ASTRODINÂMICA DE VEÍCULOS ESPACIAIS Vivian M. Gomes 157 Astrodinâmica de Veículos Espaciais Vivian M. Gomes Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá - FEG / UNESP Antonio Fernando Bertachini de Almeida Prado Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais Introdução O estudo do movimento de corpos celestes sempre foi um d(os problemas que mais atraíram a curiosidade humana. As primeiras observações do céu mostraram que, apesar da grande maioria das estrelas ocuparem posições relativas fixas, existem algumas exceções, que foram denominadas de “planetas” (errantes), que possuem um movimento próprio no céu. Com base nessas observações surgiu o interesse em descobrir maneiras de prever esse movimento e a busca por equações matemáticas que pudessem explicar os dados observados. Assim surgiu a ciência da Astronomia, que se dedicava à observação do céu e tentativas de interpretação dos fenômenos observados. Com o passar do tempo a ciência foi evoluindo e a Astronomia passou a ter divisões bem definidas, como astrofísica, mecânica celeste, etc. A mecânica celeste passou a ser à parte da Astronomia dedicada ao estudo do movimento dos corpos celestes. Grandes nomes da ciência deram contribuições importantes nessa área, tais como Poincaré, Kepler, Newton, Einstein, etc. Com o avanço da tecnologia, a humanidade passou a explorar o espaço de uma forma mais efetiva que a simples observação do céu e passou a construir veículos espaciais que são lançados da Terra e estudam tanto o seu espaço vizinho como o Sol, a Lua, outros planetas, etc. Com isso, a mecânica celeste criou um novo ramo dedicado ao estudo do movimento dos veículos espaciais, consistindo na modelagem das forças envolvidas para a previsão da posição e velocidade do veículo espacial em função do tempo. Também passou a considerar maneiras artificiais de alterar a trajetória de um veículo espacial através do uso de motores capazes de produzir uma alteração na velocidade do veículo espacial. Senso assim, o presente trabalho mostrará os modelos mais utilizados no planejamento de missões espaciais: o modelo de dois corpos e o problema restrito de três corpos. Depois, mostrará também formas utilizadas para alterar a órbita de um veículo espacial através do uso de propulsores. Também será mostrada a técnica chamada de Swing-By, que consiste em utilizar a energia gravitacional de um corpo celeste (um planeta ou um satélite natural) para efetuar uma manobra orbital sem o uso de combustível. Problema de Dois Corpos A sucessão de eventos que levou a nossa visão atual do problema de prever o movimento de corpos celestes começa com as observações feitas pelo astrônomo Tycho Brahe (1546-1601). Ele coletou dados dos movimentos dos planetas a olho nu, mas com grande precisão. Esses dados foram posteriormente estudados por Johannes Kepler (1571-1630), que formulou as três importantes leis, chamadas “Leis de Kepler”, que define o movimento dos planetas em torno Sol e explica os dados obtidos por Tycho Brahe. As leis são as seguintes: 1) 2) A órbita de cada planeta é uma elipse, com o Sol ocupando um dos focos; Para cada planeta, a velocidade é tal que o raio vetor que o une ao Sol percorre áreas iguais em tempos iguais (velocidade aerolar é constante). Sendo assim, o movimento é mais rápido quando o ponto de massa passa pelo perihelio e mais lento quando passa pelo afélio, para compensar as diferenças de distâncias e manter as áreas constantes; 158 3) O cubo do semi-eixo maior da órbita do planeta é proporcional ao quadrado do seu período orbital. É importante frisar que o modelo utilizado por Kepler já levava em conta a hipótese de que o Sol ocupava o centro do Sistema Solar. O próximo grande passo foi feito por Isaac Newton (1642-1727), que obteve uma lei matemática que fornece a força exercida entre dois pontos de massa para que as trajetórias resultantes sigam as leis descobertas por Kepler. É a chamada “Lei de Newton da Gravitação”, que pode ser