdadeiro estão, portanto, ligados à correspondência entre a realidade e o
pensamento.
Estas breves considerações acerca da verdade são já bastantes para nos
advertir para o amplo leque de significações, de usos e de contextos que tornam
complexo esse conceito. A verdade é, porventura, uma das mais obscuras noções
que usamos e, todavia, é igualmente uma das que mais capacidade de mobilização
possui. Se passarmos agora a consideração da noção de verdade, tal como ela
surge na obra dos filósofos, também aí se nos depara uma grande diversidade de
significados. Ao limite, quase se poderia dizer que embora todos os filósofos, sem
exceção, dizem a respeito da verdade e partam do suposto de que a verdade é o
termo comum onde se pode dar o entendimento entre os homens, sendo assim,
cada qual possui a sua própria concepção de verdade. Com efeito, tal como
acontece com outros conceitos, assim também, o conceito de verdade sofreu
transformações ao longo da historia do pensamento. Podemos, todavia, referenciar
essas transformações e alguns momentos e aspectos fundamentais, que são:
99
Filosofia e Lógica

A verdade lógica: Esta é o tipo de verdade entendida como a coerência
formal do pensamento consigo mesmo, segundo o princípio de nãocontradicão. Esta noção de verdade é indiferente à realidade, ou
conteúdo material do pensamento, ou seja, não visa à correspondência
entre os enunciados e à realidade ou os objetos a que se referem, mas
visa apenas à correspondência das proposições ou enunciações entre si,
tal como ocorre na lógica das operações da matemática e da álgebra. Por
isso, também é denominada de “verdade formal”.

A verdade metafísica: Esta é aquela verdade entendida como adequação
do pensar (o do dizer o que se exprime) ao ser (adequação do
entendimento à realidade). É, portanto, este o conceito de verdade que
subjaz às filosofias antigas e medievais. Esta parte do suposto de que o
entendimento humano tem como seu objeto próprio o ser e é
naturalmente capaz de conhecer a realidade tal como ela realmente é.
Vejamos como esta concepção é expressa por Aristóteles na sua obra
Metafísica: “A verdade ou a falsidade depende, por parte dos objetos, da sua união
ou da sua separação, de tal modo que estar no verdadeiro, é pensar que o que está
separado está separado e que o que está unido está unido, e estar falso é pensar de
modo contrario à natureza dos objetos. Quando há, pois, ou não há aquilo que
chamamos verdadeiro ou falso ? É necessário, com efeito, examinar bem, o que
entendemos por essas expressões não é porque pensamos de uma maneira
verdadeira que tu és branco, mas é porque és branco que, ao dizermos que tu és,
dizemos a verdade. Se, por conseguinte, existem coisas que estão sempre unidas e
que é impossível distinguir; se há outras que são sempre distantes e que é
impossível unir; se outras, finalmente, admitem união e distinção: então, ser, é estar
unido, é ser uno; não ser é não estar unido, é ser múltiplo. Sendo assim, quando se
trata de coisas contingentes, a mesma opinião não se torna ora verdadeira ora
falsa, mas as mesmas opiniões são eternamente verdadeiras ou falsas”.
100
Filosofia e Lógica

A verdade como certeza. Com Descartes deparamo-nos com um novo
conceito de verdade, segundo o qual é verdadeira toda a ideia, que se
revele ao pensamento, como clara e distinta. Não é já, pois, a ordem
ontológica, ou seja, o ser, que determina a verdade do pensamento e que
é o seu critério, mas sim o modo como as ideias são vistas ou intuídas
pelo pensamento: ideias que se revelam como claras e distintas não
podem ser senão verdadeiras. O pressuposto do pensamento antigo e
medieval, que acima referimos, foi invertido: agora não são as leis que
regem o ser que, por sua vez, regem o pensamento, mas sim o inverso: as
leis que regem o pensamento são também as que regem o ser. Dessa
forma, verdade é ter certeza, ou seja, é estar certificado, ter a garantia de
evidência de uma ideia ou conceito. Contudo, esta noção de verdade
exige um “certificado absoluto”, que só poderia ser Deus. Assim,
Descartes tem que admitir que o autor de algumas ideias fundamentais é
necessariamente o próprio Deus e que este, se é o ser perfeito e infinito
que, de acordo com a ideia que dele fizemos, coloca no meu espírito
ideias evidentes e não falsas.
Vejamos o que Descartes diz sobre esta questão nas suas Meditações de
Filosofia Primeira, mais precisamente na quarta meditação: “Creio que não lucrei
pouco com a meditação de hoje, porque investiguei a causa do erro e da falsidade.
E certamente não pode ser nenhuma outra senão a que expliquei, porque sempre
que contenho assim a vontade, ao fazer juízos, de maneira a que ela apenas se
estenda ao que lhe é apresentado clara e distintamente pelo entendimento, nunca
pode acontecer que eu erre. Todo o conceito claro e distinto é, sem dúvida, alguma
coisa e, por conseguinte, não pode partir do nada, mas tem necessariamente Deus
como autor, quero dizer, aquele Deus sumamente perfeito a que repugna ser
enganador; e logo, sem dúvida, é verdadeiro (....)”.

A verdade como objetividade: Também no pensamento de Kant é central
o problema da verdade. Kant aborda esse problema em três níveis, dois
dos quais já lhe apresentamos anteriormente, a saber, o nível lógico, o
nível metafísico e, finalmente, o nível transcendental. Para este, entre a
verdade formal lógica e aquilo que seria a verdade absoluta metafísica,
101
Filosofia e Lógica
segundo a qual o pensar coincidiria com o ser, há lugar, segundo Kant, para
um tipo de intermédio de verdade que é a que está verdadeiramente ao
alcance do entendimento humano e a que se exibe na ciência. É o que
poderíamos denominar de “noção transcendental de verdade, ou a
objetividade do conhecimento” esta consistiria na concordância do pensar
com os objetos, os quais devem ser dados na experiência. O estudo das
condições de possibilidade de tal verdade e o reconhecimento da sua
amplitude é o que constitui a tarefa daquilo que Kant chama de Lógica
transcendental, que visa a estabelecer as condições a priori que tornam
possível o conhecimento dos objetos enquanto dados na experiência.

“A verdade como todo”: Hegel pretende com a sua Filosofia fazer uma
síntese da concepção antiga e da concepção moderna da verdade, ou
seja, daquela concepção que fundava a verdade no ser ou na substância e
daquela que a fundava no pensar, no sujeito e na sua certeza: Diz Hegel:
“Segundo a minha maneira de ver (...) tudo depende deste ponto
essencial: aprender e exprimir o verdadeiro, não apenas como substância,
mas precisamente também como sujeito”. Assim se ultrapassaria a
imobilidade do objeto, ou seja, a sua indiferença e autonomia do sujeito
relativamente ao objeto, ou seja, se sairia da forma do pensamento que
se fecha na universalidade vazia. A verdade, por conseguinte, não está
dada de imediato, nem do lado do objeto, nem do lado do sujeito, mas é
um processo pelo qual o sujeito, mediante a reflexão sobre o objeto, se
desenvolve, apropriando-se do objeto ou da substância e fazendo deste
o seu objeto. Assim, continua Hegel: “O verdadeiro é o de vir de si
mesmo, o círculo que pressupõe e tem no começo o seu próprio fim
como seu objetivo e que é efetivamente real apenas mediante a sua
atualização desenvolvida e mediante o seu fim. (...) O verdadeiro é o todo.
Mas, o todo é apenas a essência realizando-se e acabando-se mediante o
seu desenvolvimento. Do absoluto deve dizer-se que ele é resultado, ou
seja, que somente no fim ele se efetiva como verdade; nisso consiste
102
Filosofia e Lógica
propriamente a sua natureza, que é ser realidade efetiva, sujeito ou
desenvolvimento de si mesmo”. Este conceito de Hegel de verdade que
está subjacente a muitas manifestações do pensamento contemporâneo,
nomeadamente as filosóficas da história. Com efeito, a noção hegeliana
de verdade fornece fundamentação lógica e metafísica à crença
iluminista no progresso da humanidade e da razão.

A verdade como apropriação: No Novum Organum, o filósofo do século
XVII Francis Bacon manifesta o sentimento profundo da sua época, a
confiança nas novas possibilidades oferecidas pela nova ciência. Assim,
estabelece uma íntima relação entre ciência e o poder humano, que
constituirá um dos aspectos mais significativos da civilização moderna e
contemporânea. Conhecer a natureza é poder dominá-la e manipulá-la.
Ao ideal antigo, medieval e renascentista de uma ciência essencialmente
contemplativa, substitui-se, assim, o ideal de uma ciência operativa,
inventiva de conhecimentos que, por sua vez, possam ser produtores dos
efeitos. Conhecer as causas é aprender a produzir os efeitos. Dessa forma,
ciência e técnica unem-se em um indissociável consórcio que perdura e
se intensifica até os nossos dias.
Conseguiu entender como a Filosofia e / ou os filósofos compreendem a
verdade? No próximo item, veremos como a verdade está intrinsecamente
relacionada ao processo de conhecimento. Então, no próximo tópico, vamos
examinar a estrutura filosófica do conhecimento.
Diante do que foi dito acima, o conhecimento é dependente da nossa
representação, isto é, daquilo que está fora de nós. Dessa forma, conhecer alguma
coisa é nada mais que representar o que está no exterior do nosso pensamento, da
mente, do espírito. A representação, por sua vez, é o processo pelo qual o
pensamento (o espírito, a mente) torna presente diante de si a imagem ou a ideia
de um objeto que é exterior.
103
Filosofia e Lógica
No entanto, para que haja qualquer tipo de conhecimento, é necessário que
exista uma relação entre dois elementos básicos: um sujeito cognoscente, isto é, a
nossa mente, o pensamento e um objeto a ser conhecido (a realidade, o mundo, os
fenômenos). Essa é a relação necessária para qualquer conhecimento, portanto, só
poderá haver conhecimento se houver um sujeito e um objeto.
Relação: A relação entre os dois elementos é ao mesmo tempo uma
correlação. O sujeito só é sujeito para um objeto e o objeto para um sujeito. Ambos
só são o que são para o outro. Mas, esta correlação não é reversível. Ser sujeito é
algo completamente distinto de ser objeto. A função do sujeito consiste em
apreender o objeto, a do objeto em ser apreendido pelo sujeito.
No entanto, nessa relação, sujeito e objeto permanecem separados. O
conhecimento apresenta-se como uma relação entre estes dois elementos, que
nela permeiam eternamente separados um do outro. O dualismo sujeito e objeto
pertence à essência do conhecimento (HESSEN, 2000, p. 26).
IMPORTANTE
Desta forma, podemos concluir:



conhecer é reproduzir em nosso pensamento a realidade;
damos o nome de conhecimento à posse deste pensamento que
concorda com a realidade;
a concordância do pensamento com a realidade, chamamos de verdade.
104
Filosofia e Lógica
“O conhecimento está, portanto, intimamente relacionado ao conceito de
verdade. Sendo assim, o conhecimento concorda com o objeto, a verdade do
conhecimento é estabelecida. No entanto, antes de ser verificada essa
concordância, o objeto mesmo não pode ser considerado nem verdadeiro nem
falso. Vale ressaltar que as determinações do objeto não se modificam pelo simples
fato de ele haver sido captado e incorporado à esfera do sujeito. Não há, nesse
processo, uma inclusão do objeto no sujeito, senão a reprodução do objeto, ou
seja, a formação da imagem do objeto. No sujeito sim, acrescenta-se algo que o
modifica completamente, que é a imagem dentro de si do objeto.
Dentro dessa estrutura, o conhecimento é considerado não como uma
construção arbitrária do sujeito, este somente deve reproduzir as propriedades do
objeto, pelo que exige o concurso da experiência.
Mas afinal, o que é o conhecimento?
A primeira tentativa de responder a pergunta acerca do que é conhecimento
pode ser obtida inicialmente através da distinção formal entre conhecimento
sensível, isto é, aquele que advém dos sentidos humanos fundamentais e o
conhecimento racional, (aquele que provém substancialmente da razão). Esta
distinção fora uma das primeiras grandes conquistas da filosofia. Tanto Platão
como Aristóteles reclamaram, embora por vias diferentes, a necessidade de
ultrapassar o nível do conhecimento sensível para chegar ao nível do
conhecimento racional ou intelectual. Para estes, o conhecimento sensível não
oferece garantia suficiente de segurança para o conhecimento, pois está sujeito
constantemente ao erro, ou seja, à modalidade das impressões sensoriais
desencadeadas pelos objetos. Assim, para estes somente o conhecimento racional
ou
intelectual poderia
garantir
uma
concepção
estável da
realidade,
simultaneamente, de acordo com os objetivos da ciência e de acordo com as leis
lógicas da razão humana.
105
Filosofia e Lógica
IMPORTANTE
A distinção entre o conhecimento sensível e o racional nos conduz,
irremediavelmente, a uma outra distinção, aquela que se estabelece entre o
conhecimento vulgar e o conhecimento científico. O primeiro não se preocupa
com a objetividade requerida pela ciência nem ao menos com a coerência (ver a
segunda unidade desta disciplina); o segundo ao contrário, não se contenta em ver
com o aspecto superficial da realidade, mas procura a razão de ser ou o porquê de
acontecer. Aristóteles concebia a ciência ou o conhecimento cientifico como o
“conhecimento da realidade pelas causas”. Com efeito, conhecer a realidade era
saber o porquê das suas manifestações. Contudo, esse porquê não pode ser
considerado como algo a ser alcançado pelos sentidos, mas sim, aquele que é
descoberto ou contemplado pela razão.
Assim, se desfaz, completamente, a crença vulgar dos nossos sentidos. Os
sentidos não somente são incapazes de nos fornecer um acesso a um verdadeiro
conhecimento da realidade, mas pode ser por vezes um obstáculo ao
conhecimento de fato. Tem-se presente a reação dos homens do século XVII às
teorias de Copérnico e Galileu segundo as quais não era o sol que girava em torno
da terra, mas era a terra que girava em torno do sol. Essa era, portanto, uma
verdade científica que contradizia as evidências dos sentidos.
Atualmente, o problema do conhecimento não somente assume uma maior
relevância em todos os seus aspectos como também proporcionou o surgimento
de uma disciplina filosófica específica denominada de teoria do conhecimento,
onde são abordados de uma forma sistemática os vários problemas acerca do
conhecimento, tais como: o problema da sua origem, do seu valor e do seu limite,
da sua possibilidade, etc. Em torno desses problemas, alinham-se as posições dos
diferentes filósofos. Com isso, surgem as mais diversas designações que na
atualidade se aplicam para definir o pensamento desses filósofos acerca do
conhecimento, dentre estes: racionalismo, empirismo, psicologismo, idealismo,
formalismo, realismo, criticismo, etc.
106
Filosofia e Lógica
Entretanto, para Chauí (2005, p. 130), “tornar o entendimento objeto para si
próprio, tornar o sujeito do conhecimento objeto de conhecimento para si mesmo
é a grande tarefa que a modernidade filosófica inaugura ao desenvolver a teoria do
conhecimento”. Se for assim, a teoria do conhecimento possui como pressuposto a
volta do pensamento sobre si mesmo, colocando-se como objeto para si mesmo.
Assim, do ponto de vista da teoria do conhecimento, a reflexão se torna um
ingrediente fundamental no processo de conhecimento. Como somos seres
racionais e conscientes, a consciência que possuímos das coisas é um fator de
conhecimento. Mas o que podemos entender por consciência?
A consciência é uma “atividade mental” que torna a presença humana no
mundo como capaz de possuir algum tipo de saber. Por isso, diz Cotrim (1993, p.
44) “a biologia classifica o homem atual como “sapiens sapiens”, ou seja, o ser que
sabe que sabe. O processo de conscientização faz do homem um ser interrelacionado com o mundo e consigo mesmo. Isto o permite caminhar para dentro
de si, investigando o seu íntimo, à medida que descobre a si mesmo e a realidade
externa. Esse processo faz do homem um ser dinâmico na medida em que pode
centrar sobre si mesmo ou sobre os objetos exteriores, aquilo que se denomina
alteridade (do latim, alter, o outro). Portanto, pode vislumbrar duas dimensões no
processo de conscientização humana: a consciência de si e a consciência do outro.
A consciência de si é consciência nos estados internos do sujeito, ou seja, a
reflexão. A consciência do outro é a consciência dos objetos exteriores. Enquanto a
consciência é o pressuposto da capacidade humana de conhecer, esta se faz
presente no conhecimento na medida em que é um conhecimento do
conhecimento, ou seja, a reflexão.
Assim, para a teoria do conhecimento, a consciência representa uma atividade
dotada de poder de análise, de representação dos objetos, compreensão e
interpretação. Ela é o sujeito de todo e qualquer conhecimento. Portanto, a
consciência enquanto sujeito do conhecimento reflete sobre as relações entre ela e
o seu objeto, procurando denotar sentido ou significação ao próprio ato de
conhecer.
107
Filosofia e Lógica
Segundo Caio Jr. (1981, p. 15),
Realmente é o que se verifica no desenvolvimento histórico
do pensamento humano logo que o progresso do
conhecimento atinge certo nível. Isto é, retorno reflexivo da
elaboração cognitiva sobre si mesma, passando o próprio
conhecimento a se fazer objeto do conhecer, fato esse
suficientemente marcado para dar lugar a uma ordem de
cogitações bem caracterizadas e distintas do conhecimento
ordinário.
Essa observação do autor nos fornece uma característica importante do
conhecimento, ou seja, o sujeito ao apreender o objeto não se comporta
passivamente. A consciência humana não se encontra perante a realidade como se
fosse um espelho a refletir simplesmente a imagem do objeto. A sua atitude,
portanto, é ativa e dinâmica. Há uma participação criativa e inovadora por parte da
consciência na construção da imagem, quanto ao seu próprio conteúdo objetivo.
Dessa forma, as imagens captadas pelo sujeito no processo de conhecimento são
interpretadas de uma forma que este mesmo sujeito pode operar no processo de
intervenção e construção da realidade que o cerca. Viu como não é tão difícil
compreender a dinâmica do conhecimento? Não há dificuldades. O conhecimento
é relacional, existe sob a forma de relação, isto é, em uma relação entre o sujeito e o
objeto.
LEITURA COMPLEMENTAR:
Hessen, J. Teoria do conhecimento. 3ª Edição. São Paulo: Martins
fontes, 2000. 184 p.
108
Filosofia e Lógica
SUGESTÃO DE FILME:
Quem somos nós? (Original: What the Bleep Do We Know?)
Duração: 109 minutos. Ano de Lançamento (EUA): 2004
É HORA DE SE AVALIAR!
Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de estudo. Elas
irão ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo
de ensino-aprendizagem.
Definido em linhas gerais o problema do conhecimento, na próxima unidade
estudaremos a teoria do conhecimento, em que serão apresentadas as definições
mais específicas do problema do conhecimento na Filosofia. Espero você na
próxima unidade! Até lá!
109
Filosofia e Lógica
Exercícios – unidade 6
1. Qual das alternativas abaixo diz respeito à concepção de verdade como
‘correspondência’?
a)
É aquela que afirma que o que é moralmente aceito só pode ser através de
uma superação entre o pensamento e a realidade.
b)
É aquela que afirma que o que é verdadeiro só pode ser através de uma
distinção entre o pensamento e a realidade.
c)
É aquela que afirma que o que é falso só pode ser através de uma superação
entre o pensamento e a realidade.
d)
É aquela que afirma que o que é verdadeiro só pode ser através do acordo
entre o pensamento e a realidade.
e)
É aquela que afirma que o que é verdadeiro só pode ser através de uma
superação entre o pensamento e a realidade.
2. Das alternativas a seguir, não diz respeito ao significado de ‘verdade’?
a)
Adequação do intelecto ao real.
b)
Acordo entre a subjetividade e as propriedades mentais.
c)
Coisa verdadeira ou certa.
d)
Verdade do ocorrido.
e)
Verdade que é contingente e cujo oposto é impossível.
3. Dentre as seguintes afirmações qual delas está incorreta?
a)
O conhecimento dependente da nossa representação, isto é, daquilo que está
dentro de nós.
b)
Diz-se daquilo que corresponde à verdade, à realidade, ao existente e como tal
se impõe à aceitação.
c)
A verdade é o que é verdadeiro em contraposição ao que é falso.
d)
Existem várias definições de verdade e várias teorias que pretendem explicar a
natureza da verdade.
e)
De uma maneira geral, a verdade é concebida como adequação ou
correspondência.
110
Filosofia e Lógica
4. Das alternativas a seguir, qual se refere exatamente à essência do conhecimento?
a)
A união entre sujeito e objeto.
b)
A inexistência entre um sujeito e um objeto.
c)
A descoberta de um termo intermediário entre um sujeito e um objeto.
d)
A relação entre sujeito e objeto.
e)
O desvio lógico entre o sujeito e o objeto.
5. Das alternativas a seguir, uma delas explica corretamente o significado de
“representação”, qual?
a)
É o processo pelo qual o que é falso torna presente diante de si a imagem ou a
criptografia de um objeto que é exterior.
b)
É a dinâmica da realidade pela qual o pensamento (o espírito, a mente) torna
distante a imagem ou a ideia de um objeto que é exterior.
c)
É o processo pelo qual a metafísica (o espírito, a mente) torna presente diante
de si a imagem ou a ideia de um objeto que é interior.
d)
É o processo pelo qual o pensamento (o espírito, a mente) torna presente
diante de si a imagem ou a ideia de um objeto que é interior.
e)
É o processo pelo qual o pensamento torna presente diante de si a imagem ou
a ideia de um objeto que é exterior.
6. Dentre as alternativas a seguir, qual delas diz respeito à forma de “conhecimento
falso”?
a)
Quando existe um ‘acordo’ entre o nosso pensamento e a realidade.
b)
Quando pensamos não existir uma realidade no nosso pensamento.
c)
Quando falta um dos componentes do conhecimento.
d)
Quando não existe um ‘acordo’ entre o nosso pensamento e a realidade.
e)
Quando não se pode determinar um exame do pensamento.
111
Filosofia e Lógica
7. O termo reflexão pode ser entendido como:
a)
uma introspecção das emoções.
b)
uma retrospecção da ação.
c)
uma ação irrefletida.
d)
um conhecimento do conhecimento.
e)
um conhecimento sem conhecimento.
8. Qual é a relação entre a verdade e o conhecimento?
a)
A verdade é sempre determinada pelo que não podemos conhecer.
b)
A concordância do sujeito e do objeto revela-nos a verdade.
c)
O conhecimento só é conhecimento porque não existe uma verdade única.
d)
A verdade é o que se apresenta como ilusório à consciência.
e)
O conhecimento válido é aquele que é igual ao falso.
9. O que podemos entender classicamente por “verdade”?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
10. O que diferencia a “consciência de si” da “consciência do outro”?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
112
Filosofia e Lógica
7
A teoria do conhecimento:
A explicação filosófica acerca
das possibilidades do
conhecimento humano
O problema inicial da teoria do conhecimento.
Os fundamentos do conhecimento.
As possibilidades do conhecimento.
113
Filosofia e Lógica
Na unidade anterior obtemos uma noção sobre o significado do
conhecimento e o problema relativo à verdade. Nesta unidade, examinaremos um
importante ramo da Filosofia, fundamental para a formação de qualquer ser
humano: a teoria do conhecimento. À teoria do conhecimento cabe a explicação
de como o conhecimento ocorre e quais são as possibilidades do ato de conhecer.
Preparado para iniciar a nossa sétima unidade? Então, vamos lá!
Objetivo da unidade:
Compreender o desenvolvimento histórico da teoria do conhecimento pelo
estudo dos problemas filosóficos relativos ao alcance, ao limite e à origem do
conhecimento.
Plano da unidade:

O problema inicial da teoria do conhecimento.

