FARMÁCIA NATURAL A utilização das plantas medicinais é uma das mais antigas armas empregadas para o tratamento das enfermidades humanas e muito já se conhece a respeito de seu uso por parte da sabedoria popular. Com os avanços científicos, esta prática milenar perdeu espaço para os medicamentos sintéticos, entretanto, o alto custo destes fármacos e os efeitos colaterais apresentados contribuíram para o ressurgimento da fitoterapia (terapia através das plantas). Os Princípios Ativos As plantas sintetizam compostos químicos a partir dos nutrientes, da água, e da luz que recebem. Muitos desses compostos ou grupos deles podem provocar reações nos organismos, esses são os princípios ativos. Algumas dessas substâncias podem ou não ser tóxicas, isto depende muito da dosagem em que venham a ser utilizadas. Assim, planta medicinal é aquela que contém um ou mais de um princípio ativo que lhe confere atividade terapêutica. Os principais grupos são: 1. Alcalóides: atuam no sistema nervoso central (calmante, sedativo,estimulante, anestésico, analgésicos). Alguns podem ser cancerígenos e outros antitumorais. Ex.: Cafeína do café e guaraná, teobromina do cacau, pilocarpina do jaborandi, etc. 2. Flavonóides: antiinflamatórios, fortalecem os vasos capilares, antiescleróticos, antidematoso, dilatador de coronárias, espasmolítico, antihepatotóxico, colerético e antimicrobiano. Ex.: rutina (em arruda e favela). 3. Taninos: adstringentes e antimicrobianos (antidiarréico). Precipitam proteínas. Ex.: barbatimao e goiabeira. 4. Óleos essenciais: bactericida, antivirótico, cicatrizante, analgésico, relaxante, expectorante e antiespasmódico. Ex.: mentol nas hortelãs, timol no tomilho e alecrim, ascaridol na erva-de-santa-maria. A utilização dessa farmácia natural de pende de alguns cuidados imprescindíveis. Primeiro passo: Identificação Ter certeza de que a planta que você está adquirindo corresponde à espécie em questão. Isso é feito por botânicos especializados, ou em Herbários (coleções de plantas) reconhecidos. Lembrar de nunca usar uma planta orientando-se unicamente pelo nome vulgar. Os nomes das plantas mudam de região para região, de local para local. Uma mesma planta pode ter vários nomes populares, por isso muito cuidado! Outra cosa importante é conhecer as partes das plantas utilizadas para determinados tratamentos. Segundo passo: Coleta As espécies medicinais, no que se refere à produção de substâncias com atividade terapêutica, apresentam alta variabilidade no tempo e espaço. O ponto de colheita varia segundo órgão da planta, estádio de desenvolvimento, época do ano e hora do dia. A distribuição das substâncias ativas, numa planta, pode ser bastante irregular; assim, alguns grupos de substâncias localizam-se preferencialmente em órgãos específicos do vegetal. O estádio de desenvolvimento também é muito importante para que se determine o ponto de colheita, principalmente em plantas perenes e anuais de ciclo longo, onde a máxima concentração é atingida a partir de certa idade e/ou fase de desenvolvimento. Outros cuidados: Não coletar plantas nas beiras de rios, nem das margens das estradas, geralmente contaminadas por fumaça dos carros, pesticidas, etc. O melhor é desenvolver horta comunitária de plantas medicinais para cultivo das plantas básicas de cada região, segundo estudo etnobotânico realizado previamente. - - Para garantir a preservação das espécies, durante a coleta, não retirar todas as folhas de um galho; as cascas devem ser retiradas em pequenos pedaços, apenas de um dos lados da planta, pois ao se circundar o caule, pode causar a sua morte. Desprezar as folhas que se apresentem furadas por insetos, mofadas ou com outras contaminações. - O melhor horário para a coleta é o da manhã, logo após a total secagem do orvalho, e as horas do fim da tarde em dias ensolarados. Para as plantas aromáticas recomenda-se a colheita do final da tarde, para evitar a evaporação de substâncias voláteis. Há diferença na época de colheita de uma espécie para outra; o ideal seria um calendário de coleta de plantas que indicasse a estação propícia, como ocorre com as verduras. Terceiro passo: Secagem A secagem é feita para eliminar a água que a planta possui, evitando