A construção do übermensch no prólogo de Assim falava Zaratustra de Friedrich Nietzsche Alexandre Lunardi Testa* Introdução Assim falava Zaratustra é a obra nietzschiana de maior expressão e a mais completa obra do autor, considerada por especialistas como a obra máxima do filósofo, defendida por Heidegger (1968) como uma abordagem da questão de que o homem é capaz de construir-se como objeto se deu próprio pensamento, que consequentemente tornaria a superação do homem dificultosa para a maioria das pessoas que são incapazes de compreender sua teoria. O próprio Nietzsche se coloca como um autor “a 6000 pés para além do homem e do tempo” (NIETZSCHE, 2009, p. 87),1 que rompera com a história tradicional da filosofia formulando conceitos que destoam da perspectiva tradicional e adentram a praticidade da vida do * Acadêmico do curso de filosofia da Universidade Federal da Fronteira Sul - Campus Erechim. E-mail: [email protected]. 1 Segundo o próprio Nietzsche, em Ecce Homo, o termo foi utilizado para definir o ideal de Eterno Retorno que conceitua a obra Assim falava Zaratustra. Revista Filosofazer. Passo Fundo, n. 46, jan./jun. 2015 143 sujeito agente. Em Assim Falava Zaratustra se reúne os principais conceitos cunhados por Nietzsche durante toda sua carreira filosófica e, já no prólogo, apresenta uma explanação da conceituação do übermensch2. Ou seja; o prólogo da obra pode ser considerado também como “a plataforma para a obra inteira” ou “como uma introdução sistemática, bastante estruturada, ao conjunto do Zaratustra” (JULIÃO, 2007, p. 75). O prólogo de Assim falava Zaratustra contém uma breve narrativa sobre a história de Zaratustra, que é o personagem nietzschiano responsável pela divulgação do übermensch, da superação do homem. Zaratustra tem a necessidade de transformar o mundo a partir de uma genealogia da moral decorrente da morte de Deus. É possível, também: “[...] dizer, quase com certeza, que o anúncio de Nietzsche a humanidade é a mensagem de seu Zaratustra, [...] que se tornou ciente da decadência dos grandes valores considerados por séculos o fundamento da vida e da civilização europeia” (ZAVATTA, 2009, p. 94, tradução nossa). Se mostrará no seguinte texto o übermensch como união dos conceitos nietzschianos, unindo uma genealogia da moral, uma ideia de eterno retorno, a conceituação vontade de potência e o niilismo. Estes conceitos foram desenvolvidos para promover a transvaloração dos valores, para permitir que o homem seja o senhor de si em uma perspectiva de domínio da sua própria vida. O prólogo de Assim falava Zaratustra apresenta fundamental conteúdo em forma narrativa; apresenta um homem querendo superar-se e, objetivamente, querendo partilhar a sua sabedoria com os que forem capazes de lhe compreender. Isso é o presente que o declínio de Zaratustra nos proporciona. 2 O termo übermensch é causa de um problema dentro da filosofia nietzschiana, principalmente quando se trata da sua tradução. Existe a tradução para super-homem que foi estabelecida por Roberto Machado, e a tradução para além-do-homem, cunhada por Rubens Torres Filho. O termo Über, na corrente brasileira, é traduzido para super e para além do, e isso leva a alguns problemas de interpretação do próprio conceito. O que é de fato intransponível é que a conceituação de Übermensch não se resume exclusivamente a uma tradução do termo, toda a filosofia nietzschiana resulta em seus conceitos, não há como suprimir uma obra em um termo. Para a compreensão do übermensch é necessário que se tenha, no mínimo, uma compreensão geral precedente da própria teoria nietzschiana. Dessa forma, se utilizará no decorrer do texto o próprio termo nietzschiano, para que não se dependa das barreiras impostas pelo idioma, sem intervenções decorrentes de ligações externas ao termo em suas traduções, dependendo exclusivamente da própria filosofia que conceitua o termo. 144 Revista Filosofazer. Passo Fundo, n. 46, jan./jun. 2015 O texto divide-se em duas seções, na primeira trata-se da construção do übermensch como superação do homem, abordando os principais aspectos da filosofia nietzschiana na fundamentação do termo. Na segunda seção, se faz uma exposição direta do übermensch no prólogo de Zaratustra, obra que elucida a superação do homem na unificação dos conceitos da filosofia nietzschiana. A construção do übermensch A construção do übermensch é produto de toda obra nietzschiana; poder-se-ia dizer que é o resultado da obra. O übermensch reúne, em sua magnitude, todo o pensamento nietzschiano e é empregado pelo próprio Nietzsche, em Além do bem e do mal, como o “filósofo do futuro”: Surge uma nova raça de filósofos. Ouso batizá-la com um nome que não deixa de ser perigoso. Como os adivinhos e como eles se deixam adivinhar – pois está na natureza deles querer ficar um pouco como enigmas – esses filósofos do futuro gostariam de ter, justamente e