FRIEDRICH WILHELM NIETZSCHE (1844-1900) Nasce em Röcken, Prússia a 15 doutubro de 1844 e morre em Weimar, a 25 de agosto de 1900. Sua infância se dá em Roecken e em Naumburgo. A adolescência no colégio de Pforta OBRAS O Nascimento da Tragédia ou Helenismo e Pessimismo (1872). Considerações Extemporâneas (1873 - 1876) Humano, Demasiado Humano: um livro para espíritos livres (1878-1879) Aurora: reflexões sobre os preconceitos morais (1881) A Gaia Ciência (1882-1887) Assim falou Zaratustra: um livro para todos e para ninguém (1883-1885) Para além do bem e do mal: prelúdio de uma filosofia do futuro (1886) A genealogia da moral (1887) O caso Wagner: um problema de músico (1888) O crepúsculo dos ídolos ou como filosofar a martelada (1888) Anti-Cristo (1888) Ecce Homo: como nos tornamos o que somos ( 1888) Nietzsche Contra Wagner: peças no arquivo de um psicólogo (1888) Ditirambo e Dionísio (1888) O Nascimento da Tragédia no Espírito da Música (1872) A Filosofia na Época Trágica dos Gregos (1873) Sobre Verdade e Mentira no Sentido Extramoral (1873) CONSIDERAÇÕES EXTEMPORÂNEAS Pode-se dizer que os substantivos distância e combate elucidam o que Nietzsche expõe em suas considerações extemporâneas ou inatuais. O distanciar é tomar ou ficar afastado temporalmente. E isso oportuniza o combate. “as quadro Extemporâneas são integralmente guerreiras” (Ecce Homo, As Extemporâneas, § 1). Belicosas, elas investem contra o filisteísmo cultural de seu tempo, porque, assim pretendem, se colocam acima dele. (MARTON, 2000, p.24) Pondo-se à distância do que ocorre à sua volta, ele alerta o ponto de vista: afastando-se do desenrolar dos acontecimentos, coloca-se a partir de outro ângulo de visão. Está, pois, em condições de combater o filisteísmo cultural de seu tempo. (MARTON, 2000, p.26) FILISTEÍSMO A palavra é “filisteísmo”. Sua origem, um pouco mais antiga que seu emprego específico, não possui grande importância; ela foi utilizada a princípio, no jargão universitário alemão, para distinguir burgueses de togados; a associação bíblica já indicava, porém, um inimigo numericamente superior e em cujas mãos se pode cair. Quando foi utilizado pela primeira vez como termo – penso que pelo escritor alemão Clemens von Brentano, que escreveu uma sátira acerca do filisteu bevor, in und nach der Geschichte -, designava uma mentalidade que julgava todas as coisas em termos de utilidade imediata e de “valores materiais”, e que, por conseguinte, não tinha consideração alguma por objetos e ocupações inúteis tais como os implícitos na cultura e na arte. EXTEMPORÂNEO OU INATUAIS Ora, extemporâneo é o que vem ou está fora do tempo próprio; o que não é próprio do tempo em se encontra. Excêntrico é o que se desvia ou afasta do centro: o que não tem o mesmo centro do que o rodeia. (MARTON, 2000, p. 34) Mas extemporâneo não equivale a anacrônico ou profético; remete a uma certa maneira de relacionar-se com o agora. Excêntrico não é o mesmo que desencaminhado ou extraviado; aponta para uma certa forma de relacionar-se com o aqui. (MARTON, 2000, p. 34-35) Tudo isso soa bem familiar ainda hoje em dia, e não deixa de ser interessante observar que mesmo termos de gíria atuais como “quadrado” já podem ser encontrados no opúsculo pioneiro de Brentano. (ARENDT, 2005, p. 253) A FALA DE ZARATUSTRA Por que iria um pensador alemão do século XIX falar pela boca de um profeta iraniano do século VII antes de nossa era, e pôr-nos à sua escuta? (HÉBER-SUFFRIN, 2003, p. 31) Mais do que pertinente, a questão é essencial. A resposta de Nietzsche nos situa no próprio centro de todo seu pensamento e no próprio centro das teses do Zaratustra. Há ironia na explicação oferecida: Nietzsche diz ter escolhido Zaratustra precisamente para que seu personagem diga “exatamente o contrário” (...) do que disse Zaratustra para apô-lo a Zaratustra. (HÉBER-SUFFRIN, 2003, p. 31) Tem-se assim dois Zaratustra: o histórico e o literato. Uma oposição radical. E, de fato, ele os opõe radicalmente: de um lado, o papel do Zaratustra histórico consistiu, com efeito, na invenção de um dualismo de inspiração moral, dualismo que explica todas as coisas