Os fundamentos do conhecimento.

As possibilidades do conhecimento.
Bem-vindo à sétima unidade de estudo.
Bons estudos!
114
Filosofia e Lógica
O problema inicial da teoria do conhecimento
A Teoria do Conhecimento tem por objetivo buscar a
origem, a natureza, o valor e os limites do conhecimento da
faculdade de conhecer. Às vezes o termo é usado ainda
como sinônimo de epistemologia, o que não é exato, pois o
mesmo é mais amplo, abrangendo todo tipo de
conhecimento, enquanto que a epistemologia limita-se ao
estudo sistemático do conhecimento científico, sendo por
isso mesmo chamada de filosofia da ciência.
Na obra Teoria do Conhecimento (2000, p. 14), o autor Hessen afirma que
“como disciplina filosófica independente, não se pode falar de uma teoria de
conhecimento nem na antiguidade nem na Idade média”. Para este, embora se
encontrem várias reflexões acerca da natureza do conhecimento, não podem ser
consideradas questões do conhecimento sobre os moldes de uma teoria, pois
nestas misturam-se questões psicológicas e metafísicas. Foi somente a partir da
Idade Moderna que a teoria do conhecimento surge como uma disciplina
autônoma. Segundo Hessen (2000, p. 19), “A teoria do conhecimento, como o
nome já diz, é uma teoria, isto é, uma interpretação e uma explicação filosófica do
conhecimento humano”. Neste sentido, enquanto uma teoria, esta tem o papel de
investigar as origens e as possibilidades do conhecimento, os seus fundamentos e
a extensão do conhecimento, como também o seu valor.
Contudo, o problema do conhecimento pode ser considerado e estudado sob
vários pontos de vista: sob o ponto de vista psicológico, sob o ponto de vista
lógico, sob o ponto de vista gnosiológico, sob o ponto de vista epistemológico, sob
o ponto de vista sociológico, etc. Vejamos, brevemente, em que consistem
algumas dessas modalidades de abordagem do conhecimento. Preste atenção em
cada uma delas.

A perspectiva psicológica: Nesta o conhecimento é considerado como
uma “vivência” do sujeito, ora é visto e estudado como uma das respostas
do ser humano aos estímulos do seu meio. Analisam-se, neste caso, as
condições de aprendizagem, isto é, o processo da sua constituição e
sedimentação até se atingir formas estáveis de conduta, nas quais se
integram e organizam-se os dados oriundos das percepções.
115
Filosofia e Lógica

A perspectiva lógica: Nesta o conhecimento é concebido enquanto
expresso em enunciados e proposições. Dessa forma, se estuda a lei
interna desses enunciados, não interessando os conteúdos, mas apenas
as condições que deve o conhecimento cumprir para ser considerado
correto ou válido. Também, abstrai-se do problema da adequação entre
conhecimento e os objetos reais, para fixar-se somente na articulação
formal dos enunciados.

A perspectiva gnosiológica: Esta considera o conhecimento em si
mesmo, como ato no qual um objeto se faz presente a um sujeito ou uma
consciência. Nesta perspectiva, o conhecimento é visto como uma
relação entre sujeito e objeto. Trata-se, então, de analisar o que nesta
relação, que constitui o conhecimento, é contribuição do objeto e o que é
contribuição do sujeito. Enfim, trata-se ainda de pensar a relação entre o
objeto e o sujeito enquanto conhecido.

A perspectiva metafísica: Esta trata de verificar se o objeto se esgota no
plano subjetivo – enquanto objeto conhecido por uma consciência ou
sujeito -, ou se mesmo esse plano do sujeito só ganha sentido dentro de
um plano mais vasto que é o plano do ser. Enfim, trata-se de ver se para
além dos nossos conteúdos da consciência não há algo de real ao qual os
nossos pensamentos correspondam e que, em última instância, seja o seu
suporte e fundamento.

A perspectiva sociológica: Nesta o conhecimento é considerado como
estando condicionado por fatores históricos, ou seja, trata-se de
investigar até que ponto e em que medida as transformações
econômicas e sociais influem na evolução das categorias do pensamento,
no surgimento das doutrinas e até mesmo da ciência.

A perspectiva epistemológica: É o tipo qualificado de conhecimento
que pode ser considerado como, propriamente, o conhecimento
científico. Trata-se, então, de averiguar as condições, isto é, métodos,
critérios e pressupostos que validam qualquer tipo de conhecimento que
queira se apresentar como cientifico.
116
Filosofia e Lógica
Como é obvio, todos os aspectos atrás referidos estão intimamente
relacionados. A solução que se dá ao problema do conhecimento em uma dessas
perspectivas afeta diretamente a solução das outras perspectivas.
Uma vez caracterizada a proposta geral acerca da teoria do conhecimento, no
próximo tópico examinaremos os problemas fundamentais sobre o qual se
debruça este ramo da Filosofia. Vamos lá!
Os fundamentos filosóficos do conhecimento
Vimos no tópico anterior que a preocupação central da teoria do
conhecimento é investigar as origens e as possibilidades do conhecimento. Iremos,
a partir de agora, detectar os elementos que são as bases para o conhecimento.
Várias correntes filosóficas procuraram fornecer uma resposta a esta questão.
Podemos destacar dentre elas o empirismo e o racionalismo. Vejamos as respostas
que estas tendências formulam:

O empirismo: O termo empirismo em grego significa empeiria, isto é, a
experiência sensorial. O empirismo afirma que todas as nossas ideias são
provenientes de nossas percepções sensoriais, tais como visão, audição
etc. Conforme afirma o filósofo Locke, o principal representante do
empirismo, “nada vem à mente sem antes ter passado pelos sentidos”.
Em outras palavras, a mente é entendida como uma folha em branco, na
qual os sentidos registram as percepções.

O racionalismo: Derivado do latim ratio, que significa razão, o
racionalismo pressupõe a razão como o principal meio de conhecimento
da verdade. Os racionalistas afirmam que a experiência sensível não pode
ser levada a sério, pois são fontes de erros. Apenas a razão humana pode
atingir o conhecimento verdadeiro capaz de fornecer a universalidade ao
conhecimento.
117
Filosofia e Lógica
Estas concepções refletem de maneira divergente as diversas fontes para se
conhecer a verdade. O empirismo considera a experiência dos sentidos como a
base do conhecimento e, por outro lado, o racionalismo afirma que a razão
humana é a verdadeira fonte do conhecimento. Você pode estar se perguntando:
Mas, quais destas concepções podem ser consideradas corretas? A resposta é:
nenhuma! A preocupação em relação às fontes do conhecimento é um debate
interminável. Até hoje são discutidas as possibilidades de que o empirismo e o
racionalismo possam ser considerados como fontes válidas do conhecimento. No
entanto, não importa quais são as fontes verdadeiras do conhecimento, o que é
válido é a discussão e o debate em torno desta questão.
As possibilidades do conhecimento:
como podemos conhecer?
Se a questão acerca das fontes do conhecimento é apresentada de maneira
divergente e interminável, a capacidade e a possibilidade humana de conhecer a
verdade é uma preocupação também discutida e polêmica. Ao longo da história da
filosofia o problema do conhecimento desenvolveu-se sobre as seguintes
questões: somos realmente capazes de conhecer? É possível o sujeito captar o seu
objeto de conhecimento? Quais são, verdadeiramente, as possibilidades do
conhecimento humano? As respostas a estas questões conduziram ao surgimento
de duas correntes filosóficas que procuraram responder tais questões: o
dogmatismo e o ceticismo:

Dogmatismo: O dogmatismo é a posição mais simples e mais antiga,
aquela que significa a atitude ingênua do homem diante da realidade
que o cerca. A palavra dogmatismo vem do grego dogmatikós, que
significa doutrina estabelecida. O dogmatismo é a doutrina que defende
a possibilidade do conhecimento da verdade. Ele se divide em três
variantes básicas:
1- O dogmatismo ingênuo: Este tipo não encontra problemas na relação entre
o sujeito e o objeto, por isso não entende como problema qualquer
dificuldade no que concerne à percepção do mundo tal como ele se
apresenta;
118
Filosofia e Lógica
2- O dogmatismo crítico: Acredita em nossa capacidade de conhecer a
verdade mediante um esforço entre os nossos sentidos e a nossa
inteligência. Além disso, confia plenamente que através de um método
adequado, ou seja, racional e científico, o conhecimento humano torna-se
capaz de compreender a realidade que o cerca;
3- O dogmatismo pragmático: Compreende o conhecimento como sendo
resultado de uma operação de pesquisa e investigação no sentido de que
estes são fatores fundamentais para o homem solucionar problemas por
eles enunciados. O pragmatismo pode ser considerado uma espécie de
relativismo, ou seja, o conhecimento se apresenta como uma função
meramente instrumental ou utilitária: o conhecimento é verdadeiro ou
falso na medida em que serve ou não para os fins humanos. O pragmatismo
volta-se, principalmente, para ação.

Ceticismo: A palavra ceticismo vem do grego Sképtesthai, que significa
considerar, examinar. O ceticismo afirma a impossibilidade de
conhecimento da verdade. Assim, para ele, o homem nada pode afirmar,
pois nada pode conhecer.
Através da história da filosofia, os céticos sensoriais argumentaram que só
percebemos coisas como parecem a nós e não podemos saber o que causa essa
aparência. Se é que existe um saber sensorial, ele é sempre pessoal, imediato e
mutável. Qualquer inferência das aparências é sujeita a erros e não temos meio de
saber se essa inferência ou julgamento está correto. Contudo, estes argumentos
não impediram muitos céticos de avançar na defesa do probabilismo em relação
ao conhecimento empírico. Nem o ceticismo sensorial impediu dogmáticos de
procurar a verdade absoluta noutro lado, nomeadamente na Razão ou na Lógica.
Talvez o maior problema acerca da possibilidade da verdade absoluta seja o
argumento cético quanto ao critério da verdade. Qualquer critério usado para
julgar a verdade de uma afirmação pode ser desafiado, pois é necessário um
critério superior para julgar o critério usado, e assim, sucessivamente, até ao
infinito. Este argumento não deteve filósofos como Platão e Descartes de
afirmarem ter encontrado um critério absoluto de verdade. Enquanto a maioria dos
céticos rejeitaria a noção de tal critério existir como eles pretendem, a maioria
119
Filosofia e Lógica
aceita provavelmente os argumentos de Santo Agostinho e outros que afirmam
existir certas afirmações absolutamente certas, mas esses são assuntos de lógica e
não tem a ver com o estabelecimento da certeza de afirmações da nossa percepção
imediata.
Os antigos céticos não concordavam sequer com os assuntos fundamentais,
tais como certeza e conhecimento serem possíveis. Alguns acreditavam que
sabiam que a certeza não era possível; outros afirmavam que não sabiam se o saber
era possível. A posição de alguém que defende que o conhecimento é impossível
parece ser autorrefutado. O ponto de vista que afirma que não sabe se o saber é
possível é consistente com a noção de que faz sentido tentar saber, mesmo se não
temos a certeza de atingir esse conhecimento. E, enquanto antigos céticos
pareciam advogar a ideia de que não ter opiniões fortes é algo bom, muitos
pareciam manter que quando existem fortes provas apoiando a probabilidade de
uma posição sobre outra, então aquela era desejável. A maioria deles parecia não
aceitar que, como não podemos ter a absoluta certeza de algo, devíamos
suspender o julgamento sobre todas as coisas. Tal princípio negar-se-ia a si próprio.
Pois que, de acordo com ele, não o devemos aceitar, mas suspender julgamento
sobre ele. Suspender o julgamento sobre afirmações deve ser reservado para
aquelas sobre as quais nada sabemos, ou não podemos saber, e para aquelas em
que as evidências estão equilibradas nos opostos. Pode ser verdade que nada é
absolutamente certo, mas não é verdade que todas as afirmações são igualmente
prováveis. Uma pessoa razoável usa a probabilidade como guia para o que
acredita, não a certeza absoluta, de acordo com os céticos filosóficos.
Em resumo, diversas foram as formas de investigar e responder a possibilidade
e a impossibilidade do conhecimento. Tanto o dogmatismo quanto o ceticismo
apresentam seus argumentos, mas nenhum destes podem ser considerados como
superior ao outro. São discussões que não encerram em si a questão do
conhecimento, pois dão forma e conteúdo para a atualização do debate acerca
desta questão.
LEITURA COMPLEMENTAR:
Hessen, J. Teoria do conhecimento. 3ª Edição. São Paulo: Martins
fontes, 2000. 184p.
120
Filosofia e Lógica
É HORA DE SE AVALIAR!
Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de estudo. Elas
irão ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo
de ensino-aprendizagem.
Chegamos ao fim do nosso estudo sobre o problema do conhecimento. Como
você pode notar as unidades 6 e 7 são unidades complementares. As duas
abordam de maneira geral a questão do conhecimento em Filosofia. Na próxima
unidade você terá a oportunidade de estudar a lógica que, embora não seja uma
teoria sobre o conhecimento, é uma parte essencial e auxiliar desta questão
genuinamente filosófica, ou seja, a questão do conhecimento. Vamos para a
próxima unidade? Até lá!
121
Filosofia e Lógica
Exercícios – unidade 7
1. Dentre as alternativas abaixo, qual delas diz respeito ao objetivo fundamental da
teoria do conhecimento?
a)
Buscar na própria imagem do objeto, a origem, a natureza dos limites do
conhecimento, da faculdade de ajuizamento.
b)
Buscar a origem para o apreço que se tem em relação à vontade de conhecer.
c)
Buscar a origem, a natureza, o valor e os limites da capacidade de relacionar o
sujeito e o objeto.
d)
Buscar a origem, a natureza, o valor e os limites do conhecimento, da
faculdade de conhecer.
e)
Buscar as relações entre a natureza e o valor dos limites da consciência, da
faculdade dos valores.
2. Qual das alternativas a seguir caracteriza corretamente o empirismo?
a)
O empirismo afirma que todas as nossas convicções pessoais são provenientes
do nosso mau hábito de gerar discussões passivas.
b)
O empirismo afirma que todas as nossas visões espaciais são provenientes de
nossas percepções intelectuais.
c)
O empirismo afirma que todas as nossas experiências são provenientes
unicamente da razão.
d)
O empirismo afirma que todas as nossas ideias são provenientes de nossas
percepções sensoriais, tais como visão, audição etc.
e)
O empirismo afirma que todas as nossas convicções são provenientes de
nossas percepções elementares, tais como visão, audição etc.
122
Filosofia e Lógica
3. O pragmatismo pode ser considerado uma espécie de relativismo. Por
pragmatismo podemos dizer que:
a)
o conhecimento se apresenta como uma função meramente desinteressada
ou utilitária.
b)
o conhecimento se apresenta como uma função meramente instrumental ou
utilitária.
c)
o conhecimento se apresenta como uma função meramente desinteressada
ou instrumentalizada.
d)
o conhecimento se apresenta como uma função meramente sensorial ou
utilitária.
e)
o conhecimento se apresenta como uma função meramente limitada ou
fragmentada.
4. Por ‘dogmatismo crítico’ diz ser uma:
a)
incapacidade de conhecer a verdade mediante um esforço entre os nossos
sentidos e a nossa inteligência. Além disso, confia plenamente que através de
um método adequado, ou seja, racional e científico, o conhecimento humano
torna-se capaz de compreender a realidade que o cerca.
b)
capacidade de conhecer a verdade mediante um esforço entre os nossos
sentidos e a nossa percepção monoteísta. Além disso, confia plenamente que
através de um método adequado, ou seja, racional e científico, o
conhecimento humano torna-se capaz de compreender a realidade que o
cerca.
c)
capacidade de conhecer a verdade mediante um esforço entre os nossos
sentidos e a nossa inteligência. Além disso, confia plenamente que através de
um método adequado, ou seja, racional e científico, o conhecimento humano
torna-se capaz de compreender a realidade que o cerca.
123
Filosofia e Lógica
d)
incapacidade de conhecer a verdade mediante um esforço entre os nossos
sentidos e a nossa inteligência. Além disso, o conhecimento humano é
incapaz de compreender a realidade intransigente.
e)
capacidade de desconhecer a verdade mediante um esforço de disjunção
entre os nossos sentidos e a nossa inteligência. Além disso, confia plenamente
que através de um método adequado, ou seja, racional e científico, o
conhecimento humano torna-se capaz de compreender a realidade que o
cerca.
5. Qual a contribuição de Kant para o problema do conhecimento?
a)
Formulador da filosofia crítica emocional. Além disso, difundiu a tese da
incapacidade de conhecer as coisas que estão introduzidas na conduta
insensível.
b)
Formulador da filosofia Racionalista. Além disso, defendeu a tese da
impossibilidade de conhecimento das coisas que estão além da experiência
racional.
c)
Formulador da filosofia Empírico-teológica. Além disso, defendeu a tese da
compatibilidade entre o conhecimento das coisas que estão além da
experiência racional e daquelas que estão no interior da nossa memória
afetiva.
d)
Formulador da filosofia Racionalista. Além disso, defendeu a tese da
possibilidade de conhecimento das coisas que estão além da experiência
sensível.
e)
Formulador da filosofia Racionalista. Além disso, criticou a tese da
impossibilidade de conhecimento das coisas que estão além da experiência
sensível.
124
Filosofia e Lógica
6. Quanto ao ‘ceticismo ingênuo’, podemos dizer que:
a)
este tipo de conhecimento subordina os problemas elementares da relação
entre o sujeito e o objeto, não conseguindo entender o problema da
percepção do mundo tal como ele se apresenta.
b)
este tipo de conhecimento somente encontra problemas na relação entre o
sujeito e o objeto desconhecido, por isso não se baseia no problema que
concerne à percepção do mundo tal como ele se apresenta.
c)
este tipo de conhecimento não encontra problemas na relação entre o critério
subjetivo e o objeto incoerente, por isso não entende como problema
qualquer dificuldade no que concerne à percepção do mundo tal como ele se
apresenta.
d)
este tipo de conhecimento não encontra problemas na relação entre o sujeito
e o objeto, por isso não entende como problema qualquer dificuldade no que
concerne à percepção do mundo tal como ele se apresenta.
e)
este tipo de conhecimento identifica problemas na relação entre o sujeito e o
objeto, por isso não entende como problema qualquer dificuldade no que
concerne à percepção do mundo tal como ele se apresenta.
7. O ceticismo vem do grego Sképtesthai. Qual o significado deste termo?
a)
Considerar ou examinar.
b)
Examinar ou desconsiderar.
c)
Considerar ou encaminhar.
d)
Desconsiderar ou verificar.
e)
Verificar ou desconfiar.
125
Filosofia e Lógica
8. Qual o problema maior sobre a possibilidade da verdade absoluta para os
céticos?
a)
O argumento que justifica a possibilidade de qualquer conhecimento
mediato.
b
O argumento acerca do critério da verdade.
c)
O problema acerca dos universais.
d)
O problema acerca da incapacidade de descobrir uma conexão entre o sujeito
e o objeto.
e)
A incapacidade de o sujeito possuir várias concepções de verdade.
9. O que pressupõe o ‘Racionalismo’?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
10. O que os céticos argumentam em relação às possibilidades do conhecimento?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
126
Filosofia e Lógica
8
Os conceitos fundamentais da
lógica clássica e a sua
aplicabilidade no campo da
Matemática e da Ciência
O que é Lógica?
A Lógica Formal.
As três operações intelectuais do espírito.
Trabalhando com conceitos.
O Silogismo: a lógica do Raciocínio.
A relação possível entre a lógica e a matemática.
127
Filosofia e Lógica
Nesta unidade iremos analisar os conceitos fundamentais da Lógica Clássica,
como também a sua aplicabilidade no campo das ciências exatas e principalmente
no âmbito da matemática e da ciência. Esta possui o filósofo grego Aristóteles
como seu principal formulador. Dessa forma, procuraremos ressaltar como e
porque as contribuições deste filósofo no campo da Lógica são de extrema
importância até os nossos dias.
Objetivos da unidade:
Analisar a fundamentação dos argumentos lógicos e as condições que esses
argumentos necessitam para serem considerados válidos ou corretos;
Compreender a aplicabilidade da Lógica clássica no estudo da matemática e
da ciência.
Plano da unidade:

O que é Lógica?