talvez também injustamente – um direito de ser chamados tentadores. Conferir esse qualificativo não é talvez, afinal de contas, senão uma tentativa, ou se quiserem, uma tentação (2011, p. 57). Um filósofo do futuro, que estrutura a superação do homem através de uma vontade de potência, montando uma genealogia da moral, supera o niilismo, este “hóspede sinistro” (NIETZSCHE, 2011, p. 429.), firmando a vida em sua tragédia, firmando a vontade de viver através de um pensamento de eterno retorno. “Serão novos amigos da ‘verdade’ esses filósofos do futuro? Sem dúvida, pois todos os filósofos amaram, até o presente, suas verdades” (NIETZSCHE, 2011, p. 57, grifo do autor). A vontade de potência remete a uma relação de poder entre os homens. O übermensch deve necessariamente agarrar-se à sua vontade de poder, vontade de vida, para se sobrepor ao homem. Como afirma Deleuze “Eis o princípio da natureza em Nietzsche: uma pluralidade de forças agindo e sofrendo à distância, onde a distância é o elemento diferencial compreendido em cada força e pelo qual cada uma se relaciona com as outras” (1976). A vontade de potência é explicada por Nietzsche da seguinte forma: “Este conceito de força vitorioso, graças ao qual nossos Revista Filosofazer. Passo Fundo, n. 46, jan./jun. 2015 145 físicos criaram Deus e o universo, precisa de um complemento; é preciso atribuir-lhe um querer interno que chamarei de vontade de potência” (NIETZSCHE apud DELEUZE, 1976, p. 25, grifo do autor). Esse conceito é fundamental na filosofia nietzschiana pois embasa o princípio de superação das adversidades que se apresentam ao homem e também o leva a questionar suas bases morais através de uma genealogia. Essa genealogia proposta por Nietzsche tem como objetivo uma análise dos valores morais impostos, que transpassam uma ideia de moral fraca. A genealogia nietzschiana vai à raiz da moral ocidental buscando um caminho para a sua superação, um caminho para o übermensch. A genealogia da moral é, para Deleuze (1976), uma “filosofia dos valores”, e realizando uma crítica a esses valores é que se faz uma “filosofia a marteladas”. “Nietzsche nunca escondeu que a filosofia dos sentidos e dos valores deveria ser uma crítica” (DELEUZE, 1976), e é exatamente isso que o filósofo do futuro deve fazer, construir uma crítica aos valores independente de sua época. O übermensch deve desconstruir os valores tradicionais para formar os seus, para superar a si mesmo. A genealogia da moral leva em imediado até as bases da moral, sendo elas, em grande parte, dotadas de premissas fundamentadas na religião, na metafísica ou em qualquer crença que se sobreponha a própria vida, valendo também para um cientificismo, ou seja, no niilismo. Se destituir-se Deus [como pseudo valor máximo] de seu posto, tudo estaria liberado, “tudo é permitido” (DOSTOIÉVSKI, 1970).3 Com isso não se pode assumir a ideia do niilismo passivo, o homem deve usar isso para se tornar um übermensch, ele está livre para fundamentar a sua moral, e para isso não deve cair novamente no niilismo. O niilismo é uma peça chave da filosofia nietzschiana, tendo seu significado literal como “descrença completa” (FERREIRA, 1971). No contexto nietzschiano tem o sentido de negação total dos valores máximos. O homem nunca poderá se tornar um übermensch enquanto permanecer 3 A morte de Deus não surge com Nietzsche, a morte de Deus já está no contexto da literatura e filosofia moderna alemã, Nietzsche apenas capta isso e utiliza para a sua filosofia. A ideia de morte de Deus encorpa-se na modernidade com a crítica da razão feita por Kant. A morte de Deus é também expressa por Goethe e principalmente Dostoiévski, que foi uma influência para Nietzsche. A frase citada no texto é expressa diversas vezes no romance de Dostoiévski como questionamento para o ateísmo de Ivan Karamazóvi e indiretamente no menino Kólia, personagens que eram admirados por Nietzsche por terem em sua descrição uma similaridade com a própria filosofia nietzschiana. 146 Revista Filosofazer. Passo Fundo, n. 46, jan./jun. 2015 niilista, permanecer negando a vida. Mas é necessário que se passe pelas correntes niilistas para superá-las. Esse niilismo referido por Nietzsche foi dividido por Deleuze (1976) em niilismo negativo, niilismo reativo, niilismo passivo. O niilismo negativo remete a uma desvalorização da vida em prol de valores supraterrestres, de valores relacionados ao cristianismo e ao platonismo, onde há uma dualidade de mundo para explicar a própria vida terrena. O niilismo reativo é um novo estágio, depois da negação de Deus. Diante da crise de desvaloração, o homem apega-se ao futuro, à ciência, é o típico iluminista. Esse cientificismo não é senão uma negação da vida, é uma nova crença com um novo dogmatismo, agora não mais em algo supraterrestre, mas sim no progresso científico e humano. O niilismo passivo é o passo seguinte, quando a