formulada como: Todos os corpos celestes são atraídos uns pelos outros com uma força de magnitude dada pela equação Fg = GMm r 2 (1) Nessa equação, Fg é a força de gravitação entre dois corpos; M, m são as massas dos dois corpos envolvidos; G = 6.668 10-11 Nm2kg-2 é a constante de gravitação universal; r é a distância entre os centros de massa dos dois corpos. Depois disso, Albert Einstein formulou a Teoria da Relatividade que mudou a forma de enfrentar esse problema, principalmente para corpos com valores muito elevados para a densidade, como os buracos negros. Porém, levando em conta os corpos existentes no Sistema Solar, a lei Newtoniana é suficiente para estudar todos os problemas envolvidos em dinâmica orbital. O Problema Restrito de Três Corpos Nessa simplificação do problema geral de três corpos, é suposto que existem dois corpos M 1 e M2 de massas finitas m1 e m2, respectivamente. Deseja-se então estudar o movimento de um terceiro corpo de massa desprezível e que orbita o sistema formado pelos dois outros corpos. Entre os sistemas que podem ser estudados com esse modelo, podemos citar: a) O movimento de cometas e asteróides no Sistema Solar; b) A trajetória de um veículo espacial se dirigindo ao Sistema Solar Exterior (Júpiter, por exemplo); c) A trajetória de uma sonda lunar; etc. Em particular, manobras gravitacionalmente assistidas podem ser estudadas com esse modelo. Esse assunto será abordado em detalhes mais à frente nesse trabalho. Existem diversas versões do Problema Restrito de Três Corpos, conforme a modelagem adotada (Szebehely, 1967). Vamos utilizar nesse trabalho somente a mais simples e estudada de todas, o problema restrito-plano-circular de três corpos. Ele pode ser formulado como: "Deseja-se conhecer o movimento de um corpo M3, de massa infinitesimal, em torno de um sistema composto por M3 e dois outros corpos M1 e M2 com massas finitas. Considera-se que apenas forças gravitacionais atuem no sistema, que as órbitas de M 1 e M2 em torno do centro de massa sejam circulares e que M3 se mova apenas no plano das órbitas de M1 e M2". A forma mais usual de se estudar esse problema é utilizar o sistema adimensional de unidades, também conhecido como sistema de unidades canônicas. Nesse sistema ficam implícitas as seguintes regras: 1) A unidade de distância passa a ser a distância entre M 1 e M2; 2) A unidade de massa se torna m = m1 + m 2 ; 3) A velocidade angular do movimento de M e M torna-se unitária; 4) A constante 1 2 gravitacional passa a ser G = 1; 5) O período do movimento angular M1-M2 resulta em 2. Podemos também definir como sendo a massa do menor primário, o que faz com que a massa do maior primário sejá 1 = 1−. Com isso, as equações de movimento ficam: x − 2 y = Ω x , y + 2 x = Ω y 159 Ω= 2 (x 2 ) + y2 1− µ µ + + 2 r1 r2 2 r1 = ( x + µ ) + y 2 2 2 r2 = ( x − 1 + µ ) + y 2 (2) Manobras Orbitais O problema de transferir um veículo espacial (dotado de propulsores) de uma órbita para outra tem crescido de importância nos últimos anos. Aplicações podem ser encontradas em diversas atividades espaciais, tais como na colocação de um satélite em órbita geoestacionária, no deslocamento de uma estação espacial, na manutenção de órbita de um satélite, no envio de sondas interplanetárias, etc. Neste trabalho são apresentadas a definição formal do problema e as principais linhas de modelagem. O objetivo é proporcionar ao leitor com conhecimentos básicos de mecânica celeste um rápido entendimento do problema, bem como servir como um "guia" para referências que estudem esse problema em maiores detalhes. O problema será sempre discutido em termos de transferência com mínimo consumo de combustível, embora outras variantes do problema existam na literatura, tais como: tempo mínimo para transferência, velocidade final mínima, encontro com outro veículo espacial, etc. Em termos conceituais, a transferência de um satélite com consumo mínimo de combustível consiste em se alterar o estado (posição, velocidade e massa) de um veículo espacial das condições r0, v0 e m0 no instante t0, para rf, vf e mf no instante tf (tf t0) com o menor gasto de combustível (m0 – mf) possível. A transferência pode ser completamente vinculada (no caso de "rendezvous") ou parcialmente livre (tempo livre, velocidade final livre, etc). No caso mais geral, deve-se fazer a escolha da direção, sentido e magnitude do empuxo (o controle disponível) a ser aplicado, respeitando-se os limites dos equipamentos disponíveis. A literatura sobre o assunto apresenta diversas modelagens na abordagem desse problema. As diferenças quanto aos vínculos dinâmicos (equações de movimento), podem ser divididas em: i) Modelagem simples de dois-corpos, aonde é assumida a presença de um astro massivo (como a Terra, a Lua, etc...) e de um veículo espacial de massa desprezível viajando nos arredores desse astro; ii) Modelagem de dois-corpos perturbados, aonde é adotado o modelo matemático do item anterior, acrescido de uma ou mais perturbações no sistema. Entre as perturbações mais comuns estão: não esfericidade do astro principal, atrito atmosférico, existência de pressão de radiação (quando o Sol está presente no sistema), presença de outros corpos, etc; iii) Modelagem com três-corpos, que é uma modelagem muito comum para o estudo de trajetórias lunares e interplanetárias. É assumida a presença de apenas três corpos no sistema, que são tratados como pontos de massa. Nenhuma outra perturbação é considerada. É muito comum o caso particular denominado "Problema restrito de três corpos", já mostrado anteriormente; iv) Modelagem com N-corpos, que assume a presença de um número arbitrário N de corpos celestes. Outras perturbações geralmente não são incluídas e todos os N corpos são tratados como pontos de massa. Importantes aplicações para esse tipo de modelagem ocorrem em missões multi-planetárias (diversos planetas e/ou satélites visitados por um mesmo satélite) como, por exemplo, as missões Voyager I e II, Galileu, etc... Em geral essa modelagem é utilizada para refinar uma solução encontrada por uma modelagem mais simples, como a de dois ou três corpos. Integração numérica e linearizações em torno de uma órbita nominal são recursos usados com freqüência. É também muito comum o uso de manobras gravitacionalmente assistidas, que serão mostradas mais a frente no presente trabalho. Quanto à modelagem do atuador (empuxo a ser aplicado ao veículo espacial) podemos notar a presença de duas grandes categorias: 160 i) Empuxo infinito, aonde é assumido que o motor seja capaz de aplicar um empuxo instantâneo e de magnitude infinita. O efeito desse impulso é medido através de uma variação instantânea na velocidade do veículo espacial (∆V), que é suposto ter uma trajetória contínua. É o modelo mais aplicado na literatura, devido a sua simplicidade e razoável precisão; ii) Empuxo contínuo, aonde é assumido que o motor seja capaz de aplicar um empuxo finito por um tempo diferente de zero. O efeito desse empuxo é medido por integrações numérica das equações de movimento ou linearizações válidas por um curto período de tempo. Diversas variantes podem ser encontradas na literatura quanto ao grau de liberdade do empuxo: magnitude constante ou variável, possibilidade de mudar a direção do empuxo livremente ou com restrições (restrito a um plano ou cone, etc), possibilidade de desligar o motor e alternar arcos propulsados com arcos balísticos, etc... A Transferência de Hohmann Um dos mais conhecidos resultados nesse campo é o trabalho de Hohmann, que obteve a solução ótima do problema de transferência de um veículo espacial entre duas órbitas circulares e coplanares em um campo gravitacional Newtoniano (que atua com uma lei do inverso do quadrado da distância). Essa solução ainda é usada até hoje, sob certas circunstâncias, e foi considerada como a solução final do problema até 1959. Ela estuda o caso de uma transferência bi-impulsiva entre duas órbitas circulares