A Lógica Formal.

As três operações intelectuais do espírito.

Trabalhando com conceitos.

O Silogismo: a lógica do Raciocínio.

A relação possível entre a lógica e a matemática.
Bem-vindo à oitava unidade de estudo.
Bons estudos!
128
Filosofia e Lógica
O que é lógica?
A Lógica é uma parte da Filosofia, na sua definição geral, que pode ser
compreendida como a ciência que tem como objeto determinar, por entre todas as
operações intelectuais que tendem para o conhecimento do verdadeiro, as que são
válidas e as que não são (LALANDÉ, 1951). Desde a Grécia Antiga, a Filosofia busca
o saber através do uso metódico da razão, ou seja, aos filósofos interessava uma
formulação de raciocínios que chegasse a resultados verdadeiros e não falsos. Para
se obter esses resultados, diversos pensadores se voltaram para a tarefa de analisar
as estruturas do raciocínio, organizando-as e classificando-as. Foi assim que a
Lógica se desenvolveu.
Contudo, em seu início, a falta de uma sistematização que fizesse com que a
Lógica se constituísse em um domínio específico e autônomo do conhecimento
humano era visível. Essa sistematização da Lógica só teve seu início com
Aristóteles, no qual a Lógica se estabelece enquanto disciplina sistemática
denominada de Lógica Clássica ou Lógica Tradicional. Com isso, Aristóteles assume
um papel fundamental na história da Lógica, pois tem consciência de seu caráter
autônomo, sendo seu primeiro grande sistematizador.
Apesar de Aristóteles fornecer um caráter sistematizador da Lógica e de ser o
seu principal iniciador, parece, portanto, que ele não chega a nos dar uma
definição explícita de seu empreendimento teórico. Surge, então, um ponto
fundamental que não podemos deixar de mencionar para entendermos como
Aristóteles caracteriza a Lógica. O fato é que ele não emprega o termo “lógica” e
sim o termo “analítica” (o nome Lógica é posterior a Aristóteles – só vai aparecer
500 anos depois, no tempo de Cícero). Mas, o que estuda a analítica?
129
Filosofia e Lógica
As fontes básicas para elucidar essa questão são os comentários de Aristóteles
em uma das suas obras lógicas, Os Primeiros analíticos. Nessa obra, ele procura
destacar a finalidade da Analítica.
De início é necessário estabelecer o objetivo de nossa
investigação e a que a disciplina ela pertence: seu objetivo é
a demonstração e pertence à ciência demonstrativa. (An. Pr.
24ª, pp. 10-17)
Assim, o que a analítica visa é o estudo da demonstração, que para Aristóteles
se dá a partir da análise do raciocínio. A Lógica, para Aristóteles, não teria a função
de aumentar o conhecimento, seu objetivo seria, como vimos, uma análise do
raciocínio em suas diversas formas e comuns a todo tipo de conhecimento
(Matemática, Ética, Física), caracterizando-se, assim, em um pré-requisito básico,
em um conhecimento para o conhecimento propriamente dito. Por fim, a título de
esclarecer a função da analítica para Aristóteles, vale ressaltar o comentário de um
estudioso do pensamento aristotélico, Ross, que diz:
Para Aristóteles, a Lógica não é uma ciência substantiva, mas
sim um aspecto geral a que todos devem submeter-se antes
de estudar qualquer ciência. (ROSS, D. 1993)
Considerando a afirmação de Ross, a Lógica para Aristóteles possui um caráter
instrumental, ou seja, é um instrumento utilizado pelas ciências. Na verdade, a
Lógica é um estágio preparatório que antecede ao conhecimento propriamente
dito. É dentro dessa vertente que se convencionou chamar de Órganon (em grego,
instrumento) ao conjunto de obras lógicas de Aristóteles. As obras de Aristóteles
que constituem o Órganon são as seguintes:
130
Filosofia e Lógica
IMPORTANTE
• As categorias: Referem-se a uma lista de predicados mais
abrangentes, que são predicáveis essencialmente das várias
entidades nomeáveis e que determinam de que espécie são;
• Sobre a Interpretação: Estuda-se a enunciação;
• Primeiros Analíticos: Estuda a natureza do Silogismo;
• Segundos Analíticos: Aristóteles estuda a aplicação do Silogismo;
• Os Tópicos: Tratam do uso do Silogismo;
• As refutações Sofísticas: Discutem os erros que podem ser encontrados no
raciocínio.
Como um instrumento para o conhecimento, a Lógica preocupa-se
fundamentalmente com o aspecto formal de um raciocínio ou argumento. O termo
“formal” refere-se à forma, o que pressupõe que a Lógica tem como objetivo a
preocupação com a fo1jesus234
rma e a estrutura do pensamento, e não o seu conteúdo. Pode-se dividir a
Lógica de duas formas: a Lógica tradicional e a Lógica moderna (simbólica ou
matemática). Entretanto, essas duas não são completamente distintas, pois a
Lógica tradicional está contida na moderna. O objetivo dessa divisão é apenas uma
questão didática.
Para nossos propósitos, no próximo tópico, examinaremos algumas das
especificações da lógica tradicional de origem aristotélica. Acreditamos que a
análise desta representa uma reflexão mais simples e particular, correspondendo,
assim, aos objetivos desse curso.
A lógica formal ou clássica
A Lógica formal preocupa-se com a maneira pela qual o pensamento deve se
apresentar para ser correto, ou seja, preocupa-se em estabelecer a forma pela qual
o pensamento deve ser enunciado para que possua validade.
131
Filosofia e Lógica
A Lógica formal considerou alguns princípios fundamentais. Tais princípios
nos quais toda a Lógica é baseada são básicos e elementares. São eles:
A – O princípio da identidade: Enunciado pela seguinte sentença: “cada coisa é
idêntica a si mesma”. Podemos dar ao princípio da identidade um tratamento
algébrico, reduzindo-o à seguinte forma enunciativa:
A é idêntico a A
Esse enunciado atribui ao princípio da identidade um caráter tautológico (do
grego tauto, o mesmo). Isso significa que o seu enunciado consiste numa
proposição que tem como sujeito e predicado o mesmo conceito. Ex.: Eu sou eu.
B – O princípio da não-contradição: O princípio da não-contradição postula
que dois conceitos são contraditórios quando não podem ser e não são ao mesmo
tempo, quando analisados de um mesmo ponto de referência. Este princípio pode
receber o seguinte tratamento:
Não (A é não- A)
A partir dessas caracterizações, vamos examinar no tópico seguinte os
conceitos básicos da Lógica formal.
As três operações intelectuais do espírito segundo a lógica
clássica aristotélica
Segundo Aristóteles, a inteligência humana possui três funções básicas:
A- Conceber: Conceber é um ato pelo qual se forma um conceito. Quando
pensamos, por exemplo, acerca do homem em geral, da mesa em geral, do
professor em geral, estamos efetuando um ato de conceber.
B- Julgar: Julgar é o ato pelo qual se afirma ou se nega algo a respeito de
alguma coisa. Quando pensamos, por exemplo, “o homem é mortal” estamos
efetuando um ato de julgar. O ato de julgar é mais complexo do que o ato de
conceber, uma vez que o ato de conceber é suposto pelo de julgar, sendo anterior
a este.
132
Filosofia e Lógica
C- Raciocinar: Raciocinar é o ato pelo qual se deriva um
juízo a partir de um ou mais juízos. É, por exemplo, pensar:
José é maior do que Mário.
Logo, Mário é menor do que José.
Temos, portanto, um exemplo de derivação de um juízo a partir de um juízo. O
ato de raciocinar envolve em si todo um mecanismo psicológico que não interessa
a Lógica. À Lógica cabe estudar o conteúdo do ato de raciocinar. Ao conteúdo do
ato de raciocinar chamamos de raciocínio. Assim, quando efetuamos o ato de
raciocinar, produzimos raciocínio. Na produção de um raciocínio existem sempre
juízos.
Trabalhando com conceitos lógicos:
Como vimos anteriormente, um conceito é o conteúdo do ato mental de
conceber. Podemos definir o conceito como uma representação intelectual ou
discursiva das propriedades que definem uma classe de objetos. As notas
determinam a compreensão de um conceito de tal modo que quanto maior o
número de notas admitidas, maior a compreensão do conceito. Quando definimos
“homem” como ‘animal racional’ distinguimos duas notas que compõem o
conceito ‘homem’: ‘animal’ e ‘racional’. Neste sentido, as notas ‘animal’ e ‘racional’
designam propriedades que algo deve possuir a fim de pertencer à classe das
entidades que, corretamente, podemos denominar individualmente de ‘homem’.
Assim, dizer que as notas de conceito conotam o conceito.
A extensão de um conceito na lógica:
Também conhecida como denotação, a extensão de um
conceito – ‘livro’ -, por exemplo, pode ser definida como a
classe de todos os objetos aos quais podemos
inequivocadamente denominar de ‘livro’. Do mesmo modo, a
extensão do conceito ‘mesa’ seria o conjunto de todas as
mesas e a extensão do conceito ‘homem’, o conjunto de todos os homens. João,
Pedro e José, por exemplo, pertencem à extensão do conceito ‘homem’. Podemos
notar, por exemplo, que a extensão do conceito ‘quadrado’ é menor do que a do
conceito ‘quadrilátero’ e a extensão deste, por sua vez, é menor do que a do
conceito ‘polígono’.
133
Filosofia e Lógica
A compreensão de um conceito na lógica:
A compreensão de um conceito é também denominada de conotação ou
intensão. Podemos definir a compreensão como o conjunto de características que
dizem respeito ao significado de um conceito, contrariamente às coisas que o
conceito designa. Assim, enquanto extensão refere-se à amplitude do conceito
quanto a particularidades, a compreensão diz respeito à sua amplitude quanto às
notas que o constituem e o caracterizam.
IMPORTANTE
A lei geral dos conceitos na lógica clássica:
Como vimos, a extensão do conceito ‘quadrilátero’ é menor do que a do
conceito ‘polígono’, pois há mais polígonos do que quadriláteros. Entretanto, a
compreensão do conceito quadrilátero é maior do que a do conceito de ‘polígono’,
pois a compreensão de ‘quadrilátero’ pode ser assim expressa: polígono de quatro
lados. Isto é, ‘ter quatro lados’ é uma característica fundamental de ‘quadrilátero’, e
não de ‘polígono’, pois existem polígonos que não tem quatro lados. Logo, ‘ter
quatro lados’ é uma característica a mais que o conceito ‘quadrilátero’ possui em
relação ao conceito ‘polígono’. Esse exemplo ilustra a lei geral vigente entre a
extensão e a compreensão de um conceito e que pode ser assim enunciada: “A
extensão e a compreensão dos conceitos variam inversamente”, ou seja, quanto
maior for a compreensão de um conceito, menor a sua extensão, e quanto maior
for a extensão, menor será a compreensão.
Essas considerações sobre o conceito, a extensão e a compreensão serão de
extrema importância para entendermos o silogismo. Convido você a examinar
comigo o significado de silogismo.
134
Filosofia e Lógica
O silogismo e a estrutura lógica do raciocínio
Como vimos anteriormente, o raciocínio é o conteúdo do ato mental de
raciocinar. Podemos definir o raciocínio como a derivação de um juízo a partir de
um ou mais juízos. Em todo raciocínio distinguimos sempre o antecedente e o
consequente. Como exemplo de raciocínio, temos:
Nenhum homem é mortal [ANTECEDENTE]
Logo, nenhum imortal é homem [CONSEQuENTE]
Esse exemplo é também caracterizado como uma inferência. Por inferência
deve-se entender um conjunto ordenado de proposições no qual a última é a
conclusão (consequente) e as demais são denominadas de premissas
(antecedente).
Os tipos de Raciocínios

Raciocínio Dedutivo
Raciocínio dedutivo ou dedução é aquele cujo consequente é inferido em
função apenas da conexão que compõe o raciocínio. Ou seja, o argumento
dedutivo é aquele que parte de premissas gerais para uma conclusão particular.
Exemplo:
Todo mamífero é mortal
Todo cão é mamífero
Logo, todo cão é mortal.
Como você observou o antecedente “todo
mamífero é mortal” enuncia uma verdade mais geral do que a conclusão “todo cão
é mortal”.
135
Filosofia e Lógica

Raciocínio Indutivo
Raciocínio indutivo é aquele que parte de proposições ou premissas
particulares e chega a uma conclusão geral. Vejamos um exemplo:
A África é um continente habitado.
A Europa é um continente habitado
(o mesmo para a América, Ásia, Oceania e Antártida)
Logo, todos os continentes são habitados.
O raciocínio indutivo, partindo de verdades particulares, tende a chegar a
conclusões apenas provavelmente corretas, enquanto que o raciocínio dedutivo,
partindo de verdades gerais, tende a chegar a conclusões seguramente corretas.
Isto porque no raciocínio indutivo a conclusão não está implícita no antecedente,
ao passo que no raciocínio dedutivo a conclusão está implícita no antecedente.
A natureza do silogismo e os seus elementos principais
O silogismo é uma forma especial de argumento em que uma conclusão que
une os dois termos é deduzida de duas premissas que une esses dois termos a um
terceiro termo. Todo silogismo é constituído de três proposições nas quais os três
termos são combinados dois a dois. Eis um exemplo de silogismo aristotélico:
1ª Premissa – Todo homem é mortal
2ª Premissa – Todo grego é homem
Conclusão – Todo grego é mortal
1ª Premissa – Todo A é B
2ª Premissa – x é A
Conclusão – Todo x é B e A
136
Filosofia e Lógica
O silogismo é composto de dois termos extremos que se unem na conclusão
funcionando como sujeito e predicado. O predicado da conclusão é denominado
de termo maior (que se convencionou abreviar por “T”), enquanto que o sujeito é o
termo menor (que se convencionou abreviar por “t”). O termo ao qual cada um dos
extremos está ligado e que não aparece na conclusão do silogismo é denominado
de termo médio (abreviado por “M”). No exemplo acima, ‘mortal’ é o termo maior,
‘grego’ é o termo menor e ‘homem’, o termo médio.
Assim, os termos (T, t, M) são a “matéria remota” do silogismo. A premissa que
contém o termo maior é chamada de premissa maior, enquanto que a que contém
o termo menor é chamada de premissa menor. A premissa maior e menor e a
conclusão são a “matéria próxima” do silogismo. Todo silogismo possui a seguinte
estrutura:
(Antecedente) Todo homem (M) é mortal. (T) – Premissa maior.
(Antecedente) Todo grego (t) é homem. (M) – Premissa menor.
(Consequente) Todo grego (t) é mortal. (T) – Conclusão.
Mais exemplos:
(Antecedente) Todo círculo (M) é redondo. (T) – Premissa maior.
(Antecedente) Nenhum triângulo (t) é redondo. (M) – Premissa menor.
(Consequente) Logo, Nenhum triângulo (t) é círculo. (T) – Conclusão.
A relação possível entre a lógica e a matemática
Tanto para os antigos e os medievais aristotélicos, os princípios e as leis da
lógica correspondiam à estrutura da própria realidade, pois o pensamento
exprimiria o real e dele participa. Aristóteles dizia que a verdade e a falsidade são
propriedades do pensamento e não das coisas e que a realidade e a irrealidade
(aparência ilusória) são propriedades das coisas e não do pensamento e, ainda, um
pensamento verdadeiro devia exprimir a realidade da coisa pensada, enquanto um
pensamento falso nada poderia exprimir. Por outro lado, os modernos (século XVII),
a lógica era uma arte de pensar, para bem conduzir a razão nas ciências.
137
Filosofia e Lógica
Os princípios e as leis da lógica correspondiam à estrutura do próprio
pensamento, sobretudo, à do raciocínio. Dessa forma, como arte de pensar, a
lógica oferecia ao conhecimento científico e filosófico as leis do pensamento
verdadeiro e os procedimentos para a avaliação dos conhecimentos adquiridos.
Contudo, alguns estudiosos contemporâneos admitem que a lógica antiga e
moderna não eram plenamente formal, pois não era indiferente aos conteúdos das
proposições, nem às operações intelectuais do sujeito do conhecimento. A forma
lógica recebia o valor de verdade ou falsidade a partir da verdade a falsidade dos
atos de conhecimento do sujeito e da realidade ou irrealidade dos objetos
conhecidos. Ao contrário, a lógica contemporânea, procurando tornar-se um puro
simbolismo do tipo matemático e um cálculo simbólico preocupa-se cada vez
menos com o conteúdo material das proposições (a realidade dos objetos referidos
pela proposição) e com as operações intelectuais do sujeito do conhecimento (a
estrutura do pensamento).
Desde a Grécia antiga considerou-se a matemática uma ciência baseada na
intuição intelectual de verdades absolutas, existentes em si e por si mesmas, sem
depender de qualquer interferência humana. Os axiomas, as figuras geométricas,
os números e as operações aritméticas, os símbolos e as operações algébricas eram
considerados verdades absolutas, universais, necessárias, que existiriam com ou
sem os homens e que permaneceriam existindo mesmo se os humanos
desaparecessem (para muitos filósofos, a matemática chegou a ser considerada a
ciência divina por excelência). No entanto, desde o século XIX passou-se a
considerar a matemática uma ciência que resulta de uma construção intelectual,
uma invenção do espírito humano, sem que suas entidades sejam existentes em si
e por si mesmas. Os entes matemáticos são puras idealidades construídas pelo
intelecto ou pelo pensamento, que formula um conjunto rigoroso de princípios,
regras, normas e operações, para a criação de figuras, números, símbolos, cálculos,
etc.
Desta maneira, a matemática surgia como um ramo da lógica, cabendo ao
alemão Frege e aos ingleses Bertrand Russell e Alfred Whitehead prosseguir o
trabalho de Peano (que realizou um estudo sobre a aritmética dos números
cardinais finitos demonstrando que estes poderiam ser derivados de cinco
axiomas ou proposições primitivas e de três termos não definíveis – zero,
138
Filosofia e Lógica
número e sucessor de), oferecendo as definições lógicas dos três termos que o
matemático italiano julgara indefiníveis. Frege ofereceu o primeiro conceito de
sistema formal e os primeiros exemplos do cálculo de proposições e de predicados.
A matemática é uma ciência de formas e cálculos puros organizados numa
linguagem simbólica perfeita, na qual cada signo é um algoritmo, isto é, um
símbolo com um único sentido. É elaborada pelo espírito humano e não um
pensamento intuitivo que contemplaria entidades perfeitas e eternas, existentes
em si e por si mesmas.
Ora, se o pensamento constrói seus próprios objetos, em vez de descobri-los
ou contemplá-los, essa construção, segundo os próprios matemáticos, faz com que
a matemática deva ser entendida como um discurso ou como uma linguagem que
obedece a certos critérios e padrões de funcionamento. Assim sendo, a lógica
adotou para si o modelo de um discurso ou de uma linguagem que lida com puras
formas sem conteúdo e tais formas são símbolos de tipo matemático ou
algoritmos.
LEITURA COMPLEMENTAR:
COPI, Irving. Introdução à lógica. 2ª Edição. São Paulo: Mestre Jou, 1974.
488p.
É HORA DE SE AVALIAR!
Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de estudo. Elas
irão ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo
de ensino-aprendizagem.
Percebeu como o estudo da lógica é importante? Através dessa disciplina,
podemos obter um raciocínio correto, seja quando estamos escrevendo seja
quando estamos argumentando um problema qualquer. Espero que você tenha
compreendido esses conceitos fundamentais da lógica. Caso queira se aprofundar
mais nesse assunto, recomendo que você recorra à leitura complementar indicada.
Bom estudo! Até a próxima unidade.
139
Filosofia e Lógica
Exercícios – unidade 8
1. O que podemos entender o estudo da lógica?
a)
A lógica pode ser compreendida como a ciência que tem como objeto
determinar, por entre todas as operações intelectuais que tendem para o
conhecimento do verdadeiro, as que são válidas e as que não são.
b)
A lógica pode ser compreendida como uma conferência que tem como
objeto determinar, por entre todas as operações intelectuais que tendem
para o conhecimento do verdadeiro, as que são válidas e as que não são.
c)
A lógica pode ser compreendida como uma tendência moderna que tem
como objeto determinar, por entre todas as operações intelectuais que
tendem para o conhecimento do verdadeiro, as que são válidas e as que
não são.
d)
A lógica pode ser compreendida como uma conferência que tem como
objeto catalogar, por entre todas as operações intelectuais que tendem
para o conhecimento do verdadeiro, as que são válidas e as que não são.
e)
A lógica pode ser compreendida como uma conferência que tem como
iniciativa coletiva determinar, por entre todas as operações intelectuais que
tendem para o conhecimento do verdadeiro, as que são válidas e as que
não são.
2. O que significa dizer que a Lógica ocupa-se fundamentalmente com o aspecto
formal de um raciocínio ou de um argumento?
a)
Porque a Lógica tem como objetivo a preocupação com a emancipação
disforme e a estrutura do pensamento e não o seu conteúdo.
b)
Porque a Lógica tem como objetivo a preocupação com a forma e a
estrutura do pensamento e não o seu conteúdo.
c)
Porque a Lógica tem como objetivo a preocupação com a ligação disforme
e a estrutura do pensamento e não o seu conteúdo.
d)
Porque a Lógica tem como objetivo a preocupação com a iniciação
disforme e a estrutura do pensamento e não o seu conteúdo.
e)
Porque a Lógica tem como objetivo o exame da confecção do silogismo e a
estrutura do pensamento e não o seu conteúdo.
140
Filosofia e Lógica
3. Qual das alternativas a seguir implica em uma definição da compreensão de um
conceito?
a)
Refere-se à amplitude do conceito quanto às particularidades.
b)
É o conteúdo do ato mental de raciocinar.
c)
O conjunto de características que dizem respeito ao significado de um
conceito, contrariamente às coisas que o conceito designa.
d)
Refere-se ao conteúdo dos atos mentais.
e)
Designa uma nota do conteúdo do ato mental de raciocinar.
4. Identifique no silogismo a seguir qual é a premissa maior.
Existem biscoitos feitos de água e sal.
O mar é feito de água e sal.
Logo, o mar é um grande biscoito.
a)
O mar é feito de água e sal.
b)
Logo.
c)
“Existem biscoitos feitos de água e sal”.
d)
Água e sal.
e)
Logo, o mar é um grande biscoito.
5. Que tipo de raciocínio expressa o seguinte silogismo?
O ferro conduz eletricidade
O ouro conduz eletricidade
O cobre conduz eletricidade
Logo, todos os metais conduzem eletricidade.
141
Filosofia e Lógica
a)
Raciocínio indutivo.
b)
Raciocínio dedutível
c)
Raciocínio dedutivo.
d)
Raciocínio gramático.
e)
Falácia conceitual.
6. Dentre as questões a seguir, qual delas caracteriza corretamente “o princípio da
não-contradição”?
a)
Postula que três conceitos são ilusórios quando não podem ser e não são
ao mesmo tempo, quando analisados de um mesmo ponto de referência.
b)
Postula que dois conceitos são invariáveis quando podem ser e não são ao
mesmo tempo, quando analisados de um mesmo ponto de referência.
c)
Postula que duas consciências são contraditórias quando não podem se
refletir ao mesmo tempo, quando analisados de um mesmo ponto de
referência.
d)
Postula que dois conceitos são contraditórios quando podem ser e não ser
ao mesmo tempo, quando analisados de um mesmo ponto de referência.
e)
Postula que dois conceitos são contraditórios quando não podem ser e não
são ao mesmo tempo, quando analisados de um mesmo ponto de
referência.
7. Qual das alternativas abaixo não se refere à “compreensão de um conceito” na
lógica?
a)
Também denominada de conotação.
b)
Também denominada de intensão.
c)
Diz respeito à sua amplitude quanto às notas que o constituem e o
caracterizam.
d)
Refere-se à amplitude do conceito quanto às particularidades.
e)
Conjunto de características que dizem respeito ao significado de um
conceito, contrariamente às coisas que o conceito designa.
142
Filosofia e Lógica
8. Das seguintes alternativas, qual corresponde à caracterização correta de
Raciocinar?
a)
Ato pelo qual o espírito opõe-se à matéria.
b)
Ato pelo qual se deriva um juízo a partir de um ou mais juízos.
c)
Ato pelo qual o diálogo se converte em espírito.
d)
Ato pelo qual a concepção de ato conduz a concepção de espírito.
e)
Ato pelo se deriva uma inferência a partir de uma consequência.
9. A Lógica Formal considerou alguns princípios fundamentais. Tais princípios, nos
quais toda a Lógica é baseada, são básicos e elementares. Quais são eles?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
10. Quais são as três operações intelectuais do Espírito segundo a Lógica clássica
aristotélica?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
143
Filosofia e Lógica
144
Filosofia e Lógica
9
A epistemologia e a
filosofia da ciência
A questão inicial da Filosofia da ciência.
A classificação das ciências.
A neutralidade da ciência.
O cientificismo e a ideologia da ciência.
145
Filosofia e Lógica
Nesta unidade aprenderemos que a Filosofia da Ciência procura identificar as
peculiaridades da ciência e descobrir em que operações da razão ela fundamenta
suas técnicas, seus procedimentos de pesquisa e, consequentemente, seus
resultados.
Objetivos da unidade:
Examinar a constituição da Epistemologia e da Filosofia da Ciência.
Fornecer uma apreciação mais ampla dos argumentos que transformaram o
debate sobre a ciência numa discussão sobre os valores e o compromisso do
conhecimento científico para com a sociedade.
Plano da unidade:

A questão inicial da Filosofia da ciência.

A classificação das ciências.

A neutralidade da ciência.

O cientificismo e a ideologia da ciência.
Bem-vindo à nona unidade de estudo.
Bons estudos!
146
Filosofia e Lógica
A questão inicial da filosofia da ciência
A Filosofia da Ciência enquanto uma especificação da filosofia destacou-se no
final do século XIX, a partir da polêmica travada entre William Whewell e John
Stuart Mill. A preocupação central da Filosofia da Ciência diz respeito à reflexão
crítica sobre os fundamentos do saber científico. Em outras palavras, diz-se que a
Filosofia da Ciência ou Epistemologia busca constituir uma “teoria do
conhecimento científico”. No entanto, podemos a partir desse tema geral,
desdobrá-lo em uma série de problemas que são discutidos pelos filósofos da
ciência ao longo dos tempos, tais como:

A preocupação acerca do método de investigação científica;

A questão sobre a classificação das ciências;

A natureza e as especificidades das teorias científicas;

A questão acerca do papel da ciência e a sua utilidade na sociedade.
A Filosofia da Ciência pode ser dividida em duas grandes áreas: a
epistemologia da ciência e a metafísica da ciência. (1) A epistemologia da ciência
discute a justificação e a objetividade do conhecimento científico. (2) A metafísica
da ciência discute aspectos filosoficamente problemáticos da realidade
desvendada pela ciência. Podemos dizer que a filosofia da ciência possui como
expressão máxima as reflexões dos filósofos Thomas Kuhn e Karl Popper. As
questões levantadas por estes filósofos acerca dos problemas da ciência podem ser
resumidas na seguinte reflexão de Gilles-Gaston Granger:
147
Filosofia e Lógica
A ciência é uma das mais extraordinárias criações do homem, ao
mesmo tempo pelos poderes que lhe confere e pela satisfação
intelectual e até estética que suas explicações proporcionam. No
entanto, ele não é lugar de certezas absolutas e, exceto nas
matemáticas, nas quais sabemos exatamente as condições em que
um teorema é verdadeiro, o conhecimento científico é
necessariamente parcial e relativo. É limitado o campo em que a
visão científica do conhecimento pode legitimamente conhecer?
Devemos traçar fronteiras à ciência? A resposta é não, no sentido de
que nenhuma razão derivada da natureza da ciência obrigue a se
delimitar seu campo de investigação. No entanto, nem toda espécie
de fenômeno lhe é igualmente acessível. O obstáculo único, mas
radical, me parece ser a realidade individual dos acontecimentos e
dos seres. O conhecimento científico exerce-se plenamente quando
pode neutralizar essa individuação, sem gerar gravemente seu
objeto, como acontece em geral nas ciências da natureza. (...) Por
outro lado, a ciência não se propõe de modo algum resolver as
questões que envolvem escolhas de valor. Vimos que ela própria
levanta problemas éticos; sem dúvida, ela deve contribuir para nos
informar e nos esclarecer a respeito desses problemas, mas
absolutamente não seria capaz de resolvê-los. O erro mais grave
sobre esse ponto consistiria em transformar conhecimentos positivos
cientificamente estabelecidos em preceitos de escolha e de ação.
(GRANGER, 1994, pp. 113-114).
Essas dentre muitas questões são, portanto, o objeto de discussão da filosofia
da ciência. A seguir, iremos examinar alguns desses problemas e discussões acerca
dos fundamentos do saber científico.
148
Filosofia e Lógica
2- A classificação das ciências
Desde os tempos áureos da Filosofia, os filósofos possuem a preocupação de
elaborar uma classificação geral das ciências. A primeira classificação sistemática
das ciências se deve a Aristóteles. Aristóteles empregou três critérios para
classificar os saberes:

Critério da ausência ou de presença da ação humana. Levando em conta
esse aspecto, Aristóteles estabeleceu uma distinção entre ciências
teoréticas, ou seja, as ciências que tem como objetivo o conhecimento
puro e racional do mundo. Ex.: Física, matemática, biologia, etc. As
ciências práticas, as que possuem como objetivo o conhecimento de
princípios instrumentais a serem aplicados no comportamento social e
intelectual do homem. Ex.: Moral, política, lógica;

Critério de imutabilidade e permanência: nesse critério, Aristóteles
estabelece uma distinção entre metafísica, física ou ciências da natureza e
a matemática;

Critério de praticidade: Nesse, Aristóteles distingue as ciências que tem
por objeto a práxis (a ação ética e política) das ciências técnicas (a
fabricação de objetos artificiais).
Uma outra interessante classificação das ciências nos é fornecida pelo filósofo
do século XIX Auguste Comte. Ele propôs uma classificação das ciências baseada
no critério do grau de simplicidade ou generalidade dos fenômenos investigados.
Para este filósofo, era necessário partir da investigação dos fenômenos mais gerais
ou simples, até atingir os fenômenos particulares. Assim, de acordo com esse
princípio, as ciências são classificadas em cinco grupos: astronomia, física, química,
biologia e sociologia.
149
Filosofia e Lógica
Diferentemente de Aristóteles e Auguste Comte, o filósofo contemporâneo
Carl Hempel classificou as ciências em dois grandes grupos:

Ciências empíricas: são aquelas que procuram descobrir, descrever e
explicar as ocorrências do mundo em que vivemos. As afirmações dessas
ciências, diz Hempel, devem ser confrontadas com os fatos de nossa
experiência;

Ciências não-empíricas: são aquelas que dispensam a referência à
experiência. Estas se desenvolvem no plano da abstração e do raciocínio.
Ex.: a lógica e a matemática. Por sua vez, as ciências empíricas dividem-se
em ciências naturais e ciências sociais ou ciências humanas. Para Hempel,
as ciências naturais são aquelas que estudam o conjunto de seres e
coisas, orgânicas e inorgânicas, que compõem a natureza. São exemplos
de ciências naturais: a física, a química, a biologia, etc. Por outro lado, as
ciências sociais estudam as relações do homem consigo mesmo, com os
outros homens e com a natureza. Exemplos desse tipo de ciência são:
sociologia, economia, antropologia e história.
Bem, com base nesses três exemplos de filósofos e suas teorias classificatórias,
você possui subsídios suficientes para compreender as distinções entre as ciências
e os seus limites de atuação.
3- A neutralidade da ciência
Segundo Chauí (2005, p. 235),
Como a ciência se caracteriza pela separação e pela distinção
entre o sujeito do conhecimento e o objeto e por retirar dos
objetos de conhecimento os elementos subjetivos; como os
procedimentos científicos de observação, experimentação e
interpretação procuram alcançar o objeto real ou o objeto
construído como modelo aproximado do real. Enfim, como os
resultados obtidos por uma ciência não dependem da boa ou
má vontade do cientista nem de suas paixões, estamos
convencidos de que a ciência é neutra ou imparcial.
150
Filosofia e Lógica
Mesmo tendo esta visão como predominante, a ciência em nada pode ser
caracterizada como neutra ou desinteressada. Essa visão é uma ilusão, pois quando
o cientista define o seu objeto de investigação ou conhecimento ou decide usar
um ou outro método em sua investigação para obter um resultado esperado, sua
atividade não é neutra nem parcial. A neutralidade da ciência diz respeito aos
valores morais e sociais que, em tese, não influenciariam os cientistas em seu
trabalho de pesquisa e investigação. Neste caso, o conhecimento científico seria
considerado neutro por não atender a nenhum valor particular, podendo suas
práticas serem realizadas sem a influência de qualquer valor, não serviriam a
nenhum interesse específico. No entanto, como vimos acima, parece que a ciência
não procede dessa maneira. De fato, vamos investigar alguns procedimentos
científicos, tais como os exemplos que forneceremos a seguir conforme a filósofa
Marilena Chauí (2005, p. 235), ilustra que a neutralidade e imparcialidade da ciência
é um mito:

“O racismo não é apenas uma ideologia social e política. É também uma
teoria que se pretende científica, apoiada em observações, dados e leis
conseguidas com a biologia, a psicologia, a sociologia. É uma certa
maneira de construir tais dados, de sorte a transformar diferenças étnicas
e culturais em diferenças biológicas naturais imutáveis e separar os seres
humanos em superiores e inferiores, dando aos primeiros justificativas
para explorar, dominar e mesmo exterminar os segundos”;
151
Filosofia e Lógica

“Por que Copérnico teve que esconder os resultados de suas pesquisas e
Galileu foi forçado a comparecer perante a Inquisição e negar que a Terra
se movia ao redor do Sol? Porque a concepção astronômica geocêntrica
(elaborada, na Antiguidade, por Ptolomeu e Aristóteles) permitia que a
Igreja Romana mantivesse a ideia de que a realidade é constituída por
uma hierarquia de seres, que vão dos mais perfeitos – os celestes – aos
mais imperfeitos – os infernais – e que essa hierarquia colocava a Igreja
acima dos imperadores, estes acima dos barões e estes acima dos
camponeses e servos”;

“Se a astronomia demonstrasse que a Terra não é o centro do Universo e
que o Sol não é apenas uma perfeição imóvel, e se a mecânica galileana
demonstrasse que todos os seres estão submetidos às mesmas leis do
movimento, então as hierarquias celestes, naturais e humanas perderiam
legitimidade e fundamento, não precisando ser respeitadas. A física e a
astronomia pré-copernicanas (elaboradas por Ptolomeu e Aristóteles)
serviam – independentemente da vontade de Ptolomeu e de Aristóteles,
é verdade – a uma sociedade e a uma concepção do poder que se viram
ameaçadas por uma nova concepção científica”;

“Um último exemplo pode ser dado através da antropologia. Durante
muito tempo, os antropólogos afirmaram que havia duas formas de
pensamento cientificamente observáveis e com leis diferentes: o
pensamento lógico-racional dos civilizados (europeus brancos adultos) e
o pensamento pré-lógico e pré-racional dos selvagens ou primitivos
(africanos, índios, tribos australianas). O primeiro era considerado
superior, verdadeiro e evoluído; o segundo, inferior, falso, supersticioso e
atrasado, cabendo aos brancos europeus “auxiliar” os selvagens
“primitivos” a abandonar sua cultura e adquirir a cultura “evoluída” dos
colonizadores”.
152
Filosofia e Lógica
Enfim, esses exemplos ilustram que não têm como aceitar a neutralidade e a
imparcialidade da ciência como se fosse possível compreender que o
conhecimento científico é um “saber pelo saber”, ou seja, completamente
desinteressado. Os valores morais e sociais influenciam de tal forma as escolhas das
pesquisas, ao privilegiar umas em detrimentos de outras, o que torna impossível
considerar a ciência neutra e imparcial. Portanto, é uma ilusão conceber que o
cientista esteja imune à influência do contexto social em que está inserido. Assim, a
ciência se encontra fundamentalmente envolvida na moral e na política, pelas
quais se evidencia o comprometimento e a responsabilidade social do cientista das
quais ele não pode abdicar.
4- O cientificismo e a ideologia da ciência
Segundo Chauí (2005, p. 235),
O senso comum, ignorando as complexas relações entre as
teorias científicas e as técnicas, entre ciência pura e ciência
aplicada, entre teoria e prática e entre verdade e utilidade,
tende a identificar as ciências com os resultados de suas
aplicações. Essa identificação desemboca numa atitude
conhecida como cientificismo, isto é, fusão entre ciência e
técnica e a ilusão da neutralidade científica.
O cientificismo é a crença segundo a qual a ciência pode e deve conhecer tudo
e que seu procedimento é perfeito, ou seja, a ciência é considerada o único
conhecimento possível e o método das ciências da natureza é o único capaz de
explicar todas as ocorrências da realidade. O cientificismo, diz Chauí (2005, p. 235)
“(...) desemboca numa ideologia e numa mitologia da ciência. O que é a ‘ideologia
da ciência’ e ‘mitologia da ciência’?