a deterioração e permitindo que a planta dure por mais tempo. separar plantas imperfeitas; secar uma espécie de cada vez, ou uma longe da outra; Flores e folhas: à sombra, em local ventilado, limpo e em camadas finas. As cascas, devem ser lavadas com água corrente ligeiramente raspadas para retirar a superfície impregnada de poeira, lodo ou insetos e depois devem ser colocadas ao sol para secar. Raízes, devem ser lavadas e colocadas para secar. No caso de raízes muito grossas, sugere-se cortá-las em rodelas em espessura de um dedo, após a lavagem e colocá-las para secar. Sementes, devem ser colhidas de frutos maduros e sadios, limpos por peneiração ou lavagem e secas ao sol. São as partes vegetais que apresentam maior durabilidade. Quando não se dispõe de condições naturais de calor e vento, a secagem pode ser feita em estufa, em temperatura não superior à 40 oC. Quarto passo: Modo de preparo e quantidade da planta utilizada 1. INFUSÃO: derramar água fervente sobre a erva picada numa vasilha, tapar e deixar esfriar por 10 minutos. Usada para partes mais delicadas da planta: folhas e flores. 2. DECOCÇÃO: colocar numa vasilha com água e levar ao fogo. Ferver durante 10 a 20 minutos. Usada para raízes, rizomas, madeira, caule, cascas ou sementes. São partes mais duras que devem ser picadas e aconselha-se deixar durante a noite na água antes da decocção. 3. MACERAÇÃO: colocar as ervas de molho durante 8 a 24 horas em líquidos na temperatura ambiente: água (tisana ou garrafada), vinho, cachaça ou graspa ou mistura de água e álcool de cereais. As partes mais duras ficam mais tempo no líquido. Neste processo os minerais e vitaminas são mais aproveitados. Não são expelidos pelo vapor como nos processos anteriores. 4. TINTURA: usa-se de 25 a 80% de ervas e completa-se com álcool de cereais com maior ou menor graduação. 5. CATAPLASMA: São obtidas por diversas formas: a. amassar as ervas frescas e bem limpas, aplicar diretamente sobre a parte afetada ou envolvidas em um pano fino ou gaze; b. as ervas secas podem ser reduzidas a pó, misturadas em água, chás ou outras preparações e aplicadas envoltas em pano fino sobre as partes afetadas; c. pode-se ainda utilizar farinha de mandioca ou fubá de milho e água, geralmente quente, com a planta fresca ou seca triturada. 6. COMPRESSA: É uma preparação de uso local (tópico) que atua pela penetração dos princípios ativos através da pele. Utilizam-se panos, chumaços de algodão ou gaze embebidos em um infuso concentrado, decocto, sumo ou tintura da planta dissolvida em água. A compressa pode ser quente ou fria. 7. INALAÇÃO: Esta preparação utiliza a combinação do vapor de água quente com aroma das substâncias voláteis das plantas aromáticas, é normalmente recomendada para problemas do aparelho respiratório. 8. SUCO OU SUMO: Obtém-se o suco espremendo-se o fruto e o sumo ao triturar uma planta medicinal fresca num pilão, ou em liquidificadores e centrífugas. Esta preparação também deve ser feita no momento do uso. 9. XAROPE: Os xaropes são utilizados normalmente nos casos de tosses, dores de garganta e bronquite. Na sua preparação, faz-se inicialmente uma calda com açúcar cristal rapadura, na proporção de 1 1/2 a 2 partes para cada 1 parte de água, em volume. A mistura é levada ao fogo e, em poucos minutos há completa dissolução e a calda estará pronta; então são adicionadas as plantas preferencialmente frescas e picadas, coloca-se em fogo baixo e mexe-se por 3 a 5 minutos. O xarope é coado e guardado em frasco de vidro. Quinto passo: Saber o quanto utilizar e a toxicidade da planta Uma planta pode ser medicinal, ou tóxica, dependendo de quem, de quanto, e de como ela é utilizada. Plantas medicinais que podem causar danos à saúde se utilizadas incorretamente Irritação do estômago e intestino Agrião (Nasturtium officinale R.Br.), Alecrim (Rosmarinus officinalis L.), Alho (Allium sativum L.), Jurubeba (Solanum paniculatum L.), Confrei (Symphytum officinale L.) Afetam o sistema nervoso Mastruz (Chenopodium ambrosioides L.), Trombeteira (Datura suaveolens Humb.). Provocam queimaduras na pele Figo (folhas) (Ficus carica L.) Causam danos ao fígado ou rins Alecrim (Rosmarinus officinalis L.), Coentro (Coriandrum