e coplanares com tempo livre e é mostrada na Fig. 1. Os passos principais envolvidos nessa transferência estão resumidos abaixo. Na órbita inicial (O0) aplica-se um impulso na direção do movimento e de magnitude dada por: ∆V0 = V0 2 R f R0 −1 Rf R +1 0 (3) onde: R0 = raio da órbita inicial, R f = raio da órbita final, V0 = velocidade do veículo na órbita inicial. Com isso o veículo entra numa órbita de transferência elíptica (O) com periapsis R 0 e apoapsis Rf. Então, espera-se que o veículo complete meia revolução e atinja o apoapsis, quando é aplicado o segundo e último impulso, na direção do movimento e com magnitude dada por: ∆Vf = V0 1 − 2 R 0 R f R f +1 R 0 (4) Esse segundo impulso faz com que o veículo entre em uma órbita circular de raio R f. Com isso tem-se que o tempo de transferência é a metade do período orbital da órbita O, isto é: t = (1/2){[1+Rf/R0]/2}3/2T0 (5) onde T0 = período da órbita inicial. A Transferência de Hoelker e Silber (Bi-Elíptica e Tri-Impulsiva) No final da década de 50, Hoelker e Silber mostraram que a solução de Hohmann é a solução ótima apenas quando a razão entre os raios das órbitas final e inicial é menor que 11.94. Nos outros 161 casos a transferência bi-elíptica tri-impulsiva é mais econômica. Essa transferência segue os seguintes passos: i) Aplica-se o primeiro impulso (∆V0) na órbita inicial, na direção do movimento do veículo, e com uma magnitude tal que ele entre em uma órbita elíptica O 1 com periapsis R0 e apoapsis R. É preciso que R > Rf , caso contrário a transferência de Hohmann seria mais eficiente; ii) Quando o veículo atinge o apoapsis R, aplica-se o segundo impulso (∆V), também na direção do movimento, e com magnitude tal que faça com que o veículo entre em uma órbita elíptica O 2 com apoapsis em R e periapsis em Rf; iii) Quando o veículo atinge o periapsis aplica-se o terceiro impulso, agora contrário a direção do movimento, e com magnitude tal que faça com que o veículo entre em órbita circular de raio R f. A Fig. 2 ilustra essa transferência. É importante notar que a transferência é tanto mais eficiente, isto é, apresenta um menor valor na soma dos incrementos de velocidade necessários em cada etapa, quanto maior for o valor de R. Essa manobra é mais eficiente que a manobra de Hohmann devido ao fato do segundo impulso ser aplicado longe do centro de atração, o que diminui o combustível necessário, porque a força de atração é muito mais fraca nesse ponto (ela é inversamente proporcional ao quadrado da distância entre os corpos). V V S f O O f O 2 R O O 0 O F RF O 1 f 0 F R0 V 0 V V Figura 1 – Transferência de Hohmann. 0 f Figura 2 – Transferência Bi-Eliptica. A Transferência Bi-Parabólica Uma vez que se sabe que, quanto maior o valor de R (distância do veículo ao foco no momento do segundo impulso) mais eficiente é a transferência, é lógico se pensar no limite de R tendendo ao infinito. É justamente isso o que caracteriza a transferência bi-parabólica, que segue os seguintes passos: i) Na órbita inicial (O0) aplica-se um impulso, na direção do movimento e com magnitude (∆V0) tal que faça com que o veículo entre em uma órbita parabólica O1; ii) Quando o veículo atinge o infinito (teoricamente, é claro) aplica-se um segundo impulso, infinitesimal, que faz com que o veículo passe da órbita O 1 para outra órbita parabólica O2. Esse impulso não consome combustível, devido ao fato de R ser infinito; iii) Quando o veículo passa pelo periapsis da órbita parabólica O2 aplica-se o terceiro impulso, na direção oposta ao movimento e com magnitude (∆Vf) tal que faça com que o veículo entre na órbita circular Of. 162 É óbvio que essa transferência não pode ser realizada na prática, pois o tempo necessário seria infinito, devido ao passo ii. A Manobra Assistida por Gravidade Nesta seção, a manobra assistida por gravidade é definida e explicada. Essa manobra é também conhecida usualmente como manobra de swing-by. Será feito um tratamento matemático desse problema