ciência já não supre mais a carência de um sentido. É causado pela impossibilidade de suportar que não haverá um plano melhor para o homem. Com a morte de deus, “tudo é permitido”, o niilista passivo perde a crença na humanidade, não encontra um sentido no ato de viver, o que caracteriza uma negação da vida no seu pior sentido. Os estágios do niilismo são importantes na formação do übermensch. É passando por eles que se supera o homem, passando por todos os estágios é possível, segundo Deleuze (1976), chegar a uma espécie de niilismo ativo, que é quando a vontade de potência infla, se sobrepõe, e afirma o eterno retorno. O eterno retorno é, possivelmente, um dos maiores conceitos cunhados por Nietzsche, ele proporciona uma união da arte com a vida e representa a vida como ela é, a vida como uma tragédia a ser firmada. Sobre o eterno retorno escreve Nietzsche (2008, p. 239): E se um dia, ou uma noite, um demônio te seguisse em tua suprema solidão e te dissesse: “Esta vida, tal como a vives atualmente, tal como a viveste, vai ser necessário que a revivas mais uma vez e inumeráveis vezes; e não haverá nela nada de novo, pelo contrário! A menor dor e o menor prazer, o menor pensamento e o menor suspiro, o que há de infinitamente grande e de infinitamente pequeno em tua vida retornará e tudo retornará na mesma ordem – essa ranha também e esse luar entre as árvores e esse instante e eu mesmo! A eterna ampulheta da vida será invertida sem cessar – e tu com ela, poeira das poeiras!” […]. [A Gaia Ciência, livro IV, 341 – O peso mais pesado.] Revista Filosofazer. Passo Fundo, n. 46, jan./jun. 2015 147 O übermensch fundamentado por Nietzsche é um homem capaz de firmar a vida diversas vezes sobre o mesmo momento, é um homem que tem que viver todos os momentos da vida sem se arrepender, pois de outra forma ele jamais quereria viver para sempre aquele momento. Ele tem de ter uma overdose de vida, que para Nietzsche é a tragédia e especialmente tem que ser um adepto do eterno retorno. O übermensch é no fundo um sábio, e: O sábio é alguém que possuí a arte de viver mais no sentido antigo da palavra ‘‘arte’’: como uma espécie de saber a meio caminho entre a ciência e a técnica […] O velho lema da tragédia grega, pathei mathos, aprende sofrendo, parece indelevelmente comum na imagem da sabedoria (VATTIMO, 2010, p. 227-228, grifo do autor). Vattimo coloca o übermensch como um sábio, e a sabedoria dele não é uma simples sabedoria, é uma experiência de vida firmada na tragédia. A sabedoria do übermensch não é a sabedoria detentora da verdade, pois a busca pela verdade é motivo de críticas para Nietzsche, a metafísica é uma busca pela verdade primordial e Deus é uma verdade absoluta. A busca pela verdade transforma o homem em um niilista, e é capaz de forçar o homem a loucuras, como viver desprezando a vida, acreditando cegamente em um mundo supraterreno melhor. Essa é uma nova concepção de sabedoria e é necessária para a filosofia de Nietzsche. A sabedoria é uma virtude primordial e o homem não pode negá-la, não é abandonado a sabedoria que se vive, mas para viver não se pode distorcê-la, colocando-a como subproduto de uma verdade improvada. Zaratustra encontra, em sua sabedoria, uma condenação para a verdade, pois de verdade não tinha nada. É para os “sábios entre os homens” e os pobres que Zaratustra declina, para presentear a humanidade com o übermensch e consequentemente destituir os “sábios entre os homens” de seus postos. O superador do homem está “muito além das sabedorias racionais, tristes e mesquinhas, longe da resignação do estoico e do prazer avaramente calculado do epicurista” (HÉBER-SUFFRIN, 2003, p. 45). A sabedoria do übermensch é baseada na experimentação das ocasiões. 148 Revista Filosofazer. Passo Fundo, n. 46, jan./jun. 2015 O presente de Zaratustra: O übermensch no prólogo de Assim Falava Zaratustra A primeira parte do prólogo de Zaratustra tem um caráter essencial para a obra. Zaratustra aparece como alguém que superou uma adversidade,4 alguém que se encontra em um novo estado e não deseja abster-se, pelo contrário, deseja prodigalizar sua sabedoria com os outros homens. Em analogia com o sol, Zaratustra afirma: “[...] já ando farto de minha sabedoria, como a abelha que acumulasse demasiado mel. Sinto necessidade de mãos que se estendam para mim” (Prólogo, I). A passagem demonstra a vontade de Zaratustra em ensinar a sua sabedoria em analogia com o sol. Segundo Julião (2007), há explicitamente a ideia de que ouve uma transformação de Zaratustra, uma transformação que indica uma superação de seus “estados de vida passados” (JULIÃO, 2007, p. 77). A união de Zaratustra com os homens é apresentada por Nietzsche como o declínio do profeta, um declínio porque ele havia atingido um nível superior, estava acima do homem.5 Zaratustra já detém alguma sabedoria, mas ainda não é um übermensch. Ele conhece o