A Ideologia da ciência: Crença no progresso e na evolução dos
conhecimentos que, um dia, explicarão totalmente a realidade e
permitirão manipulá-la tecnicamente, sem limites para a ação
humana;
153
Filosofia e Lógica

A Mitologia da ciência: Crença na ciência como se fosse magia e
poderio ilimitado sobre as coisas e os homens, dando-lhe o lugar que
muitos costumam dar às religiões, isto é, um conjunto doutrinário de
verdades intemporais, absolutas e inquestionáveis.
IMPORTANTE
Pode-se dizer que a ideologia e a mitologia cientificistas encaram a
ciência não pelo prisma do trabalho do conhecimento, mas pelo prisma
dos seus resultados específicos, como também uma forma velada de poder social e
de controle do pensamento. Sendo assim, aceitam a “ideologia da competência”,
ou seja, a ideia de que na sociedade existem dois grupos: os que sabem e os que
não sabem. Os primeiros são competentes e possuem o direito de mandar e de
exercer poderes; os demais são vistos como incompetentes e, por isso, devem
obedecer e ser mandados. Enfim, a sociedade sob este ordenamento possui certa
estrutura através da qual deve ser dirigida e comandada pelos que “sabem” e os
demais devem executar as tarefas que lhes são ordenadas por quem tem o “saber”.
154
Filosofia e Lógica
Podemos concluir o nosso estudo com a seguinte reflexão:
Além de fazer parte essencial da atividade econômica, a ciência
também passou a fazer parte do poder político. Não é por
acaso, por exemplo, que governos criem ministérios e
secretarias de ciência e tecnologia e que destinem verbas para
financiar pesquisas civis e militares. Do mesmo modo que as
grandes empresas financiam pesquisas e até criam centros e
laboratórios de investigação científica, assim também os
governos determinam quais as ciências que irão ser
desenvolvidas e, nelas, quais as pesquisas que serão
financiadas. Essa nova posição das ciências na sociedade
contemporânea, além de indicar que é mínimo ou quase
inexistente o grau de neutralidade e de liberdade dos cientistas,
indica também que o uso das ciências define os recursos
financeiros que nelas serão investidos. A sociedade, porém, não
luta pelo direito de interferir nas decisões de empresas e
governos quando estes decidem financiar um tipo de pesquisa
em vez de outra. Dessa maneira, o campo científico torna-se
cada vez mais distante da sociedade sem que esta encontre
meios para orientar o uso das ciências, pois este é definido
antes do início das próprias pesquisas e fora do controle que a
sociedade poderia exercer sobre ele. (CHAUÍ, 2005, p. 235).
LEITURA COMPLEMENTAR:
ALVES,
RUBEM.
Filosofia
da
Ciência.
Brasiliense,1995. 224 pág.
155
21ª Ed.
São
Paulo:
Filosofia e Lógica
É HORA DE SE AVALIAR!
Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de estudo. Elas
irão ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo
de ensino-aprendizagem.
Terminamos mais uma unidade. Você compreendeu alguns problemas que a
filosofia da ciência reflete e discute. Notou como os problemas são importantes e
atuais? Pois bem, agora você está apto a se aprofundar um pouco mais sobre esses
assuntos, consultando a leitura complementar recomendada. Claro, sinta-se à
vontade caso queira investir em outras fontes no seu aprofundamento sobre a
filosofia da ciência. Então, procure a biblioteca do seu campus e siga em frente! Até
a próxima unidade!
156
Filosofia e Lógica
Exercícios – unidade 9
1. Complete a frase a abaixo.
“Pode-se dizer que a _____ e a ______ cientificistas encaram a ciência não pelo
prisma do trabalho do ______, mas pelo prisma dos seus resultados específicos,
como também, uma forma velada de ______ e de controle do pensamento”.
a)
Ciência, técnica, conceito, poder social.
b)
Ideologia, mitologia, conhecimento, poder social.
c)
Ideologia, técnica, conhecimento, poder social.
d)
Ciência, mitologia, conceito, poder social.
e)
Ideologia, técnica, conceito, poder social.
2. Quais são os dois grandes grupos em que o filósofo contemporâneo Carl Hempel
classifica as ciências?
a)
Ciências teoréticas e ciências materiais.
b)
Ciências empíricas e ciências naturalizadas.
c)
Ciências materiais e ciências práticas.
d)
Ciências empíricas e ciências não-empíricas.
e)
Ciências da saúde e ciências humanas.
3. Poderíamos dizer que a filosofia da ciência subdivide-se em duas áreas
fundamentais. Quais são elas?
a)
A epistemologia da ciência e a filosofia da metafísica.
b)
A epistemologia da ciência e a espectrologia da decência.
c)
A epistemologia da ciência e a metafísica da ciência.
d)
A epistemologia da ciência e a operatividade das hipóteses.
e)
A epistemologia da ciência e a pós-metafísica da ciência.
157
Filosofia e Lógica
4. Qual das seguintes alternativas abaixo caracteriza a epistemologia da ciência?
a)
Discute a inativação e a subjetividade do conhecimento científico.
b)
Discute a justificação e a inutilidade do conhecimento científico.
c)
Discute a ausência de subjetividade no conhecimento científico.
d)
Discute a justificação e a objetividade do conhecimento científico.
e)
Discute a justificação e a incompetência do conhecimento científico.
5. Qual o significado da “ideologia da competência”?
a)
É a idéia de que na sociedade existem dois grupos: os alunos e os professores.
b)
É a idéia de que na sociedade existem dois grupos: os que sabem e os que não
sabem.
c)
É a idéia de que na universidade existem dois grupos: os que sabem e os que
não sabem.
d)
e)
É a idéia de que na sociedade não existem grupos diferenciados.
É a idéia de que na sociedade possam existir dois grupos: os que não sabem e
os que desejam saber cada vez mais.
6. Complete a frase a abaixo.
“A _____, porém, não luta pelo direito de _____ nas decisões de empresas e
governos quando estes decidem ______ um tipo de pesquisa em vez de outro”.
a)
Sociedade, interferir, comprar.
b)
Sociedade, se omitir, comprar.
c)
Sociedade, interferir, financiar.
d)
Sociedade, refletir, financiar.
e)
Sociedade, monitorar, conquistar.
158
Filosofia e Lógica
7. Qual o significado correto de ‘cientificismo’?
a)
É a crença segundo a qual a ciência pode e deve conhecer tudo e que seu
procedimento é desnecessário.
b)
É a crença segundo a qual a ciência pode e deve conhecer tudo e que seu
procedimento é perfeito.
c)
É a crença segundo a qual a ciência pode e deve desconhecer tudo e que seu
procedimento é imperfeito.
d)
É a crença segundo a qual a ciência pode e deve conhecer tudo e que seu
procedimento é imperfeito.
e)
É a crença segundo a qual a ciência não pode e não deve conhecer tudo e que
seu procedimento é perfeito.
8. O que significa “mitologia da ciência”?
a)
Crença na ciência como se fosse magia e poderio ilimitado sobre as coisas e os
homens, dando-lhe o lugar que muitos costumam dar às religiões, isto é, um
conjunto doutrinário de verdades intemporais, absolutas e inquestionáveis.
b)
Crença na religião como se fosse tecnologia e poderio ilimitado sobre as
coisas e os homens, dando-lhe o lugar que muitos costumam dar às religiões,
isto é, um conjunto doutrinário de verdades intemporais, absolutas e
inquestionáveis.
c)
Crença na moral como se fosse tecnologia e poderio limitado sobre as coisas e
os homens, dando-lhe o lugar que muitos costumam dar às religiões, isto é,
um conjunto doutrinário de verdades intemporais, absolutas e
inquestionáveis.
d)
Crença na não-ciência como se fosse magia e poderio ilimitado sobre as coisas
e os homens, dando-lhe o lugar que muitos costumam dar às religiões, isto é,
um conjunto doutrinário de verdades intemporais, absolutas e
inquestionáveis.
e)
Crença na ciência como se fosse magia e poderio limitado sobre as coisas e os
homens, dando-lhe o lugar que muitos costumam dar à tecnologia, isto é, um
conjunto doutrinário de verdades intemporais, absolutas e inquestionáveis.
159
Filosofia e Lógica
9. A primeira classificação sistemática das ciências se deve a Aristóteles. Quais são
os três critérios que este utilizou para classificar os saberes?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
10. Qual é a diferença fundamental entre as Ciências Empíricas e as Ciências Nãoempíricas?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
160
Filosofia e Lógica
10
A filosofia moral: ética,
moral e valores
humanos
Os valores morais: O argumento principal da Filosofia Moral.
A Moralidade e o seu campo de atuação.
A Ética e o seu campo de atuação.
A Liberdade como um problema ético e moral.
161
Filosofia e Lógica
Esta unidade visa abordar um tema muito importante em nossa época, a
questão da ética e da moral. O que é ética? O que é moral? As respostas para essas
questões podem ser vislumbradas por intermédio da distinção fundamental entre
ética e moral. Então, vamos examinar o que esses conceitos significam?
Objetivos da unidade:
Constituir uma reflexão sobre o significado dos conceitos de ética e moral;
Compreender o significado dos valores morais, para a partir desses, examinar
os conceitos de moral e de ética.
Plano da unidade:

Os valores morais: O argumento principal da Filosofia Moral.

A Moralidade e o seu campo de atuação.

A Ética e o seu campo de atuação.

A Liberdade como um problema ético e moral.
Bem-vindo à décima unidade de estudo.
Bons estudos!
162
Filosofia e Lógica
1Os valores morais: o argumento principal da filosofia
moral
O seguinte texto é do Filósofo Nowell-Smith (1966, p.11-12,). Vejamos como
ele expõe a sua conceituação sobre os valores:
Imagine-se que alguém me pedisse um código moral por onde
pautar a sua vida. Eu responderia como Aristóteles fez – “Não
posso dar-lhe um código; observe os homens melhores e mais
sábios que você possa encontrar e imite-os.
Bem, podemos perceber na citação acima que a questão dos valores possui
uma correspondência direta entre a conduta a ser seguida por alguém. Ora, mas
como avaliar se a conduta de alguém merece ou não ser seguida? Assim, como na
citação do Filósofo Nowell-Smith sobre Aristóteles: como posso saber quem é sábio
ou mais sábio para que eu possa me espelhar ou imitar?
IMPORTANTE
Essa é uma questão que diz respeito ao ato humano de valorar as
coisas. O âmbito dos valores faz parte da existência humana. O ato de
valorar é uma constante entre nós. Estamos a todo o momento fazendo avaliações
sobre as coisas e pessoas que nos cercam. Por exemplo: “Este computador é lento,
não corresponde ao que espero” ou “Esta disciplina é muito atrativa”, ainda mais
“Acho que o Presidente da República agiu corretamente ao pronunciar aquelas
palavras” e “Prefiro comprar um carro novo a viajar para a Europa”. Essas
afirmações se referem aos juízos que fazemos da realidade. Quando nos referimos
ao computador ou a esta disciplina, ao pronunciamento do Presidente da
República e ao escolher a compra de um carro do que a viajem, estamos emitindo
“juízos de valor” sobre a realidade, atribuindo uma qualidade que desperta a nossa
atração ou repulsão sobre uma determinada coisa, opinião, etc.
163
Filosofia e Lógica
Nesse momento, você deve estar se perguntando: afinal, qual é a relação entre
a questão dos valores e a filosofia? A questão dos valores é objeto de estudo da
axiologia (em grego: axios que dizer valor e logos significa estudo), que é um ramo
particular da filosofia. A axiologia é uma teoria ou uma investigação acerca dos
valores. De uma maneira geral, o conceito de valor designa o caráter valioso de
algo que nos desperta uma afetividade ou uma repulsão.
Os valores morais são, portanto, juízos sobre as ações humanas que se
baseiam em definições do que é bom ou mau, ou do que é o bem ou o mal. Eles
são imprescindíveis para que possamos guiar nossa compreensão do mundo e de
nós mesmos e servem de parâmetros pelos quais fazemos escolhas e orientamos
nossas ações. Os valores morais servem justamente para orientar as pessoas no
momento de escolhas e de construção de suas existências. Como a ação humana é
aberta e não inteiramente determinada, toda comunidade humana precisa criar
valores que permitam distinguir os comportamentos desejados e bons dos
indesejados e maus. Do mesmo modo, toda sociedade promove uma reflexão
crítica sobre seus valores morais e suas ações práticas reais.
Assim, todos nós fazemos apreciações morais e nos colocamos indagações
sobre o que é bom e mau. Por essa razão, todos possuem valores morais e não
há ninguém sem ética. O que acontece, com frequência, é que os valores variam
entre pessoas e grupos, que são diferentes e, muitas vezes, podem questionar ou
mesmo agredir nossas convicções do que é certo ou justo, bom ou mal.
2- A moralidade e o seu campo de atuação
Segundo Aranha, M. L. A. e Martins, M. H. P (1995, p. 301)
Os conceitos de moral e ética, ainda que
diferentes, são com frequência usados
como sinônimos. Aliás, a etimologia dos
termos é semelhante: moral vem do
latim ‘mos’, que significa “costume”,
“maneira de comportar-se regulada
pelo uso”, e de moralis, morale, adjetivo
referente ao que é relativo aos
“costumes”. Ética vem do grego ethos, que tem o mesmo
significado de “costume.
164
Filosofia e Lógica
Apesar de serem conceitos aparentemente idênticos, ética e moral possuem
diferenças fundamentais. O ato de perceber os valores, de avaliar as nossas ações
de acordo com o que é bom e o que é mal, ou quais são justas e injustas, corretas
ou não é o que de certa forma diferencia o comportamento humano do
comportamento animal. Para o animal, o campo da moralidade é inacessível, pois
seu comportamento é guiado pelos seus instintos imediatos. Os seres humanos,
por sua vez, possuem a consciência moral, ou seja, a “faculdade de observar a
própria conduta e formular juízos sobre os atos passados, presentes e as
intenções futuras” (COTRIM, 1993, p. 214). Dessa forma, depois de emitir um juízo
de valor, os seres humanos têm a capacidade de escolher através de um cálculo de
consequências decorrentes do que será feito. É exatamente isto que constitui a
consciência moral, ou seja, um conjunto de exigências e prescrições que os seres
humanos reconhecem como válidas para a orientação da sua escolha. É a própria
consciência que discerne o valor moral dos nossos atos.
Ao longo da história da humanidade, a consciência moral foi responsável
direta pelo desenvolvimento do que se denomina moralidade. De uma maneira
geral, podemos considerar a moral como um conjunto de condutas que indica qual
deve ser o comportamento dos homens em um determinado contexto ou em um
grupo social.
A moral - uma das formas de consciência social - é o reflexo das condições da
vida material da sociedade sob determinadas normas de conduta dos homens.
Podemos dizer que toda cultura e cada sociedade instituem uma moral, ou seja,
valores concernentes ao bem e ao mal, ao permitido e ao proibido, e à conduta
correta, válidos para todos os seus membros. “Culturas e sociedades fortemente
hierarquizadas e com diferenças muito profundas de castas ou de classes podem
até mesmo possuir várias morais, cada uma delas referida aos valores de uma casta
ou de uma classe social”. (CHAUÍ, 2005) Contudo, não se pode dizer que a simples
existência da moral não significa a presença explícita de uma ética, entendida
como filosofia moral, isto é, uma reflexão que discuta, problematize e interprete o
significado dos valores morais. Então, vamos analisar o conceito de ética?
165
Filosofia e Lógica
A ética e o seu campo de atuação
A experiência moral é comum a todos os homens, em
todas as sociedades. Entretanto, nem todos são capazes
de desenvolver uma crítica do conteúdo da moral. Essa é,
portanto, tarefa da ética.
Como vimos anteriormente, muitos empregam
indiscriminadamente os termos moral e ética. No âmbito
da Filosofia, tais termos são vistos como distintos. Uma
breve exposição da etimologia desses dois termos torna
as suas diferenças mais claras. O conceito de ética provém
do grego éthos. Quando escrito com “e” breve, significa
hábito,
enquanto
que
com
“e”
longo
significa
Ética: é uma disciplina
filosófica que, a partir
de uma determinada
ideia de bem, tem por
objeto uma elaboração
teórico-crítica acerca da
conduta humana no
contexto social e a
análise do conjunto das
condições necessárias
para que uma
experiência moral
qualquer possa ocorrer.
“propriedade ou caráter”. Nas suas investigações sobre as
questões do bem e do mal, da virtude e do vício, Aristóteles empregou Ethiké com
sentido de reflexão sobre as “propriedades do caráter”. Se por moral entende-se a
reunião de costumes e hábitos de um indivíduo ou um povo, orientada por um
princípio geral do que é “bem”, ao contrário desta, a ética deve ser entendida como
um conjunto de regras avaliadas com rigor e consciência crítica. Isto significa que a
ética se preocupa com uma rigorosa avaliação sobre o que é o bem e o mal,
buscando indicar quais os caminhos o homem pode realizar enquanto agente do
bem. Assim, se a moral indica os costumes de um determinado grupo social, a ética
questionará e teorizará o que é justo sobre o agir adequado a uma determinada
situação, na qual se realize o bem e se evite o mal.
166
Filosofia e Lógica
Ao abordar o primeiro aspecto, a ética considera de que modo, nas mais
diversas sociedades, os homens vivem concretamente seus valores morais,
apontando suas fraquezas e enaltecendo suas realizações. No segundo aspecto, a
ética desenvolve uma análise sobre as condições necessárias para que um ato
humano qualquer possa ser introduzido no âmbito da moral ou da ética e, com
isso, avaliado como bom ou mal, justo ou injusto, moral ou amoral. Além disso,
cabe à ética a análise do conjunto das condições necessárias para que a
experiência ética pessoal possa ocorrer de maneira absoluta. Enquanto a moral
está associada ao agir concreto, a ética vincula-se também à teorização sobre os
valores e a conduta moral, discutindo a questão do bem e do mal. Em outras
palavras, enquanto a moral envolve exclusivamente a prática, a ética pode se
referir tanto à prática quanto à teoria sobre a mesma.
Dessa forma, para que um determinado ato possa ser avaliado sob o ponto de
vista da ética, ele deve ser livre, consciente e orientado por alguma norma. A partir
daí, o ato humano pode ser classificado como moral, imoral, amoral e não-moral.
Vamos descrevê-los:
167
Filosofia e Lógica
A liberdade como um problema ético e moral
IMPORTANTE
Todas essas possibilidades, no entanto, podem dar a impressão de
que vivemos em grande liberdade, mas isso é relativo. Há uma série de
circunstâncias que acontecem conosco e nas quais nos vemos envolvidos sem que
as tenhamos escolhido. Por essa razão, podemos afirmar que a vida social instaura
a construção histórica e sempre relativa da liberdade.
Desse modo, embora nossa liberdade tenha limites, é possível afirmar que
nossas condutas não são inteiramente determinadas de fora e jamais temos apenas
uma alternativa a seguir. Nossa capacidade de interpretar o mundo e orientar
nossas ações no tempo nos dá, a cada instante, um leque de possibilidades para
novos arranjos de vida.
Sendo assim, não podemos evitar nossa liberdade relativa, nem suas
consequências. Portanto, nós precisamos, necessariamente, fazer escolhas para
inventarmos, dentro de certos limites e nas possibilidades que nos são dadas, a
nossa vida. Diante disso, é comum nos depararmos com dúvidas como o que
devemos fazer? Como saber o que é mais importante ou urgente? Como escolher?
Como se pode deduzir, a questão da liberdade é um dos grandes temas nas
discussões morais. Mais que escolher entre duas alternativas, liberdade é decidir,
conscientemente, por que se está tomando esta atitude e não outra. Assim, a
liberdade pressupõe uma pessoa que interiorize as razões pelas quais se age, ou
seja, um sujeito que se coloca como a causa última das próprias ações.
168
Filosofia e Lógica
Para interiorizar as razões de nossas ações, é preciso:
O desenvolvimento da consciência e da capacidade de atribuir sentido ao
mundo, portanto, aumentam a possibilidade de ação livre das pessoas. Ao
contrário, nas situações em que não conseguimos compreender o que está se
passando, que não entendemos o que nos acontece, nossa capacidade de tomar
decisões é muito mais limitada e restrita. Entretanto, a realização da liberdade não
depende apenas da capacidade de compreensão do mundo e de planejamento da
ação. Para, além disso, é preciso reunir as condições objetivas para a ação
acontecer. Assim, o acesso aos meios de vida criados socialmente também são
condições para a realização da liberdade.
IMPORTANTE
A liberdade permite que o sujeito tome decisões e possa ser o autor,
em certa medida, de sua própria existência. Entretanto, para viver a
liberdade, precisamos nos responsabilizar por ela, ou seja, a liberdade traz, em
contrapartida, a responsabilidade. Somos livres para tomar uma decisão, mas
devemos assumir a autoria daquilo que decidimos fazer. No campo contrário ao da
liberdade está a dependência. A ação dependente é baseada em uma causa
externa e as escolhas não são feitas a partir de uma reflexão e da própria
compreensão do mundo.
169
Filosofia e Lógica
Podemos concluir, portanto, que a liberdade é uma construção histórica que
depende do trabalho dos humanos. No mundo da natureza não há liberdade
possível, pois nas condições da ação natural não existe representação consciente
do mundo, nem ação planejada e orientada a finalidades. Por ser um mundo
restrito aos limites dados previamente e sujeito ao que acontece, a natureza é o
mundo da necessidade e da dependência.
Assim, a reflexão sobre os valores morais serve para aprendermos a lidar
melhor com a nossa capacidade de escolher e com o uso dessa particularidade
humana, que é a liberdade. Ao definirmos o que é bom ou mal, estamos
projetando um modo de viver humanamente, em sociedade. Por essa razão, a
reflexão sobre liberdade e responsabilidade não pode deixar de ser feita tendo em
vista as relações humanas.
Nós nos formamos na interação com os outros. Sem o outro, não poderíamos
desenvolver nossos conhecimentos, modos de agir, nem nossa consciência. Assim,
é na relação com o outro que podemos exercer a liberdade. Por esse motivo,
podemos concluir que reconhecer o outro como humano livre e tratá-lo como tal,
fortalecendo sua liberdade, não é uma atitude altruísta pura e simplesmente, não é
uma ação que beneficia apenas o outro. Tratar o outro como humano é criar
condições para que o outro, fortalecido na sua condição de humano, possa
reconhecer e fortalecer a nossa própria condição humana, a nossa liberdade .
Não se esqueça:
170
Filosofia e Lógica
LEITURA COMPLEMENTAR:
VASQUEZ, Adolfo Sanchez. Ética. 26ª Edição. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1987. 304p.
VALLS, Álvaro L. M. O que é ética. 9ª Edição. São Paulo: Brasiliense, 1996. 84p.
É HORA DE SE AVALIAR!
Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de estudo. Elas
irão ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo
de ensino-aprendizagem.
Bem, chegamos ao final desta unidade. Aqui, mostramos a você as
especificações contidas na filosofia moral ou ética e evidenciamos que o problema
da filosofia moral ou da ética pressupõe o conhecimento dos valores morais, nos
quais as ações humanas se baseiam. Foi, portanto, pela apresentação das
definições de ética e moral e das suas respectivas diferenças, que essa unidade
cumpriu o seu objetivo de apresentar o significado geral dos problemas relativos à
filosofia moral. Espero que tenha sido proveitoso para você. Na próxima unidade,
vamos tratar de um outro tema importante, também relacionado com o tema
apresentado nessa unidade - trataremos da filosofia política. Espero você lá!
171
Filosofia e Lógica
Exercícios – unidade 10
1. O conceito de ‘valor moral’ designa:
a)
b)
c)
d)
e)
a imposição de regras à conduta individual.
o caráter valioso de algo que nos desperta uma afetividade ou uma
repulsão.
a falta de uma perspectiva moral.
os valores servem para obstruir o momento de escolhas das pessoas.
o preço que se dá às coisas.
2. Os ‘valores éticos’ possuem uma correspondência com o que?
a)
b)
c)
d)
e)
Possuem uma correspondência direta entre a conduta e a Inteligência.
Possuem uma correspondência indireta entre a conduta a ser seguida por
alguém.
Possuem uma correspondência direta entre a conduta a ser seguida por
alguém.
Possuem uma correspondência formal entre a conduta a ser seguida por
um membro de uma facção.
Possuem uma correspondência complementar entre a conduta a ser
seguida por alguém.
3. Qual dos conceitos abaixo representa uma característica da moral?
a)
b)
c)
d)
e)
Objetivação do ser.
Normas de conduta.
Ser enquanto ser.
Confiabilidade prática.
Condições de possibilidade.
172
Filosofia e Lógica
4. Qual dos conceitos abaixo não representa uma propriedade da ética?
a)
b)
c)
d)
e)
Rigor.
Nascimento.
Crítica.
Avaliação.
Teorização.
5. Marque a única opção correta.
a)
b)
c)
d)
e)
“Todos renegam os valores amorais e não há conhecimento sem uma
ética”.
“Todos possuem valores imorais e não há ética sem imitação”.
“Todos possuem valores morais e não há ninguém sem uma ética”.
“Todos renegam os valores morais e não há ética sem medo”.
“Todos possuem valores anormais e não há ética sem preconceito”.
6. De acordo com Aristóteles, o significado da palavra Ethiké diz respeito a qual
opção abaixo?
a)
b)
c)
d)
e)
Designa uma caracterização dos valores individuais.
Compreende tudo aquilo contrário ao bem e ao mal.
Reflexão acerca de regras de conduta.
Reflexão sobre as possibilidades de conhecimento.
Uma reflexão sobre as “propriedades do caráter”.
7. Podemos dizer que o desenvolvimento da consciência e da capacidade de
atribuir sentido ao mundo pode contribuir para quê, na conduta ética e moral dos
indivíduos?
a)
b)
c)
d)
e)
Para aumentar a possibilidade de ação livre das pessoas.
Para compartilharmos bons momentos com nós mesmos.
Para diminuir a possibilidade de ação livre das pessoas.
Para nos dar um sentido para a vida.
Para convencer as pessoas a praticar o bem.
173
Filosofia e Lógica
8. Podemos dizer que a função dos valores morais é:
a)
b)
c)
d)
e)
Os valores morais contribuem justamente para desfazer as escolhas
pessoais e a desconstrução de suas existências.
Os valores morais servem justamente para informar as pessoas o momento
de angústia e de construção de suas existências.
Os valores morais servem justamente para desorientar as pessoas no
momento de escolhas e de construção de suas existências.
Os valores morais servem justamente para orientar as pessoas no momento
de escolhas e de construção de suas existências.
Os valores morais servem justamente para capacitar as pessoas no
momento de escolhas e de construção de suas inteligência.
9. Explique em que a ética se diferencia da moral.
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
174
Filosofia e Lógica
10. Leia atentamente o texto abaixo:
“No âmbito da Filosofia, tais termos são vistos como distintos. Uma breve
exposição da etimologia desses dois termos torna as suas diferenças mais
claras. O conceito de ética provém do grego éthos. Quando escrito com “e”
breve, significa hábito, enquanto que com “e” longo significa “propriedade
ou caráter”. Nas suas investigações sobre as questões do bem e do mal, da
virtude e do vício, Aristóteles empregou Ethiké com sentido de reflexão
sobre as “propriedades do caráter.”
Diante do que foi mencionado acima, podemos dizer que por moral entende-se a
reunião de costumes e hábitos de um indivíduo ou um povo, orientada por um
princípio geral do que é “bem”, a ética deve pressupor o quê?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
175
Filosofia e Lógica
176
Filosofia e Lógica
11
A filosofia política
Os problemas fundamentais da Filosofia Política.
A origem e o significado do conceito de Política.
A relação entre a política e o poder.
O problema da origem do Estado.
177
Filosofia e Lógica
Nesta unidade, você terá a oportunidade de estudar a política enquanto um
problema estritamente filosófico. Convido você a conhecer alguns conceitos e
problemas daquilo que se costuma denominar de Filosofia Política.
Objetivo da unidade:
Analisar os problemas fundamentais da filosofia política com base em alguns
temas e autores relevantes que apresentam problemas que continuam sendo
fundamentais na reflexão sobre o poder, o Estado, as instituições sociais e as
relações entre os seres humanos.
Plano da unidade:

Os problemas fundamentais da Filosofia Política.

A origem e o significado do conceito de Política.

A relação entre a política e o poder.

O problema da origem do Estado.
Bem-vindo à décima primeira unidade de estudo.
Bons estudos!
178
Filosofia e Lógica
Os problemas fundamentais da filosofia política
A Filosofia política é a disciplina filosófica na qual se discute o modo como a
sociedade deve estar organizada. A melhor maneira de abordarmos esta disciplina
(como qualquer outra) é conhecendo os problemas de que trata. Os problemas
relacionados à filosofia política possuem um elevado grau de generalidade e de
abstração: isto significa que não se trata de analisar problemas sociais e políticos
contextualizados num dado país ou num determinado momento, mas, sobretudo,
de refletir sobre questões sociais e politicamente transnacionais.
Os problemas de filosofia política são, acima de tudo, problemas conceituais
por oposição aos problemas empíricos tratados em disciplinas como a ciência
política, a sociologia ou a economia. Por muito que observemos as sociedades ou
por mais que descrevamos os seus sistemas políticos, não encontraremos respostas
para a questão fundamental da filosofia política: como deveremos organizar a
sociedade? Algo análogo se passa também com a ética. Por mais que psicólogos e
sociólogos descrevam como é que os seres humanos agem, não conseguem
responder, ainda, à questão ética de saber o que devemos fazer. Isto mostra,
finalmente, que os problemas relacionados à filosofia política, tal como os da Ética,
originam uma reflexão que é, sobretudo normativa, por contraste com os estudos
descritivos feitos pela ciência (Cf. WOLFF, 2004, p. 17).
As teorias de filosofia política estão, particularmente, enraizadas nos contextos
históricos, sociais, econômicos e políticos que os filósofos viveram e isto é mais
sensível do que quando estudamos metafísica ou epistemologia. No entanto, fazer
filosofia política não consiste em analisar o contexto histórico, em descrever as
circunstâncias políticas em que os filósofos viveram e deixaram de viver ou em
traçar a história das ideias dos filósofos políticos – isso é algo que compete ao
historiador, não ao filósofo. Também a ciência política descreve sistemas políticos
concretos, analisando as suas características, comparando-as com as de outros
sistemas e explicando a origem das suas leis.
É evidente que o filósofo político não pode ignorar os dados empíricos que a
ciência política, bem como outras ciências, lhe proporciona. Contudo, mais do que
descrever os sistemas políticos, a filosofia política consiste numa análise crítica dos
fundamentos desses sistemas. Não sendo possível dissociar a organização política
da atividade econômica dos Estados, é claro que das teorias relativas à filosofia
179
Filosofia e Lógica
política se podem deduzir consequências em termos de pensamento econômico.
De fato, propor um modo como devemos organizar a sociedade inclui propor um
modo como devemos organizar a economia dessa sociedade. Mas, isto não
transforma a filosofia política em um ramo ou sub-ramo da economia, tal como a
Lógica não se transforma num ramo da Ética por esta ser o lugar do raciocínio
prático.
Vejamos agora que relação tem a filosofia política com outras disciplinas
normativas, nomeadamente com outras especialidades filosóficas. Tal como a
filosofia política, a ética consiste num corpus (programa ou conjunto) de teorias
sobre como devemos agir. Mas, tem um alcance mais geral, pois não trata
especificamente de saber como devemos agir para organizar uma sociedade. Por
exemplo, em ética discute-se o relacionamento moral da espécie humana com
outras espécies, o que excede o âmbito da filosofia política. Admitindo esta
caracterização, a relação da ética com a filosofia política será uma relação gêneroespécie. E assim se compreende que os problemas de filosofia política tenham, por
regra, um acentuado conteúdo ético: por exemplo, o filósofo político discute o que
deveria ser uma sociedade justa, mas o filósofo moral interroga-se sobre o que é a
justiça propriamente dita.
Uma outra área que mantém grande contiguidade temática com a filosofia
política é a filosofia do direito. Nesta, discutem-se questões como a da natureza do
direito; analisam-se conceitos como os de direito e dever jurídicos; esclarece-se o
que é um ato jurídico, o que é a responsabilidade ou em que consiste a
inimputabilidade; analisam-se os mecanismos das decisões jurídicas e discutem-se
quais as instituições mais adequadas para o funcionamento do Estado. Há, assim,
uma forte conexão entre a filosofia do direito e os sistemas jurídicos e instituições
concretas sobre as quais refletem. Entretanto, na filosofia política analisa-se o
próprio âmbito do direito, ou seja, o lugar e alcance que deve ter na sociedade,
discutindo, por exemplo, até onde pode ir o Estado na regulação das interações
dos indivíduos. Podemos, então, concluir que a filosofia política é uma disciplina
mais abstrata e mais geral do que a filosofia do direito.
180
Filosofia e Lógica
A origem e o significado do conceito de política
O homem é um animal essencialmente político e sociável, como já havia
observado Aristóteles na sua obra Política. Em geral, o termo política vem do
grego pólis que significa cidade ou Estado. Neste sentido, a política seria a arte de
governar a cidade. Por outro lado, esse termo tem um sentido mais abrangente
que designa o campo da atividade humana que além de se referir à cidade ou ao
Estado, também diz respeito às coisas de interesse público. A obra Política se
configura como um dos tratados mais importantes sobre a arte e a ciência de
governar a pólis. Para Cotrim (1993, 228), “foi devido, em grande medida, a essa
obra clássica que o termo política se firmou nas línguas ocidentais”.
Para Aristóteles, o termo política vem do grego ta politika proveniente de pólis.
Pólis é a cidade entendida como uma comunidade organizada, formada,
principalmente, por cidadãos, ou seja, os homens livres. Assim, ta politika refere-se
aos negócios públicos dirigidos pelos cidadãos, isto é, os costumes, as leis, a
administração dos serviços públicos e das atividades econômicas da cidade.
A pólis grega é vista por Aristóteles como um fenômeno natural, pois a cidade
(pólis) encontra-se entre as realidades que existem naturalmente e o homem é por
natureza um animal político, ou seja, é da própria natureza do homem ser
envolvido na política. Assim, constituída por um impulso natural do homem, a
sociedade deve ser organizada conforme essa natureza humana.
Sobre isso Aristóteles diz o seguinte:
Essas considerações deixam claro que a cidade e não uma
criação natural e que o homem é por natureza um animal social,
e um homem que por natureza, e não por mero acidente, não
fizesse parte de cidade alguma seria desprezível ou estaria
acima da humanidade (como o “sem clã, sem leis e sem lar” de
que Homero fala com escárnio, pois ao mesmo tempo ele é
ávido de combates), e se poderia compará-lo a uma peça
isolada do jogo do gamão. Agora é evidente que o homem,
muito mais do que a abelha ou outro animal gregário é um
animal social. Como costumamos dizer, a natureza faz sem um
181
Filosofia e Lógica
propósito, e o homem é único entre os animais que tem o dom
da fala. Na verdade, a simples voz pode indicar o dom do
prazer, e outros mais a possuem (...) a característica específica
do homem em comparação com outros animais é que somente
ele tem o sentimento do bem e do mal, do justo e do injusto e
de outras qualidades morais (...) (ARISTÓTELES, 1988, p. 15).
Percebeu como a definição de homem para Aristóteles possui um significado
estrito com a política? Na passagem acima, podemos inferir que, por um lado, o
homem é um animal, ou seja, um ser da natureza, por outro, ele é o único animal
que possui o dom da fala, por isso, para Aristóteles, o homem é um zóon lógon
ékhon (animal reclamante). No entanto, fora da pólis não seria possível ao homem
comunicar-se, daí o sentido aristotélico do homem como zóon politikón, ou seja, o
homem como um animal político.
3- A relação entre a política e o poder
Em qualquer estudo sobre política constata-se que a sua discussão está
estritamente relacionada à questão do poder. Esta questão é sempre pensada de
duas formas, a saber: do poder que é exercido por alguém e de alguém sobre o
qual o poder é exercido. Pensar o poder assim é compreendê-lo através de uma
relação ou um conjunto de relações pelas quais um grupo de pessoas ou uma
pessoa interfere nas relações de outras.
O que é poder ? Para Bertrand Russel (1982, p. 55) “poder é a posse dos meios
que levam à produção de efeitos desejados”, quer dizer aqueles que detêm o
poder são capazes de exercer várias formas de domínio e, por meio deste, alcançar
os efeitos desejados. Para Cotrim (1993, p. 230), “entre os diversos tipos de
domínio, costuma-se destacar o poder do homem sobre a natureza e o poder do
homem sobre outros homens”. Portanto, essas duas formas de poder andam lado a
lado, podendo-se dizer que uma influi na outra.
182
Filosofia e Lógica
Segundo Cotrim (Idem, Ibidem.), “se levarmos em conta o meio do qual se
serve o detentor do poder para conseguir os efeitos desejados, podemos destacar
três formas de poder (...)”. Dentre essas formas podemos citar:

Poder econômico: Aquele que utiliza a posse de bens “socialmente
necessários” para induzir aqueles que não possuem a adotar um
determinado comportamento. Exemplo: Fazer um determinado tipo de
trabalho. Este se preocupa em garantir o domínio da riqueza,
controlando a organização das forças produtivas.

Poder ideológico: Aquele que utiliza a persuasão para influenciar o
comportamento dos outros, induzindo-os a pensar da mesma forma que
aqueles que detêm o poder. Estes se preocupam em garantir o domínio
sobre o conhecimento, controlando a forma como a sociedade deve
pensar. Exemplos: Os meios de comunicação de massa, ou seja, a
televisão, jornais, etc.

Poder político: Aquele que utiliza os meios de “coerção social”, ou seja, a
força física, legalmente, para dominar os outros. Este se preocupa em
garantir
o
domínio
da
força
controlando a
organização dos
“instrumentos de coerção”, ou seja, polícia, forças armadas, tribunais
etc.
Diante desses três tipos de poder, Bobbio faz o seguinte comentário:
O que têm em comum essas três formas de poder é que elas
contribuem conjuntamente para instituir e manter sociedades
de desiguais divididas em fortes e fracas, com base no poder
político; em ricos e pobres, com base no poder econômico; em
sábios e ignorantes, com base no poder ideológico.
Genericamente, em superiores e inferiores. (BOBBIO, N. 1987, p.
83)
183
Filosofia e Lógica
Podemos apontar um outro importante comentário de Bobbio inserido no
Dicionário de política sobre a questão do poder:
Como o poder cujo meio específico é a força, de longe o meio
mais eficaz para condicionar os comportamentos, o poder
político é, em toda a sociedade de desiguais, o poder supremo,
ou seja, o poder ao qual todos os demais estão de algum modo
subordinados; o poder coativo é, de fato, aquele a que recorrem
todos os grupos sociais (a classe dominante), em última
instância, para se defenderem dos ataques externos ou para
impedirem, com a desagregação do grupo, de serem
eliminados. Nas relações entre grupos sociais diversos, o
instrumento decisivo para impor a própria vontade é o uso da
força, a guerra. (BOBBIO, N. 1986, p. 995-6).
As relações de poder são, portanto, essencialmente, relações de
desigualdade. Isso levou muitos críticos do poder a confundi-lo com a pura
repressão. Sendo o poder considerado sinônimo de repressão, ele constituiria uma
injustiça que deveria ser abolida. Muitos sonharam e muitos hão de sonhar com a
abolição do poder, no entanto, é preciso compreender com mais cuidado esta
questão. Uma coisa são as relações de poder que existe entre as diversas instâncias
da sociedade, outra coisa é o poder do Estado.
Esta situação recoloca com especial urgência o problema tantas vezes
debatido também nas épocas anteriores a respeito da origem, natureza e funções
do Estado e das relações entre os indivíduos e a sociedade.
4- O problema da origem do estado
O Estado é uma realidade empírica cuja existência é incontrovertível, mas é
também uma realidade extremamente mutável: nasce, desenvolve-se e,
desenvolvendo-se, assume múltiplas formas e, frequentemente, por razões várias,
debilita-se e desagrega-se. Tudo isso faz do Estado uma realidade problemática. De
uma forma geral, o Estado é uma das mais complexas instituições sociais já criadas
pelos homens em todos os tempos.
184
Filosofia e Lógica
IMPORTANTE
De uma forma mais específica, o pensador alemão Max Weber
conceitua o Estado como uma instituição política que é dirigida por um governo
soberano que possui o monopólio do uso da força física em um determinado
território subordinando a sociedade que nele vive. Pode-se dizer que a função do
Estado é de promover a conciliação dos grupos sociais, conflitos que são
inevitáveis entre os homens em todos os tempos. Como o Estado pode resolver
esses conflitos? Para minimizá-los, o Estado deve promover o bem estar dos
indivíduos, criando condições para uma harmonia entre os grupos da sociedade,
preservando certos interesses que são comuns a eles. Sabemos, portanto, que o
Estado nem sempre existiu, sendo assim, ele é gerado por um ato de criação
essencialmente humano.
Para Cotrim (1993, p. 233),
O nascimento do Estado representa o ponto de passagem das
chamadas sociedades primitivas para as sociedades civilizadas.
Quer dizer, o Estado surge quando a sociedade torna-se
complexa: aumenta a divisão social do trabalho e surgem
conflitos de classe com a formação de grupos dominantes e
grupos dominados.
No entanto, devemos nos indagar: o que aconteceria se o Estado não existisse
realmente? O Estado pode possuir múltiplas faces? Por que alguns Estados prezam
a democracia e outros não? Qual seria a visão dos filósofos de um Estado ideal?
Como pensar a questão da liberdade em relação ao poder do Estado? A essas
interrogações foram dadas muitas respostas, das quais as principais parecem ser a
dos seguintes pensadores políticos:

Nicolau Maquiavel
Em vez de argumentar sobre um Estado ideal em sua obra O Príncipe,
Maquiavel defendeu a conquista e manutenção do poder pelo governante que,
segundo sua virtude de administrar o acaso, realizaria seus objetivos. Ele afirma
que a obrigação suprema do governante é manter o poder e a segurança de seu
país e para isso deve utilizar todos os meios disponíveis, já que os fins justificam os
meios. Nicolau Maquiavel propõe também a compreensão profunda da história
185
Filosofia e Lógica
que ajudaria a prever e prevenir acontecimentos típicos. De uma forma geral, essa
doutrina exprime e lança uma nova visão da história, uma visão moderna, na qual a
desordem e a desarmonia são o preço a se pagar pela manutenção da liberdade.
Com sua teoria de “os fins justificam os meios” e exposição de medidas que ele
considera necessárias em determinados momentos para manter o poder (medidas
que por muitos seriam consideradas imorais), sua obra serviu como legitimação de
investidas políticas de vários governos e ainda inaugurou um estudo político da
realidade baseada na investigação histórica, que serviu de guia em certas situações
pelas quais os Estados passam, sobretudo, em conselhos políticos para a
manutenção do poder.

Thomas Hobbes
Hobbes justifica o poder centralizado através da natureza humana. Segundo
ele, o homem, por natureza, é individualista e mesquinho. O poder absoluto
centralizado seria, então, o produto de um pacto social de um contrato ou acordo
estabelecido entre os homens em condição de igualdade. Por esse contrato eles
renunciavam as suas liberdades naturais, delegando a um soberano o poder de
decidir sobre tudo que diz respeito à vida social. A expressão máxima desse poder
na prática foi a monarquia absolutista. A ideia de que todo indivíduo é portador
de direitos naturais inalienáveis formou um novo conceito de cidadania. No século
XVIII, essa formulação deu lugar à luta pelos direitos naturais humanos. Mas, as
influências de Hobbes na modernidade não se limitam à concepção de direitos
humanos e de liberdade. A noção de que a função do Estado é manter a paz e o
monopólio do uso da violência para preservar os pactos ainda está presente no
mundo. Pode-se dizer que Thomas Hobbes inaugura o Estado civil moderno, como
fruto de um pacto entre os homens que não podem sobreviver numa situação de
cada um por si.

John Locke
Com suas ideias políticas, Locke exerceu a mais profunda influência sobre o
pensamento ocidental. Suas teses encontram-se na base das democracias liberais.
Os Dois Tratados sobre o Governo Civil justificaram a revolução burguesa na
Inglaterra no século XVII. De uma forma geral, as revoluções burguesas
representaram a formação de um novo Estado, com novos participantes do poder
186
Filosofia e Lógica
político e uma nova concepção de sociedade que prevalece até hoje. No século
XVIII, os iluministas franceses foram buscar em suas obras as principais ideias
responsáveis pela Revolução Francesa. Esta Revolução é um marco na história
humana e a cronologia tradicional a classifica como marco do início dos tempos
contemporâneos, devido à manifestação, neste movimento, de ideais que se
tornariam a base do Estado atual.

