Enviado por Do utilizador2627

birobiro

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Filho de pais conservadores, o ambiente familiar de Wilson era repleto de elementos que
demonstram a coesão desse grupo: a maneira patriarcal de viver, a visão materna de busca
pelo bem estar dos filhos, o lazer masculino no futebol (sem a presença feminina), a religião
como dogma norteador de ações, a preocupação com sexualidade refletida na escolha da
parceira ideal e na repulsa a homossexualidade (reflexo do patriarcado), dentre outros. Todos
esses elementos estão presentes para demonstrar a harmonia dessa família com as normas e
costumes da sociedade, fugir de alguma maneira desses elementos representava a quebra de
coesão e consequentemente o acionamento de maneiras coercitivas para garantir a volta do
indivíduo a coesão. Como exemplo, o brinco utilizado como Wilson é visto por seu pai como
símbolo de homossexualidade e portanto deve ser repreendido de maneira coercitiva – a
bronca e a violência – entretanto, Wilson não partilhava essa mesma visão acerca do brinco,
para ele, esse adereço representava um signo de pertencimento a outro grupo (seus amigos)
ao qual, por seguir normas e costumes diferentes da sua família, ressignificam o objeto que
passa a ter valor positivo e coesivo. No seu grupo de amigos a coesão se dá de maneira quase
que oposta à de sua família, o brinco antes mal visto, agora é “moda” e o ajudava a se
enturmar e encaixar nos padrões de vestimentas, os dogmas religiosos são esquecidos para
darem lugar ao pecado carnal do sexo e das drogas, a homossexualidade antes vista com
completa repulsa agora pode ser utilizada para conseguir bens materiais. A coerção é menos
violenta fisicamente e passa a ser mais psicológica, ameaças de expulsão do grupo, chacota e
piadas com aqueles que não se adequam a coesão são mais presentes. Já no manicômio as
formas de coerção são extremamente violentas e refletem uma coesão mais rigorosa e
fiscalizada. A obrigatoriedade dos remédios, a maneira dócil de comportamento, o não
questionamento a ordens, o mantimento de regras como horários de alimentação, lazer e
exercícios são elementos coesivos dentro do manicômio e que são regulados não pela
sociedade enquanto instituição mas sim na figura de autoridade dos guardas e médicos. Os
chamados demônios de branco são aqueles responsáveis pelo mantimento dessa coesão e a
aplicação de ações coercitivas, dentre elas a violência extrema de combate físico, o uso de
calmantes e injeções forçadas, o isolamento social e a aplicação de choques elétricos. Para os
responsáveis pelo manicômio essas ações coercitivas se faziam necessárias pois os indivíduos
ali presente já haviam infligido a coesão social – por serem loucos, rebeldes ou drogados – e
estavam a infligindo novamente por recusarem tratamento ou agirem contra a regra do
manicômio. Entretanto, vemos na figura de Wilson um exemplo de que ir contra a coesão de
um determinado grupo não se faz justificativa para monstruosidade manicomial.
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