caminho, mas um homem não pode superar-se plenamente em completo isolamento de seus semelhantes e de sua cultura, assim como o profeta faz durante seu exílio. Zaratustra sabe o caminho para se tornar um übermensch e declina até os homens para apresentar a superação das adversidades. Esse declínio do profeta demonstra uma saída da filosofia de seu pedestal metafísico e adentra a uma perspectiva de compreensão do mundo através da liguagem, representado pelo diálogo que Zaratustra pretende ter com os homens. Dessa forma, a superação do homem só pode acontecer em meio aos próprios homens na gênese de sua cultura: “Zaratustra é um espírito forte e original que vem entre os homens para impulsioná-los a uma nova análise6 [...]” (ZAVATTA, 2009, p. 104, tradução nossa). 4 Zaratustra se isolou após a morde de Deus e superou essa adversidade que se pôs ao seu caminho, isso aparece na primeira conceituação de Zaratustra, no parágrafo 125 da Gaia Ciência. 5 Assim como a filosofia tradicional, que se colocara acima dos homens sem nunca conseguir atingi-lo, uma filosofia cerrada em uma dualidade de mundo sem atingir objetivamente a realidade. 6 O texto original apresenta o termo Valutazioni, que no seu sentido literal significa Avaliação, porém, para fins de obter contexto melhor, foi utilizado o sinônimo Análise. Revista Filosofazer. Passo Fundo, n. 46, jan./jun. 2015 149 Zaratustra sabe o que se deve fazer para superar o homem, conhece a filosofia que inicia em uma genealogia da moral e termina com um eterno retorno. O sábio Zaratustra em nada se assemelha aos sábios que figuram pela cidade, a sabedoria de Zaratustra não é a que comporta verdades absolutas e imutáveis. As práticas de revelação do mundo pela razão tratam de uma compressão do absoluto, e isso é uma arma de dogmatização que os pastores7 utilizam para suprimir o próprio povo, ideia contrária a do profeta, que defende uma relativização da moral sem um vínculo que possa comprometer a superação das adversidades por conta do próprio indivíduo. A segunda parte do prólogo inicia com a descida de Zaratustra da montanha onde se isolara durante 10 anos. O profeta então encontra-se com um ancião e esse ancião quase de imediato se lembra de quando Zaratustra subiu a montanha; segundo o ancião, Zaratustra levava suas cinzas para lá e agora retornava como uma criança. Tal passagem apresenta a evolução do homem, o homem tem de tornar-se cinzas, desconstruir-se, para que a partir de si possa fundamentar fundamentar uma moral, deve tornar-se leão para poder se revelar criança. O homem deve filosofar com um martelo,8 deve reconstruir-se perante suas cinzas. O profeta pôde fundamentar, durante seus 10 anos longe do homem, uma filosofia a marteladas, desconstruir a moral que lhe fora imposta para que pudesse, por conta própria, construir a sua própria moral.9 Zaratustra anuncia, na segunda parte do prólogo, que leva um presente aos homens: “Por ventura falei de amor? Levo um presente para os homens” (NIETZSCHE, 2009, p. 14). Segundo Héber-Suffrin: 7 E esses pastores figuram também entre os cientistas, o iluminista fez do progresso da ciência uma espécie de religião cientificista. A crença, no que quer que seja, que faça o homem abdicar do seu presente para promover uma vida melhor em outra situação [supraterrena ou futura], configura o homem como um negador da vida. 8 Como filosofar com o martelo é o subtítulo proposto por Nietzsche para seu livro intitulado Crepúsculo dos Ídolos. 9 Para conhecer a moral do homem, faz-se necessário passar pelos estágios do niilismo. Essa sabedoria pela experiência é necessária para que o homem se supere plenamente, para que detenha o conhecimento de todos os estágios da moral, iniciando pela crença religiosa (niilismo negativo), passando pela crença científica (niilismo reativo) e por último a desvaloração completa da vida (niilismo passivo), para que no fim possa reconstruir os valores mediante a sua própria moral. 150 Revista Filosofazer. Passo Fundo, n. 46, jan./jun. 2015 O que Zaratustra prefigura aqui é o super-homem que ele vai anunciar: essa criança – sem passado, imprevisível, despreocupada –, esse dançarino – criador espontâneo de gestos harmoniosos –, é o criador de novos valores, o criador de uma nova cultura, nem socrática, nem cristã (2003, p. 24). O ancião alerta para que Zaratustra não leve nada, pois os homens desconfiam de quem lhes presenteia. De certa forma, o ancião parece já saber qual recepção teria Zaratustra e alerta-o para que volte e fique na floresta, longe dos homens. O profeta então pergunta ao santo o que faz ele na floresta; eis que surge a ocupação do ancião; ele é um niilista, um niilista negativo, um homem que abdicou de sua vida para esperar o supraterrestre, para esperar um além-da-vida com seus animais e louvando a Deus em suas rezas e cânticos. O niilismo negativo do ancião é uma prévia do que