Filho de pais conservadores, o ambiente familiar de Wilson era repleto de elementos que demonstram a coesão desse grupo: a maneira patriarcal de viver, a visão materna de busca pelo bem estar dos filhos, o lazer masculino no futebol (sem a presença feminina), a religião como dogma norteador de ações, a preocupação com sexualidade refletida na escolha da parceira ideal e na repulsa a homossexualidade (reflexo do patriarcado), dentre outros. Todos esses elementos estão presentes para demonstrar a harmonia dessa família com as normas e costumes da sociedade, fugir de alguma maneira desses elementos representava a quebra de coesão e consequentemente o acionamento de maneiras coercitivas para garantir a volta do indivíduo a coesão. Como exemplo, o brinco utilizado como Wilson é visto por seu pai como símbolo de homossexualidade e portanto deve ser repreendido de maneira coercitiva – a bronca e a violência – entretanto, Wilson não partilhava essa mesma visão acerca do brinco, para ele, esse adereço representava um signo de pertencimento a outro grupo (seus amigos) ao qual, por seguir normas e costumes diferentes da sua família, ressignificam o objeto que passa a ter valor positivo e coesivo. No seu grupo de amigos a coesão se dá de maneira quase que oposta à de sua família, o brinco antes mal visto, agora é “moda” e o ajudava a se enturmar e encaixar nos padrões de vestimentas, os dogmas religiosos são esquecidos para darem lugar ao pecado carnal do sexo e das drogas, a homossexualidade antes vista com completa repulsa agora pode ser utilizada para conseguir bens materiais. A coerção é menos violenta fisicamente e passa a ser mais psicológica, ameaças de expulsão do grupo, chacota e piadas com aqueles que não se adequam a coesão são mais presentes. Já no manicômio as formas de coerção são extremamente violentas e refletem uma coesão mais rigorosa e fiscalizada. A obrigatoriedade dos remédios, a maneira dócil de comportamento, o não questionamento a ordens, o mantimento de regras como horários de alimentação, lazer e exercícios são elementos coesivos dentro do manicômio e que são regulados não pela sociedade enquanto instituição mas sim na figura de autoridade dos guardas e médicos. Os chamados demônios de branco são aqueles responsáveis pelo mantimento dessa coesão e a aplicação de ações coercitivas, dentre elas a violência extrema de combate físico, o uso de calmantes e injeções forçadas, o isolamento social e a aplicação de choques elétricos. Para os responsáveis pelo manicômio essas ações coercitivas se faziam necessárias pois os indivíduos ali presente já haviam infligido a coesão social – por serem loucos, rebeldes ou drogados – e estavam a infligindo novamente por recusarem tratamento ou agirem contra a regra do manicômio. Entretanto, vemos na figura de Wilson um exemplo de que ir contra a coesão de um determinado grupo não se faz justificativa para monstruosidade manicomial.