Rousseau
Começando com a desigualdade como um fato irreversível, Rousseau tenta
responder a questão do que compele um homem a obedecer a outro homem ou
por que direito um homem exerce autoridade sobre outro. Ele concluiu que
somente um contrato tácito e livremente aceito por todos permite cada um “ligarse a todos enquanto retendo sua vontade livre”. A liberdade está inerente na lei
livremente aceita. “Seguir o impulso de alguém é escravidão, mas obedecer a uma
lei autoimposta é liberdade”.
Há uma diferença entre o pensamento de Rousseau e o de Locke, que também
afirmou a liberdade do homem como base de sua teoria política. Locke admite a
perda da liberdade quando afirma que o homem, por ser livre por natureza, não
pode ser privado dessa condição e submetido ao poder de outro sem o próprio
consentimento. Para Rousseau, o homem não pode renunciar a sua liberdade. Esta
é, portanto, uma exigência fundamental do seu pensamento ético.
Rousseau considera a liberdade um direito e um dever ao mesmo tempo. A
liberdade pertence ao homem e renunciá-la é renunciar a própria qualidade de
homem. O princípio da liberdade é direito inalienável e exigência essencial da
própria natureza espiritual do homem.
O contrato social para Rousseau é “uma livre associação de seres humanos que
deliberadamente resolvem formar certo tipo de sociedade a qual passam a prestar
obediência mediante o respeito à vontade geral”. O contrato social, ao considerar
que todos os homens nascem livres e iguais, encara o Estado como objeto de um
contrato no qual os indivíduos não renunciam seus direitos naturais, mas ao
contrário, entram em acordo para a proteção desses direitos que o Estado é criado
para preservar. O Estado é a unidade e como tal expressa a “vontade geral”, porém
esta vontade é posta em contraste e se distingue da “vontade de todos”, a qual é
meramente o agregado de vontades, o desejo acidentalmente mútuo da maioria.
187
Filosofia e Lógica

Montesquieu
Inspirou-se em Locke para formular a teoria da separação dos três poderes.
Inúmeros Estados, hoje em dia, apresentam-se segundo esse modelo.
LEITURA COMPLEMENTAR:
LEBRUN, Gérard. O que é poder. 14ª Edição. São Paulo, Brasiliense,
1994. 126p.
É HORA DE SE AVALIAR!
Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de estudo. Elas
irão ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo
de ensino-aprendizagem.
Nessa unidade você compreendeu alguns dos principais conceitos da filosofia
política. Partindo de Aristóteles, percorremos, de forma breve, um longo caminho
que a filosofia política trilhou até ser o que estudamos hoje. Espero que você tenha
se interessado sobre esse assunto tão importante e que se aprofunde mais lendo as
diversas obras de inúmeros autores que tratam sobre o tema. Por enquanto,
atente-se às diretrizes traçadas aqui. Até a próxima unidade!
188
Filosofia e Lógica
Exercícios – unidade 11
1. De acordo com o filósofo grego Aristóteles, o homem é essencialmente:
a)
b)
c)
d)
e)
político e amigável.
político e sonhador.
político e honesto.
político e libertário.
político e sociável.
2. Quais são as duas formas pelas quais é discutida a questão do poder?
a)
b)
c)
d)
e)
Poder temporal e poder passageiro.
Do poder que é discutido por alguém e de alguém sobre o qual o poder é
inibido.
Poder animal e poder humano
Poder simplificado e poder composto.
Do poder que é exercido por alguém e de alguém sobre o qual o poder é
exercido.
3. Qual das obras de Aristóteles se configura como um dos tratados mais
importantes sobre a arte e a ciência de governar a pólis?
a)
b)
c)
d)
e)
Órganon.
Política.
Crítica da Razão Pura.
Leviatã.
Omnia vincit.
4. A pólis grega é entendida por Aristóteles como um fenômeno puramente
natural, pois:
a)
b)
c)
A pólis encontra-se entre as realidades que existem artificialmente, e o
homem é por natureza um animal político.
A pólis encontra-se entre as realidades que existem naturalmente, e o
homem é por natureza um animal político.
A pólis encontra-se entre as modalidades que existem naturalmente, e o
homem é por natureza um animal apolítico.
189
Filosofia e Lógica
d)
e)
A pólis encontra-se entre as fases lunares que existem naturalmente, e o
homem é por natureza um animal político.
A pólis não encontra-se entre as realidades que existem naturalmente, e o
homem é por natureza um animal apolítico.
5. Dentre as alternativas abaixo, qual delas representa o significado exato de
“Poder político”?
a)
b)
c)
d)
e)
Aquele que inutiliza a posse de bens “socialmente necessários” para induzir
aqueles que não possuem a adotar um comportamento indeterminado.
Exemplo: fazer um determinado tipo de trabalho. Este se preocupa em
garantir o domínio da riqueza controlando a organização das forças
produtivas.
Aquele que utiliza a ingratidão para influenciar o comportamento dos
outros, induzindo-os a repensar da mesma forma que aqueles que detêm o
poder. Estes se preocupam em garantir o domínio sobre o conhecimento,
controlando a forma como a sociedade deve pensar. Exemplos: os meios de
comunicação de massa, ou seja, a televisão, os jornais, etc.
Aquele que utiliza a posse de bens “socialmente necessários” para induzir
aqueles que não possuem a adotar um determinado comportamento.
Exemplo: fazer um determinado tipo de trabalho. Este se preocupa em
garantir o domínio da riqueza controlando a organização das forças
produtivas.
Aquele que utiliza a persuasão para influenciar o comportamento dos
outros, induzindo-os a pensar da mesma forma que aqueles que detêm o
poder. Estes se preocupam em garantir o domínio sobre o conhecimento,
controlando a forma como a sociedade deve pensar. Exemplos: os meios de
comunicação de massa, ou seja, a televisão, os jornais, etc.
Aquele que utiliza os meios de “coerção social”, ou seja, a forca física,
legalmente, para dominar os outros. Este se preocupa em garantir o
domínio da força controlando a organização dos “instrumentos de
coerção”, ou seja, polícia, forças armadas, tribunais etc.
6. Pode-se dizer que a função do Estado é de promover a conciliação dos grupos
sociais, conflitos que são inevitáveis entre os homens em todos os tempos. Como o
pensador alemão Max Weber conceitua o Estado?
190
Filosofia e Lógica
a)
b)
c)
d)
e)
Como uma instituição inconsistente que é dirigida por um governo
soberano que possui o monopólio do uso da força física em um
determinado território, subordinando a sociedade a uma esfera altruísta.
Como uma instituição política que é dirigida por um governo soberano que
possui o monopólio do uso da força física em um determinado território,
subordinando a sociedade que nele vive.
Como uma instituição política que é dirigida por um governo alternativo
que possui o monopólio do uso da força física em um determinado
território, subordinando a sociedade a uma anomalia inevitável.
Como uma instituição política que é dirigida por um governo soberano que
possui o monopólio do uso da intensidade moral em um determinado
território, subordinando a sociedade a um todo composto inevitável.
Como uma instituição política que é dirigida por um governo misto que
possui o monopólio do uso da mídia televisiva em um determinado
território, subordinando a sociedade a uma massificação ideológica.
7. Em vez de argumentar sobre um Estado ideal em sua obra O Príncipe, Maquiavel
defendeu a conquista e manutenção do poder pelo governante que, segundo sua
virtude de administrar o acaso, realizaria seus objetivos. Com base nisto, podemos
dizer que Maquiavel:
a)
b)
c)
d)
e)
afirma que a obrigação suprema do governante é manter o poder e a
segurança de seu país e para isso deve utilizar todos os meios disponíveis,
já que os fins justificam os meios.
afirma que a obrigação suprema do governante é manter o poder e a
segurança de seu país e para isso deve utilizar a educação inclusiva para
todos, já que os fins justificam os meios.
afirma que a obrigação suprema do governante é manter o poder e a
segurança de seu país e para isso deve utilizar intensamente o debate e a
persuasão, já que os fins justificam os meios.
afirma que a obrigação suprema do governante é denegrir o poder e a
segurança de seu país e para isso deve utilizar todos os meios disponíveis,
já que os fins justificam os meios.
afirma que a obrigação suprema do governante é manter o poder e a
segurança de seu país e para isso deve utilizar se armar com o poder bélico
altamente desenvolvido, já que os fins justificam os meios.
191
Filosofia e Lógica
8. Com suas ideias políticas, Locke exerceu uma profunda influência sobre o
pensamento ocidental. Suas ideias encontram-se na base das atuais democracias
liberais. Qual das alternativas a seguir é uma obra de referência deste filósofo:
a)
b)
c)
d)
e)
Contrato Social.
Leviatã
Segundo Tratado sobre o Governo Civil.
Ética mínima para homens mal governados.
O Príncipe.
9. O que é “poder político”?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
10. Há uma diferença entre o pensamento de Rousseau e o de Locke, que também
afirmou a liberdade do homem como base de sua teoria política. Locke admite a
perda da liberdade quando afirma que o homem, por ser livre por natureza, não
pode ser privado dessa condição e submetido ao poder de outro sem o próprio
consentimento. Para Rousseau, o homem não pode renunciar a sua liberdade. Esta
é, portanto, uma exigência fundamental do seu pensamento ético. Em que consiste
o contrato social para Rousseau?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
192
Filosofia e Lógica
12
A filosofia no Brasil: a
questão sobre a existência
de uma filosofia
genuinamente brasileira
O debate acerca da possibilidade de uma Filosofia Brasileira.
Aspectos históricos da Filosofia Brasileira.
193
Filosofia e Lógica
Estamos prestes a concluir o nosso estudo, porém não podemos deixar de
mencionar a questão da possibilidade da existência de um pensamento original no
nosso país. Convido você, nesta unidade, a percorrer de forma breve as questões
que envolvem a filosofia no Brasil.
Objetivos da unidade:
Refletir acerca da genuinidade da reflexão filosófica brasileira; Compreender
alguns aspectos do debate sobre a originalidade da filosofia no Brasil;
Delinear a trajetória da formação de um pensamento filosófico no Brasil, seja
ele genuíno ou não.
Plano da unidade:

O debate acerca da possibilidade de uma Filosofia Brasileira.