Zaratustra encontrará na cidade. Esse niilismo causa nos fieis o medo de transpassar as barreiras do dogmatismo que se tornou imponente pelas bocas dos pastores. Nem mesmo o clamor científico iluminista consegue superar por inteiro o dogmatismo religioso, Deus está morto, mas as pessoas ainda não estão seguras disso. O ancião é um religioso; que detém, em seu modo de pensar, a verdade, a sabedoria dos mistérios do universo através da razão, esse niilismo negativo deve ser superado por completo, sem se deixar suprimir pelas fábulas dogmáticas. O ancião fizera de sua vida um grande culto ao niilismo negativo o anúncio do übermensch por Zaratustra tem de ser precedido por outro. O übermensch só é possível se for possível o homem criar seus próprios valores sem Deus: “Será possível! Este santo ancião, em sua floresta, ainda não ouviu dizer que Deus morreu?” (NIETZSCHE, 2009, p. 15). Para Julião (2007, p. 78) “Este é um dos ensinamentos que Zaratustra terá que comunicar aos homens, para realizar a sua mais importante tarefa: a necessidade de superação do homem para tornar-se o que se é”.10 A morte de Deus reflete a sociedade alemã do séc. XIX, indica a reação iluminista em relação ao período de dominação da igreja dentro da cultura da época. Nietzsche recorre à própria sociedade para fundamentar a sua filosofia. Como a morte de Deus era tratada dentro da lite10 Julião faz grande abordagem do contexto da morte de Deus em seu artigo, faz uma análise histórica da filosofia alemã. O contexto da morte de Deus aparece, principalmente, na crítica da razão que domina parte do pensamento alemão da época. Revista Filosofazer. Passo Fundo, n. 46, jan./jun. 2015 151 ratura e filosofia da época,11 algo precisava ser feito para levar o homem a superação. As pessoas perdiam seus valores com a morte de Deus e encontravam novos em uma espécie de religião cientificista, difundida pelo iluminismo, o que não causava a construção de uma nova moral, servia apenas de apoio e continuava sendo uma negação da vida.12 Mas acima de tudo, a morte de Deus indica o declínio das teorias metafísicas na filosofia. Na terceira parte do prólogo, Zaratustra chega à cidade e encontra um grande número de pessoas que esperavam pela apresentação de um equilibrista em uma corda bamba. Zaratustra proferiu então seu primeiro discurso para as pessoas, anunciando o übermensch, incitando o homem a superar a si mesmo: Eis que vos anuncio o super-homem! O super-homem é o sentido da Terra. Que vossa vontade diga: seja o super-homem o sentido da Terra! Eu vos exorto, meus irmãos! Permanecei fiéis à Terra e não acrediteis naqueles que vos falam de esperanças supraterrestres. São envenenadores, quer o saibam ou não! (NIETZSCHE, 2009, p. 16). Cabe ao homem então aceitar a ideia de que ele deve se superar, superar suas adversidades. Ele deve buscar o aperfeiçoamento, o homem deve ser motivo de desprezo para o übermensch. O homem deve libertar-se do niilismo, das amarras dogmáticas de Deus,13 ele deve amar a vida, a Terra, e com isso destruir a dualidade do mundo, deixar de ser um niilista negativo. Aqueles que “falam de esperanças supaterrestres” não são mais do que religiosos ativistas, pastores tementes em perder o seu rebanho através de uma libertação consciente do dogmatismo servil causador desse niilismo negativo. Precisa-se de uma revisão dos valores, cessar com a crença de que a razão é capaz de responder a todas as perguntas. O übermensch tem que exaltar a sua vontade de potência. Na quarta parte, Zaratustra se mostra surpreso com a indiferença com que é recebido o seu übermensch; continua então o discurso, agora, segundo Héber-Suffrin (2003), focando em na vontade de potência humana, na transvaloração dos valores atuais. “Os valores novos, 11 Ver nota 7. 12 Esse contexto indica passagem do niilismo negativo para o niilismo reativo. 13 Contexto luterano vivenciado por Nietzsche, que descendia de pastores luteranos. 152 Revista Filosofazer. Passo Fundo, n. 46, jan./jun. 2015 transmutados, são, efetivamente, os valores destacados da vontade de destruição que os dominava, e reanimados por uma vontade criadora, afirmativa” (HÉBER-SUFFRIN, 2003, p. 72). Objetivamente, é isso que Nietzsche escreve nessa parte do prólogo. Para atingir a definição do presente dado por Zaratustra, para definir o übermensch, Nietzsche utiliza a terceira, a quarta e a quinta parte do prólogo, através dos discursos proferidos por Zaratustra. Nietzsche proclama que “[...] o homem é uma corda estendida entre o animal e o super-homem.” (2009, p. 17), ou seja, o homem é transição, é uma ponte para a sua elevação. O übermensch nietzschiano não é alguém dotado de super poderes físicos, mas parte intelectuais e parte adquiridos pela experiência, como já dito, um sábio. Zaratustra afirma que o übermensch é aquele que sabe viver no declínio da vida, quando todos os valores antes dispostos