com base numa seqüência de interações de dois corpos. Os resultados principais são derivados a partir desse modelo simples. A importância das trajetórias assistidas pela gravidade (ou manobra de swing-by) pode ser bem entendida pelo número de missões que voaram ou estão programadas para voar usando essa técnica. Um exemplo bem sucedido foi o das missões Voyager, que voaram para os planetas exteriores (a partir de Júpiter) do Sistema Solar com o uso de swing-bys sucessivos nos planetas visitados, onde ganharam energia. A Fig. 3 mostra essa famosa missão. Além dela, as trajetórias swing-by têm uma variedade de aplicações, tais como: o uso do planeta Vênus para uma viagem da Terra até Marte; o uso do planeta Júpiter para fazer uma forte alteração na inclinação do plano orbital de uma nave espacial, de modo que ela seja transferida para uma órbita que tenha um plano orbital perpendicular a eclíptica, como a missão Ulysses; o uso de swing-by com a Terra, ou outro planeta interior, para fornecer energia suficiente ao veículo espacial para que ele atinja o exterior do Sistema Solar, conforme visto na Fig. 3, que mostra uma trajetória para Plutão; o uso da Lua para lançar uma nave espacial para uma órbita elíptica ou hiperbólica que termine em escape da Terra; o uso de sucessivos swing-bys com a Lua para obter geometrias desejáveis nas órbitas das naves espaciais ao redor da Terra, tais como os satélites que observam fenômenos solares; o uso de múltiplos swing-bys com propulsão nos satélites de um grande planeta (Júpiter ou Saturno) para investigar esses satélites. Todas as aplicações citadas acima estão no campo da Astronáutica, sendo que todas elas são muito recentes se comparadas à literatura no campo da Astronomia. A mecânica celeste do swing-by já é conhecida pelos astrônomos há cerca de 150 anos. Laplace entendeu o mecanismo completo da manobra assistida pela gravidade. Posteriormente, alguns pesquisadores derivaram equações analíticas para os efeitos do swing-by e/ou produziram resultados numéricos neste tópico, especialmente no problema de escape e captura de cometas por Júpiter, que é essencialmente o mesmo problema. Para um estudo com modelagem simplificada, podemos supor que a missão total pode ser dividida em várias etapas. O modelo simples de dois corpos é utilizado para cada uma dessas etapas. Essa abordagem é usualmente chamada de patched conics. Esse trabalho é baseado em Broucke (1988) e Prado (1993). Considera-se que o sistema é formado por três corpos: M 1, um corpo massivo no centro do sistema cartesiano; M2, um corpo menor, um planeta ou satélite de M1 em uma órbita kepleriana em torno de M1; M3, uma nave espacial com massa infinitesimal ou uma partícula que está viajando em uma órbita ao redor de M1, quando faz um encontro com M2. Este encontro altera a órbita de M3. Esse fenômeno é chamado de uma manobra de swing-by. De acordo com estas hipóteses, as órbitas de M1 e M2 não se alteram. A Fig. 4 descreve o evento e mostra algumas das variáveis envolvidas. − + As variáveis são: V2 = a velocidade de M2 em relação a M1; V∞ , V∞ = vetores velocidade da nave espacial relativa a M2, antes e depois do encontro, respectivamente; Vi , Vo = vetores velocidade da nave espacial relativo a M1, antes e depois do encontro, em um referencial inercial, respectivamente; − + = metade do ângulo de curvatura (o ângulo entre V∞ e V∞ ); rp = a distância de máxima aproximação durante o encontro (ponto P) entre M2 e M3; = o ângulo entre a linha do periapsis (linha conectando M2 a P) e a linha M1 - M2. Para encontrar as equações necessárias é preciso, em primeiro lugar, usar a teoria das órbitas hiperbólicas, com o objetivo de se obter uma expressão para . Esta expressão pode ser facilmente encontrada na literatura e é dada por (Broucke, 1988): 163 sen( δ ) = 1+ 1 r pV ∞2 µ2 (6) onde: 2 = Gm2, sendo G a constante universal de gravitação. As variáveis independentes que descrevem completamente a manobra swing-by são