sativum L.), Confrei (Symphytum officinale L.), Cambará ou camará (Lantana camara L.). Causam morte Espirradeira ou leandro (Nerium oleander L.), Mamona (Ricinus communis L.), Mastruz (Chenopodium ambrosioides L.). ALGUMAS PLANTAS E SUA UTILIZAÇÃO ALCACHOFRA – Artemisia alba: contém muito ferro e cálcio. Repõe os sais minerais do organismo. Usam-se as folhas da base da planta. O chá é tônico, diurético, preventivo e curativo das afecções do fígado, da bílis estômago, rins e bexiga. Útil nos casos de diabetes, colesterol elevado. Arteriosclerose, tireóide, hipertensão, asma afecções dos pulmões e doenças de pele. Evitar o chá na lactação. ARRUDA – Ruta graveolens: a arruda contém propriedades tóxicas. Evitar na gravidez. É normalizadora do ciclo menstrual. Boa para dor de cabeça, dor de dente e de ouvido (amassar um galhinho com um pouco d’água, ou um chumaço de algodão junto ao ouvido ou no dente). Também para gases, incontinência da urina, fraqueza dos vasos sangüíneos, calmante e como antiinfecciosa. Para ressacas, embriaguês e indigestão. ALECRIM – Rosmarinus officinalis: toma-se o chá das folhas para clorose, inapetência, histeria, nervosismo, indigestão, tosses, bronquites e asma. Provoca suor, é depurativo do sangue, tônico para o coração e anti-reumático, é usado também para banhos de pele e do cabelo e para caspa. BABOSA – Aloe vera: toma-se em jejum durante uma semana para males do fígado, icterícia, prisão de ventre, bílis e estômago. O sumo triturado com mel é usado para bronquites e certos tipos de câncer. O uso interno deve ser evitado para gestantes, por quem sofre dos ovários, bexiga, hemorróidas e rins. Usa-se o líquido externamente para reumatismo, varizes, hemorróidas , doenças da pele, tumores, queimaduras e para prevenir rugas e flacidez. Embeleza e fortalece o cabelo, evitando a queda e a caspa. BARDANA – Arctium lappa: é depurativo e diurético. Serve para bronquite, cachumba, cálculos biliares e da bexiga, cólicas hepáticas, gastrite, pólipos. O chá da raiz é usado em intoxicações, afecções internas, afecções da pele, dermatoses, furúnculos. Lavar o couro cabeludo evita a queda e revitaliza os cabelos. Com a folha aquecida e banha se faz compressas para reumatismos, eczemas e feridas. BOLDO: Falso boldo – Coleeus barbatus: o chá das folhas é usado para problemas digestivos, do fígado, estômago, intestino e azia. Serve para curar a ressaca por excesso de bebida. Aplicado externamente também combate o reumatismo, a hidropsia e problemas de pele. Boldo-graudo – Vernonia condensata: o chá de uma ou duas folhas por xícara, em decocção ou infusão se usa para distúrbios do fígado, para bílis, vesícula, contra dores de cabeça e ressacas alcoólicas. CAATINGA-DE-MULATA – Tanacetum vulgare: o chá é utilizado para perturbações digestivas, icterícia, inflamações nos olhos, dores de dente; é diurético, provoca menstruação. Não usar durante a gravidez. Útil para fazer banhos em problemas de reumatismo, erisipelas e para estancar o sangue. A flor é vermífuga. CAPIM- LIMÃO – Cymbopogon citratus: o chá é usado como digestivo, para gases, reumatismo e dores nos músculos, como calmante, nas ansiedades, para baixar a febre e provocar suor. Abaixa a pressão! CARQUEJA – Baccharis crispa: o chá das raízes é diurético, indicado para combater azias, males do fígado, sinusites, doenças da pele e venéreas. CAVALINHA – Equisetum arvense: é rica em minerais. O seu chá fortalece o organismo todo, combate tuberculoses, hemorragias internas, problemas de bexiga, de incontinência urinária, de rins e úlceras gástricas. É cicatrizante, regenerando rapidamente os tecidos. Bom para próstata, osteoporose, perda de sangue no nariz, boca, e também para celulite. CONFREI – Sinphytum officinale: usado internamente possui várias propriedades mas limita-se ao uso externo das folhas, sua inclusão em formulações de medicamentos é proibida no Brasil, necessitando ainda muitas pesquisas em seres humanos. Os rizomas secados ao sol são indicados para cicatrização de feridas e fraturas, para rachaduras na pele, nos seios, no ânus, para lavar feridas varicosas, úlceras, queimaduras, psoríase e outras inflamações. QUEBRA-PEDRA – Phyllanthusnururi: as folhas em