foram perdidos, deixados de lado. É então que o caminho se abre para o homem superar-se, o homem deve criar seus valores, amar a sua virtude. Zaratustra tem uma relação de amor e ódio com o niilista. O niilismo é motivo de desprezo e, em contraparte, o caminho para a superação. Nietzsche ama aquele que firma a vida no seu declínio, até mesmo nos seus piores momentos. Ele ama o adepto do eterno retorno. Na quinta parte do prólogo, Zaratustra nota que seu übermensch é motivo de zombaria, de risos. O profeta passa então a falar do mais desprezível dos homens, do último homem. O último homem nietzschiano é o homem niilista que perdeu sua fé nos valores, acabou destituindo toda moral e não criou nada para substituí-la. O último homem é aquele que mais intensifica a negação da vida, o último homem deve ser motivo de desprezo, é aquele que decaiu, experimentou passar a corda mas foi convencido pelo saltimbanco niilista. O último homem é a perdição do homem, e afirmando isso Zaratustra proclama: “Ai! Aproxima-se o tempo em que o homem já não conseguirá gerar estrela alguma. Aproxima-se o tempo do mais desprezível dos homens, daquele que já não pode se desprezar a si mesmo” (NIETZSCHE, 2009, p. 19). Héber-Suffrin (2003) explica que o último homem mostrado por Nietzsche é aquele que renuncia às virtudes que definem a moral dentro de uma tradição histórica: Eles renunciam a SABEDORIA, virtude essencial do animal racional […] assim como renunciam à sabedoria, virtude do conhecimento, renunciam à CORAGEM, virtude da atividade. Revista Filosofazer. Passo Fundo, n. 46, jan./jun. 2015 153 Renunciam à luta contra as forças naturais […] também renunciam a TEMPERANÇA, virtude da afetividade, antes que se fale de amor ao próximo […] enfim, renunciam à JUSTIÇA, que confundem, por amor à tranquilidade, que nos leva a evitar toda rivalidade, com a igualdade […] (HÉBER-SUFFRIN, 2003, p. 88-89, grifo do autor). Um ponto importante na filosofia nietzschiana é a superação do niilismo passivo. A desvalorização da vida é, no niilismo passivo, a mais acentuada entre todos passos do niilismo. O niilista reativo perdeu o sentido de se viver, não há mais no que se agarrar, Deus morreu, a ciência não respondeu todas as questões para o mundo resta ao niilista dois caminhos; ou superar-se a si mesmo, ou cair na desgraça de ser o último homem. Esse último homem é para Nietzsche um reflexo da filosofia de Schopenhauer, que quando havia perdido todo o sentido da vida abdicou mais ainda dela, de toda sua vontade de poder. Na sexta parte do prólogo, faz-se uma alusão ao homem “atravessando a corda” [Prólogo, IV]. Esse homem é dono de uma ação corajosa. Porém, continua vivendo abaixo de códigos morais que provém de sua antiga religiosidade, mesmo depois da morte de Deus. O homem já andou sob a corda que se estende entre o homem e o übermensch, mas ainda tem resquícios de um cristianismo. Ele ainda crê que esse mundo não tem valores nenhum e agora também não possuí um sentido, pois não se trata mais de uma experiência terrestre de provação divina. Mas o homem ainda sofre com a condição que se impôs, com a perda dos valores que outrora governavam a sua existência, e, por vezes, o homem é tentado por sua antiga condição niilista: “Depressa deficiente! - gritava com sua horrível voz – depressa, estúpido, falso, cara suja! Cuidado, que vou pisar teus calcanhares! Que fazes aqui entre estas torres? Na torre tu devias estar agora, pois estás obstruindo o caminho a outro melhor do que tu!” (NIETZSCHE, 2009, p. 20). Esse é o niilismo gritando ao homem para que não empreenda no seu caminho os seus novos valores, é uma espécie de coerção psicológica causada pelo medo do caminho sob a corda. O homem não pode e não deve regressar, fracassar assim como fez o equilibrista, que diante do seu problema lançou-se ao chão. O homem deve abandonar sem temor seus antigos valores, pois, “[...] sem o abandono dos valores antigos e a criação de valores novos, sem vontade positiva, sem transmutação, a 154 Revista Filosofazer. Passo Fundo, n. 46, jan./jun. 2015 atividade está destinada ao fracasso, é dizer novamente que o super-homem, o homem da transmutação, é necessário” (HÉBER-SUFFRIN, 2010, p. 97). Talvez nem mesmo os iluministas estivessem preparados para a filosofia nietzschiana. Atravessar a corda entre o homem e o übermensch não é uma tarefa fácil. Ter de destruir toda uma cultura, uma moral, mesmo que seja para tornar-se um espírito livre,não é algo prazeroso. Nietzsche sabia disso, baseou o caminho do übermensch pelo caminho de sua própria vida, alternando entre momentos agradáveis e dolorosos, literalmente. A doença de Nietzsche causava-lhe extremo sofrimento, o übermensch devia sofrer, para na dor encontrar o sentido da vida. A destruição da moral é dolorosa e a filosofia a marteladas depende disso. A transmutação do homem depende disso. Nem todos são