A Morte de Deus “Um louco em pleno dia acendeu sua lanterna, e pos se a correr na praça do mercado e gritando incessantemente: "Eu procuro Deus! Eu Procuro Deus!"Como muitos dos que não acreditam em Deus estivessem justamente por ali naquele instante, ele provocou muita risadas...” "Onde está Deus", ele gritava. "Eu devo dizer-lhes. Nós o matamos -- vocês e eu. Todos somos assassinos... Deus está morto. Deus continua morto. E nós o matamos..."(Nietzsche, Gaia Ciência 125 ,1882,) A morte de Deus expressa bem o ateísmo moderno. A expressão “Deus está morto” foi tirado de um caderno de anotações de Nietzsche. Este Deus é o da metafísica e dos moralistas. A filosofia de Nietzsche tem um caráter trágico. É como se ele tivesse tentando mostrar o mundo tal como ele é, e não como imaginado. Nietzsche não disse "Deus está morto"; um "louco" o disse. Embora seja verdade que o próprio Nietzsche tenha ficado louco aos 45 anos, existe entretanto uma diferença entre a vida e a literatura, mesmo quando a última é chamada de filosofia. O louco fala da morte de Deus. Mas o Deus do louco não é o mesmo Deus de quem tem fé, que sempre foi e sempre será, mas sim daquilo que Deus representou e significou para sua cultura. Esse Deus era uma crença coletiva e era essa crença que estava morrendo, na Europa do século dezenove. Ali onde Deus antigamente estava, no centro do conhecimento e do pensamento, existe agora um vazio. Tanto a ciência como a filosofia passaram a tratar Deus como irrelevante e, mais uma vez, o homem se tornou a medida de todas as coisas. 1 O louco não lamenta a morte de Deus, ele a chama de grande façanha. Porem o louco constata a terrível gravidade da morte de Deus. Esta façanha é grande demais para nós mortais e assassinos de Deus, suportarmos. Não foi somente Nietzsche que relatou a morte de Deus em suas obras. Outros nomes podem ser citados como o de Pasteur e Darwin que estão entre aqueles que, de uma forma ou de outra, contribuíram no século XIX para o rompimento do homem com o sobrenatural, desvendando os mistérios que cercavam a humanidade. O castigo e a redenção dos homens não vinha de Deus, mas de nós mesmos. Deste modo, quando Nietzsche anunciou que "Deus está morto" na suas obras, Assim falou Zaratustra e Gaia Ciência, na década de 1880, nada mais fez do que escancarar para o mundo literário o que já vinha sendo feito há muito tempo no terreno das ciências naturais e sociais. A lanterna de Diógenes que ele carregava apenas veio jogar luz sobre o que já corre solto no meio da ágora, Deus havia morrido. Os homens eram seus assassinos. Agora um nova raça de eleitos, segundo este burguês visionário, deveria por si só suportar o peso desse crime, alçando-se a si mesmo como um novo homem, como a superação do homem, como um super-homem. Referencia bibliográfica NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Gaia Ciência, 1882. NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Assim falava Zaratustra. 12. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 1882. HÉBER-SUFFRIN, Pierre. O 'Zaratustra' de Nietzsche. Rio de Janeiro: J. Zahar, c1991. 2