as seguintes: V∞ i) , a magnitude de velocidade da nave espacial no infinito, antes ou depois da passagem próxima; ii) rp, a distância do periapsis; iii) , o ângulo de aproximação. J U P IT E R 7 /9 /7 9 La u n c h 1 1 /1 5 /2 0 0 1 J U P IT E R 3 /5 /7 9 SATU RN 1 1 /1 2 /8 0 SATU RN 8 /2 6 /8 1 P lu t o F ly b y 6 /2 7 /2 0 1 5 EARTH 9 /5 /7 7 SUN EARTH 8 /2 0 /7 7 M AR S M a ne uve r 5 /3 2 /2 0 0 3 URANUS 1 /2 6 /8 6 J u p it e r F ly b y 5 /1 0 /2 0 0 6 E a rth F ly b y 1 /1 /2 0 0 5 NEPTUNO 8 /3 0 /8 9 PLU TO Figura 3 - Trajetórias das Voyager 1 e Voyager 2 e Trajetória para Plutão (Weinstein, 1992). V + δ δ B V Vp P V R um o a M 2 1 M rp δ 3 δ V0 V 2 Ψ M + X 2 V2 A V Vi V I Figura 4 - A Manobra de Swing-By, Algumas de Suas Variáveis e a Soma de Vetores Velocidade. 164 O método aproximado conhecido na literatura como patched conics tem, então, as seguintes três etapas: i) Na primeira etapa, o efeito gravitacional de M2 é desconsiderado, e o movimento de M3 em torno de M1 é tomado como sendo uma órbita kepleriana; − ii) Na segunda etapa, supõe-se que M3 entra na esfera de influência de M2. Então, a velocidade V∞ é calculada a partir da equação: V∞− = Vi − V2 (7) A Fig. 4 mostra a soma de vetores que explica a origem da Eq. (7). O efeito de M 1 é desconsiderado. O movimento de M3 ao redor de M2 é hiperbólico no caso dessa manobra. Nessa órbita hiperbólica, a nave espacial M3 é desviada por M2 e seu vetor velocidade (com relação a M2) gira de um ângulo 2, mas mantém sua magnitude constante. Então, a nave espacial cruza novamente a esfera de influência de M2 e a abandona para retornar a uma órbita kepleriana em torno de M 1. Neste ponto, a + velocidade V∞ é dada por: V∞+ = Vo − V2 (8) iii) Após atingir essa condição, a nave espacial está em uma nova órbita kepleriana ao redor de M 1 e o swing-by está completo. O estudo das diferenças entre as órbitas anteriores e posteriores a esse encontro (etapas i e iii) será desenvolvido a seguir. A primeira quantidade importante a ser calculada é a variação de velocidade ∆V = Vo − Vi , que representa a diferença entre as velocidades inerciais antes e depois do swing-by. A partir de um diagrama de adição de vetores (Fig. 4), é possível demonstrar que (Broucke, 1988): ∆V = ∆V = 2 V∞ sen( δ ) = 2V∞ sen( δ ) (9) A segunda quantidade importante a ser obtida é a variação do momento angular H. Partindo de sua definição, é possível obter a expressão H = XY − YX , o que resulta na equação + ( ∆X ) Y − Y ∆X − ( ∆Y ) X ∆H = X ∆Y ( ) ( ) para sua primeira variação. Esta equação se torna ∆H = R∆Y , utilizando a condição de que o encontro é instantâneo (X = Y = 0) e que, para t = 0 , X = R e Y = 0. Então, combinando esse resultado com a expressão que pode ser deduzida para ∆Y (Broucke, 1988): ω∆H = −2V2V∞ sen ( δ ) sen(ψ ) (10) A terceira e última quantidade derivada aqui é a variação da energia. Isso pode ser feito por subtração direta da energia após e antes do encontro. Assim sendo, podemos escrever que: E+ = 2 2 1 ( X + ∆X ) + (Y + ∆Y ) 2 , [ ] E− = 1 2 2 (X +Y ) 2 (11) O resultado obtido com essa subtração pode ser simplificada (Broucke, 1988) para ∆E = −2V 2V∞ sen ( δ ) sen (ψ ) (12) 165 Olhando para as Eqs. (10) e (12), um resultado fundamental pode ser encontrado, ∆E = ω∆H . Algumas conseqüências importantes dessas equações podem ser obtidas estudando a Eq. (12) em maior detalhe. Os parâmetros | V 2| e | V∞ | são quantidades positivas (eles são as magnitudes dos dois vetores), assim como o sen() (porque 0 < < 90º). Então, o único parâmetro que afeta o sinal de E é o sen(). A conclusão é que, para valores de no intervalo 0 < < 180°, E é negativo (decresce em energia) e, para no interalo 180º < < 360°, E é positivo (aumenta em energia). Então, as conclusões finais são: - Se o swing-by ocorre na frente de M2 (0 < <180°), há um decréscimo na energia de M3 com uma perda máxima quando = 90° ( ∆V oposto a V2 ); - Se o swing-by ocorre atrás de M2 (180° < < 360°), há um aumento