capazes de atravessar a corda tendo o niilismo e os dogmas perturbando-lhes e perseguindo as ovelhas desgarradas. A sétima parte do prólogo é de uma passagem breve. Zaratustra lá retoma a ideia de que ele é incompreendido pela sociedade: “Na verdade, Zaratustra fez hoje uma boa pesca! Não um homem, mas um cadáver! Desconcertante é a vida humana e sempre desprovida de sentido. Basta um simples palhaço para lhe ser fatal” (NIETZSCHE, 2009, p. 21). Zaratustra se coloca no lugar do palhaço, enquanto na verdade o profeta vem para elevar o homem, ele é visto como um palhaço, um louco. A elevação do homem exige uma crítica radical ao próprio homem, é loucura incitar contra a conveniência que a terceirização da moral causa. É necessário que o homem fundamente sua moral, porém, inconveniente. A oitava parte do prólogo fundamenta uma consolidação da incompreensão do presente nietzschiano por parte da sociedade. Neste trecho do prólogo, Zaratustra passa pela desventura de uma sociedade aprisionada a sua “cultura”, é necessário que o homem transmute seus valores, mas isso é motivo de incomodo. Zaratustra é ameaçado pelo niilismo que domina a sociedade, pela ignorância de um povo que se recusa a compreender a essência do presente que lhes é dado. Zaratustra é um perigo, e a ele o niilismo [e os niilistas] se manifesta: Revista Filosofazer. Passo Fundo, n. 46, jan./jun. 2015 155 Sai desta cidade, Zaratustra, - disse – há aqui muita gente que te odeia. Os bons e os justos te odeiam, te tratam como seu inimigo e aquele que os despreza. Os fiéis da verdadeira crença te odeiam e dizem que és um perigo para a multidão. Ainda tiveste sorte que se contentassem em rir-se de ti; para dizer a verdade, falaste como um palhaço. Tiveste sorte em te associar com o vilão desse morto. Rebaixando-te dessa forma, conseguiste salvar-te por hoje. Sai desta cidade, senão amanhã salto por sobre ti, um vivo por sobre um morto (NIETZSCHE, 2009, p. 22). O profeta decide voltar para a floresta, sair da cidade, pois as pessoas não estão preparadas para compreendê-lo. É nessa saída que Zaratustra demonstra seu espírito justo, aludindo aos “bons e justos” da cidade. Demonstra-se aqui uma justiça imparcial, longe da compaixão cristã que por vezes implica em uma recompensa supraterrestre: o justo doa sem esperar nada em troca, essa ideia surge com o eremita14 que Zaratustra encontra ao sair da cidade, o profeta pede-lhe que o dê de comer e o velho oferece comida tanto ao Zaratustra quanto ao seu companheiro já falecido. O eremita oferece o que tem, e não se faz preocupado com quem é o necessitado; oferece de bom grado, mesmo a um cadáver. Este é o verdadeiro justo. Na nona parte do prólogo, Zaratustra é arrebatado pela compreensão de seu fracasso. O profeta desperta como que de um sono profundo para o entendimento; ele não pode pregar sua palavra assim como fazem os “senhores da verdade”; Zaratustra precisa de companheiros: Preciso de companheiros, mas vivos, que me sigam, porque eles próprios desejam seguir-me e seguir-me para onde quer que eu vá. Uma luz se apoderou de mim. Não é a multidão que Zaratustra deve falar, mas a companheiros! Zaratustra não deve ser pastor de um rebanho nem cão do pastor! (NIETZSCHE, 2009, p. 23). Há aqui uma clara referência ao companheirismo ao invés de um “pastorado”. O profeta não faz de sua ideia uma religião a ser pregada, o caminho do übermensch deve ser compartilhado entre companheiros. Esse foi o motivo da falha de Zaratustra, que foi visto como louco porque 14 O eremita de agora não é mais o Santo ancião encontrado por Zaratustra quando voltava de seu exílio, este eremita é um morador das margens da floresta. Ele é utilizado por Nietzsche para definir uma ideia divergente da compaixão cristã. 156 Revista Filosofazer. Passo Fundo, n. 46, jan./jun. 2015 bradou contra as amarras das ovelhas que as prendem junto aos pastores. Zaratustra procura por novos “criadores”, seus companheiros têm necessariamente que se dispor a ajudar a quebrar as “velhas tábuas”,15 têm que criar seus próprios valores, os valores do übermensch. Com companheiros desgarrando-se de seus pastores, transmutando seus valores e superando o homem, Zaratustra pretende desencadear o declínio dos que se dizem “bons e justos”. Esse é mais um retrato da aceitação da filosofia nietzschiana pela sociedade contemporânea a Nietzsche. A incompreensão da filosofia nietzschiana, da complexidade da genealogia da moral e da experiência niilista refletem na aceitação da teoria. Nietzsche sabia que a sociedade seria incapaz de compreendê-lo naquele momento. Todos estavam fortemente dependentes da moral que os dominara por séculos, e por isso essa moral fora transmitida até mesmo para as teorias que tentavam soltar as amarras. O eterno retorno é o assunto da décima e última parte do prólogo. Zaratustra encontra seus animais “[...]viu uma águia que pairava nos