infusão, 3 xícaras ao dia, servem para eliminar cálculos renais, para problemas de inflamação dos rins, bexiga e fígado, vesícula, ácido úrico, amarelão (hepatite) e diabete. Podem ser usadas folhas e flores. GENGIBRE – Zingiber officinalis: a raiz é usada em infusão para casos de gripe, resfriados, tosses, catarro, rouquidão, bronquite e afonia, para fraqueza do estômago, cólicas e gases presos. Também com a raiz faz-se compressas para dores reumáticas e nevralgias. HORTELÃ – Mentha spp: digestão, gases, cólicas, náuseas, como calmante dos nervos, insônia, para bílis, amarelão e como expectorante. O sumo das folhas pode ser aplicado com algodão em nevralgias, dores de dente e de cabeça, picadas de insetos, e tomados durante vários dias com mel funciona como vermífugo. LARANJEIRA – Citrus aurantiu: a flor da laranjeira em maceração tem função contra espasmos, nervosismo e insônia e com mel aplicada no rosto, funciona como antiinflamatória e bactericida, livrando a pele de impurezas. As folhas também são calmantes e combatem a insônia, febres, gripes e resfriados. O bagaço e a parte branca cura a prisão de ventre. Comer laranja em jejum estimula as funções do fígado e da bilis. Previne as doenças degenerativas por falta de vitamina C e ajuda na assimilação do cálcio. MALVA – Malva parviflora: os vários tipos de malva, raiz e folhas, servem para qualquer tipo de infecção, de inflamação: boca, garganta, laringe faringe, olhos, ouvidos, estômago, úlceras, rins, bexiga, ovários, nervos, hemorróidas, para mau hálito, em picadas de insetos e como cicatrizante. MANJERONA – Origanum majorana: as folhas trituradas com banha ou óleo, aplicadas em cataplasma na barriga das crianças, ajuda a expelir os gases e acalma as cólicas, aplicadas no nariz desprendem o catarro. O mesmo procedimento para dores reumáticas. Como tempero facilita a digestão, abre o apetite e evita gases e cólicas. MIL-EM-RAMA, pronto-alívio – Achillea millefolium: usada tanto raiz como partes aéreas. Indicado em hemorragias internas e externas: uterinas, dos pulmões, de hemorróidas, feridas, úlceras queimaduras e varizes. É analgésica, para cólicas, dores de estômago, de dente e cãibras. É atiinflamatória, para bexiga, incontinência urinária, rins, intestinos, baixar a febre e abaixa a pressão! PARIPAROBA – Piper dilatatum: o chá das folhas têm ação sobre o estômago, fígado, baço e pâncreas, úlceras, reumatismos e hemorróidas. Tem ação antiinflamatória e cicatrizante. Alivia crises de bronquite e asma. As folhas podem ser colocadas sobre feridas e tumores e a raiz nos casos de dor de dente. PULMONÁRIA – Sthachys byzantina: uma colher de folhas frescas picadas, para uma xícara em infusão é remédio para asma, tosse e obstrução das vias respiratórias. Externamente cura feridas. MILHO (cabelo de milho) – Zea mays: o cabelo do milho novo, fresco ou seco, em infusão purifica o sangue, sendo poderoso diurético, desinflama e combate infecções da vesícula dos rins e da bexiga, elimina o ácido úrico, dissolve areias e cálculos renais e diminui dores. Baixa a pressão! Secar ao sol e guardar dentro de um pote de vidro, bem tapado. SALVIA – Salvia officinalis: além de tempero serve para o corpo e a mente. Usamse as folhas e flores. Combate depressão, fraqueza, diabete, colesterol, males da menopausa, dificuldade de digestão, menstruação dolorosa, tosse e catarros; é estimulante, analgésica, antiinflamatória e tônica em geral. Clareia e limpa os dentes com as folhas, alivia o mau hálito, escurece os cabelos e provoca excesso de suor. Em gargarejo serve para aftas, gengivites, inflamação da garganta e laringite. Não aconselhável na lactação e gestação. TANCHAGEM, Tansagem – Plantago major: usam-se as folhas, sementes e raiz. Ação antiinflamatória, cicatrizante, diurética, tônica e depurativa, indicada para limpeza das vias respiratórias (fumantes), gripes, como expectorante, diarréias, inflamações nos rins e estômago. Em gargarejos funciona como antibiótica, bactericida e antiinflamatória para a garganta, ouvidos, em casos de gengivite, piorréia, laringite, amigdalite, lavagem de feridas, tumores, doenças da pele, infecções nas partes genitais, dores no bico dos seios e inflamação dos olhos.