pela ação de dois princípios em luta, dualismo moral para o qual um desses princípios é o Bem e o outro o Mal. Mas observa-se que é exatamente contra esse dualismo e moralismo que o Zaratustra literário rejeita e que caracteriza relevância do pensamento de Nietzsche. O dualismo do Zaratustra histórico coloca a questão do Bem e do Mal em que a experiência humana ganha uma perspectiva religiosa: Deus Bem/Deus Mal, bem como cosmológica (“no universo, tudo se explica pela ação de um ou outro desses dois princípios e por sua rivalidade” (HÉBER-SUFFRIN, 2003, p. 31) O Zaratustra de Nietzsche percebe o dualismo moralista bem como a base de sua metafísica. A GAIA CIÊNCIA – AFORISMO 125 Cena Plena manhã, praça do mercado INTERTEXTUALIDADE Homem louco com a lanterna Diógenes, o Cínico (400 a.C). Filósofo grego, nascido em Sinope, representante da escola cínica, viveu em Atenas. Sua filosofia consistia em desprezar a riqueza e rejeitar as convenções sociais. Praça: local do nascimento da filosofia. Louco (Toll) INSENSATO Duplicidade de sentido. Indica também o maravilhoso. Evoca o espanto e antiguidade. O que de maneira misteriosa tem acesso a uma verdade. Muitos não acreditavam em Deus. Pergunta: Procuro Deus. Resposta: Escárnio. Os que não creem em Deus não levam a sério a pergunta do louco. Acham-no infantil, ingênuo. Metáfora da razão esclarecida (Aufklärung). Os homens entende que isto não tem nenhuma relevância. 1° gesto de desprezo da razão esclarecida. Homens esclarecidos não somente não sabem que matamos Deus nem o significado e o sentido da morte de Deus. Há uma inversão. A infantilidade não está do lado do louco, mas do lado dos que consideram o louco infantil, ingênuo. O louco comunica a verdade que os homens desconhecem. Nós matamos Deus, vocês e eu, com a diferença de que vocês não têm consciência HORIZONTE Sentido de orientação; referências pelas quais orientamos nosso olhar. Apagar o horizonte é privar da visão global e privar o sentido, o núcleo de nossa racionalidade. SOL Símbolo da fonte da luz que nos permite ver, discernir. MATAR DEUS Privar o que constitui a âncora e o fundamento de nosso pensamento. Estar sem rumo, carente de referencias para orientação de nossa caminhada. VÁCUO Vazio, ausência. Nada infinito. Completa perda de força e validade de nossos supremos valores. A morte de Deus leva ao nihilismo, a perda dos valores que constituem o mundo moderno, a nossa experiência básica. Deus está morto. Deus continua morto . OUTRO SIGNIFICADO A morte de Deus coloca o homem no patamar de outra história, outro plano. Estaríamos nós a alturas desse feito? Aquilo que fizemos (matamos Deus) é algo de que estamos a altura; somos capazes de assumir a consequência da morte de Deus? CONSEQUÊNCIA A absoluta determinação. Sermos responsável; a inteira responsabilidade, a auto constituição da história humana. Revelação de uma experiência que nos fazemos hoje. IGREJAS Lugar em que se entoa o funeral da morte de Deus. Nietzsche não se refere exclusivamente ao Deus cristão ou a religião. Em Nietzsche Deus é uma abrangência semântica. Significa o suprassensível. Deus pode ser identificado como a ideia das ideias. Aquele que se pode pensar o máximo de realidade. A condição da inteligibilidade verdadeira e real e que dá sustentação ao sensível. Se Deus morreu, então o mundo inteligível desaparece. Desaparecendo o mundo inteligível, só resta o nada, infinito. É o fim da metafísica o ponto extremo da nossa tradição. HOMEM MODERNO Pretende colocar no lugar de Deus a lei moral, a sociedade. A constituição de uma sociedade, condição para a existência humana ou, se fosse possível, fazer desaparecer todo seu sofrimento. MORTE DE DEUS Desaparecimento do sensível e do inteligível. Toda tentativa de substituir (Deus) por algo é uma tentativa fracassada. Todas as candidaturas alternativas estão fadadas ao fracasso. A morte de Deus é a morte do ideal e moral. REFERÊNCIAS HÉBER-SUFFRIN, Pierre. O “Zaratustra” de Nietzsche. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003. MARTON, Scarlett. Ensaios sobre a filosofia de Nietzsche. São Paulo: Discurso Editorial e Editora, 2000.