na energia de M3 com um ganho máximo quando = 270° ( ∆V na direção de V2 ). A Fig. 4 mostra claramente como foi possível obter um aumento na velocidade (logo, em energia) a partir de uma passagem próximo de um corpo celeste. Lembre-se de que essa energia é medida com relação ao corpo principal M1 e é obtida à custa de uma redução da energia de translação do planeta (M2) em torno de M1. “Patched Conics” As manobras acima descritas não levam em conta a fase de inserção em órbita em torno de um segundo corpo, como por exemplo a Lua, em uma manobra dentro do sistema Terra-Lua. O método "Patched Conics" resolve esse problema quebrando a manobra total em duas partes, da seguinte maneira: i) A primeira parte despreza os efeitos da Lua e utiliza um dos métodos descritos anteriormente para levar o veículo de sua órbita inicial até uma órbita que cruze com a trajetória da Lua; ii) Quando o veículo atinge um ponto no qual a gravidade da Lua domina seu movimento (entrou na chamada "esfera de influência da Lua"), os efeitos da Terra são desprezados e a órbita é considerada como sendo kepleriana em torno da Lua. Diversos livros cobrem esse assunto em mais detalhes, como por exemplo Taff (1985). A Figura 5 ilustra essa transferência. Figura 5 – Transferência Terra-Lua. Métodos modernos Os métodos mais modernos de estudo de trajetórias espaciais estão baseados em dois conceitos de mecânica celeste: o de captura gravitacional e o de manobras assistidas por gravidade, este último já descrito acima. 166 A idéia básica de uma captura gravitacional é a de que uma órbita levemente hiperbólica (energia residual positiva) em torno de um corpo (por exemplo, a Lua) pode ser transformada em uma órbita levemente elíptica (energia residual negativa) devido a perturbações de outros corpos celestes (por exemplo, a Terra e o Sol, no caso de uma captura pela Lua). Essa captura é em geral temporária, mas, enquanto a energia permanece negativa, um impulso pode ser aplicado para completar uma captura definitiva. A manobra realizada nesse momento apresenta economia de combustível em relação a uma manobra realizada antes da captura. A Esses dois conceitos são muito bem aplicados simultaneamente em transferências Terra-Lua. Esse tipo de transferência segue os seguintes passos: i) O veículo é lançado de uma órbita circular de raio R 0 para uma órbita elíptica que cruza com a órbita da Lua em torno da Terra; ii) O veículo faz um Swing-By com a Lua e ganha velocidade suficiente para elevar a altitude do seu apoapsis a um valor acima da distância Terra-Lua, como na transferência bi-elíptica, mas com economia de combustível em relação à manobra padrão devido à utilização da manobra assistida por gravidade com a Lua; iii) Quando o veículo se encontra no apoapsis dessa primeira órbita elíptica de transferência, um segundo impulso de magnitude desprezível é aplicado para aumentar a altitude do periapsis até um valor igual ao da distância Terra-Lua. Efeitos do Sol podem ser utilizados para reduzir o valor desse impulso intermediário; iv) A transferência é completada com uma captura gravitacional do veículo pela Lua e a aplicação de um terceiro e último impulso para tornar a captura definitiva é efetuado. Essa manobra é muito similar a transferência bi-elíptica, com a vantagem da economia de combustível devido a três fontes: i) uso do Swing-by com a Lua para redução da magnitude do primeiro impulso; ii) uso do efeito do Sol para redução da magnitude do segundo impulso; iii) uso da captura gravitacional para redução da magnitude do terceiro impulso. Essa manobra também pode ser aplicada em outros sistemas além do Terra-Lua e a possibilidade de manobras coplanares ou em três dimensões ficam em aberto. Figura 6 – Trajetória com Captura Gravitacional (Yamakawa, 1992). Bibliografia Battin, R. H., An Introduction to the mathematics and methods of astrodyanamics. AIAA, New York, NY,1987. Belbruno, E. A. 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