Aspectos históricos da Filosofia Brasileira.
Bem-vindo à décima segunda unidade de estudo.
Bons estudos!
194
Filosofia e Lógica
O debate acerca da possibilidade de uma filosofia
brasileira
O filósofo Miguel Reale, certa vez, pronunciou-se sobre a questão da filosofia
brasileira da seguinte forma:
Custou para se desfazer a crença de que a gente brasileira seria
infensa à meditação filosófica, limitando-se a informar sobre as
doutrinas estrangeiras e a delas reproduzir conceitos e ideais.
Chegou-se mesmo a proclamar, desconsoladamente, que a
história da filosofia no Brasil não seria senão a história das
influências recebidas, o que era afirmado por figuras das mais
representativas de nossa intelectualidade.
Essa é uma das questões mais delicadas e difíceis, a da “filosofia nacional”, uma
vez que a filosofia é por sua própria natureza universal, mas não há quem não
distinga, em virtude de certas características ou pelo predomínio de determinadas
tendências, a filosofia alemã da francesa, da anglo-americana, da italiana, etc. É
que, por mais universal que seja a filosofia, não pode esta deixar de sofrer a
influência de diretrizes dominantes na linha existencial dos povos ou das nações, o
que já fora possível observar na passagem do mundo grego para o mundo romano.
Assim, na visão de ARANHA, Maria Lúcia A., MARTINS (2003, p. 94),
De fato mesmo que a filosofia inicie seu questionamento a
partir das peculiaridades histórico-sociais de um determinado
país, é no sentido da universalidade, e não do regionalismo que
busca realizar seu projeto (...).
195
Filosofia e Lógica
Tanto os que não acreditam em tal coisa, os “universalistas” ou
“internacionalistas”, quanto os que acreditam, os “originários”, sempre colocam
toda a questão em termos sociais e institucionais. Os primeiros pensam que deve
criar-se uma comunidade de estudiosos de textos, de bons comentadores e
conhecedores de filosofia clássica e moderna, capazes de gerar artigos e livros que
possam concorrer dignamente no plano internacional. Esta deve, segundo eles, ser
considerada como a contribuição brasileira à filosofia. Alguns deles não veem
qualquer sentido na questão de tal tipo de prática filosófica acabar gerando ou não
um pensar “genuinamente brasileiro”, enquanto outros apostam numa
continuidade, às vezes difícil de compreender entre essas atividades eruditas e o
nascer de um pensamento original brasileiro. Para ARANHA, Maria Lúcia A.,
MARTINS (2003, p. 94),
Retomando a indagação sobre a “filosofia brasileira”,
entenderíamos que o filósofo brasileiro deveria estar voltado
para as questões que se colocam no espaço e no tempo por ele
vivido. A partir dessa condição, muitos concluem pela
negatividade sobre uma eventual filosofia no Brasil, afirmando
que os pensadores brasileiros estariam por demais presos à
cultura europeia, ou nos últimos anos, também, à norteamericana.
Por isso, a ideologia universalista parece-me hoje predominante entre os
professores. Por outro lado, os escassos críticos da filosofia acadêmica acham que
se devem criar condições sociais, culturais e mesmo institucionais que favoreçam a
um pensamento original e criador, devendo-se lutar contra o colonialismo ainda
presente nas mentes dos pensadores brasileiros, que os leva a copiar moldes
externos em lugar de pensar por si mesmos.
196
Filosofia e Lógica
Em ambos os casos, pensam todo o problema do filosofar original e criador
dentro dos termos de uma preparação sociocultural e institucional que permitiria
seu desenvolvimento: do ponto de vista universalista, devem-se preparar gerações
de eruditos e comentadores,
criando-se,
então,
uma
comunidade de
contribuidores à filosofia internacional. Por outro lado, são criadas condições para
superar as estruturas da dependência cultural e preparar as condições para um
pensamento, se possível, genuinamente brasileiro.
2- Aspectos históricos da filosofia brasileira
O pensamento filosófico brasileiro constituiu-se a partir do final do século
XVIII, passando por sucessivas mutações, até ganhar a pluralidade de formas e
correntes que possui em nossos dias. Contudo, não é possível falar de uma tradição
intrinsecamente brasileira de pensamento, constituidora de um cabedal de ideias e
de uma metodologia própria. Em um país relativamente jovem, cuja porção letrada
era formada por imigrantes europeus e seus descendentes, a filosofia em nosso
país foi em sua quase totalidade influenciada por correntes europeias,
predominantemente pelo pensamento e pela cultura francesa.
IMPORTANTE
Os primeiros pensadores brasileiros de que se tem notícia adotavam
as teorias sensistas e materialistas de Condillac e Cabanis, tentando conciliá-las
com o espiritualismo eclético, veiculado, especialmente, por Victor Cousin. Dentre
os adeptos deste direcionamento, destacam-se, no século XIX, Eduardo Ferreira
França e Domingos José Gonçalves de Magalhães.
Contrapondo-se a essa tendência, a filosofia tomista sempre encontrou
expressão no Brasil. Seu principal órgão de difusão foram os padres jesuítas, cuja
ordem chegou ao país na mesma época de seu descobrimento. Podemos citar
entre seus principais representantes no século passado, José Soriano de Souza e
Vicente Cândido Figueiredo de Sabóia. O principal objetivo desses pensadores era
empreender a crítica, a um só tempo, do materialismo e do espiritualismo reinantes
entre os filósofos brasileiros de seu tempo, a fim de apresentar o pensamento
escolástico como solução para resolver a contradição matéria-espírito, presente na
obra dos filósofos criticados.
197
Filosofia e Lógica
Uma doutrina largamente difundida em nosso país durante todo o século XIX,
permanecendo atuante até as primeiras décadas do século XX, é o positivismo.
Seus adeptos exerceram influência não apenas filosófica, mas igualmente política,
desempenhando importante papel na Proclamação da República (vale a pena
lembrar que o lema Ordem e Progresso, presente em nossa bandeira é igualmente
o lema do positivismo comteano). Podemos citar como seus mais eminentes
adeptos, Benjamin Constant, Miguel Lemos e Teixeira Mendes. As correntes
evolucionistas e culturalistas, em voga na Europa durante a segunda metade do
século XIX, também encontraram-se representadas no Brasil. Seus principais
divulgadores foram Tobias Barreto e Sílvio Romero, partidários do culturalismo
alemão e do evolucionismo de Spencer, respectivamente.
Podemos citar como o filósofo brasileiro de maior fôlego e originalidade o
cearense Raimundo de Farias Brito, o maior representante da filosofia em nosso
país. Aluno de Tobias Barreto, Farias Brito produziu uma extensa obra voltada,
sobretudo, para a reflexão filosófica. Sua reflexão representa um grande esforço de
renovação espiritualista contra o positivismo e o materialismo da “Escola de
Recife”, fundada por Tobias Barreto.
Segundo os historiadores da filosofia Padovani e Castagnola (1994, p. 536),
No pensamento de Tobias Barreto não se encontram doutrinas
verdadeiramente originais. O que ele disse a respeito de Deus,
do homem, da religião, da alma, do direito natural já se
encontrava nos famosos fundadores europeus do materialismo
e do monismo evolucionista (...).
No princípio do século XX, vimos surgir o
nomes mais representativos do pensamento
Neotomista desempenhou importante papel
pensamento frente às questões trazidas
espiritualista.
padre Leonel Franca como um dos
filosófico desse período. Pensador
na restauração e renovação desse
pelas doutrinas materialista e
Podemos citar outros pensadores de inspiração católica tais como, Tarcísio
Meireles Padilha quem, inspirado na meditação de Louis Lavelle, formula uma
“filosofia da esperança”; Geraldo Pinheiro Machado, que se destacou como
historiador das ideias filosóficas no Brasil; Ubiratan Macedo e Gilberto de Mello
Kujawski, os quais elaboraram as suas obras inspirando-se no pensador espanhol
José Ortega y Gasset; Fernando Arruda Campos, reconhecido estudioso do
neotomismo brasileiro e o padre Stanislavs Ladusans, da Companhia de Jesus,
autor da obra Rumos da filosofia atual no Brasil.
198
Filosofia e Lógica
Tentando dar uma resposta concreta ao problema da pobreza e das
desigualdades sociais que afetam o Brasil, alguns pensadores de formação cristã
têm desenvolvido, ao longo das últimas décadas, o que poderia ser denominado
de projeto “imanentista de libertação”, que acolhe elementos conceituais
provindos das teologias católica e protestante, bem como do hegelianismo, dos
messianismos políticos rousseauniano e saint-simoniano, do personalismo de
Emmanuel Mounier e do marxismo. As principais contribuições nesse terreno
pertencem ao padre jesuíta Henrique Cláudio de Lima Vaz, inspirador do
movimento chamado Ação Popular (que posteriormente converter-se-ia na Ação
Popular Marxista-Leninista); a Hugo Assmann, destacado professor universitário; ao
padre Leonardo Boff, autor de numerosa bibliografia nos terrenos teológico,
político, filosófico e ecológico e ao pedagogo Paulo Freire.
O pensamento filosófico em nosso país foi, ao longo do século XX, ampliando
seus horizontes e suas áreas de contato. Os pensadores de inspiração marxista têm
desenvolvido no Brasil amplo trabalho de análise, abordando, especialmente, os
aspectos socioeconômicos. Destaca-se nesse terreno Caio Prado Júnior, para quem
seria infantil a pretensão comteana, adotada pela maior parte dos marxistas
brasileiros, de enquadrar a explicação científica acerca da evolução social nos
estreitos parâmetros de leis gerais e eternas. “Tal pré-fixação de etapas”, escreve
Prado Júnior (1966, p. 23), “através das quais evoluem ou devem evoluir as
sociedades humanas, faz rir”. Apesar da advertência crítica desse autor, a tendência
que veio a prevalecer no chamado “marxismo acadêmico” brasileiro, foi a
comteana ou cientificista. Os principais representantes dessa vertente (que possui
como preocupação fundamental a implantação da sociedade racional, em bases
marxistas) foram Leônidas de Rezende, Hermes Lima, Edgardo de Castro Rebelo,
João Cruz Costa, Álvaro Vieira Pinto e Roland Corbisier.
199
Filosofia e Lógica
IMPORTANTE
Vale a pena destacar os nomes de alguns autores de inspiração
marxista desvinculados da opção comteana: Luiz Pinto Ferreira e Gláucio Veiga, os
quais fazem uma avaliação da problemática herdada da “Escola do Recife”,
notadamente no terreno do direito. Recentemente, Leandro Konder desenvolveu
uma crítica sistemática à opção comteana seguida pelo marxismo brasileiro.
Apoiando-se em bases que remontam a Hegel e a Marx, esse autor atribui à
“derrota da dialética”, sofrida pelo marxismo brasileiro. Leandro Konder situa-se,
assim, nos dias atuais, como o ‘continuador’ da atitude crítica anteriormente
sustentada por Caio Prado Júnior. Podemos ainda citar como principais pensadores
brasileiros contemporâneos: Emmanuel Carneiro Leão, Gerd Bornheim, Ernildo
Stein, Guido de Almeida, Miguel Reale, Roberto Machado e Benedito Nunes.
Para Resende (2002, p. 289),
A instauração do lugar institucional da filosofia na cultura
brasileira, porém, não é suficiente para assegurar a produção
teórica especialmente filosófica referida a essa cultura. Assim,
Gilberto Kujawski parece que, embora a filosofia apareça
oficialmente institucionalizada nas universidades brasileiras,
ainda não foi socialmente institucionalizada. Entendendo que a
tarefa da filosofia é a de conduzir a consciência nacional à idade
da razão, não à razão pura, mas à razão histórica - único
instrumento capaz de devolver o Brasil a si mesmo e de nos
fazer compreender o que somos, de onde viemos, para onde
vamos -, urge impedir que ela se transforme em função
esotérica de alguns iniciados. É preciso, diz ele, voltar das ideias
para a realidade. E uma das maneiras de fazê-lo é saber o que
fazer corretamente com as ideias, o que fazer com as ideias
filosóficas. Enfim, para despertar o interesse da juventude pela
filosofia é preciso, antes, dar satisfação ao seu sadio
pragmatismo e lhe mostrar o que fazer com a filosofia.” (Cf.
Rumos da filosofia atual no Brasil, padre S. Ladusans (org.), 1976)
200
Filosofia e Lógica
Embora isso seja constatado na realidade, algumas universidades divulgam
uma gama muito diversificada de correntes, ocorrendo estudos aprofundados e
intercâmbios com os principais pensadores de nosso século. Podemos citar como
principais direcionamentos da investigação filosófica brasileira atual: a filosofia
analítica, o pensamento existencial francês e alemão, as filosofias antiga e
moderna, o marxismo, a ética, a epistemologia, a lógica, a filosofia francesa
contemporânea. Enfim, a filosofia está presente com toda força em nosso país.
Cabe a todos os interessados aproximar-se do fascinante mundo do pensamento
filosófico.
LEITURA COMPLEMENTAR:
PAIM, Antônio. História das ideias filosóficas no Brasil. 5ª ed.
Londrina:
UEL, 1997. 760p.
JAIME, Jorge. História da Filosofia no Brasil. 3ª edição. Petrópolis: Faculdades
Salesianas, 1997. Vol. 1.
___________. História da Filosofia no Brasil. Vol. 1 e 2. São Paulo: Vozes,
1999. Vol.2
É HORA DE SE AVALIAR!
Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de estudo. Elas
irão ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo
de ensino-aprendizagem.
Nessa unidade, estudamos um pouco sobre a problemática acerca da filosofia
no Brasil. Podemos destacar na nossa exposição a formação de um debate
filosófico no Brasil e também a tentativa de se criar um espaço para a consolidação
de um pensamento brasileiro.
Com isso, chegamos ao fim do nosso estudo. Espero que tenhas gostado.
Conto com suas críticas, sugestões e opiniões. Foi ótimo estar contigo. Até outra
oportunidade e sucesso daqui para frente! Depois dessa longa jornada, sinta-se
convidado a ser mais um “amante da sabedoria”.
201
Filosofia e Lógica
202
Filosofia e Lógica
Exercícios – unidade 12
1. Aponte entre os pensadores brasileiros abaixo qual é o fundador da “escola de
recife”.
a)
b)
c)
d)
e)
Benjamin Constant.
Tobias Barreto.
Teixeira Mendes.
Miguel Lemos.
Miguel Reale.
2. Podemos dizer que Tobias Barreto e Sílvio Romero são legítimos representantes
de quais correntes da filosofia brasileira?
a)
b)
c)
d)
e)
Positivismo e Fenomenologia.
Materialismo e evolucionismo.
Culturalismo e Positivismo.
Evolucionismo e culturalismo.
Fenomenologia e Culturalismo.
3. A tendência que veio a prevalecer no chamado “marxismo acadêmico” brasileiro
foi exatamente:
a)
b)
a renascentista ou greco-romana.
a evolucionista ou pagã.
c)
d)
e)
a comteana ou cientificista.
a leninista-comunista.
a socialista moderada.
4. Podemos dizer que a preocupação fundamental da vertente denominada de
“marxismo acadêmico” brasileiro foi:
a)
b)
c)
d)
e)
implantar uma sociedade racional, em bases marxistas.
implantar uma sociedade de mercado.
implantar um regime socialista.
implantar uma sociedade neocapitalista.
implantar uma Universidade voltada para os interesses religiosos.
203
Filosofia e Lógica
5. Dentro dos pensadores brasileiros abaixo, quais deles são representantes do
positivismo iniciado no século passado?
a)
b)
c)
d)
e)
Tobias Barreto e Sílvio Romero.
Benjamin Constant e Miguel Lemos.
Caio Prado Junior e Padre Leonel Franca.
Teixeira Mendes e Gláucio Veiga.
Miguel Reale e Silvio Romero.
6. No princípio do século XX, vimos surgir o padre Leonel Franca como um dos
nomes mais representativos do pensamento filosófico desse período. Sobre este,
podemos dizer que:
a)
b)
c)
d)
e)
desempenhou importante papel na restauração e renovação do pensamento
Neotomista frente às questões trazidas pelas doutrinas materialista e
espiritualista.
desempenhou importante papel na restauração e renovação das escolas
antitomistas frente às questões trazidas pelas doutrinas materialista e
espiritualista.
desempenhou importante papel na restauração e renovação do pensamento
Neotomista frente às ameaças trazidas pelas doutrinas imaterialista e
espiritualista.
desempenhou importante papel na difamação e renovação do pensamento
Neotomista frente às questões trazidas pelas doutrinas materialista e
espiritualista.
desempenhou importante papel na restauração e renovação do pensamento
Neotomista frente às questões trazidas pelas doutrinas imanista e
espiritualista romana.
204
Filosofia e Lógica
7. Os primeiros pensadores brasileiros de que se tem notícia adotavam as teorias
sensistas e materialistas de Condillac e Cabanis, tentando conciliá-las com o
espiritualismo eclético, veiculado, especialmente, por Victor Cousin. Dentre os
adeptos deste direcionamento, podemos destacar:
a)
b)
c)
d)
e)
José Soriano de Souza e Vicente Cândido Figueiredo de Sabóia.
Miguel Lemos e Teixeira Mendes.
Miguel Lemos e Vicente Cândido Figueiredo de Sabóia.
Eduardo Ferreira França e Domingos José Gonçalves de Magalhães.
José Soriano de Souza e Vicente Cândido Figueiredo de Sabóia.
8. Dentre os principais representantes do “marxismo acadêmico”, podemos citar
entre eles:
a)
b)
c)
d)
e)
Roland Corbisier e Edgardo de Castro Rebelo.
Emmanuel Carneiro Leão e Gerd Borheim.
Patrik Stellita e Salvador Adoran.
Tobias Barreto e Afonso Barbosa Filho.
Gerd Borheim e Roland Corbisier.
9. Tentando dar uma resposta concreta ao problema da pobreza e das
desigualdades sociais que afetam o Brasil, alguns pensadores de formação cristã
têm desenvolvido projeto, ao longo das últimas décadas, que acolhe elementos
conceituais provindos das teologias católica e protestante, bem como do
hegelianismo, dos messianismos políticos rousseauniano e saint-simoniano, do
personalismo de Emmanuel Mounier e do marxismo. Como se denomina este
projeto desenvolvido pelos pensadores brasileiros nas ultimas décadas?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
205
Filosofia e Lógica
10. Por que existem teóricos que afirmam veementemente a impossibilidade de
uma filosofia genuinamente brasileira?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
206
Filosofia e Lógica
Considerações finais
Caro aluno,
Chegamos ao final ao final do nosso curso de Filosofia e Lógica. Durante o
nosso percurso de estudo, objetivamos oferecer a você um panorama geral da
Filosofia através dos temas principais que a constitui, diante de um panorama
lógico e coerente com a especificidade de cada campo de estudo que esta
disciplina abrange. Com base nisso, foi-lhe apresentado as ferramentas
fundamentais para que você desenvolva uma elaboração correta do pensamento
abstrato, como também o amadurecimento, a aquisição da autonomia da reflexão
e do seu agir coerente, através do olhar crítico sobre si mesmo e do mundo que o
cerca. Esta foi, portanto, a nossa tarefa principal.
O Ensino à Distância o parabeniza por ter concluído seus estudos,
aumentando sua bagagem com conhecimentos e habilidades que irão beneficiá-lo
durante toda a sua vida.
Contudo, tenha em mente que a aprendizagem não para por aqui. Mantenha
o hábito de ler, atualize-se sempre e não esqueça de praticar o que foi aprendido
com esta disciplina.
“Uma visão sem ação é meramente um sonho.
Uma ação sem visão carece de sentido.
Uma visão com ação pode mudar o mundo”.
(Arthur Joel Barker – do filme Descobrindo o Futuro)
Sucesso!
207
Filosofia e Lógica
Conhecendo o autor
O professor universitário Delmo Mattos é graduado em Filosofia, Mestre em
Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, onde atualmente
cursa o Programa de Doutorado em Filosofia. Professor e Coordenador do curso de
Pós-graduação em Filosofia e Cultura – UNIVERSO. Conteudista e Tutor da
disciplina Filosofia – EAD- UNIVERSO, assim como professor da UNIVERSO desde
2002 nas disciplinas presenciais correlacionadas a Filosofia e Sociologia. Possui
artigos publicados em revistas eletrônicas de cunho internacional e participante
ativo de conferências relacionadas às áreas de Filosofia Política e Metafísica.
208
Filosofia e Lógica
Referências
ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando. Introdução à filosofia. São
Paulo: Moderna, 1995.
BLACKBURN, S. Dicionário Oxford de Filosofia. Trad. Desidério Murcho: Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 1997.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. SP: Ática, 2005.
______. Introdução à história da filosofia. Dos pré-socráticos a Aristóteles. São
Paulo: Brasiliense, 1994.
DELACAMPAGNE, Cristian. História da filosofia no séc. XX. Rio de janeiro, Jorge
Zahar, 1997.
GARCIA MORENTE, Manuel. Fundamentos de filosofia. São Paulo, Mestre Jou,
1970.
JASPERS, Karl. Introdução ao pensamento filosófico. 3 ed. São Paulo: Cultrix,
1976.
REALE, Miguel. Introdução à Filosofia. 3ª ed. São Paulo, Saraiva, 1994.
REZENDE, A. Curso de filosofia. Para Professores e alunos dos cursos de Filosofia
de segundo Grau e Graduação. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,1986.
VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. Ed. Rio de Janeiro,
Bertrand Brasil, 1992.
209
Filosofia e Lógica
NUNES, Benedito. A filosofia contemporânea. São Paulo, Ática, 1991.
MARÍAS, Julían. História da Filosofia. Tradução Alexandre Pinheiro Torres. 2. ed.
Porto: Sousa e Almeida, s.d.
HESSEN, J. Teoria do conhecimento. Martins fontes: São Paulo, 2000.
COPI, Irving. Introdução à lógica. São Paulo: Mestre Jou, 1974.
ALVES, Rubem. Filosofia da Ciência. 21ª Ed. São Paulo: Brasiliense, 1995.
VASQUEZ, Adolfo Sanchez. Ética. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1987.
VALLS, Álvaro L. M. O que é ética. São Paulo, Brasiliense, 1986.
LEBRUN, Géreard. O que é poder. São Paulo, Brasiliense, 1881.
BOBBIO, Norberto. A teoria das formas de governo. Brasília, UNB, 1980.
PAIM, Antônio. História das ideias filosóficas no Brasil. 5. ed. Londrina: UEL, 1997.
JAIME, Jorge. História da Filosofia no Brasil. Vol. 1 e 2. São Paulo/Petrópolis:
Faculdades Salesianas/Vozes, 1997 e 1999.
210
Filosofia e Lógica
A
nexos
211
Filosofia e Lógica
Gabaritos
Unidade 1
1. A
2. C
3. D
4. A
5. C
6. E
7
C
8
A
9
Resposta: Esta afirmação paradoxal de Garcia Morente nos coloca diante do
mais importante ou o ponto de partida de todos os “problemas” que irão permear
o estudo da Filosofia, ou seja, o “espanto” ou a “perplexidade” como o início de
todo o processo da reflexão filosófica. O que significa este “espanto” e tal
“perplexidade” para com as coisas, com a realidade em que estamos inseridos? Ora,
a capacidade de se espantar diante das coisas, de se admirar é uma característica
própria de todo ser humano. Do “espanto” e da “perplexidade” surge a nossa
capacidade de interrogação, ou seja, de uma busca incessante de uma explicação
plausível para os fatos sobre os quais nos deparamos, pelas coisas que vivemos,
sentimos, da nossa realidade e das coisas que ainda podemos esperar. Esta atitude
é comparada com a de uma criança ou um menino, como vimos na citação de
Morente. Doravante, o sentido de que a disposição do ânimo que se faz presente
na origem do processo da reflexão filosófica deve consistir necessariamente em
perceber e sentir por onde quer que for, tanto no âmbito de nossas vidas , tanto no
âmbito da realidade que participamos, um sentimento de admiração, espanto e de
uma curiosidade insaciável, como a de uma criança que inicialmente não
compreende nada e para quem tudo está repleto de “problemas”.
212
Filosofia e Lógica
10
Resposta: Ora, na nossa sociedade atual é considerado útil aquilo que possui
uma finalidade prática e imediata. Tudo se processa ou tem razão de existir se tiver
uma aplicação prática que forneça algum resultado imediato, não é isso? Um
exemplo deste fato é que todo mundo sabe que todo aquele que estuda
engenharia, de uma maneira geral, irá participar da construção de edifícios, ruas,
bairros, cidades etc. Todos sabem que a utilidade de se filmar um roteiro
cinematográfico é, senão, para que as pessoas vejam o tal enredo sendo encenado
e que ao assistirem ao filme pronto se emocionem, que se tal filme for bem aceito
pelo público, seja merecedor de um Oscar e que ao ser visto por milhões de
telespectadores, ele retorne em dividendos para seus produtores. Tudo hoje em
dia é visto sob este aspecto finalístico, em que tudo que é feito possui uma razão
de ser. A questão acerca do que "para que serve?", de antemão, pressupõe uma
visão utilitária das coisas. No entanto, no sentido utilitário das coisas, não há como
vislumbrar para que serviria a Filosofia. Aí então, poderíamos dizer a célebre
expressão: a Filosofia não serve para nada! Mas, tal expressão só poderia fazer
sentido se limitássemos a pensar a Filosofia através da possibilidade de que com
ela se poderia obter uma utilidade econômica, isto é, obter lucro com a sua
utilização. Se for assim, a Filosofia sempre permanecerá no direito de se manter
inteiramente inútil.
Unidade 2
1. A
2. C
3. A
4. C
5. D
6. B
7 A
8 A
9
A – Resposta: O Senso comum. / B - Resposta: O aluno poderá citar entre
muitas: Subjetivo; Natural; Conservador; Fragmentário; Espontâneo e Intuitivo.
Também, acrítico, pré-científico, Dogmático.
213
Filosofia e Lógica
10
Resposta: A operatividade consiste no postulado de que todo e qualquer
conceito científico somente tem valor científico, se for definido mediante uma série
de operações físicas, experiências e medidas idealmente possíveis e a objetividade
significa a capacidade de distanciamento de todo elemento afetivo e subjetivo, isto
é, tendência a ser independente dos “sentimentos pessoais”. A objetividade da
ciência quer dizer, sobretudo, que o seu conhecimento tem um caráter universal.
Unidade 3
1. C
2. B
3. A
4. B
5. D
6. D
7 D
8 B
9
Resposta: O comércio assume importância definitiva possibilitando o
desenvolvimento da moeda. A viagem entre os Gregos possibilitou a aquisição de
novos conhecimentos técnicos e geográficos através do contato com outras
civilizações e diferentes formas de vida. Nas mentes mais despertas, a sabedoria
popular, representada pelos ensinamentos rotineiros dos poetas, começa parecer
inadequada. No que diz respeito à moral, os valores bélicos e aristocráticos
encontram-se defasados, já que as relações comerciais exigem normas de justiça e
de direito como base para as trocas. O conhecimento dos outros povos pelos
gregos cria a convicção de que cada povo e cada raça representavam os Deuses de
maneira diversa.
10
Resposta: Tales aparece como iniciador da Filosofia. A sua importância se
deve ao fato de que, seu esforço em busca de um princípio único da explicação da
realidade, não só constitui o ideal da Filosofia como também lhe forneceu o
impulso para se desenvolver.
214
Filosofia e Lógica
Unidade 4
1. A
2. A
3. B
4. D
5. A
6. D
7 A
8 D
9 Resposta: O aluno pode citar: Filosofia Analítica da Linguagem; Semiótica;
Positivismo Lógico; A Hermenêutica; O Estruturalismo; A Fenomenologia; O
Existencialismo; A Escola de Frankfurt. A Filosofia Contemporânea caracteriza-se,
sobretudo, como uma tentativa de encontrar respostas para a crise do projeto
filosófico da era moderna.
10 Resposta: A Filosofia Patrística e a Filosofia Escolástica ou Medieval
propriamente dita.
Unidade 5
1. A
2. D
3. E
4. E
5. C
6. B
7 B
8 B
9
Resposta: Lógica
10 Resposta: Esta se distingue daquelas por ser uma antropologia da essência e
não das características humanas, ou seja, ela se distingue da antropologia mítica,
poética, teológica e científico-natural ou evolucionista por fornecer uma
interpretação basicamente ontológica do homem.
215
Filosofia e Lógica
Unidade 6
1. D
2. B
3. A
4. D
5. E
6. D
7 D
8 B
9
Resposta: Classicamente, a verdade se define como adequação do intelecto ao
real. Pode-se dizer, portanto, que a verdade é uma propriedade dos juízos que
podem ser verdadeiros ou falsos, dependendo da correspondência entre o que
afirmam ou negam e a realidade de que falam.
10 Resposta: A consciência de si é a consciência nos estados internos do sujeito,
ou seja, a reflexão. A consciência do outro é a consciência dos objetos exteriores.
Unidade 7
1. D
2. D
3. B
4. C
5. D
6. D
7 A
8 B
9
Resposta: O racionalismo pressupõe a razão como o principal meio de
conhecimento da verdade.
10 Resposta: A impossibilidade de conhecimento da verdade. Assim, para o
ceticismo, o homem nada pode afirmar, pois nada pode conhecer.
216
Filosofia e Lógica
Unidade 8
1. A
2. B
3. C
4. C
5. A
6. E
7 D
8 B
9 Resposta: O princípio da identidade e o princípio da não-contradição.
10
Resposta: Conceber, julgar e raciocinar.
Unidade 9
1. B
2. D
3. C
4. D
5. B
6. C
7 B
8 A
9 Resposta: Critério da ausência ou de presença da ação humana, critério de
imutabilidade e permanência, critério de praticidade.
10 Resposta: Enquanto as ciências empíricas vão descobrir, descrever e explicar
as ocorrências do mundo em que vivemos, as ciências não-empírica são aquelas
que dispensam a referência à experiência. Estas se desenvolvem no plano da
abstração e do raciocínio.
Unidade 10
1. B
2. C
3. B
4. B
5. C
6. E
7 A
8 D
9 Resposta: Enquanto a moral está associada ao agir concreto, a ética vincula-se
também à teorização sobre os valores e à conduta moral, discutindo a questão do
bem e do mal. Em outras palavras, enquanto a moral envolve exclusivamente a
prática, a ética pode se referir tanto à prática quanto à teoria sobre a mesma.
217
Filosofia e Lógica
10 Resposta: A ética deve ser entendida como um conjunto de regras avaliadas
com rigor e consciência crítica. Isto significa que a ética se preocupa com uma
rigorosa avaliação sobre o que é o bem e o mal, buscando indicar quais os
caminhos o homem pode realizar enquanto agente do bem. Assim, se a moral
indica os costumes de um determinado grupo social, a ética questionará e teorizará
o que é justo sobre o agir adequado a uma determinada situação, na qual se realize
o bem e se evite o mal.
Unidade 11
1. E
2. E
3. B
4. B
5. E
6. B
7 A
8 C
9 Resposta: É aquele que utiliza os meios de “coerção social”, ou seja, a força
física, legalmente, para dominar os outros. Este se preocupa em garantir o domínio
da força, controlando a organização dos “instrumentos de coerção”, ou seja,
polícia, forças armadas, tribunais etc.
10 Resposta: O contrato social para Rousseau é “uma livre associação de seres
humanos inteligentes que deliberadamente resolvem formar certo tipo de
sociedade a qual passam a prestar obediência mediante o respeito à vontade
geral”. O contrato social, ao considerar que todos os homens nascem livres e iguais,
encara o Estado como objeto de um contrato no qual os indivíduos não renunciam
seus direitos naturais, mas ao contrário, entram em acordo para a proteção desses
direitos que o Estado é criado para preservar.
Unidade 12
1. B
2. D
3. C
4. A
5. B
6. A
7 D
8 A
9 Resposta: Denomina-se de projeto “imanentista de libertação”.
10 Resposta: O aluno deverá responder, destacando, sobretudo, que os filósofos
brasileiros foram profundamente influenciados pelas Correntes Européias, dando
margem para uma continuidade do Pensamento Europeu ao invés de uma
constituição de um pensamento original.
218
Download