ares descrevendo largos círculos e sustentando uma serpente que não parecia uma presa, mas uma amiga, pois se enroscava ao pescoço da ave” (NIETZSCHE, 2009, p. 24). O círculo é apresentado como o símbolo do eterno retorno, mas não somente a ideia é expressa aqui. Nietzsche escreve que Zaratustra encontra os animais quando o “Sol ia atingindo a metade de seu curso”. O tempo é circular, o eterno retorno expressa a ideologia de viver todo o momento e firmá-lo como se este momento fosse se repetir para todo sempre (A Gaia Ciência, livro IV, 341 – O peso mais pesado), “e foi bem propositadamente que Nietzsche precisara que o ‘sol estava a pino’, pois sempre é meio dia se o tempo é circular” (HÉBER-SUFFRIN, 2010, p. 109). O eterno retorno é um conceito desenvolvido para firmar o übermensch em seu posto de superação do homem, ele é a confirmação de uma filosofia que se dedica a autonomia do homem. É também um regulador da filosofia de Nietzsche, que deve ser posta em prática como algo a se querer para todo sempre. 15 Em todo o prólogo Nietzsche faz alusões ao cristianismo e ao niilismo negativo, mas a quebra das velhas tábuas tem referência clara aos valores impostos pelos mandamentos cristãos, que dominam a sociedade e dificultam a vinda do übermensch. Revista Filosofazer. Passo Fundo, n. 46, jan./jun. 2015 157 Considerações finais Nietzsche é um filósofo que escreve de forma poética e por vezes enigmática, de difícil, porém agradável leitura. Assim falava Zaratustra é a obra que unifica o pensamento nietzschiano, que presenteia a humanidade com os dizeres do pai do übermensch. Tratou-se neste texto do conceito de übermensch e sua aparição no prólogo de Assim falava Zaratustra. Abordou-se no decorrer do texto a construção do übermensch, sua conceituação a partir da filosofia de Friedrich Nietzsche. O übermensch é a unificação da teoria filosófica nietzschiana. Ele agrega o aspecto de vontade de potência, que afirma a sua própria vontade diante do mundo, uma relação de domínio. É também alguém que superou o niilismo e a moral decadente de uma sociedade, uma moral predisposta a limitar os fortes, a impedir que eles criem seus próprios valores e tornem-se reféns de ideologias que o faz desprezar a sua própria vida. O übermensch tem que criar seus valores, transmutar os valores existentes e firmar a sua própria vida nas adversidades do mundo, tem que ser um adepto do eterno retorno. Por fim, fez-se uma exposição do übermensch no prólogo de Assim falava Zaratustra. A introdução da obra máxima nietzschiana apresenta o übermensch como um presente para a humanidade; é o início da formação de superadores do homem, a síntese da filosofia nietzschiana sendo apresentada pelo profeta de Nietzsche. É sempre interessante se ater a análises pormenorizadas de obras expressivas, assim como Assim falava Zaratustra. Como se tratou aqui apenas da ideia do übermensch descrito por Nietzsche apenas no prólogo da obra, para futuras pesquisas resta o übermensch nos discursos de Zaratustra que compõe o restante da obra, assim como os demais conceitos da filosofia nietzschiana que estão contidos no próprio conceito de übermensch e aparecem separados e mais detalhados em alguns dos discursos. Referências DELEUZE, G. Nietzsche e a filosofia. Trad. Ruth Joffily Dias e Edmundo Fernandes Dias. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1976. 158 Revista Filosofazer. Passo Fundo, n. 46, jan./jun. 2015 DOSTOIÉVSKI, F. M. Os irmãos Karamázovi. Trad. Natália Nunes; Oscar Mendes. Rio de Janeiro: Abril Cultural, 1970. FERREIRA, A. B. H. Pequeno dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Gamma, 1971. HÉBER-SUFFRIN, P. O “Zaratustra” de Nietzsche. Trad. Lucy Magalhães. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003. HEIDEGGER, M. Who is Nietzsche’s Zarathustra. Transl. Bernd Magnus. Review of metaphysics, New York: Harper & Row, v. 20, p. 411-432, mar. 1967. JULIÃO, J. N. Sobre o prólogo do Zaratustra. Cadernos Nietzsche, São Paulo, n. 23, p. 75-104, 2007. NIETZSCHE, F. W. Assim falava Zaratustra: um livro para todos e para ninguém. Trad. Ciro Mioranza. São Paulo: Escala, 2009. ______. A gaia ciência. Trad. Antônio Carlos Braga. 2. ed. São Paulo: Escala, 2009. ______. Além do bem e do mal. Trad. Antônio Carlos Braga. 3. ed. São Paulo: Escala, 2011. ______. Ecce homo. Trad. Antônio Carlos Braga. 2. ed. São Paulo: Escala, 2009. ______. O anticristo. Trad. Antônio Carlos Braga. 2. ed. São Paulo: Escala, 2008. ______. Obras incompletas. Trad. Rubens Rodrigues Torres Filho. São Paulo: Nova Cultural, 1999. Os Pensadores. VATTIMO, G. Diálogo com Nietzsche: ensaios 1961-2000. Trad. Silvana Corucci Leite. São Paulo: Martins Fontes, 2010. ZAVATTA, L. Il profetismo di Nietzsche. Utopía y Praxis Latinoamericana. Venezuela: Universidad del Zulia, n. 47, p. 93-113, 2009. Revista Filosofazer. Passo Fundo, n. 46, jan./jun. 2015 159